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Urbanismo Verde sob a ótica da arquitetura paisagística


Benedito Abbud 25 Fevereiro 2015

Vamos enfatizar o caso de São Paulo, que cresceu muito rápido, substituindo
as áreas rurais, predominantemente revestidas de vegetação por densas áreas
construídas e impermeabilizadas. Nesse processo pouco planejado, perdeu-se
muita área permeável e verde, fazendo com que a "terra da garoa", que é uma
chuva fina e criadora, fosse transformada na terra da seca e das tempestades
destruidoras.

Essa mudança ocorreu em grande parte pelo enorme crescimento da cidade


com muita massa construída e com muito concreto, gerando uma grande ilha
de calor, causada pela radiação solar. Essas tempestades, com muito vento e
precipitação rápida têm trazido grandes transtornos, como enchentes, sujeira
espalhada, quebra de galhos, tombamento de árvores, etc.
As árvores como todos os seres vivos, nascem, crescem, podem ficar doentes e morrem. Embora tragam
ótimos benefícios à vida urbana precisam de cuidados, principalmente os fitossanitários para evitar doenças
e ataques de pragas, como as brocas e os cupins tão frequentes em São Paulo.

Hoje já existem tecnologias de chips para o monitoramento das espécies que poderiam facilitar esses
cuidados.
A vegetação tem uma enorme importância para o meio ambiente: ameniza a temperatura, reduz a amplitude
térmica; minimizam as ilhas de calor, melhora a umidade relativa do ar e ajuda a diminuir a poluição das
partículas do ar.

A vegetação e em especial as árvores também trazem muitos benefícios para as pessoas e para a qualidade
da vida no meio urbano: propiciam ambientes agradáveis e acolhedores, minimizando o stress;
proporcionam sombreamento, ventilação e frescor; harmonizam a paisagem edificada, em geral descontínua
e desarmônica; trazem conforto e adéquam a escala humana à volumetria edificada; criam surpresas no
percurso trazendo encantamento; trazem frutos atraindo pássaros; propiciam floradas que podem tingir a
paisagem numa época do ano, desfazendo a monotonia; trazem beleza que gera dignidade e dignidade
provoca o sentimento de cidadania e pertencimento àquela cidade.

Assim torna-se fundamental a rearborização planejada da cidade com o intuito de fazer com que as chuvas
pudessem novamente penetrar no seu solo. Esse planejamento deve aproveitar todo o potencial da
arborização como as diversificações das florações, colorações, frutificações, formas, portes, volumetrias,
texturas, etc.

Mas como vencer esse desafio num tecido urbano já consolidado?


A primeira ideia é garimpar espaços para incentivar o plantio de novas árvores.
Criar novos espaços como pracinhas de esquina e miniparques ou revegetar espaços particulares como os
quintais e recuos frontais dos lotes e espaços públicos como as praças, canteiros centrais de vias e
rotatórias existentes, são algumas opções para aproximar o verde dos centros urbanos.

A segunda ideia é fazer com que as águas da chuva deixem de correr rapidamente sobre os pavimentos
impermeabilizados para as bocas de lobos. Nesse processo, o volume das águas das tempestades,
somadas aos tubos entupidos pela falta de manutenção do sistema de drenagem, causam terríveis
enchentes anuais, que infelizmente se sucedem ao longo de anos, sem uma atitude efetiva de solução.
Uma solução sustentável é criar sistemas para infiltração das águas no solo alimentando assim os lençóis
freáticos, hidratando a vegetação, melhorando a umidade do ar e minimizando as enchentes.
Essas soluções seriam:
- Uso de pisos permeáveis feitos com material poroso (em geral cimento e brita) assentados sobre coxim de
areia que torna possível a pavimentação sem impermeabilizar a superfície. Esses pisos permitem que até
90% das águas penetre no solo
- Uso das chamadas infraestruturas verdes que são biovaletas e jardins de chuva. Biovaletas são valas para
condução e infiltração das águas de chuva, contendo vegetação para evitar erosão, construídas de forma
especial para evitar empoçamentos e consequências como a dengue. Jardins de chuva são valas planas em
geral largas e rasas, também ajardinadas com plantas adequadas, com sistemas de infiltração para evitar a
longa permanência do filme de água trazendo doenças.

- Cacimbas: são depressões construídas em áreas baixas do terreno para o acúmulo das águas
- Colmeias de infiltração. São vazios subterrâneos, similares aos piscinões, estruturados por colmeias de
placas de plástico reciclado, para a reserva e a infiltração gradativa das águas pluviais no solo. Podem
funcionar integrados as biovaletas e jardins de chuvas. Por serem subterrâneos podem polir através da
própria camada superior de terra, as águas que trazem a poluição das ruas e calçadas. Assim acumulam
água limpa que também podem ser usadas para reuso. Quando essa for a finalidade, a colmeia deve ser
construída envelopada por manta impermeável transformando-se numa caixa d'água.

Arquiteto Paisagista Benedito Abbud

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