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MODELAGEM MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL

Carla Cristina Escorsin Roque1


RESUMO

O trabalho aqui apresentado é o resultado de uma pesquisa sobre a utilização da


Modelagem Matemática como estratégia de ensino e aprendizagem nas aulas de
Matemática na rede pública do Estado do Paraná. Para tanto é necessário definir
Educação Matemática e conhecer as características da Modelagem como atividade
para o Ensino Fundamental. A atividade proposta tem caráter interdisciplinar e foi
desenvolvida em uma turma de sétima série do Ensino Fundamental do Colégio
Estadual Miguel Dias, no município de Joaquim Távora com o tema: O peso da
mochila escolar, problematizado e desenvolvido através de conteúdos matemáticos
como proporcionalidade e regra de três. A atividade desenvolvida apresenta o
formato de um Folhas, material didático produzido pelos professores da rede pública
do Estado e organizado pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná,
disponível no portal educacional da Secretaria.

PALAVRAS-CHAVE: Modelagem Matemática. Educação Matemática. Ensino


Fundamental.

ABSTRACT

The labor presented here is the result of a survey on the use of Mathematical
Modelling as a strategy for teaching and learning in the classroom of Mathematics in
public network of the state of Parana. This requires defining Mathematics Education
and know the characteristics of modeling as activity for the elementary school. The
proposed activity is interdisciplinary character was developed in a class of seventh
graders in elementary school in Colégio Estadual Miguel Dias, in the municipality of
Joaquim Távora with the theme: The weight of school bag, problematized and
content developed by mathematicians such as proportionality and rule of three. The
work and shape of a leaf, educational materials produced by teachers of the public
network of the state and organized by the Secretaria de Estado de Educação do
Parana, available in the educational portal of the Secretaria.

KEYWORDS: Mathematical Modelling. Mathematical Education. Elementary school.

1
Professora PDE. Mestre em Educação Matemática. Professora da Faculdade de Ciências de Wenceslau Braz.
1 Introdução

Esta pesquisa tem a intenção de apresentar a Modelagem


Matemática como uma proposta alternativa para as aulas de Matemática nas séries
finais do Ensino Fundamental nas escolas públicas estaduais do Paraná. Para tanto,
foi fundamentada em teóricos que vêem na formação de professores, mais
especificamente, na formação continuada, uma oportunidade para que a Modelagem
seja apresentada e também, utilizada dentro das salas de aula.
Na primeira etapa desta pesquisa, são apresentados os fundamentos
e características de uma Modelagem Matemática, aqui mostrada como uma
estratégia de ensino auxiliadora no processo de aprendizagem. A Modelagem
Matemática se apresenta em diversas fases, cada uma detalhadamente explicitada,
e que fazem parte de um processo maior que caracteriza esta estratégia como uma
maneira eficiente de resgatar a aplicabilidade da Matemática e a sua ligação com
fenômenos reais e explicáveis.
Desta forma, proporcionar uma compreensão maior sobre a
Modelagem e sua aplicação, bem como promover a discussão entre autores e a
prática docente na Educação Básica atende aos anseios de profissionais da
educação no desenvolvimento de um ensino que possa permitir uma aprendizagem
mais eficaz e significativa. A contribuição se dá na oportunidade em utilizar diversas
habilidades e estratégias no levantamento de problemas reais, de interesse dos
alunos e que podem ser resolvidos através da Matemática.
A segunda etapa desta pesquisa aponta para a importância da
Modelagem Matemática como recurso metodológico nas aulas de Matemática na
rede pública do Estado do Paraná. Além das competências docentes no
desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem são indispensáveis novas
concepções sobre como ensinar matemática
A Modelagem Matemática implica em um conjunto de saberes que
faz parte de um novo paradigma educacional, que relaciona a aprendizagem dos
alunos com fatos reais , onde possam levantar problemas identificados por eles e
buscarem soluções que satisfaçam as condições iniciais que foram problematizadas.
O Estado do Paraná, através de suas Diretrizes Curriculares para o
Estado do Paraná, no que tange a disciplina de Matemática, apresenta a
Modelagem como uma metodologia a ser usada pelos professores da rede pública
no sentido de abordagem pedagógica com evidência em ambientes de
aprendizagem que envolve problematização e a busca de soluções em situações de
realidade.
Posteriormente à discussão sobre a utilização da Modelagem
Matemática como estratégia de ensino e sua caracterização como ambiente de
ensino, é necessário pensar como ocorre a sua introdução no currículo escolar.
O instrumento de introdução no currículo deste trabalho foi uma
atividade desenvolvida no formato “Folhas” , uma atividade disponibilizada pela
Secretaria Estadual de Educação do Paraná que oferece aos professores da rede a
oportunidade de produção do seu próprio material didático que é disponibilizado na
rede através do portal educacional do Paraná para ser utilizado pelos demais
professores.
O material produzido foi aplicado em uma turma de sétima série do
período matutino do Colégio Estadual Miguel Dias Ensino Fundamental e Médio do
município de Joaquim Távora e teve como tema o uso da mochila escolar pelos
alunos, seu peso e suas conseqüências na saúde. O trabalho contou com a
participação de professores de Educação Física e de Ciências que foram
fundamentais no ambiente de Modelagem que considera importante não somente os
conhecimentos específicos de cada disciplina, mas sim a análise crítica de cada
situação para que o seu entendimento seja real.
A proposta é apresentar as atividades realizadas pelos alunos, em
grupos, em forma de texto como pede o “Folhas”, mas neste trabalho, algumas
adaptações foram necessárias para que o entendimento do processo fosse claro e
não truncado. Portanto o “Folhas” não se apresenta no seu formato original como
será publicado no portal educacional do Estado do Paraná.
Este trabalho, teve também, como objetivo socializar os
conhecimentos adquiridos durante as atividades do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) com os professores de Matemática do município de atuação da
autora deste artigo. Os encontros foram realizados no Colégio estadual Miguel Dias
totalizando quatro encontros no primeiro semestre de dois mil e oito.
As relações que envolvem o processo de ensino e aprendizagem são
complexas e exigem um esforço contínuo por parte dos professores no sentido de
atualização e acompanhamento de recursos que proporcionem uma aprendizagem
mais significativa. É neste contexto que esta pesquisa se desenvolve, como
contribuição para o trabalho do professor em sala de aula, apresentando uma
proposta metodológica presente nos documentos oficiais que norteiam o currículo
das escolas, mas que nem sempre são entendidas, em sua totalidade, por todos os
envolvidos na educação.
2 Características e Fundamentos de uma Modelagem Matemática

