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Avaliação de Depósitos

Aspectos gerais e conceitos básicos da


avaliação de recursos minerais

Prof. Dr. Luis Eduardo de Souza


Visão geral
A vida de uma mina não inicia no dia que começa a
produção, mas muitos anos antes, quando a companhia
inicia a exploração de um depósito mineral.

Uma grande quantia de tempo e dinheiro é gasta


simplesmente procurando, localizando e quantificando uma
ocorrência mineral promissora.

Não são muitas as ocorrências que virão a ser encontradas


e menos ainda serão aquelas que apresentarão potencial
para tornarem-se minas.
Não é difícil que se gaste de 5 a 10 anos procurando por
um depósito explotável e mais 5 ou 10 anos até o start up
da mina.

É uma prática comum em exploração, iniciar-se a avaliação


técnica e econômica tão logo possível e atualizar estas
avaliações em paralelo com os trabalhos de exploração, a
medida que a base de dados e informações é melhorada.

O propósito deste processo contínuo é ter uma base pronta


para a tomada de decisão de seguir ou não seguir (“go/no-
go”) com os estágios seguintes do projeto que,
normalmente, implicam em aumento gradativo de custos e
investimentos.
Qualquer avaliação econômica de projetos mineiros
necessita de informações a respeito de tonelagens e teores.

No entanto, nos estágios iniciais de exploração, há apenas


uma idéia sobre os volumes e distribuição de teores e as
únicas indicações físicas vêm de observações de trincheiras
ou de um número limitado de furos de sonda.

Com o avanço da exploração de um possível depósito e a


consolidação de um banco de dados gradativamente mais
detalhado, são obtidas estimativas do potencial de
tonelagem e teor.
Diversas técnicas de estimativa estão disponíveis e,
geralmente, a sofisticação das mesmas também acompanha
as etapas em que a exploração se encontra e,
conseqüentemente, do nível de detalhamento dos corpos de
minério.

Estudo Acuracidade

Conceituais ± 30%

Preliminares ± 20%

Viabilidade ± 10%
Capacidade relativa de influenciar nos custos.
$ Changes in market
Exploration Demand for
mineral product
Discovery

Delineation
Advance in technology

Ocurrence of
ORE deposit $

Develop mine
extraction facilities Sell product

Mine and process


Avaliação?

Prospecção Exploração
Conforme já salientado anteriormente, empreendimentos
mineiros são sujeitos às etapas de:

● prospecção mineral + pesquisa mineral;

● planejamento mineiro;

● abertura e desenvolvimento;

● lavra;

● beneficiamento;

● comercialização.
É importante ter claro que, apesar de apresentarem uma
seqüência lógica, estas etapas não são estanques.

Elas estão todas inter-relacionadas, interferindo umas nas


outras, ao longo de toda a vida da mina.

Assim, são atribuições do planejamento a definição:

● dos recursos minerais e da reserva lavrável;

● da taxa de produção;

● do teor de corte e do teor lavrável;

● dos parâmetros econômicos (preço de mercado,


receita, custos operacionais, investimentos, etc).
Introdução
O investimento necessário para iniciar uma mina é da
ordem de dezenas a centenas de milhões de dólares.

Para que o investimento seja lucrativo, o potencial produto


no terreno precisa estar presente em uma quantidade e
qualidade adequada, de maneira a justificar a decisão de
investir.

As operações de lavra e tratamento utilizadas para extrair o


produto devem, então, operar de maneira a produzir uma
receita que compense o investimento planejado e forneça
um lucro aceitável.
Atenção!

Lucros (L) = Receita (R) – Despesa (D)

Receita (R) = material x preço/


vendido (MV) unidade(P)

Custos ou = material x custo/


Despesas vendido (MV) unidade (C)

Lucros = MV x P – MV x C
= MV x (P – C)
Sendo:

● o preço do material vendido é afetado pela oferta


e demanda mundial;

● onde os engenheiros/tecnólogos podem e devem


atuar é (i) nos custos e (ii) no desenvolvimentos de novas
técnicas ou tecnologias;

● para permanecer lucrativo a longo prazo, é


necessário que um processo contínuo de busca de melhores
práticas para redução do custo operacional.
Assim, claramente pode-se perceber que todas as decisões
tecnológicas e financeiras com respeito à produção planejada
estão baseadas na pressuposição de que os recursos
minerais efetivamente existam e sejam passíveis de serem
extraídos.

