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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS


CURSO DE GEOGRAFIA - LICENCIATURA

AGRICULTURA URBANA NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19:


CASO DA HORTA COMUNITÁRIA NO JARDIM TIRADENTES – APARECIDA
DE GOIÂNIA (GO)1

Discente: Daniel Dias Murari Borba2

Goiânia
abril de 2022

1
Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão para o Curso de Licenciatura em Geografia do Instituto de
Estudos Socioambientais (IESA) da UFG, sob orientação do Prof. Dr. Adriano Rodrigues de Oliveira.
2
Discente do Curso de Licenciatura em Geografia. E-mail: danieldias@discente.ufg.br
DANIEL DIAS MURARI BORBA

AGRICULTURA URBANA NO CONTEXTO DA PANDEMIA DE COVID-19:


CASO DA HORTA COMUNITÁRIA NO JARDIM TIRADENTES – APARECIDA
DE GOIÂNIA (GO)

Artigo apresentado como Trabalho de Conclusão para o Curso de


Licenciatura em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais
(IESA) da UFG.

Orientador: Prof. Dr. Adriano Rodrigues de Oliveira

Goiânia
abril de 2022
AGRADECIMENTOS

Como todo conhecimento, este texto é resultado de esforço coletivo, neste caso
mais que o normal. Mas agradeço aos meus pais, por todo apoio até aqui, em especial à
minha mãe pelo exemplo de força e paciência. Ao meu irmão querido e estimado, que
mesmo longe não deixou de estar por perto nos últimos anos. Aos colegas e amigos que
diziam para descomplicar e fazer o que tinha de ser feito, o conselho de vocês tem me
servido agora. Ao Eduardo, quem me ajudou na escrita. Ao professor Adriano, pela
confiança e as segundas e terceiras chances de concluir esse processo. Ao Movimento
Feminino Popular, a todas e todos que construíram o Comitê Sanitário de Solidariedade
Popular e às famílias do Jardim Tiradentes, com estas últimas creio que agradecimentos
não são o suficiente. À Aline, pela prontidão com os mapas.
“Acudi ao chamado de Chile Guevara. Era muito importante o que ele queria me
comunicar.
— De que se trata?
— Não há tempo a perder — respondeu. — Você não tem por que ser antifascista.
Não se tem que ser anti nada. É preciso ir ao cerne da questão e, esse cerne, eu o encontrei.
Quero comunicar-lhe isso com urgência para que você deixe seus congressos antinazistas e
ponha mãos à obra. Não há tempo a perder.
— Bom, diga do que se trata. A verdade, Álvaro, é que ando com muito pouco
tempo livre.
[...]
— É o ovo de Colombo — disse. — Vou lhe explicar. Quantas batatas saem de
uma batata que se semeia?
—Bom, umas quatro ou cinco — disse, para dizer alguma coisa.
— Muito mais — respondeu. — Às vezes quarenta, às vezes mais de cem batatas.
Imagine que cada pessoa plante uma batata no jardim, na sacada, onde quer que seja.
Quantos habitantes tem o Chile? Oito milhões. Oito milhões de batatas plantadas.
Multiplique, Pablo, por quatro, por cem. Acabou-se a fome, acabou-se a guerra. Quantos
habitantes tem a China? Quinhentos milhões, não é? Cada chinês planta uma batata. De
cada batata semeada saem quarenta batatas. Quinhentos milhões vezes quarenta batatas. A
humanidade está salva.”
(Pablo Neruda, “Confesso que vivi”)
Resumo
Esta pesquisa insere-se nos temas da Agricultura Urbana e Segurança e Soberania
Alimentar, discutindo aspectos da relação entre ambas. Para isso, buscou compreender a
experiência de horta comunitária no Jardim Tiradentes, bairro da cidade de Aparecida de
Goiânia-GO. Tal experiência foi iniciada em maio de 2020, no contexto da pandemia da
Covid-19. A análise está ancorada em revisão bibliográfica, levantamento de dados
secundários e informações qualitativas obtidas por meio da pesquisa-ação que tivemos por
meio do acompanhamento realizado até o mês de dezembro daquele ano. Os resultados
apresentados revelam a organicidade inicial do projeto, mas a experiência continua tendo
repercussões até a atualidade. Ao registrar o percurso da horta coletiva, discutimos suas
contribuições e limites para a segurança e soberania alimentar e nutricional.

Palavras-chave: Segurança alimentar. Soberania alimentar. Agricultura urbana. Horta


comunitária.

Abstract
This research is inserted in the theme of Urban Agriculture and Food Safety and
Sovereignty, discussing aspects of the relationship between them. For that, it sought to
understand the experience of a collective garden in Jardim Tiradentes, neighborhood of the
city Aparecida de Goiânia-GO. Such experience started in May 2020, in the context of the
Covid-19 pandemic. The analysis is supported in bibliographic review, secondary data
collect and qualitative information obtained through action-research which we had through
the follow up carried out until December of that year. The presented results reveal the
initial organic development of the project, but the experience continues to have
repercussions to the present. By registering the route of the collective garden, we discussed
its contributions and limits to food and nutritional safety and sovereignty.

Key-words: Food safety. Food sovereignty. Urban agriculture. Collective garden.