2.1 Modelagem Matemática na Educação Matemática

O interesse em utilizar a Modelagem Matemática como estratégia de


ensino nas aulas de Matemática com alunos do Ensino Fundamental baseia-se na
busca da melhoria da qualidade de ensino desta disciplina escolar ofertada nestas
séries. Os alunos que ingressam nas séries iniciais do Ensino Fundamental
enfrentam um período de transição na vida escolar, antes acostumados a uma rotina
diferente, com menos professores, atendimento diferenciado e metodologia
adequada para a idade, agora se vêem diante de disciplinas separadas com
professores diferentes.
Esta fase caracteriza-se como um rito de passagem entre a infância e
a adolescência, e, portanto, causa anseios e angústias nos alunos, que podem
apresentar dificuldades em entender conceitos matemáticos. Estas dificuldades de
adaptação podem ser agravadas por metodologias inadequadas para um período de
grandes mudanças pelo qual passam os estudantes.
No que se refere à Matemática, uma das características marcantes
desta fase é o início da abstração de conceitos aprendidos em séries anteriores e
que, muitas vezes, não foram bem assimilados, e portanto, podem se tornam
distantes e irreais para os alunos, como observa Sadovsky (2007,p.8):

[...] a Matemática, não só no Brasil, é apresentada sem vínculos com os


problemas que fazem sentido na vida das crianças e dos adolescentes. Os
aspectos mais interessantes da disciplina, como resolver problemas,
discutir idéias, checar informações e ser desafiado, são pouco explorados
na escola. O ensino se resume a regras mecânicas que ninguém sabe,
nem o professor, para que servem.

Neste contexto, a Modelagem Matemática pode ser uma contribuição


para amenizar os problemas resultantes desta transição. Apresentando uma
Matemática mais real, inserida no cotidiano dos alunos, a Modelagem ajuda na
organização do pensamento e pode ser um instrumento a mais para que aluno
interprete o mundo em que vive segundo suas próprias conclusões e entendimento,
e desenvolve a capacidade de exercitar o seu papel de cidadão que pensa e discute
os problemas da comunidade em que está inserido.
Nesta perspectiva, a Modelagem Matemática proporciona ao aluno
situações, nas aulas de matemática, em que pode ser criativo e motivado a
solucionar problemas pela curiosidade do momento vivenciado.
A Modelagem Matemática, além de ser uma tendência que
proporciona uma articulação entre os conceitos matemáticos e a realidade, pode ser
vista, também, numa perspectiva que valoriza o pensamento crítico e reflexivo do
aluno.
Sobre o assunto, Almeida (2003,p.2) diz que:

Neste sentido podemos argumentar que o ensino da matemática, numa


perspectiva crítica, não está centrado em ensinar os alunos a desenvolver
e criar modelos matemáticos, mas além disso, é importante que o aluno
possa interpretar e agir em situações sociais estruturadas ou influenciadas
por estes modelos.

A Matemática pode, neste sentido, tornar-se um instrumento


poderoso na formação do aluno, para que ele possa entender o entorno social onde
vai atuar, como mostram Almeida e Dias ( 2004,p.6):

Não é mais suficiente o aluno aprender Matemática e saber utilizá-la para


resolver problemas cotidianos. Além desses saberes, é necessário que o
aluno seja capaz de interpretar e agir numa situação social e política
estruturada pela Matemática.

Ao problematizar fenômenos que acontecem no cotidiano, é possível


pensar sobre eles e sobretudo, interferir conscientemente no processo
desencadeado por eles.
Como diz D’ambrósio (1986, p.17) :

Os modelos matemáticos são formas de estudar e formalizar fenômenos do


dia a dia. Através da modelagem matemática o aluno se torna mais
consciente da utilidade da matemática para resolver e analisar problemas
do dia a dia.

Aproveita-se, desta forma, o envolvimento emocional e cultural dos


alunos com os acontecimentos atuais para apresentar-lhes momentos
questionadores de resolução de situações que envolvam problematização. O ato de
problematizar uma situação significa estabelecer relações necessárias para
compreender o problema e, posteriormente, ter a possibilidade de buscar maneiras
de solucioná-lo.
2.2 Como identificar uma atividade de Modelagem Matemática?

