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COMO A LÍNGUA E A CULTURA PORTUGUESA SUBSISTEM EM FRANÇA ENTRE

PORTUGUESES E LUSODESCENDENTES
Para uma Didática do Português nas Comunidades Migrantes

Miguel LOPES
Mestrando em Língua e Cultura Portuguesa (PLE/PL2)
Pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

“Eu sou a voz dos portugueses, quem está na primeira linha do meu apoio são eles. [...]
Falamos sempre em português. É uma maneira de ter cinco minutos de paz e de fazer uma
viagem muito rápida às minhas raízes.”

Excerto de declarações proferidas durante a campanha para as eleições


legislativas francesas de 2012 por Cristela de Oliveira1, candidata derrotada na 2ª
volta, a citação em epígrafe surpreende pelo contexto em que ocorre. Esta
lusodescendente, nascida em território francês, esteve perto de ser a primeira
mulher de origem portuguesa eleita deputada da República Francesa mas teve de
ceder o lugar a outro candidato do círculo de Corbeil‐Essonnes, na periferia da
capital, oriundo também da comunidade portuguesa, chamado Carlos da Silva. Esta
circunstância de haver dois candidatos luso‐franceses adversários no mesmo
círculo eleitoral é, por si só, digna de registo e o seu significado ganha ainda outra
dimensão quando se sabe que, em resultado dessas mesmas eleições, são três, no
total, os franco‐portugueses que conquistaram um lugar na Assembleia Nacional
francesa: Carlos da Silva, já citado, Patrice Carvalho e Christine Pires Beaune, ela
sim, primeira mulher de origem portuguesa a exercer um cargo com esta
responsabilidade em França 2 . Se este facto enche de orgulho a maioria dos
portugueses emigrantes naquele país, a verdade é que, para muitos, foi preciso
esperarem 50 anos para ver isto acontecer.

Com efeito, muitos dos que celebraram a última vitória eleitoral fizeram
parte, nos anos 60, de um movimento sem precedentes na emigração portuguesa,

1 O conteúdo da entrevista encontra‐se em: http://www.tvi24.iol.pt/politica/franca‐cristela‐de‐


oliveira‐eleicoes‐carlos‐da‐silva‐luso‐descendentes‐tvi24/1355469‐4072.html, consultado em
junho de 2012.
2 Veja‐se sobre o assunto o artigo publicado pelo Observatório da Emigração, disponível em

http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/3110.html, consultado em junho de


2012.
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que teve como destino França. De 20 085 em 1954, o número de portugueses


passou para 758 925 em 1975, de acordo com os recenseamentos efetuados pelo
Instituto Nacional de Estatística daquele país. A comunidade portuguesa
representava, então, 25% dos estrangeiros em terras gaulesas. Com as mudanças
políticas introduzidas em Portugal e graças ao crescimento económico do país, a
emigração diminuiu drasticamente. Em 2008, as autoridades francesas
anunciavam a presença de 580 598 imigrantes de origem portuguesa no seu
território. Nos últimos anos, a entrada de portugueses em França voltou a
aumentar, sendo delicado saber o número exato na medida em que muitos não se
registaram nos consulados locais. Os processos de aquisição da nacionalidade
francesa por parte de portugueses multiplicaram‐se a partir da década de 70. Num
só ano, em 1982, foram 68 300. Muitos passaram a ser, assim, franco‐portugueses.
Os filhos de todos estes migrantes, mesmo que nascidos em França, adquirem
automaticamente a dupla cidadania. Por conseguinte, o número de
lusodescendentes continuou a crescer, admitindo‐se que tenha atingido os dois
milhões.

Portanto, meio século decorrido sobre a vaga migratória dos anos 60, os
portugueses primeiros chegados puderam festejar finalmente, já na companhia de
seus netos, o reconhecimento público, nas urnas eleitorais, do seu percurso, o que,
se não abre uma nova página na vida da comunidade portuguesa em França,
sinaliza a evolução em marcha3.

Esta evolução transgeracional surge retratada na investigação realizada por


Teresa Pires Carreira e Maria Alice Tomé e da qual se retirou o seguinte excerto:

« C’est par rapport à l’emploi et aux coutumes des familles que les problèmes de
l’immigration se posent, or la communauté portugaise a été pendant trois décennies très
effacée et adaptable, donnant l’idée d’une intégration tranquille. […] La représentation
sociale des Portugais en France est celle de gens discrets, « vivant entre eux ». On leur a
accordé certaines vertus civiques pour leur coexistence harmonieuse dans le pays
d’accueil. Mais, aujourd’hui, on leur fait grief de vouloir changer cette image, tout d’abord
parce qu’une autre génération, déjà née en France, demande à être reconnue autrement

3Acerca da politização dos lusodescendentes em França, recomenda‐se a leitura deste artigo da


imprensa portuguesa, disponível em: http://www.publico.pt/Mundo/os‐filhos‐dos‐emigrantes‐
estao‐a‐tornarse‐politicos‐em‐franca‐e‐a‐politizar‐os‐pais‐1542918?all=1, consultado em junho de
2012.

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que comme des « maçons et des femmes de ménage ». […] On voit, ici et là, des groupes de
la deuxième génération « semi‐étrangers » rebondir et refuser l’image des parents. Depuis
quelques années, ils forment des mouvements, créent des Associations pour présenter
leur identité forgée à partir d’élément da la culture d’origine et de celle d’accueil, pour
exprimer leurs préoccupations et changer l’idée que les autres se font des Portugais. Ces
jeunes représentent des éléments positifs pour procéder à des innovations dans l’image de
l’identité portugaise en France et en Europe, et aussi pour un réexamen de l’idée selon
laquelle la langue et la culture d’origine représentent un handicap dans la vie scolaire des
enfants de migrants. […] Ils sont, en partie, déjà conjointement élevés pour faire partie
d’une citoyenneté européenne avec une dynamique propre qui englobe les particularités.
Les différences et les ressemblances doivent être montrées et étudiées, pour ne pas
gommer une partie importante du vécu de chaque peuple. »4

Conscientes da evolução das mentalidades e da cultura dos


lusodescendentes em França, consubstanciada através das vivências de três
gerações distintas, propusemo‐nos recolher mais alguns dados sobre as
representações sociais e linguísticas daqueles sujeitos, com o fim último de
problematizar a preservação, promoção e difusão da Língua e da Cultura
Portuguesa junto daquela comunidade. De alguma forma, este trabalho retoma
algumas das intenções elencadas por Rosa Maria Faneca no seu projeto de
investigação:

“Escrever sobre aspetos da cultura e da língua dos lusodescendentes não é tarefa


das mais fáceis porquanto, tendo‐se passado já três gerações desde o início da emigração,
são poucos os que ainda mantêm o “falar português” e, mesmo que o mantenham, há uma
grande gama de dados culturais que se interpenetram e que mereceriam
(re)interpretação. [...] Com isto, estabeleceram o contacto e a consequente interferência
entre as duas línguas e culturas. [...]
Os lusodescendentes estão inseridos numa família e numa sociedade que não
utilizam as mesmas línguas, e utilizam “variedades mistas” do Português funcionalmente
diferentes e que por não dominarem a norma padrão da LP, acabam, muitas vezes, por
serem discriminados em Portugal.
Por esse motivo um trabalho baseado na Language Awareness (Hawkins,
1996) é essencial para perceber essa discriminação. Pois, neste contexto, para além
do domínio da norma padrão, o ensino da língua deve ajudar os lusodescendentes a
sentirem‐se sujeitos da sua própria história na realização plena da sua cidadania,
conscientes dos seus direitos e deveres nas duas sociedades (destaque nosso). [...]
Através do trabalho com a Language Awareness é possível refletir com maior
eficácia temas relacionados com a variação linguística, com o preconceito linguístico,
normas, variedades mistas, língua e cultura, além de despertar nos lusodescendentes a

4PIRES CARREIRA Teresa e TOMÉ Maria‐Alice. 1994. Portugais et Luso‐Français, Double Culture et
Identité. Tome I. L’Harmattan/C.I.E.M.I. Paris. pp. 180‐185.

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curiosidade sobre a língua.”5

1. As Representações: manifestações de uma Consciência Linguística

O roteiro apresentado desvela a nossa intenção de descrever


representações sociais e linguísticas de emigrantes portugueses e
lusodescendentes em França. Cabe‐nos, agora, explicitar este nosso objeto de
estudo. Para tal, socorremo‐nos de uma obra amplamente divulgada, na qual
Danièle Moore define a noção de “representação” e sintetiza a perspetiva de alguns
autores com reflexão relevante sobre a matéria:

« La notion de représentation est aujourd’hui largement circulante en didactique


et dans les travaux portant sur l’acquisition des langues (Matthey 1997, Zarate &
Candelier 1997 ; etc.). Les images et les conceptions que les acteurs sociaux se font d’une
langue, de ce que sont ses normes, ses caractéristiques, son statut au regard d’autres
langues, influencent largement les procédures et les stratégies qu’ils développent et
mettent en œuvre pour apprendre cette langue et en user (Dabène 1997). […]
Dans le domaine des langues, de leur apprentissage et de leur usage, qu’il s’agisse
de langues maternelles, secondes ou étrangères […], les représentations sont d’autant plus
disponibles et susceptibles de donner lieu à formulation, à verbalisation qu’elles ont à voir
avec l’appartenance, l’identité propre, le positionnement distinctif par rapport à l’autre et
à l’étranger. »6

Na mesma linha de pensamento, entendemos as representações como


hologramas, isto é, construções imagéticas sobre uma língua que influenciam as
estratégias, as motivações para falar e aprender essa língua. De resto, revelam um
sentimento de pertença, uma identidade e um posicionamento crítico do indivíduo
ou de um grupo de indivíduos em relação a outro. Ao inquirir um determinado
grupo de pessoas (portugueses, franco‐portugueses e lusodescendentes de três
gerações), quisemos suscitar uma reflexão sobre línguas e identidades culturais,
por forma a desencadear: « … des ensembles de comportements et de jugements sur la
langue, réactions en temps réel et faits de performance non verbalisés et non conscients
d’une part, et représentations explicites sur le code tout autant que sur les façons de dire

5 FANECA Rosa Maria. 2010. O Contributo do Ensino Não‐Formal na Transmissão da Língua


Portuguesa em França. Em: ANÇÃ Maria Helena (coord.) e GROSSO Maria José (dir.), Educação em
Português e Migrações. Lidel Edições Técnicas. Lisboa. pp. 209‐224.
6 MOORE Danièle. 2012. Les Représentations des Langues et de leur Apprentissage: Itinéraires

théoriques et trajets méthodologiques. Em: MOORE Danièle. (Coord.) Les Représentations des
Langues et de leur Apprentissage, Références, modèles, données et méthodes. Didier. Paris. 10ª edição.
p. 9

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d’autre part »7, que, por sua vez, fossem capazes de despertar e fazer emergir as
manifestações de uma hipotética consciência linguística.