Neste sentido, a estimativa dos teores e localização do


material no terreno (recursos in situ) precisa ser conhecida
com um grau aceitável de confiança.

Essa premissa se verifica especialmente para depósitos


grandes e de baixos teores para os quais o teor está apenas
levemente acima do mínimo necessário para garantir níveis
lucrativos ou para depósitos de metais preciosos onde
apenas uma pequena percentagem da mineralização pode
ser minerada com lucro.
Como os lucros da mineração estão fortemente nivelados
pelo preço do produto e o teor realizado do material
minerado, uma pequena diferença entre o teor planejado
(estimado) e o realizado ou uma pequena mudança no preço
do metal pode ter um impacto enorme na lucratividade da
mina.

Para permanecerem competitivas, as empresas de


mineração precisam otimizar a produtividade de cada
operação mineira.
As maneiras de alcançar esta meta são:

(i) movimentar e processar mais toneladas com a mesma


quantidade ou menos equipamentos;

(ii) controle e gerenciamento rigoroso de insumos e


consumíveis (brocas, bits, explosivos, combustíveis,
peças, etc);

(iii) adquirir novos e melhores equipamento que permitam


maior produtividade e/ou menores custos operacionais.

Cada uma destas ações vai ter um custo e um potencial


retorno do investimento.
Outra maneira de aumentar a produtividade é aumentar o
conteúdo de produto no material sendo minerado e
processado, isto é, aumentar o controle de teores durante a
lavra.

Isso pode ser obtido:

(i) aumentando o teor para a mesma tonelagem;

(ii) aumentando a tonelagem enquanto é mantido o


mesmo teor médio;
(iii) alguma combinação que envolva melhoria da
seleção de minério versus estéril (aumento de seletividade).

A estimativa do minério, o planejamento de lavra e o


controle dos teores são tarefas complementares em qualquer
operação de mineração eficiente.
Conceitos essenciais para o
inventário mineral

Os relatórios de inventários minerais têm tradicionalmente


empregado uma vasta gama de termos ou jargões
profissionais, que nem sempre são de utilização padrão para
qualquer lugar ou empreendimento.

Em alguns casos, certas terminologias técnicas são


amplamente empregadas, ao passo em que outros termos,
por serem muito específicos, não são apreciados ou
utilizados pela indústria de maneira geral.
Neste sentido, a seguir serão definidos alguns dos termos e
conceitos mais largamente integrados aos trabalhos de
inventário de recursos.

Minério:

Definição 1: um agregado natural de um ou mais minerais


sólidos que pode ser lavrado (minerado) ou do qual um ou
mais produtos minerais podem ser extraídos, com lucro.

Definição 2: um agregado natural de um ou mais minerais


sólidos que pode ser minerado, processado e vendido com
lucro.
É importante se atentar para a distinção entre o termo
minério (a porção que pode ser lavrada com lucro) do estéril
(a porção que contém valor insuficiente para garantir lucro).

No entanto, esta distinção não é fixa e imutável! Ela pode e


vai variar de acordo com a oferta e demanda do mercado.

Ex.:  pilhas de “estéril” de Carajás


 diferença entre minério de Carajás e minério do
Quadrilátero Ferrífero (MG)
Teor de corte (cutoff grade):

Em termos práticos, o teor de corte é um teor abaixo do qual


o valor de metal/mineral contido em um volume de rocha não
atende as premissas técnicas e/ou econômicas definidas.

Os teores de corte são utilizados para distinguir (selecionar)


blocos de minério de blocos de estéril.

O conceito de teor de corte está fortemente ligado à


conectividade dos blocos de minério no estágio de produção.
Com o aumento do teor de corte, o volume de minério
diminui e se torna compartimentalizado em um crescente
número de volumes menores e separados.
A conectividade dos blocos de minério e o efeito no volume
com a variação no teor de corte.
Exemplo de curva de parametrização: teor de corte versus
massa de minério.
tc = teor de corte

tm = teor marginal

tu = teor de utilização

Mínimo teor com tecnologia


de processo disponível
Quando tm < tu  tm = tu

Blocos a serem lavrados pois seu


custo de lavra foi suportado por
blocos ricos e seu benefício paga o
custo de tratamento e indiretos
Se já desmontados, vão para
usina ou pilha de minério Não são lavrados
marginal
Se desmontados, estes blocos
serão enviados ao bota-fora,
caso contrário permanecerão in
situ
Continuidade:

Na análise de depósitos minerais, esta definição espacial é


geralmente utilizada de maneira ambígua, para descrever
tanto a ocorrência de feições geológicas que controlam a
mineralização, como a distribuição dos valores dos teores.
Copper Queen
Mine, Montana,
EUA.