O que caracteriza uma Modelagem Matemática, segundo


Biembengut e Hein (2003), é o fato de o problema advir de uma situação real e que
depois, de formular e resolver um modelo que solucione o problema, este modelo
possa ser aplicado, também, como suporte para outras aplicações.
Os procedimentos que identificam os passos da modelagem,
segundo Biembengut e Hein (2003) são:
a) Interação: esta etapa é identificada pela pesquisa e o reconhecimento da
situação-problema. Geralmente, o problema surge em outras áreas do
conhecimento, a investigação é fundamental para a familiarização do tema
e a seleção de dados para o processo de resolução do problema.
b) Matematização: este período proporciona um desafio maior para quem vai
desenvolver a pesquisa e subdivide-se em formulação e resolução do
problema, traduzindo, através da linguagem matemática a situação real
para um modelo matemático que poderá solucionar o problema inicial.
c) Modelo matemático: esta etapa consiste em validar ou não a solução
encontrada para o problema, verificando o grau de confiabilidade na sua
utilização e a sua aplicação em outras situações análogas.

Fig. 1. Dinâmica da Modelagem Matemática

Fonte: BIEMBENGUT e HEIN (2003, p.15)

Sendo assim, a escolha do tema a ser estudado pode ficar sob a


responsabilidade dos alunos e sofrer a intermediação do professor, que, na
Modelagem Matemática, exerce o papel de mediador entre o que o aluno já conhece
e o conhecimento a ser adquirido.
Conforme diz Burak (1998, p33) :

Esta etapa é muito rica, pois cada grupo, conforme o tema, se insere no
contexto. A coleta de dados, as questões levantadas previamente pelo
grupo e a adição de novas situações levam a um comportamento mais
atento, mais sensível, mais crítico, que são atributos desejáveis em um
pesquisador.

Definido o tema do problema a ser pesquisado, começa a fase da


interação, momento em que o grupo busca informações sobre o assunto, em livros,
revistas, entrevistas, observações e outras fontes. Quanto maior for o envolvimento
e o aprofundamento com o tema, maior será a facilidade em compreendê-lo. Nesta
etapa, o professor deve promover a investigação do assunto por parte dos alunos no
sentido de entender cada vez mais o entorno a ser pesquisado.
Aguçados pela curiosidade inerente à idade e incentivados pelo
professor, os alunos iniciam a matematização, ou seja, o surgimento de perguntas
decorrentes da análise dos dados coletados e das observações feitas diretamente
no ambiente pesquisado.
Este momento é propício para o desenvolvimento, a formulação e a
construção do pensar matemático através de um modelo matemático adequado para
a resolução dos problemas levantados.
Deste modo, Scheffer (1998, p.37) aponta para uma seqüência dada
pela Modelagem Matemática:

[...] formulação do problema, que envolve a situação real, a solução que


envolve a busca de resolução através de modelos matemáticos e a
validação que envolve a verificação da solução e relação entre a solução
matemática e a situação real.

A etapa da resolução dos problemas surgidos através de modelos


matemáticos, segundo Burak (1998), é rica no processo e na qual cai por terra a
forma usual de se trabalhar matemática na escola. Nela pode ser constatada, por
parte dos alunos, a adequação de vários modelos matemáticos. Ou seja, pode não
existir um único modo de resolver, mas vários caminhos que levam à solução do
problema. Sendo assim, os conteúdos são trabalhados em função do problema,
portanto, nem sempre é possível prever qual conteúdo matemático contemplará o
problema a ser estudado, podendo ocorrer um apanhado de vários conteúdos para a
resolução da situação-problema inicial.
A Modelagem Matemática permite uma análise crítica das soluções
levantadas através de hipóteses. Nesta etapa, busca-se discutir e analisar as
possíveis soluções encontradas e verificar a coerência e consistência de cada uma
delas.
Sobre o tema, Meyer (1998, p.70) fala sobre a subjetividade:

[...] nem sempre é única a ferramenta matemática escolhida para a análise


e compreensão de um problema – e diferentes caminhos podem levar a
respostas diferentes, porém que cheguem a uma mesma conclusão no final
do ciclo da modelagem, ou não!

O entrelaçamento entre vários assuntos dentro da matemática


permite uma interação e uma interdependência entre eles, de modo que um mesmo
assunto pode ser aplicado em diferentes momentos e retomado sempre que
necessário.
Esta visão global deve ser percebida pelo aluno, para que ele possa
aplicar tais descobertas em relação à resolução de problemas em sua realidade,
verificando desta maneira, que modelos matemáticos se aplicam com perfeição em
situações reais.
A fase final da Modelagem Matemática constitui-se na validação dos
resultados encontrados para a resolução do problema.Esta etapa consolida um
trabalho de pesquisa que mostra uma matemática utilitária e real, que resolve
problemas do cotidiano e permite uma visão mais analítica dos fenômenos que
surgem na realidade.
O trabalho com Modelagem Matemática é de suma importância
dentro da escola, em qualquer nível ou modalidade de ensino, e aparece, hoje,
como uma forte tendência de metodologia a ser utilizada por professores de
matemática.
3 Modelagem Matemática como recurso metodológico nas aulas de
Matemática na rede pública do Estado do Paraná.

O ensino da Matemática nas escolas de Ensino Fundamental e


Médio, muitas vezes, apresenta problemas que apontam para a dicotomia em
ensinar uma ciência que pode ser aplicada em diversas áreas ou ensinar uma
ciência que existe por ela mesma, ou então, aliar estes dois enfoques de modo que
um complemente o outro, como diz Bassanezi (2002, p.16):

Acreditamos que os professores de matemática, considerados


paramatemáticos, têm a obrigação de mostrar aos alunos as duas
possibilidades que na verdade se completam: tirar de um “jogo” resultados
significativos (matemática aplicada) ou montar um “jogo” com regras
fornecidas por alguma realidade externa (criação de matemática).

