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Avaliação de Depósitos

Técnicas diretas de investigação


do subsolo: perfuração. Quando perfurar
e quando parar?

Prof. Dr. Luis Eduardo de Souza


Introdução
A construção de obras civis, a elaboração de estudos
ambientais e a definição de jazidas minerais são alguns
exemplos de atividades que necessitam de trabalhos para
caracterização das condições geológicas e geotécnicas dos
materiais de superfície e subsuperfície visando:

● a determinação da extensão, profundidade e


espessura das camadas;

● a descrição de características mineralógicas,


litológicas, texturais, estruturais;

● a determinação da presença de água subterrânea;


● a obtenção de dados sobre propriedades
mecânicas e hidráulicas dos solos e rochas, tais como:

 resistência à compressão;

 resistência ao cisalhamento;

 grau de fraturamento;

 ângulos de atrito e de repouso;

 porosidade;

 permeabilidade.
As principais técnicas utilizadas para a investigação de
superfície e de subsuperfície são:

● interpretação de imagens (sensoriamento


remoto);

● mapeamento geológico;

● ensaios geofísicos (métodos indiretos);

● investigações por métodos diretos.


Investigação por métodos
diretos

Os métodos diretos de investigação objetivam a obtenção


de comprovações físicas do material do subsolo, por meio
de amostras deformadas e indeformadas, bem como
medições de espessuras dos diversos materiais até uma
determinada profundidade programada. Os principais
métodos de investigação em estudos geológico-geotécnicos
são:

● poço ou trincheira de inspeção;

● galeria de investigação;
● sondagem a trado;

● sondagem a percussão;

● perfuração com rotopercussão;

● sondagem rotativa

 com recuperação de testemunho.


Nas fases iniciais de qualquer projeto, é comum o emprego
de métodos mais simples, ou seja, de menor custo unitário.

Após visitas técnicas ou de reconhecimento preliminar, a


investigação dos terrenos para construção de obras civis ou
instalação de depósitos de resíduos urbanos, por exemplo,
é iniciada com sondagens a trado, que visam identificar os
tipos de solos presentes, sua espessura, distribuição, etc.

Nas investigações de terrenos não-coesos, especialmente


para localização de material para construção (ou agregados,
como areia e brita), é frequente o uso de sondagens a
varejão.
Também nas fases iniciais de um projeto, são realizadas
sondagens a trado e, obtendo-se resultados positivos,
escavados poços ou trincheiras, com a finalidade de se
obter amostras indeformadas de solos ou para mapear as
paredes dos poços ou trincheiras, buscando reconhecer as
estruturas geológicas que possam interferir no
empreendimento.

A medida que as investigações avançam e dependendo das


necessidades, aumenta-se o número de sondagens e estas
passam, gradativamente, para as mais sofisticadas
(percussão e rotativa), que apresentam maior custo
unitário.

Além disso, as profundidades de investigação tornam-se


cada vez maiores e dirigidas a alvos específicos.
As sondagens a percussão são executadas com a finalidade
de se obter amostras pouco deformadas e valores
quantitativos de resistência dos solos por meio de ensaios
expeditos padronizados, denominados SPT (Standard
Penetration Test).

A obtenção de amostras de testemunhos de sondagem visa


não apenas a identificação da litologia e estruturas
geológicas, mas também a identificação das características
geotécnicas dos materiais e das descontinuidades. Assim, a
descrição dos testemunhos são realizadas de maneira a
também classificar o maciço rochoso em função de sua
resistência e qualidade.

Os métodos de investigação direta podem ser divididos,


também, de acordo com sua capacidade de fornecer ou
permitir a coleta de amostras deformadas ou indeformadas.
Perfuração
A perfuração é um dos mais importantes procedimentos de
exploração mineral e, potencialmente, um dos mais caros.

O custo da perfuração diamantada com recuperação de


testemunhos, por exemplo, varia em função das condições de
acesso e da velocidade de avanço que depende, por exemplo:

● do tipo de rocha;

● da profundidade;

● do diâmetro;

● da habilidade e experiência do operador.