Introdução

Este artigo aborda o tema da Agricultura Urbana e Periurbana (AUP) e sua relação
com a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. A pesquisa teve como objetivos
compreender a horta comunitária no bairro Jardim Tiradentes como um caso de AUP e
identificar o potencial e limites dessa experiência coletiva para a Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional.
Durante o primeiro semestre de 2020, agravou-se a situação dos grupos da
população em situação de vulnerabilidade social, no contexto de crise econômica e da
pandemia de COVID-19. Instituições públicas, organizações da sociedade civil e redes de
apoio de caráter variado promoveram ações tais como distribuição de alimentos e de outros
itens de necessidades básicas. Em Aparecida de Goiânia, uma iniciativa nesse sentido deu
origem ao Comitê Sanitário de Solidariedade Popular, com suas ações orientadas a
estimular a solidariedade de classe e medidas de proteção contra a COVID-19,
principalmente junto às famílias em situação de desemprego e vulnerabilidade social. As
atividades do Comitê concentraram-se no bairro Jardim Tiradentes, durante a maior parte
do ano de 2020. Entre elas, a construção de horta coletiva por um grupo de ajuda mútua de
moradores do referido setor, onde os (as) participantes cultivaram hortaliças para o
autoconsumo.
Nossa aproximação com o tema se deu por meio da participação, enquanto
apoiador, na referida horta comunitária. Tal apoio foi consequência do convite por parte
das principais responsáveis pela realização inicial da horta, um grupo de mulheres
organizadas no Movimento Feminino Popular (MFP) – estudantes e trabalhadoras da
Região Metropolitana de Goiânia –, as quais propuseram a criação do Comitê mencionado.
O MFP é uma organização de vanguarda e de massas de mulheres do povo, fundada em
1996, que define a si mesmo como classista, combativo e independente, tendo entre seus
objetivos a emancipação feminina como parte da emancipação de toda a classe
trabalhadora. O Comitê Sanitário de Solidariedade Popular foi proposto por este
Movimento em meio às circunstâncias da pandemia de Covid-19, para ser uma
organização mais ampla, guiada pelos mesmos princípios gerais do Movimento. De início,
chamou-se Comitê de Solidariedade Popular, agregando depois ao nome a qualificação de
Sanitário, tendo em vista as ações promovidas por ele, como distribuição de “kits” com
máscaras e água sanitária e divulgação de medidas preventivas não medicamentosas. A
realização da horta comunitária, em si, coube principalmente às famílias do Jardim
Tiradentes, embora contando com o apoio da organização do referido Comitê. De forma
que, ao tomar parte nessa experiência como apoiador, pudemos apreender informações
qualitativas e colher algumas informações quantitativas, estas últimas compiladas pelo
Comitê durante o processo.
Na condição de apoiador, auxiliamos na preparação e manutenção da horta até fins
de novembro de 2020, fazendo visitas periódicas e conversando com as pessoas
envolvidas. Em meados de julho daquele ano, foi necessário elaborar um breve projeto de
intervenção para ser apresentado à SEMMA (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Sustentabilidade), como salvaguarda legal para a horta, o que nos levou a situá-la
geograficamente. Além das informações reunidas por meio da participação, procuramos
conhecer outros pontos no bairro, e adjacências, onde houvesse práticas agrícolas, cujos
registros acrescentamos ao texto.
O artigo contém três partes maiores, as duas primeiras divididas em duas seções,
sendo a primeira parte a discussão geral do tema baseada em revisão bibliográfica e
consulta de dados secundários – (1.1) Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e
(1.2) Agricultura Urbana e Periurbana –, seguida da apresentação em particular da
experiência de horta urbana no Jardim Tiradentes – (2.1) Contextualização e outras
práticas agrícolas no Jd. Tiradentes e (2.2) A experiência da horta comunitária. Por fim, (3)
as considerações finais.

1.1. Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

A alimentação é um direito previsto na legislação brasileira. Conforme Santandreu


e Lovo (2007), citando a lei federal Nº 11.346/06, lei de Segurança Alimentar e
Nutricional:
Segurança Alimentar e Nutricional consiste na realização do direito de
todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em
quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades
essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde,
que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural,
econômica e socialmente sustentáveis. (SANTANDREU; LOVO, 2007,
p. 11)

O conceito ressalta outras dimensões além do acesso propriamente aos alimentos.