A Modelagem Matemática pode ser a estratégia que fornece ao


professor a possibilidade de mostrar esta ciência em todas as suas nuances e isto
aponta para a utilização desta estratégia de ensino na formação de professores de
matemática.
É com esta perspectiva que percebemos a Modelagem Matemática
neste trabalho, levando em consideração a sua finalidade educacional, portanto,
como uma estratégia de ensino-aprendizagem que pode ser utilizada nas escolas
públicas do Estado do Paraná, considerando a formação continuada dos professores
que atuam neste segmento educacional.
Sobre o assunto, Bassanezi (2002, p.177) fala que:

De fato, da nossa experiência como professor e formador de professores, os


processos pedagógicos voltados para as aplicações, em oposição aos
procedimentos de cunho formalista, podem levar o educando a compreender
melhor os argumentos matemáticos, incorporar conceitos e resultados de
modo mais significativo e, se podemos assim afirmar, criar predisposição
para aprender matemática porque passou, de algum modo, a compreendê-la
e valorizá-la.

O ensino público no Estado do Paraná possui uma trajetória que


caracteriza uma atividade voltada para a construção do conhecimento de maneira
consciente e analítica por parte dos alunos. O professor deve agir, neste processo,
como um articulador entre a ação pedagógica e a visão do aluno diante dos
problemas da vida, da história e do seu cotidiano. Neste cenário, em 1990, a
Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, preocupada com as novas
tendências educacionais, apresenta um documento curricular, intitulado Currículo
Básico, como mostra o texto a seguir:

Também no final da década de 1980 e início da década seguinte, o Estado


do Paraná produziu coletivamente um documento de referência curricular
para sua rede pública de Ensino Fundamental denominado Currículo
Básico. O texto de Matemática teve como fundamentação teórica uma forte
influência da tendência histórico-crítica. Fruto dessa discussão coletiva, o
Currículo Básico publicado em 1990, portaria o germe da Educação
Matemática, cujas idéias começavam a se firmar no Brasil e compõem a
proposta apresentada nestas Diretrizes Curriculares.(PARANÁ, 2008, p.06)

O Currículo Básico tinha como embasamento teórico: a tendência


histórico-crítica que é a compreensão da questão educacional a partir do
desenvolvimento histórico objetivo, entendendo que a educação atual é o resultado
de um processo no passado de transformação histórica. Como diz Saviani (1991, p.
97):

Esta formulação envolve a necessidade de se compreender a Educação no


seu desenvolvimento histórico-objetivo e, por conseqüência, a possibilidade
de se articular uma proposta pedagógica cujo ponto de referência, cujo
compromisso, seja a transformação da sociedade e não sua manutenção, a
sua perpetuação.

Nesta perspectiva, o Estado do Paraná busca a transformação da


sociedade através de uma educação de qualidade que proporcione ao aluno ser
sujeito de sua história. O ensino de Matemática pode contribuir para esta formação
no sentido de que possibilita uma leitura mais intensa da realidade e dos fenômenos
que ocorrem em seu entorno.
A Educação Matemática, entendida neste aspecto, pode ser
abordada por meio de tendências metodológicas que fundamentam a prática
docente. Entre estas tendências destacam-se: Resolução de Problemas, uso de
Mídias Tecnológicas, Etnomatemática, História da Matemática, Investigações
Matemáticas e Modelagem Matemática.
Como o objeto deste trabalho é o uso da Modelagem Matemática em
sala de aula, priorizar-se-á esta tendência metodológica em relação às demais
tendências enunciadas nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica do
Estado do Paraná-Matemática.
A Modelagem Matemática tem como princípio resolver problemas
reais, presentes no cotidiano das pessoas por meio de conceitos matemáticos.
Neste sentido fenômenos diários se apresentam como elementos para análise que
resulta na compreensão do mundo como ele é, possibilitando uma visão crítica de
acontecimentos vivenciados pelos alunos e que podem ser modificados por eles, ao
mesmo tempo em que a aprendizagem da Matemática é viabilizada.

O trabalho pedagógico com a modelagem matemática possibilita a


intervenção do estudante nos problemas reais do meio social e cultural em
que vive, por isso, contribui para sua formação crítica. Partindo de uma
situação prática e seus questionamentos, o aluno poderá encontrar
modelos matemáticos que respondam essas questões. (PARANÁ, 2008, p.
18)

Segundo o Professor Dr. Dionísio Burak, da Universidade Estadual


de Ponta Grossa - UEPG – no Estado do Paraná, a Modelagem Matemática no
Brasil começou a ser trabalhada, na década de 80 na Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP – com um grupo de professores, em Biomatemática,
coordenados pelo Professor Dr. Rodney Carlos Bassanezi- IMECC.

Na educação brasileira a Modelagem Matemática teve abertura com


os cursos de especialização para professores, em 1983, na Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras de Guarapuava - FAFIG, hoje Universidade Estadual do Centro-
Oeste – UNICENTRO.

Os primeiros trabalhos enfocando a Modelagem Matemática como


uma alternativa metodológica para o ensino de Matemática, começaram a ser
elaborados sob forma de dissertações e artigos, a partir de 1987. Em 1999 foi
realizada a 1º Conferência Nacional sobre o tema.

