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Planejamento e

Gestão de Espaços
Psicopedagógicos
Psicopedagogia no Ensino Superior e Formação de Professores

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.a Dr.ª Rutinéia Cristina Martins

Revisão Textual:
Ingrid Cardoso Romão
Psicopedagogia no Ensino Superior
e Formação de Professores

• Ensino Superior e Inclusão;


• O Psicopedagogo no Ensino Superior.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Conhecer o papel do trabalho psicopedagógico no Ensino Superior e como ele se insere no
planejamento da instituição;
• Compreender a ação do psicopedagogo enquanto gestor pedagógico e formador de profes-
sores para lidar com os diversos processos de aprendizagem.
UNIDADE Psicopedagogia no Ensino
Superior e Formação de Professores

Contextualização
Quem com pó de giz
Um lápis e apagador
Deu o verbo a Vinícius
Machado de Assis, Drummond?

Quem ensinou piano ao Tom?


Quem pôs um lápis de cor
Nos dedos de Portinari
Picasso e Van Gogh?

Quem foi que deu asas a Santos Dumont?


Crianças têm tantos dons
Só que, às vezes, não sabem
Quantos só se descobrem

Porque o mestre enxergou


E incentivou
É, só se faz um país com professor
Um romance, um croqui, com professor

Um poema de amor, dim dim


Um país pra ensinar seus jovens
É, só se faz um país com professor
Um romance, um croqui, com professor
Um poema de amor, dim dim

Tânia Maya e Viáfora, O professor (2012)

Figura 1 – Coruja, símbolo da sabedoria e da profissão de professor


Fonte: Adaptada de Getty Images

A letra da canção de Tânia Maya e Viáfora, que abre esse texto, nos emociona e
faz refletir sobre a importância social do professor. Nesta unidade, vamos entender um

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pouco melhor sobre as contribuições da psicopedagogia para a formação do profissional
docente, em nível básico e superior, bem como sua importância para os universitários
com deficiência e dificuldades de aprendizagem.

Agora ouça essa linda música de Maya e Viáfora: https://youtu.be/TscixQuqoyM

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UNIDADE Psicopedagogia no Ensino
Superior e Formação de Professores

Ensino Superior e Inclusão


Como pensar a ação, o planejamento e a gestão do trabalho psicopedagógico no
Ensino Superior?

Ao analisar os objetivos da atividade psicopedagógica contidos no Código de Ética


do Psicopedagogo (ABPP, 2019, p. 2), podemos encontrar algumas respostas, de modo
que tais objetivos sejam direcionados no sentido de propor ações frente aos processos de
aprendizagem e suas dificuldades, além de contribuir para os processos de inclusão escolar
e social. A esses objetivos, soma-se a mediação das relações interpessoais nos processos
de aprendizagem com vistas à prevenção de dificuldades e/ou à resolução de conflitos.

Os objetivos do código apresentam duas palavras ou expressões-chave: inclusão e


dificuldades de aprendizagem, o que aponta uma vertente para o trabalho psicopeda-
gógico na medida em que define o público-alvo para as intervenções.

Educação Especial no Ensino Superior


Pessoas com deficiência na faculdade? Como fazer?

Uma universidade inclusiva só é possível no caminhar em busca da mudan-


ça que vai eliminando barreiras de toda ordem, desconstruindo conceitos,
preconceitos e concepções segregadoras e excludentes. É um processo que
nunca está finalizado, mas que, coletivamente, deve ser constantemente
enfrentado. (MOREIRA; BOLSANELLO; SEGUER, 2011, p. 141)

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2007,


p. 28) estabelece que os estados partes desta convenção reconhecem o direito das pes-
soas com deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem discriminação e com
base na igualdade de oportunidades, tais estados devem assegurar sistema educacional
inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, tendo
em vista políticas educacionais que favoreçam a inclusão.

Segundo a Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusi-


va (BRASIL, 2014, p. 12), no Ensino Superior, a educação especial se efetiva por meio de
ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos estudantes. A gestão
dos estabelecimentos de ensino deve realizá-las de modo que envolvam o planejamento
e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica,
nas comunicações, nos sistemas de informação e nos materiais didáticos e pedagógicos.
Esses recursos precisam ser divulgados e disponibilizados nos processos seletivos e no
desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão.