Num artigo datado de 1999, Eric W. Hawkins, figura proeminente do ensino


das línguas e um dos fundadores do conceito de “consciência linguística”, ‐ cuja
origem o próprio situa nas propostas do destacado linguista britânico, Michael
Halliday ‐, traça o percurso realizado por esta escola de pensamento no último
quarto de século e vislumbra caminhos ainda por desbravar, constituindo‐se o
texto num documento basilar:

“Twenty‐five years ago, Language Awareness (LA) was put forward, primarily by
modern linguists, as a new “bridging” element in the UK school curriculum. It was viewed
as a solution to several of the failures in UK schools: illiteracy in English, failure to learn
foreign languages, and divisive prejudices. The intervening years have inevitably seen a
number of developments that cause us to reflect further on the need for foreign language
teacher and other teachers to cooperate. Three relevant issues are discussed here. Firstly,
natural approaches to foreign language learning, bolstered by the Chomskyan notion of
the Language Acquisition Device, prompted a taboo during the 1970s and 1980s on formal
language instruction and talk about language. Secondly, the recent emphasis on foreign
languages as useful skills rather than part of education has also led attention away from
the wider value of awareness. Thirdly, the fact that UK university students are choosing
more and more to pursue a different foreign language from that studied at school
highlights the unpredictability, especially in English‐speaking countries, of a pupil’s future
language needs. LA can address this growing phenomenon as part of a progressive
“language apprenticeship””.8

Ultrapassa os limites do nosso trabalho uma discussão mais aprofundada


dos pressupostos enunciados pela teoria da LA9, no entanto, perfilhamos algumas

7 VÉRONIQUE Daniel. 2012. Note sur les Représentations Sociales et sur les Représentations
Métalinguistiques dans l’Appropriation d’une Langue Étrangère. Em: MOORE Danièle. (Coord.) Les
Représentations des Langues et de leur Apprentissage, Références, modèles, données et méthodes.
Didier. Paris. 10ª edição. p. 28
8 HAWKINS Eric W. 1999. Foreign Language Study and Language Awareness. Language Awareness.

Vol. 8, nº 3&4. p. 124.


9 Parece‐nos útil, para o leitor mais interessado, a consulta da página oficial da Associação

Language Awareness (ALA), que representa o movimento, em:


http://www.languageawareness.org/web.ala/web/tout.php, consultado em junho de 2012.
Chamamos a atenção para a definição de “consciência linguística”, que aí se encontra e que
reproduzimos, em seguida: “Language Awareness can be defined as explicit knowledge about
language, and conscious perception and sensitivity in language learning, language teaching
and language use. It covers a wide spectrum of fields. For example, Language Awareness issues
include exploring the benefits that can be derived from developing a good knowledge about
language, a conscious understanding of how languages work, of how people learn them and use
them. Can we become better language users or learners or teachers if we develop a better
understanding? And can we gain other advantages: e.g. in our relations with other people and/or
cultures, and in our ability to see through language that manipulates or discriminates? Language

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das suas preocupações e das suas recomendações no quadro do ensino das


línguas, nomeadamente, em relação à importância do papel da língua dos pais na
aprendizagem de outras línguas por parte dos filhos de migrantes; à necessidade
de uma maior democratização no ensino das línguas conducente a uma
distribuição mais justa do “poder linguístico”; a uma maior consciencialização do
modo como a linguagem funciona na sociedade via introdução no currículo de uma
disciplina específica para esse efeito. Partilhamos, também, por outro lado o
entendimento de que o ensino das línguas comporta uma capacidade educacional
para além da mera transmissão de habilidades linguísticas.

Outros autores10, no seguimento das primeiras publicações de Hawkins,


procuraram clarificar o conceito de “consciência” subdividindo‐o por vários
domínios. É o caso de James e Garrett11, ‐ nos quais nos inspirámos para estruturar
o questionário utilizado no nosso estudo ‐, que consideram, de acordo com a nossa
interpretação: o domínio afetivo, relacionado com o desenvolvimento de atitudes,
de curiosidade e de sensibilidade perante as línguas; o domínio social, associado ao
uso das línguas em contextos multilingues; o domínio cognitivo, ligado ao
conhecimento implícito e explícito e à aquisição e aprendizagem das línguas e, por
último, o domínio conativo, entendido como revelador da propensão do sujeito
para o uso e a aprendizagem das línguas, das suas motivações e sentido crítico.

Esta multiplicação de estudos sobre as representações (sociais e/ou


metalinguísticas) dos aprendentes, à qual assistimos nas últimas décadas,
enquadra‐se numa resposta a novos desafios por parte da didática das línguas,
independentemente do estatuto destas, resultantes da conjugação de vários
fatores, de entre os quais gostaríamos de destacar o cosmopolitismo crescente das
nossas vidas, o aumento de línguas em contacto num mundo globalizado e um

Awareness interests also include learning more about what sorts of ideas about language people
normally operate with, and what effects these have on how they conduct their everyday affairs: e.g.
their professional dealings.”
10 Louise Dabène, por exemplo, que identifica cinco tipos de “consciência”: a consciência

“langagière” que se manifesta no uso autonímico da língua; a consciência linguística que compara e
distingue os códigos linguísticos; a consciência normativa; a consciência etnolinguística que
organiza as relações entre língua e identidade e a consciência sociolinguística que estrutura as
áreas de emprego das línguas de um dado repertório linguístico. Cf. DABÈNE Louise. 1994. Repères
Sociolingistiques pour l’Enseignement des Langues. Paris. Hachette. pp. 98‐104.
11 JAMES C. & GARRETT P. 1991. The Scope of Language Awareness. Em: C. James & P. Garrett (ed.),

Language Awareness in the Classroom. Longman. Londres. pp. 2‐23.

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sincretismo cultural e linguístico renovados. Esta modernidade implica uma


intercompreensão sociocultural para a qual, acreditamos, poderá contribuir um
maior investimento na educação linguística dos cidadãos. Os dados sobre iliteracia,
sobre o insucesso escolar dos filhos de migrantes e sobre os problemas de
integração nesta nova era do multilinguismo e do multiculturalismo mostram que
os cuidados a ter ainda não acabaram.

As mesmas solicitações justificaram a abordagem empreendida neste


trabalho, inscrevendo‐se na tendência das pesquisas que

«… lient les attitudes et les représentations au désir d’apprendre les langues, et à la


réussite ou à l’échec de l’apprentissage. […] Les études sur les attitudes se développent
dans plusieurs directions, et explorent les représentations des langues pour expliquer les
comportements linguistiques, en s’intéressant aux valeurs subjectives accordées aux
langues et à leurs variétés, et aux évaluations sociales qu’elles impriment sur les
locuteurs. »12

e que assumem as representações

“... como o conhecimento não necessariamente explicitado que o sujeito tem/julga ter
sobre a língua, ou línguas, sobre o seu funcionamento e sobre a sua apropriação (aquisição
e aprendizagem). Este conceito vai ao encontro do “saber não erudito” e/ou “saber
metalinguístico ordinário” e inscreve‐se ainda num tipo de saber mais geral (sobre o
mundo, sobre as coisas), o saber “naif” ou natural (Béacco, 2001, 2004; Jodelet, 1989). Do
nosso ponto de vista, qualquer processo de apropriação de uma língua ganhará se tiver em
conta estes saberes do sujeito‐aprendente.”13

Partimos, portanto, em busca destes saberes comuns implícitos com vista a


pôr em relevo valores subjetivos e comportamentos linguísticos dos emigrantes
portugueses em França e dos seus descendentes, 50 anos decorridos sobre o maior
fluxo migratório da História contemporânea de Portugal. Conhecimento que,
esperamos, nos permitirá trazer novos olhares sobre o ensino de português no
estrangeiro.

12MOORE Danièle, op. cit. p. 11.


