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UNIVERSIDADE FEEDERAL DA INTEGRACAO LATINOAMERICA – UNILA

INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ECONOMIA SOCIEDADE E POLÍTICA –


CIENCIA POLITICA E SOCIOLOGIA

JOSÉ LEONARDO BENÍTEZ

MAPEAMENTO DE MOVIMENTOS SOCIAIS DA AL: LAS OLLAS POPULARES EN


PARAGUAY

FOZ DO IGUAÇU

2022
INTRODUÇÃO

Paraguai é um país da américa do sul, a economia do país é fundamentalmente


dependente da exportação de matéria prima. É um país muito desigual em relação a
distribuição de terra, segundo a FAO em 2011, o coeficiente GINI de distribuição da terra no
Paraguai era de 0,93, isso significa que a maior parte das terras está concentrada na posse de
uns poucos proprietários. O uso de estas terras está destinado principalmente ao agronegócio
ou pecuária intensiva. Por conta deste fenômeno de desapropriação de terra, a migração rural
para as zonas urbanas se tornou a principal expressão. Estes processos de urbanização
geraram, ao mesmo tempo, condições para a precarização nas condições de vida de uma
grande parte da população.

Esta breve investigação busca relatar o surgimento (mesmo que já se tiveram


experiencias similares anteriormente) de um movimento social, chamado de “Ollas
Populares” liderado quase inteiramente por mulheres que no contexto da pandemia de
COVID – 19 se organizaram para garantir o direito à alimentação dos seus filhos e
comunidade, mas que já desde o início se propôs expor a ausência do estado no combate à
fome, a inexistência de um plano num contexto de emergência e de políticas públicas
voltadas para a população mais vulnerável.

Como resultado de toda esta luta, se organizaram em todo o país mais de 1700 “Ollas
Populares” pela continuidade da vida das pessoas. Com muita mobilização e resistência o
movimento concretizou a promulgação de Lei N° 6603/2022 que presta apoio e assistência a
panelas populares organizadas para o seu sustento.

AS “OLLAS POPULARES” COMO ESTRATEGIA DE LUTA

A nova configuração da sociedade no Paraguai se estabelece como resultado da


expansão do agronegócio e da pecuária, causou a expulsão das comunidades camponesas e
indígenas das suas terras o que, por sua vez, criou processos de urbanização muito
precarizados e sem nenhum planejamento urbanístico o que trouxe tona novas problemáticas
e lutas por novas necessidades e formas de supervivência dentro de um, também, nove
cenário, o urbano territorial.

Com a pandemia de COVID – 19, foi evidenciada uma das multiplex crises do
sistema capitalista, isso trouxe à tona a verdadeira faze do sistema neoliberal extrativista. A
expulsão dos camponeses e indígenas dos seus lugares de origem, gerou uma urbanização
muito desfavorável para estes segmentos da população, sem emprego seguro, sem moradia,
sem cobertura medica, sem segurança social o que os expõem a uma situação de
vulnerabilidade.

Neste contexto, no Paraguai, a reprodução da vida está estreitamente relacionada as


organizações sociais e comunitárias que estão, a maioria das vezes, separadas dos
mecanismos de proteção social do estado, dirigido a os setores mais empobrecidos. Estes
mecanismos de proteção social do estado são muito pobres e chegam somente a um setor
muito pequeno da população e ao mesmo tempo funcionam somente como um complemento
para a proteção social e não como uma proteção efetiva. Isso faz que setores da sociedade que
não conseguem acessar aos sistemas de proteção do estado, tenham que se organizar
coletivamente para garantir a sua supervivência e ao mesmo tempo os setores mais
vulneráveis que tem acesso aos programas de proteção do estado também tenham que
participar destas organizações para efetivar a sua supervivência.

Desta maneira é que surgem as “Ollas Populares” para enfrentar o problema da fome,
amplamente estendida no país. Estas ações acabam se convertendo em movimento social por
causa da sua organização e por que se torna uma forma alternativa de protesta e intervenção a
um problema social específico.

O movimento tem como referência mulheres. As organizações comunitárias se


juntaram e reclamaram ao estado o poio as Ollas Populares como medida urgente de combate
a fome tendo em vista a quarentena obrigatória e por sua vez exigiram o cumprimento, por
parte do estado, do direito a alimentação. Em consequência, as organizações pediram por uma
Lei que lês permitisse acesso a produtos e alimentos de qualidade e em quantidades
necessárias, para suportar a crise econômica e sanitária.

Toda a luta foi concretizada com a sanção da Lei Nº 6603/2020 que dá apoio e
assistência as Ollas Populares organizadas em todo o país durante a pandemia do COVID –
19.

