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ação

administrativa
P Ó L I S - I L D E S F E S

IDÉIAS PARA A AÇÃO MUNICIPAL

AA No 119 1998

ta forma, a população local terá uma área de fundamental do sucesso de uma iniciativa como
lazer a um custo extremamente reduzido. esta. Para implementar este vínculo, é importan-
ARBORIZAÇÃO Os mini-bosques subvertem os critérios em ge-
ral utilizados que adotam como norma que uma
te que a população participe na definição das
áreas prioritárias para recebimento do benefício

PÚBLICA área cercada por vias pavimentadas e com to-


dos os melhoramentos urbanos é a mais indi-
cada para receber investimentos em lazer e ar-
e, até certo ponto, na escolha do tipo de árvore
que será plantada.
Em atividades de formação e disseminação de
borização. Na verdade, uma área sem melhora- informação, os moradores do entorno devem ter
mentos presta-se tão bem à arborização quanto claro que o bosque tem um tempo mínimo de
A formação de mini-bosques per- qualquer outra. maturação e exige cuidados especiais de preser-
mite à prefeitura criar áreas de Na década de setenta, a prefeitura do município vação neste período, para que possa se tornar
lazer a baixo custo, impedir a de São Paulo usou exemplares de eucaliptos para efetivamente um mini-bosque.
arborizar diversas áreas livres que não dispu- Uma das formas possíveis de se obter sucesso
apropriação indevida de áreas nham de verba para construção de praça. Apesar em programas como este é acoplando-o a inici-
públicas e educar a população do eucalipto não oferecer alimentos ou abrigo ativas educacionais junto às escolas da região,
para preservar o meio ambiente. permanente para pássaros, por não ser uma es- de modo a criar os vínculos necessários, entre a
pécie nativa, a sombra, o visual agradável e um comunidade e os bosques, através dos filhos
grande afluxo de pássaros, que ali se abrigam dos moradores. O currículo escolar, em todos

O crescimento urbano se dá principalmen-


te através de loteamentos periféricos.
Estes loteamentos geram áreas públicas, mas
temporariamente, propiciaram o uso destas áre-
as para o lazer, mesmo não dispondo de ne-
nhum equipamento específico. Alguns anos mais
tarde, a instalação de bancos e brinquedos rústi-
os níveis, desde o pré-primário até o segundo
grau, pode ser enriquecido com a inclusão de
aulas práticas de introdução à ecologia para pré-
primário, até a biologia e botânica para o segun-
nem sempre há recursos para o seu uso imedia- cos completou a “obra” com custos mais baixos do grau, usando a área de bosque como labora-
to. Ao permanecerem sem utilização durante que os exigidos para a criação de praças e par- tório. Isto pode ser feito tanto durante o período
muito tempo, acabam sendo apropriadas por ques convencionais. de maturação do bosque como também depois
particulares, que tornam privado o uso de um desta fase, quando a fauna se torna mais rica e
bem público. A formação de mini-bosques pela abundante.
prefeitura nestas áreas dificulta as apropriações Além deste expediente, pode ser incentivada
indevidas, contempla regiões periféricas da ci- ENVOLVER A a “adoção” de árvores pelos escolares, que
dade com áreas verdes e, ao envolver a popula-
ção em sua manutenção, estimula o exercício da
COMUNIDADE ficam responsáveis por cuidar de exemplares
específicos entre aqueles plantados, devendo
cidadania.

