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Avaliação de Depósitos

Histórico e principais códigos de classificação


de recursos

Prof. Dr. Luis Eduardo de Souza


Visão geral
A indústria mineira há muito tempo já havia reconhecido a
necessidade de uma padronização da classificação de
recursos e reservas em função, principalmente, das grandes
discrepâncias e surpresas quanto às previsões realizadas.

Outro fator preponderante foi e continua sendo a crescente


internacionalização das empresas de mineração.

Neste sentido, uma das primeiras regulamentações de que


se tem notícia foi elaborada pelo United States Bureau of
Mines (USBM), para classificação de recursos em jazidas de
carvão.
O Australasian Code for Reporting of Identified Mineral
Resources and Ore Reserves (o código JORC) foi publicado
em junho de 1988 e incorporado às normas do Australian
Stock Exchange (ASX) em julho de 1989. O trabalho
intitulado Guidelines to the Australasian Code for Reporting
of Identified Mineral Resources and Ore Reserves foi
publicado em maio de 1990.

Em abril de 1991, a US Society for Mining, Metallurgy, and


Exploration (SME) publicou A Guide for Reporting
Exploration Information, Resources, and Reserves. Ainda
em 1991, no Reino Unido o Institution of Mining and
Metallurgy revisou seus padrões para relatório de recursos
e reservas minerais, baseando-se largamente no código
JORC de 1989.
Em setembro de 1994 o 15th Congress of the Council of
Mining and Metallurgical Institutions (CMMI), foi realizado
em Sun City, na África do Sul.

Durante esse congresso, foi organizado uma reunião com o


objetivo específico de discutir a criação de padrões
internacionais. Esse fato representou o primeiro encontro
do que mais tarde viria a ser chamado de CMMI
International Resources/Reserves Definitions Group (o
Grupo CMMI), que teria como objetivos específicos:

 desenvolver um conjunto de definições


internacionais para relatório de recursos e reservas
minerais.
O grupo CMMI era composto pelos representantes:

⚫ da Austrália (AusIMM – Australasian Institute of


Mining and Metallurgy),

⚫ África do Sul (SAIMM – South African Institute of


Mining and Metallurgy),

⚫ Estados Unidos (SME – Society for Mining,


Metallurgy and Exploration),

⚫ Reino Unido (IMM – Institution of Mining and


Metallurgy) e

⚫ Canadá (CIM – Canadian Institute of Mining,


Metallurgy and Petroleum).
Ainda no encontro de 1994, o CMMI constituiu o CRIRSCO –
Committee for Mineral Reserves International Reporting
Standards, com apoio e incentivo de associações
profissionais de geologia e engenharia, além de
representantes da indústria mineira.

Estavam representados no CRIRSCO em sua criação:

⚫ Austrália (1989) ⚫ Europa (1991, 2008)

⚫ Estados Unidos (1991) ⚫ Chile (2004)

⚫ África do Sul (2000) ⚫ Rússia (2011)

⚫ Canadá (2000)

* Entre parênteses o ano inicial do código de classificação.


Da mesma forma, e desde 1992, uma comissão criada
pelas Nações Unidas (Task Force of the United Nations
Economic Commission for Europe, UN-ECE) estava
desenvolvendo um sistema internacional de classificação de
recursos e reservas.

Em Novembro de 1996, as Nações Unidas publicaram o


United Nations International Framework Classification for
Reserves/Resources – Solid Fuels and Mineral Commodities.
Em março de 1997, a necessidade de uma padronização
internacional e de um maior controle sobre o relatório de
informações minerais foi tornada dolorosamente óbvia pelo
escândalo da Bre-X, com respeito aos depósitos de ouro
fictícios de Busang na Indonésia.