Assim, os custos de perfuração podem variar, atualmente, de
US$ 80 a US$ 200 por metro perfurado.
Fácil acesso por rodovia com
infraestrutura de água e
energia.
Maiores dificuldades de acesso e necessidade de prever
fornecimento de água e insumos.
Maiores dificuldades de acesso,
licenciamento ambiental para
abertura de praça e supressão
vegetal.
Normalmente, métodos geofísico indiretos precedem
campanhas geoquímicas com coletas de amostras de solos e
rochas.
Cuidados:

● campanhas em equipe, principalmente em áreas


remotas, tanto para dar agilidade à coleta quanto por questões
de segurança;

● não usar joias ou bijuterias para evitar chances de


contaminação. Anéis, pulseiras e colares de ouro ou prata são
óbvios, mas existe um caso de uma empresa que descobriu
uma “anomalia” de paládio devida a um amostrador que estava
usando um anel de platina. O paládio e a platina ocorrem
juntos e pertencem ao grupo de metais platinóides;

● escolher peneiras de boa qualidade. Há casos de


soldas em peneiras que contaminaram amostras com chumbo e
cromo;
● madeira tratada usada em cercas pode contaminar o
solo;

● começar pelas linhas mais interessantes, assim se


mudar o tempo ou torcer o tornozelo não vai ser uma perda tão
grande.
Um programa bem executado de amostragem de solo e rocha
vai resultar num mapa de anomalias geoquímicas e o próximo
passo é a programação da sondagem.

Neste contexto, o propósito da sondagem é confirmar se a


anomalia é real e fornecer maiores evidências, bem como a
comprovação física, da existência do depósito.
O planejamento da sondagem vai depender do nosso objetivo:

● se queremos descobrir um novo depósito ou

● se queremos delinear recursos existentes.

Em um novo depósito ou área de interesse, malhas mais


abertas e regulares vão otimizar o nosso orçamento e permitir
coletar informações de forma mais abrangente.

Já a definição de recursos vai requerer uma malha mais densa


para permitir um maior nível de certeza e confiança.

Além disso, depósitos cujos teores variam bastante em curtas


distâncias (depósitos de Au) também vão requerer malhas mais
densas.
Planejar ou programar sondagens envolve sua locação em
superfície e continuidade em subsuperfície.
Métodos de perfuração
Como salientado anteriormente, há um grande número e
diferentes técnicas de perfuração. No entanto, na
exploração mineral há 3 tipos básicos, mais amplamente
empregados, que na ordem crescente de custos são:

● a sondagem a trado;

● a sondagem rotopercussiva;

● a sondagem rotativa com recuperação de


testemunho.
(A) Trado cavadeira, (B) trado torcido, (C) e (D) trados
helicoidais.
Broca sem partes móveis.
Brocas de diamantes naturais.
Brocas de diamantes sintéticos.
Desgaste em brocas de diamantes sintéticos.
Desgaste e fraturas.
As brocas com partes móveis podem ter de um a quatro
cones, sendo as mais utilizadas as tricônicas pela sua
eficiência e menor custo inicial em relação às demais. Elas
possuem dois elementos principais:

● estrutura cortante e

● rolamentos;

A ação da estrutura cortante das brocas tricônicas envolve a


combinação de ações de raspagem, lascamento,
esmagamento e erosão por impacto de jatos de água ou
lama.
Broca tricônica de dentes de aço.
Desgastes e fraturas.
Sondagem rotativa
Em sondagens rotativas, as rochas são perfuradas pela
rotação de um elemento cortante posicionado em contato
direto com a rocha, representado por coroa diamantada,
broca ou trépano. É recomendada para perfuração de
rochas cristalinas, em furos verticais ou inclinados.

É baseada na pressão exercida por força hidráulica e do


peso do ferramental de perfuração, exercidos na ferramenta
de perfuração, que pode ser diamantada para rochas
cristalinas ou bastante litificadas, ou constituída por widia
ou carbeto de tugstênio para perfuração de materiais de
dureza média, como rochas sedimentares.
O material cortado e recuperado é enviado à superfície por
meio do fluido de perfuração, que pode ser constituído por
água, lama ou ar, injetado no furo sob elevada pressão.

