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Continuada a Distância
Curso de
Imunonutrição
MÓDULO II
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos na bibliografia consultada.
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SUMÁRIO
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1.0 Introdução
“A Nutrição clínica está fazendo parte de uma nova era e desta forma, não deixa dúvidas
sobre o seu papel fundamental como importante auxiliadora no tratamento terapêutico dos
pacientes. Um dos maiores direcionamentos aponta que é através da dieta que se atinge
a atividade ótima do sistema imunológico.” (Van Buren, 1990)
De fato, a relação entre doença e imunonutrição tem recebido cada vez mais
atenção da ciência, devido à capacidade dos imunonutrientes de modular os processos
imunológicos, metabólicos e inflamatórios, resultando em efeitos benéficos no tratamento
de pacientes críticos.
Pacientes cirúrgicos, sépticos ou com trauma, são os que mais se beneficiam da
imunonutrição, pois encontram-se em estado de hipercatabolismo e hipermetabolismo,
apresentando perda de peso, balanço nitrogenado negativo e disfunção imunológica.
Estas condições facilitam o aparecimento de desnutrição aguda e complicações
infecciosas e, consequentemente, há uma aumentada incidência de morbidade e
mortalidade (MARQES, 2008; BASTIAN & WEIMANN, 2002).
Imunonutriente é definido como um nutriente que proporciona benefícios
específicos para o sistema imunológico. Aminoácidos, assim como outros fatores
nutricionais têm sido demonstrados por influenciar positivamente muitas funções
imunológicas e atuar em funções fisiológicas específicas, como no sistema
gastrointestinal (YAMAUCHI et al., 2002).
Atualmente, há grande avanço nos estudos que avaliam os diversos nutrientes
imunomoduladores, como a arginina, glutamina, ácido graxo ômega 3 (n-3) e nucleotídeos
em pacientes críticos. Os resultados nessa área de pesquisa mostram efeitos favoráveis
para pacientes tratados com dieta imunomoduladora em relação a dieta padrão. Os
benefícios englobam a melhora da barreira imunológica com a glutamina; ação anti-
inflamatória com o n-3; aumento do número de linfócitos T (célula de defesa imunológica)
com a arginina e nucleotídeos, dentre outros.
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Nesta unidade, serão focados os aminoácidos arginina e glutamina, com
considerações a respeito do seu metabolismo, funções imunológicas e principais usos
clínicos (MARQES, 2008).
2.0 ARGININA
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L-Arginina
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excessiva de óxido nítrico em doentes críticos, que gera a instabilidade hemodinâmica e
conseqüentemente, o choque (CHIARLA et al., 2005; SUCKHOTNIK et al., 2005).
2.2 Metabolismo
2.2.1 Síntese
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Desta forma, em última análise, a síntese de arginina é dependente do
metabolismo intestinal, uma vez que os enterócitos sintetizam citrulina do L-glutamato, L-
glutamina e L- prolina (EVANS et al., 2004; TAPIERO et al., 2002).
2.2.2 Catabolismo
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Fonte exógena/
endógena
Uréia
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2.2.3 Produtos do Catabolismo da Arginina
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2.2.3.2 Óxido Nítrico Sintase – Produção do Óxido Nítrico
Figura 4: Síntese de óxido nítrico a partir da L-arginina (FILHO & ZILBERSTEIN, 2000).
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O ON é um potente regulador vasoativo, neuromodulador e molécula sinalizadora.
Durante a inflamação, age mediando mecanismos de citotoxidade e defesa não específica
do hospedeiro. É o principal fator de relaxamento derivado do endotélio, melhorando a
vasoconstrição e aumentando o fluxo sanguíneo em tecidos injuriados (SAMEL et al.,
2003).
Quando expostas a lipopolissacarídeos presentes na parede bacteriana ou
citocinas pró inflamatórias como IL-1, TNF-α e INF-γ, muitas células expressam iNOS,
podendo gerar grandes quantidades de óxido nítrico. A expressão aumentada da iNOS
tem sido demonstrada em desordens como: destruição da mucosa, sepse e sintomas
clínicos inerentes a essa condição. No entanto, também pode contribuir para processos
de recuperação (LUIKING & DEUTZ, 2003).
Desta forma, existem controvérsias quanto aos efeitos do ON. ON possui potentes
efeitos bactericidas contra grande variedade de microorganismos, no entanto, situações
de excesso na sua produção induzidas pelo estímulo inflamatório podem ocasionar efeitos
tóxicos sobre as células do hospedeiro. Uma vez que a suplementação com a arginina
está associada ao estímulo a NOS e conseqüente elevação da produção de óxido nítrico,
seu uso tem sido bastante controverso (HARDY et al, 2006; NADLER & FORD, 2000;
DEITCH et al., 2002).