Mesmo reconhecendo que nenhuma regulamentação


pudesse ter impedido o ocorrido com a Bre-X, a ausência de
padrões e a falta de procedimentos que assegurassem que
esses padrões fossem seguidos, sem dúvida atuaram como
fatores que contribuíram para o acontecido.
Organizações canadenses (Toronto Stock Exchange e
Ontario Securities Commission) formaram uma comissão
(Mining Standards Task Force), cujo relatório final publicado
em janeiro de 1999 (Setting New Standards,
Recommendations for Public Mineral Exploration and Mining
Companies) recomendava além de um forte conjunto de
padrões a ser seguido, que o Canadian Institute of Mining,
Metallurgy and Petroleum (CIM) trabalhasse de forma
contínua com outras instituições internacionais no
desenvolvimento de padrões internacionais.
No entanto, o primeiro grande avanço ocorreu no outubro
de 1997 com o encontro do CMMI/CRIRSCO em Denver,
Colorado e o lançamento do chamado Acordo de Denver,
um conjunto de definições de recursos e reservas minerais.

Em outubro de 1998, em Genebra (Suíça), num encontro


entre o CMMI/CRIRSCO e a comissão das Nações Unidas
(UN-ECE), as definições e padrões do CMMI foram
incorporadas, com pequenas modificações, ao sistema de
classificação das Nações Unidas, dando assim um caráter
verdadeiramente internacional às definições CMMI.
Logo após o encontro de outubro de 1998, Austrália, África
do Sul e Estados Unidos iniciaram a atualização de seus
sistemas de classificação nacionais.

O Guide for Reporting Exploration Information, Mineral


Resources, and Mineral Reserves foi adotado pela SME em
março de 1999.

O código JORC revisado (Australasian Code for Reporting of


Mineral Resources and Ore Reserves) tornou-se efetivo em
setembro de 1999, enquanto o South African Code for
Reporting of Mineral Resources and Mineral Reserves (o
código SAMREC) foi lançado em fevereiro de 2000.
Em novembro de 1999, houve um novo encontro entre o
Grupo CMMI e a comissão UN-ECE, para continuar o
processo de desenvolvimento de normas e definições
internacionais. Com pequenas e insignificantes diferenças
entre os países, os seguintes termos foram aceitos:

(i) reservas minerais;


(ii) reservas minerais provadas;
(iii) reservas minerais prováveis;
(iv) recursos minerais;
(v) recursos minerais medidos;
(vi) recursos minerais indicados;
(vii) recursos minerais inferidos.
Com esses termos e suas definições sendo aceitas, o
CMMI/CRIRSCO passa a assumir a responsabilidade pelo
desenvolvimento de normas internacionais. Essas normas
constituem as condições a serem satisfeitas para a
classificação de informações de exploração, recursos e
reservas de acordo com definições aceitas
internacionalmente.

A responsabilidade pelas estimativas de recursos e reservas


devem ser claramente atribuídas para uma pessoa
competente (ou responsável), um termo originalmente
introduzido no código JORC.
Em 2002, o CMMI deixa de existir, mas o CRIRSCO
permanece como uma entidade autônoma mas ligada ao
ICMM (International Council on Mining and Metals).

Atualmente, o foco do CRIRSCO é desenvolver um modelo


(template) de código de classificação, baseado em grande
parte no JORC, para assessorar outros países no
estabelecimento de seus códigos, mantendo a consistência
com as melhores práticas internacionais.
década
de 30 1967 1971 1988

Primeiros sistemas Outorga do atual Constituído Primeira versão


de classificação Código de o JORC do Código JORC
Mineração

1992 1994 1996 1997


Proposta de Primeiro Primeiro código da
alteração do encontro CMMI ONU (UN-ECE)
sistema brasileiro (África do Sul)
Criação do grupo
das Nações Unidas

1998 1999 2000 2002

Unificação códigos Ratificação do Propostas de Extinção do


CMMI e UN-ECE acordo para transformação CMMI
(Genebra) trabalho conjunto dos padrões em
CMMI/UN-ECE normas de
certificação ISO
E no Brasil?

2003

Nova proposta de
classificação pelo
DNPM

⚫ Revogar os conceitos atualmente


estabelecidos do Regulamento do Código
de Mineração (Decreto Nº 62.934, de 2 de
julho de 1968)?

⚫ Nova legislação federal?

⚫ Marco regulatório da mineração?