No entanto, ainda no tocante ao acesso, este não é garantido a todos, o que nos leva à
Insegurança Alimentar. Esta tem crescido nos últimos anos, como constatou a Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, que
classificou os domicílios “de acordo com seu nível de segurança quanto ao acesso aos
alimentos em quantidade e qualidade” (IBGE, 2020), registrando queda da Segurança
Alimentar da população em comparação com anos anteriores: Em relação a 2013, a
Insegurança Alimentar nos lares brasileiros cresceu 62,4% (ibidem). Em agosto de 2020,
levantamento feito pelo Ibope e Unicef durante a pandemia de Covid-19 estimou que, até
então, nove milhões de brasileiros haviam deixado de realizar refeições por falta de
dinheiro, entre outros impactos na alimentação da população (ROSSI, 2020). A inflação
dos preços de alimentos e de outros produtos pressiona a renda e impacta na alimentação:
Em 2020, o aumento dos preços de “Alimentos e bebidas” foi o que mais contribuiu na
inflação acumulada daquele ano, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) (IBGE, 2022a).
Confirma essa tendência de aumento da Insegurança Alimentar no país, o
“Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19
no Brasil” (PENSSAN, 2021). Realizada em dezembro de 2020 e utilizando os mesmos
parâmetros de classificação adotados pelo IBGE, a pesquisa revelou que - contemplando os
três meses anteriores - apenas 44,8% dos domicílios brasileiros podiam ser considerados
em Segurança Alimentar, ou seja, mais da metade da população enfrentava a Insegurança
Alimentar (IA) em alguma medida, sendo que em 9% dos domicílios havia realmente
fome, classificada como IA grave. Esta última condição, em números absolutos, era uma
realidade para 19 milhões de brasileiros. (PENSSAN, 2021)
O inquérito ressalta ainda que o aumento da Insegurança Alimentar era observado
desde antes de 2020 - como mostrou a POF 2017-2018 supracitada -, tal aumento
configurando uma reversão da tendência verificada na série PNAD (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) de 2004, 2009 e 2013, nas quais houve redução da Insegurança
Alimentar no país, tendo este saído do mapa da fome da FAO/ONU em 2014. A pesquisa
aponta a correlação desta reversão com a crise econômica e as circunstâncias políticas que
desvincularam a atuação do Estado das necessidades sociais da população. Contudo, no
contexto da pandemia de Covid-19, com a superposição de crise econômica e crise
sanitária, tal aumento da IA foi ainda mais intenso. (PENSSAN, 2021) Entre os problemas
agravados pela conjunção de crises está o desemprego, um dos principais fatores de
vulnerabilidade social de parte da população. Segundo o inquérito da Rede PENSSAN:
Observou-se que a alta vulnerabilidade à IA relativa aos baixos
rendimentos estava associada às condições de trabalho e ao desemprego
[...]. Comparando com a situação de trabalho formal da pessoa de
referência dos domicílios, a IA grave foi quatro vezes superior entre
aquelas com trabalho informal, e seis vezes superior quando ela
estava desempregada. (PENSSAN, 2021, p. 41)
A propósito destas condições relativas à renda da população, em particular no
estado de Goiás e concernentes ao município de Aparecida de Goiânia, o relatório
emergencial de maio de 2020 do Observatório do Estado Social Brasileiro prevenia que “o
maior impacto [da pandemia], do ponto de vista da renda e emprego formal privado, [...]
será no comércio e nos serviços que se concentram na área core da urbanização goiana.”
(ARRAIS e OLIVEIRA, 2020, p. 7). O relatório também trazia informações do Cadastro
Único para programas sociais que davam conta da concentração, em Aparecida de Goiânia
e outros municípios da Região Metropolitana de Goiânia (RMG), dos beneficiários do
programa Bolsa Família no estado de Goiás. Uma vez que este era um programa
focalizado, sua forte presença poderia indicar uma concentração de famílias em risco de
vulnerabilidade social – situação mitigada pela transferência de renda –, portanto, em risco
de Insegurança Alimentar. Com efeito, segundo o inquérito da Rede PENSSAN, nas áreas
urbanas da região Centro-Oeste havia maiores proporções de Insegurança Alimentar
moderada ou grave, do que nas áreas rurais da mesma região.
Além da fonte de rendimento das famílias, os resultados da Rede PENSSAN
evidenciaram condições particulares associadas à Insegurança Alimentar: Os domicílios
onde a pessoa responsável era mulher, ou de raça/cor de pele autodeclarada preta ou parda,
ou com baixa escolaridade, tiveram níveis menores de Segurança Alimentar. (PENSSAN,
2021) Tais desigualdades não são incidentais e são anteriores à pandemia de Covid-19,
mas o inquérito demonstra como elas têm sido agravadas neste contexto.
Assim, no referido contexto, houve enorme crescimento da população em
Insegurança Alimentar, exacerbando tendência percebida desde 2013, portanto,
crescimento não circunscrito à crise sanitária ocasionada pela pandemia. A apresentação
dos níveis de Insegurança Alimentar enfrentados pela população expõe o problema no
âmbito do consumo, ou seja, falta de acesso aos alimentos. A análise da situação – do
ponto de vista da sua gestão pelo Estado – levanta a necessidade urgente da garantia de
condições de emprego, transferência de renda e outras formas de mitigação das
desigualdades sociais. Contudo, as condições de garantia do direito à alimentação não
residem apenas na disponibilidade do alimento enquanto mercadoria e acesso a ele e
mesmo esta dimensão não podemos isolar na realidade: a inflação de preços dos alimentos,
que dificulta o acesso, não ocorre apenas pela demanda, dependendo de condições além da
esfera do consumo. Por outro lado, tampouco a capacidade produtiva agrícola (em termos
de quantidade) é um problema, uma vez que o país obtém frequentes safras recordes,
mantidas pela produção de commodities (IBGE, 2022b).
A Segurança Alimentar e Nutricional, por sua definição, serve para aferir o acesso
regular à alimentação em qualidade e quantidade, mas pelo limite do próprio conceito, não
se presta como meta para a efetivação do direito à alimentação em todas suas dimensões. A
origem do conceito está vinculada à FAO (Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação) e ao controle da fome e desnutrição em situações emergenciais
e por políticas compensatórias (ZAAR, 2015). Segundo Oliveira e Peixoto (2020), diante
da não resolução destes males sob o paradigma de segurança alimentar, a Via Campesina
Internacional opôs outro conceito na Cúpula Mundial sobre Alimentação, em 1996:
“Outrossim, o conceito de soberania alimentar foi apresentado como contra-hegemônico na
defesa de mudanças estruturais não somente no consumo, mas também na produção.”
(OLIVEIRA; PEIXOTO, 2020, p. 4).
De acordo com Oliveira e Peixoto (2020), baseados em outros autores, por
Soberania Alimentar e Nutricional passou-se a compreender um paradigma produtivo
contrário ao sistema dominante de produção de alimentos – este resultante da chamada
“revolução verde”, guiado pela produtividade e para monocultura de commodities, com
consequências negativas na soberania e diversidade de comunidades locais –, incorporando
assim a defesa do controle da produção e distribuição dos alimentos pelas próprias
populações locais, importando, em outras palavras, no “acesso aos meios de produção e
aos bens comuns, como a terra, a água e as sementes” (ZAAR, 2015, p. 32).
As formas ou “estratégias” de realização daquelas mudanças estruturais para
conquista dessa meta são tema de discussão muito além dos objetivos deste artigo, mas a
soberania alimentar passa necessariamente pela democratização da estrutura agrária, pela
defesa da agricultura camponesa, bem como da agricultura urbana. Ao analisar e discutir o
PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) como um programa de apoio à agricultura
camponesa passível de constituir um projeto nacional de soberania alimentar e nutricional,
Oliveira e Peixoto (2020) defendem a ampliação da sua abrangência e advertem da
importância de torná-lo política pública permanente de Estado. Nos termos da avaliação do
programa pelos seus gestores à época, dez anos antes:
o PAA pode e deve estimular a produção de alimentos mais saudáveis e
contribuir para a transição da matriz produtiva convencional para uma de
base agroecológica, pautada na produção diversificada de alimentos
saudáveis, sem agrotóxicos e transgênicos, que respeite os diversos
modos de vida das populações do campo, fortaleça a cultura alimentar de
cada região e promova a valorização da sociobiodiversidade, inclusive
contemplando a agricultura urbana e periurbana.” (Brasil, 2010, p.
66 apud Oliveira e Peixoto, 2020, grifo nosso).

Nisto reside a relação da agricultura urbana com a segurança e soberania alimentar.


