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Planejamento e

Gestão de Espaços
Psicopedagógicos
Planejamento, Gestão e Psicopedagogia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Rutinéia Cristina Martins

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
Planejamento, Gestão
e Psicopedagogia

• Planejamento;
• Gestão;
• Psicopedagogia, Planejamento e Gestão.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Conceituar planejamento, conhecer seus elementos e aspectos do planejamento educacional;
• Conceituar e conhecer aspectos da gestão, com ênfase na gestão educacional;
• Estabelecer relações entre o planejamento, gestão e a ação psicopedagógica.
UNIDADE Planejamento, Gestão e Psicopedagogia

Contextualização
Parece que a Mafalda compreendeu que é necessário planejar para que a vida seja orga-
nizada com clareza. A questão é conseguir colocar o seu plano em prática. Nesta unidade,
vamos estudar um pouco sobre planejamento e gestão e a ação do psicopedagogo. Como
o seu trabalho é planejado e gerido dentro da instituição?

Planejando o futuro com a Mafalda. Disponível em: https://bit.ly/3eyu5ou

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Planejamento
O planejar é uma realidade que acompanhou a trajetória histórica da
humanidade. O homem sempre sonhou, pensou e imaginou algo na sua
vida. (MENEGOLLA; SAN’TANNA, 2001, p. 15)

A citação que abre este tópico nos mostra que o planejamento é a concretização de
algo que foi desejado anteriormente, envolve a noção de futuro e a necessidade de pre-
paração para tempos que ainda não são presentes. Pode-se dizer que é uma evolução
no modo de pensar e agir dos seres humanos, posto que quando aprendem a necessidade
de planejar, deixam de viver de forma espontânea e improvisada para prover o futuro.
Assim, Chiavenato (apud SANTOS, 2010, p. 14) conceitua planejamento como processo
de tomar decisões sobre o futuro. Conforme o autor, planejar significa interpretar a missão
organizacional e estabelecer os objetivos da organização, bem como os meios necessários
para a realização desses objetivos com o máximo de eficácia e eficiência.
Planejar é um ato necessário para o alcance de objetivos pessoais e coletivos. Trata-
remos neste trabalho do planejamento relativo às instituições, em especial as instituições
educacionais, tendo em vista que abrangem um grande número de pessoas e têm signi-
ficativo impacto na sociedade.
Ao planejar, não basta mentalizar para que surja o propósito desejado, é preciso
atender a um conjunto de elementos, que conforme Luck (2010, p. 36) são o conceito
principal a ser trabalhado, porque se referem aos pressupostos da ação, aos antecedentes
da orientação para se estabelecer uma linha de ação. O planejamento exige que haja
objetivos a serem alcançados, isto é, aquilo que se planeja.
No que se refere à gestão educacional, que abrange os sistemas de ensino público
e privado de educação, a necessidade do planejamento é imprescindível, posto que
os resultados da desorganização são imediatos. É o diretor da escola o articulador do
processo educativo, portanto o responsável pelo planejamento da instituição de ensino.
Sua tarefa consiste em promover:
• A construção de um quadro abrangente e com maior clareza sobre o conjunto dos
elementos envolvidos em relação à situação sobre a qual se vai agir e sua relação
com interfaces;
• Uma maior consistência e coerência entre as ações educacionais;
• Uma preparação prévia para a realização das ações;
• Um melhor aproveitamento do tempo e dos recursos disponíveis;
• Uma concentração de esforço na direção dos resultados desejados;
• Uma superação da tendência à ação reativa, improvisada, rotineira e orientada pelo
ensaio e erro;
• Um controle e redução das hesitações, ações aleatórias e de ensaio e erro;
• A formação de acordos e integração de ações;
• A definição de responsabilidades pelas ações e seus resultados;
• O estabelecimento de unidade e continuidade entre operações e ações, superando-
-se a fragmentação e mera justaposição destas.

