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Os Fundamentos Filosóficos da Dominação Colonial da Ameríndia

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Os Fundamentos Filosóficos da Dominação Colonial da Ameríndia

Apresentação

{Figura}

Fonte: http://bit.ly/2UU301b.

Enrique Dussel nos coloca frente a frente a dois filósofos, Ginés Sepúlveda e Bartolomeu de
Las Casas, no debate que aconteceu em Valladolid em 1550, convocado pelo Imperador da
Espanha, Carlos V (1500- 1580). O Imperador - para implantar a dominação hispânica sobre os
ameríndios - já tinha o aval político (e religioso) do Papa pela bula Inter Caetera de 1493; a fim
de 'tranquilizar' sua consciência, no entanto, faltava-lhe a justificação filosófica. Nesse
entrevero, Sepúlveda justifica e Las Casas condena a práxis de dominação espanhola. Nesse
debate estava em questão, sobretudo, o estatuto ontológico dos ameríndios.

Bons estudos!

Conteúdo

Sepúlveda justifica a violenta conquista dos ameríndios pelos espanhóis

Examinemos, sucessivamente, os argumentos de cada um desses protagonistas, seguindo o


intrigante roteiro criado por Enrique Dusssel em seu artigo: "O primeiro debate filosófico da
Modernidade". (DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 56-66). As citações em espanhol
ou latim foram traduzidas para o português pelo autor da aula.

Sepúlveda argumenta em favor da dominação hispânica sobre os índios por que:

Será sempre justo e conforme o direito natural que tais povos [bárbaros] se submetam ao
império de príncipes e nações mais cultas e humanas, para que, por suas virtudes e prudência
de suas leis, deponham a barbárie e se convertam à vida mais humana e ao culto da virtude.

(Apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ,2009, p.57).

Observa bem Dussel,

... essa é uma releitura do texto de Aristóteles, do filósofo defensor da escravidão grega do
Mediterrâneo oriental, agora situada num horizonte do Oceano Atlântico, isto é, com
significado mundial.

E se não aceitarem tal império, pode-se impor-lhe por meio das armas, e tal guerra será justa
segundo o direito natural ... Em suma, é justo, conveniente e conforme a lei natural que os
varões íntegros, inteligentes, virtuosos e humanos dominem sobre todos os que não têm
essas qualidades.
(DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 57-58).

Isso mostra que, na sombra de Aristóteles - que considerava "humanos" apenas os gregos, só
eles eram civilizados e cultos em contraste com os demais que eram bárbaros, ignorantes e
sem cultura e, por esse motivo, podiam ser escravizados pelos gregos, pois esses demais
povos eram escravos por natureza – Sepúlveda considera os europeus como os homens
probos, inteligentes, virtuosos e humanos; por conseguinte, por natureza e justiça, eles têm o
direito de dominar os ameríndios, pois estes são bárbaros, isto é, não são humanos. Dessa
forma esse argumento declara justas as guerras contra esses povos se não quiserem a eles
submeter-se; justificou Sepúlveda, assim, todas as barbaridades dos europeus que irão
perpetuar-se até hoje como genocídios, trabalhos forçados, escravidão, posse sexual das
mulheres na frente de seus maridos e tantas outras perversidades. É esse o castigo que se
deve infringir aos bárbaros a fim de se tornem civilizados e humanos. Para ele, as grandes
culturas dos incas e dos astecas não eram uma amostra de civilização. Mas, como observa
Dussel, debaixo desse argumento sempre aparece a "falácia desenvolvimentista". Examine
como Sepúlveda desenvolve o seguinte argumento:

Porém veja quanto se enganam e discordo eu de semelhante opinião, vendo ao contrário,


nessas instituições [astecas ou incas] uma prova da barbárie rude e inata servidão desses
homens ... Têm [certamente] um modo institucional de republica, contudo, ninguém possui
coisa alguma como própria, nem um casa, nem um campo de que possa dispor nem deixar
testamento a seus herdeiros. ... sujeitos à vontade e capricho [de seus senhores] que não tem
sua liberdade ... Tudo isto é sinal certíssimo do ânimo servil e submisso desses bárbaros.

(apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ,2009, p. 58).

Sepúlveda reconhece, no texto acima, que os incas e astecas tinham organização


institucional, mas recrimina como desumanos porque eles viviam em casas comunitárias e
porque não havia o direito de Herança, tão injusto em nossas sociedades. Ele acrescenta
cinicamente (no dizer de Dussel) que os europeus outorgam aos indígenas: "a virtude, a
humanidade e a verdadeira religião [que] são mais valiosos que o ouro e a prata" (DUSSEL,
MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 58) que os europeus extraíam brutamente das minas
americanas, com suor e sangue dos índios. Assim ficam justificadas as conquistas europeias
como uma missão civilizadora, fica também tornada justa a servidão desses povos e
exploração do ouro e prata; a Europa podia, desse modo, impor sua religião de maneira
dogmática e, quando não a aceitassem, tinha o justo direito de impô-la pelas armas; todas as
formas de dominação e crueldade se tornam justificadas a partir dos argumentos de
Sepúlveda e era exatamente isso o que queriam os gananciosos colonizadores da América.

Sobre o domínio colonial do rei da Espanha, no livro 1, título 1, ley 1, de la Recopilación de las
Leyes de los Reynos de las Índias (1681) se lê um agradecimento a Deus do Imperador Carlos
V, por receber dele o domínio de tantas terras no além-mar: "Deus Nosso Senhor por sua
infinita misericórdia e bondade nos obsequiou sem merecimentos nossa tão grande parte no
Senhorio deste mundo." (Apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 58-59). Esse
domínio, receberam os soberanos da Espanha do Papa na já aludida bula Inter caetera de
1493.
Sepúlveda tem ainda um último argumento para justificar as guerras contra os ameríndios - e
esse argumento, à primeira vista, parece válido - em relação aos sacrifícios humanos que
alguns povos indígenas realizavam: "A segunda causa é desterrar as torpezas nefandas ... e o
salvar de grandes injúrias a muitos inocentes mortais a quem esses bárbaros imolam todos os
anos" (Apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 59).

Estavam, assim, justificadas por Sepúlveda as guerras e todas as crueldades dos europeus
contra os da América, sobretudo com a missão nobre de resgatar as vítimas dos sacrifícios
rituais indígenas. Logo mais, vamos ver a resposta surpreendente de Las Cassas a este
argumento de Sepúlveda.

A resposta filosófica de Las Casas

Bartolomeu de Las Casas (1484-1566), no dizer de Dussel, com argumentos estritamente


filosóficos,

... refuta a) a pretensão da superioridade da cultura ocidental, da qual se deduz a barbárie


das culturas indígenas; b) com uma posição filosófica sumamente criativa utiliza uma clara
diferença entre outorgar ao outro (o índio) a pretensão universal de sua verdade, sem deixar
de afirmar a possibilidade de uma pretensão universal de validade para o cristão honesto em
sua pregação em favor do Evangelho; c) demonstra a falsidade da última causa possível para
fundamentar a violência das conquistas no que diz respeito a salvar as vítimas dos sacrifícios
humanos, por ser contrário ao direito natural e, desde todo ponto de vista, injusto. Tudo é
provado argumentativamente em volumosas obras escritas no meio de contínuas lutas
políticas, a partir de uma práxis valente envolta de fracassos que não dobram sua vontade de
servir aos injustamente tratados recém descobertos habitantes do Novo Mundo: o outro da
modernidade nascente"

(DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 60).