Como destacam Calaça e Souza (2019), o principal papel da agricultura urbana é a
produção de alimentos para o mercado local, aproximando produtores e consumidores,
bem como a presença de atravessadores e/ou circuitos longos monopolizados por redes de
supermercados.
Antes de seguir com o tema, cabe adiantar uma consideração, brevemente
destoante. A experiência que será apresentada foi conduzida por movimento popular cujos
objetivos políticos nem sempre coincidem com os pontos de vista da literatura aqui
presente. Algo inevitável, tratando-se de posições políticas. Também não pretendemos
discutir, como foi dito, a resolução da questão agrária brasileira, nem o artigo alcança essa
totalidade. Mas, com efeito, em relação a este tema, durante a experiência relatada foram
feitos debates de textos com a comunidade local sobre a revolução agrária, tese que
pressupõe a impossibilidade do Estado brasileiro atuar na democratização do acesso à terra
para população do campo. Mais que atitude perante o Estado e sua possível disputa ou não,
tal tese parte do entendimento do problema agrário sobre a base do modo de produção.
Embora possa ser tida, para efeito de pesquisa, como polêmica estéril ou ultrapassada, essa
questão não deixa de estar relacionada à soberania alimentar e, em respeito ao movimento
popular referido, não podia deixar de ser aludida.

1.2. Agricultura Urbana e Periurbana (AUP)

Práticas agrícolas acompanham as cidades desde suas origens, ocorrendo de formas


diferentes em diferentes sociedades com civilização urbana. Desde o entorno dos antigos
centros urbanos do Oriente Próximo, observava-se uma variedade de espaços verdes:
campos, pomares, jardins, hortas, viveiros, parques, entre outros, com funções tanto
produtivas como paisagísticas. Já no ambiente da revolução industrial europeia, prevaleceu
o interesse da propriedade imobiliária na cidade: muitas zonas verdes antes existentes
foram ocupadas por novas construções. Ainda assim, a agricultura não deixou de ser
considerada, pelo planejamento urbano, uma componente da cidade moderna.
(BENEVOLO, 2001)
Nas cidades contemporâneas, a ocorrência da agricultura remete ao conjunto de
práticas compreendidas como agricultura urbana e periurbana (SOUZA, 2019). Durante a
década de 1990, o crescimento da população mundial, em particular da população urbana -
paralelo ao agravamento de problemas ambientais e dos níveis de pobreza – pautou fóruns
de órgãos internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas). Tais fóruns
voltaram-se, então, para a noção de sustentabilidade, como vimos na Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92 (MACHADO;
MACHADO, 2002). Nesse cenário, segundo Souza (2019), as iniciativas de pesquisa e
apoio à AUP convergiram, interessadas em desviar os rumos da urbanização e tendo como
um dos focos a Segurança Alimentar, em especial nos chamados países em
desenvolvimento.
Nesse contexto, a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação) definiu amplamente agricultura urbana e periurbana (AUP) como aquelas
“práticas agrícolas, dentro das cidades e em torno delas, que competem por recursos (terra,
água, energia, mão de obra) que poderiam destinar-se também a outros fins para satisfazer
as necessidades da população urbana.” (FAO, 1999) A agricultura urbana, propriamente, é
tipificada pela FAO (1999) como aqueles cultivos e a criação de animais menores em
pequenas superfícies dentro de uma cidade, para consumo próprio ou para venda em
mercados próximos.
A produção urbana de alimentos pela população mais pobre, como resposta a
situações de crise, era observada como uma face da AUP, nas primeiras pesquisas
mencionadas, que aproximavam tal produção de alimentos a ocupações informais
exercidas para a sobrevivência, sobretudo nos países ditos menos desenvolvidos
(DRESCHER, 2001). A FAO (1999) recomenda, então, o apoio a tais ações espontâneas,
mas logo propõe a evolução da AUP para uma atividade planejada e aceita como “parte
integrante do sistema de recursos naturais urbanos” (FAO, 1999). Nesse sentido, Mougeot
(2001) complementa o conceito ao dizer que o que distingue a AUP da agricultura rural
não é apenas a sua localização, mas a integração com o sistema econômico e ecológico
(ecossistema) urbano:
A agricultura urbana está localizada dentro (intraurbana) ou na periferia
(periurbana) de um povoado, uma cidade ou uma metrópole, e cultiva ou
cria, processa e distribui uma diversidade de produtos alimentares e não
alimentares, (re)utilizando em grande medida recursos humanos e
materiais, produtos e serviços que se encontram em e ao redor de dita
zona, e por sua vez provê recursos humanos e materiais, produtos e
serviços em grande parte a essa mesma zona urbana. (MOUGEOT, 2001,
p. 7)

Ou seja, não há apenas disputa por recursos, mas sim integração das práticas
agrícolas com os recursos naturais, bem como com as redes de serviços e equipamentos
públicos, residências, pequenas empresas, comércio e outras relações na cidade. Como
enfatiza Souza (2019), a AUP não se limita à atividade produtiva, podendo incorporar
certo nível de processamento e também distribuição, o que torna possíveis as referidas
trocas de recursos, produtos e serviços com o restante da cidade. Tais trocas podem ser
observadas na venda no próprio local de produção, em estabelecimentos comerciais, em
feiras ou ainda por meio do comércio ambulante, entre outras formas de circulação não
necessariamente comerciais.
Esta integração da agricultura com o ecossistema urbano varia em diferentes níveis,
de acordo com os espaços rural, periurbano e intra-urbano estabelecidos em um dado
momento (MACHADO; MACHADO, 2002). A diminuição de distâncias e diferenças
entre tais espaços favorece a integração, em um processo no qual à “medida que as cidades
se expandem fisicamente, as fronteiras entre atividades urbanas, periurbanas e rurais se
dissipam e confundem, oferecendo oportunidades para estabelecer relações vantajosas”
(FAO, 1999). Áreas que antes eram predominantemente rurais podem vir a tornarem-se
áreas de agricultura periurbana, onde a situação peculiar pela vizinhança com a área rural
pode ser uma vantagem para a agricultura (MACHADO; MACHADO, 2002). A
urbanização, segundo Mougeot (2001), implica na integração da agricultura, não em seu
isolamento como prática em via de desaparecimento.
A dinâmica das cidades dispõe sobre a delimitação do que é sua periferia e, por sua
vez, do que é agricultura periurbana, em um dado contexto geográfico. Os contextos são
diversos (SANTANDREU; LOVO, 2007), podendo apresentar diferentes recursos e
atividades, dependendo de onde a cidade está situada. Em uma região metropolitana, a
definição de periurbano encontra limites mais imbricados. Contudo, em linhas gerais, a
agricultura periurbana é caracterizada por unidades agrícolas próximas a uma cidade que
exploram intensivamente, com fins comerciais ou semicomerciais, cultivos de hortaliças e
outros produtos hortícolas, criações de frango e outros animais, além de produção de leite e
ovos (FAO, 1999).
A AUP, assim, é formada “tanto pela produção hortícola estruturada para o
abastecimento de mercado quanto pela produção para autoconsumo que é realizada em
quintais, mas também em áreas públicas ou privadas ocupadas de formas diversas.”
(MONTEIRO, 2002 apud SOUZA, 2019, p. 20).
Sobre esta diversidade de áreas da AUP, Moreira (2018) ilustra os espaços urbanos
onde ela acontece:
Ela é feita nos espaços privados (quintais), públicos (escolas, hospitais,
asilos), áreas verdes (parques e jardins), áreas urbanas non edificant
(margens de rodovias, ferrovias, rios e lagos, faixas de redes de linhas de
transmissão de energia), áreas destinadas ao tratamento (aterros
sanitários e lagoas de oxidação). Múltiplos e inimagináveis lugares das
cidades: lotes vagos, terrenos baldios particulares, lajes, tetos, coberturas,
áreas inundáveis, áreas de proteção ambiental, reservas ecológicas
onde são permitidos manejos e usos de potencialidades. Além desses
territórios, a AUP pode ser encontrada nos minifúndios – nas pequenas
propriedades rurais cujo tamanho não é suficiente para a sustentação
econômica da família – dos municípios que compõem as regiões
metropolitanas. (MOREIRA, 2018, p. 250, grifo nosso)