Os benefícios da utilização da Modelagem Matemática como


instrumento metodológico no Ensino Fundamental são muitos, dentre eles, segundo
Almeida e Dias (2004), pode-se destacar a motivação dos alunos e do próprio
professor, visto que aprender algo real e que faz parte no cotidiano é bem mais
agradável do que aprender o abstrato, facilitando a aprendizagem e,
conseqüentemente, obtendo resultados melhores na avaliação.
Outro ponto a ser considerado é a preparação para futuras profissões
nas mais diversas áreas do conhecimento, devido a interatividade do conteúdo
matemático com outras disciplinas, que permite uma visão geral de um determinado
problema.

O desenvolvimento do raciocínio, lógico e dedutivo em geral também


é valorizado nesta metodologia, pois estimula o pensamento reflexivo do aluno e o
leva a relacionar conceitos.

Por fim, é um exercício eficiente para o desenvolvimento do aluno


como cidadão crítico e transformador de sua realidade, que o faz ter uma
compreensão do papel sócio-cultural da matemática, tornando-a assim, mais
importante.

Sobre estes benefícios, Santos e Bisognin (2007, p.101) dizem que:

Para que isso de fato aconteça, deve se buscar a transformação das


práticas escolares, aproximar a teoria da prática e a prática da teoria, com
uma postura interdisciplinar, permitindo, assim, o desenvolvimento de
habilidades a partir de experiências vivenciadas. (SANTOS E BISOGNIN,
2007 in BARBOSA; CALDEIRA;ARAÚJO,2007)

Considerando a teoria até aqui apresentada sobre as benesses da


utilização da Modelagem Matemática como estratégia de ensino nas aulas de
Matemática, e a presença desta como metodologia nos documentos que ditam as
diretrizes curriculares para a rede pública do Estado do Paraná, a etapa que se
segue, nesta pesquisa, apresenta uma atividade de Modelagem em sala de aula.

Para efeito deste trabalho, os resultados da aplicação da Modelagem


como estratégia de ensino em aulas de Matemática, serão apresentados juntamente
como uma análise da autora que entremeia as atividades realizadas pelos alunos.

É com esta perspectiva de Modelagem Matemática que, neste


trabalho, apresentamos uma atividade desenvolvida em um escola pública do
Paraná com alunos de sétima série do Ensino Fundamental.
4 Uma atividade de Modelagem Matemática na sala de aula

O Estado do Paraná, através da Secretaria Estadual de Educação


(SEED) oportuniza aos professores da rede pública produzir material didático, dentre
eles existe um material com formato específico destinado ao aluno denominado
FOLHAS. Conforme consta no portal www.diaadiaeducação.com.br:

O Projeto Folhas é um projeto de Formação Continuada que oportuniza ao


profissional da educação a reflexão sobre sua concepção de ciência,
conhecimento e disciplina, que influencia a prática docente.
O Projeto Folhas integra o projeto de formação continuada e valorização
dos profissionais da Educação da Rede Estadual do Paraná, instituído pelo
Plano Estadual de Desenvolvimento Educacional.
O Folhas, nesta dimensão formativa, é a produção colaborativa, pelos
profissionais da educação, de textos de conteúdos pedagógicos que
constituirão material didático para os alunos e apoio ao trabalho docente.
(www.pr.gov.br/seed)

O material apresentado neste trabalho apresenta uma atividade


destinada aos alunos da sexta série do Ensino Fundamental ou sétima série do
Ensino fundamental, pois trata do conteúdo estruturante Números e Álgebra,
especificamente de Proporcionalidade, um assunto visto nas duas séries citadas
acima.

Os resultados apresentados nesta pesquisa referem-se à aplicação


na 7ª série B, período matutino do Colégio Estadual Miguel Dias Ensino
Fundamental e Médio do município de Joaquim Távora. Os alunos são, em sua
maioria, da zona urbana do município, pertencentes à uma classe social que permite
a aquisição de alguns bens de consumo, portanto, com oportunidade de consumir e
carregar para a escola o que podem comprar.

Portanto o título do trabalho vem no sentido de alerta e sugere uma


reflexão:O que está sendo carregado dentro das mochilas escolares?:”Carregando
mais do que devia! Qual o peso ideal para uma mochila escolar?”

Todo início de ano é a mesma coisa, depois de receber a lista do


material escolar e comprá-lo, os pais e alunos, vivem um novo impasse: como fazer
para levar todo aquele peso na mochila sem prejudicar a coluna?
Se os médicos e especialistas dizem que as crianças não devem carregar muito
peso e a escola não dispõe de um armário para o aluno, o que fazer?
Na escola como está esta questão? Os alunos estão carregando
mais peso na mochila do que deveriam?
Esta etapa, segundo os teóricos que embasam este trabalho, se
caracteriza como interação, após a escolha do tema, que deve ser real e
significativo para os alunos, é necessária uma familiarização com o tema escolhido,
ou seja, nesta fase a pesquisa é fundamental para o entendimento do problema a
ser estudado e que, quase sempre, requer a interpelação de outras áreas do
conhecimento.
A pesquisa dos alunos mostra que a preocupação com o peso
excessivo das mochilas escolares não é só de pais e professores, mas a sociedade
já se preocupa com os problemas de saúde que a situação pode acarretar.
Para verificar a questão sobre o peso das mochilas e se este
problema estava presente na realidade escolar em que vivem, foi proposta a
primeira atividade. Para a qual os alunos tiveram que medir a massa corporal dos
alunos e a massa que carregam nas mochilas.
Atividade 1: Faça uma pesquisa em sua turma (série) para verificar o peso da
mochila e o peso corporal de cada aluno. A seguir, copie a tabela abaixo em seu
caderno e aumente-a, se necessário, para depois completá-la

Tabela 1: Peso corporal e peso das mochilas escolares.


