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JULIUS FRANÇOIS
OR G AN I Z ADOR
METODOLOGIA DO ESTUDO
PREPARAÇÃO ACADÊMICA
DIREITO E CIDADANIA
Caros Educadores,
O Governo do Estado do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Educação
vem investindo em ações integradas e sistêmicas objetivando a melhoria no processo de
ensino e aprendizagem dos estudantes da Rede Estadual de Ensino. A política de
Educação Integral em tempo integral voltada para o ensino médio representa um destes
investimentos. Desta forma, além de garantir o acesso e a permanência dos alunos nesta
etapa de ensino, também possibilita o desenvolvimento de todas as suas dimensões
(cognitiva, estética, ética, física, cultural, social e afetiva), auxiliando os estudantes na
construção do seu projeto de vida.
Este Manual foi planejado pela Secretaria Estadual de Educação por meio do
Departamento de Políticas e Programas Educacionais – DEPPE, Gerência de
Educação Básica – GER, Coordenação de Educação em Tempo Integral – CETI,
Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral –
PROETI, conforme os critérios da proposta metodológica de cada componente que
irão subsidiar os estudos da formação continuada “O novo ensino médio:
flexibilização curricular e novas formas de aprender” com o propósito de dar
elementos aos professores, pedagogos, gestores e técnicos de educação na
promoção dos componentes flexíveis do novo ensino médio, fomentando práticas
exitosas que possibilite aos alunos das escolas do PROETI a formação integral.
Nesse sentido, este instrumento pedagógico pode auxiliá-lo no planejamento, na
execução e avaliação dos processos de aprendizagem e ensino dos componentes
da parte flexível. A ideia é que vocês leiam, analisem e reflitam acerca das
habilidades e competências que precisam ser desenvolvidas ou ampliadas no
currículo das escolas do PROETI da rede estadual do Amazonas. Contamos com a
participação de todos nesse compromisso de oferecer cada vez mais uma educação
de qualidade.
LUIZ CASTRO ANDRADE NETO
Secretário de Estado de Educação do Amazonas
RAIMUNDO BARRADAS
Secretário Executivo Adjunto Pedagógico
SUMÁRIO
PARTE I – METODOLOGIA DO ESTUDO ______________________________________ 7
APRESENTAÇÃO ______________________________________________________ 9
1. PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDOS ______________________ 11
1.1 Ambiente de Estudo _______________________________________________ 11
1.2 Plano de Estudos _________________________________________________ 12
1.3 Ciclo de Estudos _________________________________________________ 13
1.4 Janelas ________________________________________________________ 15
1.5 Técnica Pomodoro ________________________________________________ 16
2. FERRAMENTAS DE ESTUDO _________________________________________ 19
2.1 Meta Guiding ____________________________________________________ 19
2.2 Flash Cards _____________________________________________________ 20
2.3 Mapas Mentais___________________________________________________ 21
2.4 Esquemas ______________________________________________________ 23
2.5 Fichamentos ____________________________________________________ 24
3. SEMINÁRIOS _______________________________________________________ 27
3.1 Estrutura de um seminário __________________________________________ 27
3.2 A construção de slides _____________________________________________ 28
3.3 Banners e posters ________________________________________________ 31
4. A ESCRITA ACADÊMICA _____________________________________________ 33
4.1 Parágrafo-padrão _________________________________________________ 34
4.2 Citações ________________________________________________________ 36
4.3 Referências _____________________________________________________ 39
4.4 Formatação de textos _____________________________________________ 39
5. PESQUISA CIENTÍFICA ______________________________________________ 41
5.1 O Conhecimento Científico _________________________________________ 41
5.2 O Método de Karl Popper __________________________________________ 42
5.3 Projeto Científico _________________________________________________ 44
REFERÊNCIAS _______________________________________________________ 45
PARTE II – PREPARAÇÃO ACADÊMICA _____________________________________ 47
APRESENTAÇÃO _____________________________________________________ 49
1. O NOVO ENSINO MÉDIO E O PROTAGONISMO JUVENIL___________________ 51
2. PREPARANDO-SE PARA CONCURSOS E VESTIBULARES _________________ 57
2.1 Simulados ______________________________________________________ 58
2.2 Estudo por questões ______________________________________________ 58
2.3 Técnica para resolução de provas: Técnica das Passadas _________________ 59
3. ENEM E VESTIBULARES _____________________________________________ 61
3.1 Ensino presencial e ensino à distância ________________________________ 63
3.2 Bolsas e financiamentos ___________________________________________ 64
4. MERCADO DE TRABALHO ___________________________________________ 67
4.1 Concursos Públicos _______________________________________________ 68
4.2 Entrevista de Emprego_____________________________________________ 68
4.3 Empreendedorismo _______________________________________________ 70
4.4 Finanças Pessoais ________________________________________________ 70
REFERÊNCIAS _______________________________________________________ 73
ANEXOS ____________________________________________________________ 75
PARTE III – DIREITO E CIDADANIA _________________________________________ 91
APRESENTAÇÃO _____________________________________________________ 93
1. DIREITO E HUMANIDADE ____________________________________________ 95
2. O DIREITO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE PRESERVAÇÃO DA VIDA E
FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA _______________________________________ 101
2.1 Introdução _____________________________________________________ 101
2.2 Ética __________________________________________________________ 103
2.2.1 Educação Ambiental ____________________________________________ 104
2.2.2 Ética Ambiental ________________________________________________ 106
2.3 Direito fundamental e o papel da cidadania na efetividade da proteção ao meio
ambiente _________________________________________________________ 108
2.4 O Magistrado e a crise ambiental ____________________________________ 111
2.4.1 Ativismo Judicial _______________________________________________ 113
2.4.2 Atuação judicial em sede de mudanças climáticas _____________________ 115
2.5 Acesso à Justiça Ambiental no Amazonas: Vara Especializada do Meio Ambiente e
Questões Agrárias – VEMAQA e Vara da Justiça Federal ____________________ 117
2.6 Conclusão _____________________________________________________ 118
2.7 Referências ____________________________________________________ 119
3. SOBERANIA POPULAR, DEMOCRACIA E JURISDIÇÃO ELEITORAL: REFLEXÕES
ACERCA DA LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA DA CASSAÇÃO DE MANDATOS PELA
JUSTIÇA ELEITORAL _________________________________________________ 123
REFERÊNCIAS ______________________________________________________ 137
PARTE I – METODOLOGIA DO ESTUDO
APRESENTAÇÃO
O Guia de Implementação do Novo Ensino Médio, publicado pelo Ministério da
Educação, aponta que a “espinha dorsal” dessa fase de ensino deve ser o
protagonismo juvenil, ou seja, estimular o jovem a “fazer escolhas, tomar decisões e
se responsabilizar por elas”1 . Em suma, deseja-se dos nossos estudantes mais
autonomia. A autogestão, no entanto, não depende apenas do querer ser mais
independente, mas também de saber que atitudes e comportamentos adotar para
alcançar sua emancipação. Desta forma é que a série de práticas, técnicas e
conteúdos elencados nesse Manual tem como objetivo subsidiar o estudante na
busca do seu próprio caminho.
Desde a organização do tempo, passando por ferramentas de estudo até uma
introdução ao pensamento científico, o objetivo não foi outro senão proporcionar ao
estudante meios de guiar seus estudos e descobrir suas afinidades. Isso porque é
preciso lembrar também que o Novo Ensino Médio prevê que o estudante deve,
ainda na escola, começar a construir seu projeto de vida. Projeto este oriundo de
seus anseios pessoais e das necessidades do mundo moderno. Espera-se, portanto,
que essas metodologias possam também contribuir nessa direção.
Não se tome, porém, estas práticas como definitivas e irrefutáveis, elas são
antes ideias, proposições, que podem ser adaptadas e reformuladas de acordo com
a realidade em que irão se inserir. Não se prendem, tampouco, a qualquer disciplina
ou área específica. Elas se enquadram naqueles espaços que perpassam todo o
ensino, como, mais uma vez, propõe o Guia de Implementação:
Sugere-se que as escolas tenham algum espaço no currículo
para oferecer unidades curriculares que conversem com os
anseios e as expectativas dos seus estudantes [...]. Essas
unidades não necessariamente precisam ter relação com as
competências e habilidades específicas do itinerário escolhido2.
É neste sentido, de oferecer metodologias que visam criar um maior senso de
responsabilidade entre os estudantes que entregamos este Manual, cientes que o
pleno funcionamento de qualquer prática de governança, as que aqui se apresentam
ou outras que venham a surgir nas discussões de formação, não dependem de um
único agente, seja ele o Estado, a escola, o estudante, a família ou o professor, mas
do alinhamento de todos os envolvidos no processo educacional e de formação
cidadã. Assim é que desejamos a todos um excelente trabalho conjunto.
1
Cf. Guia de implementação do novo ensino médio. Disponível em:
http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em 11 de ago. 2019. p. 12.
2
Idem.
9
10
1. PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDOS
Uma dificuldade comum entre os estudantes diz respeito à organização dos
estudos: do tempo, da quantidade, da sequência. Embora muitos até tenham
consciência da importância de uma rotina de atividades, suas podem se sentir
perdidos quanto às formas efetivas de realizar um planejamento e sua execução.
Outros se rendem à procrastinação, palavra e hábito há muito conhecido, mas que
se tornou recorrente na vida dos jovens, motivado principalmente pelos
entretenimentos tecnológicos.
Desta forma, sugerimos algumas práticas e atividades que podem ajudar o
estudante a criar o hábito saudável de estudar.
1.1 Ambiente de Estudo
Se considerarmos o estudo uma forma trabalho, é importante que ele aconteça
em um ambiente adequado, mesmo que modesto, com mesa, cadeira, lugar para
livros e outros materiais, iluminação apropriada... Assim, podemos começar nossa
discussão indagando em qual ambiente o estudante costuma estudar. Em casa (no
quarto, na sala, na varanda, etc.)? Somente no colégio (em sala de aula, na
biblioteca)? E a partir disso, avaliar quais as vantagens e desvantagens de cada
espaço e o que pode ser melhorado.
Uma forma de ajudar a percepção das vantagens da organização é por meio do
programa de gestão 5S 3 , desenvolvido no Japão, que propõe os seguintes
princípios:
5S – Seiri: Senso de utilização
O principal objetivo da primeira etapa do programa 5S é tornar o
ambiente de trabalho mais útil e menos poluído, tanto visualmente
como espacialmente. Para tal, deve-se classificar os objetos ou
materiais de trabalho de acordo com a frequência com que são
utilizados para, então, rearranjá-los ou colocá-los em uma área de
descarte devidamente organizada. O resultado desse primeiro passo
do programa 5s é um ambiente de trabalho estruturado e organizado
de acordo com as principais necessidades de cada estudante.
5S – Seiton: Senso de organização
O segundo passo do programa 5s é uma continuação do primeiro. Seu
conceito chave é a simplificação. A partir da organização espacial
previamente feita, essa etapa visa dar aos objetos que são menos
utilizados um local em que eles fiquem organizados e etiquetados.
Assim, agilizam-se os processos e há maior economia de tempo.
3
O QUE É 5S? Disponível em: https://certificacaoiso.com.br/5s/ Acesso em 11 de ago. 2019
[Adaptado].
11
5S – Seiso: Senso de limpeza
O terceiro item o processo 5S consiste na limpeza e investigação
minuciosa do local de trabalho em busca de rotinas que geram sujeira
ou imperfeições. Qualquer elemento que possa causar algum distúrbio
ou desconforto (como mal cheiro, falhas na iluminação ou barulhos)
deve ser consertado. O principal resultado é um ambiente que gera
satisfação dos estudantes por trabalharem em um local limpo e
arrumado, além de equipamentos com menos possibilidades de erros
ou de quebra por conta da constante fiscalização.
5S – Seiktsu: Senso de padronização
O quarto conceito do programa 5S consiste na manutenção dos três
iniciais, gerando melhorias constantes para o ambiente de trabalho.
Nessa etapa, deve-se definir quem são os responsáveis pela
continuidade das ações das etapas iniciais do 5s. Com um ambiente
mais limpo, há grande chance de os estudantes também buscarem
maior cuidado com o visual e com a saúde pessoal, garantindo ainda
mais equilíbrio e bom desempenho no trabalho e contribuindo ainda
mais para o andamento do processo rumo à qualidade total.
5S – Shitsuke: Senso de disciplina
Quando o quinto e último processo do programa 5s está em execução,
quer dizer que o programa está em andamento perfeito. A disciplina,
que pode ser considerada a chave do 5S, existe quando cada um
exerce seu papel para a melhoria do ambiente de trabalho, do
desempenho e da saúde pessoal, sem que ninguém o cobre por isso.
Ao longo desse processo de adaptação, pode ser solicitado ao aluno que
registre sua nova rotina, por meio de fotos, vídeos, diário, para que possa ser
apresentado e discutido com os colegas. O mesmo pode ser aplicado ao próprio
espaço da sala de aula e demais locais utilizados para as atividades dos estudantes.
1.2 Plano de Estudos
Uma forma comum de organizar os tempos destinados aos estudos é por meio
de um Plano Semanal, que pode ser feito manualmente ou em programas de
computador como Word ou Excel. O objetivo aqui é encontrar os melhores horários
para estudo, especialmente em casa, quando o senso de disciplina deve ser
fortalecido, uma vez que o aluno se encontrará, muitas vezes, sozinho.
Segue abaixo um modelo de Plano de Estudos4, considerando o horário de aula
de 7h às 15h:
4
Tabela livremente adaptada do Plano de Estudos do Guia do Estudante (apenas Ensino Médio).
Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/roteiro-de-organizacao-de-estudos-para-
quem-faz-ensino-medio/. Acesso em 11 de ago. 2019.
12
HORÁRIO SEG TER QUA QUI SEX SÁB DOM
7h-8h Descanso
Descanso
8h-9h Estudo
12h-13h
Almoço
13h-14h
14h-15h Estudo
Este exemplo confere 24 horas de estudos semanais, sem incluir o tempo
escolar, mas ele pode ser perfeitamente modificado de acordo com a rotina e a
necessidade de cada estudante. A ideia é que o Plano sirva de guia em que se
define o que fazer em cada horário. Por exemplo, cada bloco de estudo pode ser
destinado a uma área/disciplina.
Afim de corresponder à realidade do estudante, o Plano pode ser construído em
parceria com a escola e a família, o que exigiria um diálogo prévio entre todos os
envolvidos para discutir os anseios e as prioridades do estudante. Uma vez pronto, o
Plano deve ficar em lugar visível para ser acompanhado diariamente. Novamente,
essa nova rotina pode ser registrada por diferentes meios (escrita, foto, audiovisual)
para ser apresentada e discutida pelo estudante. Esse feedback pode, inclusive,
envolver a família, fazendo-a participar seu relato sobre as mudanças e os desafios.
1.3 Ciclo de Estudos
O Plano de Estudos pode ser considerado rígido para muitos pais e alunos, uma
vez que ele restringe a atividade a um horário específico. Uma alternativa é o Ciclo
13
de Estudos5, que prevê uma carga horária a ser cumprida, sem definir o momento
exato em que deve ocorrer. Vejamos seu funcionamento por meio de um exemplo.
No Ensino Médio as disciplinas estão divididas em quatro áreas do conhecimento
(Linguagem e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da
Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias). Digamos,
então, que o estudante deseje cumprir 12h de estudos, contemplando as quatro
áreas. Em uma matemática básica: 12 ÷ 4 = 6. Ou seja, o estudante vai dedicar seis
horas de estudo para cada área. Mas essas 6h não precisam ser cumpridas
initerruptamente, ele pode dividi-las em bloco de 2h. Em forma de tabela a estrutura
fica assim:
Área 1 Área 2 Área 3 Área 4
2h 2h 2h 2h
Área 1 Área 2 Área 3 Área 4
2h 2h 2h 2h
Área 1 Área 2 Área 3 Área 4
2h 2h 2h 2h
No momento da execução, o estudante vai estudar 2h da área 1, para então
passar para a área 2 e assim, sucessivamente, até completar todo o ciclo. Em
estrutura circular:
Área
1
Área
4 Área
2
Área 3 Área 3
Área 1 Área 1
Área
4 Área
2
Área
3
Se por algum motivo o estudante não completar as 2h de previstas de um bloco
de estudos, o tempo restante fica para ser pago quando retornar à atividade. O
objetivo é não ficar “devendo” o ciclo. Perceba que o Ciclo de Estudos não está
5
Cf. Ciclo de estudos para concursos públicos. Disponível em:
https://www.metododeestudo.com.br/ciclo-de-estudo-para-concursos-conceito/. Acesso em 11 de
agosto de 2019.
14
“amarrado” a nenhum dia ou horário específico da semana. Ele apenas determina
uma carga horária de conteúdos a ser cumprida, daí a sua flexibilidade. A atenção
que se deve tomar é ao tempo necessário para sua conclusão. Digamos que o
estudante cumpra 12h de estudo em três dias, mas ao realizar um novo ciclo de 12h
demora 5 dias. Nesse momento é preciso fazer uma reflexão para identificar o que
deu errado e os ajustes a serem feitos.
Assim como o Plano de Estudos, o Ciclo deve ser adaptado à realidade do
estudante, assim, novamente, a participação e acompanhamento da escola e da
família é fundamental.
É aconselhável, mesmo que o estudante experimente tanto o Ciclo quanto o
Plano para definir em qual melhor se adapta, ou mesmo que combine ambos: no
Plano é definido o tempo disponível para estudo e no ciclo a sequência como será
cumprido.
Mais uma vez, é importante fazer o registro para feedback da rotina, de forma a
compartilhar os desafios enfrentados e os resultados alcançados.
1.4 Janelas
6
“Janela” é um nome genérico para os momentos livres, sem duração exata, em
que não estamos realizando nenhuma atividade específica. Por exemplo, ao chegar
cedo, ou sair mais tarde, ou mesmo no traslado para a escola;; no intervalo do
almoço;; aguardando uma consulta... As possibilidades são muitas. Esse tempo,
geralmente improdutivo, pode perfeitamente se transformar em produtivo se
atentarmos para a ele.
O primeiro passo, portanto, é estimular o estudante a encontrar os diferentes
momentos em que está “de bobeira”, “sem fazer nada”. Isso pode ser realizado por
meio de uma roda de conversas e anotações em uma agenda/diário. Feito isso,
define-se quais atividades melhor se enquadram em cada “janela”, considerando
que são volúveis. Assim, estudar um conteúdo novo não é viável, visto que pode
6
Imagem disponível em: http://mundodelivros.com/melhor-posicao/. Acesso em 11 de ago. 2019.
15
exigir maior nível de concentração. Por outro lado, revisões por meio de mapas
mentais, fichamentos, ou mesmo leitura de ficção, atualidades, jogos de revista do
tipo Coquetel, podem ser encaixados. É importante que se frise a necessidade de
substituir ou pelo menos minimizar a escolha pelas redes sociais e demais
entretenimentos comuns da internet. Ou, se optarem pelo uso do celular ou
computador que privilegiem uma atividade que beneficie seus estudos e a
construção da uma carreira.
Naturalmente, não é objetivo das janelas ou qualquer outra técnica de
organização de tempo alienar o jovem para que somente estudem, mas é fato
também que para muitos, o que pode ser identificado por meio de diálogos e
observações, o tempo destinado ao estudo é muito menor do que poderia ser
alcançado.
1.5 Técnica Pomodoro7
Essa técnica foi criada no final dos anos 1980 pelo então estudante Francesco
Cirillo. Assim como muitos estudantes, este italiano desejava melhorar seu tempo de
estudo e evitar a procrastinação. Então, observando um relógio de cozinha em
formato de tomate (em italiano, pomodoro), ele teve uma ideia: programar o relógio
para despertar a cada vinte e cinco minutos e durante esse tempo focar no estudo
de um único conteúdo. Apesar de simples em seu princípio, a técnica torna-se
desafiadora por trabalhar a resiliência do estudante, uma vez que muitos não têm o
hábito de permanecer concentrado em uma atividade, ficando ansiosos para dar
uma olhada no celular, entre outras distrações.
Para realizar a Técnica Pomodoro, é necessário:
• 1 lista de atividades
• 1 relógio com despertador
• 1 folha em branco e lápis ou caneta
Primeiro, é necessário criar uma lista de atividades, selecionando as disciplinas
e conteúdos que precisa estudar no dia (por exemplo, as do Plano ou Ciclo de
Estudos). É importante organizar as matérias, iniciando pelas que o estudante
considera mais difícil. Isso é estratégico, pois começar pelas “fáceis” ou “agradáveis”
aumenta o risco de adiar as que não tem afinidade.
Feito isso, deve-se programar o relógio para despertar dentro de vinte e cinco
minutos. Durante esse tempo, o estudante está comprometido a focar apenas nos
estudos. Para isso, deve-se colocar o celular no silencioso, desligar a televisão,
fechar as abas de internet, enfim, evitar tudo que possa distrair a atenção.
7
Cf. VELLEI, Carolina. Aumente sua produtividade nos estudos com a técnica Pomodoro. Disponível
em https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/dicas-estudo/veja-como-aumentar-a-sua-produtividade-
nos-estudos-com-a-tecnica-pomodoro/. Acesso em 11 de ago. 2019
16
Caso o estudante lembre ou alguém peça alguma tarefa, ele deve anotá-lo no
papel em branco e voltar imediatamente aos estudos. Uma interrupção longa anula o
ciclo (pomodoro).
Ao tocar o despertador, deve-se fazer uma pausa de cinco minutos. Isso
também é estratégico, pois após 25 minutos é natural a concentração diminuir. Essa
pausa deve servir para beber água, ir ao banheiro, olhar a paisagem, responder um
e-mail, dar uma checada no celular, enfim, fazer tudo aquilo que não se podia
durante o período de estudo.
Terminado o intervalo, repete-se o ciclo. Esse processo dever ser realizado
quatro vezes: vinte e cinco minutos de estudo, cinco minutos de descanso. Ao final,
o estudante terá duas horas de aprendizado, focado e produtivo. Em imagem8:
Caso o estudante tenha mais tempo disponível, após as 2h de estudo, deve
fazer uma pausa de trinta minutos. Nesse tempo é possível fazer um lanche, relaxar
ou executar uma tarefa extra, anotada no papel. Em seguida, inicia tudo novamente.
Com o tempo, é possível aumentar a duração do ciclo até chegar a cinquenta
minutos de foco e dez de descanso. Mas isso deve ser conquistado gradualmente,
conforme o hábito de concentração for se instalando.
A Técnica Pomodoro pode perfeitamente ser executada em conjunto com o
Plano e o Ciclo de Estudos, uma vez neles os períodos definidos são longos. Assim,
para dar conta de 1h, 2h ou mais horas de estudos é preciso algumas pausas e,
neste sentido, o sistema de Cirillo pode auxiliar.
8
Imagem: https://renatoalves.com.br/blog/tecnica-de-pomodoro-para-os-estudos/. Acesso em 11 de
ago. 2019
17
Todas essas experiências com o gerencialmente de tempo se tornam mais ricas
quando compartilhadas e discutidas com todos os envolvidos. O que se objetiva é
que, ao final de um período de implantação (uma semana, quinze dias, um mês..), o
estudante tenha elevado seu senso de responsabilidade e autonomia.
18
2. FERRAMENTAS DE ESTUDO
Uma vez organizado o tempo é o momento de estudar efetivamente. Mas abrir
um livro e começar uma leitura pode não ser o suficiente para efetivar o
aprendizado. A capacidade de retenção do conteúdo lido diminui diariamente se não
o transformamos em um produto que possa ser revisto. Assim, algumas ferramentas
de estudo podem ser de grande valia, sobretudo para matérias grandes e
complexas.
2.1 Meta Guiding9
Meta guiding, do inglês “meta-guia”, é o tipo de leitura que se realiza com o
auxílio de um instrumento (caneta, lápis ou mesmo o dedo indicador), passando por
baixo da linha do texto. Essa técnica tem a vantagem de evitar que a mente se
disperse com visões periféricas, aumentando o foco no texto. Quanto menos
informação distrair o cérebro, melhor.
Quando lemos sem um “guia” é natural a vista passear entre outros objetos do
ambiente, bem como nas diferentes linhas ou demais elementos que possa haver no
texto, prejudicando a concentração. Além disso, ter um instrumento acompanhando
as linhas pode ajudar a aumentar a velocidade da leitura. É aconselhável que se
faça a experiência gradualmente, percorrendo o "guia" mais rápido pelas linhas,
conforme o leitor ganhe confiança a cada leitura. Assim, é possível ganhar
celeridade sem dispersar a atenção, o que em termos escolares é bastante
recomendável.
9
Imagem disponível em: https://www.basecamp.sg/blog/?category=Education. Acesso em 11 de ago.
2019.
19
2.2 Flash Cards10
Os “cartões rápidos” são uma espécie de jogo de perguntas e respostas,
indicado para a memorização de fórmulas e conceitos. Deve, preferencialmente, ser
construído pelo próprio estudante para o processo de aprendizagem iniciar já nessa
fase de preparação, além de proporcionar maior engajamento na atividade.
Para a construção dos flash cards, é necessário recortar quadrados de
tamanhos médios em uma folha ou cartolina. E depois colocar em um lado do cartão
o nome do conceito, fórmula ou pergunta, do outro o significado, definição ou
resposta. Para jogar, basta ler o cartão e tentar lembrar o verso. Para conferir a
resposta, basta girá-lo e ver o gabarito. É possível envolver outras pessoas na
atividade, em forma de rodízio.
É possível deixar os flash cards mais elaborados por meio de pequenas caixas,
como as de sapato. Deve-se etiquetar cada uma delas com as seguintes palavras
(ou outras no mesmo sentido):
1.ª caixa: SEI
2.ª caixa: SEI MAIS OU MENOS
3.ª caixa: NÃO SEI
Na primeira caixa (SEI) deve ser depositada os cards que o estudante acertar
sem dificuldades. Aquelas que ele acertar com alguma dificuldade devem ir para SEI
MAIS OU MENOS. Por sua vez, os cards que o estudante errar vão para NÃO SEI.
As palavras da terceira caixa deverão ser revisadas mais vezes, por exemplo, cinco
10
Imagem disponível em: https://blog.mesalva.com/dicas-de-estudo/aprendizagem-rapida-com-
flashcards/. Acesso em 11 de ago. 2019.
20
vezes na semana;; as da segunda, três vezes;; e a da primeira, apenas uma vez, para
reforçar. O objetivo é que todas cheguem à caixa SEI. É possível utilizar esse
esquema para diversas outras disciplinas e conteúdos, basta fazer as adaptações
necessárias.
11
2.3 Mapas Mentais
Mapa Mental é um tipo de diagrama para a organização de informações
sistematizado pelo escritor inglês Tony Buzan. A ideia é concentrar em uma única
página todo o conteúdo de um capítulo, artigo, livro ou mesmo uma palestra.
Exemplificando:
Imagine que o estudante deseje fazer o mapa mental do capítulo de um livro.
Para isso ele deve pegar uma folha em branco, preferencialmente ofício, e colocar
na horizontal (esta disposição proporciona mais espaço para as informações). Em
seguida, escrever o título do capítulo no centro da página e circular.
Geralmente, os capítulos vêm divididos em partes ou tópicos (e subtópicos). É
importante observar em quantos itens o texto está dividido, colocando-os em
11
Imagem disponível em: https://masterresultado.com.br/blog/tecnicas-de-memorizacao/. Acesso em
11 de ago. 2019.
21
destaque na folha, ao redor do título, e ligando-os ao centro por uma linha. A ideia é
ficar como vários "satélites" conectados a um "astro" principal.
12
É possível que surja alguma dificuldade quando o texto não está previamente
dividido, o que vai exigir maior atenção do leitor para identificar as partes. Nesses
casos, não é aconselhável construir o mapa mental logo na primeira leitura.
Destacados os tópicos e subtópicos, passa-se para a leitura de cada tópico do
texto em particular, separando o que há de mais importante em cada um deles.
Essas informações deverão ser colocadas ao lado ou próximas aos “satélites” de
forma bastante resumidas, preferivelmente com palavras ou termos-chave. É válido
criar desenhos ou grafismos que ajudem a lembrar o conteúdo. Ao final, o estudante
terá uma espécie de rede de conhecimento.
13
12
Imagem disponível em: https://geekiegames.geekie.com.br/blog/como-fazer-um-mapa-mental/.
Acesso em 11 de ago., 2019.
13
Imagem disponível em: https://www.pinterest.com/pin/395472411024513272/. Acesso em 11 de
ago., 2019.