Outro procedimento de recuperação do material perfurado é


a partir de barriletes, que são hastes especiais que
armazenam cilindros de rocha ou testemunhos de
sondagem.
Recuperação de testemunhos

Na sondagem rotativa diamantada, o principal objetivo é a


recuperação de testemunhos contínuos do material
perfurado para definição estrutural, geotécnica, textural,
análises químicas, etc.

Usualmente utiliza coroa de perfuração em formato anelar,


cravejada de diamantes, para cortes de material em alta
rotação, sob a forma de cilindro.

Este tipo de perfuração permite a obtenção de furos


verticais ou inclinados, em profundidades superiores a 1000
metros, com equipamentos montados em caminhões ou
sobre plataformas móveis, sob esteiras, o que facilita o
acesso do equipamento em áreas acidentadas.
Coroas de perfuração diamantadas.
Independentemente do tipo de equipamento, eles são
constituídos por elementos básicos como: motor,
compressor, bomba para injeção de fluido no furo, tripé ou
torre, além da coluna de hastes de perfuração, barriletes,
calibrador e coroa diamantada, acoplados ao mandril e
cabeçote, responsáveis pelo movimento rotativo.

Os diâmetros das sondagens diamantadas são padronizados


e expressos nas bitolas X ou W. As hastes W apresentam
diâmetro externo maior, que reduz o espaço entre o
diâmetro do furo e a haste, permitindo maiores velocidades
de circulação do fluido de perfuração e limpeza mais rápida
do furo.
Diâmetros de sondagem diamantada W* e X

Denominação Diâmetro do Diâmetro do


furo (mm) testemunho (mm)

EW 37,71 21,46
AW 48,00 30,10
BW 59,94 42,04
NW 75,69 54,73
HW 99,23 76,20

XRT 29,4 18
EX 37,4 21
AX 47,6 30
BX 59,6 42
NX 75,3 54
H 98,8 61

* Padrão DCDMA (Diamond Core Drill Manufacturers Association)


Diâmetros de sondagem diamantada série Q*

Denominação Diâmetro do Diâmetro do


furo (mm) testemunho (mm)

AQ 48,0 26,8
BQ 60,0 36,2
NQ 75,8 47,4
HQ 96,0 63,0

* DNER – PRO 102/97


Os testemunhos de sondagem apresentam diâmetros
variáveis entre 18 e 76 mm, sendo que a velocidade de
avanço é influenciada pelo diâmetro da perfuração.

Geralmente, são utilizados diâmetros maiores no início da


perfuração, ou seja, ao longo do manto de intemperismo e,
ao atingir rocha cristalina ou litificada rasa, são adotados
diâmetros intermediários.

Pequenos diâmetros são adotados em sondagens de


pequena profundidade, em galerias ou no interior de furos
revestidos. O uso de revestimento é frequente em camadas
intemperizadas ou rochas inconsolidadas.
As hastes de perfuração são responsáveis pela transmissão
de movimento rotativo à coroa e pelo avanço da perfuração.
São constituídas de tubos de aço para circulação interna de
fluído, não têm costura e são tratados internamente com
aplicação de resinas para diminuição do desgaste interno e
corrosão.
O barrilete está situado entre a coroa de perfuração e as
hastes. É constituído de tubo oco e preenchido por
testemunho de sondagem, durante a perfuração.

O material armazenado pode ser extraído pela retirada de


toda coluna de perfuração ou através das hastes de
perfuração em sondagens do tipo wire line, o mais utilizado
atualmente, pois permite a recuperação de testemunhos de
forma contínua e rápida.

Existem três tipos básicos de barriletes:

● o tipo simples;

● o duplo rígido;

● o duplo livre (ou duplo móvel).


