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Resenha crítica dos capítulos III e IV de SELVA, A.C.V.; BORBA, R.E.S.R..

O uso da
calculadora nos anos iniciais do ensino fundamental, Belo Horizonte:
Autêntica, 2010

No terceiro capitulo deste livro intitulado O que as pesquisas mostram sobre o uso da
calculadora, as autoras discutem a respeito das ideias dos pesquisadores em Educação
Matemática em relação ao uso de calculadora, em sala de aula. Discorrem o texto
relatando como a Educação Matemática tem respondido, aos temores observados, tanto
nas escolas, quanto nas famílias, acerca do uso de calculadora, em sala de aula. Nesse
ponto, citam D´Ambrósio, que atribui este temor a um certo conservadorismo e
desconhecimento histórico sobre o papel que a tecnologia tem exercido. Neste contexto,
com todo o avanço tecnológico que estamos vivendo, com tantas tecnologias
disponíveis, os educadores não podem ficar insensíveis a estas tecnologias. Em
particular, o uso de calculadoras e computadores pode promover uma reorganização da
atividade em sala de aula. Neste caso, o professor assume novos papeis, organizando e
sistematizando a aprendizagem. Elas deixam claro, que a ideia não é de substituir as
ferramentas já utilizadas em sala, mas enfatizar as vantagens de se introduzir a
calculadora, como por exemplo: explorar conceitos, verificar resultados obtidos por
meio de outra representação, realizar cálculos, etc. As autoras falam da barreira
existente na comunidade escolar (professores, pais e alunos) quanto ao uso da
calculadora em sala de aula, e cita dois argumentos que são utilizadas para o seu não
uso. O primeiro é gerar “preguiça mental”, ou seja, inibir o raciocínio do aluno. Outro
argumento, é que não deve ser utilizada no ensino regular, na medida em que no
vestibular é proibido o uso. As autoras derrubam estes argumentos, explanando o que já
foi dito: a ideia é de promover uma reorganização da atividade em sala de aula.
Ressaltam ainda, que a calculadora é uma ferramenta para ajudar a aprendizagem, uma
vez que as tarefas devem ser interpretadas e realizadas pelos alunos. O uso da
calculadora em sala de aula também tem sido recomendado pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais, que enfatizam a importância na compreensão de conceitos
matemáticos. Quanto a ser proibida no vestibular, parece uma subordinação de práticas
pedagógicas aos exames. No final do capítulo, as autoras relatam que estudos nacionais
e internacionais vêm apresentando resultados que demonstram a importância do uso da
calculadora para a compreensão de conceitos matemáticos, reafirmando a importância
do seu uso em sala de aula, a partir de situações que estimulem as crianças a refletirem a
respeito dos conceitos matemáticos, sendo um recurso importante aliado a intervenção
do professor. Ficando claro, que o professor é peça fundamental para que estas
propostas possam ser efetivadas.
O Capítulo IV, intitulado Usando a calculadora em sala de aula, apresenta uma série
de seis observações realizadas pelas autoras, em 2006, em uma escola particular em
Jaboatão dos Guararapes, município da região metropolitana do Recife, Pernambuco,
em uma turma de 5º ano do Ensino Fundamental e de quatro observações em uma turma
de 4º ano do mesmo nível e na mesma escola. Essa escola observada trabalhou com o
uso da calculadora em sala de aula em um período de pelo menos quatro anos. O
processo de introdução passou por várias etapas, que tiveram a promoção de uma
oficina aos pais, de forma a desmitificar o preconceito ao uso da calculadora em sala de
aula, e também apoio da direção pedagógica, em discussões e trabalhos feitos com os
professores. A escola procurou superar as dificuldades com o uso da calculadora, tais
como a resistência dos pais, o despreparo dos professores para o uso da calculadora, o
uso constante da calculadora e a consequente dependência dos estudantes, bem como
esquecimento das calculadoras, sendo estas últimas superadas pela rotina da sexta-feira,
já que era um dia dedicado para realização de atividades que envolviam o seu uso. De
forma geral, as autoras, neste capitulo mostram exemplos de atividades que podem ser
utilizadas em sala de aula com o apoio da calculadora e ilustram os momentos
prazerosos de aprendizagem, de alunos e professores resultantes das discussões de
conteúdos matemáticos a partir do uso da calculadora. As autoras observam a motivação
dos alunos quanto ao seu uso, já que é criado uma atmosfera de aproximação do aluno
com o professor, e deixam claro, que a intenção do uso da calculadora não é de
substituir a aprendizagem do algoritmo. A calculadora pode ser uma ferramenta valiosa
para a reflexão de conceitos matemáticos, no entanto, é necessário que a escola também
proporcione a discussão do uso desta ferramenta na comunidade escolar para que se
possa desmistificar a sua utilidade de "substituta" dos algoritmos matemáticos. Como
bem colocado pelas autoras, o professor como já foi dito, continua sendo a peça chave
neste processo; é ele quem faz a mediação durante as aulas, ou seja, a calculadora é uma
ferramenta a ser utilizada em sala de aula, mas sem um objetivo didático preciso, pode
perder a sua verdadeira função neste processo apresentado: o de instrumento facilitador
de aprendizagem, sob a mediação do docente.

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