Nota-se, novamente, que a agricultura não ocorre isolada, apenas resistindo na


terra, pelo contrário, ela dá funções novas aos espaços onde acontece. Como ressalta Souza
(2019), trata-se de uma “expressão de ruralidade na cidade” (SOUZA, 2019, p. 19) que
contém possibilidades de desenvolvimento, não apenas uma prática rural remanescente. Ao
definir a AUP assim, concorda com Abramovay (2003), segundo o qual a ruralidade é um
valor definido, entre outras características, por alguns
atributos territoriais [...]: uma certa relação com a natureza (em que a
biodiversidade e a paisagem natural aparecem como trunfos e não como
obstáculos ao desenvolvimento) [...] e uma certa relação dos habitantes
entre si (que pode ser definida pela economia da proximidade, por um
conjunto de laços sociais que valorizam relações diretas de
interconhecimento)”. (ABRAMOVAY, 2003, p. 13)

Tais considerações sobre a integração da AUP, como expressão de ruralidade,


advertem contra aquelas possíveis abordagens da mesma enquanto mera atividade
marginal. Embora possa ser exercida pela população mais pobre para a produção de
alimentos em situação de emergência, é conhecido o potencial de desenvolvimento da
AUP quando aportado pelas condições necessárias. Sobre isto, Calaça e Souza (2019)
pontuam que, frente à disputa pelo espaço na cidade, faz-se necessário o envolvimento do
poder público, apoiando a agricultura urbana. Sobre o seu potencial, elencam as
possibilidades para o urbanismo, “na recuperação e revitalização de espaços degradados e
subutilizados na cidade, ocupando produtivamente [...] praças e áreas públicas”
(CALAÇA; SOUZA, 2019, p. 261), além do potencial de contribuição para a melhoria da
segurança alimentar e nutricional, abordado aqui.
2.1. Contextualização e outras práticas agrícolas no Jd. Tiradentes

No plano diretor de Aparecida de Goiânia, o bairro Jardim Tiradentes faz parte da


Região Administrativa Tiradentes, sudoeste do município que integra a Região
Metropolitana de Goiânia (RMG). O setor surgiu na década de 1990, para acomodar
aproximadamente 4.000 famílias que acampavam em Goiânia, tendo sido registrado com
20% de sua área total em área de preservação ambiental. (LIMA e RIBEIRO, 2008) A área
de preservação protege o córrego Santo Antônio, que passa pelo bairro, e uma nascente do
mesmo, encontrada na área conhecida como Parque Bambu. Este parque, idealizado em
2003 como parte do projeto “Comunidade legal – Nova Cidade”, localiza-se na margem
esquerda do córrego Santo Antônio (LOPES; SILVA; VIEIRA, 2005). (Figura 1)

Figura 1. Localização do bairro Jardim Tiradentes.

Em dezembro de 2020, visitamos aleatoriamente alguns locais no bairro onde


identificamos práticas de AUP. Os pontos encontrados podem ser vistos no mapa da figura
2, bem como o Parque Bambu e a localização da horta comunitária. Nos limites do Parque
Bambu, havia dois pontos: um na rua 27, onde era mantido um jardim e uma pequena
plantação de feijão, na área pública (figura 3). Moradores de duas casas em frente ao local
informaram que um único vizinho mantinha o jardim e a plantação. Em outro ponto do
parque na mesma rua, uma plantação abandonada de mandioca e bananas, onde moradores
relataram ter começado uma pequena ocupação por moradia que, ao ser removida pela
prefeitura, deixou a plantação remanescente.
Ainda nos limites do parque, na Escola Municipal (EMEI) Monteiro Lobato, a
então diretora nos informou que a escola mantinha uma pequena horta nos fundos da
instituição até o final de 2019, antes da pandemia de Covid-19. Já no CMEI Leotério Dias
Machado (figura 4), na rua 21, registramos uma horta escolar, que, segundo informou a
diretora, foi feita com recursos pagos pelos funcionários do CMEI, com auxílio do trabalho
de um morador do bairro a quem pagaram ajuda de custo de 180 reais mensais. Ainda
segundo a diretora do CMEI, os produtos da horta foram usados na merenda escolar e
ocorreram doações eventuais de hortaliças para famílias no setor.

Figura 2. Pontos de ocorrência de prática agrícola em dezembro de 2020.


Figura 3. Plantação na rua 27, na via pública (foto do autor, 02/12/20).

Figura 4. Horta CMEI Leotério Dias Machado (foto do autor, 02/12/20).

Na Escola Municipal Valdir Gonçalves (figura 5), encontramos a estrutura de uma


horta - então desativada devido à pandemia - mas que, segundo nos informou a
coordenação da escola, foi mantida até o final de 2019. Esta contava com o trabalho do
mesmo “funcionário”, morador do bairro, que mantinha a horta do CMEI Leotério.
Figura 5. Escola Municipal Valdir Gonçalves, Jd. Tiradentes (foto do autor, 02/12/20).