Mas quem é o público da educação especial nas universidades?


Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) a respeito de
matrículas do público-alvo da educação especial no Ensino Superior em 2017 revelam
um perfil das deficiências e altas habilidades encontradas em cursos de graduação que
utilizam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como forma de ingresso em todo o
país, conforme o gráfico a seguir:

10
6000
5000
4000
3000
2000
1000 Matrículas em cursos de
0 graduação
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Figura 2 – Gráfico 1 – Matrículas em cursos de graduação
Fonte: Adaptada de INEP, 2019

A figura a seguir, mostra um número significativo de matrículas de estudantes com


deficiência. Excetuando-se os 418 alunos com altas habilidades, são 14.148 matrículas
de pessoas com deficiências e transtornos globais do desenvolvimento em universida-
des, centros universitários e faculdades, em um universo de 1.876.626 matrículas. Pro-
porcionalmente, tais alunos representam 0,75% do total. O número parece pequeno,
mas ganha vulto se pensarmos que, segundo dados do Ministério da Educação (EM 10
ANOS…, 2012), no ano de 2000 havia 2.173 pessoas com deficiência no Ensino Supe-
rior em todas as formas de ingresso.

Na análise da Figura 2, pode-se observar que o maior número de matrículas é destina-


do à deficiência física, ou seja, em tese são casos em que a preocupação maior diz respei-
to a questões relacionadas à acessibilidade. As deficiências ou transtornos que envolvem
questões de aprendizagem, psicológicas ou comportamentais têm números menores de
matrículas e requerem cuidados pedagógicos para que se efetive a inclusão dos estudantes.

Dessa forma, a universidade se torna um ambiente inclusivo no que se refere à estru-


tura, todavia, o psicopedagogo é um dos profissionais que torna possível essa inclusão
também do ponto de vista da ação cotidiana e das relações humanas.

Você sabia?
Que pessoas com deficiência têm reserva de vagas em universidades?

Para ingressar na universidade, é importante saber como comprovar a situação de


deficiência na instituição de ensino.

Pessoas com deficiência ou outras necessidades educacionais devem comprovar sua


situação antes de entrar na universidade, apresentando obrigatoriamente um relatório
clínico no momento da matrícula. O laudo médico deve conter nome, número de regis-
tro do profissional no Conselho Regional de Medicina, assinatura do médico e ser do
ano vigente ou do anterior.

É obrigatório que no laudo também conste a categoria e o grau ou nível da defici-


ência, sua possível causa e CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados com a Saúde) correspondente, além de destacar se o estudante
necessita de adaptações, como próteses ou aparelhos específicos (REIS, 2018).

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UNIDADE Psicopedagogia no Ensino
Superior e Formação de Professores

Ensino Superior: Dificuldades ou Defasagens?


Além das questões relacionadas às deficiências, por que seria necessário um olhar
psicopedagógico no Ensino Superior?

Figura 3 – Jovem na faculdade


Fonte: Getty Images

O Ensino Superior é (ou deveria ser) uma continuidade da Educação Básica, etapa na
qual os objetivos didáticos se voltam para o desenvolvimento de competências nas diversas
áreas do conhecimento, destacando-se a leitura e a escrita, necessárias para todos os cursos,
e os conhecimentos matemáticos, aplicáveis aos cursos das áreas científica e tecnológica.

Dados obtidos a partir de avaliações externas feitas ao fim do Ensino Médio (PISA…,
2018) apontam que 68% dos estudantes brasileiros não possuem o nível básico de pro-
ficiência na área de conhecimentos matemáticos, sendo incapazes de resolver questões
simples e rotineiras envolvendo cálculos. Na leitura, detectou-se que 50% dos brasileiros
não atingiram o mínimo de proficiência, com sérios problemas de interpretação textual.