ALUNO(A) PESO CORPORAL (Kg) PESO DA MOCHILA (Kg)
Aline 42,5 4,6
Ana Cláudia 44,7 4,5
Bianca 44 4,6
Christian 44,5 4
Cláudia 54,9 3
Emerson 80,7 3,9
Fernanda 36,1 5,3
Flávio 45,9 2,7
Gabriel 47 3,8
Gabriela 59,3 3
Guilherme 42,4 3,9
João Pedro 45,2 3,7
João Victor 57,1 5,9
Joyce 38,9 4,7
Júlio César 43,3 3,9
Layla 41 3,7
Leidyane 56,9 5,2
Lucas 54,1 4
Mayara 44,2 3,9
Maycon 59,8 3,5
Mikaely 40,5 4,6
Monalisa 30,3 4,8
Nataly 47,1 4,4
Pámela 46,7 4,2
Pollyana 50,4 3,2
Ronaldo 58,3 5
Tainara Fortunato 44,6 3,9
Tamires 51,4 3,2
Tânia 71,2 3,6
Taniele 70,1 3,8
Taynara Carolina 37,9 4,9
Thainara Cristina 49,3 3,6
Vini 57,4 4,4
Wesley 49,3 3,9
Willian 55,5 4

Como crianças e adolescentes estão em fase de crescimento, as mochilas


pesadas podem até lesionar as placas de crescimento dos ossos, fazendo com que
eles parem de crescer.
Os alunos iniciaram uma busca de informações sobre o assunto e verificaram
que segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica, grande parte das
crianças em idade escolar utiliza mochilas para ir à escola. Muitos recomendam que
o limite do peso das mochilas não ultrapasse 10% do peso corporal (11 a 13 anos).
Muita controvérsia existe, no entanto, sobre as possíveis conseqüências do seu uso
e qual seria o peso mais adequado para cada criança.
Nesta etapa, denominada matematização, os alunos precisaram ir em busca
da formulação de um modelo matemático que respondesse às questões levantadas
até então. Os conteúdos e conceitos matemáticos foram úteis para o entendimento
do problema, bem como na procura das possíveis soluções.
Na seqüência, era fundamental definir e entender o que é porcentagem,
embora, alunos desta série já têm um conhecimento prévio sobre o assunto, para
tanto foi sugerida a seguinte atividade:
Após realizarem as atividades 1 e 2, os alunos são convidados a completar a
tabela abaixo, de maneira intuitiva, usando estimativa.

Atividade 3: Complete a tabela abaixo, marcando a taxa percentual que representa


o peso da mochila em relação ao peso corporal de cada aluno, através de valores
aproximados e estimativas, observando os dados da tabela 1.
Tabela 2: Cálculo estimado do peso da mochila em relação ao peso corporal.
ALUNO(A) PESO PESO DA Mais de Menos de
CORPORAL (Kg) MOCHILA (Kg) 10% 10%
Aline 42,5 4,6 X
Ana Cláudia 44,7 4,5 X
Bianca 44 4,6 X
Christian 44,5 4 X
Cláudia 54,9 3 X
Emerson 80,7 3,9 X
Fernanda 36,1 5,3 X
Flávio 45,9 2,7 X
Gabriel 47 3,8 X
Gabriela 59,3 3 X
Guilherme 42,4 3,9 X
João Pedro 45,2 3,7 X
João Victor 57,1 5,9 X
Joyce 38,9 4,7 X
Júlio César 43,3 3,9 X
Layla 41 3,7 X
Leidyane 56,9 5,2 X
Lucas 54,1 4 X
Mayara 44,2 3,9 X
Maycon 59,8 3,5 X
Mikaely 40,5 4,6 X
Monalisa 30,3 4,8 X
Nataly 47,1 4,4 X
Pâmela 46,7 4,2 X
Pollyana 50,4 3,2 X
Ronaldo 58,3 5 X
Tainara 44,6 3,9 X
Tamires 51,4 3,2 X
Tânia 71,2 3,6 X
Taniele 70,1 3,8 X
Taynara Carolina 37,9 4,9 X
Thainara Cristina 49,3 3,6 X
Vini 57,4 4,4 X
Wesley 49,3 3,9 X
Willian 55,5 4 X

Nesta etapa não houve problemas, pois os alunos realizaram a atividade


completaram a tabela facilmente, pois usaram estimativas. Porém, para sistematizar
os cálculos e obter uma informação mais exata, foi necessária a utilização de
proporcionalidade.
Em algumas circunstâncias, é comum relacionar duas quantidades (peso
corporal, em kg, e peso da mochila, em kg), essa relação entre dois números inteiros

38
3
não-nulos resulta da divisão entre eles e é representada por um número racional na
forma fracionária (quando a divisão está indicada,) ou na forma decimal (quando a
divisão foi efetuada, 12,66...).
Essa comparação, expressa numericamente, recebe o nome de razão.
Dá-se o nome de proporção à igualdade entre duas razões.
A propriedade fundamental das proporções possibilita resolver uma série de
situações-problema de um modo mais estruturado, utilizando um recurso que recebe
o nome de regra de três, pois apenas três números são conhecidos.
Para resolver situações-problema por meio de regra de três, convém organizar
os dados em forma de tabela, de modo que os valores das grandezas que variam são
escritos em colunas. É necessário tomar o cuidado de escrever na mesma linha os
valores correspondentes. O valor que ainda vai ser calculado é representado pela
letra x.
Veja quanto representa o peso da mochila do peso corporal do aluno n.