Na avenida principal do Jd. Tiradentes, encontramos a horta comercial “Produtos


da Terra Hortaliças Orgânicas” (figura 6), mantida com trabalho familiar de pai e filho,
onde plantavam então, dezembro de 2020, folhagens, principalmente variedades de alface e
cebolinha. Vendiam também: mudas, ovos, adubo de esterco de galinha e polvilho. O
senhor Edson, o pai, participou da primeira reunião de moradores no parque Bambu para
preparação da horta comunitária, ocasião em que deu algumas sugestões de cultivos.

Figura 6. Horta comercial, Av. 8 do Jd. Tiradentes (fonte: Google Earth, 04/2019)

Outro ponto de AUP com produção comercial na adjacência do Jd. Tiradentes


estava em uma pequena propriedade na Av. Vinte um de Abril, onde se plantava milho,
melancia e outras culturas para comércio, segundo o filho do proprietário, que trabalhava
em uma banca de venda em frente à entrada da propriedade.
Também em dezembro de 2020, a ONG EcomAmor nos informou sobre a horta
coletiva desenvolvida no Colégio Estadual Jesus Conceição Leal (figura 7), no setor
Garavelo, próximo ao Jardim Tiradentes. Em depoimento em vídeo cedido pela ONG, a
professora de Geografia relata que a escola, contando com apoio de um pai que possuía
experiência, mobilizou-se para cultivar alimentos durante a pandemia.

Figura 7. Colégio Jesus Conceição Leal, St. Garavelo (foto cedida pela ONG EcomAmor, 1º semestre de 2020).

Essas outras iniciativas indicam a presença da AUP no Jd. Tiradentes e nas


proximidades do bairro, da qual registramos apenas alguns pontos. Como afirma Moreira
(2018):
[...] a agricultura urbana, além de ser uma atividade produtiva, é processo
social que envolve múltiplos atores, múltiplas funcionalidades na vida
das cidades – da cidade produtiva e da cidade ecológica -, integra
diversos conhecimentos e saberes, transdisciplinaridades [...]
(MOREIRA, 2018)

Diversidade de atores e funções cuja proximidade é propícia à formação de redes:


de conhecimento, apoio, trocas e fornecimento de alimentos.
2.2. A experiência da horta comunitária

Em abril de 2020, um grupo de professoras, estudantes e outros trabalhadores, em


sua maioria mulheres, criaram o Comitê de Solidariedade Popular e iniciaram a
arrecadação e distribuição de cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade,
em Aparecida de Goiânia. O contato do Comitê com as famílias, a princípio feito
aleatoriamente por meios pessoais, passou a receber pedidos de ajuda e a priorizar
mulheres, desempregadas e com filhos em casa. Esse contato inicial orientou a distribuição
de cestas básicas para as regiões do Garavelo e Tiradentes.
Em meados de abril, começaram as entregas de cestas: algumas famílias em
situação de urgência receberam cestas separadamente, e no dia 15/04, foram entregues
cestas para 21 famílias, no setor Colonial Sul, região do Jardim Tiradentes. Juntamente
com as cestas, eram distribuídos panfletos com texto sobre a importância de a população se
organizar em “grupos de ajuda mútua no bairro, no intuito de fortalecer o espírito coletivo
como forma de resistência a este velho e genocida Estado.” (CSSPGO, 2020) Segundo
relato do evento, uma moradora “disponibilizou um lote para construção de uma horta
comunitária, demonstrando que é possível [haver] grupos de ajuda mútua no bairro”
(CSSPGO, 2020).3
Em 23 de abril, mais 21 cestas foram distribuídas, dessa vez no Jardim Tiradentes.
Novamente, as cestas foram acompanhadas de panfletos reproduzindo as orientações de
saúde pública correntes, com medidas recomendadas para a prevenção da Covid-19,
juntamente com texto político sobre a situação do país e a necessidade de trabalhadoras e
trabalhadores organizarem-se coletivamente e de forma independente, em função de uma
luta de classe.

3
Mais tarde, seria esclarecida a situação da área indicada pela moradora, tratando-se de uma área pública
próxima à sua residência e não de área particular emprestada à coletividade. Não obstante, este tipo de cessão
de propriedade para uso comum não deixa de ser uma possibilidade para a agricultura urbana.
Figura 8. Distribuição de cestas no Ginásio do Jd. Tiradentes (Foto do Comitê Sanitário de Solidariedade Popular,
23/04/20).

Nestes encontros com os moradores, fizeram-se falas breves acerca da pandemia e


da crise na sociedade, bem como um convite para unirem-se ao Comitê de Solidariedade.
Nestas ocasiões, também, foram tomados cuidados contra aglomeração e de uso de
máscaras. (Figura 8)
A partir dos contatos feitos durante as entregas de cestas, moradores do bairro,
principalmente mulheres, começaram a participar de reuniões do Comitê de Solidariedade
para discutir sobre a situação política, o desemprego e outros problemas em suas vidas,
bem como para discutir a proposta dos grupos de ajuda mútua. No dia 08 de maio, após
mais uma entrega de cestas, um grupo se reuniu e decidiu começar a realizar atividades na
comunidade, tais como distribuição de água sanitária e de máscaras; e neste mesmo dia,
decidiu-se por fazer a horta coletiva.
A área selecionada para a horta foi proposta por uma moradora que reside em frente
ao local, na Rua 10. A área em questão situa-se no limite da área conhecida como Parque
Bambu. Na mesma rua 10 adjacente ao Parque, dois moradores já praticavam agricultura
de sequeiro, cultivando mandioca, milho e outros alimentos nas respectivas áreas do
parque em frente às suas casas. Estes dois moradores, aposentados, passaram a participar,
assim como a esposa de um deles, contribuindo com seus saberes oriundos da experiência
de vida. Em 20 de maio, uma família e alguns apoiadores do Comitê realizaram a capina
do terreno: A área total aberta para o uso, não apenas a área que veio a ser plantada, estava
estimada em cerca de 160m² (Figura 9)
Figura 9. Mutirão de limpeza da área (Foto do Comitê Sanitário de Solidariedade Popular, 20/05/20)

Alguns dias depois, convocou-se a comunidade para uma reunião de planejamento


com dois agrônomos convidados. Nesta reunião, compareceram cerca de 10 pessoas,
contando com os agrônomos e um agricultor do bairro. As famílias decidiram pelo plantio
de hortaliças especialmente de ciclos curtos, que pudessem ser colhidas em poucos meses:
alfaces, couve, jiló, cebolinha, berinjela, entre outras. Posteriormente, a limpeza da área,
em meio a outras atividades na comunidade, envolveu mais pessoas no projeto. E com o
trabalho coletivo, concordou-se em que as colheitas da horta fossem distribuídas de acordo
com a contribuição em trabalho de cada família.