Como pároco numa encomienda (aí os índios trabalhavam compulsoriamente em troca de


catequese que muitas vezes não queriam) em 1514 ele lê o texto do Bem Sira 34, 22-22, na
celebração litúrgica pedida pelo governador: "Oferecer em sacrifício aquilo que foi roubado
dos pobres é imolar o filho em presença de seu pai. O pão é a vida do pobre, quem o rouba é
um assassino; privá-lo de seu salário é derramar seu sangue" (Apud DUSSEL, MENDIETA &
BOHÓRQUEZ, 2009, 60-61). Las Casas começou a ver quão tirânico e injusto era o tratamento
dado aos nativos da Ameríndia. Seu livro da Historia delas Índias formula muitos argumentos
contra as práxis bárbaras dos conquistadores:

Foi publicado que não eram povos de sã razão capazes de se governar, carentes de boa ordem
humana e de ordenadas repúblicas ... Para a demonstração da verdade que é bem outra, este
livro traz e compila [inúmeros exemplos]. Quanto à política, não só se mostraram serem
povos muito prudentes e de vivos e notórios conhecimentos, tendo suas repúblicas ...
prudentemente governadas, bem providas e com justiça, prósperas ...

(apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ,2009, p. 61).


Afirma Las Casas que estes povos nativos, ao contrário do que se havia espalhado, foram
criados por Deus como os mais simples e sem maldades, muito obedientes e fiéis a seus
senhores naturais. Ele prova dessa maneira que, em muitos pontos eles eram superiores aos
europeus que se autodenominam cristãos, mas que não o são em suas ações. Eles oprimem os
índios com a mais dura e horrível servidão, "em que jamais nem homens nem bestas puderam
ser postos" (apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 61).

Em 1537, um século antes de O Discurso do Método de Descartes, vai, com sua obra Do único
modo de atrair todos os povos à verdadeira religião, pregar, de modo pacífico e respeitoso,
para os povos indígenas que receberam o nome de Vera Paz em Venezuela. Sobre essa obra
de 1537, o mesmo Dussel diz com admiração:

... É uma impressionante obra intelectual. Com lógica precisa e incrível conhecimento do texto
semita, da tradição grega e latina dos padres da Igreja e da Filosofia latina medieval, com um
imperturbável sentido das distinções, vai esgotando os argumentos com profusa quantidade
de citações, que ainda hoje em dia causaria inveja a um prolífico e cuidadoso escritor. Tinha
então Bartolomeu 53 anos, uma população de conquistadores contra ele e um mundo
indígena maia que desconhecia em concreto, porém que respeitava como um igual a ele. É um
manifesto de filosofia intercultural, de pacifismo político e crítica certeira contra a guerra justa
na da modernidade (desde a conquista da América Latina – que antecipa a América do Norte,
a África e Ásia – e as guerras coloniais, até a guerra do Golfo ou do Afeganistão ou Iraque em
nossos dias)

(DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 62).

Sem dúvida, apesar de ser odiado pelos colonizadores, a pureza e a clareza de seu
pensamento impediram que fosse incriminado pela Inquisição. O argumento central dessa
obra de Las Casas é formulado de modo estritamente filosófico da seguinte maneira:

O entendimento conhece voluntariamente quando aquilo que conhece não se manifesta a ele
imediatamente como verdadeiro, sendo então necessário um prévio raciocínio a fim de que
possa aceitar que se trata nesse caso de uma coisa verdadeira ... procedendo de uma coisa
conhecida a outra desconhecida por meio do discurso da razão

(apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 62).

O único modo de atrair os membros de uma cultura estranha para uma doutrina que eles não
conhecem é tentar persuadir "por meio de razões no que diz respeito ao entendimento e com
suavidade atrativa no que toca à vontade" (DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 303-
304). Las Casas conta com a livre vontade do ouvinte a fim de que, sem coações, possa aceitar
as razões de modo racional. Las Casas aceita o outro como outro. Em 1550 enfrenta Ginés de
Sepúlveda, no primeiro debate filosófico público da modernidade. A questão debatida então,
e que vale até hoje, é: Que direito tem a Europa de dominar colonialmente as Índias? Mas
nem a Europa nem os Estados Unidos nunca mais tiveram a coragem de levantar a questão da
legitimidade da dominação sobre os povos periféricos. Na verdade, o direito da dominação
colonial se imporá como algo natural. A modernidade primitiva tinha consciência da injustiça
cometida e refutou sua legitimidade, o que, contudo, não fez o pensamento da Modernidade
madura.