FUNCIONAMENTO

Todas as organizações foram lideradas por mulheres, que cederam as suas casas para
montar as Ollas Populares. São organizações territoriais estruturadas de diversas maneiras,
são marcadamente politizadas e com lideranças de todas as gerações, tendo destaque o das
mulheres jovens. A maioria não tem o ensino fundamental completo. No caso dos Bañados, a
população está em risco constante de ser despejado por conta de projetos de “Urbanização e
Modernização” da capital Assunção nos assentamentos que são vitorias conquistadas muito
recentemente ou ainda em fase de regularização.

As Ollas Populares se organizaram como um grupo de vizinhos para, pelo menos,


garantir uma comida diária nas zonas onde não existe alguma presença do estado. Cada
família colabora com alguma coisa y assim lentamente é que se fortaleceu um espaço
organizativo, y sempre exigindo ao estado que se responsabilizem pela situação.

Assim, surgiram as primeiras organizações comunitárias e ao mesmo tempo


conformou-se uma associação de Olleras, que em português seria paneleiras. Com muita
mobilização conseguiram a atenção da cidadania no geral e assim do próprio Estado a Lei Nº
6603 de apoio e assistência pelo intermédio do Ministério de Desenvolvimento Social
(MDS), o Instituto Paraguaio do Indígena (INDI) e a Secretaria de Emergência Nacional
(SEM). Ao mesmo tempo, estes institutos coordenaram os trabalhos com as distintas
organizações sociais, comunitárias e indígenas.

Durante a pandemia, quase todo o trabalho do estado foi afetado por escândalos de
corrupção, nesse cenário se mostrou incapaz de mostrar respostas efetivas para a emergência
do momento. Segundo relato das organizadoras, durante a quarentena o medo ao contagio foi
menor ao medo de passar fome, para isso a alternativa que encontraram as mulheres foi a de
trabalhar de voluntarias no Banco de Alimentos que está localizado no Mercado Municipal de
Abasto. Ali o seu trabalho foi a classificação de legumes. Recebiam como pagamento
legumes picados e selecionados daqueles que não foram vendidos no mercado.

As formas de organizar o trabalho para a alimentação comunitária foi similar em


quase todos os territórios. A necessidade concreta das famílias de alimentar aos seus filhos e
comunidade foi o disparador da organização mediante o aporte solidário. A seleção do menu
era um aspecto chave para conseguir os recursos para a preparação dos alimentos, além de
pensar a parte nutricional da comida.

A mobilização garantiu o direito a alimentação e foram o inicio de outras iniciativas


tais como feira de roupas e de comidas; também se estabeleceram espaços voluntários de
reforço escolar crianças y finalmente se propôs que os lugares sejam espaços integrais para a
comunidade.

A partir das Ollas Populares, com o passo dos dias, também se organizaram os
comedores populares apesar das dificuldades e restrições. Se tornou uma grande conquista
coletiva e foi o início da mobilização por uma Lei de comedores populares. No dia 26 de
junho de 2022, o congresso aprovou a criação de um programa de comedores e centros
comunitários com financiamento do estado.

CONCLUSÃO

As panelas populares sempre existiram, são uma maneira em que organizações


mobilizadas garantiam a alimentação no meio da mobilização, também algumas comunidades
em momentos específicos realizam este tipo de atividades, mas não de maneira regular e
assim podemos citar outras maneiras diversas em se organizaram comidas coletivas.

Neste trabalho pudemos compreender como, em um cenário de emergências, as


mulheres de várias localidades se organizaram para garantir a alimentação de suas
comunidades. Este acontecimento tomou proporções de um movimento social a nível
nacional, muito bem organizado, com seu próprio modo de ativar e suas próprias demandas.
Pudemos ver como, mais uma vez, a organização coletiva foi muito mais efetiva para
enfrente a emergência que qualquer iniciativa do Estado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LÓPEZ, Sara; HOUDIN, María. Las ollas populares en Paraguay: Entre la sobrevivencia y la
lucha territorial por lo público común. Bienestar social y disputas por lo público y lo
común en América Latina y el Caribe: Políticas y Lineas de Acción, CLACSO, ano
Noviembre 2022, v. 1, ed. 10, 15 nov. 2022. Disponível em: www.clacso.org. Acesso em: 7
dez. 2022.

RODRÍGUEZ, Fátima. COVID19 en la economía de las mujeres paraguayas. Especial


COVID - 19: Informativo Mujer, Tiempos de Coronavirus, v. 1, ed. 24, 19 abr. 2020.
Disponível em: www.cde.org.py/tiempodecoronavirus/. Acesso em: 7 dez. 2022.

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