O
aprender as necessidades daquela planta em
principal problema na arborização, no particular, tais como sombreamento ou inso-
entanto, é o vandalismo que destrói um lação, quantidade e periodicidade das regas e
O QUE É número excessivamente grande de árvores nos composição ideal do solo. Pode-se montar
primeiros meses após o plantio, apesar dos tuto- eventos em que os alunos apresentam suas

M
res e proteções. A falta de articulação do poder árvores para a comunidade, e as vantagens
ini-bosques são áreas arborizadas com público com a comunidade surge como o princi- oferecidas pela presença de um mini-bosque
espécies de crescimento rápido, pre- pal fator do vandalismo. A criação de áreas ver- no bairro.
ferencialmente nativas, para que sirvam de ali- des que deveriam beneficiar a população apare- Para isto, é importante que os educadores se-
mento à fauna local, fazendo com que esta cres- cem como uma intervenção externa à comunida- jam treinados por pessoal técnico especializa-
ça ou, pelo menos, não desapareça. Deve ser de e sem vínculo com ela. As iniciativas da pre- do em paisagismo como arquitetos, engenhei-
completamente cercada durante o período de feitura para que a população - principalmente ros florestais, agrônomos, etc., que darão a
“pega”, que pode variar de seis a doze meses, aquelas periféricas e mais carentes – assuma o formação básica nesta área. Como o programa
recebendo manutenção intensiva durante este cuidado com as árvores plantadas faz com que a envolve também relações comunitárias, as
período. Uma vez estabilizada esta arborização, criação da nova área verde se torne um elemento equipes deverão ser compostas por profissio-
a área pode ser aberta e, eventualmente, receber interior à comunidade e apropriado por esta como nais tanto da área técnica como outros da área
equipamentos simples e baratos, como brinque- valor a ser preservado e não dilapidado. de ciências humanas aptos a tecer as relações
dos feitos com troncos e manilhas de concreto A participação da população na definição dos necessárias entre as questões técnicas e as hu-
que sobram de outras obras do município. Des- programas de arborização é o ponto básico e manas ou sociais. É fundamental a educação
em forma de informação para que fique claro
à esta população que o bosque tem um tempo
mente invadidas, não necessariamente por
quem não tem onde morar.
VIAS PÚBLICAS
mínimo de maturação devendo ser preserva-
do de qualquer uso durante este tempo, e a Um outro aspecto importante a ser levado em
relação entre os “cuidadores” das árvores e a RIOS E conta é a arborização de vias públicas. Para evi-
tar acidentes com pedestres e automóveis, é pre-
comunidade.
Esta equipe pode ser parte da secretaria de CÓRREGOS ciso tomar alguns cuidados. Há certas espécies
meio ambiente, ou equivalente, e conduzir o de árvores de porte médio, como a espatódia,
programa estabelecendo convênios com a se- que têm uma flor muito tóxica, chegando a ma-
cretaria da educação e secretaria do bem-es- Assim como as áreas livres, as áreas públicas tar pássaros pequenos como colibris; outras es-
tar social e outras, permitindo que estas se- que ladeiam rios e córregos merecem os cuida- pécies, como a paineira, têm uma flor bulbosa
cretarias incorporem o espírito de articula- dos simples da arborização. O principal benefí- que à época da floração deixam as calçadas e
ção da comunidade com o espaço urbano que cio da recomposição das matas ciliares das zo- ruas recobertas com um “creme” escorregadio
ocupam, apropriando-se dele em termos so- nas urbanas e daquelas que as circundam é mi- que pode provocar acidentes, além de tornarem
lidários e públicos e não buscando seu uso nimizar o assoreamento de córregos e rios, evi- as ruas sujas e dificultarem a varrição e limpeza;
privado. tando os alagamentos na época das chuvas for- outras espécies que não devem ser usadas para
O plantio de árvores em áreas públicas que tes de verão. E um dos motivos mais importan- arborização de vias públicas são as de lenho
não terão utilização imediata serve também tes do assoreamento destes córregos é a falta mole e quebradiço facilitando acidentes em regi-
para preservar a posse pública: há um costu- das matas ciliares que têm a função de filtrar as ões de muito vento ou durante tempestades.
me generalizado no país, de reconhecimento águas pluviais que fluem para estes rios. Por outro lado, a localização das árvores deve ter
de posse de uma área não reclamada, por quem Além destas vantagens, a ocupação das mar- alguns cuidados. Além de evitar plantar árvores
nela faz benfeitorias. Este expediente é geral- gens de rios e córregos faz com que o poder de porte médio ou grande sob a rede elétrica, a
mente utilizado pelas populações não propri- municipal tome posse de fato destas áreas, que a distância entre elas deve ser estudada de forma
etárias para apossamento de áreas através do rigor, são fundos de vale naturalmente alagáveis que não gere “pontos cegos” em curvas e esqui-
plantio de milho, mandioca e outras culturas em períodos de chuvas intensas de verão. Com nas, o que aumentaria os riscos de acidentes de
de rápido crescimento e produção. Nada im- isto, evita-se a ocupação com fins de moradia trânsito. Também nas calçadas, a locomoção de
pede que seja usado também pelo poder pú- destas áreas de risco, o que acabaria por se tor- pedestres e, especialmente, de pessoas portado-
blico municipal para manutenção da posse de nar um problema social para o município a cada ras de deficiência não deve ser prejudicada pela
áreas que, de outra forma, seriam possivel- época chuvosa. localização das árvores (veja DICAS nº26).