Segundo dados obtidos a partir de avaliações realizadas pelo PISA (Programa Inter-
nacional de Avaliação de Alunos) em 2018, ao fim do Ensino Médio, 68% dos estudan-
tes brasileiros não possuem o nível básico de proficiência na área de conhecimentos ma-
temáticos, sendo incapazes de resolver questões simples e rotineiras envolvendo cálculo.
Na leitura, detectou-se que 50% dos brasileiros não atingiram o mínimo de proficiência,
com sérios problemas de interpretação textual.

Sendo assim, verifica-se um paradoxo, visto que, teoricamente, no Ensino Supe-


rior o aluno já deveria ter construídas as competências fundamentais, dedicando-se
plenamente ao aprendizado dos conceitos que envolvem uma formação profissional.
Ao contrário, o que se vê na faculdade, a princípio, não são alunos com dificuldades de
aprendizagem natas, mas alunos que têm dificuldades de aprender porque não desen-
volveram as habilidades previstas nas áreas básicas. Enfim, existe no país um grande
número de alunos com defasagens de aprendizagem pleiteando o direito de obter um
diploma de curso superior.

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O Psicopedagogo no Ensino Superior
São raras as instituições de Ensino Superior que contam com a presença de um psico-
pedagogo em seus quadros, todavia há um grande número de profissionais de pedagogia
e psicologia com especialização em psicopedagogia. O olhar psicopedagógico nesta etapa
de ensino se torna urgente quando há a necessidade de promover a inclusão, analisando as
particularidades no desenvolvimento de cada um, sejam elas mais gerais, como as falhas
na aprendizagem de língua portuguesa, ou específicas, dizendo respeito a orientações à
equipe de funcionários da faculdade ou à adaptação do ambiente às condições do aluno.
Isso inclui ações como providenciar intérpretes de Libras para pessoas com deficiência
auditiva, materiais ampliados ou em braille para indivíduos com deficiência visual, ou qual-
quer outra condição que requeira um cuidado especial. A esse respeito, Castanho eFreitas
(2006, p. 95) esclarecem que, a partir da formulação de políticas de inclusão, há uma
maior necessidade de preparação da comunidade acadêmica para receber tais alunos, e:

Diante disso, qualificar o profissional no ensino superior, que ao longo de


sua trajetória como docente poderá defrontar-se com um aluno que apre-
sente alguma necessidade educacional especial exige uma preparação
que vai além do conhecimento científico, que é indispensável, mas tam-
bém, conforme Schön, (2000), existem zonas práticas indeterminadas,
como por exemplo, incertezas, singularidades e conflitos de valores que
fazem parte do cotidiano acadêmico, e que o professor deve enfrentar.
(CASTANHO, FREITAS, 2006, p. 95)

Figura 4 – Aula de Libras


Fonte: Getty Images

Para colocar em prática esse ideal, o psicopedagogo deve gerir o seu trabalho de
planejamento em uma rotina que envolva as seguintes atribuições:
• Pesquisar o ambiente institucional visando a eliminação de barreiras, de modo que,
além da acessibilidade física, haja a adaptação das condições de ensino de acordo
com a deficiência ou outras necessidades que o aluno apresente;
• Participar de reuniões com gestores das instituições de ensino superior;

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UNIDADE Psicopedagogia no Ensino
Superior e Formação de Professores

• Participar de reuniões dos núcleos docentes estruturantes dos cursos superiores;


• Promover reuniões periódicas de formação continuada e/ou cursos, fóruns, sim-
pósios e seminários com a finalidade de divulgar conhecimentos que facilitem o
processo de inclusão para alunos, professores, funcionários e comunidade;
• Realizar o assessoramento psicopedagógico dos professores sobre procedimentos
inclusivos para alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades;
• Orientar grupos de alunos com dificuldades ou deficiências, visando acompanhá-los
em suas trajetórias acadêmicas, promovendo sua adaptação à vida universitária e
vice-versa;
• Analisar as principais dificuldades dos alunos para a promoção de cursos de nivelamento1;
• Outras atribuições correlatas às citadas anteriormente.