O barrilete do tipo simples é formado por um único tubo,
que armazena em seu interior o testemunho. Neste caso o
fluido de perfuração circula entre o testemunho e o
barrilete, algo que pode causar o desgaste do material,
caso seja pouco consolidado ou friável.
O barrilete duplo rígido é composto de um tubo interno e
outro externo, permitindo a circulação de fluido entre os
tubos. O testemunho ocupa o espaço do tubo interno, o que
proporciona a sua preservação, embora o giro do tubo
possa provocar o desgaste de materiais friáveis por
abrasão.
O barrilete duplo móvel é semelhante ao do tipo duplo
rígido, com a diferença do tubo interno não girar com o
ferramental e, portanto, proporciona maior preservação do
testemunho.
A operação da sondagem se faz por ciclos sucessivos de
corte e retirada dos testemunhos do interior do barrilete,
procedimento este denominado manobra.

O avanço em cada manobra depende da qualidade do


material que está sendo perfurado:

● em rochas de boa qualidade, o comprimento do


testemunho obtido em cada manobra pode ser igual ao
comprimento do barrilete (3 a 6 metros);

● quando ocorre perda ou destruição do material,


em terrenos de difícil amostragem ou quando a rocha
encontra-se muito fraturada ou intemperizada, o
comprimento de cada manobra deve ser diminuído, até o
mínimo necessário.
Para que o maciço rochoso seja bem representado pelo
testemunho, recomenda-se que em cada manobra o
comprimento da amostra não seja inferior a 95% do
avanço.

Neste sentido, a recuperação é um termo aplicado à


quantidade de testemunho recuperado por metro de avanço
na perfuração, que devem preferencialmente em condições
normais estar acima de 90%, ou para o estabelecido acima,
0,95 m de testemunho por metro perfurado.

Os testemunhos obtidos nas sondagens devem ser


guardados em caixas de madeira ou de plástico com tampa.
Eles devem estar dispostos na seqüência exata de sua
posição no furo, da esquerda para a direita e de cima para
baixo.
Desvio de furos
É bastante comum a ocorrência de desvio do trajeto
durante atividades de perfuração, principalmente com
profundidades superiores a 100 m.

Alguns procedimentos devem ser adotados para evitar


grandes desvios, como:

 uso de hastes aprumadas,

 barriletes corretos,

 pressão no ferramental e rotações adequadas ao


conjunto.
Contudo, em casos onde é desejado que haja desvios no
sentido de perfuração, é possível o uso de desviadores, que
são fixados na parede do poço ou entre dois tubos de
revestimento quando revestido o poço.
O desvio de furos pode ser medido por sensores eletrônicos
ou magnéticos capazes de medir a direção e o sentido de
mergulho, em sistemas de funcionamento que integram
uma bússola e um clinômetro, havendo limitações de uso
em rochas magnéticas como basaltos, ultramáficas e
cabonatitos.

Tropari
Maxibor
Maxibor
Programação de sondagens
Em função do alto custo associado com o estabelecimento
de um programa de sondagens, uma das decisões mais
difíceis em pesquisa e prospecção diz respeito ao momento
em que as mesmas devam ser iniciadas.

No entanto, uma decisão ainda mais difícil é quando as


sondagens devem ser interrompidas.

A partir do momento em que começam a surgir evidências


da existência da mineralização, passam a ser sentidas
pressões no sentido iniciar logo um programa de sondagens
e obter uma ideia em subsuperfície da distribuição do
corpo.
No entanto, é aconselhável que um programa de sondagem
só seja estabelecido quando:

● se tenha uma ideia razoável da geologia da área,


com a identificação das litologias aflorantes e seus
comportamentos espaciais;

● se possua um modelo mesmo que conceitual dos


corpos geológicos presentes, de maneira a poder inferir o
comportamento da mineralização em profundidade.

Sem uma ideia razoável do comportamento do corpo em


profundidade, a probabilidade de um programa de
sondagens não fornecer resultados satisfatórios aumenta
significativamente!
Assim, não identificar a ocorrência de uma mineralização ou
não caracterizá-la adequadamente em termos de teor não
significa que um corpo seja pequeno ou de má qualidade
(teor baixo), mas pode significar, por exemplo, que as
sondagens foram:

 mal locadas,

 mal orientadas espacialmente ou

 rasas demais.