RESULTADOS
Ao envolver a comunida- ção do meio rural para pluviais, diminuindo o vo- como forração vegetal do
de em projetos ainda que a periferia das cidades. lume das enxurradas que solo, manutenção da lim-
simples como a arboriza- A educação voltada para danificam vias e casas. peza de córregos e rios,
ção de áreas públicas, a ecologia e o ambiente Também permitirá a etc.
mas que trarão melhoria desde os primeiros anos apropriação de conheci- A incorporação dos mora-
para a qualidade de escolares criará a consci- mentos técnicos por parte dores através dos filhos,
vida, a prefeitura terá ência da necessidade de da população, tornando- em um programa de pre-
maior receptividade por se preservar áreas inter- a apta a colaborar com a servação da qualidade de
parte da população para nas às residências, sem municipalidade nas ações vida, estabelece as condi-
quaisquer outros progra- impermeabilização do coletivas de ampliação ções iniciais para a abor-
mas e ações que deman- solo, permitindo uma in- das medidas de preven- dagem de outras questões
dem esta colaboração. filtração maior das águas ção de enchentes, tais sociais num clima de cida-
Sem as áreas verdes, as dania e solidariedade,
ruas de terra formam NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO PORTE uma vez que os benefícios
poeira excessiva e são Pata de Vaca Bahuinia Variegata pequeno gerados pelos bosques ur-
muito quentes no verão, banos são bens públicos e
Quaresmeira Rosa/Roxa Tibouchina Granulosa pequeno
e formam barro em tem- de benefícios gerais: pre-
po chuvoso, além de Pitangueira Eugenia Pitanga pequeno venção de voçorocas, equi-
compor um visual depri- Ipê Roxo/Amarelo Tabebuia spp* médio líbrio térmico local, prote-
mente. O processo de ção contra ventos fortes e
Pau-Ferro Cæsalpinia ferrea médio
formação dos mini-bos- outros.
ques, quando realmente Sibipiruna Cæsalpinia peltophoroides médio E, por fim, a experiência
apropriado pela popu- Guaratã Esembeckia leiocarpa médio vivida pelos alunos ao
lação, dá a noção preci- Jatobá Himenæa courbaril grande
ajudarem a construir um
sa do valor do ambien- micro-clima possibilitará
te para a vida urbana, Guapuruvu Schisolobium parahibum grande a eles estabelecer uma
resgatando valores que * “spp” quer dizer espécie, para indicar que há mais de uma espécie que pode ser usada. prática diferente das usu-
foram deixados de lado almente encontradas na
com o processo de migra- Autor: Guilherme Henrique de Paula e Silva. relação com o ambiente.
Instituto Pólis- Rua Cônego Eugênio Leite, 433 - São Paulo - SP - Brasil
CEP 05414-010 - Telefone: (011) 853-6877 - Fax: (011) 852-5050 -
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