13ANÇÃ Maria Helena e AMARAL Ana Luísa. 2007. Representações Metalinguísticas de
Universitários Cabo‐Verdianos em Aveiro. Em: ANÇÃ Maria Helena (org.), Aproximações à Língua
Portuguesa, Cadernos do LEIP – Coleção Temas, n.º 1, Aveiro: Universidade de Aveiro. p. 13

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2. O Estudo

Em 1994, nas suas teses de doutoramento sobre a vida dupla da


comunidade portuguesa em França e sobre as vantagens e os limites do ensino e
aprendizagem de duas línguas, neste caso o francês e o português, para as crianças
lusodescendentes, Maria‐Alice Tomé e Teresa Pires Carreira afirmavam o seguinte:

« L’enfant de migrants étant né dans un pays qui n’est pas celui des parents peut‐il
avoir deux langues maternelles ? Ou alors, peut‐on considérer comme une langue étrangère
celle du pays de sa naissance et de sa scolarité ? Vivre en deux langues c’est vivre avec des
codes historiques et sémantiques différents. Même si l’échelle de leur usage n’est pas
égalitaire dans le milieu de vie, car les enfants de migrants vivent dans un pays où la
langue de la mère n’est pas celle de la rue, ni celle de l’école, le fait d’entendre deux
langues joue un rôle important, à la fois dans le partage entre l’appartenance française et
portugaise et dans l’élaboration de leur identité culturelle. […]
Même si les enfants de la « deuxième génération » ne vivent pas vraiment en
harmonie avec cette langue, car ils souhaitent dépasser le stade d’enfants « immigrés » en
s’intégrant et s’exprimant comme des Français, il n’y a pas chez la plupart d’entre eux de
désir de gérer une coupure. Le portugais n’est pas revendiqué mais vécu comme une sorte
de tradition familiale sans laquelle on ne serait plus tout à fait les mêmes. Le portugais
n’est donc pour eux ni vraiment une langue maternelle, ni une langue étrangère. Pour eux,
la deuxième génération, le portugais est une langue à part, comme « un fantôme » dont ils
ne savent pas trop quoi faire mais avec lequel ils vivent. […]
Une partie de ceux qui s’intègrent en France perdra peu à peu son usage ; c’est le
cas de la plupart de ceux qui sont arrivés très jeunes en France et qui n’ont pas fait
d’études. […]
Le portugais a encore l’image de marque « immigrée », ce qui n’aide pas les
parents et les enfants à faire le choix de cette langue. […] nous pouvons penser que la
deuxième génération d’enfants de migrants est dans une phase de « négation du portugais »
car ils veulent réussir leur intégration en France. Leurs enfants, la « troisième génération »,
déjà français, chercheront peut‐être à apprendre le portugais, qui ne sera pas alors pour
eux comme une langue d’immigrés, mais une langue étrangère. »14

Duas décadas atrás, as autoras vaticinavam um reencontro dos


lusodescendentes de terceira geração (os netos dos portugueses que emigraram
nos anos 60) com a língua portuguesa, para os quais esta passaria a ter o estatuto
de uma língua estrangeira. Das entrevistas que, então, conduziram junto da
comunidade portuguesa, concluíram que a segunda geração, os filhos dos
primeiros chegados, vivia uma fase de negação das origens. Passados 20 anos,
quisemos perceber, de algum modo, até que ponto se confirmavam estas projeções

14TOMÉ Maria‐Alice e PIRES CARREIRA Teresa. 1994. Enseignement et Langue d’Origine. Tome II.
L’Harmattan/C.I.E.M.I. Paris. pp. 135‐150.

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e de que forma a perceção dos lusodescendentes relativamente à Língua e à


Cultura Portuguesa evoluiu.

Para que as representações dos portugueses e dos lusodescendentes em


França se evidenciassem, aplicámos um inquérito por questionário. Este método é
especialmente adequado nos casos em que é necessário interrogar um grande
número de pessoas e em que se levanta um problema de representatividade;
especialmente adequado, também, para o conhecimento de uma população e para
a análise de um fenómeno social. Consiste em colocar a um conjunto de inquiridos,
geralmente representativo de uma população, uma série de perguntas relativas à
sua situação social, profissional ou familiar, às suas opiniões, à sua atitude em
relação a opções ou a questões humanas e sociais, às suas expectativas, ao seu
nível de conhecimentos ou de consciência de um acontecimento ou de um
problema. Dado o grande número de pessoas geralmente interrogadas e o
tratamento quantitativo das informações que deverá seguir‐se, as respostas à
maior parte das perguntas são normalmente pré‐codificadas, de forma que os
entrevistados devem obrigatoriamente escolher as suas respostas entre as que
lhes são formalmente propostas.15

Organizámos as questões por forma a erigir os quatro pilares da


consciência linguística do sujeito, a saber o social, o afetivo, o cognitivo e o
conativo. Sempre com uma preocupação de correspondência entre o universo de
referência das perguntas e o universo de referência do entrevistado e em criar uma
atmosfera de confiança no momento de administração do questionário, contámos
com a colaboração em França de vários membros da comunidade portuguesa aos
quais explicámos os objetivos da investigação e que se encarregaram da
distribuição e recolha dos inquéritos. Depreende‐se que os questionários foram
administrados diretamente, isto é, foram preenchidos pelos inquiridos. Em anexo a
este trabalho, é possível consultar o inquérito, na sua íntegra.

15Para um maior desenvolvimento das características deste método de investigação, vide QUIVY
Raymond & VAN CAMPENHOUDT Luc. 1995. Manual de Investigação em Ciências Sociais. Gradiva.
Lisboa. 4ª edição. 2005. pp. 186‐201.

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2.1. A População

O inquérito destinava‐se à comunidade portuguesa residente em França.


Atendendo ao peso e ao custo deste dispositivo, à falta de meios e ao limite de
tempo para a análise das correlações sugeridas pelas hipóteses teóricas
levantadas, estipulámos que o número de inquiridos não ultrapassaria os vinte
respeitando, contudo, a problemática da representatividade da amostra, tendo em
consideração que pretendíamos inquirir membros das três gerações de
portugueses e lusodescendentes no país, tendo os anos 60 do século passado por
baliza temporal.

Assim, dividindo os inquiridos por faixas etárias e por períodos de


permanência em França, pudemos formar três grupos representativos das três
gerações. Um primeiro grupo de 5 indivíduos com mais de 50 anos de idade e mais
de 25 anos de vida em França (a maioria continua a ter apenas a nacionalidade
portuguesa): a 1ª geração; um segundo grupo de 7 indivíduos entre os 30 e os 49
anos de idade, alguns já nascidos em França (os filhos da 1ª geração e primeiros
lusodescendentes em França): a 2ª geração; e um terceiro grupo de 8 indivíduos
com menos de 30 anos, nascidos em França (os netos, na sua maioria, da 1ª
geração), franco‐portugueses: a 3ª geração.

Esta ordenação corresponde a padrões dominantes, não significa, no


entanto, que se possam traçar fronteiras geracionais rigorosas. Por outro lado, as
vagas migratórias renovaram‐se, ao longo dos anos, verificando‐se, em alguns
casos, dinâmicas de reagrupamento familiar. Na verdade, um movimento contínuo
de entradas e saídas pontua a lógica das migrações. Seja como for, dentro da
estabilidade existente e no que toca à nacionalidade, lembramos que, mesmo
nascidos no estrangeiro, os filhos de portugueses, nascem portugueses desde
1981; os filhos de portugueses que nascem e vivem em França, adquirem
automaticamente a nacionalidade francesa desde 1998, sem perder a
nacionalidade portuguesa. As leis da nacionalidade tanto em França como em
Portugal incluem a possibilidade de aquisição da nacionalidade através da

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naturalização (por exemplo, por via do casamento).16

2.2. Apresentação e Interpretação dos Dados

A questão da nacionalidade é, indubitavelmente a primeira a merecer uma


atenção especial. Dos 20 inquiridos, 12 declararam ter nascido em França, ser o
cônjuge ou um dos pais de nacionalidade francesa. Contudo, apenas 6 disseram
possuir a nacionalidade francesa e, surpreendentemente, só 2 assumiram a dupla
nacionalidade. São dados, quanto a nós, significativos e reveladores de uma relação
pouco esclarecida com a questão dos direitos à nacionalidade e dos direitos de
cidadania que daí decorrem. Entendemos que, de alguma forma, este é o primeiro
e, talvez, o principal indicador que ajuda a compreender a noção de “invisibilidade”
da comunidade portuguesa em França, emanada do seu perfil pouco participativo
na vida pública do país. Este apontamento leva‐nos a considerar a necessidade de
introduzir, desde cedo, nos cursos de língua portuguesa uma forte componente
relacionada com educação para a cidadania.

A – O Domínio Afetivo da “Consciência”

Independentemente do tempo passado anualmente em Portugal (para 80%


dos casos é superior a 15 dias), 8 em cada 10 inquiridos manifestaram que
gostariam de passar mais tempo. Evitando extrapolações infundadas, diríamos,
simplesmente, que este número atesta da qualidade do tempo que é vivido em
Portugal pelos nossos inquiridos.

A.1. O espaço da Língua Portuguesa (LP) no repertório linguístico.

A relação afetiva que os portugueses e lusodescendentes estabelecem com a


LP ressalta como uma das dinâmicas mais fortes deste inquérito. Efetivamente,
85% dos inquiridos consideram‐na como sendo a sua língua dos afetos, 95% como
sua língua de origem e os mesmos 95% como fazendo parte da sua herança
cultural. Estes valores mostram um sentimento que contraria, por vezes, a
realidade dos comportamentos linguísticos dos inquiridos, ideia esta que iremos

16Para um conhecimento detalhado da lei da nacionalidade francesa, veja‐se o portal dos Assuntos
Diplomáticos do país em: http://www.diplomatie.gouv.fr/fr/les‐francais‐a‐l‐etranger/vos‐droits‐
et‐demarches/nationalite‐francaise/, consultado em junho de 2012.