Peso (Kg) Taxa percentual (%)

38 100

3 ?

Da propriedade fundamental das proporções segue:


38.x = 100.3,
ou seja,
300
x= = 7,8947...%
38

Portanto, o peso da mochila corresponde a, aproximadamente, 7,9% do peso


corporal.
Após uma explanação sobre proporcionalidade os alunos foram convidados a
estabelecer de forma exata o número correspondente a 10 % (dez por cento) de uma
determinada quantidade.
Atividade 4: Usando proporcionalidade e as informações da tabela 2, complete com
os valores exatos, a taxa percentual que relaciona o peso da mochila e o peso
corporal de cada aluno.
Tabela 3:Cálculo exato da taxa percentual.
ALUNO(A) PESO CORPORAL PESO DA Taxa percentual
(Kg) MOCHILA (Kg)
Aline 42,5 4,6 10,82%
Ana Cláudia 44,7 4,5 10,06%
Bianca 44 4,6 10,45%
Christian 44,5 4 8,98%
Cláudia 54,9 3 5,46%
Emerson 80,7 3,9 4,83%
Fernanda 36,1 5,3 14,68%
Flávio 45,9 2,7 5,88%
Gabriel 47 3,8 8,08%
Gabriela 59,3 3 5,05%
Guilherme 42,4 3,9 9,19%
João Pedro 45,2 3,7 8,18%
João Victor 57,1 5,9 10,33%
Joyce 38,9 4,7 12,08%
Júlio César 43,3 3,9 9,00%
Layla 41 3,7 9,02%
Leidyane 56,9 5,2 9,13%
Lucas 54,1 4 7,39%
Mayara 44,2 3,9 8,82%
Maycon 59,8 3,5 5,85%
Mikaely 40,5 4,6 11,35%
Monalisa 30,3 4,8 15,84%
Nataly 47,1 4,4 9,34%
Pâmela 46,7 4,2 8,99%
Pollyana 50,4 3,2 6,34%
Ronaldo 58,3 5 8,57%
Tainara Fortunato 44,6 3,9 8,74%
Tamires 51,4 3,2 6,22%
Tânia 71,2 3,6 5,05%
Taniele 70,1 3,8 5,42%
Taynara Carolina 37,9 4,9 12,92%
Thainara Cristina 49,3 3,6 7,30%
Vini 57,4 4,4 7,66%
Wesley 49,3 3,9 7,91%
Willian 55,5 4 7,38%

Há, também, uma preocupação com o uso de materiais escolares supérfluos


pelos alunos, que são carregados por eles nas mochilas.
Será que tudo o que os alunos carregam nas mochilas é necessário nas
atividades escolares?
Atividade 5: Faça uma pesquisa em sua escola, utilizando como modelo as
seguintes perguntas:
Total de entrevistados: 105 alunos.
1. O que você carrega na sua mochila escolar?
( 105 ) cadernos
( 105 ) livros
( 105 ) estojo com lápis, canetas, borrachas, ...
( 68 ) lápis de cor.
( 140 ) outros. Especifique:
Relógio = 5; telefone celular=58; maquiagem= 36; agenda=15; mp3=2;
dinheiro=1; espelho=5; absorvente= 14; câmera fotográfica= 1 e pente= 3.

2. O que você poderia deixar em casa sem prejudicar o seu desempenho nas
atividades em sala de aula?
Relógio, telefone celular, maquiagem, agenda, mp3, câmera fotográfica e pente.