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essas, essenciais no processo inflamatório. Pacientes que receberam dietas
suplementadas com imunonutrientes, dentre eles a arginina, recuperaram a contagem de
CD4+ em menores períodos de tempo do que pacientes que receberam dietas
convencionais. Notou-se também maior produção de IL-2 e INF-γ (OHOA et al., 2004).
A arginina pode participar da resposta inflamatória sistêmica por meio da produção
de óxido nítrico via iNOS que, ocorre predominantemente em macrófagos ou pela
utilização da arginina para manutenção da função normal e proliferação de linfócitos T
(BANSAL & OCHOA, 2003).
Assim, o aporte exógeno de arginina está acompanhado de um aumento na
proliferação de monócitos e linfócitos, aumentada formação de células T-helper, ativação
da citotoxidade de macrófagos, reforço na atividade de células natural-killers, aumentada
fagocitose, bem como aumentada produção de citocinas. Estes efeitos incluem a arginina
no conceito de fórmulas que levam ao aumento na resposta imunológica (SUCHNER et
al., 2002).
Macrófagos utilizam a arginina como um substrato importante para muitas de suas
funções. Em repouso, os macrófagos possuem mínima utilização de arginina. Porém,
quando ativados, o aminoácido é ativamente transportado para o interior celular, pois na
inflamação, os macrófagos são os responsáveis primários pela expressão da iNOS.
Durante a infecção severa e sepse, as citocinas pró inflamatórias T-helper 1 (TH1), tais
como interleucina (IL)-1, TNF (fator de necrose tumoral)-α e interferon (IFN)-γ, que
induzem a iNOS são produzidas (HARDY et al., 2006; STECHMILLER et al., 2004;
JORENS et al., 1995).
O óxido nítrico gerado é um importante componente da defesa não específica do
hospedeiro, mostrando-se efetivo contra parasitas intra e extracelulares. Desta forma, o
ON é capaz de mediar os efeitos citotóxicos dos macrófagos, atingindo as células de
forma inespecífica, ou seja, com atuação sobre as células de patógenos ou do próprio
hospedeiro (BANSAL & OCHOA, 2003; HARDY et al., 2006).
A arginina também aumenta a fagocitose pelos neutrófilos e adesão de células
polimorfonucleares, atividades que ajudam na produção de polimorfonucleares para
imunomodulação (STECHMILLER et al., 2004).
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2.4 Arginina: Usos Clínicos
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pulmões. A inibição da NOS também aumentou rolamento e adesão de leucócitos. Todos
estes efeitos foram revertidos após a administração de arginina (ZALOGA et al., 2004).
Entretanto, é possível que a produção excessiva de ON possa levar a hipotensão,
depressão cardíaca (ZALOGA et al., 2004) e injúrias tissulares pela alta formação de
peroxinitrito. Excesso de ON também pode ser prejudicial para a integridade do epitélio
intestinal, por meio da dilatação das junções tight, alteração do citoesqueleto e inibição da
síntese de ATP, resultando no aumento da permeabilidade intestinal.
Por isso, não se recomenda o uso de arginina em pacientes sépticos,
principalmente aqueles com escore APACHE II (que indica a gravidade da doença) > ou =
a 15.
3 GLUTAMINA
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novo é classificada como aminoácido não essencial. No entanto, apesar do organismo ter
grande reserva de glutamina e poder sintetizá-la em grande quantidade, estados
catabólicos como trauma e sepse são caracterizados por maior taxa de consumo deste
nutriente, o que excede sua produção máxima. Sendo assim, o termo aminoácido
condicionalmente essencial é o mais apropriado para designar a glutamina (LABOW &
SOUBA, 2000; ZIEGLER et al., 2003; OGUZ et al., 2007).
Vários tecidos e células no organismo utilizam a glutamina em alta taxa. Entre eles
incluem-se o intestino, os rins, o fígado, os neurônios no sistema nervoso central, as
células hematopoiéticas e do sistema imunológico e células β pancreáticas
(NEWSHOLME et al., 2003; IWASHITA et al., 2005).
Sob condições fisiológicas e em estado pós-operatório, o intestino delgado é o
principal órgão consumidor de glutamina. Metabolicamente, a mucosa do intestino
delgado é caracterizada por alto consumo de glutamina, que serve como fonte metabólica
para os enterócitos e é fator principal para a manutenção da função e da integridade da
mucosa intestinal (PLAUTH et al., 1999; POWELL-TUCK, 2007).