Para exemplificar a ação psicopedagógica no Ensino Superior, trazemos os obje-


tivos específicos da proposta de Wagner e Cunha de curso de nivelamento para um
centro universitário:

Objetivos Específicos
• Proporcionar um aumento qualitativo no conhecimento do aluno em
relação ao ensino básico da Língua Portuguesa e Matemática;
• Desenvolver as habilidades em leitura, interpretação de texto e opera-
ções matemáticas;
• Ampliar o prazer pela leitura e pela matemática;
• Apreciar diversos tipos de textos através de um trabalho integrado
e interdisciplinar;
• Provocar uma modificação da atitude do aluno em relação ao processo
de ensino e aprendizagem, isto é, a autoaprendizagem;
• Minimizar deficiência dos acadêmicos em relação aos conteúdos funda-
mentais da Educação Básica;
• Propiciar ao aluno contato com uma nova forma de aprendizagem, isto
é, Educação a Distância;
• Proporcionar interatividade entre docentes e alunos nesse processo de
ensino e  aprendizagem;
• Estimular os alunos a raciocinar em tempos lógicos;
• Desenvolver a capacidade de análise de problemas e de sua resolução
através de estudo de caso.
A meta para Língua Portuguesa é: Em dois meses, o aluno dominará os
princípios básicos da norma culta da língua portuguesa, desenvolverá
habilidades escritas e orais e produzirá textos corretos, coesivos e
coerentes. (2008, p. 3-4)

1
Curso de nivelamento são cursos de curta duração, geralmente ministrados nos primeiros semestres de um curso
superior, que servem para recordar alguns conteúdos básicos de matemática, língua portuguesa, língua inglesa,
informática ou de ciências, como física, química ou biologia, dos quais os alunos deveriam ter conhecimento para
ingressar no Ensino Superior e acompanhar melhor as matérias do curso que escolheram (O QUE…, 2016).

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Em um curso dessa natureza, a ação do psicopedagogo começa no diagnóstico das
principais dificuldades dos alunos em relação à língua portuguesa, perpassando a siste-
matização dos dados sobre sua aprendizagem, bem como a elaboração da proposta de
curso, a seleção e o acompanhamento dos alunos. Sendo assim, a atuação do psico-
pedagogo no Ensino Superior inclui teoria, prática e contato constante com os alunos,
tendo em vista que seu trabalho deve estender-se também aos alunos matriculados em
cursos a distância, ainda que eles sejam atendidos em uma dinâmica diferente.

Pessoas com deficiência visual no ensino superior


Já imaginou como se dá a inclusão de deficientes visuais no Ensino Superior? O texto “In-
clusão: relatos de deficientes visuais pessoas com deficiência visual no ensino supe-
rior” (BARROS; SANTANA; MARTINS, 2019) dá referências de como isso é realizado por meio
de depoimentos de pessoas que passaram pela experiência. No texto, os autores Amauri
Barros, Anderson Santana e Robson Martins Júnior tratam de assuntos como adaptação
de materiais, dificuldades encontradas, receptividade e uso da tecnologia, mostrando um
panorama atual da situação dos deficientes visuais no ensino superior.
Disponível em: https://bit.ly/32bJbZu

Formação de Professores: A Contribuição do Psicopedagogo


O que o psicopedagogo pode fazer especificamente pela formação de professores?

O trabalho na área psicopedagógica é dinâmico e abrangente, e, segundo Martins


(2009), permite um olhar globalizado sobre o fenômeno escolar, considerando aspectos
diversos, como a relação aluno-professor e vice-versa; condições do ambiente escolar;
relação família-escola; e relação de apropriação do aluno com o conhecimento. Isso
demonstra que o psicopedagogo considera o universo em que o aluno está inserido,
compreendendo-o em uma totalidade e compartilhando essa compreensão com o pro-
fessor de todas as etapas de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino
Médio, Ensino Superior e educação não formal em espaços diversos.

Figura 5 – Estudo em grupo


Fonte: Getty Images

A formação continuada de professores é garantida pela Lei de Diretrizes e Bases


da Educação Nacional (BRASIL, 2020), que em seu artigo 67 afirma que “os siste-
mas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-
-lhes, inclusive [...] aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento

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UNIDADE Psicopedagogia no Ensino
Superior e Formação de Professores

periódico remunerado para esse fim”. Junto com a equipe pedagógica, o psicopedagogo
contribui com o que compete à sua área de atuação, podendo, de acordo com a institui-
ção, ser o principal formador ou o profissional que traz conhecimentos específicos para
a efetivação da inclusão.