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Figura 1 – Reunião de planejamento


Fonte: Getty Images

Em resumo, planejar é um processo de reflexão e conhecimento da realidade para a


qual se planeja. Quando se trata da educação, na escola ou em instituições não formais,
o planejamento envolve a sistematização do que será ensinado, objetivo principal. Para
se alcançar tal objetivo, é necessário pensar em outras situações, que dão sustentação ao
ensino: gestão dos funcionários (distribuição de horários e tarefas); manutenção do pré-
dio (limpeza e conservação de equipamentos e espaço físico); circulação de estudantes e
professores no pátio e espaços comuns, como nos recreios; e formação dos professores e
agentes educacionais para as funções que ocupam. Não tem como esses profissionais tra-
balharem de maneira articulada fazendo uso dos recursos disponíveis sem planejamento.

Sendo assim, o planejamento conta com elementos que o compõem (GARCIA, 2020,
p. 5): objetivos, conteúdo, procedimentos, recursos, tempo e espaço e avaliação,
descritos no quadro a seguir.

Quadro 1
O que se pretende alcançar ou fazer, podendo ser conteúdos a
Objetivos serem ensinados ou ações coletivas, como uma festa junina ou
reunião pedagógica.
Para quê? E por quê?
Justificativa Refere-se às razões de se planejar algo e por que são importantes
naquele contexto.
Conteúdo O que será ensinado ou feito.

Procedimentos O que será feito para que os objetivos sejam alcançados.


Quanto (custos) ou quais materiais serão necessários para realizar
Recursos o que está previsto.
Quando e onde ensinar e aprender: distribuição dos conteúdos e
Tempo e Espaço ações durante o ano letivo, sendo ele dividido em meses, bimestres
ou semestres.
Verificação do que deu certo, do que deve ser mantido ou
modificado. No caso das instituições de ensino, constata-se que
Avaliação aprendizagens foram efetivadas e o que precisa ser reforçado ou
ensinado novamente.
Fonte: Adaptada de Garcia, 2019

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Partindo desses elementos, o planejamento educacional passa por etapas (GARCIA,
2019, p. 7) que envolvem: diagnóstico da realidade; pensar sobre as questões elemen-
tares; elaborar plano, proposta ou projeto que sistematize o pensamento; execução
e avaliação do plano, proposta ou projeto (revisar e adaptar); e orientar os próximos
planejamentos. Isso quer dizer que é preciso conhecer a realidade para a qual se vai
planejar, pensar nas suas demandas para elaborar os objetivos, fazer o plano e no de-
correr da sua execução, planejar ações futuras.

Enfim, planejar é antever para realizar.

Pessoas e Lugares
Heloísa Luck: Uma Referência Intelectual Sobre Planejamento e Gestão Educacional
Doutora em Educação pela Columbia University em Nova York, com Pós-Doutorado em pes-
quisa e Ensino Superior pela George Washington University, em Washington D.C. É graduada
em Letras Neolatinas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1963).
É Diretora Educacional do CEDHAP – Centro do Desenvolvimento Humano Aplicado, em
Curitiba, atuando como conferencista, palestrante e docente em congressos, seminários,
cursos de capacitação de profissionais da educação para sistemas estaduais e municipais
de ensino. Atua como consultora no planejamento e implementação de programas de
desenvolvimento educacional como foco na gestão, avaliação e planejamento de ensino.
Criou o Programa Escola Inteligente, de capacitação continuada em serviço para professores
e gestores do ensino fundamental, com metodologia diferenciada centrada na transfor-
mação das práticas profissionais associada à construção do conhecimento, com o qual
capacitou professores e gestores de mais de 10 municípios.
É autora de uma série de livros, artigos e outras publicações na área de Planejamento e gestão
educacional, sendo referência nos cursos de Pedagogia e pós-graduação em Educação.
Foi professora titular da Universidade Federal do Paraná, da Pontifícia Universidade Católica
do Paraná, tendo exercido, nessas instituições funções docentes, de gestão, de planejamento
e de pesquisa. Foi professora do Ensino Médio da Secretaria Estadual de Educação, em cuja
escola exerceu funções docentes e técnico-administrativas (diretora auxiliar, coordenadora
pedagógica, secretária) e no âmbito do sistema foi assessora do Secretário de Educação e
consultora em diversos projetos. Foi consultora do Consed – Conselho Nacional de Secretários
Estaduais da Educação por 14 anos, onde criou e coordenou os projetos RENAGESTE – Rede
Nacional de Referência em Gestão Escolar, Revista Gestão em Rede (sob sua responsabilidade
dos números 1 a 98), e Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar.