Seção horizontal,
nível 900.
Silver Queen Mine, British Columbia, Canadá.
Recursos e reservas:

Todos os projetos e planos mineiros são elaborados a partir


do inventário mineral, resultado da pesquisa geológica e
tecnológica, ou seja,

 é o inventário mineral que sumariza os recursos


minerais disponíveis.

O inventário mineral é considerado em termos de recursos


minerais e reservas de minério. As definições variam de um
país para outro, mas há pressões crescentes no sentido de
internacionalizar os códigos e os critérios de classificação.
Um recurso é uma ocorrência mineral in situ, quantificada
com base nos dados geológicos e em um teor de corte
geológico.

O termo reserva é utilizado apenas se um estudo utilizando


critérios técnicos e econômicos foi realizado, respeitando
restrições políticas, ambientais e sociais, e é expresso
sempre em termos de toneladas lavráveis.

No entanto, as reservas lavráveis são o que efetivamente se


consegue produzir e

 definir o que é reserva lavrável é um problema de


engenharia e não de geologia!
6864000

6862000
Carvão in situ medido

Carvão in situ indicado

Carvão in situ inferido

Cobertura estéril > 350 m

35
0
Descartado do inventário de
Espessura camada < 1,75 m
P1
Reserva ambiental
6860000 P2

Perímetro urbano

Limite de concessão para

recursos:
o projeto Fontanella

Limites de sill de diabásio ou


LM30 paleocanais de arenito

18
Furos de sonda mantidos

B
P
1

9
Furos de sonda descartados
6858000

B1
P
65
PB18 64

63

● área de preservação
2

BG02

62

35 0
6856000

ambiental;
BG04
BG03
BG01A

61

BR10

BG20 BG19 BG07 BG05


BG06

PB40
E541 E542 E543 E545
E544

6854000 BG12

● perímetro urbano;
BG11 BG09 BG08
BG10

E540
E535 E536 E537 E538 E539

BG18 BG17 BG16 BG15 E533 BG14 BG13


E532
E530 E451 E531 E534
E604

E602
E584 E598 E450 E525 PB17
E448
E599 E595
3
E594
E591
35 E449

6852000 E583
E603
4

E600E473
0
E475
E593

E477 E480 E456 E446 E523 E524


BG23
E526
E528
E527
BG27 BG26 E407 BG24 BG21
E601 E445 E454
E472 E474 E494 E492 E457

● cobertura > 350 m;


E452
E548
BG28
E493E471 E476 E479-A E491 E458 E455 E453 35
E502
E428 E427 E413 E470 E488 E405 E490
E444

E394
E547
E393 E395
E546
E406
FT19 0
E425
E418
E392
E501 E426 E403 E398 E519 E509 E522
E515 E402 E404 E489 E417 E507 E508 59
6 E422 E416 E391
E415 60 58 57
5 E390
E514 E409 E410 E414 E412
E424 E396
E429 E423 LM63 BG34 PB36 BG31 BG30
E399 BG33 BG29
E376
E513 E499 E498 E433 E387 E408 E411
E401 E430 E432 E382
E431 E389 E370 FO11
E500 E512 E516 E503 E504 E517
E81 E77 E381 E505 E506 E518
8 7 E78 E212
E380 52 54
E496 E495 E400 FO12 FT15
E511 E497 E74 E384 53 FT13 FT17
E461 E346
E75
E79 E287 FT14
E510 E459 E460 E345 E70
6850000 E486 E465 E464
E80 E344
E338
E73 E288 BR07
FO13

BG37
E76 E72 BG36 45
E321 BG25 55 BG35 BG32
E289E324 FT12 56
E487 E466 E463 E462 44
E68E322 E323
E343 FO09 FO15 FT16
E467 E468 E469 EP16 EP17 E290FO14
E312