22
Criar mapas mentais exige prática para seu domínio, mas, uma vez dominado,
um mapa bem construído permite abranger todo o conteúdo de um texto, mesmo
longos, em uma única página, pois sua estrutura é dinâmica e holística. Além dos
estudos de leitura, os mapas também são indicados para apresentações e revisões.
2.4 Esquemas
Os esquemas são uma alternativa para os mapas mentais. Pode acontecer de
muitos estudantes não gostarem dos mapas por eles ficarem muito “bagunçados”,
com letras pequenas ou linhas que se perdem emaranhadas na folha. Desta forma,
ao invés de fazer um gráfico, no esquema, o estudante vai organizar as informações
em itens, sumariamente.
Na prática, o processo é o mesmo: separar os tópicos do texto, em seguida os
elementos-chave de cada parágrafo. Depois, dispor as informações ao lado ou
abaixo de cada tópico.
14
Pode ser que nessa formatação não seja possível abarcar todo o texto na
mesma página, contudo, não deixa de ser um modelo mais organizado que o mapa
mental. É preferível experimentar ambas ferramentas com os estudantes para
perceber com qual melhor se adaptam.
14
Imagem disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/dicas-estudo/4-passos-para-fazer-
um-bom-resumo/. Acesso em 11 de ago. 2019.
23
2.5 Fichamentos
15
16
15
Imagem disponível em: https://lista.mercadolivre.com.br/bloco-de-fichas. Acesso em 11 de ago.
2019.
16
Imagem disponível em: https://www.todamateria.com.br/fichamento/. Acesso em 11 de ago. 2019.
24
Textual ou resumo: as principais ideias do texto são colocadas com as
palavras do próprio estudante. Pode ser também ser feito em forma de esquema.
17
Bibliográfico: as ideias e conceitos elencados, com crítica, são temas de
acordo com a indicação no texto.
18
17
Idem.
18
Ibidem.
25
Em comum, os diferentes tipos de fichamento têm o cabeçalho com a indicação
da obra, que segue o padrão da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):
SOBRENOME, Nome do Autor. Título da obra. Cidade: Editora, Ano19.
Multifuncionais, as fichas são indicadas para revisões, auxílio na apresentação
de seminários, produção textual que exija o uso de referências diretas e indiretas
(parafrásicas).
19
O conjunto: cidade, editora, ano é chamado de imprenta.
26
3. SEMINÁRIOS
20
Seminários têm se tornado cada vez mais comuns na vida dos estudantes de
Ensino Médio, especialmente como forma de avaliação, em que ele ou um grupo se
apresenta para o professor e a turma. Diante dessa prática, a experiência nos tem
mostrado que o nível das apresentações beira o amadorismo com estudantes
nervosos, esquecendo o conteúdo, lendo papéis ou slides de Power Point,
prologando-se demasiado e desnecessariamente. Afim de promover seminários
mais produtivos, tanto para os que se postam diante do público quanto para aqueles
que assistem a apresentação, seguem algumas recomendações para serem
praticadas com os estudantes.
3.1 Estrutura de um seminário
Tempo: o tempo de uma apresentação em nível escolar é de 15 a 20 minutos. É
importante que apresentação seja treinada com uso de um cronômetro. Placas
também podem ser levantadas quando faltarem cinco e um minuto para o final.
Embora possa parecer radical, a não dimensão do tempo é uma das grandes
responsáveis por fazer os seminários se prolongarem e muitos vezes não serem
concluídos na data determinada.
Essa cobrança em relação ao tempo, pode fazer parecer que 15 min. seja pouco
para uma apresentação, para mostrar que não, um bom exercício é assistir aos
vídeos do TED: ideas worth spreading (muitos são legendados ou até falados em
português) [www.ted.com]. Lá, é possível ver comunicações relevantes em até
menos tempo que os 15 min.
20
Imagem disponível em: http://hubpme.com.br/tendencias-do-varejo-seminario-dia-7-de-abril/.
Acesso em 11 de ago. 2019.
27
Divisão das partes: em apresentação em grupos um erro comum cometido
pelos estudantes é dividir a quantidade de integrantes pela quantidade de tempo.
Em seguida, eles dividem o conteúdo e cabe a cada um preparar e estudar sua
parte. Esse método, quase sempre falho, gera seminários confusos, quando não
incompletos, quando um dos membros do grupo não está presente ou não consegue
desenvolver sua fala.
É preciso, portanto, esclarecer ao alunado que um seminário é composto por
introdução, desenvolvimento e conclusão, e cada uma dessas partes deve ter uma
duração e objetivos próprios. No clássico livro Como falar corretamente e sem inibições21,
o renomado professor de oratória Reinaldo Polito faz uma exemplificação para uma fala
de dez minutos:
Apresentações e seminários em sala de aula costumam ser acompanhados por
slides em Power Point. Mais uma vez, são comuns erros que podem prejudicar a
apresentação. A fim de evitá-los, os estudantes podem seguir algumas
observações22:
21
POLITO, Reinaldo. Como falar corretamente e sem inibições. 112 ed. São Paulo: Benvirá, 2016.
22
Cf. A ciência do slide perfeito. Disponível em: https://pt.slideshare.net/superinteressante/a-cincia-
do-slide-perfeito-1912327?next_slideshow=1. Acesso em 11 de ago. 2019
28
29
30
31
para o estudante é a estrutura, pois, assim, independente do suporte, ele saberá
como proceder. Segue abaixo um modelo explicativo23.
Este exemplo acima é apenas uma das muitas possibilidades. O importante é que
apresente de forma resumida a apresentação/introdução, resultados/desenvolvimento e a
conclusão;; fotos, se houver. Este modelo carece das referências, que podem ser
alocados no lugar dos agradecimentos.
23
Cf. DANTAS, Lys M. V;; OLIVEIRA, Adriano A. Como elaborar um pôster acadêmico: Material
didático de apoio à vídeo-dica Pôster Acadêmico. Projeto de Extensão UFRB. Cachoeira: UFRB,
2015
32
4. A ESCRITA ACADÊMICA
24
24
Imagem disponível em: https://redacaonline.com.br/blog/conjunto-de-temas-da-banca-cespe/.
Acesso em 11 de ago. 2019.
33
4.1 Parágrafo-padrão
Escrever não é um dom. É uma arte, e como tal pode ser tranquilamente
aprendida, sobretudo seguindo alguns modelos. No tocante a textos escolares em
norma culta padrão, é possível imitar a estrutura do que se convenciou chamar de
parágrafo-padrão. Este nome deriva de duas razões: primeiro porque é um tipo
muito comum, encontrado em revistas, livros, jornais, artigos, teses;; segundo porque
tem uma norma que pode ser seguida. Vejamos um exemplo:
“Viver é mesmo uma ginástica. O coração se contorce para
bombear o sangue que, por sua vez, corre o corpo inteiro. A
respiração estica e encolhe os pulmões. O aparelho digestivo se
dobra e desdobra com o alimento. Tudo na vida animal é movimento
– músculos que se contraem, músculos que se estendem. Graças a
cerca de 650 músculos o homem pode, além de viver, ficar em pé,
andar, dançar, falar, piscar os olhos, cair na gargalhada, prorromper
em lágrimas, expressar no rosto suas emoções, escrever e ler este
texto. Portanto, o desempenho da musculatura é muito mais forte que
mera força bruta.”
Revista Superinteressante, n.º 2, 198825.
Pode-se perceber no texto acima a seguinte estrutura: uma frase de abertura que
contém uma afirmação (em negrito), ou seja, uma tese. O autor está dizendo que “viver é
uma ginástica”. Esta afirmação, para se sustentar, precisa ser “provada”. Alguém que leia a
frase, pode automaticamente se perguntar: Por que viver é uma ginástica? Portanto, o que
o autor precisa fazer em seguida é justificar sua afirmação. É isso o que acontece nas
frases seguintes: são listadas uma série de atividades do corpo que se assemelham a uma
ginástica (uma comparação por frase): o coração se contorce e o sangue corre;; os pulmões
esticam e encolhem;; o aparelho digestivo dobra e desdobra;; os músculos se contraem e
estendem;; e por fim apresenta uma série de atividades que o corpo como um todo pode
fazer. Ao final, em itálico, uma nova afirmação, derivada de todos os exemplos e que
retomam a afirmação inicial surge: a musculatura (como ginástica) é mais forte que apenas
a força bruta.
Em poucas palavras: fez-se uma afirmação, em seguida sua defesa e por fim a
retomada. É a clássica estrutura de introdução, desenvolvimento e conclusão, que
poderia ser perfeitamente topicalizado, processo que podemos chamar de plano de
ideias, da seguinte forma:
• Introdução (tese): Viver é uma ginástica
• Desenvolvimento (explicar ou justificar porque viver é uma ginástica):
o o coração se contorce e o sangue corre;;
o os pulmões esticam e encolhem;;
o o aparelho digestivo dobra e desdobra;;
25
Cf. O parágrafo-padrão. Disponível em: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/redacao/o-
paragrafopadrao.htm. Acesso em 11 de ago. 2019.
34
o os músculos se contraem e estendem;;
o atividades que o corpo pode fazer (ficar em pé, andar, dançar, falar, p
iscar, gargalhar, chorar, expressar emoções, escrever e ler);;
• Conclusão (retomada): a musculatura é mais forte que a força bruta.
Esse processo de organizar o pensamento antes de efetivamente escrever é
bastante útil para o bom andamento do texto. O que ocorre com muitos estudantes é
que eles se propõem a escrever sem saber o que querem dizer, por isso se perdem.
Assim, o Plano de Ideias é uma estratégia-chave.
No exemplo trabalhado algumas palavras e expressões foram sublinhadas.
Prestando atenção nelas, é perceptível que elas estão funcionando como conectivos
entre frases e ideias: “por sua vez” dá ideia de continuidade (o coração bombeia o
sangue, o sangue corre o corpo);; “graças a” dá ideia de causa (o homem pode fazer
várias atividades devido a 650 músculos);; “além de” carrega a ideia de adição (o
homem pode viver e ficar em pé, dançar...);; “portanto” dá ideia de conclusão (diante
de todas essas atividades, conclui-se que a musculatura é mais que força bruta).
Esses conectores são importantes para dar progressão à ideia desenvolvida no
texto.
Dominar a escrita de um parágrafo é o primeiro passo para desenvolver textos
de qualquer tamanho. Aí está outro problema comum dos estudantes: querer
produzir um texto com vários parágrafos, sem conseguir desenvolver e entender
plenamente um.
Para fins de respostas discursivas, que são cobradas em diferentes matérias,
podemos também perceber a estrutura:
26
26
Cf. NASCIMENTO-E-SILVA, Daniel. Manual de Redação Para Trabalhos Acadêmicos. São
Paulo: Atlas, 2012.
35
O enunciado é claro: apontar (pelo menos) dois argumentos a favor ou contra o
salário como ferramenta motivacional. O autor da resposta inicia com uma tese que
aponta seu posicionamento (ser contra a ideia do salário como motivação). Para defender
sua tese, ele apresenta os seguintes argumentos: primeiro, uma contra-argumentação (o
aumento de salário aumenta a produtividade e melhora o ambiente), ou seja, ele antecipa
um argumento contrário à sua posição. Então passa à sua defesa: a satisfação é
temporária;; a motivação é interior, logo, o trabalho, estímulo exterior, não pode motivar.
No fim, ele consegue apresentar tanto um argumento a favor (embora o utilize para
justificar) e dois contra. Em forma de plano de ideias:
• Introdução (tese): (O salário não motiva);;
• Desenvolvimento (explicar ou justificar porque o salário não motiva):
o argumento a favor (contra-argumentação) o aumento de salário;; aumenta
a produtividade e melhora o ambiente de trabalho;;
o argumento contra: a satisfação é passageira;;
o argumento contra: a motivação é interior, o salário é exterior.
• Conclusão (retomada): o salário não pode ser motivador pois sua presença
traz satisfação, mas sua ausência causa insatisfação.
Quanto aos conectivos, temos: “no entanto”, introduzindo uma ideia contrária,
neste caso, para derrubar o argumento a favor;; “por outro lado”, também
adversativo, reforçando a posição contra e introduzindo a perspectiva científica;; e
“ora” como partícula de conclusão lógica: (o salário é externo, a motivação é interna,
logo, o salário não pode ser motivador).
Esse tipo de resposta discursiva, que claramente segue a estrutura de um
parágrafo-padrão. é certamente o modelo desejado pelos professores de diferentes
matérias que cobram esse tipo de questão em suas avalições. Portanto, é muito
importante seu treino para que o estudante se sinta seguro no momento de escrever
esse tipo de resposta.
4.2 Citações
Embora textos com citações e referências sejam particularidades da escrita
acadêmica no Ensino Superior, está cada vez mais comum estudantes de nível
médio realizarem trabalhos com consultas em diferentes fontes, especialmente
devido a facilidade de buscas na internet. Assim, para que esses trabalhos
apresentem o rigor necessário e funcionem como treino para a faculdade, os
modelos de citações e referências mais comuns podem ser trabalhados em sala de
aula.
36
Citações diretas curtas (até quatro linhas): transcreve-se exatamente as
palavras do texto original. Vêm entre aspas no corpo do texto. Logo após a
referência entre parênteses com nome do autor, ano e página.
Ex27:
Na contextualização histórica do desenvolvimento de ações afirmativas à luz
que passa a ser visto em sua peculiaridade e particularidade” (PIOVESAN, 2005, p.
46)28.
Citações diretas longas (mais quatro linhas): transcreve-se exatamente as
palavras do texto original. Vêm sem aspas em outro parágrafo com recuo de 4 cm.
Deve-se destacar com letra e espaçamento menor. Logo após a referência entre
parênteses com nome do autor, ano e página.
Ex29:
A esse respeito, é preciso considerar que:
27
Cf. Citação direta curta. Disponível em: https://www.escritaacademica.com/topicos/uso-de-
fontes/citacao-direta-curta/. Acesso em 11 de ago. 2019.
28
Cf. PIOVESAN, F. Ações afirmativas da perspectiva dos direitos humanos. Cadernos de
Pesquisa, São Paulo, v. 35, n.º 124, p. 43-55, jan./abr. 2005.
29
Cf. Citação direta longa. Disponível em:
https://www.escritaacademica.com/?s=cita%C3%A7%C3%A3o+direta+longa&submit=. Acesso em 11 de
ago. 2019.
37
Citações indiretas (paráfrase): escreve-se a ideia do autor original com as
próprias palavras. Vêm sem aspas no corpo do texto. Logo após a referência entre
parênteses com nome do autor e ano;; caso o nome do autor já tenha sido
mencionado, apenas o ano.
Ex30:
Texto original do autor consultado: “É necessário ainda reconhecer que a complexa
realidade brasileira traduz um alarmante quadro de exclusão social e discriminação
afirmativas surgem como medida urgente e necessária” (PIOVESAN, 2005, p. 52).
Possível paráfrase: Conforme defendido por Piovesan (2005), no caso do
Brasil, as ações afirmativas são importantes para resolver os problemas que surgem
da forte relação entre exclusão social e discriminação, já que um processo leva ao
outro.
Como afirmado, estes três tipos de citação (direta curta, direta longa e indireta)
e suas respectivas referências, que deverão reaparecer completa no final do
trabalho na seção Referências, são os mais básicos e comuns. Deles há variações
que precisam ser consultadas oportunamente em manuais de Metodologia
Científica.
30
Cf. Citação indireta. Disponível em: https://www.escritaacademica.com/topicos/uso-de-
fontes/citacao-indireta/. Acesso em 11 de ago. 2019.
38
4.3 Referências
As referências mais comuns para o Ensino Médio:
Livro:
SOBRENOME, Nome. Título. Cidade: Editora, ano.
SENA, Odenildo. A engenharia do texto: rumo à prática da boa redação. Manaus:
Edua;; Fapeam, 2004.
Artigo científico:
SOBRENOME, Nome. Título do artigo. Título da revista, cidade, volume (se
houver), número, página. Mês/ano.
LARA FILHO, Durval de. Museu, objeto e informação. Transformação, Campinas, v.
2, n.º 2, p. 136-39, mai/ago. 2009.
Texto de internet:
SOBRENOME, Nome. Título do texto. Disponível em: endereço eletrônico. Acesso
em: mês abreviado. Ano.
OLIVEIRA, A. J. Por que gatos comem grama? Disponível em:
https://super.abril.com.br/ciencia/por-que-os-gatos-comem-grama-novo-estudo-tem-
a-resposta/. Acesso em 11 de ago. 2019.
Assim como as citações, essas são as mais básicas e comuns. Delas há
variações que precisam ser consultadas oportunamente em manuais de Metodologia
Científica.
4.4 Formatação de textos
Apenas a título de sugestão, segue abaixo modelo de capa e folha de rosto para
os trabalhos escritos dos estudantes do Ensino Médio. Como não há uma
formatação unificada entre as escolas, e mesmo nas faculdades há formatações
personalizadas, optou-se por um padrão genérico que contempla as principais
informações31:
31
Cf. Capa do trabalho escolar. Disponível em: https://www.lebiologia.com/seminario-integrado/capa-
de-trabalho-escolar/. Acesso em 11 de ago. 2019.
39
TÍTULO
TIPO DE DOCUMENTO (Projeto/Relatório de Pesquisa)
Ex.:
40
5. PESQUISA CIENTÍFICA
5.1 O Conhecimento Científico
Pode-se dizer que existe basicamente quatro formas do ser humano alcançar
algum tipo de conhecimento. O primeiro é o popular ou empírico, que é aquele
adquirido por meio da própria experiência ou de outro e repassado (sabemos que o
fogo queima por termos nos queimado nele). O segundo é o religioso, que depende
da fé e da crença do indivíduo. O terceiro é o filosófico, que se baseiam na razão,
mas não podem ser verificados, ou seja, testados. Por fim, temos o conhecimento
científico:
[...] o conhecimento científico é real (factual) porque lida com
ocorrências ou fatos, isto é, com toda "forma de existência que se
manifesta de algum modo" (FRUJILLO, 1974, p. 14). Constitui um
conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm
sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não
apenas pela razão, como ocorre no conhecimento filosófico. É
sistemático, já que se trata de um saber ordenado logicamente,
formando um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos
dispersos e desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a
tal ponto que as afirmações (hipóteses) que não podem ser
comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-se em
conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou
final e, por este motivo, é aproximadamente exato: novas proposições
e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria
existente. (LAKATOS;; MARCONI, 2003, p. 80) [grifos dos autores]
Em resumo, o conhecimento científico é aquele pensado lógica e
sistematicamente e que se alcança por meio de uma comprovação ou testagem.
Seus resultados podem ser modificados no futuro por meio de novas pesquisas.
Esse tipo de conhecimento, de uns anos pra cá, começou a ser cada vez mais
incentivado para iniciar na Educação Básica, em nível Fundamental e Médio, assim,
de acordo com cada realidade escola, laboratórios e grupos de pesquisa foram se
organizando nos colégios.
Para os que desejarem trabalhar um modelo científico em suas aulas, segue um
método criado pelo filósofo austro-britânico Karl Popper (1902-1994). Ainda que não
se chegue às experiências de fato, esse modelo ajuda a entender o raciocínio
científico e serve como guia para escrever projetos de pesquisa, uma vez que seus
passos são, muitas vezes, correspondentes aos itens solicitados nesses
documentos.
41
5.2 O Método de Karl Popper
O método de Karl Popper, conhecido por Hipotético-Dedutivo, pode ser
expresso pela seguinte estrutura:
Analisando, tem-se:
Só se pode encontrar problemas sobre objetos que conhecemos. O problema
surge quando uma expectativa é quebrada, ou seja, quando o esperado não ocorre.
Logo, só se pode problematizar sobre aquilo que se conhece previamente. Vejamos
um exemplo bastante simples:
O professor X é sempre pontual e responsável. Um dia ele não vai dar aula e
não avisa ninguém. Surge um problema: O que terá acontecido ao professor X?
A partir do problema, vêm as conjecturas, ou seja, as possibilidades para se
achar a resposta. Voltando ao exemplo:
O professor X sofreu um acidente? Morreu? Por alguma razão foi preso? Perdeu
o horário?
Das conjecturas vêm o falseamento, ou seja, o que deve ser feito para testá-las.
Do falseamento a testagem em si, que vai eliminado cada hipótese conforme elas se
demonstrem falsas:
Para encontrar o professor X, seus estudantes ligaram primeiro para todos os
hospitais da cidade, não estava em nenhum deles. Possivelmente não tinha sofrido
um acidente. Hipótese falsa.
Depois ligaram para o Instituto Médico Legal. Também não se encontrava no
IML. Possivelmente não estava morto. Hipótese falsa.
Nas delegacias também não havia registro do professor X. Não estava preso.
Hipótese falsa.
Como o professor não atendia o telefone e esse método não mostrava
progresso nem segurança da informação, resolveram ir até sua casa. E lá estava o
professor X, que havia perdido o horário de aula porque o seu celular, que o
despertava, estava sem bateria. Hipótese correta.
Essa narrativa, bem simples, e que também não cria uma lei geral (jamais
poderemos dizer que toda vez que o professor X faltar é porque seu celular está
42
sem bateria), serve apenas para mostrar que o raciocínio científico surge quando
uma expectativa de algo conhecido é quebrada, ou seja, surge um problema. A partir
daí se faz conjecturas, levantam-se hipóteses que podem solucionar à questão. É
neste ponto que a filosofia para, pois, apesar de chegar a conclusões bastante
coerentes e convincentes, ela não tem meios para testá-las. A ciência por outro lado,
só pode se considerar como tal se sua hipótese for comprovada.
De forma mais completa, o método de Karl Popper é representado desta forma:
43
comprovado falso. Se nenhuma das hipóteses corresponder ao resultado, pode ser
que as hipóteses estejam erradas, então deve-se voltar a elas.
Essa linha de raciocínio de Karl Popper pode ser aplicada em diferentes ramos
da Ciência e por isso ainda hoje é um método considerado válido. No ambiente
escolar, mesmo que não se chegue a testagem em si, é uma forma de organizar o
pensamento e ajudar a pensar a organização de um projeto de pesquisa, que possa
ser futuramente desenvolvido.
5.3 Projeto Científico
O projeto científico é o documento que serve de guia para uma pesquisa. Ele
geralmente é composto por:
• Tema: assunto sobre o qual se vai pesquisar. Quanto mais delimitado, melhor
de se visualizar e com mais segurança se desenvolve a pesquisa. Então, ao
invés de querer trabalhar com vários objetos ou fenômenos, escolha apenas
um.
• Título: é importante que o título identifique de maneira clara do que trata o
trabalho. Deve-se evitar ser poético e preferir títulos mais descritivos.
• Problema: lembre que problemas surgem de algo conhecido. É interessante,
portanto, explicar sua gênese.
• Justificativa: é a parte em que se defende a utilidade e/ou valor da pesquisa,
qual contribuição ela trará.
• Objetivo Geral: é onde se pretende chegar com a pesquisa. É apenas um e
deve ser bastante claro. E iniciar com verbo no infinitivo.
• Objetivos Específicos: é o roteiro que se vai seguir para alcançar o objetivo
geral, ou seja, os passos da pesquisa. Não há número exato de objetivos,
mas de três a cinco costuma ser o padrão. Também deve iniciar com verbo
no infinitivo.
• Hipóteses: são as possíveis soluções para o problema, e que precisam estar
fundamentadas sobre por que se acha que elas são válidas.
• Referencial teórico: é, de certa forma, o conhecimento prévio, quando se
escreve o que se sabe sobre o problema, mostrando outras pesquisas que já
trabalharam o tema, os principais conceitos que sustentam o projeto.
• Metodologia: é como se pretende fazer a testagem e quais resultados que se
espera.
• Cronograma: tabela com a descrição das atividades por mês ou semana, do
início ao fim da pesquisa, o passo a passo do que será feito.
• Referências: lista com as obras e materiais que subsidiram o projeto.
44
REFERÊNCIAS
DOUGLAS, William. Como passar em provas e concursos: tudo o que você
precisa saber e nunca teve a quem perguntar. 29 ed. rev e atual. Rio de Janeiro:
Impetus, 2016.
ECO, UMBERTO. Como se faz uma tese. Trad. Gilson Cesar Cardoso de Souza.
25 ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.
FRANÇOIS, Julius;; BARRADAS, Raimundo. Vida acadêmica: guia prático do
universitário. 2 ed. rev. e ampl. Manaus: Valer, 2019.
LAKATOS, Eva Maria;; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de
metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
POLITO, Reinaldo. Como falar corretamente e sem inibições. 112 ed. São Paulo:
Benvirá, 2016.
SENA, Odenildo. A engenharia do texto: um caminho rumo à prática da boa
redação. Manaus: EDUA;; FAPEAM, 2004.
45
46
PARTE II – PREPARAÇÃO ACADÊMICA
47
48
APRESENTAÇÃO
Preparar-se para o Ensino Superior vai muito além de dominar conteúdos de
diferentes matérias para responder a uma avaliação de vestibular. Prevê também
planejar, ainda no Ensino Médio, os caminhos que se pretende seguir, construir o
projeto de vida, avaliar as possibilidades do mercado de trabalho, realizar escolhas
por considerando anseios e oportunidades. É nesse sentido que este Manual está
estruturado, para proporcionar conhecimentos e práticas que possam ajudar os
estudantes a darem um passo à frente em sua caminhada pessoal e profissional.
No primeiro capítulo são abordadas as principais mudanças trazidas pelo Novo
Ensino Médio sob a perspectiva do estudante. O que muda pra ele com as novas
diretrizes? Que impacto terá em suas vidas? São algumas questões colocadas em
debate. No segundo capítulo discute-se a importância do conhecimento completo do
Edital, documento fundamental, muitas vezes desprezado pelo estudante, bem como
tratamos da importância de simulados e estudos por questões, além de deixar uma
técnica para resolução de questões. Já no terceiro capítulo são apontados alguns
cuidados no preparo para o Enem e vestibulares. É colocado em pauta também a
escolha pelo ensino presencial e à distância, e a opção por bolsas e financiamentos
de estudo. No quarto capítulo surgem questões sobre mercado de trabalho,
apresentando algumas portas de entradas para os jovens em ambientes cada vez
mais concorridos. E no último capítulo uma discussão sobre ética e cidadania tão
necessária aos dias atuais.
Dessa forma, com um compêndio de informações diversas, que não esgotam os
temas, antes o abrem para novos horizontes, esperamos preparar nossos jovens
para uma vida plena e cheia de realizações.
49
50
1. O NOVO ENSINO MÉDIO E O PROTAGONISMO JUVENIL
32
Cf. LEI Nº 13.415, DE 16 DE FEVEREIRO DE 2017.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm. Acesso em
11 de ago. 2019.
33
Cf. NOVO ENSINO MÉDIO. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br. Acesso em 11 de
ago. 2019. [Adaptado].
34
Cf. BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR.
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em 11 de ago. 2019.
35
O Novo Ensino Médio divid-se nas seguintes áreas: Linguagens e suas Tecnologias (Arte,
Educação Física, Língua Inglesa e Língua Portuguesa);; Matemática e suas Tecnologias;; Ciências da
51
estimula novos formatos de aula, menos expositivas, como projetos, oficinas e
atividades com maior participação dos estudantes e que conectam
conhecimentos e professores de diferentes áreas.
No que diz respeito à ampliação da carga horária, as Escolas de Tempo Integral
terão maior facilidade para se adaptar, uma vez que proporcionam maior tempo de
permanência do aluno na escola. Quanto a se aprofundar em um ou mais caminho,
isso diz respeito a uma estratégia-chave do Novo Ensino Médio, os itinerários
formativos, que são o conjunto de unidades curriculares ofertadas pelas escolas
para possibilitar ao estudante aprofundar seus conhecimentos e se preparar para o
prosseguimento de estudos ou para o mercado do trabalho.
Os itinerários podem estar organizados por área do conhecimento e
formação técnica e profissional ou mobilizar competências e
habilidades de diferentes áreas ou da formação técnica e profissional,
no caso dos itinerários integrados. Os estudantes podem cursar um
ou mais itinerários formativos, de forma concomitante ou
sequencial. 36
Vejamos algumas possibilidades em infográfico37:
Natureza e suas Tecnologias (Biologia, Física e Química);; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
(História, Geografia, Sociologia e Filosofia).
36
Cf. O que são itinerários formativos? In: GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO.
Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em 11 de ago. 2019. p. 12.
37
Cf. Idem. P. 13.
