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ação

administrativa
P Ó L I S - I L D E S F E S

IDÉIAS PARA A AÇÃO MUNICIPAL

AA No 124 1998

nos cortes e aterros feitos com técnicas inade- cidade. As áreas internas às residências, e mes-
quadas. Quando estas áreas são ocupadas por mo de edifícios públicos, costumam ser total-
PREVENÇÃO moradias ou loteamentos clandestinos, tem-se
as condições próprias de risco de tragédias.
mente impermeabilizadas por cerâmicas, lajo-
tas, cimentados comuns, etc., o que impede a

CONTRA Os fatores de risco para deslizamentos são en-


costas íngremes, cortes no terreno com inclina-
ção e altura excessivas, cortes feitos em terrenos
infiltração da água da chuva e sobrecarrega o
sistema de captação.
E a pouca arborização da área urbana, com ruas
ENCHENTES com fraturas ou quaisquer descontinuidades e
mesmo encostas naturais que apresentem altera-
pavimentadas terrenos todos ocupados, concor-
re para a formação de zonas de baixa pressão
ção da consistência do solo (terra sobre rocha) e atmosférica que funcionam como um “ralo” para
grande declividade. as nuvens carregadas. Dependendo da altura da
Os fenômenos naturais que pro- Outro fator de alto risco de deslizamento são os coluna dos cúmulos e de sua carga de água,
vocam as enchentes não podem terrenos de aterros sanitários. Por ser um mate- torna-se inevitável a precipitação de enormes
rial sem coesão e muito poroso, o lixo rapida- índices pluviométricos.
ser controlados pela prefeitura, mente fica saturado de água e o peso muito au- A prefeitura pode e deve atuar como agente trans-
mas algumas ações preventivas mentado provoca seu escorregamento, podendo formador da cultura local, introduzindo concei-
podem minimizar suas conseqü- até mesmo comprometer a superfície de terre- tos de preservação ambiental, fundamentais para
nos planos. O problema pode se agravar quan- a melhoria da qualidade de vida. O incentivo ao
ências catastróficas e favorecer do o lixo é descarregado em local que recebe o uso de cobertura vegetal ao invés de materiais
relações solidárias. lançamento de águas servidas ou em linhas na- impermeáveis em áreas externas das residências
turais de drenagem (veja DICAS Nº109). pode significar um acréscimo de área permeável

A
Também as encostas submetidas à remoção in- de algo em torno de 10% a 15% da área urbana,
s estações de chuvas fortes provocam, discriminada da vegetação oferecem risco de diminuindo o volume de água a ser escoado pelo
com freqüência, tragédias sociais em deslizamento. A falta de cobertura vegetal faz sistema de drenagem.
diversas cidades brasileiras. Não sendo possí- com que o impacto da água da chuva cause des- Os córregos e rios que cruzam a cidade não
vel evitar o fenômeno natural, a solução está em locamentos superficiais no solo, facilitando os podem ser vistos apenas como receptores de
tomar precauções para minorar suas conseqü- deslizamentos de terra. esgotos e águas servidas. Eles formam o ele-
ências sociais e catastróficas. Além destes fatores, as descargas de águas ser- mento principal do sistema de escoamento das
Do ponto de vista físico, as chuvas que provo- vidas ou águas pluviais, o rompimento de adu- águas pluviais. Assim, uma diminuição da se-
cam as enchentes são precipitações de grandes toras, a existência de grande número de fossas ção da calha destes rios e córregos diminui ca-
volumes de água em um curto período de tempo sanitárias num mesmo local e intervenções de pacidade de escoamento, e aumenta a probabi-
em uma área relativamente pequena. Este fenô- grande porte na topografia natural podem pro- lidade de alagamento das zonas ribeirinhas. Por
meno tem sua ocorrência ligada a causas remo- vocar deslizamentos em tempos de chuva. isto, é importante que os moradores das zonas
tas, como a mudança global do regime de chu- Estes problemas podem ser solucionados tanto rurais sejam incorporados nos programas de
vas provocada pelo desmatamento indiscrimi- por técnicas adequadas para contenção de en- prevenção (principalmente à montante dos
nado, a poluição atmosférica pelos gases de com- costas mas, mais do que isto, pela ação coorde- rios), para que também eles participem dos es-
bustão (gases carbônicos) além de possíveis fe- nada entre o poder público e a comunidade lo- forços de toda a comunidade, recompondo as
nômenos telúricos cíclicos (El Niño, La Niña, cal, para a conservação da cobertura vegetal das matas ciliares e evitando os desmatamentos sem
etc.). O governo municipal, embora não possa encostas e um correto sistema de coleta e depo- critérios.
anular os efeitos destas causas, pode contribuir sição final de resíduos sólidos.
para diminuir os seus efeitos por meio de ações
locais, em sintonia com a comunidade. CAMPANHA
ALAGAMENTOS
EDUCATIVA
DESLIZAMENTOS
O utra conseqüência das chuvas fortes são