Examinemos brevemente ainda dois argumentos de Las Casas contra a dominação colonial
europeia, que mostram que o argumento de que se pode fazer guerra justa contra os índios
por adorarem ídolos é falso, raciocinando dessa forma:

Dado que eles [os índios] se comprazem em manter ... que, ao adorar seus ídolos, adoram o
verdadeiro Deus ... e, apesar da suposição de que eles têm uma consciência errônea, até que
não se pregue para eles o verdadeiro Deus, com melhores e mais críveis argumentos,
sobretudo com os exemplos de sua conduta cristã, eles estão, sem dúvida, obrigados a
defender o culto a seus deuses e a sua religião e a sair com suas forças armadas contra todo
aquele que tente privá-los de tal culto... estão assim obrigados a lutar contra estes, matá-los,
capturá-los e exercer todos os direitos que são corolário de uma guerra justa, de acordo com
o direito dos povos.

(apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 63).

Esse argumento diz que - embora tenham consciência errônea - se dá aos índios a pretensão
de verdade universal, por que ainda não receberam "argumentos críveis e convincentes".
Sendo assim, eles têm todo o direito e dever de afirmar e defender suas convicções; e, se
necessário, até por guerra justa. Las Casas inverte, assim, o argumento dos europeus, pois sua
idolatria não justifica uma guerra justa contra eles; pelo contrário, os ameríndios – por terem
deuses verdadeiros, enquanto não for provado o contrário - têm motivos de fazer uma guerra
justa contra os europeus modernos que os impedem de adorar seus deuses.

Mas, incrivelmente, ele vai desmontar também o outro argumento dos europeus que diz que
a guerra deles contra os nativos descobertos é justa, porque eles têm o dever de salvar as
vítimas dos sacrifícios, argumentando da seguinte maneira:

[Os] homens, por direito natural, estão obrigados a adorar a Deus com os melhores meios a
seu alcance e oferecer-lhe em sacrifício as melhores coisas ... Pois bem, corresponde à lei
humana e à legislação positiva determinar quais coisas devem ser oferecidas a Deus; este
último já se confia à comunidade inteira ... A própria natureza dita e ensina ... que, na falta de
uma lei positiva que ordene o contrário, devem imolar inclusive vítimas humanas a Deus,
verdadeiro ou falso, considerado como verdadeiro, de modo que, ao oferecer-lhe a coisa mais
preciosa, se mostrem especialmente agradecidos por tantos benefícios recebidos

(apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 63).

É quase incrível que um homem do século XVI chegasse a argumentos tão fortes e eficazes
contra verdades aceitas por todos. De novo, ao outorgar aos outros a pretensão de verdade, o
falso considerado pelos índios como verdadeiro, até que não for provado para eles o
contrário, eles têm o dever de oferecer aos deuses deles o que têm de melhor, inclusive,
vítimas humanas. Inverteu o argumento dos invasores europeus. Esse argumento é tão
original que confessa depois: "... tive e provei muitas conclusões que antes de mim o homem
nunca ousou tocar ou escrever, e uma delas foi... oferecer homens a Deus, falso ou verdadeiro
(tendo o falso por verdadeiro) em sacrifício." (Apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ,
2009, p. 63).