52
Os itinerários sugeridos dizem respeito às 1.200 horas adicionais que os
estudantes terão de aula. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), as
escolas têm autonomia para definir quais itineráros serão oferecidos, considerando
as particularidades de cada região e os anseios dos professores, estudantes e
comunidade. Para tanto, é importante criar uma rede de escuta para captar os
desejos e vocações, especialmente dos alunos.
No final deste Manual deixamos dois modelos de questionário que podem servir
de ponto de partida para elaboração dos itinerários e mesmo para uma
reestruturação da escola. O primeiro é Questionário de Escuta para um Novo
Ensino Médio elaborado pelo Ministério da Educação;; e o segundo é o Nossa
Escola em (Re)construção – Questionário 3.0, do Portal Porvir, recomendado
pelo MEC.
É importante considerar que os itinerários não devem ser meros reforços dos
conteúdos já contemplados na base comum, mas uma ampliação do conhecimento
das áreas, que permitam aos estudantes desenvolver habilidades dentro do seu
espectro de interesse. Por isso, eles podem ser realizar por meio de diferentes
atividades, como38:
Laboratórios: supõem atividades que envolvem observação,
experimentação e produção em uma área de estudo e/ou o
desenvolvimento de práticas de um determinado campo (línguas,
jornalismo, comunicação e mídia, humanidades, ciências da natureza,
matemática etc.).
Oficinas: espaços de construção coletiva de conhecimentos, técnicas
e tecnologias, que possibilitam articulação entre teorias e práticas
(produção de objetos/equipamentos, simulações de “tribunais”,
quadrinhos, audiovisual, legendagem, fanzine, escrita criativa,
performance, produção e tratamento estatístico etc.).
Clubes: agrupamentos de estudantes livremente associados que
partilham de gostos e opiniões comuns (leitura, conservação
ambiental, desportivo, cineclube, fã-clube, fandom etc.).
Observatórios: grupos de estudantes que se propõe, com base em
uma problemática definida, a acompanhar, analisar e fiscalizar a
evolução de fenômenos, o desenvolvimento de políticas públicas etc.
(imprensa, juventude, democracia, saúde da comunidade,
participação da comunidade nos processos decisórios, condições
ambientais etc.).
Incubadoras: estimulam e fornecem condições ideais para o
desenvolvimento de determinado produto, técnica ou tecnologia
(plataformas digitais, canais de comunicação, páginas
eletrônicas/sites, projetos de intervenção, projetos culturais,
protótipos etc.).
Núcleos de estudos: desenvolvem estudos e pesquisas, promovem
fóruns de debates sobre um determinado tema de interesse e
disseminam conhecimentos por meio de eventos — seminários,
palestras, encontros, colóquios —, publicações, campanhas etc.
(juventudes, diversidades, sexualidade, mulher, juventude e trabalho
etc.).
Núcleos de criação artística: desenvolvem processos criativos e
colaborativos, com base nos interesses de pesquisa dos jovens e na
38
Cf. O que são unidades curriculares? In: GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO.
Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em 11 de ago. 2019. p. 14.
53
investigação das corporalidades, espacialidades, musicalidades,
textualidades literárias e teatralidades presentes em suas vidas e nas
manifestações culturais das suas comunidades, articulando a prática
da criação artística com a apreciação, análise e reflexão sobre
referências históricas, estéticas, sociais e culturais (artes integradas,
videoarte, performance, intervenções urbanas, cinema, fotografia,
slam39, hip hop etc.).
Todas essas iniciativas do Novo Ensino Médio (aumentar a carga horária, dividir
o currículo em áreas, criar itinerários formativos, propor atividades por meio de
laboratórios, clubes, etc.) têm por objetivo incentivar o protagonismo juvenil e
proporcionar ao estudante a construção de um projeto de vida. Por protagonismo
podemos entender retirar o educando da posição de mero receptor de
conhecimentos e colocá-lo na dianteira de seu aprendizado, como principal agente
de sua formação. Para isso é necessário não só despertar suas vocações e
habilidades, mas criar sensos de responsabilidade e autonomia40. O projeto de vida,
por sua vez, são as aspirações pessoais e profissionais que começam a ser
desenhadas e perseguidas pelos jovens para se concretizar na fase adulta.
O Ensino Médio como etapa escolar que coincide com o período de agitação e
transformações da adolescência precisa ajudar a construir um caminho seguro e
efetivo para o futuro cidadão e profissional. Para isso
sugere-se que as escolas tenham algum espaço no currículo para
oferecer unidades curriculares que conversem com os anseios e as
expectativas dos seus estudantes e com a realidade local [...]. Essas
unidades não necessariamente precisam ter relação com as
competências e habilidades específicas do itinerário escolhido,
possibilitando que todos realizem, por exemplo, um curso FIC41, uma
atividade de intervenção comunitária, oficinas de danças, música,
entre outras, sem ter escolhido um itinerário que trate
especificamente desses conhecimentos42.
O projeto de vida, portanto, é algo dever transcorrer por todo o Ensino Médio
sem se ater especificamente a uma única área ou itinerário. Não há um modelo
único a ser seguido, mas algumas escolas já realizam algumas experiências, como
no campus de Jacarezinho, do Instituto Federal do Paraná (IFPR), que criou uma
grade curricular em que os alunos podem escolher as matérias a cumprir de acordo
com seus interesses e necessidades. Vejamos43:
39
Competição de poesias.
40
Para a criação do senso de responsabilidade e autonomia as técnicas e práticas do Manual de
Metodologia do Estudo podem ser bastante úteis, uma vez que trabalham com a organização do
tempo e ferramentas de estudo.
41
Formação Inicial e Continuada.
42
Cf. ESTUDOS E DIAGNÓSTICOS. In: GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO.
Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em 11 de ago. 2019. p. 24.
43
Cf. EXEMPLOS DE BOAS PRÁTICAS. In: GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO
MÉDIO. Disponível em: http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em 11 de ago. 2019. p.
72.
54
Esse modelo, naturalmente, deve ser acompanhado para mensurar seus
resultados, mas, de toda forma, ao permitir o estudante escolher as disciplinas a
cursar, respeitando os pré-requisitos, a IFPR está proporcionando ao estudante a
possibilidade de seguir suas afinidades, tornando-se protagonista e responsável pela
própria formação.
É um desafio motivador a implantação do Novo Ensino e esta foi apenas uma
mostra do seu alcance. Para uma melhor compreensão e implantação, é
imprescindível visitar o seguinte endereço:
__________________________
novoensinomedio.mec.gov.br
__________________________
Neste sítio eletrônico é possível “baixar” a Base Nacional Comum Curricular e o
Guia de Implementação do Novo Ensino Médio. Dois documentos de leitura
fundamental para todos os inseridos no contexto escolar.
55
56
2. PREPARANDO-SE PARA CONCURSOS E VESTIBULARES
A grande maioria dos alunos de Ensino Médio vai prestar, no final do período
escolar, algum tipo de exame vestibular. É o que se espera deles, passar em uma
faculdade. Mas se preparar para ser aprovado no Ensino Superior não se limita a
conhecer os conteúdos de diferentes matérias. Significa estar pronto para um tipo
específico de exame, muitas vezes com algumas diferenças importantes entre si, por
exemplo, o tipo de redação exigido pelo candidato. Desta forma, é importante fazer
um acompanhamento das etapas que levam à aprovação, pois, muitas vezes, por
desconhecimento ou desatenção, os alunos “passam batido” por alguns itens
importantes:
• O primeiro ponto a se observar são os prazos das inscrições e o período das
provas, sobretudo quando há diferentes certames. Não é incomum os alunos se
esquecerem deles e deixarem de realizar as provas por uma dessas razões.
Como prática, vale pedir a eles um calendário a ser sempre atualizado que pode
ficar em diferentes suportes (redes sociais, mural, etc.) e se torne um ponto de
central.
• Não ler o Edital é um descuido generalizado. Poucos são os estudantes que dão
valor a ele. Mas é ali que está tudo (ou quase tudo) que se precisa saber sobre
o vestibular. Dois itens que requerem especial atenção são aqueles que dizem
respeito à isenção do pagamento da inscrição e as vagas para cotas. Vale fazer
uma roda de discussão para identificar os estudantes que se enquadram nos
critérios e as vantagens e desvantagens desses sistemas.
57
• Estudar para o vestibular como se estuda para uma prova escolar. Por mais que
muitos professores elaborem (ou retirem) suas questões nos modelos do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros, a pressão de ter que responder a
diferentes matérias em um determinado espaço de tempo precisa ser treinada.
• Não conhecer e aproveitar os materiais auxiliares disponibilizados pela própria
banca do concurso. Isso diz respeito principalmente ao Enem, que oferece, por
exemplo, a cartilha de redação, com a explicação de todos os critérios e
reprodução de textos que alcançaram a nota máxima.
A seguir sugerimos algumas práticas que podem ser adotadas:
2.1 Simulados
Simulado é o instrumento mais clássico comum, seja aplicando uma prova
anterior integralmente, seja elaborando uma nova prova a partir de outras. Apesar
tradicional, figura aqui porque pode-se perguntar se a integralidade das escolas
realiza esse tipo de atividade. O simulado precisa envolver todos os professores, do
contrário, não será simulado, mas um teste. Ele precisa simular todas as condições
do dia da prova, especialmente o tipo, quantidade de questões e o tempo de
realização. Afinal, treina-se como se joga. Deixar o aluno acostumado com a
pressão do dia o deixará mais apto pra quando se submeter ao exame realmente.
Passado o simulado é preciso fazer a “vista da prova”, corrigindo uma a uma as
questões, a fim de tirar todas as dúvidas.
A frequência da aplicação do simulado também deve ser considerada. Para ser
efetivo precisa aparecer diversas vezes ao longo do ano letivo. Quanto mais os
estudantes estiverem familiarizados com as provas, melhor.
2.2 Estudo por questões
Foi dito que o simulado, para ser considerado como tal, precisa reproduzir as
características da prova oficial. Contudo, é possível fazer o estudo por questões por
áreas ou disciplinas. O ponto é aprofundar o aprendizado por meio das resoluções.
Assim, invés de tentar responder uma prova toda, seleciona-se algumas questões,
até por conteúdo ou assunto, para analisá-la criteriosamente. O objetivo não é saber
apenas qual é a alternativa correta, porque as outras estão erradas. Isso não deve
ser feito apenas pela explanação do professor ou por meio de perguntas diretas
durante a aula, por exemplo: “por que vocês acham que a B está errada?”, mas de
deixar os alunos trabalharem um pouco sozinhos e ficar como mediador. Assim,
pode-se sugerir que eles façam um fórum, que derive algum produto escrito (na
internet ou redes sociais, caderno de resolução, audiovisual) debatendo as
58
questões. O professor funcionará como mediador, a fim de dirimir dúvidas, mas
sempre deixando que eles próprios cheguem às respostas.
2.3 Técnica para resolução de provas: Técnica das Passadas
A forma mais comum de um candidato responda uma prova é a seguinte:
começar pela questão 1 e só passa para a 2 depois de ter respondido a anterior ou
depois de pensado muito e desistido dela. Esta forma de proceder, no entanto, não é
nada estratégica. O risco de terminar o tempo da prova sem ter analisado todas as
questões é grande. Muitos alunos e candidatos a concursos e vestibulares
reclamam por não conseguirem ler toda a prova porque não tiveram tempo.
Existe, todavia, uma técnica que permite controlar melhor o tempo de resolução
de uma prova e até permitir ao candidato ler a prova mais de uma vez, é a Técnica
das Passadas. Esta técnica é mais eficiente no caso de provas com questões
objetivas, como é o caso do Enem e vestibulares.
A primeira coisa a fazer é saber quanto tempo se tem para responder cada
questão. Imagine uma prova com 45 questões para serem respondidas em 3h.
Convertendo as horas em minutos são 180 min. Considerando que tenha um cartão-
resposta a ser preenchido, destina-se (pelo menos) 15 minutos para ele. Sobram
165 min. Dividido pela quantidade de questões: 165 ÷ 45 = 3,66. Arredondando para
baixo, sempre, são 3,5 min para cada questão.
Para questões muito fáceis para o candidato, 3,5 min pode até ser muito tempo,
então sobram minutos para as demais. Uma maneira de fazer o tempo render é
começar a responder as matérias que o candidato tem maior domínio. Ou seja, tem
mais chances de terminar aquela parte mais rápido.
Aplicando as passadas:
1ª Passada: Ler a primeira questão (da prova ou da disciplina) e verificar se sei
ou não sabe. Se souber, responder. Se não souber ou acha que, se analisar um
pouco, acerta, não perder tempo, e pular para a próxima. Fazer isso até a última
questão. Mesmo que ao final da primeira passada o candidato tiver eliminado
apenas cinco questões não tem problema. Mais importante é que ele leu toda a
prova e identificou as questões fáceis, médias e difíceis. E deixou seu cérebro
trabalhando, ainda que inconscientemente, sobre elas. Então, dos três minutos e
meio que ele tinha para cada questão, gastou cerca de 30 segundos para cada uma.
Agora deve refazer a conta: dividir a quantidade de tempo restante pelas questões
que falta responder.
Dica importante para provas: textos longos só se lê se for realmente
necessário. Deve-se primeiro analisar o enunciado da questão. Em muitos casos, dá
pra responder preterindo o texto.
59
2ª Passada: esta etapa é destinada a responder aquelas questões que se o
candidato precisa se ater um pouco mais, analisar as alternativas, enfim, as que ele
sabe “mais ou menos”. Contudo, se sentir que está demorando demais na questão,
ultrapassando o tempo estipulado, deve ir para a próxima. A regra é a mesma:
economizar tempo. Ao final, se terá visto toda a prova duas vezes.
Importante: não existe um número definido de passadas, isso depende do
tempo disponível, da quantidade e nível de dificuldade das questões. O modelo
sugerido de três passadas porque é o mais comum de ocorrer.
3ª Passada: este é o momento de responder aquelas questões que o candidato,
de fato, não sabe. No caso de alguns concursos públicos, deve-se atentar se não se
trata de provas em que uma ou mais questões erradas anulam uma certa. Se for o
caso, cabe uma avaliação se não é mais estratégico deixar as questões em branco.
Se não for o caso, não há motivos para não arriscar. Mas, se for necessário “chutar”,
cabe algumas recomendações (sem garantias de acerto):
• Respostas recorrentes têm mais chances de serem as corretas. Portanto, cabe
ficar de olho quando uma opção aparece em mais de uma alternativa. O mesmo
com resultados muito semelhantes.
• Eliminar as hipóteses absurdas ou demais restritivas e genéricas (geralmente
indicada por termos como “somente”, “apenas”, “todo”, “sempre").
• Desconfie da letra A). Muitos preferem colocar as respostas entre as opções B e D.
• Atenção ao cartão-resposta! Se, ao preenchê-lo, perceber que as respostas
estão muito alinhadas, por exemplo, três ou quatro questões na letra C, na hora
de “chutar”, ponderar marcar uma letra diferente.
Evidente que um professor deseja sempre que seu aluno saiba a resposta. No
entanto, no dia do vestibular, aquele é o momento de garantir a vaga. Portanto, não
sendo uma prática ilícita ou desonesta, como colar, não há por que não consversar
com o aluno sobre os momentos em que “der branco” ou ele perceber que não sabe
fazer a questão.
A Técnica das Passadas pode mesmo ser praticada nos simulados afim de
alcançar maiores resultados.
60
3. ENEM E VESTIBULARES
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado em 1998 para avaliar o
desempenho dos estudantes. A partir de 2009 sua pontuação passou a ser utilizada
como mecanismo de seleção do Ensino Superior. Desde então, o Enem se tornou a
principal porta de acesso às universidades públicas e algumas particulares.
Algumas características importantes sobre esse Exame, que não pode ser
desconhecida pelos estudantes de nível médio:
• O Enem divide suas provas por grandes áreas:
o Ciências Humanas e suas Tecnologias: que envolvem as disciplinas de
História, Geografia, Filosofia e Sociologia.
o Ciências da Natureza e suas Tecnologias: que envolvem as disciplinas
de Química, Física e Biologia.
o Linguagens, Códigos e suas Tecnologias: que envolvem as disciplinas de
Língua Portuguesa, Literatura, Língua Estrangeira (Inglês ou Espanhol),
Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação e Comunicação.
o Matemática e suas Tecnologias: que diz respeito à disciplina de
Matemática.
Esta divisão que se mantém há alguns anos reflete nas mudanças na Base
Nacional Curricular Comum, que determina que o ensino deva ser por áreas. Assim,
mesmo que o aluno estude disciplinas distintas, elas precisam ser integradas, uma
vez que no Exame não haverá qualquer indicação prévia de qual matéria a questão
61
se refere. Para isso é preciso que a escola pense os itinerários formativos, cujos
alguns exemplos estão no Guia de implementação do novo ensino médio.
• A nota do Enem é composta pelo resultado das questões objetivas mais a
redação, cada uma valendo 1.000 (mil) pontos. Esta importância que ganha a
redação no processo faz com que ela mereça atenção das escolas e dos
alunos.
o A redação do Enem também possui particularidades, como a criação de
uma proposta de intervenção para o problema suscitado e presença de
um repertório sóciocultural. Desconhecer a estrutura que a prova exige,
pode levar a resultados abaixo do esperado pelo estudante. Ainda que o
texto mantenha outras qualidades como correção ortográfica e coesão.
Para ajudar nesse processo, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que promove o Enem, publica
anualmente a Cartilha do Participante da Redação do Enem, que deve
ser de conhecimento Pleno dos alunos.
No Enem o candidato não concorre a vagas únicas de um curso superior, mas a
algumas opções por ele pré-selecionadas por meio do Sistema de Seleção Unificada
(Sisu). A definição vai depender da nota final do aluno, se ela é suficiente ou não
para entrar para determinado curso. Assim, é importante que ao longo dos
processos de simulados promovidos pela escola ou mesmo executados
particularmente pelo estudante seja feita a análise sobre qual curso aquela nota
permitiria entrar.
Atualmente, algumas universidades particulares também têm aceitado a nota do
Enem como critério para ingresso. Saber quais cursos a nota alcançada é válida
proporciona mais possibilidades aos estudantes.
Outro fator importante ainda sobe notas é que o Enem também funciona como
um supletivo. Se candidato tem mais de 18 anos e ainda não concluiu a
escolarização básica, pode utilizar o desempenho no Exame para solicitar a
certificação do Ensino Médio junto às instituições credenciadas. É preciso verificar o
funcionamento quando sai o Edital.
Instruir o estudante sobre tais aspectos é fundamental para que o resultado
alcançado seja o mais satisfatório.
Para saber mais sobre o Enem e o Sisu, vale visitar os sites:
______________
enem.inep.gov.br
sisu.mec.gov.br
______________
Embora o Enem já esteja presente na quase totalidade das faculdades públicas,
muitas delas ainda mantém seus vestibulares próprios. É o caso da Universidade
62
Federal do Amazonas (Ufam), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas do Amazonas
(Ifam-AM). Dos primeiros é de considerar que além dos vestibulares tradicionais,
conhecidos como “macros”, eles possuem o sistema de acesso seriado (Processo
Seletivo Contínuo – PSC, na Ufam;; Sistema de Ingresso Seriado – UEA), em que ao
final de cada ano letivo do Ensino Médio o aluno é submetido a uma avaliação que
vai acumulando pontos. No final do terceiro ano, de acordo com a pontuação
alcançada, ele pode se submeter a determinados cursos.
Conhecer em profundidade esses processos também é importante como mais
uma porta de acesso ao Ensino Superior.
3.1 Ensino presencial e ensino à distância
Quando se fala em entrar para uma faculdade o mais tradicional é pensar nas
aulas presenciais, em um campus próprio, com toda a estrutura de um universo
acadêmico. Porém, essa não é a única possibilidade. As graduações a distância já
são uma realidade e é válido avaliar os pontos positivos e negativos de cada uma
para que o aluno possa escolher o que melhor lhe compete.
Do lado do ensino presencial, temos a riqueza do campus, dotados de
laboratórios, bibliotecas e demais espaços de aprendizado, além do convívio com
colegas e professores que permite construir laços e tirar dúvidas de forma mais
direta. Por outro lado, exige um deslocamento diário para a faculdade o que requer
vários custos, como transporte e alimentação. Os horários das aulas podem também
ser conflitantes com alguém que tenha um trabalho ou more distante do campus.
O Ensino à distância (EaD), por sua vez, prescinde dessa necessidade de estar
in loco, o que se torna uma alternativa viável para aqueles que precisam conciliar
estudo e trabalho. Por sua vez, por não existir convivência direta entre alunos e
mediadores, é preciso muito senso de autodisciplina para o aluno se manter
disposto e focado ao longo dos anos de formação. Possuir um computador com
acesso à internet também é imprescindível, uma vez que quase tudo acontece por
meio de plataformas on-line. A exceção é para as avaliações que precisam ser
presenciais, mas ocorrem em momentos específicos do curso.
Importante ressaltar que os cursos à distância têm o mesmo valor institucional
dos cursos presenciais, não desabonando em nada o egresso dessa modalidade.
Assim, mais uma vez, trata-se uma questão de perfil e necessidade do aluno. Como
escola, deve-se debater as possibilidades para ajudá-los a encontrar o melhor
caminho.
63
3.2 Bolsas e financiamentos
No caso de alunos que optem por cursar o Ensino Superior em universidades
particulares, mas precisem de ajuda para custear os estudos, existem hoje algumas
possibilidades de auxílios e financiamentos, dois quais se destaca:
• Programa Universidade Para Todos – Prouni
Concede bolsas de estudos integrais e parciais de 50% em instituições privadas
de educação superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação
específica, a estudantes brasileiros que não possuam ainda diploma de nível
superior. Os candidatos às bolsas integrais devem ter renda familiar bruta mensal de
até um salário mínimo e meio por pessoa. Já para as bolsas parciais de 50%, a
renda deve ser de até três salários mínimos por pessoa. Também são requisitos:
o Ter cursado o ensino médio completo em escola da rede pública;;
o Ter cursado o ensino médio completo em escola da rede privada, na condição
de bolsista integral da própria escola;;
o Ter cursado o ensino médio parcialmente em escola da rede pública e
parcialmente em escola da rede privada, na condição de bolsista integral da
própria escola privada;;
o Ser pessoa com deficiência;;
o Ser professor da rede pública de ensino, no efetivo exercício do magistério da
educação básica e integrando o quadro de pessoal permanente da instituição
pública, e concorrer a bolsas exclusivamente nos cursos de licenciatura.
Nesses casos não há requisitos de renda.
Para saber mais pode-se acessar: http://siteprouni.mec.gov.br/
• Fundo de Financiamento Estudantil – FIES
Sistema de financiamento que permite ao estudante pagar sua dívida de
mensalidades somente depois de formado. O FIES pode ser cumulativo a uma bolsa
de estudos. Por exemplo, o estudante recebe bolsa de 50% de desconto na
mensalidade e os outros 50% ele financia pelo FIES. Hoje o financiamento está
dividido em duas modalidades, com possibilidade de juros zero, de acordo com a
renda familiar do candidato.
Para saber mais pode-se acessar: fies.mec.gov.br
64
• Bolsa Universidade
Programa da Prefeitura Municipal de Manaus que concede bolsas integrais
(100%) e parciais (75% e 50%) para estudantes do Ensino Superior (graduação,
pós-graduação e idiomas) de instituições particulares que comprovadamente não
têm condições de custear as mensalidades. O estudante não precisa restituir o valor
concedido, mas em a contrapartida é necessária sua participação em projetos
educacionais, sociais, culturais e socioambientais promovidos pela Prefeitura.
Atualmente, estão credenciadas no Programa 15 instituições de Ensino Superior da
cidade de Manaus: Boas Novas, Ciesa, Dom Bosco, Esbam, Fametro, Fucapi, IAES,
La Salle, Martha Falcão, Materdei, Uninassau, Nilton Lins, Uninorte e AACID.
Para saber mais pode-se acessar:
portalespi.manaus.am.gov.br/bolsauniversidade/
Dotar os alunos do máximo de informação sobre o Enem e vestibulares é
garantir a eles mais oportunidades e recursos que, talvez, por desconhecimento,
eles acabem não aproveitando. Assim, considera-se válida a discussão de todos
esses pontos elencados.
65
66
4. MERCADO DE TRABALHO
Quando se pensa em Projeto de Vida muito dos anseios e desejos estão
relacionados à realização profissional, sobre qual profissão seguir, o que fazer
depois de formado. Se é verdade que muitos estudantes do Ensino Médio têm o
ingresso no Ensino Superior como uma prioridade, não é menos verdade que outros
tantos veem na conclusão da etapa básica o momento de inserir no mercado de
trabalho. São diferentes aspirações e todas precisam ser contempladas pela escola,
a fim de mostrar aos estudantes os diversos caminhos que podem trilhar para
alcançar o tão sonhado Projeto de Vida.
Relevante ainda é discutir que alguns empregos ou ocupações que os jovens
venham a realizar no início de suas carreiras, se não correspondem ainda à
profissão de seus sonhos, são importantes como degrau e preparação para o que se
deseja. Portanto, não devem ser desprezados nem tratados com displicência, mas
sim como uma fase de aprendizado e de acúmulo de capital para os passos
seguintes.
Pensando a Nível Médio, algumas oportunidades que os jovens podem aproveitar
são:
67
4.1 Concursos Públicos
São muitos os concursos públicos destinados à pessoas com nível médio de
escolaridade. Com mais vagas até que aqueles destinados aos de nível superior.
Poucos alunos e escolas se atentam a eles, tão grande o foco no Enem e
vestibulares. E acaba que a maior parte dos aprovados nesses concursos são
adultos que já tem experiência no mercado. Importante ainda salientar que muitos
cargos oferecem salários e benefícios bastante atraentes.
Como dito, ainda que conquistar algumas dessas vagas não seja exatamente o
Projeto de Vida do aluno, elas devem ser levadas em consideração como forma de
alcançar a realização profissional desejada, seja para pagar um curso de graduação,
fazer um intercâmbio ou juntar dinheiro para abrir um negócio. Isso se torna
importante sobretudo para alunos de famílias humildes que podem ter naquela
aprovação uma oportunidade de melhorar suas condições de vida.
Assim, além dos exames vestibulares, é válido discutir com os alunos suas
perspectivas sobre concursos públicos, quais vagas são mais atrativas para eles, o
funcionamento desse tipo de exame, o modelo de avaliação e questões, etc. Há
ainda um ponto que chega a ser quase uma vantagem para o estudante de Ensino
Médio, muitos deles estão apenas estudando, enquanto outros candidatos, mais
adultos, tem ainda que dividir seu tempo com o emprego e outras responsabilidades.
Então, se o aluno já está estudando para o vestibular, porque nao aproveitar para
estudar também para concursos. Tudo é uma questão de ajustes e prioridades. E
mesmo se pensar que muitas vagas, exigem muitos conhecimentos do campo
específicos, como Administração e Direito, é de avaliar se não haveria dentro da
escola um espaço para conteúdos dessa natureza.
Para um jovem no Ensino Médio ser aprovado em um concurso público pode
garantir a ele a estabilidade necessária para construir um Projeto de Vida sólido e
duradouro. É uma possibilidade que não pode ser descartada e passar alheio à
escola.
4.2 Entrevista de Emprego
A experiência de conseguir uma vaga no mercado por meio de uma entrevista
de emprego é compartilhada pela maioria das pessoas, salvo exceções. Mesmo nos
casos de indicação, o momento frente ao entrevistador pode ser inevitável. Jovens,
então, que costumam não ter nenhuma experiência profissional, sofrem ainda mais
nesse processo. Portanto, é preciso estar é bom ir preparado para não deixar a
oportunidade passar. Assim, antes da entrevista, vale algumas recomendações
importantes:
• Manter o currículo sempre atualizado. Se possível, criar um currículo na
Plataforma Lattes que, para fins acadêmicos, é o considerado oficial.
Currículos antigos podem denotar um candidato “desleixado”, despreparado.
68
É importante, também que os textos sejam claros e objetivos, sem
autoelogios e demais informações irrelevantes. No caso de alunos sem
experiência de emprego, vale chamar a atenção para a importância de
trabalhos comunitários, destaques escolares, participações em eventos,
realização de cursos, enfim, tudo que possa apontar no candidato
conhecimento e responsabilidade. É possível, portanto, fazer uma oficina de
currículo, que pode ser trabalhada como um gênero textual. No dia da
entrevista, vale lembrar ao aluno de levar duas cópias do documento por
segurança.
