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QUARESMA NA UMBANDA-MISCIGENAÇÃO ,SINCRETISMO E

RITUALISTICAS ADAPTADAS.

A cultura africana nos séculos XVI ao XIX, época marcada pela escravidão no
Brasil, era predominantemente baseada na agricultura, pecuária e nos despojos
resultantes de guerras. Os conflitos entre tribos e cidades eram comuns em
toda a África, e muitas vezes as comunidades africanas se engajavam em
guerras para proteger e expandir seus territórios.

Para os povos africanos, cuja cultura estava impregnada de valores religiosos,


todas as facetas da vida eram consideradas sagradas, inclusive a guerra. Em
tempos de paz, era comum a realização de rituais de guerra, como cantos,
danças e festas, que envolviam a invocação dos Orixás, divindades veneradas
em diversas tradições religiosas africanas.

Acredita-se que durante os períodos de guerra, os Orixás guerreavam ao lado


de seus seguidores, e a ausência de sua presença na comunidade era sentida,
resultando em uma sensação de desamparo e escassez de recursos. Além disso,
os conflitos frequentemente levavam à escravização dos perdedores, tanto
internamente, entre diferentes reinos africanos, quanto externamente, sob o
domínio dos europeus.

Nesse contexto, o ritual do Lórògun adquiriu grande importância. Este ritual não
era uma invocação para guerra, mas sim uma simulação de um período de
guerra e abstinência, realizado para louvar os Orixás. Através de cantos, danças
e outros rituais, os participantes buscavam honrar e reverenciar as divindades,
reconhecendo sua importância mesmo nos momentos de conflito.

Com o processo de sincretismo religioso, que se desenvolveu durante a


escravidão no Brasil, o Lórògun foi adaptado para se alinhar com as práticas
religiosas das comunidades africanas transplantadas para o novo contexto.
Assim, a prática da quaresma na umbanda e em outras tradições afro-brasileiras
passou a representar um período de recolhimento e busca pela subsistência e
sobrevivência, enquanto os Orixás estavam ausentes, envolvidos em suas
próprias batalhas espirituais.

O retorno dos Orixás, simbolizado pelo sábado de Aleluia, é celebrado como


uma grande vitória, representando o renascimento e a renovação espiritual da
comunidade. Assim, a prática da quaresma na umbanda mantém viva a tradição
do Lórògun, enquanto reflete a resistência e a resiliência dos povos africanos
diante das adversidades históricas.

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