Fonte: https://bit.ly/3tbgyaV

Gestão
O planejamento é uma categoria que faz parte do processo de gestão de instituições
educacionais e de outros tipos de organização. É preciso saber para onde se vai para
que se possa caminhar com segurança. Mas o que seria a gestão? Vejamos um exemplo:

Por herança cultural, por escolha pessoal ou por questões circunstan-


ciais, a nossa sociedade conta com um grande número de mulhe-
res que dedicam suas vidas exclusivamente aos cuidados da casa e

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UNIDADE Planejamento, Gestão e Psicopedagogia

da família, desempenhando o papel conhecido como “dona de casa”[...]


Uma mulher que é dona de casa não costuma ter remuneração,
nem reconhecimento social. É um trabalho de 24 horas que dura 365
dias ao ano, que não tem férias, que requer saber de tudo, ser cozinhei-
ra, professora, babá, treinadora, guarda-costas, GPS, doutora, secretária,
guarda noturno e diurno... A carga de trabalho está determinada pelo
tamanho da família, localização da moradia, pelo status social que tenha,
etc. Além disso, o horário de trabalho é extremamente flutuante, mas não
para nunca. (A MENTE É MARAVILHOSA, 2016)

Figura 2 – Dona de casa


Fonte: Getty Images

O primeiro exemplo de gestora que se conhece, dentro do lar ou em lares conhe-


cidos, é a dona de casa. Podemos considerá-la gestora porque mesmo que não seja a
detentora ou geradora do capital que sustenta a casa, é ela quem organiza as tarefas,
os recursos humanos e matérias, promove oportunidades de crescimento, cuida do
bem-estar, minimiza os conflitos e direciona todos para a busca do efetivo alcance de
cada um dos membros da organização familiar. Ou seja, oferece subsídios para que
o pai de família a sustente, para que os filhos estejam na escola de acordo com as
exigências da instituição e nas perfeitas condições de higiene e saúde. Enfim, o gestor
é quem faz a organização caminhar.
A gestão é considerada um ramo das ciências humanas por procurar manter a sinergia
entre as pessoas e a relação entre elas, a estrutura da empresa e/ou estabelecimento e os
recursos de que ela dispõe (LEAL apud UNIFRAN, 2014). Em princípio, compreende a fi-
xação de metas a alcançar através do planejamento, analisar e conhecer os problemas a en-
frentar, solucioná-los, organizar recursos financeiros, tecnológicos, ser um comunicador, um
líder ao dirigir e motivar as pessoas, tomar decisões precisas e avaliar, controlar o conjunto
todo. Ferreira (2003, p. 306) completa a definição, apontando o ponto de vista da educação:

Gestão é administração, é tomada de decisão, é organização, é direção.


Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização para atin-
gir seus objetivos, cumprir sua função, desempenhar seu papel. Constitui-
-se de princípios e práticas decorrentes, que afirmam ou desafirmam os
princípios que as geram. Esses princípios, entretanto, não são intrínsecos
à gestão como a concebiam a administração clássica, mas são princípios
sociais, visto que a gestão da educação se destina à promoção humana.

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Sobre gestão educacional, Santos e Rodrigues (2011, p. 119) explicam que é gestão
que está situada no nível macro da Educação, no qual se encontram os órgãos superiores
dos sistemas de ensino e as políticas públicas destinadas aos mesmos. Nesse sentido,
inclui todas as instituições que promovem a tarefa de educar, sejam elas formais (escolas)
ou não formais, que se dedicam à promoção sistemática de ensinamentos extraescola-
res. A gestão escolar, por sua vez, está no nível micro, no âmbito das escolas. Ambas são
distintas, mas articuladas, tendo em vista que a educação oferecida nas escolas se com-
plementa ou caminha paralelamente a outros órgãos que promovem educação, como
instituições que oferecem ensino superior, atividades de contraturno, educação especial,
educação profissionalizante, cursos de idiomas, artes e outras que oferecem aprendiza-
gens diversas aos indivíduos, além dos órgãos diretores dos sistemas educacionais, como
as secretarias municipais e estaduais de educação.
Dourado (2006, p. 53) nos aponta atribuições da gestão escolar, que busca:
• organizar o trabalho pedagógico, que implica visibilidade de objetivos e metas
dentro da instituição;
• promoção de gestão colegiada de recursos materiais e humanos, planejamento de suas
atividades, distribuição de funções e atribuições, na relação interpessoal de trabalho;
• partilha do poder, conforme as responsabilidades de cada membro/funcionário;
• a participação de todos os aspectos da gestão colegiada e participativa da escola e
na democratização da tomada de decisões.