Figura 10. Área comunitária. (Foto do Comitê Sanitário de Solidariedade Popular, 01/06/20).
Em junho, o Comitê de Solidariedade entrou em contato com viveiros de mudas em
Goiânia e Aparecida de Goiânia, solicitando doações das qualidades de hortaliças
sugeridas em reunião. Em resposta, um viveiro da região norte de Goiânia, chamado Pomar
do Jucá, doou várias espécies de mudas e sementes, como alface, ora-pró-nóbis, açafrão,
jiló, urucum, cebolinha, babosa, pepino, entre outras, além de uma quantidade de adubo
orgânico. De forma semelhante, ao longo dos meses, apoiadores e moradores do Jardim
Tiradentes fizeram pequenas doações de mudas, incluindo alface, cebolinha, açafrão,
gengibre, boldo, coentro, salsa, tomate e frutíferas como banana, abacate e jabuticaba.
Ao passo em que eram providenciadas mudas e sementes, dedicou-se atenção ao
problema da fonte de água. Em 21 de junho, uma reunião na área levantou diferentes
propostas, acabando por escolher a solução de usar água encanada de uma residência, por
meio de mangueira para abastecer uma caixa d’água ao lado da horta. Foram conseguidas
uma caixa d’água de 1000L, usada e uma mangueira igualmente usada, ambas sem custo,
que foram instaladas na área pública. E fez-se um acordo com uma participante, em que os
responsáveis pela irrigação acessariam sua casa para abastecer a caixa, ficando o Comitê
responsável por arcar mensalmente com o custo adicional na conta de água.4 Com a água
armazenada diariamente, os moradores usaram regadores manuais e garrafas “pet” para
irrigação.
Também no mês de junho, um grupo de mulheres construiu parte da horta com
pneus, cedidos por uma borracharia próxima. Com adubo doado pelo viveiro, elas
prepararam 20 vasos com cebolinhas, jilós e outras hortaliças. Em seguida, um grupo
maior de pessoas fez a preparação do solo, erguimento dos canteiros e no primeiro canteiro
plantaram folhagens. Para fertilização usou-se adubo animal, este adquirido no próprio
setor com um comerciante ambulante, fora outra quantidade de adubo levada por uma
apoiadora, que o retirou da pequena propriedade rural de seu pai.

4
Os recursos do Comitê foram levantados por meio de atividades no bairro, como Bazares de roupas, Rifas
e Bingos, contando com doações de apoiadores.
Em 21 de julho, o Comitê comprou mais de 100 mudas em um viveiro no
Residencial Itaipu, bairro de Goiânia próximo à divisa com Aparecida de Goiânia. Foram
plantadas, então, beterraba, berinjela, quiabo e diferentes qualidades de alface. Para
cobertura dos canteiros, substituindo a palha de arroz, foi usada serragem descartada por
uma serraria no Jd. Tiradentes. (Figura 11)

Figura 11. Plantio de mudas (Foto do Comitê Sanitário de Solidariedade Popular, 21/07/20)

Os custos de ferramentas, mudas, insumos e demais gastos foram pagos com


recursos levantados por arrecadações de apoio e angariados com a comunidade do Jd.
Tiradentes, em atividades cujas prestações de contas e relatos foram publicados nas redes
sociais do Comitê Sanitário de Solidariedade Popular. Dessa forma, com apoio eventual de
outras pessoas que não residiam no bairro, entre sete e dez famílias dedicaram-se aos dias
de trabalho coletivo e dividiram a responsabilidade de irrigação e manutenção da horta por
dias da semana, trabalhando ora juntas, ora individualmente. A colheita e divisão das
hortaliças foram sendo feitas em encontros marcados com todos no local.
As famílias estavam representadas, em sua maioria, por mulheres, aposentadas, mas
também homens na mesma condição. Alguns realizavam trabalhos temporários informais,
como pedreiro e com reciclagem. Também participaram, eventualmente, jovens,
desempregados naquele momento, além de crianças. As culturas colhidas com mais
regularidade foram, sobretudo, de folhagens, mas também de outras hortaliças. Algumas
mudas frutíferas recebidas por doações não prosperaram no local, devido a dificuldades no
seu manejo e à qualidade do solo.

Figura 12. Cebolinha, alfaces e outras hortaliças. (Foto do Comitê Sanitário de Solidariedade Popular, 08/20)