3.2 Metabolismo
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corporal (Figura 6). A liberação de glutamina a partir dos músculos esqueléticos é
estimulada durante condições de estresse como operações e queimaduras, o mesmo
ocorre nos pulmões (NEWSHOLME et al., 2003).
Embora os pulmões não tenham a massa tecidual ou o conteúdo de proteína dos
músculos, ainda contém concentrações equivalentes da enzima glutamina sintetase
(LABOW & SOUBA, 2000).
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em depleção do “pool” intracelular deste aminoácido (MOSKOVITZ et al.,1994; TAPIERO
et al., 2002).
O metabolismo de glutamina nos rins é essencial para o controle ácido-básico do
plasma, e combate à acidose pela produção de amônia (NH3) urinária. A amônia é obtida
pela quebra da glutamina em glutamato. A NH3 é exportada do lúmen do tubo coletor e
combina-se com o H+ para formar o íon amônio (NH4+) que é perdido na urina. O H+ é
obtido do ácido carbônico que se dissocia e forma bicarbonato (HCO3-) e H+. O HCO3 -
entra na circulação e mantém o pH sanguíneo (NEWSHOLME et al., 2003; McGIVAN &
BUNGARD, 2007).
No intestino a glutamina serve como substrato energético e é convertida em
amônia e glutamato que são liberados na veia porta e extraídos pelo fígado antes de
alcançar a circulação sistêmica (LABOW & SOUBA, 2000; NOSE et al., 2002).
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produção de glicose total do organismo. Em estados pós-absortivos a glutamina é
importante precursora de glicose e contribui na adição de um novo carbono para formar
glicose, sendo, portanto, a ligação entre o metabolismo de carboidratos e de proteínas
(YONG & AJAMI, 2001; TAPIERO et al., 2002; CURI et al., 2005).
A função antioxidante da glutamina é exercida pela glutationa, formada por
glutamina, cisteína e glicina, podendo se apresentar no estado oxidado (GSSG) ou
reduzido (GSH). O conteúdo de glutationa na mucosa intestinal pode diminuir em casos
de doença inflamatória do intestino ou após período de restrição protéica, ocasionando
depleção da GSH na mucosa e favorecendo o estresse oxidativo (TOWNSEND et al.,
2003; MELIS et al., 2004).
A glutationa é capaz de contrabalançar a injúria oxidativa causada pelas espécies
reativas de oxigênio (ROS), que são importantes mediadores da inflamação e
responsáveis pelo aumento da permeabilidade intestinal, depleção do ATP intracelular e
inibição da troca de sódio/potássio. O aumento do estresse oxidativo é a maior causa de
danos teciduais e pode levar ao desenvolvimento de falência múltipla dos órgãos
(WESTMAN et al., 2006; POWELL-TUCK, 2007).
Após trauma cirúrgico, a concentração fisiológica de glutationa no músculo
esquelético diminui, o que pode indicar estresse oxidativo com potente injúria tecidual.
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Em situações de estresse a utilização de glutamina pelas células intestinais
aumenta significativamente, devido ao estresse oxidativo e à depressão das defesas
imunológicas (XU et al., 2006; KUMAR et al., 2007).
A suplementação de glutamina em nutrição enteral e parenteral melhora o
crescimento, o reparo, a função da mucosa intestinal e o balanço nitrogenado em casos
de atrofia intestinal e injúria em animais (ZIEGLER et al., 2000).
Durante o estado de morbidade o intestino é o órgão alvo da injúria, que se
manifesta pela alteração da função das células intestinais e aumento da permeabilidade,
seguido de hipóxia, estresse oxidativo e exposição a citocinas (WISCHMEYER, 2006).
A glutamina é ainda conhecida por modular a função imunológica celular e a
produção de citocinas. Desta forma, deficiência de glutamina em estados críticos está
associada com resposta imunológica prejudicada e aumento da susceptibilidade à
infecção. Isso ocorre em função da utilização da glutamina, em altas taxas, por células
isoladas do sistema imunológico como os macrófagos, os linfócitos e os neutrófilos
(ANDREWS & GRIFFITHS, 2002; CURI et al., 2007).
A ativação dos macrófagos, in vivo ou in vitro leva ao aumento significativo da
utilização de glutamina (NEWSHOLME, 2001; GOEL & GANGOLLY, 2007). O
fornecimento de glutamina exógena para animais ou humanos infectados ou
estressados pode elevar a concentração plasmática ao nível fisiológico e melhorar a
resposta imunológica (NEWSHOLME, 2001).
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