● espessura da
10 9

350 E330 EP07 E304 E302


E311
E305
FO03 FO04
FT11
PB35

E303
E64
FO10 FO08
EP18 FO07 FO17 FO02
E65
E87 E184
E59
51
E62
BG40 E85 50 BG39 FO01 BG22 E186
BG41
11 E592 E86 BG38
12
E46 FO06
E53
350 E54
E52 E67 E367
E88
E368
E66
47 E183
46
E185

camada < 2 m;
E51
EP03 E56EP01 E92 EP02 FO18 FO05 E14 E15
E90 E71 E25
E89
6848000 E596
E48E91 E47
EP08
E43
E552 49
E360
E357
E550 E359
E549 E356
E11

E176
E177
48
E179
E573
E572
E105 E49 E485 E361 E01 E16 E180
PB31 BG44 BG43 E93 BG126 E354 BG42
E12 E13 E18 E571 FT07
E57 E104E484 E37
E101 E483E41E38
E39 E570
E99 E106 E447 E362 E353 E10 E27 E175
E94 E482 E363 E352 E569 E69 PB43
E100 E102
E31 E09 E440 E316
EP14 EP13 EP09 E98 E559 E02 E364
E44E553
E355 E319 E172
14 13 E95 E560E441 E365 E42E350E209 E174
E111 E83 E82
E366 E40 E351 E318 E568
E96 E481 E341 E358
E313 E315
EP12 E554
E07 E03 E17 E317 E20 E22
PB44 E04 E208 E314 E565
E555 E561
E97 E325 E173
E206 E443E190
E117 E181E200
E597 E562 E169 E566 E574
EP21 E207E326 E188E23 E442
EP10 E529
E06 E182E347 E32 E438 E167
E33
E327 E328 E563
E130 E590 E556 E558 E170 E171 E575
E439
BG46 BG125 E19 E419 E421
E210 BG45 E557 E166
E199 E564 E577
350

E420 43
E165 E434 E195
E211 E435 E197 E578 E576
16 15 EP11 E436 E201 E579
EP22 E589 E437 E203
E588
E202 E580 42
EP05 E21 FT03
E581
EP20 E05
E178 EP19 E582
E08

● sill´s/diques de
E168 E205
6846000 E256 E248 E292

E28
E204

BG49 BG48 E291 BG47 E585


E293FT04
E278 E587FT05
E244
E252 E586
E279
E254 E253
E273 BR06 E284
E243 E295
E255 E45E294 FT06 PB33
E257 E283 E29 E24
E36 E30
E251 E250
E280

diabásio;
E282 34 35
E285 FT08
E286 E265
BG52 LM54 BG51 E270 BG50B BG124 FB03
33
E258 E266
E260 E267
E259
31 32 36

29 30
39
E340
6844000 27 28
37
38
BG54 41
BG53
40
FB01

FB02

18 20
17 26 25
19
21 22

● zona de falha.
23 24

6842000
PB30

CARBONíFERA METROPOLITANA S.A.


EMPRESAS G UG LIELMI

Avaliação de Recursos de Carvão, Projeto Fontanella

Camada Bonito
PB46 Localização dos furos de sondagem e
classes de carvão in situ
LPM / METROPOLITANA
Escala: 1 : 40.000 Data: 06/2010

6840000
642000 644000 646000 648000 650000 652000 654000 656000 658000
Variável regionalizada:

É uma variável distribuída no espaço de uma maneira, ao


menos, parcialmente estruturada, de forma que algum grau
de auto-correlação espacial exista.

Uma regionalização de teores é consistente com a


ocorrência de zonas de alto teor em um campo de teores
baixos, como é freqüente em mineralizações.

Muitas variáveis relacionadas com a mineração são


regionalizadas como, por exemplo, espessura, teores,
densidade de fraturas, acumulações de metais (teor x
tamanho e/ou comprimento).
Diluição vs. seletividade:

É o resultado da mistura de um material que não possui


teor de minério com outro material que possui teor de
minério, durante a produção, levando a um aumento em
termos de tonelagem e a uma diminuição em termos de
teor médio com relação às expectativas originais.
Representação esquemática de contatos entre
minério (O=ore) e estéril (W=waste).

O contato passa de brusco (esquerda) a


gradacional (do centro para a direita).

