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Para poder compreender bem a situação dos lusófonos, a sua vida quotidiana, é
necessário saber o que é a interculturalidade. A interculturalidade tem lugar quando duas
ou mais culturas entram em interação de uma forma sinérgica, quando estas culturas
cooperam uma com a(s) outra(s). Nesta interculturalidade, nenhum dos grupos deve
encontrar-se acima de qualquer outro, o essencial é que se favoreça a integração e a
convivência das pessoas dentro de uma comunidade.
Este tipo de relações interculturais implica o respeito pela diversidade e, se bem que
o surgimento de certos conflitos seja inevitável em alguns casos, os problemas poderão ser
resolvidos através do respeito mútuo e do diálogo. A interculturalidade resulta sempre de
uma negociação (a compreensão dos outros e a evitação dos confrontos), de uma
penetração (sai do próprio lugar para tomar o ponto de vista dos outros) e de uma
descentralização (uma perspetiva de reflexão).1
Por causa destes fatores abaixo mencionados é que a interculturalidade se distingue
do multiculturalismo. Multiculturalismo existe em toda a parte. Multiculturalismo significa
somente que há diversas culturas, uma ao lado da outra, mas estas culturas não estão em
cooperação. Se examinamos da maneira mais simples o que é multiculturalismo, podia-se
dizer que o mundo é um multiculturalismo porque as culturas vivem somente uma ao lado
da outra. A França é um exemplo ótimo onde o multiculturalismo é significativo porque
vivem lá negros, islâmicos, brasileiros, etc. mas como a França é um país muito
nacionalista, na prática não existe verdadeiramente a interculturalidade, a cooperação das
nações, a mistura dos costumes (exceto na Alsácia por exemplo onde a cultura germânica
coexiste com a francesa).
Os Descobrimentos
Tudo começou com os Descobrimentos quando os povos europeus começaram a
conquistar por pouco o mundo inteiro e estabeleceram as suas colónias nos diferentes
continentes. Estes povos mais importantes são os ingleses, os espanhóis, os portugueses e
os franceses; povos cujas línguas estão entre as mais importantes no mundo de hoje. Há
que destacar que Portugal é um dos povos que teve as suas colónias na maior parte dos
continentes: na África, na América, na Ásia, na Oceânia. Estas ex-colónias são O Brasil,
Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, as ilhas de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor
Leste, Goa, Diu, Macau, etc. São territórios de tamanho imenso, médio ou minúsculo mas
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Conceito de Interculturalidade. 2011. Acesso em 7 de maio de 2012, em: http://conceito.de/interculturalidade
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os Descobrimentos portugueses são uma etapa muito importante na vida destes países ou
destas cidades e o destino de cada um foi selado com a chegada dos portugueses.
Porém, por outro lado, o Brasil é o país em que a interculturalidade é a mais Brasil
relevante. Este facto pode ser devido a duas coisas: uma é a extensão territorial do país que
é extremamente grande, a outra é que, devidamente ao tamanho do território, já na época
da colonização existiam diversas tribos com as quais, durante os séculos, se misturaram
não só os colonizadores portugueses mas também os negros africanos. O aparecimento dos
africanos no Brasil é uma consequência da escravatura. Deste modo, os negros africanos,
os brancos portugueses, as tribos índias e o resultado desta mistura de raças, os mestiços e
os mulatos constituem a população do Brasil com uma grande quantidade de costumes que
se convergem. A isso se adiciona ainda a imigração dos povos mais diversificados do
mundo como por exemplo os japoneses ou os alemães que vivem sobretudo nas
megalópoles onde a diversidade cultural é natural e se bem que haja alguns conflitos às
vezes, destas cidades não podíamos imaginar outra imagem. Os exemplos mais relevantes
e significativos são os de São Paulo e do Rio de Janeiro. O Brasil é assim um representante
e um símbolo importante da diversidade étnica e do sincretismo cultural para todo o
mundo.