• Em uma era em que grande parte do mundo está conectado via internet, é
válido reforçar os cuidados nas redes sociais e outros meios que podem
expor o candidato. Hoje em dia é praticamente consensual as empresas
checarem o perfil dos atuais e futuros empregados. Colocar esse tema em
pauta com os estudantes pode evitar alguns embaraços.
• Conhecer sobre a empresa, sua história, suas atividades, sua presença. Não
saber nada sobre o lugar onde se pretende trabalhar é uma gafe comum.
• Escolher com cuidado suas roupas, perfumes e acessórios, afim de transmitir
a mensagem de se tratar de um profissional responsável.
• Treinar respostas para algumas perguntas e questionamentos comuns em
entrevista44:
o Fale sobre você.
o Como ficou sabendo da vaga?
o O que sabe sobre a empresa?
o Por que quer trabalhar conosco?
o Quais são seus pontos fortes? E fracos?
o Qual é sua maior conquista pessoal?
o Você está se candidatando a outras vagas?
o Conte sobre um desafio pessoal e profissional e como o superou.
o Como você se vê daqui a cinco anos?
o Qual ambiente de trabalho você prefere?
o Você tem alguma pergunta?
Feito esse treino, é preciso orientar os alunos para mais alguns detalhes no
momento da entrevista para não cometer algumas gafes, como: chegar atrasado,
ficar irriquieto, falar sem olhar para o entrevistador, gaguejar ou ficar paralisado, falar
44
Cf. 25 perguntas da entrevista de emprego e suas melhores respostas. Disponível em:
https://www.vagas.com.br/profissoes/dicas/25-perguntas-da-entrevista-de-emprego-e-suas-melhores-
respostas/. Acesso em 11 de ago. 2019.
69
gírias ou impropérios e deixar o celular ligado. E nunca, em hipótese alguma, ele
deve pensar em mentir.
4.3 Empreendedorismo
Muitos jovens acreditam hoje que melhor do que procurar um emprego é criar
um emprego. Claro que não é necessariamente necessário inventar um novo
produto revolucionário, muitas vezes a família já possui um negócio que no qual o
jovem vai se agregar. O fato a que se quer chamar atenção é que trabalhar no
próprio negócio ou com parentes e amigos é também uma possibilidade para muitos
jovens.
Captado esse desejo e vocação dos estudantes, o cuidado que se deve chamar
atenção é para fato que gerir um negócio requer diferentes conhecimentos e
habilidades, de áreas como Administração e Contabilidade, assim, é importante que
se busque esses saberes em livros, cursos, na internet, com outros empreendedores
ou mesmo por meio de oficinas na escola. Vale lembrar a existência do Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que oferece
capacitação empresarial.
4.4 Finanças Pessoais
Tão ou mais desafiador do que conseguir o primeiro emprego, seja por meio de
uma entrevista, concurso ou cuidando do próprio negócio, é administrar o dinheiro,
especialmente para os mais jovens. Ávidos por diversos desejos materiais, podem
acabar gastando todo o salário com coisas supérfluas e perdendo a oportunidade de
começar a fazer poupanças e investimentos que terão resultado no futuro.
Ter consciência dessa necessidade da educação financeira é importante nessa
fase da vida pois reflete também nas escolhas por um curso universitário. De
repente o aluno tem desejo e vocação por uma área, mas acaba optando por outra
por achar que terá mais sucesso profissional e financeiro. Então, é preciso que se
faça alguns apontamentos:
Primeiro: Há profissionais bem-sucedidos e bem remunerados em todas as
áreas. Destino que depende do esforço e da capacidade de cada um. Não ficar
preso a uma única atividade, mantendo o espectro de atuação, também ajuda na
valorização pessoal e consequentemente financeira. Ou seja, é preciso pensar as
diferentes perspectivas que uma área pode oferecer profissionalmente.
Segundo: Vivemos em uma cultura que nos prega que devemos estudar para
então conseguir um emprego. Ou seja, não temos uma cultura empreendedora,
muito menos recebemos instruções sobre os benefícios das aplicações financeiras.
Assim, estamos sempre trabalhando por maiores salários, mas mesmo quando eles
70
vêm e isso proporciona uma melhora na qualidade de vida, estamos sempre com a
corda no pescoço preocupados com dívidas. Esse é um movimento natural para
muitos: as dívidas aumentam na mesma proporção da renda. Portanto, para ter uma
mudança significativa no estilo de vida é imprescindível criar o hábito de poupar. É
preciso que o aluno crie esse tipo de consciência o quanto antes.
A poupança, por sua vez, é apenas o primeiro passo porque os rendimentos
dessa modalidade hoje são ínfimos. Conforme o indivíduo for criando o hábito e
ganhando confiança, ele deve procurar por aplicações mais rentáveis, se
necessário, com a ajuda de um especialista. Nesse momento é preciso que o agora
investidor tome bastante cuidado, pois é comum encontrar profissionais e
instituições inescrupulosas oferecendo altos ganhos em curto espaço de tempo. É
válido até ouvir dos alunos os casos por eles conhecidos.
Por isso, se o estudante deseja se preparar para trabalhar por dinheiro, ele deve
também pense seriamente sobre os meios de fazer o dinheiro trabalhar pra ele. A
ideia é que o salário que ele venha receber venha em parte a ser investido a fim de
alcançar no futuro a independência financeira. Ou seja, o momento em que ele
viverá apenas dos rendimentos de suas aplicações e investimentos, podendo,
inclusive, investir todo salário.
Esse cenário pode ser alcançado por qualquer profissional, seja professor,
médico, bibliotecário, engenheiro, assistente social ou qualquer outra coisa. O
importante é que ele vai poder exercer sua profissão pela satisfação pessoal, sem
se preocupar tanto em como vai conseguir equilibrar as contas do mês. O que não
significa que os profissionais não devam lutar por melhores remunerações e
condições de trabalho. Mas saber que a boa gerência das próprias finanças ajudar a
criar cidadãos mais felizes com suas escolhas laborais e aproveitando o melhor que
a vida pode oferecer.
71
72
REFERÊNCIAS
BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR. Disponível em: Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em 11 de ago. 2019.
CLASON, George Samuel. O homem mais rico da Babilônia. Tradução de Luiz
Cavalcanti de M. Guerra. Rio de Janeiro: HaperCollins, 2017.
FRANÇOIS, Julius;; BARRADAS, Raimundo. Vida acadêmica: guia prático do
universitário. 2 ed. rev. e ampl. Manaus: Valer, 2019.
GUIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO. Disponível em:
http://novoensinomedio.mec.gov.br/#!/guia. Acesso em 11 de ago. 2019.
PORTAL DO ENEM. Disponível em: https://enem.inep.gov.br/. Acesso em 11 de
ago. 2019.
REDAÇÃO ENEM 2018: cartilha do participante. Disponível em:
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2018/manual_
de_redacao_do_enem_2018.pdf. Acesso em 11 de ago. 2019.
73
74
ANEXOS
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76
QUESTIONÁRIO DE ESCUTA
PARA UM NOVO ENSINO MÉDIO
Olá, estudante!
O Ensino Médio brasileiro está passando por mudanças. Em breve, todos os estudantes
da etapa poderão escolher parte dos conhecimentos que irão se aprofundar, considerando
as possibilidades e características de sua escola. O objetivo desse formulário é entender melhor
os anseios e necessidades de você, estudante, para ajudar as escolas e secretarias de educação
a promover melhorias que realmente tornem sua sala de aula mais conectada com o mundo
atual e com seu projeto de vida.
1.1 | Quantos anos você tem? | anos 1.3 | Em qual município você mora?
(escreva o nome do município)
1.2 | Em qual Estado você mora?
(marque apenas uma resposta)
2.1 | Para você, quais os principais motivos 2.4 | A sua escola te ajuda a definir o que você irá fazer
para cursar o Ensino Médio? Marque até três no futuro e a desenvolver competências relacionadas
alternativas. à sua capacidade de se organizar, ser responsável, agir
de forma cooperativa, compreender o ponto de vista
a Entrar na faculdade;
dos outros, ter estabilidade emocional, entre outras?
b Adquirir mais conhecimentos;
ESCALA 1 A 5 ONDE:
c Ter um bom emprego futuramente;
5 4 3 2 1
d Conhecer novas pessoas;
Demais Sim Mais ou Pouco Nada
e Desenvolver meu projeto de vida e saber menos
o que eu quero fazer futuramente;
f Nenhum, são meus pais que me obrigam.
2.5 | Como você aprende mais?
Marque até três alternativas.
2.2 | O Ensino Médio atual te ajuda a alcançar
seus objetivos de vida? a Assistindo a aulas teóricas (aquela em que o professor
fala e você escuta e realiza anotações no caderno);
ESCALA 1 A 5 ONDE:
b Estudando sozinho;
5 4 3 2 1 c Participando de oficinas e fazendo projetos práticos;
Demais Sim Mais ou Pouco Nada
menos
d Trabalhando com a comunidade dentro e fora da escola;
e Fazendo trabalhos em grupo;
f Participando de aulas baseadas em tecnologia.
2.3 | Você vê significado naquilo que estuda
hoje no Ensino Médio?
2.6 | Dentre as alternativas, como seria a
ESCALA 1 A 5 ONDE: organização da sala de aula ideal para você?
5 4 3 2 1 Marque até três alternativas.
Demais Sim Mais ou Pouco Nada a Carteiras em círculo;
menos
b Carteiras em filas;
c Carteiras em pequenos grupos;
d Poder mudar carteiras de acordo com a aula;
e Poder usar ambientes internos e externos;
f Ter ambientes e móveis variados (puffs,
bancadas, almofadas, sofás).
2.7 | Que tipo de iniciativas você gostaria 2.9 | Quais devem ser os papéis dos(as)
de ter na sua escola atual? Marque quantas professores(as) em sua escola? Marque
alternativas quiser. até três alternativas.
a Possibilidade de sugerir algumas das disciplinas a Expor os conteúdos na lousa;
que irá estudar;
b Planejar projetos e oficinas onde os estudantes
b Possibilidade de participar nas decisões de questões aprendam os conteúdos para resolver
importantes para a escola, por meio de grêmios problemas práticos;
estudantis e/ou conselhos de classe;
c Realizar perguntas e mediar debates
c Ter atividades que integram professores, sobre os conteúdos estudados;
pais e estudantes;
d Cobrar os estudantes sobre as tarefas de casa
d Possibilidade de participar em atividades esportivas e verificar se estão prestando atenção na aula
que envolvam outras escolas; e copiando as anotações da lousa;
e Ter projetos de interação com a comunidade escolar e Buscar profissionais e recursos de fora da escola
e melhoria de problemas do entorno da escola; para discutir os conteúdos estudados;
f Realizar atividades fora da escola (projetos, f Manter a disciplina em sala de aula;
oficinas, aulas, etc.);
g Buscar conhecer os estudantes e entender
g Atividades e oficinas culturais na escola, como suas dificuldades e aptidões;
cinema, música, dança, teatro, festivais, entre outros.
h Conversar com os responsáveis pelos estudantes
para discutir sobre o desenvolvimento de cada um.
2.8 | Quais formas de avaliação são melhores para
se aprender mais? Marque até três alternativas.
*
3 NOVO ENSINO MÉDIO
3.1 | Abaixo estão listadas algumas das mudanças 3.5 | Você prefere estudar as matérias escolhidas:
que irão ocorrer no Ensino Médio. Assinale
a Apenas com estudantes de sua série; ou
aquelas que você conhecia antes de realizar
esse questionário: b Com estudantes de diferentes séries e turmas,
agrupados segundos seus interesses
a Possibilidade de escolher quais conhecimentos
você irá aprofundar no Ensino Médio;
b Ampliação da carga horária mínima de, em média, 3.6 | Se você tivesse a oportunidade de escolher,
4 para 5 horas por dia; em qual(is) turno(s) você se matricularia?
c Formação técnica como parte do Ensino Médio para a Apenas pela manhã;
todos os estudantes que escolherem esse caminho;
b Apenas pela tarde;
d Ter uma Base Nacional Comum Curricular (BNCC), c Apenas pela noite (Ensino Médio Noturno);
documento que aponta as aprendizagens
obrigatórias que todo estudante brasileiro d Ensino Médio Integral
tem o direito de desenvolver. (todas as manhãs e todas as tardes);
E Ensino Médio Semi-integral
(todas as manhãs e algumas tardes)
3.2 | Quando você gostaria de começar
a escolher parte das matérias que irá realizar
no Ensino Médio? 3.7 | Se sua escola tivesse 1 hora a mais por dia,
a Logo no começo do Ensino Médio; o que você gostaria de fazer a mais? Marque
até três alternativas.
b Depois que eu tiver mais certeza sobre
o que quero fazer em meu futuro; a Aprofundar conteúdos;
c Depois de conhecer um pouco sobre cada b Realizar atividades artísticas e/ou esportivas;
uma das possibilidades que poderei escolher; c Realizar projetos pessoais na escola;
d Apenas no final do Ensino Médio, após passar por d Tirar dúvidas e realizar a revisão de conteúdos;
todos conhecimentos comuns a todos os estudantes.
e Fazer oficinas práticas;
f Participar de grupos de discussão, grêmios
3.3 | Qual área do conhecimento você teria estudantis, etc.
mais interesse em se aprofundar? Marque
até duas alternativas.
3.8 | Você gostaria de fazer algum tipo de Formação
a Matemática e suas Tecnologias;
Técnica e Profissional (cursos técnicos e habilitações
b Linguagens e suas Tecnologias; profissionais) durante o Ensino Médio?
c Ciências da Natureza e suas Tecnologias; ESCALA 1 A 5 ONDE:
d Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; 5 4 3 2 1
e Formação Técnica e Profissional. Demais Sim Mais ou Pouco Nada
menos
Questionário 3.0
APRESENTAÇÃO
Você tem entre 11 e 21 anos? Quer falar qual é a escola que você quer?
Participe da pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção e ajude a transformar a sua escola!
P3. Qual o nome da escola em que você estuda atualmente ou a última (Fundamental ou Médio) em que estudou)?
_____________________________________________________
P4. A última etapa de ensino que você concluiu foi: (marque apenas uma resposta)
(1) Ensino Fundamental
(2) Ensino Médio
(3) Ensino Superior
( 99 ) Não sei / Não quero responder
P5. Qual foi o último ano que você concluiu? (marque apenas uma resposta)
(1) 1º
(2) 2º
(3) 3º
(4) 4º
(5) 5º
(6) 6º
(7) 7º
(8) 8º
(9) 9º
( 10 ) Superior
( 99 ) Não sei / Não quero responder
P7. A escola em que você estuda atualmente (ou a última em que estudou) é…
(1) Pública (do governo municipal, estadual ou federal)
(2) Privada (Particular/ Comunitária/ Filantrópica)
P8. Pense na sua escola atual ou na última escola (fundamental ou médio) em que você estudou. Tem algumas
falas aí embaixo e queremos saber se você falaria ou não falaria isso sobre sua escola. (marque apenas uma
resposta por linha)
Não Acho Falaria Não sei /
Talvez Acho que
falaria que não com Não quero
falasse falaria responder
nunca falaria certeza
Gosto de estudar na minha escola 1 2 3 4 5 99
A minha escola oferece um ambiente favorável para 1 2 3 4 5 99
todos aprenderem.
Na minha escola, todos (direção, funcionários,
professores e alunos) podem participar de decisões do 1 2 3 4 5 99
dia-a-dia da escola.
Na minha escola todos são respeitados independente de 1 2 3 4 5 99
cor, religião, orientação sexual, nacionalidade ou cultura.
Na minha escola aprendo coisas úteis que vou usar na 1 2 3 4 5 99
minha vida.
Na minha escola sempre tenho todas as aulas, sem 1 2 3 4 5 99
problema de falta de professores.
Posso conversar com professores de minha escola sobre 1 2 3 4 5 99
assuntos fora da matéria.
Os estudantes de minha escola respeitam e valorizam os 1 2 3 4 5 99
professores.
P9. Queremos saber um pouco mais sobre a sua escola atual (ou a última em que estudou). Para cada item da
lista, você pode dar uma nota de 1 a 5, sendo que 5 “tá tranquilo, tá favorável” e 1 “tá tenso”. (marque apenas uma
resposta por linha)
“Tá “Tem que “Tá mais ou “Até que tá “Tá tranquilo, Não sei /
tenso” melhorar” menos” bom, mas...” tá favorável” Não quero
1 2 3 4 5 responder
Prédio e estrutura 1 2 3 4 5 99
Alimentação 1 2 3 4 5 99
Atividades esportivas 1 2 3 4 5 99
Relação entre alunos 1 2 3 4 5 99
Relação entre equipe da
escola e alunos 1 2 3 4 5 99
Relacionamento dos alunos
1 2 3 4 5 99
com professores
Maioria dos professores 1 2 3 4 5 99
Uso de tecnologia 1 2 3 4 5 99
Aulas e matérias 1 2 3 4 5 99
Material pedagógico (livros, 99
etc.) 1 2 3 4 5
Atividades artísticas 1 2 3 4 5 99
Atividades extraclasse 1 2 3 4 5 99
P10. Aqui embaixo você vai ver uma lista de iniciativas e atividades.
P10a. Quais dessas iniciativas e atividades TÊM NA SUA ESCOLA? (quantas respostas quiser)
P10b. E pensando numa escola dos sonhos, quais dessas mesmas atividades você acha que
NÃO PODEM FALTAR? (quantas respostas quiser)
P10a. Tem P10b. Tem que
na escola ter na escola
dos sonhos
Grêmio estudantil 1 1
Conselho Escolar (grupo de pais, professores, alunos e funcionários que decidem questões 2 2
importantes da escola)
Participação dos estudantes nas decisões sobre a escola 3 3
Atividades que integram professores, pais e alunos 4 4
Atividade de melhoria da qualidade de vida (alimentação saudável, atividades físicas, prevenção a 5 5
situações de risco/violência)
Atividades que ajudam a lidar com emoções (autoconhecimento, lidar com sentimentos, 6 6
afetividade, relações)
Campeonatos esportivos 7 7
Atividades e oficinas culturais na escola, como cinema, música, dança, teatro, festivais 8 8
Receber organizações sociais (ONGs) na escola 9 9
Atividades de interação com a comunidade do entorno da escola (dentro e fora) 10 10
Visitas, passeios e trabalhos fora da escola 11 11
Olimpíadas de conhecimento (matemática, português, etc.) 12 12
Oficinas e atividades de criação de vídeos, jornais, rádio, blog, fotografia e outras mídias 13 13
Atividades em laboratório 14 14
Projetos de melhoria de problemas da escola ou da comunidade 15 15
Para as próximas perguntas, queremos que você pense nos ambientes educacionais que gostaria de ver, estudar,
frequentar. Para ajudar, fizemos uma lista de itens, que vai aparecer 2 vezes.
Em cada vez vamos pedir para pensar num tipo diferente de ambiente educacional.
1º: pense numa escola que te faria APRENDER MAIS
2º: pense numa escola que te deixaria MAIS FELIZ
Pedimos que avalie com cuidado e sinceridade cada um dos itens, respondendo apenas uma opção em cada
pergunta, a que achar que tem mais a ver.
P11b. Que JEITO DE APRENDER te faria APRENDER MAIS? (apenas uma resposta)
(1) Assistindo a aulas teóricas
(2) Estudando sozinho
(3) Fazendo projetos práticos e de resolução de problemas
(4) Interagindo com a comunidade dentro e fora da escola
(5) Fazendo trabalhos em grupo
(6) Participando de aulas baseadas em tecnologia
(7) Outra. Qual?__________________________________________________________
P11c. Que ORGANIZAÇÃO CURRICULAR te faria APRENDER MAIS? (apenas uma resposta)
(1) Ter um currículo organizado pela escola
(2) Poder escolher todas as disciplinas que vou fazer ou não
(3) Ter algumas disciplinas obrigatórias e poder escolher as outras
(4) Ter disciplinas obrigatórias no horário de aula e poder escolher as atividades diferentes fora do horário de
aula
(5) Não ter divisão de disciplina e poder aprender tudo de forma integrada
(6) Não ter divisão de série e cada aluno poder aprender no seu ritmo
(7) Outra. Qual?___________________________________________________________
P11e. Que RECURSOS EDUCACIONAIS TECNOLÓGICOS te fariam APRENDER MAIS? (apenas uma
resposta)
(1) Ferramentas de pesquisa online
(2) Games ou jogos educativos digitais
(3) Aplicativos
(4) Livros digitais
(5) Vídeos
(6) Robótica e programação
(7) Redes sociais
(8) Ferramentas de criação de vídeo, fotos, áudios
(9) Outro. Qual?____________________________________________________________
P11f. Que JEITO DE SALA DE AULA te faria APRENDER MAIS? (apenas uma resposta)
(1) Carteiras em círculo
(2) Carteiras em filas
(3) Carteiras em pequenos grupos
(4) Poder mudar carteiras de acordo com a aula
(5) Poder usar ambientes internos e externos
(6) Ter ambientes e móveis variados (puffs, bancadas, almofadas, sofás)
(7) Outra. Qual?___________________________________________________________
P12b. Que JEITO DE APRENDER te deixaria MAIS FELIZ? (apenas uma resposta)
(1) Assistindo a aulas teóricas
(2) Estudando sozinho
(3) Fazendo projetos práticos e de resolução de problemas
(4) Interagindo com a comunidade dentro e fora da escola
(5) Fazendo trabalhos em grupo
(6) Participando de aulas baseadas em tecnologia
(7) Outra. Qual?__________________________________________________________
P12c. Que ORGANIZAÇÃO CURRICULAR te deixaria MAIS FELIZ? (apenas uma resposta)
(1) Ter um currículo organizado pela escola
(2) Poder escolher todas as disciplinas que vou fazer ou não
(3) Ter algumas disciplinas obrigatórias e poder escolher as outras
(4) Ter disciplinas obrigatórias no horário de aula e poder escolher as atividades diferentes fora do horário de aula
(5) Não ter divisão de disciplina e poder aprender tudo de forma integrada
(6) Não ter divisão de série e cada aluno poder aprender no seu ritmo
(7) Outra. Qual?____________________________________________________
P12e. Que RECURSOS EDUCACIONAIS TECNOLÓGICOS te deixariam MAIS FELIZ? (apenas uma
resposta)
(1) Ferramentas de pesquisa online
(2) Games ou jogos educativos digitais
(3) Aplicativos
(4) Livros digitais
(5) Vídeos
(6) Robótica e programação
(7) Redes sociais
(8) Ferramentas de criação de vídeo, fotos, áudios
(9) Outro. Qual?____________________________________________________________
P12f. Que JEITO DE SALA DE AULA te deixaria MAIS FELIZ? (apenas uma resposta)
(1) Carteiras em círculo
(2) Carteiras em filas
(3) Carteiras em pequenos grupos
(4) Poder mudar carteiras de acordo com a aula
(5) Poder usar ambientes internos e externos
(6) Ter ambientes e móveis variados (puffs, bancadas, almofadas, sofás)
(7) Outra. Qual?______________________________________________________
P13. Pensando em condições físicas da escola, quais as TRÊS coisas que não podem faltar para a escola dos
seus sonhos? (apenas até TRÊS respostas)
(1) Bastante área verde
(2) Quadras e equipamentos esportivos
(3) Tecnologia não só no laboratório de informática
(4) Arquitetura sustentável: iluminação natural (solar) reaproveitamento de água, etc
(5) Espaços amplos e abertos que possam ser reaproveitados
(6) Adaptação para pessoas com deficiência
(7) Prédio que garanta segurança de todos e dos equipamentos
(8) Prédio que garanta privacidade de todos
(9) Outro. Qual?________________________
P14. Quais dessas características você acha MAIS importantes para um bom professor? Escolha duas
alternativas. (apenas DUAS respostas)
(1) Ter muito conhecimento sobre um assunto
(2) Ter vários interesses e conhecimentos diversos
(3) Saber explicar bem os conteúdos
(4) Propor diferentes atividades nas aulas
(5) Ser acolhedor e ter uma boa relação com os alunos
(6) Saber relacionar os conteúdos com a vida cotidiana
(7) Ser exigente e saber colocar limites nos alunos
(8) Saber estimular o aluno a se questionar e buscar conhecimentos
(9) Outra. Qual?_________________________
P15. Quais outros profissionais você considera importante ter na escola para atender as necessidades dos
estudantes? (quantas respostas quiser)
(1) Não são necessários outros profissionais
(2) Assistente social
(3) Psicólogo(a)
(4) Médico(a) ou outro profissional da saúde
(5) Orientador vocacional ou educacional
(6) Outro. Qual?_________________________
P16. Como você mais gostaria de receber orientações e ajuda para descobrir suas vocações, sonhos e fazer
escolhas de vida? (apenas uma resposta)
(1) Conversas durante aulas normais
(2) Aulas semanais especiais
(3) Aulas mensais especiais
(4) Atendimentos individuais de mentoria
(5) Atendimentos coletivos de mentoria
(6) Semana temática
(7) Evento de um dia
(8) Não acho relevante receber esse tipo de orientação
(9) Outra. Qual?
( 99 ) Não sei / Não quero responder
Nas próximas 4 perguntas queremos saber sua opinião sobre alguns pontos importantes do chamado "novo
ensino médio".
Se você ainda não chegou lá ou já acabou o ensino médio, tudo bem... queremos sua opinião também! Você pode
nos falar sobre como você quer que seja quando você chegar nessa fase da vida, ou como gostaria que fosse se
fizesse o ensino médio atualmente.
P17. No novo ensino médio os estudantes poderão escolher os conhecimentos em que irão se aprofundar. Essa
possibilidade é chamada de itinerário formativo. Qual você acha que é O MELHOR momento para escolher seu
itinerário formativo? (apenas uma resposta)
(1) Ao fazer a matrícula no 1º ano do ensino médio
(2) Depois de 6 meses, no segundo semestre do 1º ano
(3) Depois de 1 ano, no primeiro semestre do 2º ano
(4) Depois de 1 ano e meio, no segundo semestre do 2º ano
(5) Ainda é muito cedo para pensar sobre isso
( 99 ) Não sei / Não quero responder
P18. Se você fosse escolher agora os conhecimentos para se aprofundar no ensino médio, que itinerário formativo
você escolheria? (apenas uma resposta)
(1) Itinerário formativo na área de Linguagens (língua portuguesa, língua estrangeira, artes, educação física)
(2) Itinerário formativo na área de Matemática
(3) Itinerário formativo na área de Ciências da Natureza (física, química e biologia)
(4) Itinerário formativo na área de Ciências Humanas (história, geografia, sociologia, filosofia)
(5) Itinerário formativo de Formação Técnica e Profissional
(6) Itinerário formativo Integrado, que mistura conhecimentos de mais de uma área (ex.: conhecimentos de linguagem
com ciências humanas ou de ciências naturais com matemática)
( 99 ) Não sei / Não quero responder
P19. O que você MAIS LEVARIA em conta para escolher o seu itinerário formativo (parte das matérias a fazer no
ensino médio)? (apenas uma resposta)
(1) Interesse por um conhecimento específico
(2) Afinidade com a faculdade que quero fazer
(3) Indicação de professores
(4) Indicação de colegas
(5) Preparação para o ENEM/vestibular
(6) Afinidade com área em que quero trabalhar
(7) Outro. Qual?
( 99 ) Não sei / Não quero responder
P20. Se você passasse mais tempo por dia na escola, quais atividades você gostaria de ter? Escolha até duas
alternativas. (apenas DUAS respostas)
(1) Reforço ou aprofundamento nas matérias já existentes
(2) Atividades de pesquisa científica
(3) Atividades esportivas
(4) Atividades artísticas e culturais
(5) Atividades comunitárias (ex: voluntariado ou projetos sociais e ambientais)
(6) Atividades de preparação profissional (ex: estágio, empreendedorismo)
(7) Atividades de participação juvenil (ex: grêmios, coletivos, clubes, projetos liderados pelos próprios estudantes)
(8) Atividades eletivas, ou seja, que você pudesse escolher de acordo com seu interesse
(9) Atividades de projeto de vida, em que você pudesse pensar e conversar sobre seus sentimentos, interesses,
sonhos e objetivos
( 10 ) Atividades com tecnologia
( 11 ) Outra atividade. Qual?