A essa altura, com a horta construída e plantada, seu crescimento era visível desde a
rua. Vários moradores expressaram uma percepção de mudança que a intervenção resultara
na paisagem, em comparação com o abandono de anos anteriores. Em uma ocasião, no mês
de julho, um princípio de incêndio criminoso tomou parte da mata imediatamente junto à
horta e a moradora em frente ao local agiu para conter o fogo, demonstrando interesse na
preservação da área.
Em outra ocasião, no mesmo mês, fomos surpreendidos por uma visita de agentes
da SEMMA (Secretaria Municipal do Meio Ambiente), acompanhados pelo proprietário de
uma empresa incumbida do reflorestamento da área. A empresa plantara várias mudas ao
longo do terreno e, segundo o seu proprietário, fizera um contrato verbal com um morador
em que este cuidaria da área. Este morador, como foi esclarecido depois, era Seu G.,
aposentado, um dos participantes da horta, que já cultivava alimentos na “sua” parcela do
Parque Bambu. Ao nos verem trabalhando na horta, os agentes, juntamente com o
empresário, tentaram repreender os presentes e nos convencer de que o que estávamos
fazendo era proibido. Somente após diálogo, os agentes da prefeitura sugeriram protocolar
um projeto de intervenção pública que tornasse a prática reconhecida pela prefeitura. A
relevância do episódio está no fato de que a SEMMA estava fiscalizando o serviço
prestado pela empresa e – apesar da aparência de abandono da área onde esta não havia
sido usada pelas famílias – sua ação foi exercer autoridade justamente contra elas, com o
argumento de prevenir a ocupação ilegal do terreno. Dias após esse ocorrido, uma
moradora relatou a visita de um homem, que apresentou-se como agente da SEMMA, à sua
casa, para dar-lhe o aviso de que não era permitido o uso da área. Depois desse episódio,
não soubemos de mais visitas ou contatos da SEMMA.
Em 26 de julho, houve a primeira pequena colheita. Na primeira quinzena de
agosto, nova adubação e cobertura do solo, com esterco de galinha e serragem,
respectivamente. Foram plantados novamente coentro, boldo, mastruz, couve-flor, mudas
de jabuticaba e distribuídos maços de cheiro verde e alfaces para um total de dez
participantes. No final de agosto, mais hortaliças colhidas e distribuídas entre sete
participantes. Na primeira quinzena de setembro, mais de 50 pés de alface, além de couve,
cebolinha, beterraba, coentro, hortelã, jiló e rúcula, foram divididos entre seis moradores.
Em setembro, ocorreram pequenos “furtos”, segundo relato dos participantes,
quando moradores que não participavam do trabalho entraram e colheram para si algumas
hortaliças. Isto, somado a um evento no mesmo período – mais um foco de incêndio na
área – foi motivo de dúvidas sobre a continuação da horta. Mas os participantes se
reuniram, discutiram e decidiram por continuar.
Em meados de outubro, duas famílias reformaram os canteiros e o Comitê comprou
mais 120 mudas e sacos de esterco, no mesmo viveiro no Residencial Itaipu. Novamente,
aproveitou-se serragem buscada na serraria do próprio setor, para cobertura dos canteiros.
Em 21 de outubro, fez-se nova preparação do solo e plantio das mudas. No final de
outubro, duas famílias plantaram milho e mandioca. Com o início da estação chuvosa, a
manutenção da área tornou-se mais difícil, porém em meados de novembro, duas famílias
realizaram novamente a limpeza do local, usando ferramentas manuais e sem produtos
químicos. Em 15 de novembro, quatro famílias dividiram mais uma colheita de diversas
hortaliças. Durante o mês de dezembro, continuaram realizando a manutenção da horta,
resultando em mais uma colheita de jilós, berinjelas, cebolinhas e couves, em 05 de janeiro
de 2021.
Considerações Finais

A revisão bibliográfica e consulta de dados secundários sobre a Segurança


Alimentar no país mostram a prevalência alarmante da Insegurança Alimentar nos
domicílios brasileiros, aumentada durante o contexto de pandemia de Covid-19. Situação
que no imediato somente poderia ser respondida em escala nacional, com medidas para
melhoria da segurança alimentar, pelo Estado brasileiro, por questões operacionais da
execução coordenada de tais medidas que competiria a um governo.
Tal resposta significaria a gestão da crise na sociedade no sentido da garantia de
maiores níveis de Segurança Alimentar, porém, o governo militar de Jair Bolsonaro, desde
seu início, passando pelo período considerado em nosso caso particular, até a atualidade
conduz o Estado no sentido do agravamento das condições de vida e da Insegurança
Alimentar da população, vetando projetos de apoio emergencial à agricultura camponesa,
como o PL 823/2021, que previa benefício e crédito rural para agricultores familiares em
situação de pobreza e extrema pobreza. O auxílio emergencial, criado durante o ano de
2020 em que corria a experiência tratada por nós, teve seu valor reduzido sucessivamente
desde então. Entre outras medidas, como o fim do programa Bolsa Família e sua
substituição por outro programa de transferência de renda que impõe riscos de maior
endividamento à população. Por outro lado, são incontáveis os privilégios concedidos ao
“agronegócio”, à mineração, entre outros setores, que nada têm a ver com as necessidades
básicas da maioria da população. Situação que exige uma resposta radical, não nos cabe
definir qual e por que meios.
Nesse sentido, a Soberania Alimentar e Nutricional se coloca como horizonte
coerente para a análise e busca de solução da fome e desnutrição. A Agricultura Urbana e
Periurbana se apresenta como forma de agricultura local cujo principal papel é a produção
de alimentos para os mercados locais, constituindo ruralidades nas cidades que podem
assumir formas diversas, com potencial de contribuir para a melhoria da segurança
alimentar e passíveis de constituir projetos de soberania alimentar e nutricional.
No caso da horta comunitária no Jardim Tiradentes, a experiência acompanhada
teve impactos na vida das famílias envolvidas e no próprio bairro, promovendo a
socialização e organização dos moradores em torno da defesa do direito ao espaço público,
diversificando a dieta dos participantes e modificando a paisagem com perceptíveis
melhorias da qualidade de vida. Embora o relato se circunscreva ao período de 2020, as
famílias seguem realizando bazares e outras atividades para arrecadação de recursos,
visando a continuação das atividades. Cabe destacar, após o período relatado, o início de
obra para construção de equipamentos públicos pela prefeitura municipal de Aparecida de
Goiânia, na área do Parque Bambu. Projeto existente, pelo menos, desde 2003, retomado
com o anúncio de “parque ecológico” (INCÊNCIO, 2020), porém com projeto de
pavimentação e construção de equipamentos que não justificam tal nome. Enquanto o
projeto inicial previa: “Viveiro Comunitário, Banco de Sementes, Laboratório e Horto
Fitoterápico, Oficina do Bambu, Centro de Compostagem, Anfiteatro, [...]” (LOPES; SILVA;
VIEIRA, 2005, p. 9).
A experiência das famílias do Jardim Tiradentes se desenvolveu a partir de
diferentes atores e saberes e pôs em prática o potencial da agricultura urbana a partir da
própria organização coletiva da comunidade local. Ao intervir em área pública, antecipou
as diretrizes do planejamento municipal de Aparecida de Goiânia, que preveem a
implantação de Parques nas áreas verdes como a do Parque Bambu, o fazendo da forma
coerente com a preservação ambiental.

REFERÊNCIAS

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