Da mesma forma, a escassez de informações (dados de


sondagem) podem fazer com que se assuma uma
continuidade que de fato não exista, extrapolando
excessivamente as informações existentes.
Estabelecendo um programa de
sondagem

De maneira geral, o responsável por um programa de


sondagem é desafiado por uma série de problemas, tanto
de caráter logístico quanto geológico:

● tipo de sondagem requerida (trado, poço,


trincheira, percussão, rotativa, roto-percussiva, com
recuperação de testemunhos);

● timing da perfuração (clima, disponibilidade,


prazos de licenciamento, elaboração e entrega de relatórios
considerando descrição, amostragem, análise);
● contratação (sondagem, fiscalização) ou compra
de equipamentos e treinamento de equipe;

● comissionamento
 equipes (mão-de-obra);
 energia (combustível ou eletricidade);
 consumíveis (ferramental de perfuração e
suprimentos);
 manutenção (pessoal e peças de
reposição);
 custo do equipamento (leasing, compra ou
aluguel);
 licenciamentos ambientais;
 aberturas de acessos e praças (supressão
vegetal).
O padrão de perfuração a ser utilizado depende da atitude e
da espessura assumidas para o corpo. Como estas
definições dependem da quantidade de informações
disponíveis, estas hipóteses podem, obviamente, estar
equivocadas.

Além disso, o padrão vai depender da existência de acessos


em superfície e de questões relacionadas com o
licenciamento dos trabalhos de pesquisa. Onde estes
problemas não aconteçam, o padrão mais comum é de uma
malha regular, cobrindo a totalidade do corpo idealizado.

Furos verticais são mais baratos, rápidos e fáceis de se


executar e são largamente empregados para corpos
horizontais ou com pequeno mergulho, além de depósitos
disseminados.
Já furos inclinados são
planejados para corpos com
mergulhos mais acentuados,
onde o objetivo deve ser
interceptar a mineralização
com ângulo de 90°, com os
furos iniciais cortando a
mineralização imediatamente
abaixo da zona de alteração.
A sondagem é utilizada para definir os limites da
mineralização e também para definir a continuidade da
mesma, para propósito de estimativa de recursos, sendo
que a continuidade dos trabalhos de sondagem depende do
sucesso obtido com os furos anteriores.

Tão logo o depósito tenha sido mesmo que parcialmente


definido, a continuidade do corpo precisa então ser
avaliada. A partir desta continuidade e do tipo de
mineralização é que o espaçamento para as novas
campanhas de sondagem são definidos.

Espaçamentos típicos para depósitos em veios, por exemplo


estão entre 25 e 50 metros, enquanto que para depósitos
estratiformes as distâncias entre furos ficam entre 100 m
até várias centenas de metros.
Localização das sondagens e mapa de isocontorno do topo
da mineralização de um corpo estratiforme de cobre na
Zâmbia.
Mapa de isocontorno da espessura da zona mineralizada e
modelo de acumulação (teor x espessura).
Seção vertical
18000N, com
identificação da
zona com
mineralização de
cobre.
Decidindo quando parar a
campanha de sondagem
De maneira geral, tão difícil ou mais do que decidir quando
começar uma campanha é decidir quando interrompê-la. As
principais situações são:

● não foi encontrada nenhuma mineralização;

● uma mineralização foi encontrada, mas sem teor


econômico;

● os furos interceptaram uma mineralização com


teor econômico, mas a continuidade dos teores é limitada
ou estimativas preliminares indicam que o tamanho do
corpo é muito pequeno;
● um corpo de teor potencialmente econômico e
tamanho compatível foi estabelecido na fase de exploração;

Obs.: se for uma empresa pequena, o mais provável é que


ela tente vender o alvo, valendo-se das informações
positivas coletadas ou vai ter que levantar fundos para nova
campanha, para adensamento visando a avaliação para
lavra. Uma empresa grande vai tomar uma decisão
corporativa, baseada no seu portfolio de projetos e na
conveniência de dar seguimento àquele projeto, naquele
momento.

● o orçamento foi exaurido.


Densidade das malhas de
perfuração

Uma das principais diferenças entre os diferentes estágios


de pesquisa e prospecção diz respeito à densidade da
malha de sondagem.

