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UNIVERSIDE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINOAMERICANA

INSTITUTO LATINOAMERICANO DE ECONOMIA, SOCIEDADE E POLITICA

ÉTICA E CIÊNCIA

RAÍZES E FRUTOS DA COLONIALIDADE:

A RELAÇÃO DO PRECONCEITO OBSERVACIONAL E DO PRECONCEITO


VALORATIVO NA FUNDAMENTAÇÃO DA COLONIALIDADE DO PODER E SUAS
IMPLICAÇÕES NA CIÊNCIA.

JOSÉ LEONARDO BENÍTEZ BENÍTEZ

PROFESSORA: PRÍSCILA TEXEIRA DE CARVALHO

FOZ DO IGUAÇU

2022
RESUMO

O preconceito observacional e o preconceito valorativo fazem parte dos preceitos que


fundamentam a Colonialidade do poder, além destes é importante destacar também o modo
de organização do trabalho capitalista e a globalização. Além de falar destes elementos como
raízes da Colonialidade, parte do trabalho se dedica a analisar alguns dos frutos da
Colonialidade. Neste sentido, mostro problemas da ciência direcionados pela Colonialidade.

RESUMEN

El prejuicio observacional y el prejuicio valorativo provienen de dos preceptos que


subyacen a la Colonialidad del poder, además de estos, también es importante resaltar la
forma de organización del trabajo capitalista y la globalización. Además de hablar de estos
elementos como raíces de la Colonialidad, parte del trabajo está dedicado a analizar algunos
de los frutos de la Colonialidad. En este sentido, mostró problemas de ciencia abordados
desde la Colonialidad.

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como proposta fazer uma relação entre os conceitos e ideias de
Preconceito Observacional e Preconceito Valorativo com o a noção de Colonialidade do
Poder. Meu objetivo é demonstrar a continuidade entre esses conceitos. Portanto parto da tese
de que a Colonialidade é uma estrutura de poder resultante de um processo que deriva do
Preconceito Observacional e o Preconceito Valorativo num contexto de Capitalismo,
Modernidade e Globalização.

De acordo com Quijano (2000), a modernidade é uma derivação dos processos


históricos que se deram inicialmente nas Américas. Para tanto, convergem os processos de
diferenciação entre conquistadores e conquistados (ideia de raça) com as formas históricas de
controle de trabalho (capitalismo) e uma perspectiva eurocêntrica. Essa perspectiva é
fundamentada pela ideia de raça.

A fim de chegar ao meu objetivo estabelecido, vou apresentar as definições dos


conceitos fazendo, posteriormente, a relação entre eles. Além disso, falarei um pouco como a
Colonialidade do Poder e os Preconceitos Observacionais e Valorativos prejudicam o
desenvolvimento da Ciência num modo geral. No final apresentarei as conclusões do
trabalho.
PRECONCEITO OBSEVACIONAL E PRECONCEITO VALORATIVO

Para começar esta seção, é importante apontar o que se entende como Preconceito
Observacional e Preconceito Valorativo. Facilmente, como aconteceu comigo, podemos
pensar que os dois conceitos tratam da mesma coisa, que um é uma continuação direta do
outro ou que um não existe sem o outro, mas não é necessariamente desse jeito.

O Preconceito Observacional se refere às ideias preconcebidas das quais parte o


observador. Este se concretiza quando, incialmente, o observador não é capaz de distanciar
seus padrões absorvidos culturalmente da análise de seu “objeto” estudado ou analisado.
Tendo em vista que conhece ao relacionar seus padrões culturais com o do outro, ao não
colocar a si mesmo como objeto de crítica, o pesquisador estará muito suscetível a fazer
observações subjetivas do objeto, ou no caso do “outro”, já que tentara identificar seus
próprios padrões culturais. A análise, portanto, já parte de algum lugar e por isso, esta é
poluída por normativas já estabelecidas. O observador identifica as diferenças segundo
noções mentais pré-estabelecidas. Estas últimas, originadas da sua posição ocupada no
mundo. A análise é feita considerando a realidade específica de um e não na diversidade de
realidade que possam existir e que existem.

O Preconceito Observacional também pode, ocasionalmente, resultar em um


Preconceito Valorativo que nada mais é o ato de atribuir valor ou fazer juízos de valor a partir
das diferenças identificadas. Uma das ideias nucleares do eurocentrismo está na
dicotomização e hierarquização, características do Preconceito Valorativo: haveria o homem
civilizado, europeu, branco, racional (superior) em contraposição ao (não-)homem bárbaro,
não-europeu, não-branco, irracional (inferior). É dizer, por exemplo, quando os europeus
tiveram contato com os outros povos na américa, ao observarem as diferenças fenótipos e
culturais relacionaram com a sua própria cultura e os identificaram como inferiores. Assim,
vemos que, nesse caso, o Preconceito Observacional (ponto de vista do observador), atrelado
a um Preconceito Valorativo (atribuir valor a diferença) tem como consequência uma
hierarquização dos povos europeus e não-europeus.

COLONIALIDADE

Seguindo com a continuidade entre os Preconceitos Observacionais e Preconceitos


Valorativos, se cria a construção mental de raça como um suposto conceito natural com
referências em “estruturas biológicas”. Desde a percepção de diferenças fenotípicas, os
europeus acrescentam valor, gerando Preconceito Valorativo, a essas individuações que
indicariam também os papeis sociais naturais de cada raça. Assim, a ideia de raça implicou na
criação de identidades raciais, sendo esta usada como ferramenta de classificação social.