Isso ocorre de modo que a própria formação apresente caráter preventivo, pois o
professor instruído também auxilia na identificação de situações que podem ocorrer
com o aluno e que são passíveis de intervenção psicopedagógica.

A formação psicopedagógica de professores tem como foco a inclusão, visando tra-


zer questionamentos e conhecimentos sobre as dificuldades de aprendizagem e educa-
ção especial. Não se pode esquecer que na Educação Infantil, além desses tópicos, o
psicopedagogo é o especialista em questões relacionadas ao desenvolvimento infantil.

O que são dificuldades de aprendizagem?


Smith e Strick (2001), definem dificuldades de aprendizagem como problemas que afetam a
capacidade cerebral de entendimento, recordação e comunicação de informações; sendo as-
sim, “os alunos que apresentam essas dificuldades necessitam de uma atenção especial, de
um trabalho diferenciado e o professor deve se preocupar com a sua metodologia de ensino”.
Quando os problemas de aprendizagem são definidos, surgem evidências de que algo está
desarticulado no processo de desenvolvimento do aluno. O ensino deve levar em conta as
possibilidades e capacidades dos alunos sem responsabilizá-los por suas dificuldades de
aprendizagem, que precisam ser compreendidas e percebidas como um problema cuja so-
lução pode ser encontrada, entre outros fatores, por meio da própria atuação do professor
em sala de aula.
É preciso considerar que as dificuldades de aprendizagem não são somente de aprendi-
zagem, mas também podem estar na maneira como o professor transmite os conteúdos
ou até mesmo na dificuldade de relacionamento com alguns desses alunos, o que acaba
interferindo no desenvolvimento do processo de ensino, pois não há reciprocidade entre
ambos (TAVARES, 2013).

Para exemplificar o planejamento e a gestão do trabalho psicopedagógico na forma-


ção de professores, trazemos um programa de formação em educação especial e difi-
culdades de aprendizagem de uma rede de Ensino Fundamental durante o ano de 2013:

Quadro 1 – Programa de formação

• Janeiro (planejamento);
• Março;
Data • Maio;
• Agosto;
• Outubro.

• Dificuldades de aprendizagem na sala de aula;


• Autismo e síndrome de Asperger;
Temas • Distúrbios e transtornos de aprendizagem;
• Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem;
• Neurociência e aprendizagem.

Fonte: Adaptada de KANADA, 2013

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Ao olharmos esse programa de formação de uma rede de ensino, podemos verificar
que há conteúdos para serem desenvolvidos durante o ano todo a partir dos temas-chave
apresentados. Nesse sentido, o psicopedagogo é também um pesquisador, visto que,
por meio de seus registros, das demandas trazidas por professores e das atualidades na
área de ensino e aprendizagem, consegue organizar roteiros de estudos no intuito de
atender às carências de conhecimentos da instituição à qual está vinculado.

Na rotina profissional, o psicopedagogo colhe e registra informações originadas de


prontuários de alunos atendidos, anamneses feitas com pais, anotações de progressos,
encaminhamentos a profissionais da saúde ou resultados obtidos. Ao serem
“contabilizadas”, essas informações apontam, em números, quais as principais demandas
da instituição e trazem resultados qualitativos das ações realizadas. Além disso, indicam
diretrizes para o planejamento do trabalho e das práticas de formação.

Como fazer a gestão do trabalho psicopedagógico na formação de professores?

Se o psicopedagogo trabalhar em uma instituição na qual sua tarefa principal seja a


de formador, como em secretarias de educação ou centros de pesquisa de diversas ins-
tâncias públicas ou privadas de ensino, o planejamento do trabalho estará concentrado
em reuniões para aprimoramento, cursos, organização de turmas, contatos com escolas
e organizações, estudos e planejamento de reuniões. Serão diversas tarefas com o mes-
mo foco: a formação.