Todas essas ações precisam estar conectadas, desde as mais simples, como a abertura
do portão da escola na primeira hora de funcionamento, a preparação das aulas pelos
professores, até a articulação entre a escola e a comunidade, promovendo uma gestão
democrática. Nesse sentido, a figura do gestor escolar ou diretor de escola é de extrema
importância, por este ser o responsável por fazer a engrenagem escolar funcionar. Além
de administrar, o gestor escolar deve sempre colocar-se como um educador, que
transforma todos os desafios escolares em oportunidades de aprendizado, como
afirma Saviani (1986, p. 190):

[...] é preciso dizer que o diretor de escola é, antes de tudo, um educador,


antes de ser um administrador, ele é um educador por excelência, dado
que no âmbito escolar, lhe compete a responsabilidade máxima em relação
à preservação do caráter educativo da instituição escolar.

Entretanto, não se faz a gestão de uma escola sozinho, faz-se necessário um grupo,
com os mesmos objetivos, mas com funções diversas. Desta forma, a equipe gestora
das escolas é composta basicamente de diretor e coordenador pedagógico. O diretor é
responsável pela organização de todos os processos, articulação da equipe e tomada de
decisões, enquanto o coordenador responsabiliza-se pela articulação no planejamento,
currículo, avaliação da aprendizagem e formação continuada dos professores (SEMIS,
2018). Ambos necessitam de formação de nível superior em curso de Pedagogia e expe-
riência em sala de aula para exercer a função.

Outras funções, como vice-diretor, diretor assistente, orientador educacional, professor


mediador, pedagogo e psicopedagogo são menos comuns e facultativas às redes de ensino e
escolas públicas ou privadas. Nessas funções, os profissionais, também egressos do curso de

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UNIDADE Planejamento, Gestão e Psicopedagogia

Pedagogia e com vivência em sala de aula – exceto o psicopedagogo formado em nível de es-
pecialização, que pode não ter um curso de licenciatura e sim de bacharelado –, têm tarefas de
auxiliar o diretor no acompanhamento de alunos e suas famílias, verificando a sua integração
com a escola, questões sociais e disciplinares, no caso de vice-diretores, professores media-
dores, orientadores educacionais ou outra denominação que recebam em suas localidades.

No caso de pedagogos e psicopedagogos, são incumbidos de traçar estratégias de


ensino para alunos com dificuldades e defasagens de aprendizagem, acompanhando-os
e mantendo a relação com as suas famílias e outros especialistas, como psicólogos, fono-
audiólogos, neurologistas e outros que oferecem suporte para que a educação aconteça.

Assim, os gestores têm tarefas que incluem (SEMIS, 2018):


• Acolhimento às demandas de professores, funcionários, alunos e pais;
• Acompanhamento de processos e registros pedagógicos e administrativos;
• Articulação e organização de recursos materiais e pedagógicos;
• Apoio a práticas inovadoras, incentivo ao uso de tecnologias educacionais,
metodologias inovadoras e formação continuada;
• Promoção de avaliação interna, a partir da análise dos quadros de desempenho
da escola;
• Inclusão da comunidade no processo de gestão democrática, por meio de reuniões
periódicas e abertura ao diálogo para as questões cotidianas;
• Zelo pelo cumprimento de normas e horários. Para garantir o gerenciamento
eficiente da escola, as normas que regulam a unidade, bem como a escolha dos
horários, devem ser feitas tendo em mente o melhor resultado.

O que é um Plano de Gestão?