Contatos complexos podem ser caracterizados


por uma zona de interdigitação entre rocha
mineralizada e rocha hospedeira.
Contato gradacional


Estimativa de pontos e de blocos:

É importante distinguir entre o conceito de estimar:

(i) o teor de um ponto (ou um volume muito


pequeno = mesmo suporte da amostra) e,

(ii) estimar o teor médio de um


volume maior tal como uma unidade
de produção ou bloco (um volume
que pode ser muitas ordens de
magnitude maior do que o tamanho de
uma amostra).
Pontos ou estimativas puntuais são utilizadas na mineração
principalmente como:

(i) ferramenta de validação ou comparação entre


técnicas de estimativa ou parâmetros utilizados em um dado
métodos de estimativa e,

(ii) para estimar malhas regulares (grids) como base


para obtenção de mapas de isocontorno.

Blocos também são estimados a partir de amostras


(pontos), mas ao contrário da estimativa pontual, os blocos
vão responder por um volume (3D) ou uma área (2D)
estimada. São utilizados em todas as fases de planejamento
(curto e longo prazo), principalmente na cubagem do
depósito.
Ao conjunto de blocos de cubagem que compõe o depósito
denomina-se modelo tridimensional de blocos.
Matematicamente, o cálculo de reservas nada mais é que a
integração numérica da função teor (expressa em peso por
unidade de volume) dentro do depósito de volume V.

V
R=  T(v).dv
A figura representa no slide anterior mostra um depósito
hipotético de volume V em que a função T(v) é conhecida.
Nesse caso, a reserva poderia ser facilmente determinada
como a integral definida da função T(v) no domínio V, ou
seja, o cálculo da equação aprsentada.

Contudo, isso não é tão simples, pois é preciso conhecer a


função T(v), ou seja, a descrição numérica do teor no
depósito de volume V.

Conhecer a função T(v) implica ter, a cada ponto do


depósito, o valor do teor e, além disso, a função que a
descreve matematicamente.
O que é interpolação? Por que temos
que interpolar os dados?

Em princípio, quanto maior a quantidade de informações


sobre o fenômeno que estamos estudando estiver disponível,
melhor!

Nenhum tipo de técnica, seja ela indireta (soft data) ou


matemática, substitui uma informação física (hard data).
No entanto, há um problema: dados custam caro!

● A coleta dos dados custa caro;

● Os dados analíticos, resultantes de análises


químicas custam caro.

Além disso, por maior que fosse nosso orçamento, seria


praticamente impossível amostrar um depósito, numa malha
tão densa, que dispensasse o cálculo de valores em algum
ponto da jazida.

Assim, sempre precisaremos calcular os valores para nossas


variáveis de interesse em locais não amostrados!
SMU (selective mining unit):

Geralmente, é o menor bloco no qual a seleção minério-


estéril é passível de ser realizada.

O tamanho de um SMU é determinado a partir de restrições


associadas com o método de lavra a ser utilizado, bem como
a escala das operações.

As dimensões vão ser dependentes de fatores como:


espaçamento dos furos de desmonte durante a produção,
especificações dos equipamentos de lavra, altura da
bancada, etc.
Conteúdo metálico
Enquanto os teores e preços de alguns commodities (tais
como Cu, Fe e Zn) estarem sempre relacionados ao metal
de interesse, para outros materiais esta questão pode variar
consideravelmente.

No caso do tugstênio (W), por exemplo, os teores algumas


vezes se referem ao elemento W, enquanto também é
comum se trabalhar com o óxido WO3.

Molibdênio e antimônio são também frequentemente


descritos, em termos de teor, em relação aos sulfetos MoS2
e Sb2S3, respectivamente, da mesma forma em que é
comum encontrar o teor apenas do elemento Mo ou Sb.
Portanto, para efeitos de comparação é necessário se
calcular quanto de Mo pode estar contido em MoS2.

Exemplo:

Massa atômica do Mo: 95,95


Massa atômica do S: 32,06 × 2 64,12

160,07

Assim, o conteúdo metálico de Mo é: 95,95 ÷ 160,07 = 0,60


e, dessa forma, o fator de conversão de MoS2 em Mo é 0,60.

Assim, um teor de 1% de MoS2 equivaleria a um teor de


0,6% do metal Mo e, da mesma forma, o fator de conversão
de Mo em MoS2 é 1 ÷ 0,60 = 1,67.
Além destas relações úteis fornecerem os coeficientes de
conversão entre teores de metais e teores de sulfetos ou
óxidos, para os minerais de minério, podemos associá-los
com o conteúdo estequiométrico máximo do elemento de
interesse em cada mineral.

Assim, se o mineral de minério for uma hematita, por


exemplo, sabemos que não poderão ser observadas
amostras com teores maiores que 69,9% Fe.