( 99 ) Não sei / Não quero responder
P21. Com qual gênero você se identifica? (é possível marcar mais de um)
(1) Masculino
(2) Feminino
(3) Não binário
( 99 ) Não sei / Não quero responder
P24. Você faz parte, frequenta ou já participou de: (marque todas que se aplicam)
Organização Social / Não governamental 1
Coletivo ou grupo juvenil 2
Movimento 3
Partido político 4
Grupo da Igreja 5
Nenhum dos anteriores 6
P25. Na maior parte da sua vida você estudou em escola pública ou privada? (apenas uma resposta)
(1) Pública (do governo municipal, estadual ou federal)
(2) Privada (Particular/ Comunitária/ Filantrópica)
Se você tem interesse pelo tema ou ficou curioso sobre os resultados, deixa seu e-mail com a gente. :)
_________ __________________
Realização
90
PARTE III – DIREITO E CIDADANIA
91
92
APRESENTAÇÃO
Tenório Telles*
Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida
e que de mãos dadas
trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Thiago de Mello – Estatutos do homem, Artigo 1
Liberdade, conhecimento e justiça são anseios que distinguem o ser humano na
cadeia da vida. Mais que isso: são anseios que enformam a subjetividade humana e
dão sentido à existência dos homens. Esses sentimentos e conceitos movem os
corações e as consciências. Movem a sociedade e impulsionam as mudanças
vividas pela civilização ao longo da História.
Plasmando essa teia de percepções subjetivas está a beleza – expressa na
poesia, na música e nas demais expressões artísticas. As artes são asas que
ajudam os indivíduos a voar e a transcender a crueza e os cerceamentos vividos no
plano das relações sociais e políticas. O sentimento do belo não é só um atributo
desenvolvido culturalmente, é uma necessidade humana – que ajuda a viver e
suportar as agruras da sorte adversa. O texto do poeta inglês John Keats é uma
revelação nesse sentido: evoca a força simbólica da beleza e seu caráter vital – que
alegra, encanta e acolhe:
Tudo o que é belo é uma alegria para sempre:
O seu encanto cresce;; não cairá no nada;;
Mas guardará continuamente, para nós,
Um sossegado abrigo e um sono todo cheio
De doces sonhos, de saúde e calmo alento.
Parte dessa tessitura que caracteriza a humanidade, a justiça é uma das mais
caras expressões do processo de construção do “ser” dos homens e de uma
existência social cidadã. Desse anseio decorrem as normas jurídicas, asseguradoras
não só da ordem social e dos direitos dos indivíduos, mas afirmadoras da liberdade.
O jurista romano Ulpiano, no século II de nosso tempo, evocou de forma simples e
perene os fundamentos do ordenamento jurídico: “Tais são os preceitos do direito:
viver honestamente, não ofender ninguém, dar a cada um o que lhe pertence”. O
escritor Thiago de Mello, no seu belo poema “Estatutos do homem”, manifesta
poeticamente o mesmo anseio:
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
O poeta associou a “justiça” à “claridade” como fatores fundamentais da vida em
sociedade, em que uma se alimenta da outra. A “claridade” no texto é uma metáfora
do conhecimento e da liberdade – planta que só brota e floresce onde há justiça e
entendimento. O “Preâmbulo” da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão,
93
proclamada na França em meio às transformações geradas pela Revolução
Francesa, consagra esses valores: “Os representantes do povo francês, reunidos
em Assembleia Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou o
desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos e da
corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais,
inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente
em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e
seus deveres...”.
Este manual, composto de várias falas e olhares, afirma-se pelo compromisso
com a mudança e o estabelecimento de novos paradigmas para a educação e as
práticas jurídicas, fundados na consciência e comprometimento com a justiça.
Funda-se igualmente no entendimento de que o direito não é um fato isolado da vida
e dos homens – mas uma experiência profundamente humana e asseguradora da
vida e da sociedade. Como dizia o poeta alemão Bertolt Brecht é “O pão do povo”:
A justiça é o pão do povo.
Às vezes bastante, às vezes pouca.
Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
Quando o pão é pouco, há fome.
Quando o pão é ruim, há descontentamento.
Fora com a justiça ruim!
Cozida sem amor, amassada sem saber!
A justiça sem sabor, cuja casca é cinzenta!
A justiça de ontem, que chega tarde demais!
Quando o pão é bom e bastante
O resto da refeição pode ser perdoado.
(...)
Sendo o pão da justiça tão importante
Quem, amigos, deve prepará-lo?
Quem prepara o outro pão?
Assim como o outro pão
Deve o pão da justiça
ser preparado pelo povo.
Bastante, saudável, diário.
A justiça é garantia da cidadania, como nos mostraram os filósofos, na Grécia
Antiga, e como sentimos necessidade hoje. Portanto, que ela seja uma preocupação
dos jovens, dos adultos, enfim de todos nós!
94
1. DIREITO E HUMANIDADE
Manoel Bessa Filho*
A velha filosofia escolástica, que prima por definições e conceitos precisos,
estabelece uma distinção sutil entre “atos do homem” e “atos humanos”. Para esses
filósofos, “atos do homem”, são aqueles que, ainda que tenham como agente o homem,
são comuns entre os racionais e irracionais, tais como: comer, dormir, dessedentar-se,
praticar o sexo. Essas ações podem ser simplesmente “atos do homem”, se praticados
da mesma forma que os animais, atendendo a instintos e necessidades biológicas. Se
esse agir, no entanto, envolver o ser humano em sua racionalidade, comprometendo
emoção, sentimento, razão, enfim a sua personalidade integral, seria, aí sim, um “ato
humano”. O animal simplesmente sacia sua fome, o homem se alimenta: necessita de
quitutes com temperos a adicionar sabores, requer uma mesa posta, uma aparência
convidativa – daí a arte culinária –, seleciona os mais prazerosos e saudáveis;; o irracional
se acasala para procriar;; os seres racionais se amam e se completam no sexo, atraídos
pela beleza e as qualidades do parceiro.
Daí podemos chegar a uma primeira concepção de humanidade, ou seja, a qualidade
do indivíduo efetivamente humano. Dessa forma, o agir do “homem” pode ter diferentes
graus de “humanidade”, tomando-se a palavra como síntese da essência ontológica do
homem. Na medida em que este agir é impulsionado e controlado pelo “eu” total do
indivíduo, movido pelas emoções, balizado pela razão, atendendo a necessidades e anseios
de ordem biológica, psíquica e social, tem-se essa gradação de humanidade desejável para
a plena realização de cada personalidade e, em consequência, atinge-se, numa sociedade
com tais indivíduos o sentido pleno da palavra humanidade. Dessa maneira, a outra acepção
semântica de humanidade – coletivo de pessoas que habitam o universo – se enriquece
quando seus integrantes são dotados de verdadeira “humanidade”.
E onde entra o direito, nesse contexto? Se é um conjunto de normas coagentes
impostas pelos aparelhos estatais, como normalmente é apresentado, terá o condão de
instrumentalizar a “humanização” da “humanidade”? E as fronteiras que limitam a
soberania jurisdicional de cada Estado, com suas leis e costumes peculiares, com sua
história de tradições e valores nem sempre tão humanos como se poderia pensar, como
é que ficam? É legal, em alguns países de tradição muçulmana, apedrejar até a morte,
mulheres adúlteras. Mas – pergunta-se – são atos que condizem com uma visão
universal de “humanidade”? E nas relações entre Estados soberanos, que fazem guerra,
matam inocentes, tentam impor pela força sua hegemonia econômica, religiosa, sem
atender a determinações e vetos de organismos internacionais? É muito recente a
invasão do Iraque, a revelia de decisões da ONU.
____________________________
* Manoel Bessa Filho é ex-magistrado e professor da Universidade Federal do Amazonas. Mestre
em Direito Público pela Universidade Federal de Santa Catarina. Portador do diploma de Estudos
Aprofundados em Filosofia do Direito pela Université Paris II. Atualmente exerce o magistério na
Faculdade Martha Falcão.
95
O direito, para ser instrumento de humanização, deve ser instrumento e reflexo,
ele mesmo, de um conteúdo essencialmente humanizado.
O direito que os romanos inventaram, e sistematizaram depois da helenização
de suas elites, por meio dos escravos pedagogos adquiridos na Grécia, a partir da
conquista da Macedônia, era chamado de jus (jus, júris). Donde palavras até hoje
recepcionadas pela nossa língua, tais como “jurisprudência”, “jurisdição”, “jurista” e o
adjetivo qualificativo “jurídico”, que substitui o adjunto restritivo “de(o) direito.
Dizemos curso de direito, ou curso jurídico.
É de notar-se que a palavra latina jus inicia a palavra justitia (justiça). Não seria,
na construção de conceitos da época, uma clara conotação de que o direito integra a
realização da justiça? Já é lugar comum, em trabalhos jurídicos, a citação da
definição de Ulpiano para o direito: Honeste vivere, naeminem laedere et jus sum
cuique tribuere? Além de viver honestamente, não prejudicar, lesar ninguém, atribuir,
dar, a cada um o que lhe é devido, que não é nem mais nem menos do que a
fórmula latina da definição de justiça particular de Aristóteles.
Só mais tarde, no latim decadente medieval, passou-se a usar a palavra
directum, particípio do verbo dirigere (dirigir). Direito, direto ou dirigido tem sentido
análogo. O prefixo di, na formação de palavras latinas, tem significado reforçativo.
Di+rectum equivale a dizer, é reto mesmo, perfeitamente reto. Para saber se uma
linha é reta, direta, usa-se uma régua, em latim, regula, mesma palavra que significa
regra, norma. Houve, portanto, uma transposição semântica: o direito fundado na
justiça, deu lugar a um direito legislado, legitimado pela força institucional da
autoridade legislante – quando não pelos sabres e bacamartes de soldados e
mercenários remunerados pelas arcas de barões e reis. Aliás, o que se verifica na
história do Direito Romano é que a avalanche crescente de “constituições imperiais”,
mais tarde consolidadas no Corpus Juris, foi uma característica exatamente da
segunda fase do período Imperial, o dominato, fase de acelerada decadência (de 284
a 565 d.C.). Até a força dos jurisconsultos ou jurisprudentes, se esmaeceu, pois os
imperadores desse período se reservavam o direito de serem os únicos intérpretes
de suas próprias constituições. No período feudal, que sucedeu às últimas tentativas
de restaurar o grande Império, até o Corpus Juris foi hibernado, para dar lugar aos
pacta subjectionis, impostos unilateralmente pelos senhores feudais.
Esse direito positivado, ajustado aos interesses de cada potentado, situado no
tempo e no espaço, não é o que possui o condão de “humanizar” a “humanidade”.
Tal desideratum só se torna possível com o retorno ao velho e injustiçado Direito
Natural, direito universal, superior e anterior às legislações estatais.
Nos albores do cientificismo moderno, direito natural passou a ser quase um
palavrão. Isso por dois motivos especiais. Em primeiro lugar, pelo preconceito
positivista e antirreligioso. Direito Natural era geralmente identificado como a “lei
divina, impressa na consciência de cada um”, como queriam quase todos os
pensadores católicos. Os arautos do Século das Luzes negavam qualquer
interferência divina na ordem das coisas naturais. Em segundo lugar, o cientificismo
positivista defendia que só poderia haver conhecimento, ciência, sobre coisas
concretas, palpáveis, empíricas (experimentais). No Direito, de concreto, palpável,
96
são as leis e as decisões dos tribunais. Justiça, para eles, é um conceito abstrato,
filosófico, mítico, portanto não pode alicerçar o Direito.
Aqui vamos tentar desfazer esses preconceitos. Não é verdade que a filosofia
medieval cristã era essencialmente jusnaturalista, reacional. Havia, na verdade,
duas vertentes: uma voluntarista, a partir de Santo Agostinho, outra racionalista, que
teve seu maior expoente em Tomaz de Aquino. Essa primeira corrente, voluntarista,
atravessou a Idade Média e foi recuperada ideologicamente pelas academias, como
a de Salamanca e a de Coimbra, onde se formaram todos os operadores do Direito,
no Brasil-Colônia. Nessa linha, que inspirou as correntes positivistas modernas, a
ênfase na definição do Direito, estava em ser oriundo de autoridade legitimamente
constituída. Tudo o que fosse legal era necessariamente legítimo e justo. Não
podemos esquecer que a Reforma Protestante, que abalou os alicerces da
hierarquia católica, teve como antítese, a Contrarreforma, centrada na Companhia
de Jesus (jesuítas), que se posicionou pela restauração do princípio da autoridade
pontifícia. Os jesuítas foram grandes estrategistas – seu fundador, Inácio de Loyola,
era um militar convertido. Perceberam que, por meio da criação de colégios, em toda
Europa e no Novo Continente, forjariam novas mentalidades. Da mesma forma,
passaram a ocupar as principais cátedras das grandes universidades europeias, e
suas teorias passaram a constituir o senso comum teórico de grande parte de
pensadores e cientistas. Não só Salamanca e Coimbra, mas até a tradicional
Sorbonne, passaram a ser controladas academicamente pelos milicianos de Jesus.
Explica-se desta maneira, como as leis foram erigidas em único fundamento do
Direito e até identificadas com o próprio Direito. Em síntese, a jusnaturalismo
racionalista não foi a única vertente da filosofia cristã.
Santo Tomaz de Aquino, atualizador e comentarista mais erudito da filosofia de
Aristóteles, na sua definição do Direito, ainda que admitindo – e não poderia ser de
outro modo – que as leis são promulgadas por quem tem a autoridade, no entanto as
define como uma ordinatio rationis in bonum commune vale dizer, um ordenamento
racional e que visa o bem comum. Quando o Doctor Angelicus elabora um conceito,
ele pretende que a definição dê todos os elementos ontológicos da coisa definida: se
falta algum desses componentes, a coisa não atende a sua definição,
ontologicamente é um “não ser”. Se não for ditada pela razão, ou não contemplar o
bem comum, é uma “não lei”, ainda que promulgada pela autoridade constituída.
Como se vê, como filósofo racionalista, enfatiza as finalidades (causa final) e não a
origem (causa eficiente).
Lamentavelmente, como sói acontecer, os grandes gênios são incompreendidos
pelos seus contemporâneos e assim ocorreu com Tomaz de Aquino. Muitas de suas
teses foram proscritas até mesmo em Universidades Pontifícias. Chegou a ser
proibido até mesmo na Sorbonne.
Em verdade, um Direito Natural, racional, finalista, busca da justiça,
(jusnaturalismo) tem suas raízes na velha Grécia. Para não nos alongarmos mais,
foquemos a justiça na Ética a Nicômaco, de Aristóteles. A definição de Ulpiano
encontra aí seu precedente. A justiça particular, que se identifica com o direito,
consiste em dar a cada um a parte que cabe, lhe compete, distribuindo ônus e
97
bônus, de forma proporcional às necessidades e possibilidade de cada um, repondo
a cada um o que lhe foi tirado de forma clandestina ou violenta. Esta justiça também
faz com que as negociações patrimoniais voluntárias sejam respeitadas para que
ninguém aumente sua riqueza indevidamente.
No entanto – aqui chegamos ao fulcro de nossa questão – esta justiça particular
deve estribar-se na justiça geral, que é a ética, justificativa racional dos atos morais.
Só que, para Aristóteles, que definiu o homem como um “animal político”, ninguém
poderia ser totalmente virtuoso, se não fosse antes de tudo um bom cidadão, porque
ser cidadão era a realização de sua tendência inata, diríamos, de sua própria
natureza. A palavra político, no grego queria dizer, um morador (que tinha casa –
oikós) na cidade (polis, politis). Assim, o homem era naturalmente constituído para
integrar uma polis, uma sociedade organizada em que seus moradores têm
obrigações para com a cidade. Por meio do reconhecimento do fundamento ético do
Direito, essas duas racionalidades, a ética e a jurídica, são os elementos
fundamentais do convívio social.
No de Platão, lê-se que a justiça aparece como fator de sociabilidade: sem ela a
sociedade se desintegraria;; e a lei da cidade se aplica a todos, tanto aos que mandam
como aos que apenas obedecem. Protágoras estabelece a diferença entre a arte
política e as restantes, sendo estas últimas apenas da competência dos especialistas.
Dizia que, Hermes, por conselho de Zeus, havia distribuído entre todos os homens a
virtude política, cujas duas competências são a justiça e o respeito. Como tal, nas
cidades democráticas, para os problemas técnicos, apenas se admitia a opinião dos
especialistas;; para os problemas democráticos todo o homem se podia pronunciar. O
que constitui mais uma das características da democracia.
Mais modernamente, entre os pensadores que podem ser classificados como
adeptos do Direito Natural, aparecem Hugo Grócio, Hobbes, Locke e Rousseau, além
do genial Kant. Para ele, Kant, a justiça aparece como fator de sociabilidade, já Kant
que para ele “se a justiça desaparecer do mundo, não mais vale a pena viver sobre a
terra”.
Finalmente, a Revolução Francesa de 1789, visando derrubar tronos e altares,
inspirada na Revolução Americana (1776) e nas ideias filosóficas do Iluminismo,
erigiu a razão como seu deus aprovou, em 2 de outubro, a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, sintetizando em dezessete artigos e um preâmbulo os
ideais libertários e liberais da primeira fase da Revolução Francesa. Pela primeira
vez, são proclamados as liberdades e os direitos fundamentais do homem
pretendendo que, a partir de então, tais direitos se estendessem a toda humanidade.
Esta foi a inspiradora da Declaração Universal dos Direitos Humanos, um dos
documentos básicos das Nações Unidas, assinada em 1948. Nela, são enumerados
os direitos que todos os seres humanos possuem.
As constituições brasileiras têm feito constar nos seus artigos iniciais tais
direitos, que servem para consagrar o que se deduz da natureza humana, por meio
da razão.
Chegamos assim ao enlace desses dois conceitos, direito e humanidade. O
direito, assim concebido, não como conjuntos de leis esparsas nos diversos tempos
98
e lugares, mas como leis promulgadas racionalmente, atentando para os ditames
supremos da lei natural, visando o bem comum e, sobretudo, aplicado com vistas à
realização da justiça, é, indubitavelmente o fator preponderante para uma maior e
melhor humanização da humanidade. Sem o Direito, assim concebido, não teremos
uma “humanidade” mais “humana”.
99
100
2. O DIREITO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE
PRESERVAÇÃO DA VIDA E FORMAÇÃO PARA A CIDADANIA
Lúcia Maria Corrêa Viana
2.1 Introdução
Este artigo tem por escopo algumas considerações a partir da grave crise
ambiental planetária com a sua interface nas questões de ordem ética, de cidadania,
de democracia, de tutela jurídica, de acesso à Justiça, e por fim de atuação do
Poder Judiciário. Proclamou a Carta de São Paulo, resultante do 13.º Congresso
Internacional de Direito Ambiental, realizado no período de 31 de maio a 4 de junho
de 2009, em São Paulo que “a sociedade passa por duas grandes crises, econômica
e ambiental, e que por isso, deve se unir sobre princípios éticos para passar por
esse momento de reconstrução. O mercado não funciona eficazmente apenas com
mecanismos de autorregulação. São necessárias instituições virtuosas para a sua
sustentação. A sociedade deve saber atuar de acordo com os limites da própria
natureza. Isso não significa uma perda de liberdade, mas, sim, uma das maiores
formas de liberdade, pois é a própria sociedade que põe os seus próprios limites. Os
instrumentos de mercado que estabelecem o sistema de comércio de emissões de
carbono são eficientes, porém necessitam de regulação estatal, pois faltam aos
instrumentos econômicos, requisitos éticos e de equidade. O Direito Internacional e
o Direito Nacional devem ser utilizados de forma holística de modo a criar um
sistema de instrumentos e mecanismos de controle para lidar com a conservação do
planeta. É preciso combinar práticas para o enfrentamento de desastres com as
ferramentas preventivas do Direito Ambiental, sempre invocando o princípio da
precaução. A ideia trazida pelas clínicas de prática ambiental é preparar a próxima
geração de operadores do Direito Ambiental para desenvolver novas ferramentas
capazes de fazer frente a essa nova realidade de desastres naturais com a qual nos
deparamos, priorizando a conciliação e não apenas a formação de litígios
ambientais”. Nesse sentido, o reverenciado professor Leonardo Boff, filósofo,
recentemente homenageado pelo Instituto Planeta Verde e Associação dos
Magistrados do Brasil, por ocasião do 14.º Congresso Internacional de Direito
Ambiental, 15.º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, 5.º Congresso de Direito
Ambiental dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola, e 5.º Congresso de
Estudantes de Direito Ambiental, no período de 22 a 26 de maio do corrente ano, em
São Paulo, proclamou que “queremos uma justiça social que combine com a justiça
ecológica. Uma não existe sem a outra. Existem aqueles que imaginam poder
construir, ensinar e aplicar o Direito Ambiental a partir das premissas e da estrutura
jurídica do Direito tradicional. Para nós, essa tarefa é impossível ou levará a lugar
nenhum. Primeiro porque o ordenamento jurídico convencional não recepciona ou
acomoda facilmente os novos conceitos e categorias jurídicas que o combate à crise
ambiental requer. Segundo, porque a teoria e, sobretudo, a prática dos direitos e
101
obrigações clássicos são pobres em conteúdo ético, pelo menos numa perspectiva
de ética lastreada na solidariedade com todos os seres vivos. Sem Ética Ambiental,
portanto, não há Direito Ambiental, ou, se houver, não passará de um retoque
cosmético ao velho pensamento jurídico, ele próprio, em boa medida, uma das
principais causas da exploração predatória dos recursos ambientais do planeta”.
Proclamaram ainda, os promotores do evento, que homenagear o eminente
professor “é reconhecer, pela via transversa, essa conexão próxima, inseparável,
entre Ética Ambiental e Direito Ambiental, pois coube a ele a missão de acordar um
país despreocupado com valores outros que não aqueles associados à prosperidade
material – e prosperidade material individualista, às custas da degradação da
Natureza e da extinção das espécies”. Recomendou-se ainda ao teórico e ao
profissional do Direito Ambiental da imprescindibilidade da leitura de Leonardo Boff.
Refletiu, por fim, a comissão liderada pelo eminente e brilhante ministro do Superior
Tribunal de Justiça, Antonio Herman Benjamim, e desembargador Eládio Lecey,
diretor da Escola Nacional da Magistratura (AMB), que, “de um lado, pelo simples
fato, visível a todos, de que a crise ambiental se agrava em todo mundo, não
obstante a crescente promulgação de leis e criação de órgãos especializados. De
outro, em razão de que, sutilmente, e, por isso mesmo, de forma mais perigosa, há o
risco de a mesma lex mercatoria, que esgarçou a teia humanística dos fundamentos
jurídicos de nossa sociedade e resultou em todo tipo de atentado à dignidade da
pessoa humana, vir também a poluir o próprio Direito Ambiental”. No concernente às
abordagens que serão realizadas relativamente a direitos fundamentais, efetividade,
e o novo papel do Judiciário, reputa-se como indispensável e destaque, recentes
pronunciamentos da também eminente ministra do Superior Tribunal de Justiça,
Eliana Calmon, quando invoca uma mudança na visão de valores ligados ainda a
direitos individualistas, exigindo do Judiciário a metanoia, mudança de mentalidade
com relação aos direitos de terceira geração, precipuamente a partir de temas como
responsabilidade objetiva, dano moral coletivo, imbricados com valores
individualistas. Assevera a ministra que ao magistrado moderno não cabe aplicar a
lei como no passado, mas exerce papel de agente político, podendo ater-se
estritamente a princípios constitucionais, pois na atualidade, encontramo-nos sob a
égide da Constituição Federal, sendo tratada por muitos com Constituição Ecológica.
Ressalta a magistrada que até então concebia-se meio ambiente como res nulius,
coisa de ninguém, e assim não havia defesa, como tutelar, pois somente se defende
o que tem dono, e transformou-se a concepção do meio ambiente sem identificação
e sem titularidade, passando-se a encarar como coisa de todos, e se existe um dano
há um direito a ser reparado, e dentro desse cenário de titularidade coletiva,
sobressaem-se as implicações com a ética ambiental, e portanto, pensar nos outros
para pensar em si mesmo, pois além disso, para os direitos metaindividuais o que
importa não é o sujeito, é o coletivo.
102
2.2 Ética
“Divisar conceitualmente o que seja a ética é como um saber que se verte e se
direciona para o comportamento que se deve definir e divisar”, 45 segundo os
ensinamentos do prof. Eduardo C. B. Bittar, professor e doutor em Filosofia e Teoria
Geral do Direito da USP. Assim, seria o mesmo que distanciá-la de sua matéria-
prima de reflexão, o fato de concebê-la distante da palpitação diária das
experiências humanas, distante do calor das decisões morais, afastada dos dilemas
existenciais e comportamentos vivenciados em torno do controle das paixões, das
alterações psicoafetivas e sociais que agitam pessoas, grupos, coletividades e
sociedades. A ética repousa na mais robustecida fonte de inquietações humanas o
alento para a sua existência. Dessa feita, será no equilíbrio e na balança éticos que
serão pesadas as diferenças de comportamentos, a fim de que possam ser medidas
a utilidade, a finalidade, o direcionamento, as consequências, os mecanismos, os
frutos etc. Se haveremos de tergiversar em ética acerca de determinada coisa, essa
será a ação humana. Ensina o referido professor que “o fino equilíbrio sobre a
modulação e a dosagem dos comportamentos no plano da ação importa à ética”.
Essa ação humana nada mais será que uma movimentação de energias que se dá
no tempo e no espaço, além daquela que se delineia mediante, p. ex., por meio de
certa manifestação de comportamento (trabalhar ou roubar);; elogiar ou ofender;;
construir ou destruir...);; uma série de intenções (de ganhar dinheiro por meio do
emprego de suas próprias energias ou célere ou facilitadamente por meio do
sacrifício alheio;; propósito de ofender ou magoar;; realizar ou destruir o que está
pronto), entre outros. Ademais essa ação humana não se subsume a somente o
exposto acima, uma vez que “con-vive” com outros tipos de ações humanas em
sociedade, de maneira que para essa convergem um conglomerado de ações com
vistas a um fim comum. Com efeito, entre as espécies de ação humana faz-se
necessário uma atenção especial à ação moral, a qual está diretamente relacionada
com a forma de se conduzir atitudes de vida ou observando-se traços
comportamentais, uma vez que uma única atitude não espelha a ética de um
indivíduo. O livre arbítrio na opção da forma de conduzir a própria personalidade,
seja em ambiência familiar, grupal ou social, “é uma liberdade da qual faz uso todo
ser humano”;;46 “a ética é a capacidade coligada a essa liberdade”.47 Dessa maneira,
a ética resultará de conduta livre e autônoma, conduta dirigida pela convicção
pessoal, ou pela conduta insusceptível de coerção. Para tanto, éthos (grego,
singular) “é o hábito ou comportamento pessoal, decorrente da natureza ou das
convenções sociais ou da educação”. 48 Daí se concluir que a ética, uma vez
45
Bittar, Eduardo C. B. Curso de Ética Jurídica: ética geral e profissional, 2. ed. atual. e ampl. São
Paulo: Saraiva, 2004, p. 3.
46
Reale, Miguel. Filosofia do Direito, 1999, p. 389.
47
Vide, a respeito, uma possível projeção do éthos na teoria aristotélica em: Bittar, A justiça em
Aristóteles, 1999, p. 105.
48
“Conceituar ética já leva à conclusão de que ela não se confunde com a moral, pese embora
aparente identidade etimológica de significado. Éthos, em grego e mos, em latim, querem dizer
103
objetivar-se do estudo da ação humana, se inscreve entre os saberes de maior
relevância, ora para a compreensão do homem em si, ora para a compreensão da
sociedade e de seus fenômenos.
2.2.1 Educação Ambiental
É certeza científica que a espécie humana não é eterna, e que não há nenhuma
espécie eterna. A partir de dados científicos, o planeta também tem seu tempo de
vida, e dependentemente da forma como será tratado, poderá ter seu tempo
abreviado.49 O Sol está envelhecendo e esquentando cada vez mais.50 Esses alertas
evidenciam a fraqueza planetária, e que não denotam catastrofismo ou ficção, mas a
despeito de grandes catástrofes naturais como tsunamis, erupções de vulcões,
terremotos, furacões, ciclones, tufões, tornados, enfim, ecodesastres, e que também
contam com parcela considerável de contribuição do homem, ocasionando
mudanças climáticas, de acordo com dados científicos e Relatório do Painel
Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), divulgado em abril de 2007. Daí a
relevância de uma consciência ecológica à qual está intimamente relacionada à
preservação do meio ambiente, a qual por sua vez tornou-se preocupação mundial,
e nenhum país pode eximir-se de sua responsabilidade, havendo contribuído muito
ou pouco, mais ou menos, para a situação limite em que o mundo se encontra. O
caminho da evolução humana foi longo até o homem atingir uma consciência plena
e completa da necessidade da preservação do meio ambiente (fase holística).