Documento que traça o perfil da escola, conferindo-lhe identidade e intenções comuns de
todos os envolvidos, norteia o gerenciamento das ações internamente ao estabelecimento
e operacionaliza o Projeto Pedagógico.
O Plano de Gestão envolve, portanto, todos os aspectos da escola, administrativos e peda-
gógicos, assim como as ações que realizará e registrará, como organização e funcionamento
da APM, do Conselho de Escola e do Grêmio estudantil, plano de trabalho dos núcleos de:
direção, técnico-pedagógico e operacional e plano de ensino, cujos objetivos serão alcan-
çados ao longo de quatro anos, entre outros aspectos. Sua função é operacionalizar e
gerenciar o Projeto Pedagógico. O Plano de Gestão passa a ser um documento que avaliará
periodicamente os objetivos e metas, bem como controlará e acompanhará o Plano de
Ensino, ao longo de quatro anos.
Somente pela permanente avaliação dos objetivos e metas estabelecidos pelo Projeto
Pedagógico e o controle e acompanhamento do Plano de Ensino, o Plano de Gestão poderá
ser concretizado ao final desse período. O aspecto mais importante do Plano de Gestão é
buscar garantir:
a. O alcance dos objetivos e metas traçadas;
b. O trabalho coletivo;
c. A melhoria da qualidade de ensino na unidade escolar.

Fonte: UDEMO, 2008

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Psicopedagogia, Planejamento e Gestão
E qual a relação entre Psicopedagogia, planejamento e gestão? O Código de Ética do
Psicopedagogo, formulado e divulgado pela ABPP – Associação Brasileira de Psicope-
dagogia – (2019, p. 1), em seu primeiro artigo, pode nos auxiliar a responder: a Psico-
pedagogia é um campo de conhecimento e ação interdisciplinar em Educação e Saúde
com diferentes sujeitos e sistemas, quer sejam pessoas, grupos, instituições e comuni-
dades. Ou seja, se envolve não só indivíduos como as suas coletividades, é impossível
desvincular-se de um projeto de gestão e toda ação gestora demanda planejamento.

O Símbolo da Psicopedagogia
[...] Em 1858, o matemático e astrônomo alemão Auguste Ferdinand Möebius, ao pesquisar
o desenvolvimento de uma Teoria dos Poliedros, descobriu uma curiosa superfície que ficou
conhecida com seu nome, a Fita de Möebius. É uma fita simples, que tem duas superfícies
distintas (uma interna e outra externa) limitadas por duas margens. Trata-se de uma super-
fície de duas dimensões com um lado apenas. Assim, se caminharmos continuamente ao
longo da fita, atravessamos ora uma, ora outra dimensão.
[...] Assim, o símbolo da Psicopedagogia foi eleito por maioria de votos no VIII Congresso
Brasileiro de Psicopedagogia realizado em São Paulo de 9 a 11 de junho de 2009. Fita de
Möebius com 3 voltas. Representa o olhar do Psicopedagogo. As voltas estão dispostas de
forma a representar a aprendizagem do indivíduo. O círculo central representa o indivíduo
em processo para a aquisição de conhecimento, chegando ao fim com mudanças perceptíveis
(círculo vermelho).
Esse símbolo foi assim representado com o propósito de caracterizar nossa área de atuação,
representando o Psicopedagogo com suas características próprias.

Fonte: https://bit.ly/3cVOna0

Figura 3 – O símbolo da Psicopedagogia


Fonte: Divulgação

Sobre a Psicopedagogia, a ABPP (2019, p. 1) ainda esclarece que se ocupa do processo


de aprendizagem considerando os sujeitos e sistemas, a família, a escola, a sociedade e o
contexto social, histórico e cultural. Para isso, faz uso de instrumentos e procedimentos
próprios, fundamentados em referenciais teóricos distintos, que convergem para o enten-
dimento dos sujeitos e sistemas que aprendem e sua forma de aprender.

