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P Ó L I S - I L D E S F E S
DS No 125 1998
Buscar formas alternativas de cultivo, evitando do, cultivadas pelos fazendeiros da região. Des-
a dependência dos fornecedores de sementes sa forma, os índios dependiam do fornecimento
RECUPERAÇÃO híbridas pode ser uma opção para fortalecer uma
agricultura de subsistência que minimize o pro-
de sementes híbridas, necessitando cada vez mais
da ajuda da FUNAI. Além da safra ser inade-
O
em áreas indígenas, incluindo as sementes tradi-
A
povo indígena Krahò forma um grupo cionais dos Krahò.
fome e a subnutrição afetam uma parte de 13 aldeias, com 1700 pessoas, orga- Em 1995, para buscar o fim da dependência do
significativa da população brasileira, nizadas na União das Aldeias Krahò, conhecida fornecimento de sementes híbridas e recuperar
apesar das condições climáticas e de solo favo- como Kàpey. Trata-se de uma população com as sementes e formas de cultivos tradicionais, a
ráveis para a agricultura. Um dos problemas é terras próprias, habitando local de clima estável, União das Aldeias Krahò (Kàpey) foi resgatar
que a maior parte das plantações está voltada com capacidade de trabalho, mas que passava junto à coleção da EMBRAPA suas sementes
para a produção em larga escala. As prefeitura por problemas alimentares graves. de cultivo tradicional.
não têm como influir diretamente nesta situação, No processo de demarcação de território indíge-
mas podem incentivar a agricultura de subsis- na, os Krahò reduziram drasticamente as ativi-
tência para garantir a segurança alimentar da
população do município.
dades de caça e coleta, passando a depender da
agricultura para sua alimentação. A agricultura é
IMPLANTAÇÃO
E
Um dos entraves para o desenvolvimento da uma tradição milenar entre os Krahò, mas foi
agricultura de subsistência é o uso de sementes desestruturada no contato com a civilização bran- m um primeiro momento foram introdu-
híbridas. Estas sementes, aprimoradas genetica- ca. Assim, a Fundação Nacional do Índio zidas apenas as sementes tradicionais de
mente, permitem safras maiores mas a produção (FUNAI) fornecia anualmente sementes híbri- milho e amendoim. As primeiras sementes de
não pode ser reservada para o replantio na safra das, muitas vezes inadequadas à região, que che- milho indígena do CENARGEN foram levadas
seguinte porque estas novas sementes são esté- gavam às aldeias geralmente fora da época de em amostras de 200 gramas de espécies diferen-
reis. Ou seja, a semente híbrida requer aquisição plantio, gerando dependência, fome e miséria. tes, sendo divididas em pequenas porções e dis-
de novas sementes para cada safra. O povo parou de utilizar muitas sementes de tribuídas para as famílias das 13 aldeias. Cada
O fornecimento destas sementes híbridas está espécies tradicionais, bem como suas técnicas uma das aldeias fez sua roça isolada, para evitar
nas mãos de algumas poucas empresas. Além milenares de plantio, que era em regime de con- o cruzamento entre espécies. As sementes fo-
de tornar a atividade agrícola de subsistência sórcio. O novo modelo de agricultura era estra- ram distribuídas de acordo com o tamanho de
dependente destes fornecedores de sementes, em nho à tradição do povo Krahò, os índios deixa- cada aldeia. Essas sementes vieram direto dos
determinadas situações, conseguir tais semen- ram de trabalhar em roças familiares e começa- bancos de germoplasma do CENARGEN, onde
tes pode ser tão demorado que se perde o tempo ram a trabalhar em grandes lavouras comunitá- estiveram em câmaras frias (- 20 º C) por mais
de plantio, acarretando a perda da safra. rias, recebendo sementes de arroz e milho híbri- de 20 anos. Todas as sementes da amostra ger-
minaram, comprovando a eficácia dos bancos
de germoplasma.
criação de pequenos e grandes animais domésti-
cos, plantio de árvores frutíferas, uso e conser-
PARCERIA
O milho colhido foi guardado e utilizado como vação de alimentos.