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retomar noutros pontos da análise. O que podemos avançar, desde já, é a natureza
ambígua e ambivalente da LP para muitos lusodescendentes. 80% veem a LP como
sua Língua Materna (LM) e 55% como sua Língua Segunda (L2). Estas
percentagens indicam que, para alguns dos inquiridos a LP é, simultaneamente, LM
e L2. LM por ser a língua dos pais mas não por ser sua primeira língua: 45% negam
esta possibilidade; LM por ser sua língua dos afetos, não a mais usada (65%
sublinham que a LP não é a língua que usam mais) nem a língua que falam melhor
(70% reconhecem que a LP não é a língua que dominem melhor). Lembramos que
35% dos inquiridos nasceram em França e que 70% cumpriram ou estão a cumprir
a sua escolaridade, tendo como língua de ensino e aprendizagem a língua francesa
(LF). Desta realidade potencialmente conflituosa materializada no convívio nem
sempre equilibrado de duas línguas, advém uma necessidade de criar condições
para desmistificar aquilo que, podendo ser uma mais‐valia – o domínio de duas
línguas, é vivido, por vezes, como uma dificuldade. Acreditamos que as aulas de LP
devem desempenhar esta função.

Ainda no que diz respeito à caracterização do repertório linguístico da


comunidade portuguesa, salientamos o facto de apenas 30% dos inquiridos terem
a LP como a língua que falam melhor. Significa que alguns membros da 1ª geração
sentem que desenvolveram uma maior mestria noutra língua (provavelmente LF).
Para nós, este é o primeiro indício da falta de uma oferta cabal de cursos de LP em
França para adultos. Cursos, esses, que poderiam ter procura, como veremos
seguidamente. Por outro lado, 35% das respostas apontam para uma maior
utilização da LP por parte dos inquiridos. Aqui, relevamos a noção de que a LP é,
para muitos, a língua mais falada no domínio privado.

Quanto à importância atribuída à LP (Quadro I), numa escala de 1 a 5, a


média obtida foi de 3,7 valores. A média mantém‐se relativamente estável no
confronto geracional, registando‐se o nível mais baixo nos membros que
representam a 2ª geração, com 3,4 valores. As diferenças não nos permitem tirar
conclusões em termos geracionais, no entanto os resultados averbados
demonstram que a LP ocupa um lugar de relevo para a maioria dos
lusodescendentes.

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B – O Domínio Social

B.1. As situações em que a LP é usada (Quadro II).

“As atividades linguísticas inscrevem‐se no interior de domínios, eles próprios muito


diversos, mas que, relativamente à aprendizagem das línguas, podem ser classificados, de
forma geral, em quatro setores: o domínio público, o domínio privado, o domínio
educativo e o domínio profissional.”17

Seguindo a classificação dos domínios da atividade linguística estabelecida


pelo Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR), podemos
dizer que, no essencial, os dados recolhidos confirmaram as nossas hipóteses
teóricas. Assim, a LP é falada, sobretudo, no domínio privado. 90% dos inquiridos
usam‐na para comunicar em casa com regularidade. 75%, muitas vezes ou todos os
dias. Todos os inquiridos admitem falar habitualmente português com a família e
70% com amigos. Este último indicador ajuda a perceber a importância das
dinâmicas comunitárias para os portuguese e para os lusodescendentes em França.
Esta última asserção parece corroborada pelo facto de 13 dos inquiridos (65%)
utilizarem a LP no domínio profissional (embora 3 dos inquiridos tenham dito que
o recurso à LP no trabalho é raro).

O domínio público era aquele em que aguardávamos níveis de comunicação


em LP mais escassos. As respostas não desmentiram esta expectativa, a LP nunca é
falada nos Correios, só 4 dos inquiridos (20%) afirmam recorrer, às vezes, à LP no
Banco e 8 (40%) nas compras com alguma frequência. Apesar destes números
serem inferiores aos números verificados no domínio público e no domínio
profissional, eles mostram, ainda assim, que a LP tem expressão em quase todos os
momentos do quotidiano e que, por conseguinte, tem um papel fundamental na
afirmação social dos portugueses e dos lusodescendentes em França.

7 dos inquiridos (35%) usam a LP no domínio educativo. 1 dos inquiridos


porque é professor de LP no Ensino Secundário e 6 dos mais jovens por terem
frequentado ou por frequentarem ainda aulas de LP. Este é um dado interessante,
pois revela a vontade da comunidade portuguesa em França de conservar a LP no
seu património linguístico. Numa reunião da Associação para o Desenvolvimento

17CONSELHO DA EUROPA. Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR),


Aprendizagem, Ensino, Avaliação. Edições ASA. 2001. p. 36

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de Estudos Portugueses, Brasileiros, da África e da Ásia Lusófonas (ADEPBA), em


2010, Michel Perez, à data, Inspetor Geral de Educação em França, responsável
pelo Grupo de Português, apresentava as estatísticas seguintes:

“... o português é estudado em França por mais de 32 mil alunos em 325 escolas
secundárias e em 549 escolas elementares. Cerca de metade são alunos de Português como Língua
Viva Estrangeira (LV1, LV2, LV3 e secções europeias), da responsabilidade exclusiva do Ministério
da Educação francês, em 289 estabelecimentos públicos.
Em 43 escolas das academias de Paris, Versalhes, Créteil, Lyon, Aix‐Marselha, Amiens,
Bordéus, Córsega e Rouen, o português é ensinado dentro do horário escolar do aluno como Língua
Viva Estrangeira e o total de alunos em 2009/10 é de 3 284, segundo dados fornecidos pela
coordenadora do Ensino do Português em França, Gertrudes Amaro.
Em 584 escolas, o português é ensinado em horário pós‐escolar. Frequentam este ensino
11.792 alunos e a inscrição é feita mediante questionário distribuído aos pais pelos diretores das
escolas.
Estes cursos são designados por Ensino da Língua e Cultura de Origem (ELCO) e, até muito
recentemente, a maior parte dos diretores apenas distribuía os inquéritos aos alunos filhos de
emigrantes ou de acordo com a origem, salientou Gertrudes Amaro.
O único ensino de Português assegurado por professores nomeados pelo Governo
português é o das disciplinas de Língua e Literatura portuguesas e da História e Geografia das
secções internacionais de português/portuguesas.
Envolve 814 alunos e 20 docentes. Há também 20 professores de português em 28
associações de pais.”18

O aumento das secções internacionais de LP em França é exponencial, pois


em 1997 existia apenas uma, o que, juntando‐lhe o número de alunos das outras
modalidades de ensino, ilustra uma procura vigorosa pela aprendizagem de LP.

Último dado significativo neste capítulo julgamos ser a lenta disseminação


das comunicações digitais na comunidade portuguesa. Apenas 50% dos inquiridos
fazem uso da Internet ou do telefone para comunicar em LP. Cremos que, a
funcionarem cursos de LP para adultos, em França, estes poderiam explorar esta
vertente promovendo nessa população uma iniciação às ferramentas disponíveis
na rede, com todas as vantagens daí decorrentes.

B.2. Contacto com a LP (Quadro III).

Pese embora a dimensão da comunidade portuguesa em França, o contexto


de comunicação para os falantes de LP que aí se encontram é, tendencialmente,
exolingue. Como vimos, os lusófonos de França recorrem à LP quando comunicam
entre si, preferencialmente, no domínio privado. De resto, a França permanece um
país monolingue cuja língua oficial é o francês. Neste ambiente de emersão

18 Cf. http://www.adepba.fr/, consultado em junho de 2012.

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linguística para falantes e aprendentes de LP, quisemos saber como e com que
frequência os nossos inquiridos têm acesso a recursos em LP para desempenhar o
papel de ouvinte e de leitor.

Ora, de acordo com as respostas obtidas, verificámos que a música e a rádio


são os meios através dos quais o contacto com a LP é mais frequente. 85% dos
inquiridos disseram que ouvem música ou a rádio em LP com regularidade. A
televisão assume, igualmente, um papel preponderante na difusão de conteúdos
em LP já que 80% dos inquiridos acompanham alguns programas com
assiduidade. Esta proximidade da rádio e da televisão às populações leva‐nos a
concluir que a sua utilização nos cursos de LP é imprescindível, por ser um suporte
com o qual os aprendentes estão familiarizados e por permitir, se bem escolhidos,
uma visão moderna da identidade e da cultura portuguesa.

Outro dado interessante do inquérito prende‐se com a utilização da


Internet para consulta de conteúdos em LP. Assim, 35% dos inquiridos afirmaram
que consultam conteúdos em LP em linha, diariamente. No entanto, incluindo estes
últimos, apenas mais 15% dos inquiridos admitiram uma utilização regular
daquela ferramenta para essa finalidade. Mais, 35%, ou seja o mesmo número de
inquiridos com hábitos diários, disseram mesmo que nunca utilizam a Internet
para esse propósito. Estas respostas espelham uma clivagem nítida entre
utilizadores, o que reforça a nossa convicção da necessidade de iniciar os
aprendentes de LP adultos na vida digital. Desta forma, potencializar‐se‐ia o valor
educativo do ensino das línguas.

Face aos recursos já referenciados, confirmámos uma das nossas hipóteses


prévias que consistia em antecipar um declínio da consulta e da leitura de livros,
jornais e revistas. De facto, apenas 15% dos inquiridos consultam ou leem
conteúdos em LP naquele tipo de suportes, todos os dias. A percentagem baixa
para 5% quando se trata de dicionários ou gramáticas. Apesar de tudo, 30% dos
inquiridos consideram que acedem a estes canais com alguma regularidade. O
papel de leitor acentua o seu retrocesso perante a ascensão do papel de ouvinte e
do papel de telespetador. Sinais dos tempos aos quais a aula de LP não deve estar
alheia, daí o recurso desejável aos meios audiovisuais nas práticas educativas.