Presenciamos atualmente inúmeras causas de degradação ambiental, entre elas,
contaminação por resíduos nucleares, químicos, domésticos, industriais, e
hospitalares de forma inadequada, pelas queimadas, pelo desmatamento
indiscriminado, pelo desperdício de recursos naturais não renováveis, pelo efeito
estufa, pela contaminação dos rios, pela degradação do solo mediante a mineração,
pela utilização de agrotóxicos, pela má distribuição de renda, pela acelerada
industrialização, pela crescente urbanização, pela caça e pesca predatória etc.
Temos como perceptíveis consequências, a contaminação do lençol freático, a
escassez da água, diminuição da área florestal, multiplicação dos desertos,
destruição da camada de ozônio, mudanças climáticas, poluição do ar, proliferação
de doenças, intoxicação pelo uso de agrotóxico e mercúrio, a devastação dos
campos, a desumanização das cidades, a degradação do patrimônio genético, as
chuvas ácidas, os deslizamentos dos morros e encostas, a queda da qualidade de
costume. Nesse sentido, a ética seria uma teoria dos costumes. Ou melhor, a ética é a ciência dos
costumes. Já a moral não é ciência, senão objeto da ciência. Como ciência, a ética procura extrair
dos fatos morais os princípios gerais e ele aplicáveis“. (Nalini, Ética geral e profissional, 1999, p. 34)
49
Entrevista dada a Carolina Stanisci da Revista MPD Dialógico (ano 4, n.o 12, mar., 2007) sobre
“Desenvolvimento Sustentável: nós não somos eternos“.
50
Temos um bom grau de certeza de que o Sol esquenta à medida que envelhece e está agora 25%
mais quente do que quando a vida começou (James Lovelock, A vingança de Gaia, traduzida por Ivo
Korytowski, Rio de Janeiro, Intríseca, 2007, p.69).
104
vida urbana e rural, desaparecimento de ilhas, grandes cheias, grandes secas etc.
Ainda “que cessássemos neste instante de arrebatar novas terras e águas de Gaia
para a produção de alimentos e combustíveis e parássemos de envenenar o ar, a
Terra levaria mais de mil anos para se recuperar do dano já infligido, e talvez seja
tarde demais até para essa medida drástica nos salvar.”51 Dessa feita, diante da
gravidade da situação ambiental em que se encontra o planeta, torna-se imperiosa a
sua proteção por meio da conscientização do homem por intermédio do
conhecimento da relação homem versus ambiente. Não há outro caminho para essa
consciência senão pela educação. A esse respeito, ensina o prof. Luís Paulo
Sirvinskas em seu Manual de Direito Ambiental, “trazemos cinco tipos de
analfabetismo: tradicional, funcional, virtual, numérico, e ambiental – o cidadão não
conhece o ciclo da vida e dos recursos ambientais. Muitas pessoas têm nível
superior e até pós-doutorado, mas não possuem a mínima noção do que se passa à
sua volta. E para combater essa modalidade não basta ministrar matéria específica
sobre meio ambiente, mas torná-la interdisciplinar e transversal”. 52 O ponto de
partida foi dado com a regulamentação do Art. 225, §1.º, VI da Constituição Federal,
pela lei n.º 9.795/1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política
Nacional de Educação Ambiental, cuja lei foi regulamentada pelo decreto n.º
4.281/2002. Dessa forma, incumbe ao Poder Público “promover a Educação
Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente”.53 De acordo com o Art. 1.º da referida lei, entende-
se por Educação Ambiental “os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes, e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. É
imprescindível, assim, a combinação do disposto no Art. 225 com toda a seção Da
Educação (Art. 205 a 214, CF). Saliente-se que o Art. 208, § 2.º, da CF, estabelece:
“O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta
irregular, importa responsabilidade da autoridade competente”. Acrescenta o
renomado prof. Paulo Affonso Leme Machado, em sua obra Direito Ambiental
brasileiro, que a “educação ambiental não se limita a tratar de questões somente
científicas. Ela forma a consciência cívica dos educandos e da população, como se
vê na Convenção sobre o Acesso à Informação, a Participação do Público no
Processo Decisório e o Acesso à Justiça em matéria de Meio Ambiente, ou
Convenção de Aarhus/98”.54
51
James Lovelock. A vingança de Gaia, p. 19 e 11.
52
Sirvinskas, Luíz Paulo. Manual de Direito Ambiental. 7a ed. rev. atual e ampl., São Paulo: Editora
Saraiva, 2009, p. 7.
53
Machado, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 17a ed. revr, atual. e ampl, São Paulo:
Malheiros Editores, 2009.
54
Ver “Teoria de la decisión judicial“, cit., p. 428.
105
2.2.2 Ética Ambiental
Para tanto, a Educação Ambiental deve estar fundamentada na ética ambiental.
Considera-se essa como o estudo dos juízos de valor da conduta humana em
relação ao meio ambiente, partindo-se das premissas e considerações no item 2
deste artigo. Seria como que a compreensão pelo homem da necessidade de
preservar ou conservar os recursos naturais imprescindíveis à perpetuação de todas
as espécies de vida existentes no planeta. O risco da extinção de todas essas
espécies de vida é o foco das preocupações da ética ambiental. E ainda que os
objetivos e atividades dos ecólogos profissionais e ambientalistas divirjam, ambos
estão embasados na ética ambiental. A ética ambiental também se encontra
alicerçada no Art. 225 da CF. Dessa feita, será o efetivo exercício da cidadania que
ajudará a solucionar grande parte dos inúmeros problemas ambientais mundiais por
meio da ética transmitida pela Educação Ambiental. Compreendendo-se os
problemas socioeconômicos e político-culturais, haverá possibilidade de alteração
das atitudes comportamentais dos cidadãos por meio de uma ética ambiental
adequada, e será o que proporcionará a melhoria da qualidade de vida do homem
nos grandes centros urbanos. Na esteira dessas considerações, preleciona o prof.
doutor ministro Ricardo Luis Lorenzetti, atual presidente da Corte Suprema de
Justiça da Nação – CSJN – da República Argentina, em sua obra clássica, Teoria
geral do Direito Ambiental, quando aborda o impacto do paradigma ambiental, no
item ética ambiental e os valores, em especial, o conflito moral: “Ibsen,55 dramaturgo
norueguês, escreveu em 1882 a obra Um inimigo do povo, que apresenta o
problema de modo contundente: um médico de um balneário comprova que as
águas estão contaminadas pelo vazamento de esgoto. No primeiro ato o médico é
homenageado pela contribuição prestada à comunidade. Posteriormente, ao saber
que o balneário teria de ser interditado, e sendo este a única fonte de entretenimento
do povo, protestam os proprietários, os trabalhadores, a imprensa e o prefeito.
Conclui-se, no último ato, com uma assembleia, que o médico é um “inimigo do
povo”. O doutor Stockmann fez dois descobrimentos: o primeiro é que o balneário
estava alicerçado sobre bases pestilenas e doentias;; o segundo é que a sociedade
estava alicerçada sobre bases pestilenas e doentias”.56
A proteção do meio ambiente prescinde de decisões complexas no plano dos
valores, e tem sido palco de embate mundial na busca pelo desenvolvimento
sustentável. O paradigma ambiental tem sido influenciado por parâmetros éticos e
morais. Em um passado longínquo o avanço científico deveria ser independente de
todo controle ético, todavia, na atualidade observam-se fronteiras em campos como
na genética, na energia nuclear e no próprio meio ambiente. A existência de uma
valoração possibilita objetivação para a ação desorientada, e instrumentaliza
conteúdo adequado, assim, tanto o desenvolvimento quanto o consumo, por
55
Lorenzetti, Ricardo Luis, Teoria geral do Direito Ambiental, tradução de Fábio Costa Morosini e
Fernanda Nunes Barbosa. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 32.
56
Beck, Ulrich;; Giddens, Anthony;; Lach, Scott. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na
ordem social moderna. São Paulo: Unesp, 1997, p. 6-135.
106
tradição, são ações que não possuíam orientações admissíveis, todavia, com o
ambientalismo imprimiram caráter orientativo, ambos devem ser sustentáveis.
Exemplo disso é a expressão “bem-estar geral” inserida no preâmbulo da
Constituição Argentina, dando-lhe o ambientalismo novo sentido aos valores
existentes, uma vez que esse bem-estar não pode ser concebido afastado de um
ambiente sadio. Observa-se nos textos constitucionais e supranacionais que o
ambientalismo introduziu novos valores. Dessa feita, os “valores ambientais”
começam a exercer uma função, pois se dispõem a ser comparados com outros
valores, e requerem prioridade. Nesse contexto, faz-se necessárias considerações a
respeito da Teoria da Sociedade de Risco, a partir de uma visão transdisciplinar e de
um enfoque mais sociológico de risco. O surgimento da sociedade de risco57 marca
uma fase da modernidade em que ganham dimensão as ameaças produzidas até
então pela economicidade da sociedade industrializada. A referida teoria, emplacada
na fase seguinte ao período industrial clássico, repercute na conscientização do
exaurimento do modelo de produção, estando esta fadada ao risco constante e
permanente de desastres e catástrofes. Portanto, a sociedade de risco, de acordo
com os ensinamentos do prof. José Rubens Morato Leite, pós-Doutor em Direito
Ambiental, em Sociedade de Risco e Estado, organizada por J. J. Gomes Canotilho,
“é aquela que, em função de seu contínuo crescimento econômico, pode sofrer a
qualquer tempo as consequências de uma catástrofe ambiental”. 58 Ademais,
convive-se com a possibilidade de que o perigo existe, e, muitas das vezes, não se
conhece a origem e a extensão, e nesse patamar, desse anonimato, emerge a ideia
de irresponsabilidade organizada, em que diversos setores da sociedade, por meio
de instrumentos políticos e judiciais, não divulgam a origem, as proporções, e até
mesmo as consequências dos riscos ecológicos. O mencionado autor oferece crítica
ao modelo Direito Ambiental atual, sustentando que o mesmo exerce função
meramente figurativa na sociedade de risco, operando de forma simbólica, cujas
normas já não são capazes de controlar os riscos da atualidade, e paralelamente as
vigentes dão sequência ao modelo de regulação ambiental típico da sociedade
industrial.59 Considerando-se ainda que o homem age com posição de superioridade
em relação à natureza, e modificando-a de acordo com as suas conveniências e
necessidades, pode-se afirmar que o destino do mundo se encontra nas decisões
humanas, levando-se em conta o esclarecido na Teoria da Sociedade de Risco. A
escolha do modo de viver adotado pelo homem, pautado em valores econômicos, foi
o grande causador dos enormes impactos no meio ambiente, com grande destaque
em toda a história. Dessa feita, vive-se atualmente diante de dois expressivos
dilemas éticos, o do antropocentrismo, subdividido em economicocentrismo e
alargado, e o da ecologia profunda. O economicocentrismo visa tão somente o
proveito econômico do ser humano, enquanto que o alargado, além disso, propugna
57
Canotilho, José Joaquim Gomes, José Rubens Morato Leite (orgs.). Direito Constitucional
ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 132.
58
Beck, Ulrich. Risk society: toward a new modernity, cit.
59
Leite, José Rubens Morato;; Ayala, Patrick de Araújo. Direito Ambiental na sociedade de risco. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p. 13.
107
por novas visões do bem ambiental. O antropocentrismo tradicional é marcado pela
única preocupação com o bem-estar do homem;; em oposição a este se encontra a
ecologia profunda, que objetiva fundar a ideia de que o homem necessita integrar-se
ao ambiente, fugindo assim da noção anteriormente mencionada da proeminência
do homem por sobre a natureza. Ensina e conclui o referenciado prof. José Rubens
Morato Leite que o homem ainda não se enquadra nos posicionamentos da ecologia
profunda, e que constata que muitos países ainda pautam suas decisões de acordo
com a antropologia economicocentrista.
2.3 Direito fundamental e o papel da cidadania na efetividade da
proteção ao meio ambiente
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado passou a ser
considerado como direito fundamental a partir da promulgação da Carta Magna de
1988. A sua proteção pode ser constatada no texto constitucional no capítulo I,
título VII, quando disciplina sobre a ordem econômica e financeira, como no
título VIII, capítulo VI, pertinente e com exclusividade ao meio ambiente. A base
para o status de direito fundamental é o capítulo em que se encontra inserido o Art.
225, caput, que serve de esteio para a legislação infraconstitucional e rege a
administração da tutela ambiental, consoante seus parágrafos e incisos. Pode-se
verificar a inserção a uma gama de princípios pertinentes ao tema ambiental
percorrendo-se pelo texto constitucional de 1988, dentre esses sobressaindo-se o
princípio da dignidade da pessoa humana, com fulcro no Art. 1, e que embasa os
demais princípios. Pode-se ainda abstrair o princípio do desenvolvimento, associado
ao desenvolvimento sustentável, do Princípio I da Declaração de Estocolmo de
1972, reiterado pela Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de
1992, quando estabelece: “Os seres humanos estão no centro das preocupações
com o desenvolvimento sustentável. Têm direito à uma vida saudável e produtiva,
em harmonia com a natureza”. Saliente-se que o Brasil é signatário da Declaração
sobre o Direito ao Desenvolvimento, que disciplina em seu Art. 1.1. “O direito ao
desenvolvimento é um direito humano inalienável em virtude do qual toda pessoa
humana e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento
econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados”.
Com grande relevância, também é possível inferir-se da legislação ambiental o
princípio da precaução, que concomitantemente com o da prevenção, convergem
para o princípio do equilíbrio. É de se destacar que, referentemente à caracterização
do direito humano ao meio ambiente equilibrado, já é consenso dentro da
conscientização ambiental a interdependência entre a tutela ambiental e os direitos
humanos, por forte influência da Conferência de Estocolmo de 1972 e Organização
das Nações Unidas – ONU, vide a sua própria designação de Declaração de
Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, inserindo no seu parágrafo primeiro “a
proteção ambiental como parte fundamental para o cumprimento dos direitos
108
humanos”. A Declaração de Estocolmo, dessa feita, influenciou sobremaneira o
ordenamento jurídico brasileiro, sobretudo a Constituição Federal, e não somente o
direito ambiental, como também aos próprios direitos fundamentais. Pode-se
visualizar a partir do seu Princípio 4 os princípios relativos à matéria ambiental,
quando estabelece: “O homem tem a responsabilidade especial de preservar e
administrar judiciosamente o patrimônio da flora e da fauna silvestre e seu habitat,
que se encontram atualmente, em grave perigo, devido a uma combinação de
fatores adversos. Consequentemente, ao planificar o desenvolvimento econômico
deve-se atribuir importância à conservação da natureza, incluídas a fauna e a flora
silvestre”. Estabelece o Art. 225, caput, da CF, que “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Sem dúvida, a partir
desse dispositivo legal o direito ao meio ambiente foi alçado à categoria de direito
fundamental da pessoa humana, e certamente grande colaborador na consolidação
do Estado Democrático de Direito junto à sociedade, inobstante não se encontrar
inserido no Título II da CF, que disciplina os Direitos e Garantias Fundamentais.
Dessa feita, com fulcro no Art. 5.º, § 2.º, da lei maior, é plausível a interpretação de
que o direito à sadia qualidade de vida é um direito fundamental, e como tal tem
aplicação imediata e eficácia plena. E por sua vez esse direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado se inscreve como um direito fundamental de terceira
geração, e nesse diapasão agrega características, tais como, irrenunciabilidade,
imprescritibilidade e inalienabilidade. O status de direito fundamental permite
sobretudo considerar uma certa hierarquia a esse direito ao meio ambiente
equilibrado em relação aos demais, pois esse é afeto à preservação de um bem
maior que é a própria vida, podendo assim ser considerada um direito humano
fundamental primeiro. Assim, ante a ausência de um meio ambiente de qualidade
não há que se falar em dignidade da pessoa humana. Para ilustrar, por meio do
Mandado de Segurança n.º 22164/SP reconheceu o Supremo Tribunal Federal, a
despeito do caput do Art. 225, o direito ao meio ambiente sadio como um direito
humano, com a seguinte ementa: “Prerrogativa jurídica de titularidade coletiva,
refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão
significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua
singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria
coletividade social”. Dessa maneira, com vistas à concretização do direito humano
fundamental ao meio ambiente e mais ainda para a própria efetividade do Direito
Ambiental, surge como elemento básico e norteador a cidadania ambiental.
Originária do latim, civitas, ou cidade, assim nasceu o termo cidadania, cujo conceito
de cidadão surgiu na Grécia antiga, atribuído àquela pessoa que convivia em
sociedade. O termo cidadão evoluiu posteriormente com a Revolução Francesa, e
surge um novo cidadão a partir da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,
em que dentro do cenário de liberdade, igualdade, e fraternidade, lhe é conferida a
participação democrática no espaço público, por meio de representatividade e
elegibilidade política. Em um contexto de Estado Democrático de Direito, é o sujeito
109
no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado. Dentro do âmbito do Direito
Ambiental, e em face do surgimento de uma sociedade de risco e adoção da teoria
da sociedade de risco, conforme já analisado, urge a necessidade de uma nova face
de cidadania, a cidadania ambiental. Nesse enfoque o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente – Pnuma conceitua cidadão ambiental como o “cidadão crítico
e consciente que compreende, se interessa, reclama e exige seus direitos
ambientais, e que, por sua vez, está disposto a exercer sua própria responsabilidade
ambiental”. Faz-se imprescindível a referência a Andrew Dobson, o qual distingue
cidadania ambiental, aquele modelo tradicional, mas que contempla direitos
ambientais, limitando seus efeitos ao âmbito público, nos moldes Estado-nação,
daquela cidadania ecológica, aquela voltada para a sustentabilidade ambiental, e
que leva em conta os interesses do bem comum. 60 Encontram-se inseridos na
cidadania ambiental, elementos tais como, o direito à vida, ao desenvolvimento
sustentável, ao ambiente sadio, aos deveres ambientais, e, à concretização dos
direitos ambientais. Essa, por sua vez, tem grande amplitude e não fica circunscrita
geograficamente e nem presa a determinado território, povo, raça, nação, pois
alcança para além da soberania nacional. É, portanto, transnacional, global,
transfronteiriça. Esse novo aporte de cidadania ambiental se caracteriza pelo
aprimoramento de conhecimentos ambientais, utilizando esses como ferramenta
para uma atitude ambiental cidadã com responsabilidade, individualmente ou
coletivamente. Essa, portanto, deve ser plena em termos planetários, com
participação compartilhada do Estado e dos cidadãos, sendo imprescindível a
assunção de obrigações éticas. Assim, o reconhecimento do direito ao meio
ambiente como direito fundamental e o papel da cidadania, sobretudo a ambiental,
tem significativa relevância na busca da efetividade da tutela ambiental. Reiterando:
o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental,
considerado como direito humano da solidariedade ou de terceira dimensão ou de
terceira geração, cientificamente se originou da classificação dos direitos humanos,
e de acordo com os ensinamentos do prof. Paulo Bonavides, esses assentam-se
sobre a fraternidade, e são dotados de altíssimo teor de humanismo e
universalidade, não se destinando especificamente à proteção dos interesses de um
indivíduo, de um grupo, ou de um determinado Estado, mas tendo primeiro por
destinatário o gênero humano, num momento expressivo de sua afirmação como
valor supremo em termos de existencialidade concreta.61 Não se poderia deixar de
manifestar o pensamento do filósofo Norberto Bobbio quando ensina que “entre os
direitos de terceira dimensão, na introdução de sua aclamada obra A Era dos
Direitos, situa como mais importante aquele direito reivindicado pelos movimentos
ecológicos, que consiste no direito de viver em um ambiente não poluído”.62 Dessa
feita a consagração do direito fundamental ao meio ambiente, a cidadania ambiental,
a ética ambiental, e o ordenamento jurídico ambiental brasileiro são os grandes
60
Dobson, Andrew, Ciu
61
Bonavides, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 523.
62
Bobbio, Norberto. A era dos direitos. Nova Edição - 8. Tiragem Rio de Janeiro: Campus, 2004, p.5.
110
atores para a efetividade da tutela ambiental, tendo inaugurado, parafraseando o
eminente jurista José Afonso da Silva, o Estado Democrático de Direito
Socioambiental.63
2.4 O Magistrado e a crise ambiental
Cumpre-nos preliminarmente refletir com relação ao fato de que magistrados,
em sua judicatura, muitas vezes são designados para atuar- em varas, algumas
específicas em contendas ambientais, e outras em que ocorre essa predominância,
e como não poderia deixar de ser são portadores de conhecimento vulgar no
pertinente às condições da natureza, e por óbvio, conhecimento sem criticidade, e
que conseguiu amealhar unicamente pela experiência do dia a dia. O fato é que não
é necessário ser magistrado para ter consciência de que a poluição atmosférica é
causadora de doenças, que as invasões em áreas de preservação permanente
podem colocar em risco o abastecimento de águas, e que a destruição da floresta
acarreta grande ônus para o planeta. Nesse cenário é o juiz instado a se aproximar
de conhecimento científico, pela busca da essência das coisas, e fenomênico, por
método próprio, para adotar como critério de aferição a evidência resultante da
comprovação experimental. 64 Nesse patamar também o magistrado ambiental
necessita se munir de conhecimento filosófico, pois esse é crítico e busca a verdade,
“não se contenta com as aparências, parte da dúvida, investiga, formula hipóteses e
submete estas a um crivo severo e impiedoso de análise, sob todos os aspectos
possíveis”.65 A Filosofia na atualidade, como em nenhum outro momento histórico, é
matéria-prima escassa. O afastamento dela decorre do fato de que ela angustia, não
tranquiliza, e faz ressoar sempre indagações controversas, e para muitos
insolúveis, como: Por que vim para o mundo, qual o meu papel no planeta, e o que
vai acontecer depois. Ela é capaz de atormentar, afligir, e não raro faz o ser humano
se sentir desconfortável. Ela compreende o estudo da sua teoria, da sede de justiça
e da ética, antes de mais nada, e na ocasião em que o ser humano a afastou, levou
consigo a ética. Nessa esteira de pensamento não poderá jamais o julgador
ambiental prescindir de uma filosofia ambiental, pois embora a mesma conviva com
imprevisibilidade e falta de verdade científica, é portadora de método e de lógica
imprescindíveis para a humanidade. Hipoteticamente, na falta de legislação, o que
não é o caso, as questões ambientais poderiam ser dirimidas utilizando-se o bom
senso, todavia, jamais um conflito ecológico poderia ser solucionado sem filosofia,
uma vez que, “sem a filosofia, o universo é caótico, em pedaços, no qual o excesso
de informações gera a desinformação. A ela compete reunir os estilhaços, as peças
do grande quebra-cabeças da realidade”. 66 Em sede de arcabouço jurídico
63
Da Silva, José Afonso. Direito Ambiental Constitucional. São Paulo: Malheiros, 6 ed. 2007, p. 43 a 53.
64
David Schnaid. Filosofia do Direito e interpretação. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2004, p. 25.
65
Idem, p. 28.
66
E. Paolo Lamanna. História de la filosofia. Vol. V, 1.a parte, p. 222. In: David Schnaid, ob. cit, p. 33
111
constitucional e infraconstitucional do meio ambiente, encontra-se hoje o magistrado
ambiental brasileiro fortemente fortalecido, aliado a uma sensibilidade nova,
comprometimento e responsabilidade, tanto ao Poder Público quanto à sociedade
para com a preservação do planeta que, entretanto, necessita encontrar eco na
consciência dele, e que como integrante do Poder Judiciário se encontra sendo
instado a um novo protagonismo, diante de um comportamento humano em que
“utiliza-se da natureza como o supermercado gratuito, do qual tudo se extrai, nada
se repõe”, 67 conforme o pensamento do prof. doutor José Renato Nalini,
desembargador da Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de
São Paulo. Nesses considerandos, grandiosa se torna a responsabilidade social do
magistrado, uma vez que se convive com políticas públicas que não dão a devida
importância ao meio ambiente, e se a cidadania ainda não cumpre seu papel. Além
disso, não se concebe mais a tradição positivista, que se resume à aplicação da lei
ao caso concreto, pois esse novo juiz é quem verdadeiramente irá concretizar as
promessas da constituição verde, uma vez que na falta do meio ambiente
preservado, vencerá a injustiça, não haverá solidariedade, e sequer existirá pátria.
De fato depara-se esse novo juiz com desafio de enorme magnitude, enfrentando
questões complexas que passam desde costumes, educação, cultura,
comportamento, ética, cidadania, políticas públicas, burocracia, questões
estruturais e financeiras dos entes federados, embates legislativos, dificuldades na
aplicação da lei, entre outros, e em determinado momento poderá se questionar que
não é seu papel reformar o mundo, pois é servo da lei, se encontra em seu mister
para cumpri-la, e sequer para questioná-la. Não obstante, está hoje esse magistrado
perante novas demandas, vivendo em novos tempos, e que realmente nem sempre
esse arcabouço jurídico se mostra apropriado, porém por que não refletir em
redesenhar-se um novo paradigma de magistrado. Conta a favor do nosso país uma
Constituição ecológica que não se restringe unicamente à estruturação de poderes e
seu respectivo controle, como também da declaração de direitos fundamentais, pois
passou a figurar como um projeto de uma nova nação e de uma sociedade nova. E
como ensina o reverenciado José Renato Nalini, estabeleceu-se um novo paradigma
hermenêutico. O operador do Direito no Brasil, antes acostumado a examinar a
portaria, a ordem de serviço, o regimento, o regulamento, o decreto, só depois a lei e
a Constituição, hoje precisa – antes de tudo – examinar o texto fundante, porque, já
se enfatizou, a Constituição deixou de ser o vértice da pirâmide para configurar-se
como centro irradiador de valores. Direito Constitucional como conjunto de valores.
Dentre os valores acolhidos pela CF/1988, avulta a relevância do meio ambiente
equilibrado”. 68 E nessa mesma linha de pensamento, Habermas, já concluía, a
observar a postura da Corte Constitucional Federal da Alemanha, que a “Lei
Fundamental não é senão uma ordem concreta de valores”.69 Para tanto, existe uma
67
Juízes doutrinadores: doutrina da Câmara Ambiental do TJ/SP/Antônio Celso Aguilar Cortez... (et
al.);; coordenador: José Renato Nalini. Campinas: Millenium Editora, 2008, p. 46.
68
Idem, p. 53
69
Jurgem Habermas. Direito e democracia: entre faticidade e validade. Trad. de Flávio Beno
Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, p. 315.
112
hierarquia de valores constituc ionais, e nessa ordem, à evidência, o bem da vida,
como elemento integrante do meio ambiente equilibrado, tem prevalência, e se
constitui em relevante valor da ordem constitucional brasileira, o que é ensinado pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto, quando indica os valores
mais próximos ao núcleo da circunferência democrática, os referidos nos incisos de I
a V do Art. 1 da CF: “Esses valores mais próximos do centro da Democracia,
concebemo-los como os principais conteúdos ou as principais manifestações dela
mesma. E sendo assim, eles passam a gozar de uma posição intrassistêmica do
mais alto relevo, pois toda interpretação normativa que os confirmar será uma
interpretação conforme a Constituição. Vale dizer, uma interpretação conforme o ser
da Constituição, específica ou topicamente revelado nos valores que tais”.70
2.4.1 Ativismo Judicial
Na atualidade, a grande hermenêutica da política ambiental é o texto
constitucional, como vimos. Há juízes que se substituem ao legislador, como os
juízes ativistas de outros países. No Brasil não há essa necessidade, pois o
legislador brasileiro já o fez. O ativismo já existe na legislação ambiental brasileira.
Uma das decisões mais memoráveis que temos, utilizou apenas a Constituição
Federal, que diz respeito à proibição da farra do boi, com aplicação direta do art.