Figura 6 – Professores instrutores


Fonte: Adaptada do Getty Images

Como mostra a Figura 6, o psicopedagogo é um educador e formador de diversos


públicos. Nas instituições educacionais de educação básica ou superior, há uma
multiplicidade de tarefas ligadas à gestão e ao atendimento a famílias, alunos, professores
e funcionários. A formação de professores é complementar a todas elas, uma vez que os
preceitos colocados em reuniões de estudos pedagógicos, cursos ou aulas de trabalho
pedagógico coletivo dão origem a projetos a serem desenvolvidos, no decorrer da
execução dos quais são detectadas novas possibilidades de ação.

Em termos práticos, o psicopedagogo institucional não tem todos os dias e horários


dedicados à formação de professores. Por conta disso, independentemente da periodici-

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dade em que as formações ocorrem (semanal, mensal ou bimestralmente), é preciso ter


domínio sobre as principais referências teóricas que subsidiam o trabalho pedagógico na
etapa de ensino com a qual se trabalha. Por exemplo: conhecer a obra de Emília Ferreiro
e Ana Teberosky quando se trabalha com alfabetização, ou ter familiaridade com a an-
dragogia, para quem tem a Educação de Jovens e Adultos como posto de trabalho. Isso
significa que deve haver atualização constante, e não apenas nos momentos formativos.

Em resumo, o planejamento do trabalho psicopedagógico na formação continuada


de professores exige que haja um momento, em meio às demais atribuições, para a
preparação do curso ou reunião, envolvendo a pesquisa, a sistematização e a organização
dos materiais, como, por exemplo, digitação, impressões e apresentação dos materiais
com projetores e outros aparatos tecnológicos, ou ainda materiais didáticos usuais,
como canetas, lápis, tintas e giz. Esse planejamento deve prever uma avaliação tanto do
momento formativo como da aplicação dos conhecimentos, o que significa que o conteúdo
desenvolvido deve ser avaliado em curto e médio prazo, sendo tal avaliação também um
termômetro para determinar o aprofundamento ou não de determinados temas.

Pessoas e Lugares: Maria Teresa Eglér Mantoan


O processo de inclusão é um dos pontos fortes do trabalho psicopedagógico. Vamos
conhecer um pouco mais sobre uma profissional que, com suas pesquisas, construiu um
referencial teórico sobre o assunto?

Maria Teresa Eglér Mantoan é pedagoga, mestre e doutora em Educação pela Facul-
dade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atua como profes-
sora colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação da mesma instituição,
e como coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença
(Leped/Unicamp). Recebeu o título de Oficial da Ordem Nacional do Mérito Educacio-
nal como reconhecimento à contribuição à educação brasileira. Dedica-se, nas áreas de
pesquisa, docência e extensão, ao direito incondicional de todos os alunos à educação
escolar de nível básico e superior de ensino. Como resultado de suas pesquisas, Mantoan
publicou, dentro outros, os livros: Websites atendendo requisitos de acessibilidade
e usabilidades (2020), O desafio das diferenças (2011) e Inclusão escolar: o que é?
Por quê? Como fazer? (2003) (CNPq, 2020).

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Inclusão no Ensino Superior: docência e necessidades educacionais especiais
MELO, F. R. L. V. Inclusão no Ensino Superior: docência e necessidades educa-
cionais especiais. Natal: EDUFRN, 2013.
O livro organizado por Francisco Ricardo Lins Vieira de Melo é uma coletânea de
textos de professores universitários a respeito de questões relacionadas ao proces-
so de inclusão no Ensino Superior. São abordadas questões relativas ao currículo,
orientações didáticas, acesso e permanência de alunos com deficiência intelectual,
deficiência auditiva, deficiência física, altas habilidades/superdotação, transtornos do
espectro autista e outros transtornos que interferem na aprendizagem.