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B.3. As vantagens da LP (Quadro IV).

No capítulo das vantagens da LP, as respostas indiciaram uma valorização


da LP no património cultural dos portugueses e dos lusodescendentes em França.
Com efeito, o conjunto dos inquiridos atribuiu uma média de 4,2 valores, numa
escala de 1 a 5, à vantagem de falar LP tendo em vista a preservação da sua
herança cultural. Este dado vem sublinhar o quanto perdura, no seio da
comunidade de origem portuguesa em França, independentemente do país onde se
nasça, um sentimento de pertença a tudo o que se relaciona com o “ser português”,
assim como a vontade de “defender” e alimentar essas raízes culturais.

Outra vantagem destacada da LP relaciona‐se com o facilitar da integração


na comunidade portuguesa (3,8 valores). Realçamos, novamente, o peso decisivo
da vida comunitária para o bem estar dessa população em contextos de migração.

Já num grau muito menor, surgem outras vantagens tais como favorecer o
acesso ao mercado de trabalho (3 valores), facilitar o exercício da atividade
profissional (2,9 valores) e fazer novas amizades (2,5 valores). Embora sejam
classificações assaz generosas, denotam os primeiros sinais de subestimação da LP
num quadro concorrencial de línguas globalizadas.

Nessa ordem de ideias, questionámos os informantes sobre a importância


relativa da aprendizagem da LP por comparação com a LF. 40% entendem que é
mais importante aprender LF no mundo em que vivemos. 45% que é igual
aprender LP ou LF. Só 15% que é mais importante aprender LP. Há uma maior
inclinação para a igualdade das duas línguas no panorama internacional por parte
dos inquiridos mais novos. Pelo contrário, entre aqueles informantes que
sobrevalorizaram a LF, estão em maioria os de mais de 50 anos. Estes, que fizeram
parte da grande vaga migratória dos anos 60, melhoraram as suas vidas em França.
O país deu‐lhes condições económicas superiores àquelas que existiam em
Portugal. De certa forma, ao comparar a importância da LP e da LF no mundo atual,
adotam uma perspetiva pela qual o valor da língua equipara‐se à qualidade das
condições de vida do país onde a língua é falada. Diga‐se que, do ponto de vista
social, não houve para a esmagadora maioria destes emigrantes qualquer tipo de
ascensão. Quanto aos lusodescendentes mais novos e mais instruídos, o seu

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conhecimento do mundo atual permite‐lhes relativizar o impacto da LF e conceder


à LP um estatuto de maior relevo, mais à imagem de uma língua com presença em
vários continentes.

C – O Domínio Cognitivo

C.1. Níveis de Proficiência em LP e em LF.

Aqui, começámos por questionar os informantes sobre o seu nível de


proficiência em LP e LF. Como seria de esperar, em média, os lusodescendentes
consideram ser mais proficientes em LF, nas principais atividades linguísticas.
Avaliam de 4,6 a 3,9 valores, numa escala de 1 a 5, a sua competência para Ouvir,
Falar, Ler e Escrever. Por sua vez e de acordo com os mesmos critérios, a
competência em LP varia entre 3,7 e 3,4 valores. Níveis inferiores, portanto, aos da
LF mas que, ainda assim, apontam para um domínio generalizado da LP por parte
da esmagadora maioria dos portugueses e dos lusodescendentes em França. Seria
interessante no âmbito de um trabalho posterior, tentar perceber como foi feita a
aprendizagem/aquisição de LP por estes indivíduos. Acreditamos na existência de
uma vertente de aprendizagem informal e não‐formal que merece ser tida em
conta nos cursos de LP naquele país, por exemplo através da participação dos pais
em algumas atividades da escola e da organização de convívios temáticos abertos à
comunidade.

Numa outra questão, os inquiridos pronunciaram‐se sobre a sua condição


de falantes bilingues. Ora, se 60% não hesitaram em afirmar‐se bilingues, 25%,
pelo contrário, negaram essa possibilidade. Este é um dado um tanto ou quanto
contraditório se lembrarmos que os mesmos sujeitos avaliaram o seu nível de
proficiência em LP e em LF, positivamente. De facto, estas respostas coincidem
com o pluralismo conceptual do bilinguismo e com a dificuldade que existe em
cercear o seu alcance, também para o senso comum.

C.2. Dificuldades em LP e Estratégias Comunicativas.

Quando interrogados se alguma vez tiveram dificuldade em fazer‐se


entender em LP, 50% dos inquiridos responderam que nunca e 40%, às vezes.

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Portanto, 90% das respostas apontam para a noção de uma certa eficácia
comunicativa por parte destes falantes de LP, na maioria das situações. Os cursos
de LP, em França, devem ter por base o diagnóstico completo da competência
comunicativa destes aprendentes em atividades de receção, produção, interação e
mediação.

Questionámos então os informantes sobre as estratégias que empregam


para superar os seus problemas de comunicação em LP. 70% referiram que
pronunciam as palavras o melhor possível e tentam fazer frases mais simples.
Falar mais devagar é outra das estratégias mais utilizadas com 65% das respostas.
Do lado das estratégias menos escolhidas: fazer gestos e “misturar” francês, com
45% e 40% dos inquiridos, respetivamente, a afirmarem que nunca recorrem a
essas técnicas. Repetir palavras é outra estratégia com pouca expressão. Já se
percebeu que na comunidade portuguesa residente em França coexistem duas
línguas: a LF, língua oficial e de escolarização do país de acolhimento e a LP, língua
de origem e língua materna para muitos. O estatuto da LF determina uma posição
dominante que inibe, por vezes, a utilização da LP. Parece germinar a ideia de que
ou se fala uma língua, ou se fala outra. Cremos ser fundamental promover uma
competência comunicativa mais condizente com a realidade multilingue em que
vivemos, onde a estratégia que consiste na alternância de códigos linguísticos deve
ser promovida.

No que diz respeito às principais dificuldades da LP, os inquiridos surgiram


indecisos, atribuindo classificações muito semelhantes aos vários parâmetros.
Assim, numa escala de 1 a 5, a ortografia, com 2,9 valores de média, foi
considerado o aspeto mais complicado da LP. Seguidamente, a pronúncia com 2,8
valores; a conjugação dos verbos, 2,7; a posição das palavras na frase, 2,6 e o
vocabulário, 2,4.

C.3. O Lugar de Portugal e da LP no mundo.

Para finalizar, procurámos aferir a perceção que os portugueses e os


lusodescendentes têm do lugar de Portugal e da LP no mundo. Sobre o número de
países de língua oficial portuguesa, tendo em conta quatro opções possíveis, a
saber 3, 7, 10 ou 15 países, 65% dos inquiridos referiram que eram 7 os países

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lusófonos no mundo; apenas um dos inquiridos entendeu que eram 3 países; três,
10 e três dos inquiridos não responderam. Se considerarmos a Guiné Equatorial,
que já adotou a LP como língua oficial na sua Constituição e a região de Macau na
China, a resposta correta é 10. Mesmo sem estes dois territórios, nunca foram
menos de 8 os países de língua oficial portuguesa, desde, como se sabe, da
independência de Timor‐Leste em 2002.

Quanto a falantes nativos no mundo, questionámos os inquiridos sobre qual


seria o maior número de falantes nativos, se de LP, se de LF. 35% dos inquiridos
indicaram que há mais falantes nativos de LF, 20% não responderam e os restantes
45% que são mais os falantes nativos de LP. Se considerarmos o critério do
número de habitantes nos países onde a língua é oficial, em todo o mundo são mais
os falantes nativos de LP. A imagem cosmopolita da LP, o facto de ser falada em
vários países, em todo o mundo e por muitas pessoas, fazendo dela uma língua
internacional, nem sempre é conhecida no seio da comunidade portuguesa em
França.

Perguntámos, também, qual seria a posição ocupada por Portugal na tabela


do Desenvolvimento Humano, segundo as Nações Unidas. Este indicador da ONU
mede as condições de bem estar em cada país, combinando dados sobre o Produto
Interno Bruto, Índices de Escolarização e de Saúde.19 Demos cinco hipóteses: entre
1º e 25º lugares; 26º e 50º; 51º e 75º; 76º e 100º; abaixo de 100º. 35 % dos
inquiridos situaram Portugal nos 25 primeiros lugares; 35% entre o lugar 26 e o
lugar 50; 20% entre o 51º e o 75º lugares. 2 inquiridos não responderam. Na
realidade, Portugal ocupa a 41ª posição.

Por último, solicitámos aos nossos informantes que definissem em duas


linhas Portugal e os portugueses. Por entre uma certa dificuldade de verbalização
(7 dos inquiridos não responderam), alguns estereótipos20 emergiram tais como o
de serem os portugueses bons trabalhadores (5 respostas) e de Portugal ser um

19 Ver quadro completo em:


http://www.undp.org/content/undp/fr/home/librarypage/hdr/human_developmentreport2011/
consultado em junho de 2012.
20 Entendemos o “estereótipo” como é definido por MOORE Danièle, na obra já citada, página 14,

isto é : « … le stéréotype constitue un discours méta‐attitudinal collectif, dont l’identification peut


contribuer à une mise en évidence des relations de tensions entre les différentes communautés en
contact, en mettant en lumière certains phénomènes en jeu aux frontières des groupes. »

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país de férias com muito Sol (6 respostas). Grassa ainda, em França, a imagem do
português operário na construção civil e da portuguesa mulher‐a‐dias. Neste
particular, acreditamos que falta dar de Portugal a imagem de um país moderno e
desenvolvido.