Constituída a CBRR – Comissão
Brasileira de Recursos e Reservas,
em 2015, congregando:

• ABPM – Associação Brasileira de Empresas de


Pesquisa Mineral;

• ADIMB – Associação Brasileira de


Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral; e

• IBRAM – Instituto Brasileiro de Mineração.

A CBRR assinou um memorando de entendimento com o


CRIRSCO, estabelecendo o procedimento para aceitação
formal da CBRR no CRIRSCO.
Potenciais futuros membros dos códigos CMMI/CRIRSCO:

⚫ Filipinas; ⚫ Indonésia;

⚫ China; ⚫ Mongólia;

⚫ Argentina; ⚫ Peru;

⚫ Equador; ⚫ Colômbia;

⚫ Ucrânia; ⚫ Turquia;

⚫ Índia.
Quais são os principais
códigos?
⚫ JORC: Australasia

⚫ NI 43-101: Canadá

⚫ SAMREC/SAMVAL: África do Sul

⚫ Pan‐European Code for Reporting of Exploration


Results, Mineral Resources and Reserves (“The PERC
Reporting Code"): Reino Unido e Europa

⚫ SME Guide: Estados Unidos


Objetivos do sistema
CMMI/CRIRSCO

⚫ Promover a utilização de um sistema padrão que envolva


as melhores práticas em relação à estimativa de recursos e
reservas;

⚫ Promover a utilização de padrões comuns para a


divulgação de relatórios públicos de inventários minerais;

⚫ Estabelecer parcerias e estratégias entre instituições e


conselhos de mineração e metalurgia.
Quais são os princípios
comuns das normas?

Os sistemas de classificação estão baseados,


principalmente, na confiança geológica, na qualidade da
estimativa e na viabilidade econômica e enfatizam os
princípios de:

⚫ transparência,

⚫ materialidade e

⚫ competência.
Transparência

As informações constantes em um relatório público de


recursos e reservas devem ser em número suficiente e
apresentadas de maneira clara e não-ambígua, permitindo a
compreensão do relatório e não provocando enganos ou
equívocos.
Materialidade

Todas as informações relevantes que eventuais investidores,


auditores ou analistas poderiam razoavelmente solicitar ou
esperar encontrar neste tipo de relatório, devem fazer parte
do corpo do mesmo, de maneira a permitir a tomada de
decisão e um julgamento fundamentado com respeito aos
resultados exploratórios, recursos minerais e reservas que
estão sendo declarados.
Competência

O relatório deve estar baseado no trabalho de avaliação que


deve ter sido executado sob a responsabilidade de pessoas
qualificadas e competentes, sujeitas a um código de ética
profissional.

Estas pessoas competentes precisam possuir um número de


anos (05) de experiência relevante em estimativa de
recursos e reservas em depósitos do mesmo tipo e com
mesmo método de lavra e devem ser membros de
organizações profissionais auto-regulatórias, com código de
ética e poder para disciplinar/expulsar um membro.
Instituições profissionais reconhecidas (ROPO – Recognised
Overseas Professional Organizations):

⚫ Australasian Institute of Mining and Metallurgy (AusIMM);


⚫ Australian Institute of Geoscientists (AIG);
⚫ Canadian Council of Professional Geoscientists (CCPG);
⚫ European Federation of Geologists (EFG);
⚫ The Geological Society of London (GSL);
⚫ Institute of Geologists of Ireland (IGI);
⚫ Institute of Materials, Minerals and Mining (IMMM);
⚫ Mining and Metallurgical Society of America (MMSA);
⚫ Society for Mining Metallurgy and Exploration (SME);
⚫ South African Institute of Mining and Metallurgy (SAIMM);
⚫ Geological Society of South Africa (GSSA).
Os códigos não são prescritivos
Nem o JORC e nenhum dos demais códigos define qual
metodologia deve ser utilizada, qual a acuracidade
necessária ou a precisão das estimativas.

O que é assumido é que a pessoa competente tem


suficiente experiência para saber o que é necessário e, da
mesma forma, tem o respaldo de estar associada a uma
entidade profissional conceituada. Assim, toda a
responsabilidade é atribuída à pessoal competente e é a
reputação dele (ou dela) que é colocada em jogo!

No entanto, todos os códigos estabelecem check lists!

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