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através da mescla com as populações locais foi a única solução para aumentar a expansão
do Império Português. Esta política de casamentos mistos foi posta em prática por Afonso
Albuquerque logo depois da conquista de Goa (1510).2
O nascimento da sociedade luso-indiana, por outra parte pode ser devido à
conversão religiosa. Na sociedade goesa, vários aspetos salientam a fusão das culturas mas
na religião é que esta síntese é o mais facilmente reconhecível. O catolicismo e o
hinduísmo estão em oposição. Duas religiões tão diferentes estão no entanto juntas em
Goa, em convivência. Goa tornou-se o centro católico do Oriente. Muitos hindus foram
convertidos ao catolicismo mas não se podia executar este plano da maneira perfeita. Em
termos sociais, a influência hindu permitiu que, em Goa, os convertidos ao catolicismo
mantivessem o sistema de castas.3 Por isso é que existe esta ambiguidade em Goa. Por
conseguinte, pode-se dizer que Goa é um lugar único porque não é só um pequeno estado
como uma grande cidade, na Índia que já é por si mesma uma fusão de línguas, etnias,
costumes; onde estas religiões tão distantes vivem em paz, uma ao lado da outra. Uma
protagonista d’A dama de Chandor também justifica esta diversidade. Ela é católica mas
diz que sempre se sentiu perto da cultura hindu.
No que concerne este sincretismo cultural, é necessário constatar que há lados
negativos que têm mais ou menos influência ainda hoje. Isso é a educação. Também n’A
dama de Chandor se pode saber que, durante a ditadura salazarista, os habitantes de Goa
não eram considerados goeses e mesmo eles não se podiam considerar goeses mas
portugueses. E para intensificar este sentimento e esta identidade, os habitantes de Goa
tinham de aprender na escola a cultura, a história e a geografia de Portugal. Por
conseguinte, não sabiam quase nada mesmo sobre a sua pátria, mas ‘conheciam bem’ um
país, o Império Português que algumas pessoas nunca tinham visto.
A interculturalidade manifesta-se no campo da música também. Na Pátria Incerta
pode-se conhecer um pouco o “mandó” que é um género musical tipicamente goês que
surgiu no século XIX entre os católicos de Goa. Esta espécie de música é o resultado do
encontro entre a música indiana e a música europeia. É muito semelhante ao fado que é
obviamente português mas a língua em que é cantada é o concanim, a língua de Goa.4
Pequenos pormenores deste tipo mostram que cada fragmento da vida tem um papel
importante numa comunidade mesclada de diferentes culturas. Pequenos pormenores como
os abaixo mencionados e ainda ‘menores pormenores’ existem como por exemplo no
campo das celebrações das festas que estão igualmente em conexão com as religiões, e no
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OLIVEIRA, João Paulo. A Interculturalidade na Expansão Portuguesa (Séculos XV-XVIII) [versão eletrónica].
Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), 2007. Acesso em 7 de maio de 2012, em:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_Portugal_Intercultural/1_Expansao_Portuguesa.pdf. p. 97
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OLIVEIRA, João Paulo. A Interculturalidade na Expansão Portuguesa (Séculos XV-XVIII) [versão eletrónica].
Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), 2007. Acesso em 7 de maio de 2012, em:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_Portugal_Intercultural/1_Expansao_Portuguesa.pdf. p. 99
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RIBEIRO, Fernando. Mandó. 2012. Acesso em 7 de maio de 2012, em:
http://amateriadotempo.blogspot.com/2012/04/mando.html
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campo dos pequenos costumes que para um europeu podem parecer muito insignificantes
mas para os goeses não são: que roupas vestir, que talher utilizar para comer? É necessário
seguir o modelo europeu ou o modelo indiano? Estes fatores podem causar uma enorme
confusão na mente e na etnia das pessoas de uma sociedade tão miscigenada. Porém, Goa é
aquilo que é hoje, devido a estas propriedades porque não existe outro território no mundo
que seja tão único como este com uma mescla tão específica de diferentes aspetos da vida.
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à sua cultura. Foram oprimidos pelos soldados portugueses. Porém, a situação dos soldados
era mostrada de uma forma diferente da que era na realidade. Em Portugal, na televisão era
mostrado que nas colónias todos se sentiam bem. A guerra colonial era representada como
se não tivesse sido mesmo uma guerra verdadeira e diziam que não era necessário lutar,
que não oprimiam nenhumas culturas mas só dominavam, só cumpriam um serviço militar.