D – O Domínio Conativo

D.1. Motivação para a Aprendizagem de LP.

Sendo difícil avaliar a motivação dos indivíduos para a aprendizagem de


uma língua, a combinação das respostas às duas primeiras questões da última
parte do questionário revelaram que existe um interesse nesse domínio por
satisfazer, na comunidade portuguesa. Com efeito, 60% dos inquiridos afirmaram
que gostariam de aperfeiçoar o seu nível de proficiência em LP e 60%, também,
que nunca tiveram aulas de LP. Reforçamos a nossa convicção de que o mercado da
LP tem espaço para crescer em França, nomeadamente junto da população adulta.
Não se tratando aqui de fazer propaganda ou de angariar clientes para cursos de
LP, o que estes dados demonstram é o quanto a LP constitui um traço distintivo
para esta população. Expressar‐se corretamente em LP confere maior estatuto
social entre os lusodescendentes em França.

D.2. Procura e Oferta de LP.

No campo das razões que levam os aprendentes a escolherem outras


línguas que não a LP no seu percurso formativo, as opiniões dividiram‐se. No
entanto, das explicações possíveis, 40% dos inquiridos sugeriram que a maioria
dos aprendentes preferem optar por outras línguas mais valorizadas. A distância
dos locais de formação e a falta de oferta formativa apareceram em segundo lugar
como explicação mais provável para o facto de não haver um número ainda maior
de alunos de LP em França. Quanto àquilo que poderia remediar a esta situação, os
inquiridos concordaram que uma maior divulgação dos cursos acompanhada de
um aumento do número de professores seriam a resposta mais adequada.

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D.3. Preservação de LP entre Gerações.

À hipótese de verem desaparecer a LP do seu património cultural pelo fim


da sua transmissão entre gerações, os inquiridos reagiram de forma quase
unânime. Pois bem, para portugueses e lusodescendentes em França, esta hipótese
não faz grande sentido, uma vez que 70% consideraram‐na impossível. Por outro
lado, 15% dos inquiridos admitiram que se sentiriam mal com tamanha
consequência. Visivelmente, existe a noção de que as línguas estão inscritas, de
forma indelével, no código genético, o que atesta da relação metonímica entre
língua e cultura, na qual o lugar de ambas se confunde.

D.4. A Origem Portuguesa e a Condição de Emigrante como Fatores de


Discriminação.

As últimas duas questões do inquérito serviram para confrontar os


inquiridos com eventuais tratamentos discriminatórios de que tivessem sido
vítimas, em Portugal, na sua condição de emigrante e, em França, pela sua origem
portuguesa. Assim, enquanto 70% dos inquiridos nunca se sentiram discriminados
em França, pelas razões apontadas, 55% afirmaram‐se vítimas de discriminação
em Portugal. Estes dados abrem caminho para um trabalho focado nos
preconceitos que ainda hoje são veiculados em Portugal sobre os emigrantes e
sobre os estereótipos associados aos portugueses em França. A imagem que alguns
portugueses e lusodescendentes residentes em França têm de si próprios
assemelha‐se à imagem atávica que outros lhes quiseram dar e que só dificilmente
se liberta do rótulo do trabalhador dócil, obediente e pouco qualificado.

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3. Conclusão

“O conjunto de ideias ou de conceções que os sujeitos podem ter perante


determinadas realidades dos seus respetivos universos culturais – representações
etnocêntricas – podem ser prejudiciais para a aprendizagem da LP, porque, apesar de
discursos contrários, ainda é vista como sendo uma língua do dominado, podendo a sua
visão ser dolorosa e intolerante para os lusodescendentes.”21

A coexistência no repertório linguístico dos portugueses e


lusodescendentes residentes em França de duas línguas, LF e LP, resulta numa
identidade dupla em que os equilíbrios, por vezes, precários geram situações de
repulsa ou de subalternização da língua e da cultura portuguesa. Como vimos, a
projeção internacional da LP e a presença da cultura portuguesa no mundo deixam
algumas dúvidas às comunidades migrantes, sobretudo em países como a França
onde as políticas de integração das populações de origem estrangeira sempre
visaram a sua assimilação à cultura francesa.

Apesar do grande número de alunos de origem portuguesa no seu sistema


educativo, os dirigentes da República Francesa continuam a sonegar um lugar mais
importante ao ensino da LP nas escolas, mesmo sabendo do interesse que existe
pela sua aprendizagem. O recente desabafo do presidente da ADEPBA, numa Carta
Aberta dirigida ao Ministro da Educação em França, elucida sobre os motivos do
descontentamento de todos aqueles que pugnam pelo ensino de LP naquele país:

« Monsieur le Ministre, L’ADEPBA attire votre attention sur la question très


préoccupante des concours de recrutement concernant le portugais. […] La liste des
postes offerts aux concours qui vient d’être publiée montre que le portugais sera la seule
langue de la « mondialisation » qui n’aura aucun recrutement en 2013, interne comme
externe. Pire encore, on ne peut que s’indigner du fait que le portugais n’apparaisse même
plus dans la liste des différentes disciplines. Cette situation est intolérable face à la réalité
de l’enseignement de cette langue et de cette culture, face au potentiel de nos universités
et compte tenu des demandes et des possibilités d’ouverture de postes. D’autant plus que
les nécessités actuelles impliquent un fort recrutement de contractuels (par exemple :
59% de contractuels dans l’Académie de Guyane, 23% en Martinique, 18,5% dans
l’Académie de Versailles, 15% dans celle de Créteil).
Encore faut‐il ajouter que ces indications chiffrées ne sont pas en mesure de
décrire les problèmes qu’elles impliquent en partie : par exemple, la difficulté, et souvent
l’impossibilité, d’un suivi normal et harmonieux de l’enseignement du portugais entre le

21 FANECA Rosa Maria. Op. cit. p. 211.

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primaire (où 14000 élèves étudient le portugais), le collège et le lycée. Et tous les ans, les
enseignants de portugais sont convoqués pour faire passer diverses épreuves (CAP, BEP,
BAC professionnel, BAC technologique, BAC général, BTS) de cette langue à des centaines
d’élèves qui déclarent n’avoir pu suivre de cours comme ils le souhaitaient, chose que vous
connaissez fort bien. […] D’une manière générale, si toutes les langues sont égales en
dignité, elles ne le sont pas dans l’usage et dans leur rôle international. Présent sur quatre
continents, le portugais est la 6ème langue la plus parlée dans le monde (250 millions de
personnes), et l’une des plus utilisée aussi dans notre propre pays. Aussi, il est difficile de
comprendre l’exclusion de cette langue des concours de recrutement quand d’autres, au
moindre rayonnement, nationales ou régionales, continuent de bénéficier d’un traitement
qui semble de faveur. Comment donc comprendre cette exclusion alors même que l’on
accorde, pour la session 2012, 1 poste au basque, 2 au breton, 1 au catalan, 4 au créole, 4 à
l’occitan et, qu’avec moitié moins d’élèves que le portugais, l’arabe bénéficie d’un poste au
capes et de deux à l’agrégation ? Sans compter que ces langues bénéficient d’ouvertures
tous les ans…
Je rappelle encore que la France a signé des accords bilatéraux, courant 2006, avec
le Portugal et le Brésil, sur l’enseignement des langues respectives. La partie française
voudrait‐elle se désengager de ce qui pourrait être l’exemple d’une belle coopération
culturelle ? »22

Quanto a nós, o estudo levado a cabo no âmbito deste trabalho permitiu‐nos


compreender melhor o papel fundamental dos agentes educativos envolvidos no
ensino de LP em França, tendo em consideração que os portugueses e os
lusodescendentes, residentes naquele país, vivem arreigados à sua cultura
ancestral. Ensinar LP nas comunidades migrantes representa um contributo para a
melhoria da sua autoestima. Retomando agora algumas ideias já apresentadas,
diremos que os cursos de LP em França deverão ter uma preocupação com a
educação para a cidadania, esclarecendo alguns aspetos de participação cívica na
sociedade, do direito à nacionalidade e dos benefícios daí decorrentes. Muitos
emigrantes não se deslocam aos Consulados, logo, o funcionamento de cursos de
LP, mais próximos das populações, poderia auxiliar nas tarefas que aquelas
instituições procuram cumprir. Por outro lado, o ensino de LP em França, em
particular e nas comunidades migrantes, em geral, carece de uma oferta mais
vocacionada para adultos e para seniores. As atividades ajudariam a desenvolver,
por exemplo, a aptidão para utilizar ferramentas digitais, como a Internet,
fomentando, assim, contactos mais regulares entre a comunidade a viver em
França e os familiares em Portugal.

22 Carta assinada por Christophe GONZALEZ, presidente da ADEPBA e disponível em:


http://www.adepba.fr/, consultado em junho de 2012.

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Seminário de Didática do Português (LE/LS) 2011/2012 Docente: Maria José Grosso

Face a um recrudescimento da emigração portuguesa para França, pode‐se


supor uma nova degradação da imagem do país aos olhos da comunidade
portuguesa já instalada. Nos cursos de LP, será importante desconstruir alguns dos
estereótipos mais enraizados na sociedade francesa – e que não são muito
prestigiantes para todos os portugueses –, permitindo que a língua e a cultura
portuguesa possa ser vista de acordo com a sua dimensão universal, como língua
de cultura, moderna e cosmopolita.