Os colonizadores codificaram como cor os rasgos fenótipos dos colonizados, tornando


esta, a característica mais emblemática para a categorização racial (brancos, não-brancos).
Tendo em vista que a própria diferenciação dos povos já estava, anteriormente, baseada por
uma relação de dominação, a ideia de raça foi um modo de legitimar essas relações de poder
e violência.

Por outro lado, veremos também que a ideia de raça está diretamente ligada com as
estruturas de poder do capitalismo, assim como da modernidade. De acordo com Quijano a
modernidade é uma derivação dos processos históricos que se deram inicialmente nas
Américas, cito:

América se constituyó como el primer espacio/tiempo de un nuevo patrón de poder


de vocación mundial y, de ese modo y por eso, como la primera identidad de la
modernidad. Dos procesos históricos convergieron y se asociaron en la producción
de dicho espacio/tiempo y se establecieron como los dos ejes fundamentales del
nuevo patrón de poder (QUIJANO, 2000, p. 2)

A própria identidade americana se construiu segundo um novo padrão de poder


mundial, é a primeira identidade da modernidade. A Colonialidade atrelado ao foco de
produção de capital foram os eixes da modernidade.

Na modernidade se constrói a ideia de raça, a partir da a relação colonial opressor-


oprimido na América. No entanto, se expande para o resto do mundo, levando a perspectiva
eurocêntrica do conhecimento atrelada a criação da ideia de raça a naturalização das relações
de dominação entre europeus e não-europeus.

Assim, a ideia de raça se mostrou um instrumento de dominação social universal


(relacionada e adicionada a outro instrumento social universal de dominação: gênero).

Como já foi comentado, não podemos desatrelar o colonialismo da modernidade,


assim como não podemos desvincula-los do capitalismo. O capitalismo não deve ser
compreendido como extensão das formas de controles europeias, mas atualizadas desde as
relações coloniais de poder.
O capitalismo não deve ser compreendido como extensão das formas de controles
europeias, mas atualizadas desde as relações coloniais de poder de maneira articulada com o
capital e seu mercado.

En la medida en que aquella estructura de control del trabajo, de recursos y de


productos, consistía en la articulación conjunta de todas las respectivas formas
históricamente conocidas, se establecía, por primera vez en la historia conocida, un
patrón global de control del trabajo, de sus recursos y de sus productos. Y en tanto
que se constituía en torno a y en función del capital, su carácter de conjunto se
establecía también con carácter capitalista. De ese modo se establecía una nueva,
original y singular estructura de relaciones de producción en la experiencia histórica
del mundo: el capitalismo mundial. (QUIJANO, 2000, p. 4)

NA CIENCIA

A ciência moderna ou ciência experimental moderna surge no mesmo cenário e tempo


que a Colonialidade, no contexto da modernidade e o início do capitalismo, estreitamente
ligada as relações coloniais que a Europa construía com a América.

Como falamos anteriormente a modernidade não trouxe consigo somente a ideia, ou


construção mental, de raça, mas também, a de gênero. Esta ciência criada principalmente por
europeus e para europeus está historicamente carregada de preconceitos observacionais e
valorativos que acabam em concepção racistas e masculinistas. Por exemplo, é constatado
que existe uma total desigualdade de género nas Ciências Naturais, nas Matemáticas e nas
Engenharias.

Tendo estes problemas em vista, há um movimento que critica essas ideias e busca
propor mudanças nas Ciências para aumentar a objetividade e contribuir com o seu
melhoramento. Esse movimento tem sido feito, por exemplo, por Epistemologias Feministas
que, como aponta a Sandra Harding, desde uma análise relacionada a Ciência e tecnologia
elas questionam os padrões e métodos científicos por seguirem um direcionamento
masculinista e eurocêntrico.

Como os próprios padrões de objetividade, racionalidade, bom método e boa


ciência refletiram desproporcionalmente as preocupações que usara C&T (ciência e
tecnologia) como recurso para elaborar políticas constitucionais, de saúde,
educacionais, militares e econômicas? Como seriam esses padrões se fossem
concebidos para responder também aos interesses, medos e desejos das mulheres?
Como seria a C&T se as mulheres, do Sul e do Norte, fossem também seus sujeitos
mais do que apenas frequentemente objetos malcompreendidos? (HARDING, 2007,
p. 164)

Estes questionamentos demonstram que a ciência moderna tem características racistas


e masculinistas, e que estas características devem ser trabalhadas e corrigidas para se obter
um verdadeiro conhecimento objetivo e que possa ser ajuda a todas as pessoas, independente
de raça ou gênero.

CONCLUSÃO

No final deste trabalho pode-se concluir a partir de um preconceito observacional


ocorreu um preconceito valorativo que implicou em uma hierarquização entre europeus e não
europeus. Além disso estes preconceitos atrelados ao momento histórico e formas de controle
de trabalho tiveram com resultado um novo padrão de poder mundial globalizado, capitalista
e moderno.

Como resultado dessas estruturações de poder a ideia de raça e gênero foram


fundamentais como instrumento de dominação social universal. Tendo implicações em todas
as áreas da existência humana e aqui usamos como exemplo o caso da ciência moderna. Tal
ciência está cheia de preconceitos observacionais e valorativos implicando na falta de
objetividade, constituindo um tipo de conhecimento racista e masculinista.

BIBLIOGRAFIA

GILLIGAN, Carol. Uma Voz Diferente: Psicologia da Diferença Entre Homens e Mulheres
da Infância a Idade Adulta. 1. ed. [S. l.]: Rosa dos tempos Ltda, 1982. 190 p.

QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. Argentina:


Gráficas y Servicios, 2000. 246 p.

HARDING, Sandra. Gênero democracia e filosofia da Ciência. Revista eletrônica de


comunicação informação e inovação em saúde (RECIIS), Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.
163-168, 15 jun. 2007.

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