Enquanto nos estágios iniciais, os furos estão mais


espalhados, de maneira a cobrir todo o depósito e verificar
sua potencialidade, nos estágios mais adiantados a malha
deve tornar-se cada vez mais densa.
Tradicionalmente, se relacionou o espaçamento da malha com o
nível de complexidade e/ou regularidade dos depósitos. Na tabela
abaixo, Maranhão (1982) categoriza diferentes tipos de depósitos
em função do coeficiente de variação (CV).

Regularidade Principais depósitos minerais

Depósitos regulares Jazidas de Fe, Mn, Ni, Co, S, bauxita, argilas, sais,
5% < CV < 40% magnesita, caulim, materiais de construção, carvão

Depósitos irregulares Jazidas de F, ba, grafite, coríndon, asbestos, P,


40% < CV < 100% carbonatitos, U, bauxita fosforosa, antracito,
ilmenita, Co, Ni em rochas básicas e ultrabásicas

Depósitos muito irregulares W em tactitos, Au, Sn, Pb, Zn, Greissens, etc
100% < CV < 150%

Depósitos extremamente irregulares Pegmatitos com berilo, tantalita, columbita,


CV > 150% cassiterita, muscovita, platina, opala, pedras
preciosas
Segundo Maranhão (1982), o coeficiente de variação seria a
principal expressão quantitativa para definição da
regularidade de corpos mineralizados e, assim, quanto mais
errática for a distribuição dos teores no depósito mineral,
maior seria o coeficiente de variação.

Para se ter uma coleta de amostras representativas, deve-


se coletar mais amostras e em menor espaçamento num
depósito de alta variabilidade em comparação com um
depósito cujos teores se comportem com maior
regularidade.
Relação entre o espaçamento de amostras de canal, ao longo da
direção do corpo mineralizado, e a regularidade do minério,
parcialmente compilada de Maranhão (1982) e Cavalcanti Neto e
Rocha (2010).

Coef. de variação Alguns depósitos típicos Espaçamento das amostras

CV < 20% Carvão, materiais de construção, 15 a 50 m


calcário, Fe

20% < CV < 40% Bauxita, argila, fosfato, alguns depósitos 4,0 a 15 m
de Fe, Mn

40% < CV < 100% Depósitos complexos de Cu, W, Mo 2,5 a 4,0 m

100% < CV < 150% Depósitos de metais não ferrosos 1,5 a 2,5 m

CV > 150% Maioria dos depósitos de metais raros 1,0 a 1,5 m


Da mesma forma, para fins de avaliação de recursos,
diferentes depósitos são categorizados em função de sua
variabilidade, sendo atribuídos espaçamentos para as
sondagens que, em teoria, garantiriam a classificação dos
recursos nas categorias medido, indicado e inferido.
Cálculo da espessura real
Conforme salientado anteriormente, durante a programação da
sondagem, deve ser prevista uma orientação para os furos de
maneira que eles interceptem perpendicularmente o corpo de
minério, permitindo assim a obtenção de sua espessura real.

No entanto, quando isso não acontece, podemos ter duas


situações básicas de perfuração:

 perpendicular ao strike;

 oblíqua ao strike.
Exercício
Qual a espessura real do corpo interceptada pelo furo DDH A5?
Exercício
Qual a espessura real
do corpo interceptada
pelo furo oblíquo em
relação ao corpo de
minério?
Referências
● Cavalcanti Neto, Mário Tavares de Oliveira & Rocha da
Rocha, Alexandre Magno. 2010. Noções de Prospecção e Pesquisa
Mineral para Técnicos de Geologia e Mineração, Editora do IFRN,
267 p.

● Moon, Charles J., Whateley, Michael K.G. e Evans,


Anthony M. (Editores). 2010. Introduction to Mineral Exploration,
Blackwell Publishing, 2nd ed., 481 p.

● Maranhão, Ricardo Jorge L. 1982. Introdução à


Pesquisa Mineral, BNB – ETENE, 680 p.

● Wellmer, F.-W., Dalheimer, K. & Wagner, M. 2008.


Economic Evaluations in Exploration, 2nd ed., Springer, Germany,
250 p., ISBN 978-3-540-73557-1.

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