Hematita: Fe2O3
Massa atômica do Fe: 55,85 × 2 111,70
Massa atômica do O: 16 × 3 48,00

159,70

Assim, o máximo teor de Fe que pode ser observado em


uma hematita: 111,70 ÷ 159,70 = 0,699 × 100 = 69,9%.
Teor equivalente
Se diversos elementos contribuem para o valor econômico
de um depósito de minério, para se poder comparar
depósitos diferentes (com diferentes composições
mineralógicas) é necessário estabelecer um denominador
comum para esta comparação.

Este denominador comum é chamado de metal ou teor


equivalente e, em um depósito multi-elemento, ele
obrigatoriamente deve ser considerado inclusive na
definição do teor de corte.
Exemplo: avaliação de um depósito pórfiro de cobre-
molibdênio.

a) preço do cobre refinado 0,90 US$/lb

 como a mina não produz cobre refinado, mas apenas


concentrado de cobre, é necessário deduzir os custos
metalúrgicos (de fundição e refino), além dos custos de
transporte da mina até a fundição.

Para este caso, assume-se estes custos como 0,30 US$/lb e,


assim, o que a mina recebe pelo concentrado de cobre é:

US$ 0,90 - US$ 0,30 = 0,60 US$/lb.


b) recuperação de 90%

 como o retorno só incide sobre o metal recuperado, é


necessário levar em consideração as perdas do
beneficiamento e, assim, a mina vai receber por lb de Cu
no minério ROM.

0,90 × US$ 0,60 = 0,54 US$/lb Cu.

c) retorno devido ao Mo

 assumindo um valor de 4,75 US$/lb Mo no concentrado


de MoS2 como o retorno da mina e uma recuperação de
80%, a mina recebe por lb de Mo contida no ROM:

0,80 × US$ 4,75 = 3,80 US$/lb Mo.


d) fator de conversão de Mo para Cu-Equivalente (CuE)

 K = 3,80 ÷ 0,54 = 7,04. Assim, para este exemplo, a


equação de conversão para obtenção do teor equivalente
de Cu é:

Cu-Equivalente (CUE) = % Cu + (7,04 × % Mo).

e) em um corpo de minério que tivesse teores de 0,40% de


Cu e 0,03% de Mo, o teor equivalente de Cu seria:

Cu-Equivalente (CUE) = 0,40+ (7,04 × 0,03) = 0,61%.


Obs.: se o teor tivesse sido dado em MoS2 ele teria que ser
convertido pelo fator correspondente ao conteúdo metálico de
Mo no MoS2.

Exemplo:

Qual o teor equivalente de cobre em um corpo de minério com


teor de 0,40% de Cu e 0,04% de MoS2?

1% MoS2 0,6% Mo
0,04% MoS2 ?% Mo

Cu-Equivalente (CUE) = 0,40+ (7,04 × 0,024) = 0,57%


Atenção:

(i) o uso de teor equivalente necessariamente implica em


uma relação constante de preço entre os metais, o que
raramente é verdadeiro;

(ii) várias hipóteses para a determinação do teor


equivalente precisam ser assumidas, como o preço e a
recuperação, sendo que estes valores podem mudar
significativamente durante um trabalho de exploração.
Assim, os códigos internacionais de classificação de
recursos e reservas não recomendam a utilização de teor
equivalente, mas sim o teor original dos dados.
Bibliografia
HUSTRULID, W. & KUCHTA, M. 1995. Open Pit Mine
Planning & Design, Volume 1 – Fundamentals, A.A.
Balkema, Rotterdam, 636 p., ISBN 90 5410 173 3.

SINCLAIR, A.J. & BLACKWELL, G.H. 2002. Applied Mineral


Inventory Estimation, Cambridge University Press, UK, 381
p., ISBN 0-521-79103-0.
WELLMER, F.-W., DALHEIMER, K. & WAGNER, M. 2008.
Economic Evaluations in Exploration, 2nd ed., Springer,
Germany, 250 p., ISBN 978-3-540-73557-1.

YAMAMOTO, J.K. 2001. Avaliação e Classificação de


Reservas Minerais, Editora da USP, São Paulo, 226 p., ISBN
85-314-0626-9.

ANNELS, A. E. 1991. Mineral Deposit Evaluation: Chapman


& Hall, Salisbury, UK, 436 p.

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