Quando os encomenderos do Peru queriam pagar um tributo ao Rei da Espanha a fim de


poderem contar com os serviços dos índios para sempre, Las Casas escreveu De regia
potestate (Sobre o poder do Rei) em que afirma:

Nenhum rei ou governante, por mui supremo que seja, pode ordenar ou mandar nada
concernente à república, em prejuízo ou detrimento do povo (populi) ou dos súditos, sem
haver tido o consenso (consensu) deles, em forma lícita e devida. De outra maneira não
valeria (valet) por direito ... Ninguém pode legitimamente (legitime) ... inferir prejuízo à
liberdade de seus povos (libertati populorum suorum); se alguém decidir contra a comum
utilidade do povo, sem contar com o consenso deste (consensu populi), as ditas decisões
seriam nulas. A liberdade (libertas) é o mais precioso e estimável dom que um povo livre pode
ter

(apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 64).

Las Casas – como Marsílio de Pádua já defendia no final da Ide Média - tem consciência clara
de que todo poder vem do povo, agora no primeiro século da modernidade primitiva. No
tratado das doze dúvidas, ele explica:

Todos os infiéis de qualquer seita ou religião que forem ... quanto ao direito natural ou divino,
que chamam direitos dos povos, justamente têm e possuem senhoria sobre suas coisas ... E
também com a mesma justiça possuem seus principados, reinos, estados, dignidades,
jurisdições e senhorios. O regente ou governador não pode ser outro senão aquele que foi
eleito pela sociedade e comunidade inteira no início.

(apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 64).

Quando se afirma que os reis ou o papa, por causa da obrigação da "pregação do Evangelho"
se outorgavam o "direito sobre as coisas (iure in re)" – sobre os índios – Las Casas diz que
esse direito só operava in potentia (potencialmente), enquanto não houvesse um consenso
por parte dos índios. Só se houvesse esse consenso explícito da parte dos ameríndios, esse
direito passaria de potência para ato, isto é, passaria a ser válido e aplicável. Eis sua notável
parte final, onde se refere aos reinos usurpados ao rei Tito, um rei indígena inca:

O rei, nosso senhor, está, pois, obrigado, sob pena de não salvar-se, a restituir aqueles reinos
ao rei Tito [assim chamado um inca ainda em vida], sucessor ou herdeiro de Huayna Cápac e
dos demais incas, e pôr nisso todas as suas forças e poder.

(Apud DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 64).

Segundo o parecer de Dussel, essa obra é a mais bem argumentada do ponto de vista racional
de toda modernidade primitiva, refutando todas as pretensões dos europeus de dominação
colonial sobre os povos indígenas na América.

Finalizando...
Se os argumentos racionais e bem formulados de Ginès Sepúlveda foram fundamentais para a
justificação e implantação da terrível dominação colonial nos países periféricos não só da
América latina, mas depois também da Ásia e África, os argumentos de Las Casas – ao menos
tão bem elaborados quanto os de Sepúlveda - ao contrário, não tiveram quase nenhum efeito
contra o sistema estabeleci do. Na verdade, teve alguma influência sobre o Imperador, mas
muito pouco sobre os outros missionários e, praticamente, nada contra os colonizadores.
Mas, se os argumentos e a luta de Las Casas tiveram poucos efeitos positivos em relação aos
ameríndios, serviram de base para os Países Baixos se libertarem da Espanha no início do
século XVII; foram lidos na revolução da América do Norte e nas independências dos países
latinos. Dussel, conclui sobre o autor com esta sentença: "Derrotado politicamente, sua
filosofia se irradia até o presente." (DUSSEL, MENDIETA & BOHÓRQUEZ, 2009, p. 64). Sem
dúvida, esse esclarecido e intransigente defensor da causa dos índios vilipendiados pelos
espanhóis, continua sendo uma referência para todos os que creditam e lutam pela dignidade
e igualdade de direito de todos os humanos, especificamente os indígenas latino-americanos.

Saiba Mais

Para ampliar seu conhecimento a respeito dos temas tratados nesta aula, veja abaixo a(s)
sugestão(ões) do professor:

• Leia o texto A guerra justa e a escravidão indígena, de Voltaire Schilling.

Referências

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