A
U
enxurradas torrenciais e alagamento. A lém do assoreamento pela falta de co-
m incidente comum em épocas de chu- elevada taxa de impermeabilização do solo ur- bertura vegetal, também o lixo urbano
vas fortes são os deslizamentos de ter- bano é um dos fatores que amplia o volume de jogado nos leitos dos rios diminui a seção de
reno que ocorrem nas encostas dos morros ou água a ser escoado pelo sistema de captação da escoamento. Coletas regulares e um programa
educacional junto à população podem, portanto, da população, em estreita articulação com a se- veis, o fenômeno ocorrerá e devem ser previstas
ajudar a prevenir enchentes. O hábito de jogar cretaria de educação para que os pais dos alunos medidas de precaução para diminuir seus efei-
lixo nas ruas, deixar restos de cimentos de obras sejam envolvidos no programa. tos danosos.
nas calçadas ou depositar com muito antecedên- Além da administração pública e da população,
cia em frente à casa o lixo a ser coletado, faz com é importante envolver os meios de comunica-
que todo este lixo acabe por ser arrastado pela
chuva para os bueiros, entupindo-os e fazendo
ção disponíveis na cidade, as organizações so- DEFESA CIVIL
ciais, clubes de futebol, igrejas, sociedades de
com que as enxurradas nas ruas se tornem vio- bairros, etc.
lentas, podendo arrastar pessoas, casas e auto- A prefeitura deve promover a criação de uma
móveis. Comissão Municipal de Defesa Civil –
Para estruturar um programa educativo de pre- ORDENAMENTO COMDEC (veja DICAS Nº 61) para enfren-
venção contra as enchentes, é preciso que várias tar as emergências. Esta Comissão deve co-
secretarias atuem em conjunto. A de educação URBANO nhecer previamente os recursos já existentes
pode atingir a população em sua residência, in- e coordenar esforços e especialidades numa
centivando a construção de moradias seguras Há determinadas áreas próximas a rios e córre- situação de emergência para dar pleno e efi-
em locais seguros e com a maior área possível gos que são naturalmente alagáveis, ou seja, são caz atendimento às populações atingidas por
para infiltração de chuva. A secretaria de obras áreas de alargamento do leito do rio que, em calamidades, e estimular as iniciativas de aju-
pode orientar quanto aos sistemas construtivos regime normal de chuvas, são secas mas alagam da mútua.
seguros, normas para construção de fossas e nos períodos de chuvas fortes, amortecendo a Ainda que uma COMDEC esteja capacitada a
sua localização no terreno, além da discrimina- velocidade das águas. Estas regiões, mesmo que agir em situação de emergência, sua existência
ção das áreas do município que são impróprias permaneçam secas por vários anos, não podem deve abranger medidas preventivas, uma vez que
para construção pelos riscos de enchentes. A ser habitadas. Para isso, a prefeitura deve em- sua existência pressupõe um plano de ação que
secretaria de serviços promovendo um sistema bargar obras e loteamentos feitos nestas áreas. coordene esforços da população em prol da se-
de coleta de lixo eficaz e de pleno conhecimento Apesar de todas as medidas preventivas possí- gurança da comunidade.

RESULTADOS
As ações preventivas da qualidade de vida. duz drasticamente as encostas e alagamentos.
contra enchentes tornam A existência de um pro- ocorrências fatais e a Nos municípios onde há
mais segura a vida da grama dirigido à pre- quantidade de desabri- uma Comissão de Defesa
comunidade e favorecem venção de calamidades gados em casos de chu- Civil as relações solidá-
a criação de redes de so- e, de modo especial, vas fortes acompanha- rias são maiores e, fre-
lidariedade. A mudan- contra as enchentes, re- das de deslizamentos de qüentemente, há uma le-
ças no executivo munici- gislação para o ordena-
pal não afeta a organi- mento do solo urbano
zação da comunidade no Áreas de Alto Risco de Alagamento mais estruturada para a
desempenho das funções segurança dos moradores
preventivas e emergen- e melhor adaptada às
ciais em casos de en- condições do município.
chentes, garantindo a Áreas naturalmente alagáveis A formação de uma Co-
autodefesa contra a ca- missão com característi-
lamidade. cas civis, onde o poder
Os programas educati- público é parte não neces-
Calha do rio
vos, além de ampliar o sariamente principal, con-
alcance do sistema edu- fere ao município um grau
cacional até os responsá- elevado de participação
veis pelos alunos, inse- na vida pública gerando,
rem toda a sociedade no por este motivo, uma ten-
processo educacional da dência de melhoria geral
vida social urbana, o que nas ações do poder públi-
se traduz em melhoria Autor: Guilherme Henrique de Paula e Silva. co local.
Instituto Pólis- Rua Cônego Eugênio Leite, 433 - São Paulo - SP - Brasil
CEP 05414-010 - Telefone: (011) 853-6877 - Fax: (011) 852-5050 -
e-mail: polis@ax.apc.org

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