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UNIDADE Planejamento, Gestão e Psicopedagogia

Para se pensar em planejamento e gestão em Psicopedagogia, é preciso delimitar os


espaços de atuação deste profissional, tanto no que se refere aos campos de trabalho,
como à visão ética, política e epistemológica do psicopedagogo, em relação aos indiví-
duos nos espaços determinados para a sua atuação e à maneira de abordar o seu objeto
de estudo (BOSSA, 2000, p. 29).
Tendo em vista que a Psicopedagogia se ocupa dos processos de aprendizagem nos
diferentes espaços institucionais (RODRIGUES, 2010), seu maior campo de atuação
são as instituições educacionais. No entanto, há uma série de espaços que requisitam
a presença de psicopedagogos em seus quadros: organizações não governamentais;
clínicas; e instituições privadas, como empresas, hospitais e escolas. Nesses espaços,
propõe-se uma atuação que inclui (PEREIRA, 2020):
• Prestar atendimento interdisciplinar com equipes formadas por psicó-
logos, psiquiatras e neurologistas;
• Realizar diagnósticos e prognósticos dos problemas de aprendizagem, ar-
ticulando as ações com os demais profissionais da Educação e da Saúde;
• Orientar, prevenir e oferecer tratamentos dos problemas e dificuldades
de aprendizagem no âmbito escolar e em clínicas psicopedagógicas.

Constata-se que nesses espaços, o psicopedagogo tem suas atribuições definidas, mas
também faz parte de equipes pedagógicas, inter e multidisciplinares, de modo que o plane-
jamento e gestão devem estar de acordo com o plano de trabalho de cada instituição.

De forma paralela ao conhecimento dos espaços ocupados, é importante conhecer


as concepções que embasam o trabalho psicopedagógico. De natureza complexa e
interdisciplinar, esse trabalho é influenciado por outras áreas que incidem sobre a
aprendizagem humana.

Quadro 2

Encarrega-se do estudo do mundo inconsciente, das representações


Psicanálise profundas, operantes na dinâmica psíquica.

Estuda a constituição dos sujeitos, suas relações familiares,


Psicologia Social grupais e institucionais, em condições socioculturais e econô-
micas determinantes para a aprendizagem.

Epistemologia1 e Tem a função de analisar e descrever o processo construtivo do


Psicologia Genética conhecimento pelo sujeito e suas interações.

Traz a contribuição da língua enquanto código disponível a todos


Linguística os membros de uma sociedade.

Contribui com as diversas abordagens do processo de ensino e


Pedagogia aprendizagem, analisando-o do ponto de vista de quem ensina.

Neuropsicologia Possibilita a compreensão dos mecanismos cerebrais.

Fonte: Adaptado de BOSSA, 2000, p. 26

1
A epistemologia é o ramo da filosofia que se ocupa do estudo da natureza do conhecimento, da justificação e
da racionalidade da crença e dos sistemas de crenças; em outras palavras, de toda a Teoria do Conhecimento
(MACIEL, 2006).

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A apresentação das contribuições dessas áreas do conhecimento leva à compreensão
de como o sujeito, ou seja, a pessoa atendida pelo psicopedagogo, é concebido. O estudo
da Epistemologia Genética, embasada na obra do biólogo suíço Jean Piaget, objetiva pro-
ver e expor os desvendamentos, bem como abarcar as raízes das diversas variedades do
conhecimento (ABREU, 2010). Partindo dessa teoria, postula-se um papel ativo do sujeito
na aprendizagem, como alguém que constrói o seu conhecimento, mediante sua própria
maturação e condições oferecidas. Desta forma, influencia a concepção de sujeito da
Psicopedagogia: alguém ativo, capaz de construir conhecimentos, ainda que necessite
da intervenção profissional para encontrar o melhor caminho para essa aprendizagem.

Mediante o conhecimento dos espaços destinados à atuação do psicopedagogo e das


concepções epistemológicas que norteiam esse trabalho, é possível pensar em plane-
jamento e gestão de espaços psicopedagógicos, lembrando que com exceção da Psico-
pedagogia Clínica, em que o profissional atende em consultórios, os espaços ocupados
por psicopedagogos fazem parte de organizações. Ou seja, a gestão de um trabalho
psicopedagógico está imersa em um processo maior, de modo que é preciso administrar
o planejamento individual, conciliando-o com as necessidades da organização em que se
insere, sem perder as características do trabalho planejado.

