Você está na página 1de 2

A ORIGEM DOS CONTOS DE FADA

De onde vieram?
Sempre que eu conto uma história e alguém pergunta de onde é esse conto, eu tenho vontade de
perguntar se a pessoa tem tempo, porque a origem dos contos não é assim tão simples como parece.
Você pegou aquele conto numa antologia de contos portugueses, mas quando começa a estudar o
conto vai notar que tem partes que estão num conto que está numa antologia de contos africanos, ou
espanhóis ou brasileiros.
Os contos parecem colchas de retalhos, cujas partes foram trazidas pelo vento dos lugares mais
distantes.
Câmara Cascudo em um trecho do livro Literatura oral no Brasil, diz que nossa literatura foi formada
pela cultura das raças, indígena, portuguesa e africana.
Todas possuíam cantos, danças, histórias, lembranças guerreiras, mitos, cantigas de embalar e
anedotas, mas quando vamos procurar a procedência de um conto através de uma dessas culturas,
sempre vai existir um elemento anterior que pode ter dado origem àquilo, vindo de outro lugar que não
aquele.
Então determinar a nacionalidade de um conto é muito difícil. E Cascudo complementa esse raciocínio,
informando que um conto que era africano aparece sabido antes pelos gregos.
E a coisa complica quando vamos falar do universo dos contos tradicionais.
Existe muita informação a respeito deste assunto. Mas quanto mais pesquiso, vejo que Cascudo tinha
razão quando dizia que um fato que parecia ser virgem, já tinha passado por várias culturas em tempos
muito remotos.
Vou tomar por base As mil e uma noites, uma das mais famosas coleções de contos, para exemplificar
essa complexidade.

Segundo Malba Tahan, na apresentação do livro As mil e uma noites, Editora Nova Fronteira, numa
versão de Antoine Galland, tradução de Alberto Diniz, sua origem é problema altamente controvertido.

Segundo Massud, erudito que viveu no século XI e foi um dos escritores mais viajados do seu tempo, os
contos de As mil e uma noites foram tirados do livro persa Mil Histórias, cuja autoria é atribuída ao poeta
persa Rasti, que teria vivido na segunda metade do século X.

Sendo assim, Massud teria razão ao afirmar que os contos foram tirados do livro Mil histórias, porque os
nomes de Sherazade e Danazad constam com seus nomes persas naquele livro. Mas os persas foram
colher na Índia o enredo dos seus contos.

Há uma outra informação de que a estrutura narrativa do livro, feita com histórias dentro de outras histórias,
é comum na literatura indiana e pode ter sido influenciada por esta, pois a coleção de contos Panchatantra,
compilada entre os séculos III a V d.C., também está organizada ao redor de um narrador que conta uma
série de histórias de animais para três príncipes.

Para complicar mais ainda a história, o orientalista e historiador alemão Gustavo Weil, afirma que os
contos árabes As mil e uma noites diferem totalmente das primitivas formas indianas e persas.

Mas a dificuldade em entender a origem dos contos não se dá somente em As mil e uma noites.

Se formos pesquisar as escritas cuneiforme dos sumérios (3.500 anos a.C.) e os hieróglifos dos
egípcios (3.000 a.C.), além da arte rupestre encontrada em todo o mundo, vamos encontrar possíveis
de citações de registros de narrativas, que podem perfeitamente ter sido o berço do repertório narrativo.

Então quando me perguntam de onde é o conto que contei, se não é um conto autoral, que obviamente
nos fornecerá sua procedência, se não é um causo, uma lenda, onde estão gravadas as origens dos
acontecimentos, eu pergunto: - Você tem tempo?

739065139.docx 1/2
739065139.docx 2/2

Você também pode gostar