225, a citar também caso famoso do Epia de Santa Catarina. O texto legal é a base
dessa posição progressista e avançada do nosso direito. O art. 225 da CF a base e
o ápice do sistema constitucional ambiental, e tem como alicerce o art. 170, quando
estabelece que a ordem econômica... tem por fim assegurar existência digna,
observados os seguintes princípios:... VI – defesa do meio ambiente. O Judiciário
brasileiro diante desse mosaico ou correnteza de normas, às vezes paralelas, ou de
sobreposição, ou até mesmo às vezes, de contraposição nesse cenário ambiental,
encontra o arcabouço para as suas decisões. É necessário que se indague para os
críticos com relação a uma suposta intervenção do Judiciário em matéria ambiental,
o que essa tem de diferente? O que a matéria do meio ambiente tem de diferente,
por exemplo, da intervenção na proteção intelectual, ou no Direito de família? Para a
proteção de direito individual a intervenção não é questionada, mas em matéria de
meio ambiente o é. A verdade é que essas críticas decorrem da incompreensão, ou
insipiência dos litígios ambientais. Uma outra crítica diz respeito ao fato de que a
matéria ambiental é complexa demais para ser decidida pelo magistrado. Se fora
assim, matérias outras como, por exemplo, de software, com a médica e decisão
para que aparelhos sejam desligados, também não podem ser decididas pelo Poder
Judiciário. Uma outra crítica é a de que o litígio tem de ser decidido pela
administração de políticas públicas, e se for assim, políticas públicas em matéria de
saúde, educação, transporte, também, e não raro o Poder Judiciário, instado a se
manifestar em razão dessas matérias, muito acertadamente, tem intervindo. Existem
70
Carlos Ayres Britto. Teoria da Constituição. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 186.
113
duas formas dessa intervenção judicial: a primeira, relativamente ao controle judicial
formal de atividades, por meio, por exemplo, das ações civis públicas para
licenciamento por violação de audiência pública, a segunda, poderá se dar por
controle judicial substantivo, como por meio, por exemplo, de ações políticas e
técnicas públicas. E nessas situações o controle ocorre não porque o procedimento
não foi observado, mas porque viola a legislação ambiental. Trata-se de política
pública legitimada. No Direito Comparado não é muito diferente. A doutrina argentina
queda-se por uma posição claramente inclinada ao ativismo judicial, pelo
convencimento da função que deve desempenhar um forte e independente poder
judicial na sociedade. Para tanto estabelece os limites que devem ser cumpridos, a
fim de que não venha a fugir de seus fins, buscar sua eficácia e manter seu
prestígio. Ela parte do pressuposto de que o magistrado deve respeitar a divisão dos
poderes, evitando o avanço e afirmando a garantia dos direitos por intermédio de
mandados orientados a um resultado, para que não se envolva nos procedimentos.
Assim, a problemática do ativismo judicial e seu controle pode ser solucionado tendo
em vista uma noção da “democracia constitucional”,71 adstrita ou a possibilidade da
democracia funcionar com base no respeito às decisões da maioria;; ou a regra
enunciada exclui um governo dos juízes que substitua às maiorias;; e, ou a regra não
exclui o controle por parte dos juízes. E esse seria uma das formas de limite
derivado. Há assim o controle judicial procedimental, e nesse caso a intervenção do
judiciário não deve ser substantiva e as decisões devem sustentar as regras do jogo
institucionais para que a maioria se desenvolva dentro da Constituição, o que pode
ser aplicado à defesa dos bens ambientais ou coletivos. A outra modalidade de limite
derivado seria da eficácia do poder judicial, e nesse caso a atividade dos juízes pode
avançar sobre as decisões da administração. A referida doutrina questiona se o
“poder judicial seria melhor que o executivo para levar a cabo procedimentos de
tutela ambiental. Se posiciona no sentido de que os juízes não têm capacitação
adequada em termos científicos, nem a informação, nem os recursos para adotar
decisões sobre procedimentos. Seria extremamente difícil para um magistrado
definir qual é o sistema que melhor permite a diminuição dos gases emitidos pelos
veículos, ou qual é o lugar onde devem se instalar os curtumes (casos da CS da
Índia). Mas se se decide desse modo aumentará a expectativa social com relação a
muitos outros casos e deverá intervir em todo tipo de situações, o que excede
amplamente a capacidade de um Poder Judicial. Se as regras mudam
constantemente, segundo o critério do juiz, surge a incerteza e isso aumentará os
conflitos porque as partes não têm critérios claros aos quais ajustar-se e ensaiarão
condutas para tentar a sorte nos meios judiciais, e assim as críticas que se fazem à
administração serão feitas ao Poder Judicial. Concluem, assim, que o ativismo
judicial é necessário em temas ambientais, mas deve ser exercido
prudentemente”.72 Relativamente à eficácia da lei, a doutrina argentina, sob forte
71
Ampliamos em “Teoria de la decision judicial“, cit. Conf. Waldron, Jeremy. The Dignity of
Legislacion. Cambrifge, University Press, 1999, p. 158.
72
Lorenzetti, Ricardo Luís. Teoria geral do Direito Ambiental. Tradução de Fábio Costa Morosini e
Fernanda Nunes Barbosa. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 156.
114
influência do nosso Direito brasileiro, e em especial, nesse aspecto, de nosso
festejado ministro Antônio Herman Benjamim, adota a Teoria da Implementação, 73
a partir do cumprimento voluntário (“compliance”), que se verifica quando as
condutas humanas se ajustam aos mandamentos, proibições ou permissões que a
norma jurídica contém;; do cumprimento forçado (enforcement) quando as condutas
não se ajustam às normas, cujas medidas tomadas por meio de sanções
administrativas ou judiciais, civis ou penais, aplicadas às pessoas físicas ou
jurídicas;; 74 e, da dissuasão (deterrence) surgindo como importante função ao
sistema repressivo, pois se não houvesse sanções não haveria cumprimento.
2.4.2 Atuação judicial em sede de mudanças climáticas
No presente momento enorme tem sido a preocupação dos estudiosos e
operadores do Direito em face das consequências naturais causadas pelo homem
capazes de alteração nas condições do clima no mundo, e que ensejam uma forma
de tutela diferenciada e específica, fazendo surgir o Direito Ambiental das Mudanças
Climáticas, e que entretanto, não se trata de um Direito novo, nem propugna pela
ilicitude de novas condutas, e muito menos prevê novas hipóteses de
responsabilidade, mas tão somente nos oferece a constatação de que muitas
dessas atitudes já previstas em nossa legislação, vêm causando danos muitos
mais significativos do que se podia imaginar anteriormente à nossa compreensão
relativamente aos mecanismos de aquecimento do planeta. E nesse cenário é de
questionar qual o papel que o Direito poderá exercer para minimizar esse impacto
a nível mundial, e quais poderiam ser as funções do Poder Judiciário para esse
fim. Nesse patamar somos de consenso de que nem tudo poderá ser solucionado
por intermédio do Direito, e já não mais se vive sob a égide de um “mito que
atinge a compreensão das normas jurídicas de que o jurista pode tudo, e que a
autoridade da lei e do Judiciário podem agir sobre o mundo como bem entenderem.
Tudo que estiver para além do agir humano, ou não puder ser controlado por uma
força humana sustentada pelo Estado não poderá ser objeto de um Direito eficaz.
Por isso, não podemos revogar a lei da gravidade, não conseguimos modificar o
73
Benjamim, Antônio Herman, “A implementação da legislação ambiental: o papel do Ministério
Público. In: Antônio Herman Benjamin (coordenador), Dano Ambiental: Prevenção, Reparação e
Repressão, São Paulo, RT, 1993, p. 360-377 (Também publicado em Revista de Derecho Ambiental
dirigida por Cafferatta, Nestor Buenos Aires, nov. 2004, Lexis Nexis, p. 109. Do mesmo autor: “Meio
ambiental e Constituição: uma Primeira Abordagem”, In: Antônio Herman Benjamim, 10 anos da
ECO-92: o Direito e o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Imesp, 2002, p. 89-101;; “A proteção
do meio ambiente nos países menos desenvolvidos: o caso da América Latina. In: Uma vida dedicada
ao Direito: Homenagem a Carlos Henrique de Carvalho”. São Paulo, RT, 1995, P. 429.
74
Lecey, Eladio, “Responsabilidade penal da pessoa jurídica – Efetividade na realidade brasileira“. In:
Anais das I Jornadas Luso- Brasileiras de Direito do Ambiente, Instituto do Ambiente e do
Ordenamento do Território, Lisboa, 2002, p. 29.
115
gosto ou pensamento das pessoas”,75 de acordo com as reflexões do doutor em
Direito e juiz Federal da 1.a Região, Ney de Barros Bello Filho. Assim, ao
tangenciarmos por nova especificidade no trato do Direito temos consciência de que
o consenso é inatingível, mas como o problema é pauta de políticas públicas de
todos os países do mundo, por agora ser consenso científico, pode ser que a
humanidade se volte para o respeito à aplicação de normas repressoras, e que
somente o Estado por força de seu direito estatal poderá legitimar por meio de ações
inibidoras das emissões de gases do efeito estufa. Essa inovadora normatização
jurídica deverá incidir exatamente nas causas maiores pela emissão desses gases
responsáveis pelo aquecimento global, que são nada mais do que a queima de
combustíveis fósseis e o desmatamento indiscriminado, e essa será a grande
contribuição do Direito. Todavia, esse conteúdo proibitivo deverá estar em
consonância com os critérios razoabilidade/proporcionalidade e da eficácia negativa
comprovada, pois a mencionada norma deve respeitar razoabilidade como propósito
perquirido e o objetivo pretendido deve respeitar proporcionalidade ante ao ato
ilimitado. De outra sorte, essa eficácia negativa desse ato, quer dizer, seu caráter
contributivo relativamente ao dano ambiental deverá ser comprovado. Ganham força
alguns instrumentos, mecanismos e institutos jurídicos nessa seara, a citar, a teoria
da responsabilidade civil, não mais serão caracterizados, pela sua comum
incidência, excludentes de responsabilidade, por força maior ou decorrente de
fenômeno extremo da natureza, nova feição ao direito securitário, uma vez que, por
exemplo, um vendaval, não poderá mais ser excluído de direito à percepção da
apólice do seguro, e por fim a frequente utilização em ações e decisões judiciais da
teoria da imputação amparada no risco, sempre com o adequado critério da
razoabilidade/proporcionalidade, e levando-se em conta o nexo causal. Importante
acrescentar que o conceito de mudanças do clima, como sendo aquela “que possa
ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da
atmosfera mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática
natural observada ao longo de períodos comparáveis”, o qual consta no Projeto de
Lei de Mudanças Climáticas, n.º 3.535, que tramita na Câmara dos Deputados,
repete a definição da Convenção Quadro das Mudanças Climáticas, em seu Art. 1.º,
da UNFCCC, adotada pelo Brasil na ECO-92. Saliente-se que o Estado do
Amazonas foi o primeiro do país a instituir uma Política Estadual sobre Mudanças
Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, pela Lei n.º
3.135, de 5 de junho de 2007. Dessa feita caberá ao Poder Judiciário decidir em prol
de consequências novas para fatos que já se encontravam anteriormente
juridicizados. O que muda é que será dada uma nova roupagem, um novo olhar por
meio das mesmas normas cíveis e criminais, para questões como, por exemplo,
como desmatamento da floresta, como um dos maiores responsáveis pela emissão
75
Congresso Internacional de Direito Ambiental (2010: São Paulo, SP): Florestas, mudanças
climáticas e serviços ecológicos. Coords. Antônio Herman Benjamim, Carlos Teodoro Irigaray, Eladio
Lecey, Sílvia Capelli. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.
116
de CO2, e por via de consequência, incidindo nas mudanças climáticas. Esse será o
novo papel do magistrado a partir de um olhar global.
2.5 Acesso à Justiça Ambiental no Amazonas: Vara Especializada
do Meio Ambiente e Questões Agrárias – VEMAQA e Vara da
Justiça Federal
A Vemaqa foi criada pela Resolução n.º 5/1997, e efetivamente instalada nos
termos do Art. 409 da Lei Complementar n.º 17/1997, representando um gigantesco
passo para o Poder Judiciário do Estado do Amazonas, em ato arrojado e pioneiro,
trazendo um novo conceito de prestação jurisdicional, em que não se pretende
efetivar uma justiça que seja a panaceia para todos os males ecológicos, mas que
tem escopo de processar e julgar os casos ambientais de forma célere e eficaz. Tem
a titularidade exercida desde a sua instalação até os dias atuais, pelo competente,
combativo, julgador especializado, e reconhecido nacionalmente pelo seu
desempenho, magistrado Adalberto Carim Antônio. Na Vemaqa atualmente se
encontram cerca de sete mil processos arquivados, e em torno de dois mil e
seiscentos em tramitação.
A 7.ª Vara Ambiental Federal, criada pela lei n.o 12.011/2009, recentemente
instalada, mais especificamente no dia 28 de maio do corrente ano, que já inicia com
2.143 processos, e que tem a titularidade provisória exercida pela magistrada Jaíza
Maria Pinto Fraxe, havendo sido reverenciada, por ocasião de sua instalação, pelo
eminente juiz federal diretor do Foro, Márcio Luiz Coelho de Freitas, que em seu
destacado e brilhante pronunciamento, ressaltou a coincidência com o ano
internacional da biodiversidade, e comparou a extinção e desaparecimento de
espécies raras da biodiversidade, pelo desmatamento e pelas queimadas, ao
incêndio ocorrido na Biblioteca de Alexandria há mais de mil anos. Lembrou do
enorme impasse global, qual seja do desenvolvimento sustentável, da conciliação
entre a proteção da biodiversidade e crescimento econômico, e mais especificamente
ressaltou que quase três milhões de amazônidas necessitam se desenvolver, e que
os espaços dos povos da floresta sejam respeitados, clamando ainda para que a
proteção do meio ambiente não seja retórica, seja realidade, na oportunidade em que
a Justiça Federal amplia o acesso à Justiça por meio desse novo aporte. Fez
referência ainda aos complexos e grandiosos problemas ambientais da Amazônia, os
quais são proporcionais ao tamanho dela, e que pertinente a essas dificuldades,
nesse patamar ensinou que a formação amazônica data de em torno de 1.400 anos, e
que os estudos em torno do solo amazônico têm sido realizados há não mais que 30
anos.
117
2.6 Conclusão
A despeito de significativo avanço jurisprudencial em sede de decisões
ambientais no Brasil, pode-se reafirmar76 a inexistência de direito adquirido a poluir,
ato jurídico perfeito exercitável contra a natureza, coisa julgada à luz de uma outra
ordem constitucional e hoje superável, pois adversa à proteção ambiental, de acordo
com os ensinamentos do eminente desembargador do TJ/SP, José Renato Nalini, e
titular da Câmara Especial do Meio Ambiente, cuja missão mais relevante para essa
tem sido a de suprir a deficiência da Educação Jurídico-ambiental, que por sua vez,
após 20 anos de novo ordenamento fundante, ainda não alcançou implementação
em todos os níveis. E esse novo momento jurisprudencial têm sido embasado por
ditames constitucionais, posto já estar ultrapassado o tempo de perspectivar o
Direito como funcionalidade, ou simplesmente como mero organizador da
sociedade, estando a Constituição, artifício humano a serviço da humanidade,
devendo por isso ser antropologicamente humana, e consentânea com o supra
princípio da dignidade humana, e sendo esse princípio fundamental da República do
Brasil, e norte inspirador de toda atuação, de Estado e Cidadania, na democracia
participativa. Nesse novo contexto a Constituição Federal não pode ser mais o
vértice da pirâmide, mas passa a figurar como centro irradiador de valores. E
nesse patamar, como rica de valores e princípios, prega Canotilho: “o Direito do
Estado de Direito do século XIX e da primeira metade do século XX é o direito das
regras dos códigos, o direito do Estado Constitucional Democrático e de Direito leva
a sério os princípios, é um direito de princípios”.77 Ainda assim se manifesta Merlin
Cléve: “No campo jurídico, tudo haverá de orbitar em torno da Constituição. Ela é o
sol, a estrela-ímã que confere integridade ao universo-caos fragmentado e
descodificado dos micros-sistemas normativos que precisam ser reconstruídos
enquanto sistema total, que resulta do arranjo arquitetônico do operador”.78 Também
não se poderá olvidar do momento sempre lembrado por Norberto Bobbio, quando
afirma que “uma coisa é falar dos novos direitos e cada vez mais extensos, e
justificá-los com argumentos convincentes;; outra é garantir-lhes uma proteção
efetiva”. Dessa feita não haverá outra saída para o planeta sem que haja verdadeira
revolução e revisão de valores. E somente pode-se mudar a face da terra a partir de
comportamentos, atitudes e posturas de coragem, e especificamente em se tratando
de atuação judicial, o papel dos magistrados ambientais pela concretização da
promessa do constituinte, qual seja a da edificação de uma pátria justa, fraterna e
76
Juízes doutrinadores: doutrina da Câmara Ambiental do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo/Antônio Celso Aguilar Cortez... (et al.);; coordenador: José Renato Nalini. Campinas: Millenium
Editora, 2008, p. 70.
77
Canotilho Joaquim José Gomes, “A principialização da jurisprudência através da Constituição’’. In:
Revista de Processo, n.o 98/1984.
78
Expressões de Clémerson Merlin Cléve, “Direito Constitucional – Novos paradigmas, constituição
global e processos de integração”. In: Paulo Bonavides, Francisco Gerson Marques de Lima e Fayga
Silveira Bede (coords), Constituição e democracia, estudos em homenagem ao prof. J. J. Gomes
Canotilho. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 37-38.
118
solidária, e efetivamente ecológica, evidentemente com a conscientização da
população e dos jurisdicionados. Registre-se, certa feita, a previsão e desafio de
Jean Cruet, em sua obra “A vida do direito e a inutilidade das leis, ao afirmar:
“Sempre se viu a sociedade modificar as leis. Nunca se viu as leis modificarem a
sociedade”. Por fim, adotar sempre, face aos princípios da prevenção e da
precaução, ademais das incertezas científicas, mas sobretudo pela certeza dessas
consequências, in dúbio pró meio ambiente. E, finalmente, a crença de que o Direito
Ambiental eclodiu como verdadeira proclamação como um direito intergeracional de
participação solidária que transcende o direito nacional de cada Estado soberano, e
alcança um patamar intercomunitário, consolidando-se como um direito que assiste
a toda a humanidade. E como direito humano que é, e portanto de terceira geração,
tem assento na fraternidade, é dotado de imenso teor de humanismo e
universalidade, não objetivando assim a proteção dos interesses de um indivíduo, de
um grupo ou de um determinado Estado, mas que têm no gênero humano seu
destinatário primeiro, na forma expressiva de afirmação como valor supremo em
termos de existencialidade concreta.
2.7 Referências
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atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2004.
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119
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Carlos Teodoro Irigaray, Eladio Lecey, Sílvia Capelli. São Paulo: Imprensa Oficial do
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Renato Nalini. – Campinas, São Paulo: Millenium Editora, 2008.
CANOTILHO, Joaquim José Gomes. “A principialização da jurisprudência através da
Constituição”. In: Revista de Processo, n.o 98/1984.
120
Expressões de Clémerson Merlin Cléve, “Direito Constitucional, Novos Paradigmas,
Constituição Global e Processos de Integração”, in Paulo Bonavides, Francisco
Gerson Marques de Lima e Fayga Silveira Bede (coords.), Constituição e
Democracia, Estudos em Homenagem ao prof. J. J. Gomes Canotilho, São Paulo:
Malheiros, 2006.
121
122
3. SOBERANIA POPULAR, DEMOCRACIA E JURISDIÇÃO
ELEITORAL: REFLEXÕES ACERCA DA LEGITIMIDADE
DEMOCRÁTICA DA CASSAÇÃO DE MANDATOS PELA JUSTIÇA
ELEITORAL
Márcio Luiz Coelho de Freitas*
A História recente das eleições no Brasil tem sido profundamente marcada por
uma atuação mais firme e ativa da Justiça Eleitoral, especialmente no que concerne
à aplicação das sanções de perda ou cassação de mandatos eletivos. Com efeito, a
Justiça Eleitoral tradicionalmente adotava uma postura autorrestritiva na aplicação
de punições aos detentores de mandatos eletivos, prestigiando ao máximo o
princípio da soberania popular e privilegiando a presunção de legitimidade dos
votos. Entretanto, num período de pouco mais de dez anos, a Justiça Eleitoral
passou a, numa frequência anteriormente inimaginável, reconhecer a prática de
ilicitudes nos processos eleitorais e a cassar mandatos de vereadores, deputados,
senadores, prefeitos e até mesmo governadores de Estado.
Dentre os vários fatores que influenciaram essa mudança de paradigma,
provavelmente o mais importante foi a aprovação, em 28/9/1999, da primeira lei de
iniciativa popular da história do país, a lei 9.840. Fruto de uma imensa mobilização
popular capitaneada pela CNBB e que contou com o apoio de dezenas de entidades
da sociedade civil organizada que reuniram mais de um milhão de assinaturas no
movimento “combatendo a corrupção eleitoral”, esta lei inseriu o artigo 41-A79 na lei
das eleições (9.504/97), com a expressa intenção de afastar imediatamente da
disputa eleitoral, pela cassação do registro ou do diploma, os candidatos que
praticassem a captação ilícita de votos, isto é, a compra de votos.
Após a aprovação da lei, seguiu-se um período de intensos debates na doutrina
e na jurisprudência acerca de sua constitucionalidade, alegando os defensores da
inconstitucionalidade que se tratava de lei ordinária que criava hipótese de
inelegibilidade, o que somente poderia ser feito por lei complementar, a teor do
disposto no Art. 14, § 9.º da CF/88. O TSE, entretanto, sob o argumento de que o
Art. 41-A não trazia nova hipótese de inelegibilidade, afastou a inconstitucionalidade
da lei, o que foi posteriormente confirmado pelo STF.
* Márcio Luiz Coelho de Freitas é graduado em Direito pela Universidade Federal do Amazonas,
especialista em Direito Ambiental, e mestrando em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do
Amazonas e juiz federal do Tribunal Regional Federal da 1.a Região.
79
Art. 41-A. Ressalvado o disposto no Art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada
por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o
voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o
registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinquenta mil Ufir, e
cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no Art. 22 da Lei
Complementar no 64, de 18 de maio de 1990.
123
A consequência direta e imediata desse entendimento foi a não incidência do
disposto no Art. 15 da LC 64/90, que, antes de ser alterado pela recente LC
135/2010, dispunha que Transitada em julgado a decisão que declarar a
inelegibilidade do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já tiver sido
feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido. Assim foi que passou o TSE a
entender que a condenação do candidato pela prática de corrupção eleitoral tinha
efeitos imediatos, por aplicação direta do Art. 257 do código eleitoral. Sobre o tema,
vale transcrever o acórdão relatado pelo ministro Fernando Neves que se tornou o
leading case acerca da matéria:
REPRESENTAÇÃO – ART. 41-A DA LEI N.° 9.504/97 –
INVESTIGAÇÃO JUDICIAL – ART. 22 DA LC N.° 64/90 –
DECLARAÇÃO DE INELEGIBILIDADE - JULGAMENTO CONJUNTO
– DETERMINAÇÃO DE MEDIATO CUMPRIMENTO DA DECISÃO
NA PARTE QUE CASSOU O DIPLOMA – CÓDIGO ELEITORAL,
ART. 257 – NÃO APLICAÇÃO DO ART. 15 DA LC N.° 64/90.
LIMINAR INDEFERIDA.
1. Os recursos eleitorais, de um modo geral, não possuem efeito
suspensivo. Código Eleitoral, art. 257.
2. Ao contrário do que acontece com as decisões que declaram
inelegibilidade, quando há que se aguardar o trânsito em julgado, os
efeitos da decisão que cassa diploma com base no art. 41-A da Lei
n.° 9.504, de 1997, permitem execução imediata.
(MC n.º 994 - Chapada dos Guimarães/MT - Acórdão n.º 994 de
31/5/2001)
A partir daí o TSE alterou radicalmente sua jurisprudência no que toca às
decisões que impliquem cassação do registro ou do diploma de candidatos eleitos,
passando a conferir eficácia imediata também às decisões que reconheçam a
prática de financiamento ou gastos ilícitos de campanha (Art. 30-A) e condutas
vedadas aos agentes públicos tendentes a desequilibrar o pleito (Art. 73, I a VIII e
§10.º). Na verdade, segundo o entendimento atual do TSE, somente as decisões
que determinem a perda de mandatos proferidas em sede de recursos contra a
expedição de diploma, por força do disposto no artigo 216 do Código eleitoral,80 ou
os casos de ações de investigação judicial eleitoral por abuso de poder, em razão do
artigo 15 da LC/64, é que não têm eficácia imediata.81
Ao assumir esta postura mais ativa, imprimindo maior eficácia às decisões que
determinam a cassação de mandatos eletivos de pessoas que, a priori, teriam sido
sufragadas como vencedoras das urnas, a atuação da Justiça Eleitoral tem gerado
80
Art. 216. Enquanto o Tribunal Superior não decidir o recurso interposto contra a expedição do
diploma, poderá o diplomado exercer o mandato em toda a sua plenitude.
81
Vale ressaltar, entretanto, que o reconhecimento da eficácia imediata das decisões de cassação de
mandato não implica que necessariamente o candidato eleito vá ser afastado do cargo após a
primeira decisão judicial. É que o TSE, especialmente após o caso da cassação do mandato do
senador João Capiberibe, vem entendendo que a eficácia imediata das decisões fica condicionada ao
julgamento de eventuais embargos de declaração, sendo relevante notar, ainda, que também tem
sido amplamente aceita a concessão de medida cautelar, especialmente quando se trata de
afastamento de chefe do Poder Executivo.
124
intensos debates acerca da legitimidade democrática dessa atuação e dos limites
que devem ser respeitados pelo Poder Judiciário nessa matéria, em ordem a fazer
prevalecer a soberania popular.
De fato, são as afirmações de que a atuação da Justiça Eleitoral “ultrapassa os
limites da relação entre os poderes da República, constituindo-se em um passo atrás
na relação democracia-constitucionalismo”, 82 ou de que a cassação dos eleitos
acabou instaurando uma “república dos derrotados”. É essa a opinião de Adriano
Soares da Costa, para quem
É inegável que há perversão em uma democracia cujo eleito é o
segundo colocado. Desconheço que assim seja em outros países.
Quando o eleito é cassado por corrupção eleitoral, presumem-se
duas coisas: a) que o processo eleitoral foi ilegítimo e b) que os
órgãos de fiscalização falharam em sua missão.
A judicialização do processo eleitoral tem sido um fenômeno
crescente na nossa experiência democrática, sobretudo depois da
constatação de que as decisões passaram a ter efetividade quando
cassam políticos eleitos e, com um incentivo extra: as provas
necessárias para apear o eleito não são rigorosas. (...)
Todos aguardam ansiosos que a Justiça Eleitoral endireite a nossa
democracia, porque o povo, ao que parece, seria incapaz de fazê-lo.
Que país engraçado o nosso: institucionalizamos o terceiro turno e
clamamos que os tribunais resolvam, ao fim e ao cabo, o que deveria
ser submetido apenas ao crivo popular. Construímos uma república
dos derrotados, dos sem-voto, escolhidos pela eleição indireta dos
eleitores togados.83
Esta visão não é restrita a advogados e juristas, mas é compartilhada até mesmo por
alguns integrantes do Judiciário, que veem com muita restrição a postura mais ativista da
Justiça Eleitoral. Neste sentido, bem representativo é o trecho de voto do ministro Gilmar
Mendes no Respe 25.016, que, de forma incisiva, afirma:
(...) Neste caso, há razões ainda mais fortes em questões que
envolvem a manifestação de vontade popular, porquanto uma
posição intervencionista do Tribunal, ativista, envolve, em muitos
casos, fraudar a vontade popular. Falou-se aqui em psiquiatria e, de
fato, muitas vezes cogitamos disto: a Justiça Eleitoral está se
tornando divã de perdedores de eleição, de pessoas que não têm
voto e têm que se explicar depois via processo eleitoral. É preciso dar
um paradeiro nisto. Não temos de resolver problemas de advogado
que precisa de causa nem de candidato que perdeu a eleição. 84
Neste ponto, vale notar que essa postura mais ativa e essa crescente relevância
da atuação do Judiciário nas relações sociais não é algo específico da Justiça
82
É o que afirma Lênio Luiz Streck, em nota de rodapé na p. 33 de sua obra Verdade e Consenso.
83
Democracia, judicialização das eleições e terceiro turno. Disponível em
http://adrianosoaresdacosta.blogspot.com/2009/02/democracia-judicializacao-das-eleicoes.html.
Acesso em 10/5/2010.
84
Respe 25.016, Rel. Min. Peçanha Martins. DJ 17.6.05.