Finalizando o processo de Modelagem Matemática, nesta fase,


chamada de modelo matemático, foram feitas as interpretações das soluções
encontradas e a validação do modelo matemático utilizado para a resolução do
problema levantado inicialmente.
Os professores de Ciências e Educação Física foram consultados
pelos alunos para que pudessem explicar com mais propriedade os efeitos, no corpo
humano, do peso excessivo das mochilas carregadas pelos alunos.
Embora o sintoma mais freqüente causado pelo excesso de peso
na coluna vertebral seja a dor nas costas, no pescoço ou nos ombros, a mochila
pode causar distensões musculares, fraturas ou alterações permanentes de
postura, como a famosa “corcunda”.
“Isto porque, a função da coluna vertebral é a de suportar o homem
em posição ereta permitindo seu movimento. Ora, quando se sobrecarrega o corpo,
fazendo um esforço físico superior à estrutura corporal, existe a possibilidade de
causar algum dano às articulações e músculos que não estão preparados para
receber esta carga extra”. (FERST, p.13,2003)
“O transporte diário da mochila escolar com excesso de peso não é
um esforço ocasional, isso é o que se chama esforço de repetição. Então isso tem
um efeito muito parecido com as atitudes viciosas de a criança ficar torta, enfim, da
criança se portar mal. Ela é forçada a se portar mal pelo excesso de peso. Carregar
mochila muito pesada pode, acentuar e agravar problemas de coluna de desvios do
eixo vertebral, os mais comuns são: cifose, escoliose e lordose”. Faria (apud Ferri,
p.18,1998).
A questão levantada inicialmente foi verificada, parcialmente, visto
que diante dos resultados obtidos na série estudada, apenas nove dos trinta e cinco
alunos da turma estavam carregando mais de 10% do seu peso corporal nas
mochilas, o que corresponde a 25,7% (vinte e cinco vírgula sete por cento) dos
alunos da sala.
No entanto, na pesquisa realizada pelos alunos verificou-se que eles
carregam muito material desnecessário para a escola e que poderiam, segundo os
próprios alunos, ser deixados em casa, diminuindo o peso das mochilas. Outro dado
a ser considerado é o peso médio das mochilas nas outras séries pesquisadas,
mesmo não identificando o peso corporal dos alunos, os quatro quilos de média, se
caracterizam como um peso muito alto, que pode ser reduzido com algumas atitudes
simples.
O bom senso na hora de transportar o material escolar em mochilas é
a melhor saída. Verifique se você e seus colegas estão carregando mais peso do
que o recomendado, sugeriu o professor de Educação Física.
Se não estiverem, ótimo!
Mas se estiverem, cuidado, a saúde é um bem do qual precisamos
cuidar.
Reveja seus materiais escolares, faça uma adequação e observe as
dicas a seguir, aconselhou o professor de Ciências.
Pensando na saúde das crianças, a ONG ( Organização não
Governamental) ProTeste dá uma série de dicas para "refrescar" o peso das
mochilas. A mais simples é trocar os cadernos pelo fichário e levar à escola as
novas folhas apenas.
Levando em consideração todo o processo da pesquisa, os
conselhos dos profissionais de educação e saúde e da ONG acima citada, os alunos
organizaram um panfleto de orientações para ser entregues aos alunos do Colégio
iniciando uma campanha de esclarecimento sobre os problemas que podem surgir e
as conseqüências de se carregar mais peso do que devia nas mochilas escolares.
5 Conclusão

Partindo da questão que norteou esta pesquisa e, com fundamento


no diálogo estabelecido com os autores que escrevem sobre Modelagem
Matemática através das leituras que enriqueceram este trabalho, é pertinente
considerar que existe uma tendência muito forte da utilização da Modelagem
Matemática como estratégia metodológica nas aulas de Matemática da rede pública
do Estado do Paraná.
Mas no entanto é necessário um aprofundamento maior deste tema
pelos professores, que pode ser feito através da formação continuada onde a
Modelagem seja objeto de discussão e estudo entre professores e em reuniões com
a equipe pedagógica e com professores de outras disciplinas, pois pode ter um
papel importante nas atividades curriculares, oportunizando um espaço importante
de debate e reflexão.
O uso da Modelagem Matemática como estratégia de ensino com
alunos do Ensino Fundamental se mostrou interessante no sentido de que possibilita
um olhar diferenciado sobre os conteúdos matemáticos. Um olhar que permite
observar fenômenos reais sendo desvendados ou esclarecidos através de
conhecimento matemático.
Este exercício de problematizar uma situação para buscar soluções
aguça a curiosidade do aluno e desperta seu pensamento crítico acerca de coisas
que o cercam. Partir de um tema simples como mochila escolar e aliar a
preocupação de pais e alunos com o peso excessivo das mesmas com conteúdos
matemáticos é uma atividade significativa.
A pesquisa também se torna um fator importante neste processo,
buscar dados e fontes que ajudam na elucidação de um problema não é uma
atividade comum nas escolas de Ensino Fundamental, portanto a Modelagem auxilia
o surgimento de novos pesquisadores, mesmo que os sejam num patamar
elementar.
O assunto escolhido também foi agradável, já que era de interesse
dos alunos e parte do universo em seu entorno, que favorece a contextualização da
matemática, pois muitas vezes, esta contextualização se torna forçada sem vínculo
com a realidade do ambiente em que o aluno vive.
Houve momentos desafiadores, nos quais o trabalho com
Modelagem Matemática exigiu superar obstáculos como a desmotivação dos alunos,
acostumados a uma Matemática mais formal, a rigidez do programa a cumprir, o
tempo necessário para o estudo do tema entre outros, mas todos superados pela
empolgação da professora e dos alunos no desenvolvimento de uma atividade
prazerosa e consistente.
Este trabalho proporcionou uma outra visão de Educação
Matemática, na qual a autora percebeu a grandeza da ciência da qual é professora e
o quanto é importante oportunizar espaços para os alunos, dentro das salas de aula,
espaços de construção de conhecimentos, mas conhecimentos significativos
produzidos pela parceria entre professor e aprendiz.
A autora aponta para a necessidade de um trabalho mais eficaz na
produção de atividades de modelagem em sala de aula, com turmas de Ensino
Fundamental, no entanto vê na formação continuada de professores o caminho para
que a aproximação com esta estratégia de ensino de consolide. E, também, observa
que o formato Folhas, material didático sugerido pela Secretaria de Estado de
Educação do Paraná, e elaborado pelos professores da rede pública do estado, seja
um veículo desta produção, via Modelagem Matemática.
Contudo, esta pesquisa pretende ser uma semente, da qual surgirão
novas atividades de Modelagem Matemática para serem utilizadas no Ensino
Fundamental, nas escolas públicas do Paraná, como forma de estratégia de ensino
e que possam produzir materiais didáticos dentro desta concepção de aprendizagem
em Matemática.
REFERÊNCIAS

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BARBOSA, Jonei Cerqueira; CALDEIRA, Ademir Donizeti;ARAÚJO, Jussara de


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