As recentes eleições legislativas francesas tornaram evidentes o poder de


ação democrática dos lusodescendentes em França com a entrada de três
elementos dessa comunidade na Assembleia Nacional. Outros portugueses
nascidos ou residentes em França notabilizaram‐se noutras áreas. Vejam‐se os
casos de Maria de Medeiros no cinema, de Eduardo Lourenço no ensino e, mais
recentemente, de Joana Vasconcelos, primeira mulher a expor o seu trabalho
artístico no Palácio de Versalhes, « une star portugaise, reine à Versailles »23. São
muitos os portugueses e os lusodescendentes com carreiras de sucesso por todo o
mundo. Jovens Fotógrafos, engenheiros informáticos, chefes de cozinha,
investigadores, empresários, professores estão retratados no documentário da
RTP, intitulado “Portugueses no Mundo”24. Veículo de uma imagem distintiva do
ser português no estrangeiro, constitui‐se, ao mesmo tempo, como um recurso
didático valioso nas aulas de LP, no contexto abordado por este trabalho.

23 Leia‐se a reportagem do jornal Le Figaro, disponível em: http://madame.lefigaro.fr/art‐de‐


vivre/joana‐vasconcelos‐reine‐versailles‐160612‐232511, consultado em junho de 2012.
24 Veja‐se o vídeo de “Os Portugueses em Paris”, disponível em:

http://www.rtp.pt/programa/tv/p27507/e5, consultado em junho de 2012.

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LUSODESCENDENTES, Para uma Didática do Português nas Comunidades Migrantes
Seminário de Didática do Português (LE/LS) 2011/2012 Docente: Maria José Grosso

Bibliografia

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Universitários Cabo‐Verdianos em Aveiro. Em: ANÇÃ Maria Helena (org.), Aproximações à
Língua Portuguesa, Cadernos do LEIP – Coleção Temas, n.º 1, Aveiro: Universidade de
Aveiro.

CONSELHO DA EUROPA. Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECR),


Aprendizagem, Ensino, Avaliação, Edições ASA, 2001.

DABÈNE Louise. 1994. Repères Sociolingistiques pour l’Enseignement des Langues. Paris.
Hachette. pp. 98‐104.

FANECA Rosa Maria. 2010. O Contributo do Ensino Não‐Formal na Transmissão da Língua


Portuguesa em França. Em: ANÇÃ Maria Helena (coord.) e GROSSO Maria José (dir.),
Educação em Português e Migrações. Lidel Edições Técnicas. Lisboa. pp. 209‐224.

GROSSO Maria José dos Reis 2007. A Atividade Comunicativa em Português do Falante de
Língua Materna Chinesa. Em: ANÇÃ Maria Helena (org.), Aproximações à Língua
Portuguesa, Cadernos do LEIP – Coleção Temas, n.º 1, Aveiro: Universidade de Aveiro. pp.
83‐90

HAWKINS Eric W. 1999. Foreign Language Study and Language Awareness. Language
Awareness. Vol. 8, nº 3&4. pp. 124‐142

JAMES C. & GARRETT P. 1991. The Scope of Language Awareness. Em: C. James & P.
Garrett (ed.), Language Awareness in the Classroom. Longman. Londres. pp. 2‐23

MOORE Danièle. 2012. Les Représentations des Langues et de leur Apprentissage:


Itinéraires théoriques et trajets méthodologiques. Em: MOORE Danièle. (Coord.) Les
Représentations des Langues et de leur Apprentissage, Références, modèles, données et
méthodes. Didier. Paris. 10ª edição.

PIRES CARREIRA Teresa e TOMÉ Maria‐Alice. 1994. Portugais et Luso‐Français, Double


Culture et Identité. Tome I. L’Harmattan/C.I.E.M.I. Paris.

QUIVY Raymond & VAN CAMPENHOUDT Luc. 1995. Manual de Investigação em Ciências
Sociais. Gradiva. Lisboa. 4ª edição. 2005.

TOMÉ Maria‐Alice e PIRES CARREIRA Teresa. 1994. Enseignement et Langue d’Origine.


Tome II. L’Harmattan/C.I.E.M.I. Paris.

VÉRONIQUE Daniel. 2012. Note sur les Représentations Sociales et sur les
Représentations Métalinguistiques dans l’Appropriation d’une Langue Étrangère. Em:
MOORE Danièle. (Coord.) Les Représentations des Langues et de leur Apprentissage,
Références, modèles, données et méthodes. Didier. Paris. 10ª edição. p. 28

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Seminário de Didática do Português (LE/LS) 2011/2012 Docente: Maria José Grosso

Sítios Consultados

Associação para o Desenvolvimento de Estudos Portugueses, Brasileiros, da África e


da Ásia Lusófonas (ADEPBA): http://www.adepba.fr/

Associação Language Awareness (ALA):


http://www.languageawareness.org/web.ala/web/tout.php

Observatório da Emigração:
http://www.observatorioemigracao.secomunidades.pt/np4/3110.html

Portal dos Assuntos Diplomáticos do Governo da República Francesa:


http://www.diplomatie.gouv.fr/fr/les‐francais‐a‐l‐etranger/vos‐droits‐et‐
demarches/nationalite‐francaise/

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento:


http://www.undp.org/content/undp/fr/home/librarypage/hdr/human_developmentrep
ort2011/

LOPES Miguel – COMO A LÍNGUA E A CULTURA PORTUGUESA SUBSISTEM EM FRANÇA ENTRE PORTUGUESES E 26
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(ANEXOS) – QUADROS

Quadro I – A Importância de LP (de 1 a 5)

Mais de 50 anos Entre 30 e 49 anos Menos de 30 anos


3,8 3,4 3,9

Quadro II – As situações em que a LP é usada (com alguma regularidade).

Com a família 100%


Nas férias 95%
Em casa 90%
Com amigos 70%
No trabalho 50%
Ao telefone e na Internet 50%
Nas compras 40%
Nas aulas 35%
No Banco 20%
Nos Correios 0%

Quadro III – Contacto com a LP (muito frequente).

Música e Rádio 85%


Televisão 80%
Internet 40%
Livros, Revistas e Jornais 25%
Dicionários ou Gramáticas 5%

Quadro IV – As vantagens da LP (de 1 a 5)

Manter a sua cultura 4,2


Facilitar a Integração na Comunidade Portuguesa 3,8
Favorecer o Acesso ao Mercado de Trabalho 3
Facilitar o Exercício da Profissão 2,9
Fazer Novas Amizades 2,5

LOPES Miguel – COMO A LÍNGUA E A CULTURA PORTUGUESA SUBSISTEM EM FRANÇA ENTRE PORTUGUESES E
(ANEXOS) – INQUÉRITO

A – DADOS BIOGRÁFICOS / QUELQUES DONNÉES BIOGRAPHIQUES

1. Sexo/Sexe: ☐Masculino/Masculin ☐Feminino/Féminin

2. Idade/Âge:

☐Menos de 30 anos/moins de 30 ans ☐Entre 30 e 39 ☐Entre 40 e 49 ☐50 ou +

3. Local/País de Nascimento/Lieu/Pays de naissance _______________________________________________

4. Nacionalidade(s)/Nationalité(s): ___________________________________________________________________

5. Nacionalidade(s) do pai/Nationalité(s) du père: __________________________________________________

6. Nacionalidade(s) da mãe/ Nationalité(s) de la mère: _____________________________________________

7. Nacionalidade(s) do cônjuge (Si vous vivez en couple, indiquez la ou les nationalités de votre

partenaire)______________________________________________________________________________________________

8. Habilitações académicas – Éducation et Formation (Diplômes obtenus):

Ensino Primário (Enseignement primaire)


Ensino Básico (Collège)
Ensino Secundário (Lycée – Baccalauréat)
Ensino Profissional (BEP, CAP, etc.)
Ensino Superior (Diplôme Universitaire)

9. Profissão/Profession: ___________________________________________________________________

<5
10. Há quantos anos vive em França? Depuis 5 ‐ 15 15 ‐ 25 > 25
anos/ans
combien d’années vivez‐vous en France?

11. Quantos dias passa em Portugal por ano, Nenhum Menos de 15 dias
15 ‐ 30 > 30
em média? Combien de jours passez‐vous au /Aucun /moins de 15 jours

Portugal par an, en moyenne?

12. Gostaria de passar mais tempo em Portugal? Aimeriez‐vous passer plus de temps au
Portugal? ☐Sim/Oui ☐Não/Non
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B – A DIMENSÃO AFETIVA / LA DIMENSION AFFECTIVE


1. Ajude‐me a situar o português no seu repertório linguístico? Aidez‐moi à comprendre la
place du portugais dans votre répertoire linguistique?
Sim / Oui Não / Non
O português é a sua língua materna ? Le portugais est votre langue maternelle?
É uma língua estrangeira ? C’est une langue étrangère ?
É a sua primeira língua ? C’est votre première langue ?
É a sua segunda língua ? C’est votre deuxième langue ?
É a língua que fala melhor ? C’est la langue que vous parlez le mieux ?
É a língua que fala mais ? C’est la langue que vous parlez davantage ?
É parte da sua herança cultural ? Elle fait partie de votre héritage culturel ?
É a língua dos afetos ? C’est votre langue affective ?
É a sua língua de origem ? C’est votre langue d’origine ?