semente para a plantação da safra seguinte. Tendo Estão sendo introduzidos outros materiais genéti- O projeto surgiu da articulação entre
realizado a plantação de acordo com sua tradição cos da agricultura tradicional do povo Krahò, como FUNAI, EMBRAPA – CENARGEN e a
milenar, os Krahò recuperaram conhecimentos abóbora, batata doce, inhame, mandioca e cará. União das Aldeias Krahò (Kàpey). A
que se supunham perdidos. Os mais velhos da Também estão sendo introduzidas espécies não FUNAI é responsável pelo financiamento
tribo começaram a se lembrar a forma que seus tradicionais, mas que são adaptáveis ao solo e à do projeto e pela prestação de assistência
antepassados usavam para guardar as sementes cultura tradicional, como pupunha, coco e açaí. técnica. Kàpey e FUNAI administram con-
de uma safra para outra e como processavam os A multiplicação das espécies cedidas pelo juntamente o projeto, assinando a liberação
alimentos. Entre uma safra e outra, as sementes CENARGEN é responsabilidade dos índios. de recursos e a aquisição de bens e servi-
são guardadas em cabaças, em uma mistura de Eles também devem reabastecer o banco com ços. O planejamento e execução do projeto
pimenta malagueta e cinzas. Hoje essas técnicas novas sementes. são de responsabilidade destas duas entida-
são transmitidas aos mais jovens da tribo, com a Há uma feira anual para intercâmbio de semen- des. A EMBRAPA patrocina viagens de pes-
preocupação de resgatar a identidade cultural. tes entre as aldeias e povos indígenas convida- quisadores e técnicos à área Krahò para iden-
A Kàpey resgatou e passou a organizar sistema- dos. Pretende-se viabilizar condições para que tificação e fornecimento de material genéti-
ticamente a transmissão de técnicas de conser- os índios comercializem o excedente, gerando co, havendo técnicos e pesquisadores para
vação de solos e sementes, controle do fogo, renda familiar. acompanhamento do projeto.
RESULTADOS
Com este projeto, a ali- pécies variadas, que fo- doce, inhame, banana, espécies temporárias e
mentação dos índios Krahò ram distribuídas e plan- mandioca, abóbora, fei- perenes, como: abacaxi e
tem melhorado em relação tadas sob orientação nas jão, caupi, fava, arroz, gergelim; abacaxi e mi-
à quantidade de alimen- aldeias, e junto à sede da gergelim, cana-de-açú- lho; pupunha, milho e ar-
to produzido e também Kàpey. car, cabaça, gengibre, roz; caju, milho e arroz;
em relação à qualidade As roças demonstrativas melancia, melão, quiabo açaí, milho e arroz.
das espécies produzidas, são manejadas dentro de e mamão. Nessas mes- No quintal experimental
devido à adequação ao padrões ecológicos, ne- mas roças, estão sendo foram plantados: gengi-
solo e à cultura agrícola. las foram plantados: mi- testados o consorciamen- bre, maxixe, melancia,
As famílias contam com lho, amendoim, batata to (plantio alternado) de melão, quiabo, taioba,
sementes próprias, não cenoura e beterraba.
precisando recorrer aos PLANTIO CONSORCIADO Além disso, através da
bancos que fornecem se- recuperação das semen-
mentes híbridas. Dessa
forma, não se perde o pe- LLLL
abacaxi e gergelim
KK KK
abacaxi e milho
tes utilizadas na tradição
alimentar dos Krahò, foi
ríodo adequado para o
plantio, evitando atrasos LLLL KK K K possível resgatar as an-
tigas formas de cultivo,
e deficiências nas colhei- seu conhecimento e tradi-
tas e, por conseqüência, a JJJJ
pupunha, milho LLLL ção locais: a plantação em
fome.
caju, milho e arroz regime de consórcio, os
Em 1997, foi implantado
na sede da Kapèy um vi-
JJJJe arroz LLLL métodos de preservação
de sementes e os mitos e
veiro de mudas frutíferas, ritos relacionados à agri-
cinco roças demonstrati-
vas, dois poços semi-
JJJJ cultura. Assim, incentivou-
se a autonomia das comu-
açaí, milho e arroz
artesianos e um quintal
demonstrativo.
JJJJ nidades indígenas, pre-
servando-se sua identi-
No viveiro de frutíferas, dade étnica, sua cultura
foram produzidas cerca Autora: Ana Paula Macedo Soares, a partir de relatórios oficial do milenar e a diversidade
de dez mil mudas, de es- programa. cultural brasileira.
Instituto Pólis- Rua Cônego Eugênio Leite, 433 - São Paulo - SP - Brasil
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