Vídeos
Quais são as instituições com ensino superior inclusivo?
Este vídeo foi inserido no artigo “Quais são as instituições de Ensino Superior com
sistema inclusivo?”, publicado na plataforma Diversa: educação inclusiva na práti-
ca, que se destina ao compartilhamento de conhecimentos e experiências sobre
inclusão de estudantes com deficiência, transtorno do espetro autista (TEA) e altas
habilidades/superdotação. O objetivo do vídeo é mostrar uma experiência de inclu-
são de pessoa com deficiência visual no Ensino Superior e o programa de inclusão
desenvolvido nessa universidade a partir de tal experiência.
https://bit.ly/3dhDI9X

Filmes
Happy feet
A animação traz a história de um pinguim que vive em uma sociedade que valoriza
o canto, mas ele só sabe dançar. Isso lhe causa alguns constrangimentos e, em
determinado momento do filme, uma professora faz questionamentos à sua mãe
sobre o seu nascimento e os motivos pelos quais ele seria diferente. Tal filme pode
ser usado na formação de professores, sendo possível traçar um divertido paralelo
entre a ação da professora e a intervenção psicopedagógica.
https://youtu.be/NF75QyhWmBs

Leitura
Assessoramento psicopedagógico no Ensino Superior
O artigo indicado para leitura, publicado na Revista Psicopedagogia, é resultado
de uma pesquisa que tem por objetivo geral analisar o assessoramento psicopeda-
gógico no Ensino Superior como uma ferramenta de apoio aos gestores, docentes
e discentes. Dessa forma, acredita-se que este texto servirá como um auxílio e tam-
bém como um manual de como trabalhar com os alunos com deficiência.
https://bit.ly/3mKT9ut
Portugal é um caso de sucesso na Educação Inclusiva
O texto indicado para formação de professores em inclusão traz uma entrevista
com o educador português David Rodrigues, que relata que ações levaram Portugal
a ser referência em educação inclusiva.
https://bit.ly/3tn2f2T

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UNIDADE Psicopedagogia no Ensino
Superior e Formação de Professores

Referências
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da edu-
cação nacional. Diário Oficial da União: Brasília, DF, p. 27.833, 23 dez 1996. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 14/07/2020.
________. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência. Brasília, DF: CORDE, 2007. Disponível em: <http://por-
tal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=424-cartilha-
-c&category_slug=documentos-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 19/11/2020.
________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetiza-
ção, Diversidade e Inclusão. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva
da Educação Inclusiva. Brasília, DF: MEC/SECADI, 2014. Disponível em: <http://
portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-
-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-
-05122014&Itemid=30192>. Acesso em: 19/11/ 2020.
CASTANHO, D. M., FREITAS, S. N. Inclusão e prática docente no Ensino Superior. Re-
vista Educação Especial, Santa Maria, n. 27, p. 93-99, 2006. Disponível em: <https://
periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/4350>. Acesso em: 08/07/2020.
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Informações
sobre a professora doutora Maria Teresa Eglér Manton. 21 nov. 2020. Disponível em:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4791684H6&tokenCapt
char=03AGdBq25MHHMHd-RrFfT2YTJuGOCx5BOWv-qlpObgYhHfQDSBMb41Eo-
4WUbb4Zxo1Im->. Acesso em: 17/07/2020.
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Resumo téc-
nico do censo da educação superior 2017. Brasília, DF: Inep; MEC, 2019. Disponível em:
<http://portal.inep.gov.br/informacao-da-publicacao/-/asset_publisher/6JYIsGMAMkW1/
document/id/6725796>. Acesso em: 10/07/2020.
MARTINS, K. B. S. A psicopedagogia institucional e a formação continuada de profes-
sores. Em Extensão, Uberlândia, v. 8, n. 1, 3 jun. 2009. Disponível em: <http://www.
seer.ufu.br/index.php/revextensao/article/view/20376>. Acesso em: 18 nov. 2020.
MELO, F. R. L. V. (org.). Inclusão no Ensino Superior: docência e necessidades educa-
cionais especiais. Natal: EDUFRN, 2013.
MOREIRA, L. C.; BOLSANELLO, M. A.; SEGER, R. G. Ingresso e permanência na
Universidade: alunos com deficiências em foco. Educar em Revista, Curitiba, n. 41,
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