Outra(s)/Autre(s) ______________________________________________________________________________________________________

2. Quando se zanga, diz palavras em português? Quand vous êtes en colère, vous arrive‐t‐il de
dire des mots portugais? ☐Sim/Oui ☐Não/Non

3. Numa escala de 1 a 5 (em que 1 significa o mínimo e 5 o máximo), 1 2 3 4 5


qual a importância que atribui à Língua Portuguesa? De 1 à 5, quelle
importance attachez‐vous à la langue portugaise.

C – A DIMENSÃO SOCIAL / LA DIMENSION SOCIALE


1. Em que situações fala português? Dans quelles situations parlez‐vous portugais?
Fala português... / Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Todos os dias
Parlez‐vous portugais... /Jamais /Rarement /Parfois /Souvent /Tous les jours
Em casa? /Chez vous?
Com a família? /En famille?
No banco?/À la banque?
Com amigos?/Avec des amis ?
Nos Correios?/À la Poste?
No trabalho, por necessidade
profissional?/Au travail?
Nas aulas?
/Pendant les cours?
Nas férias em Portugal?
/En vacances au Portugal?
Nas compras?/Aux courses ?
Ao telefone ou por vídeo chamada on
line ? /Au téléphone ou sur Internet ?
Outra/Autre____________________________

Miguel –
Seminário de Didática do Português (LE/LS) 2011/2012 Docente: Maria José Grosso

2. Contacta com a língua portuguesa? Êtes‐vous en contact avec la langue portugaise?


Tem o hábito de ler, ver, ouvir, consultar, em Nunca Raramente Às vezes Muitas vezes Todos os dias
português.../Avez‐vous l’habitude de lire,
regarder, écouter ou consulter, en portugais... /Jamais /Rarement /Parfois /Souvent /Tous les jours
...livros, revistas e jornais? / des livres,
des magazines ou des journaux?
... televisão? la télévision?
...música ou rádio? de la musique ou la radio?

Internet?
dicionários, gramática...?
/des dictionnaires, une grammaire...?
outro/autre ____________________________

3. Para si, quais são as vantagens de falar português? Pour vous, quels sont les avantages de
parler portugais?
Avalie as vantagens de 1 a 5/Évaluez les avantages de 1 à 5 1 2 3 4 5
Fazer novas amizades/Faire des amis
Facilitar o exercício da sua atividade profissional
/Favoriser votre performance professionnelle
Manter a sua cultura/Préserver votre culture
Facilitar a integração na comunidade portuguesa
/Rendre plus facile l’intégration au sein de la communauté portugaise
Favorecer o acesso ao mercado de trabalho/Favoriser l’accès au marché du travail

Outras/Autres __________________________________________________________________________________________________

4. Na sua opinião, no mundo atual é mais importante aprender francês ou aprender português
ou é tão importante aprender uma como outra? D’après vous, dans le monde actuel, est‐il plus
important d’apprendre le français, d’apprendre le portugais ou est‐il si important d’apprendre
l’une ou l’autre? Escolha apenas uma opção./Donnez une seule réponse.
a. É mais importante o francês
b. É mais importante o português
c. São igualmente importantes

D – A DIMENSÃO COGNITIVA / LA DIMENSION COGNITIVE

1. De 1 a 5 (em que 1 é a nota mínima e 5 a nota máxima), classifique o seu nível de


proficiência em Português e em Francês nos vários parâmetros. Donnez une note de 1 à 5,
(sachant que 1 est la plus mauvaise note), à votre niveau de compétence en Portugais et en
Français dans tous les paramètres.
1 2 3 4 5
Expressão oral (parler)
Expressão escrita (écrire)
Nível a Francês: Compreensão oral (écouter)
Compreensão escrita (lire)
Expressão oral (parler)
Expressão escrita (écrire)
Nível a Português: Compreensão oral (écouter)
Compreensão escrita (lire)

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2. Tem dificuldade em fazer‐se entender quando Nunca Às vezes Muitas vezes


necessita de comunicar em português? Avez‐vous du /Jamais /Parfois /Souvent
mal à vous faire comprendre en portugais?

3. Considera‐se bilingue ? Vous considérez‐vous bilingue ? ☐Sim/Oui ☐Não/Non

4. De 1 a 5 (em que 1 é o menor e 5 é o maior), classifique o grau de dificuldade dos seguintes


aspetos da língua portuguesa. Jugez de la difficulté de tous les domaines d’apprentissage ci‐
dessous de la langue portugaise en choisissant un niveau de 1 à 5 (sachez que 1 est le plus petit
degré de difficulté et 5 le plus grand).
1 2 3 4 5
A pronúncia/La prononciation
A ortografia/L’ortographe
O vocabulário/Le vocabulaire
A posição das palavras na frase/La place des mots dans la phrase
A conjugação dos verbos/La conjugaison verbale

Outros/Autres _____________________________________________________________________________________________________________

5. Com que frequência recorre às estratégias seguintes quando necessita de se fazer entender
em português? Avec quelle fréquence employez‐vous les stratégies suivantes pour mieux vous
faire comprendre quand vous parlez portugais?
Nunca Às vezes Sempre
/Jamais /Parfois /Toujours
Falo mais devagar/Je parle moins vite.
Pronuncio bem as palavras/J’articule soigneusement mes mots.
Repete as palavras/Je répète mes mots.
Faz gestos/Je fais des gestes.
Mistura o francês/Je mélange du français.
Tenta fazer frases mais simples/J’essaie de faire des phrases plus simples.

Outra(s)/Autre(s) _________________________________________________________________________________________________________

6. Conhece bem Portugal e a cultura portuguesa? (Avalie esse 1 2 3 4 5


conhecimento de 1 a 5) Connaissez‐vous bien le Portugal et la culture
portugaise? ( Évaluez vos connaissances de 1 à 5)

7. Em quantos países acha que o português é língua oficial? D’après a. 3 países/pays


vous, le portugais est la langue officielle de combien de pays ? b. 7 países
c. 10 países
d. 15 países

8. No mundo, acha que há mais falantes nativos de francês ou de português? Dans le monde
entier, d’après vous, y‐a‐t‐il plus de parlants natifs de français ou de portugais?
☐ a. Mais falantes nativos de francês/Plus de parlants natifs de français
☐ b. Mais falantes nativos de português/Plus de parlants natifs de portugais

9. Em termos de desenvolvimento humano, em que posição colocaria Portugal numa


classificação a nível mundial? En termes de développement humain, à quelle place situeriez‐
vous le Portugal au classement mondial?
a. Entre 1º e 25º lugar/Entre la 1ère et la 25ème place
b. Entre 26º e 50º
c. Entre 51º e 75º
d. Entre 76º e 100º
e. Abaixo de 100º/Au delà de la 100ème place

Miguel –
Seminário de Didática do Português (LE/LS) 2011/2012 Docente: Maria José Grosso

10. Numa linha, defina Portugal e os portugueses. En une ligne, définissez le Portugal et les
portugais
Portugal: ____________________________________________________________________________________________
Os Portugueses: ____________________________________________________________________________________

E – A DIMENSÃO CONATIVA / LA DIMENSION CONATIVE

1. Gostaria de aperfeiçoar o seu português? Souhaiteriez‐vous Sim /Oui Não /Non


améliorer votre niveau en portugais?

2. Já alguma vez teve aulas de português em França? Avez‐vous déjà Sim /Oui Não /Non
suivi des cours de portugais en France?

3. Na sua opinião, porque é que as aulas de português não têm mais procura, em França?
Ordene as razões no quadro de 1 até 4 conforme o grau de importância (em que 1 é o mais
importante). / D’après vous, pourquoi n’y‐a‐t‐il a pas davantage d’élèves de portugais en
France ? Classez par ordre de 1 jusqu’à 4 (1 représente le degré le plus important) selon le degré
d’importance les raisons énoncées dans le tableau ci‐dessous.

Os alunos preferem aprender outras línguas/Les élèves préfèrent apprendre d’autres langues
Falta de tempo/Le manque de temps
Falta de oferta formativa/Le manque d’offre de formation
A distância dos locais de formação/La distance des locaux de formation

Outra/Autre ________________________________________________________________________________________________

4. Na sua opinião, o que é que poderia contribuir para aumentar o número de alunos de português em
França? Ordene as medidas no quadro de 1 até 4 conforme o grau de importância (em que 1 é o mais
importante). /D’après vous, qu’est‐ce qui pourrait contribuer à une augmentation du nombre d’élèves de
portugais en France? Classez par ordre de 1 jusqu’à 4 (1 représente le degré le plus important) selon le
degré d’importance les mesures énoncées dans le tableau ci‐dessous.

Mais professores/Un plus grand nombre de professeurs


Maior divulgação das vantagens da língua portuguesa/Une plus grande divulgation des avantages
Mais cursos/Davantage d’offre de formation en langue portugaise
Cursos mais funcionais/Une formation plus orientée vers les besoins langagiers
Outra/Autre _____________________________________________________________________________________________________________

5. Se um dia a sua família deixasse de falar português, como reagiria? Si un jour votre famille ne savait
plus parler le portugais, comment réagisseriez‐vous?

☐a. Bem/Bien ☐b. Mal ☐c. É‐lhe indiferente./Cela serait indifférent. ☐d. É impossível/C’est impossible

6. Já se sentiu discriminado em França por ser de origem portuguesa? Sim


Não /Non
Vous êtes‐vous déjà senti discriminé en France en raison de votre origine /Oui
portugaise?

7. Já se sentiu discriminado em Portugal por ser emigrante em França? Sim


Não /Non
Vous êtes‐vous déjà senti discriminé au Portugal parce que vous étiez /Oui
émigré en France ?

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Para uma Didática do Português nas Comunidades Migrantes

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