Sabe-se porém que os soldados eram obrigados a lutar em Moçambique e eles também
tinham medo das devastações da guerra. Por isso é que ocorreu a Revolução dos Cravos a
25 de Abril de 1974, levada a cabo pelos soldados das Forças Armadas, para pôr termo à
ditadura militar. Neste filme também aparece um elemento artístico, intercultural,
nomeadamente as Canções do Niassa. Estas canções foram escritas pelos soldados, à base
de canções de fado já existentes em Portugal. Estes escreveram novas letras que exprimiam
os sentimentos dos soldados, relacionados com a guerra na África. Estas canções gravadas
clandestinamente são tristes, exprimem o medo e o enfartamento dos soldados e descrevem
como viviam eles na província Niassa, em Moçambique.
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favoritos e mais frequentes dos angolanos são o basquetebol e o futebol. Dois desportos
tipicamente europeus até com nomes ingleses num país tipicamente africano. Quanto à
música, os angolanos gostam tanto da música folclórica tradicional como da música
moderna porque eles fazem tão música que tem sempre mensagem. A música tradicional
angolana é o kuduro que provém de uma dança com o mesmo nome. Este tipo de música
está já espalhado por exemplo pelo Brasil que é o maior lugar dos encontros e cruzamentos
culturais lusófonos.
Conclusão
A síntese destes espaços lusófonos ‘percorridos’ através dos documentários mostra
bem que para viver em paz, é indispensável respeitar os outros. É necessário respeitar os
costumes, as religiões, os modos de viver, as raças dos outros povos para que a
interculturalidade se possa realizar. A ideia da xenofobia está muito afastada da
interculturalidade pois a interculturalidade é em si mesma o resultado da tolerância, do
diálogo, do respeito mútuo, da atitude de compreensão e da complementaridade. Porém, no
multiculturalismo, a xenofobia, os confrontos também podem ganhar terreno, sobretudo
onde os diferentes povos estão em oposição e não conseguem reconciliar-se e cooperar um
com outro.
Pode-se verificar que não existe nem uma comunidade, nem uma nação, nem um
país onde haja monoculturalismo, pois o mundo não para de mudar porque ao longo da
história sempre se cruzam com novos povos, com novas etnias, o que forma e altera a
mentalidade e o modo de pensar. A permanente busca da sua identidade faz parte do
caminho de cada povo. Olhar para trás à procura das estradas que se cruzam e deram
origem ao que somos hoje é um exercício fundamental para nos compreendermos. E por
destino, devemos ambicionar a ser «plurais como o Universo», como sonhava Pessoa.5
No mundo lusófono de tantas espécies de cultura, de história e de raças, o elemento
comum é com certeza a língua portuguesa. Para que os espaços lusófonos sejam uma
comunidade mais solidária, foi estabelecida em 1996 a Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) cujos membros hoje são Portugal, o Brasil, Angola, Moçambique,
Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Há territórios que, se bem
que tenham como língua oficial ou não oficial o português, não são membros da CPLP.
Isso é o caso dos territórios da Índia como Goa, Diu, Damão; ou Macau na China. E há
partes do mundo onde o português ganha cada vez mais terreno como por exemplo no
Uruguai, ao longo da fronteira com o Brasil, onde o ensino do português se tornou
obrigatório.6
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OLIVEIRA, João Paulo. A Interculturalidade na Expansão Portuguesa (Séculos XV-XVIII) [versão eletrónica].
Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), 2007. Acesso em 7 de maio de 2012, em:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_Portugal_Intercultural/1_Expansao_Portuguesa.pdf. pp. 5-6
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WIKIPÉDIA. Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. 2012. Acesso em 7 de maio de 2012, em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Comunidade_dos_Pa%C3%ADses_de_L%C3%ADngua_Portuguesa
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Referências, fontes
GONÇALVES, Inês. Pátria Incerta. [Filme], Portugal: Filmes do Tejo II, 2006.