125
Eleitoral, mas antes é parte de um fenômeno mais amplo, ligado à própria alteração
do perfil de atuação do Poder Judiciário de um modo geral, o que vem despertando
inúmeros e intensos debates nos meios acadêmicos, em especial no campo do
Direito Constitucional e da Ciência Política, onde as discussões acerca do
neoconstitucionalismo e do pós-positivismo estão na ordem do dia. No campo da
jurisdição eleitoral, entretanto, a demarcação dos limites para o chamado ativismo
judicial é questão extremamente sensível, dada a nada desprezível possibilidade da
Justiça Eleitoral, caso não atente para os limites da legitimidade democrática na sua
atuação, acabar subvertendo a democracia sob o pretexto de defendê-la. É o
remédio que, dado na dose errada, pode matar o doente.
Assim, se pretendemos admitir a possibilidade de atuação da Justiça Eleitoral
no combate às ilicitudes praticadas no processo eleitoral por quem logra se eleger,
se efetivamente a criação de normas mais rígidas e mais eficazes na tutela da
liberdade da manifestação da vontade popular representa conquistas da cidadania
que devem ser mantidas e até ampliadas, e, finalmente, se a pretensão é de que
essa forma mais marcante de atuação da Justiça Eleitoral seja encarada como uma
conquista da democracia, torna-se necessário discutir os fundamentos da atuação
punitiva do Poder Judiciário em matéria eleitoral, especialmente nos casos de
cassação de mandatos, buscando na própria Constituição e no conceito de
democracia elementos aptos a compatibilizar a atuação da Justiça Eleitoral com o
princípio da soberania popular, bem como estabelecer quais os limites e os
parâmetros de tal atuação.
Para tanto, é essencial problematizar o papel a ser desempenhado pelo Poder
Judiciário numa democracia moderna e a configuração da divisão de Poderes.
Nesse passo, é de se notar que no Brasil, que se inspirou pelo menos parcialmente
no modelo constitucional norte-americano, é conferido ao Judiciário o poder de dar a
última palavra em qualquer questão que envolva os valores constitucionais, podendo
até mesmo invalidar as escolhas políticas tomadas pelos demais poderes (judicial
review). Em razão dessa prerrogativa judicial, o Poder Judiciário se estabelece como
uma instituição estratégica dentro do sistema de freios e contrapesos,
transformando-se no mais importante guardião dos direitos fundamentais
contemplados pelo poder constituinte.
Este modelo de divisão do poder teve suas bases políticas construídas ainda no
século XVIII por Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, na série de artigos
O Federalista, em que, tendo como mentores os teóricos liberais, especialmente
Hobbes, Locke e Montesquieu, buscavam a fundação de um governo popular numa
sociedade sem castas.85
Nesse contexto é que Alexander Hamilton, no artigo 78 do Federalista, idealizou o
Judicial Review, isto é, a possibilidade do controle da validade das leis pelo Judiciário,
sustentando três argumentos principais:86 a) uma vez que a declaração da invalidade
85
Cf. Job Duarte Morais, Eliete Nascimento Borges e João Nascimento Borges Filho, O Federalista:
gênese de uma forma de governo. Disponível em www.eap.ap.gov.br/revista/upload/artigo12pdf
86
Marmelstein. George. Controle judicial dos Direitos fundamentais. Cadernos de Direito
Constitucional da Escola da Magistratura Federal da 4.a Região. 2008.
126
de uma lei implica em limitação do Poder Legislativo, não seria conveniente que o
próprio Legislativo fosse o juiz de seus atos;; b) a função precípua dos juízes é a
interpretação da lei, pelo que, sendo a Constituição uma lei, deveria caber aos juízes
sua interpretação e aplicação;; c) o Judiciário é o poder que ofereceria menor risco
para a harmonia entre os poderes, dado que não possui nem a chave do cofre, nem
a espada. Posteriormente, essa teoria foi quase integralmente acolhida pela
suprema Corte americana, no célebre Marbury v. Madison, relatado pelo Justice
John Marshal.87
A idealização e a implementação dessa doutrina ocorreu num contexto histórico
em que se via a atividade judicial como meramente declaratória da norma legal
aplicável ao caso concreto, cabendo ao juiz unicamente fazer um silogismo lógico-
dedutivo em que a premissa maior seria a norma e a premissa menor seria o fato,
decorrendo daí uma única solução possível, que deveria ser a adotada. O papel a
ser desempenhado pelo juiz, assim, era o de mero aplicador da lei, cabendo-lhe tão
somente “dizer a lei do caso concreto”. Nesse sentido é que Montesquieu, em seu
célebre O espírito das leis, já afirmava que os juízes […] não são mais do que a
boca que pronuncia as palavras da lei;; seres inanimados que não podem moderar-
lhe nem a força nem o rigor.88
Ocorre, entretanto, que vários fatores, entre os quais a crescente positivação de
direitos fundamentais, não só relacionados aos direitos civis e políticos, mas também
aos chamados direitos econômicos, sociais e culturais, além do reconhecimento da
Constituição como verdadeira norma impositiva e cogente, e não mais a mera ‘‘folha
de papel” de Lassalle,89 geraram um crescimento do grau de jurisdicionalização da
vida social e política que redundou numa profunda alteração do papel
desempenhado pelo Poder Judiciário nas democracias modernas.
De fato, no âmbito do Estado liberal do século XVIII, o papel do Estado era
mínimo, ligado à garantia da manutenção da ordem pública interna, por meio do
Direito e da Jurisdição Penal e a garantia da segurança jurídica, ligada ao
cumprimento dos contratos, o que era feito por meio da jurisdição civil. O Estado e
as demais entidades públicas sequer eram concebidos como entes sujeitos ao
controle jurisdicional, estando a jurisdição civil e penal destinadas precipuamente
87
Nas palavras de Marshal: “É enfaticamente a província e o dever do ramo judiciário dizer o que é o
Direito. Aqueles que aplicam as regras aos casos particulares devem, por necessidade, expor e
interpretar a regra. Se duas leis estão em conflito, as cortes devem decidir sobre a aplicação de cada
uma. Então, se uma lei estiver em oposição à constituição;; se ambas, a lei e a constituição;; ou
conforme a constituição, desconsiderando a lei;; a corte deve determinar qual dessas regras em
conflito governa o caso. Essa é a essência do dever judicial. Se, então, as cortes devem observar a
constituição, e a constituição é superior a qualquer ato ordinário da legislatura, a constituição, e não o
ato ordinário, deve governar o caso ao qual ambas são aplicáveis” (Cf. MORO, Sérgio Fernando.
Jurisdição como democracia. Curitiba. Tese de Doutorado, 2004).
88
MONTESQUIEU, Barão de La Bréde e de. Do espírito das leis. Vol. 1, coleção Os Pensadores, São
Paulo: Nova Cultural, 1997, p. 203
89
Cf. Konrad Hesse. A Força Normativa da Constituição. p. 9
127
aos cidadãos, reparando ilícitos civis e castigando ilícitos penais.90 Foi só muito
lentamente que, fruto da luta social e da mudança da correlação de forças existentes
na sociedade, a democracia e o Estado de Direito gradativamente foram se
consolidando, fazendo desenvolver-se no século XIX o contencioso administrativo e,
no período do segundo pós-guerra, o controle da constitucionalidade da lei ordinária,
fatores diretamente ligados ao aumento da importância do papel desempenhado
pelo Poder Judiciário. Como afirma Ferrajoli,
O progresso do Estado de Direito é simultâneo e paralelo ao
desenvolvimento do papel da jurisdição. (...) De fato, se pode afirmar
que a toda expansão do princípio da legalidade, a todo passo dado
na tarefa de limitação e sujeição do poder ao direito, inevitavelmente
corresponde um aumento dos espaços da jurisdição. A jurisdição
intervém em presença de violações de direito e, portanto, quanto
mais se expande, mais se estende a área das possíveis violações do
próprio direito: violações que, nas democracias avançadas, já não
são só as cometidas por cidadãos comuns, senão as que são
também, e cada vez mais, as que realizam os poderes públicos.91
Disso decorre uma profunda alteração no papel desempenhado pelo Poder
Judiciário no controle das relações sociais. Com efeito, a partir dessas modificações,
o que se verifica é que o Judiciário, que antes era considerado, nas palavras de Luiz
Werneck Vianna, um Poder periférico, encapsulado em uma lógica com pretensões
autopoiéticas inacessíveis aos leigos, distante das preocupações da agenda pública
e dos atores sociais’92, transformou-se em uma instituição central à democracia
brasileira, quer no que se refere à sua expressão propriamente política, quer no que
diz respeito à sua intervenção no âmbito social, como afirmou Carmen Lúcia
Antunes Rocha.93
O magistrado, nesse novo contexto, deixou de ser o juiz pacificador dos
conflitos interindividuais, a quem cabia unicamente declarar o direito que foi
criado pelo legislador, aplicando-o por meio de silogismos lógico-dedutivos para se
transformar em juiz-agente transformador94 do Direito para a realização da justiça
material concreta, atuando como garantidor das promessas da modernidade que
90
Cf. Luigi Ferrajoli. El papel de la función judicial en el Estado de Derecho. In: Manuel Atienza e
Luigi Ferrajoli, Jurisdicción y argumentación en el Estado Constitucional de Derecho. Unam, 2005.
91
LUIGI FERRAJOLI. Op. cit. p. 87-88 (Tradução Livre) – “El progreso del Estado de derecho es
entonces simultáneo y paralelo al desarrollo del papel de la jurisdicción. (...) De hecho, se puede
afirmar que, a toda expansión del principio de legalidad, a todo paso dado en la tarea de limitación y
sujeción al derecho del poder, inevitablemente ha correspondido un aumento de los espacios de la
jurisdicción. La jurisdicción interviene en presencia de violaciones del derecho y, por lo tanto, entre
más se expande con la imposición de obrigaciones y prohibicionesa los poderes publicos, más de
extiende el área de las posibles violaciones del derecho mismo: violaciones que, en las democracias
avanzadas, ya no son sólo las que cometen los ciudadanos comunes, si no que son también, y cada
vez más, las que realizam los poderes públicos”.
92
A judicialização da polícia e das relações sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1999, p. 9
93
Cf. ROCHA, Carmem Lúcia Antunes. A Atuação do Judiciário no Cenário Sociopolítico Nacional.
Série Cadernos do CEJ – Centro de Estudos Judiciários, v. 11. Brasília, 1996, p. 63.
94
Cf. Marmelstein. George. Op. cit.
128
foram inseridas na Constituição, em especial aquelas constantes do seu Art. 3.º, que
dispõe que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a
construção de uma sociedade livre, justa e solidária em que seja garantido o
desenvolvimento nacional, e promovido o bem de todos, erradicando-se a pobreza e
a marginalização e reduzindo-se as desigualdades sociais e regionais.
Em outras palavras: os juízes deixaram de ser “árbitros distantes e indiferentes
de conflitos privados, ou de litígios entre indivíduos e Estado”, para, como afirma
Fábio Konder Comparato, 95 realizarem, no seu campo de atividade, os grandes
objetivos socioeconômicos da organização constitucional. Ao adotar uma postura
mais ativa, o Judiciário passou a atuar como uma espécie de catalisador da
vontade constitucional, antecipando-se muitas vezes ao legislador e ao
administrador na busca da concretização máxima dos objetivos traçados na
Constituição Federal, por meio da chamada “jurisdição constitucional”. Assiste razão,
pois, a Luiz Werneck Vianna, quando afirma que
Em torno do Poder Judiciário vem se criando, então, uma nova arena
pública, externa ao circuito clássico “sociedade civil – partidos –
representação – formação da vontade majoritária”, consistindo em
ângulo perturbador para a teoria clássica da soberania popular.
Nessa nova arena, os procedimentos políticos de mediação cedem
lugar aos judiciais, expondo o Poder Judiciário a uma interpelação
direta de indivíduos, de grupos sociais, e até de partidos – como nos
casos de países que admitem o controle abstrato de normas –, em
um tipo de manifestação em que prevalece a lógica dos princípios, do
direito material, deixando-se para trás as antigas fronteiras que
separavam o tempo passado, de onde a lei geral e abstrata hauria o
seu fundamento, do tempo futuro, aberto à infiltração do imaginário,
do ético e do justo.96
É preciso atentar, todavia, que essa nova forma de atuação do Judiciário não pode
se dar no sentido de contrapor-se ao princípio democrático ou ao princípio majoritário,
tão caros à nossa sociedade que o Constituinte os erigiu à condição de princípios
fundamentais da República, prevendo expressamente no primeiro artigo da
Constituição que a República Federativa do Brasil constitui-se um Estado Democrático
de Direito, em que, na forma do parágrafo único do mesmo artigo, todo poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente.
Decorre daí que, principalmente quando se tem em mente a explosão de
litigiosidade que atualmente vivemos, com a crescente judicialização da vida social,
e com o Judiciário a cada dia mais sendo chamado a decidir questões essenciais
para os destinos do país, torna--se necessário buscar os fundamentos da
legitimidade democrática da atividade jurisdicional e de que forma a ela se
compatibiliza com o princípio da soberania popular.
A Constituição dispõe em seu Art. 14, que A soberania popular será exercida
pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. Vale
95
As novas funções judiciais do estado moderno. In: Revista da Ajuris. Porto Alegre: Ajuris, N.O 37,
1987, P. 202.
96
Op. cit, p. 22-23
129
notar, ainda, que neste mesmo artigo o constituinte criou verdadeiro mandamento de
concretização de valores, ao dispor que lei complementar estabelecerá outros casos
de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade
administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa
do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do
poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
administração direta ou indireta.
Verifica-se, pois, que a Constituição expressamente indicou alguns dos valores
que devem ser tutelados a fim de assegurar a liberdade do eleitor no exercício da
soberania popular (tanto que os erigiu em causas de inelegibilidade), sendo certo
que, uma vez caracterizada a violação destes valores no curso do processo eleitoral,
torna-se legítima a cassação do mandato eletivo. Reforçado tal tese, o § 10.º do
mesmo artigo dispõe que O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça
Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com
provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
Há, portanto, induvidosa autorização constitucional para que a prática de
condutas que atentem contra a normalidade e a legitimidade das eleições seja
punida. Resta, pois, verificar de que forma essa punição, a ser imposta pelo
Judiciário, deve ser harmonizada com o princípio democrático, valor fundante da
República.
Uma objeção costumeiramente levantada por aqueles que veem na atuação
judicial um risco à Democracia é a de que o Judiciário não tem seus membros
escolhidos diretamente pelo povo nem tampouco se sujeita a qualquer forma de
controle popular, como ocorre com o Executivo e o Legislativo.
À primeira vista o argumento é sedutor, posto que enquanto os membros do
Executivo e do Legislativo são eleitos diretamente pelo povo e se sujeitam ao
controle popular, por meio da possibilidade da sanção da não reeleição, o Poder
Judiciário recruta seus membros com base em critérios técnicos, sem participação
direta da população. É, portanto, inegável a existência de uma certa “tensão” entre o
exercício da jurisdição e a soberania popular, especialmente quando a jurisdição é
exercida em matéria eleitoral, cassando mandatos, mais ainda quando essa atuação
tem por fundamento a concretização de valores constitucionais que são expressos
em cláusulas abertas cuja densificação fica a cargo do intérprete, que acaba por
definir o conteúdo, o sentido e o alcance dos valores constitucionalmente. Sobre o
tema, é pertinente a crítica de Habermas, para quem
Tal jurisprudência de valores levanta realmente o problema da
legitimidade (...) pois ela implica um tipo de concretização de normas
que coloca a jurisprudência constitucional no estado de uma
legislação concorrente. (...)
Ao deixar-se conduzir pela ideia de realização de valores materiais,
dados preliminarmente no direito constitucional, o tribunal
constitucional transforma-se numa instância autoritária. No caso de
uma colisão, todas as razões podem assumir o caráter de
argumentos de colocação objetivos, o que faz ruir a viga mestra
130
introduzida no discurso jurídico pela compreensão deontológica de
normas e princípios do direito.97
É preciso, pois, que se compatibilize a Jurisdição (e em especial a jurisdição
eleitoral) com a democracia, superando-se o falso dilema entre a democracia e a
jurisdição. Para tanto, nas palavras de Dworkin,98
Devemos começar anotando uma distinção entre democracia e regra
de maioria. Democracia quer dizer regra da maioria legítima, o que
significa que o mero fator majoritário não constitui democracia a
menos que condições posteriores sejam satisfeitas. É controverso o
que essas condições exatamente são. Mas algum tipo de estrutura
constitucional que uma maioria não pode mudar é certamente um
pré-requisito para a democracia. Devem ser estabelecidas normas
constitucionais estipulando que uma maioria não pode abolir futuras
eleições, por exemplo, ou privar uma minoria dos direitos de voto.
Diversamente do que ocorre em relação ao Executivo e ao Legislativo, o
Judiciário, mesmo a despeito de não ser um poder diretamente legitimado pelo
processo de escolha da população (ou até exatamente por isso), foi alçado à
condição de guardião dos valores fundamentais inscritos na Constituição, ainda que
nesse mister tenha que agir contra a vontade da maioria da ocasião. A democracia,
como visto, não pode ser entendida puramente de forma aritmética ou estatística,
não sendo democrática uma ditadura da maioria. Somente um regime em que, além
do respeito à vontade da maioria, também sejam respeitados os direitos da minoria é
que pode legitimamente ser qualificado de democrático.
Assim, a legitimidade da atuação do Poder Judiciário não é baseada
puramente num critério decisionista, ou seja, na outorga do poder por meio de uma
decisão originária da população, onde imperaria pura e simplesmente o poder da
maioria da ocasião. Ao contrário, a legitimidade do Judiciário é argumentativa,99 diz
respeito aos valores que este deve resguardar, sendo constantemente orientado
pela busca daquilo que Robert Alexy chama de pretensão de correção,100 e que tem
íntima ligação com a própria manutenção das pré-condições de existência de um
regime democrático.
97
Jürgen Habermas. Direito e Democracia: entre faticidade e validade. Vol. I, p. 320-321.
98
Ronald Dworkin. Constitucionalismo e democracia. Texto traduzido por Emílio Peluso Nder Meyer.
Publicado originalmente no European Journal of Philosophy n.o 3, p. 2-11, em 1995.
99
Cf. Alexy, Robert. Constitucionalismo discursivo, p. 163 e ss.
100
La teoria del discurso es uma teoria procesal de la corrección de normas. Según la teoria del
discurso una norma es correcta si y solo si puede ser el resultado de um cierto procedimento, y
precisamente del procedimiento propio de um discurso en cuanto teoria de la justicia es de
fundamental importância que el procedimiento del discurso sea un procedimento de decisión. Es esta
la manera en la cual la teoria del discurso se diferencia de las teorias procedimentales de la justicia
de matriz hobbesiana. En teorias de este tipo, en efecto, no se busca, mediante argumentos y
contraargumentos, aquello que es correcto;; se maximiza, mediante la negociación y la decisión la
utilidad”. Justicia como correccion. Doxa – Revista del Departamento de Filosofia del Derecho
Universidad de Alicante.
131
A manutenção de tal regime pressupõe a existência de um poder apto a
resguardar as regras democráticas até mesmo contra maiorias ocasionais, de forma
que, no exercício deste mister, cabe ao Judiciário velar pela busca da maior lisura
possível no processo que visa a sufragar a escolha daqueles que irão
concretamente exercer o poder político em nome do povo.
Daí a legitimidade da atuação da Justiça Eleitoral no expurgo do processo
eleitoral daqueles candidatos que tenham demonstrado desrespeito ao princípio
democrático, sendo certo que tal atuação está longe de caracterizar a
institucionalização de um “terceiro turno” pela judicialização das eleições ou uma
decisão no tapetão. Ao contrário, o rigor do processo judicial, sujeito à possibilidade
de reapreciação por uma instância superior, e a necessidade de argumentação
racional, baseada em provas produzidas sob o crivo do contraditório, existem
exatamente para garantir que nesse processo contínuo de evolução e
amadurecimento institucional as velhas práticas coronelistas e clientelistas sejam
gradativamente abandonadas em prol da construção de uma democracia mais sólida
e forte.
Não há, pois, qualquer contradição entre jurisdição e democracia, e muito
menos entre a jurisdição eleitoral e o regime democrático. Na verdade, o que se
verifica é que a existência de um Judiciário que atue de forma eficaz para garantir a
manutenção das regras do jogo é condição essencial à própria subsistência do
regime democrático. Ao decretar a cassação do mandato de alguém que tenha
praticado corrupção eleitoral, fraude, abuso de poder ou que tenha violado o dever
de probidade e moralidade, a Justiça Eleitoral estará garantindo as condições
mínimas necessárias para que a soberania popular possa efetivamente ser exercida
sem vícios que a desnaturariam.
Isto, não obstante, pelo menos em um aspecto os críticos do impropriamente
chamado “ativismo” da Justiça Eleitoral parecem ter razão. É que, nos termos do
artigo 222 do Código Eleitoral e de acordo
com a atual jurisprudência do TSE, os votos dados aos candidatos que tenham
seu registro ou diploma cassados pela prática de falsidade, fraude, coação, uso de
meios de que trata o Art. 237 (interferência do poder econômico e o desvio ou abuso
do poder de autoridade, em desfavor da liberdade do voto), ou emprego de processo
de propaganda ou captação de sufrágios vedado por lei são considerados nulos.
Daí que, nestes casos (que abrangem as condenações pelo 41-A, 30-A, 73 e
AIJE’s por abuso de poder e fraude e Aime’s – esta última com alguma resistência
por parte do TSE), uma vez reconhecida a ilicitude e anulada a votação do candidato
cujo registro ou diploma tenham sido cassados, aplica-se o Art. 224 do Código
Eleitoral, in verbis:
Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do País
nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e
estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão
prejudicadas as demais votações e o tribunal marcará dia para nova
eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias.
132
A consequência disto é que só há novas eleições quando o candidato cassado
houver obtido mais de 50% dos votos válidos. Nos demais casos (que representam a
imensa maioria), o segundo colocado nas eleições irá assumir o cargo, mesmo a
despeito de não ter recebido a maioria (nem mesmo relativa) dos votos da população.
Por essa razão, a regulamentação da anulabilidade da votação, da forma como foi
prevista no Código Eleitoral (que data de 1965, um período de exceção) e como vem
sendo aplicada pelo TSE, não foi recepcionada pela Constituição de 1988.
Com efeito, considerar-se os votos dados ao candidato cassado como nulos,
para efeito de aplicar-se o Art. 224 e somente realizar-se novas eleições na hipótese
da votação do cassado ultrapassar metade dos votos, é medida que não se coaduna
com a soberania popular e com o princípio democrático. Sobre o tema,
absolutamente pertinentes são as observações de José Jairo Gomes,101 apesar da
conclusão do autor ser diametralmente oposta àquela aqui defendida:
Na verdade, no mundo contemporâneo, é impossível demonstrar se a
real opção do eleitor decorreu ou não do uso abusivo de poder,
mesmo porque o voto é secreto e não se pode presumir que o
cidadão seja imaturo ou inconsequente. Assim, sendo inviável provar
que todos os votos foram dados em razão do abuso cometido, por
igual não seria lógico nem jurídico concluir simplesmente que todos
são nulos. Esta inferência, na verdade, é manifestamente fictícia. Ora,
o beneficiário das condutas inquinadas logrou registrar regularmente
sua candidatura, seu nome foi licitamente inserido na urna eletrônica,
e muitos eleitores compareceram e fizeram legítima opção.
Certamente diversos cidadãos nem sequer tiveram notícia do abuso
praticado, não sendo, portanto, escorreito concluir pela nulidade de
seus votos, o que, aliás, afigura-se como agressão vitanda à
liberdade democrática e à soberania do voto. (...)
Ora, exatamente por não ser possível considerar que todos os votos conferidos ao
candidato cassado são votos viciados pela irregularidade por ele cometida é que não é
possível desconsiderar-se totalmente a manifestação de vontade do eleitor que votou no
cassado, deixando clara sua opção de não votar no candidato que ficou em segundo
lugar.
Ainda que, pela gravidade da ilicitude, a sanção da cassação do mandato do eleito
seja absolutamente razoável e proporcional, o fato é que o segundo colocado não obteve
nem mesmo a maioria simples de votos, e o eleitor que votou no cassado não pode ser
também punido, por via reflexa, com a total desconsideração de seu voto. Vale ressaltar
que somente desconsiderando-se totalmente a manifestação de vontade dos eleitores que
votaram o candidato cassado, cujos votos serão considerados nulos, é que é possível, por
uma ficção, considerar-se eleito o candidato que ficou em segundo lugar nas eleições.
Ressalte-se que a própria jurisprudência aceita, ao menos implicitamente, que a
nulidade cominada a tais votos é fictícia, dado que não admite sejam os mesmos
somados aos votos originariamente nulos e brancos. Ocorre, entretanto, que esta
presunção não se harmoniza com o princípio democrático, tanto mais quando se nota
que a Constituição, em seu Art. 77, §§ 2.º e 3.º, bem como a lei das eleições, em seus
101
Direito Eleitoral, p. 343 e 344.
133
Arts. 2.º e 3.º, impõem a necessidade de que o eleito para cargos do Poder Executivo
tenha maioria dos votos.
O fato de que a realização de eleições suplementares seria medida cara e
trabalhosa, por vezes até sobrecarregando a Justiça Eleitoral, não pode ser aceito como
fundamento para que somente quando a invalidade atingir mais da metade dos votos
seja realizada uma nova eleição. Argumentos de ordem burocrática e financeira não
podem ser suficientes para permitir que se flexibilize a Constituição, especialmente
quando se cuida de vulnerar valores essenciais, como a democracia e a soberania
popular.
Assim, como decorrência da necessidade de se compatibilizar a cassação de
mandatos de chefes do Executivo com a Constituição, afastando-se a possibilidade da
instauração da “república de derrotados” de que fala Adriano Soares da Costa, sempre
que for cassado um mandato eletivo de prefeito, governador ou de presidente da
República, deverão ser realizadas novas eleições, aplicando-se, por analogia, o disposto
no Art. 81 da Constituição.102
Dessa forma, garante-se a legitimidade democrática da atuação da Justiça Eleitoral,
que poderá utilizar das medidas legais necessárias à preservação da livre vontade do
eleitor, afastando do processo eleitoral aqueles que praticam condutas que colocam em
xeque o próprio regime democrático, como a corrupção eleitoral, o abuso de poder, o
caixa dois e a prática de condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre
os candidatos, de modo a proteger o regime democrático e a tornar efetiva a soberania
popular.
Jurisdição eleitoral, democracia e soberania popular, pois são conceitos inter-
relacionados e mutuamente dependentes, que se complementam e se integram de tal
forma que um é requisito essencial à existência efetiva do outro, devendo ser superada a
falsa contradição entre a aplicação de sanção de cassação de mandato pela Justiça
Eleitoral e a soberania popular. O grande desafio é buscar o ponto de equilíbrio entre a
concretização das normas tendentes a proteger a liberdade do eleitor, que implica a
necessidade de punir os eleitos que praticam ilícitos graves, e o respeito à manifestação
de vontade da maioria do eleitorado, que deve ter a possibilidade real de ver sua
manifestação de vontade ouvida e levada em consideração na definição das opções
políticas fundamentais.
A tarefa que as democracias modernas confiam ao Poder Judiciário é árdua, e o
desafio enfrentado pela Justiça Eleitoral é gigantesco. De um lado, inúmeras são as
resistências por parte daqueles grupos e indivíduos que tradicionalmente têm se
beneficiado de um sistema político profundamente desigual e marcado por concessões
de privilégios voltados à manutenção do status quo. Por outro lado, não se pode
desconhecer a condição de imaturidade de nossa democracia, cuja prática real tem
pouco mais de 20 anos. Por isso, devem os operadores do Direito ter consciência da
102
Diz-se que a aplicação no caso seria por analogia em fase de reconhecer-se que o Art. 81 da
CF/88 destinar-se a regular os casos de vacância em razão de situações acorridas durante o
exercício do mandato, e não por invalidade da eleição.
134
importância da tarefa que lhes foi confiada pela Constituição para a proteção dos
mais altos valores insculpidos no texto constitucional.
Magistrados, membros do Ministério Público, servidores e advogados que atuam
na seara eleitoral devem assumir um forte compromisso com a proteção do regime
democrático e com a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, em que o
eleitor possa ter condições de livremente participar da definição dos destinos
políticos do país, com a redução do hiato existente entre os princípios e valores
previstos na Constituição e a realidade política e social. Para tanto, devem todos,
especialmente os magistrados eleitorais, continuamente renovar seus votos de
cumprir e fazer cumprir a Constituição, dando efetividade e eficácia aos direitos
fundamentais.
135
136
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