Quanto ao planejamento de atendimentos individuais em clínicas, organizações não


governamentais ou instituições, obedece-se a uma sistemática composta de avaliação
inicial, escolha das atividades com gradação do nível de dificuldade, observações e
registro, avaliação periódica e devolutivas (CASTRO, 2020).

A avaliação inicial é o primeiro contato com o indivíduo a ser atendido, quando se


toma contato com suas principais características. Em seguida é realizada uma anamnese,
procedimento que consta de uma segunda entrevista com os pais, com o objetivo de
retirar dados sobre a história vital do avaliado (OLIVEIRA, 2017). Em caso de adultos, o
próprio indivíduo tem competência para responder às questões, salvo aquelas que contêm
perguntas específicas sobre sua concepção e nascimento. É um momento de extrema
importância, pois se estabelecem vínculos e relação de confiança entre o atendido, fami-
liares e o psicopedagogo. A anamnese é fundamental para se traçar um diagnóstico e em
inúmeras situações é a única fonte de dados para que se chegue a uma conclusão.

Figura 4 – Psicopedagoga fazendo avaliação


Fonte: Getty Images

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UNIDADE Planejamento, Gestão e Psicopedagogia

De posse dos dados a respeito do indivíduo a ser atendido, elabora-se um plano de ação
com objetivos e metas realizáveis em curto prazo e um cronograma de atendimentos que
viabilizem o alcance desses objetivos, que vão sendo modificados conforme são alcançados.
Por isso, o cronograma é uma referência, porém flexível, sujeito a pequenas modificações.
Ao fim de cada atendimento, o profissional precisa elaborar registros acerca do desem-
penho de seus atendidos, visto que os registros são os indicadores para o planejamento
dos próximos atendimentos, que devem constar de atividades que desafiem a inteligência,
porém com graus de dificuldade possíveis para se realizar.

Ao fim de um ciclo – que pode ser 1 mês, bimestre, semestre ou outra marcação de
tempo –, o psicopedagogo precisa avaliar os resultados do atendimento realizado para
estabelecer novos objetivos e metas. Mediante o fim de uma etapa, deve dar uma devo-
lutiva ao atendido, se este for adulto, ou à família, no caso de atendimento a crianças.
Abrange também outros profissionais envolvidos na aprendizagem do indivíduo, além
das equipes de escolas ou outras organizações a que pertença. Essa devolutiva, pautada
nos registros e avaliação, tem como objetivo discutir – e não apenas comunicar – os
avanços realizados, possíveis entraves e novos caminhos de aprendizagem.

O que é uma Devolutiva?


É o ato de dar um parecer de uma atividade, prova ou tarefa após sua realização com o objetivo
de apontar os pontos positivos e pontos a melhorar. Ex.: A professora fez a devolutiva para
os alunos uma aula após a prova.
Equivalente em inglês: feedback.

Fonte: https://bit.ly/3s2OyEF

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática
O livro, editado inúmeras vezes, é uma referência para profissionais e estudantes de
Psicopedagogia. Nele, a autora responde a questões básicas a partir da prática, tais
como procedimentos básicos da ação psicopedagógica e aspectos do planejamento
e da gestão dos espaços psicopedagógicos.

Vídeos
O Papel da Equipe Gestora da Escola – parte 1
Palestra proferida pela Prof.ª Dr.ª Lourdes Marcelino Machado, da UNESP de Marí-
lia, sobre o papel da equipe gestora da escola.
https://youtu.be/-hg4v_NEt90

Filmes
Meu Mestre, Minha Vida
O professor Joe Clark (Morgan Freeman) é convidado pelo seu amigo Frank Napier
(Robert Guillaume) a assumir o cargo de diretor em uma problemática escola de
Nova Jersey.
https://youtu.be/evA9nkdOhKU

Leitura
O que é planejamento?
Artigo escrito por Raissa Pascoal (2014) para a Revista Nova Escola/Gestão Escolar,
com o objetivo de conceituar planejamento e tratar do seu papel antecipador de
atividades e situações durante o ano letivo, oferecendo segurança ao trabalho da
equipe escolar.
https://bit.ly/31RmM3u

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UNIDADE Planejamento, Gestão e Psicopedagogia

Referências
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