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4.

Apresentação e análise dos dados

4.1. Observação da aula

A aula do dia 27 de Abril de 2004 teve a duração de 90 minutos. O professor


começou por nos apresentar à turma e, em seguida, escreveu o sumário no quadro.
Posteriormente, perguntou se os alunos tinham realizado o trabalho de casa, proposto na
aula anterior e procedeu à sua correcção no quadro. Durante esta correcção observámos
o tipo de interacção entre o professor e os alunos. Nota-se uma grande cumplicidade
entre o professor e os alunos o que proporciona um agradável ambiente na sala de aula.
Ao longo desta primeira parte da aula foi notável a preocupação do docente em
interrogar os alunos sobre o que ia explicando. Contudo, nunca recorreu ao auxílio da
calculadora para explicar os problemas que ia corrigindo. Foi fazendo, apenas, o esboço
relativamente às funções que ia explorando, no quadro.
Na primeira parte da aula, admirámos a forma como o professor a dinamizou
pois notámos que fazia perguntas direccionadas para os alunos que revelavam maiores
dificuldades. Este foi um factor que considerámos relevante, visto ser uma maneira de
os motivar e de os ajudar a ultrapassar as suas dúvidas. Outro aspecto que é de salientar
é o facto do professor questionar sistematicamente os alunos até aprofundarem
suficientemente as questões.

No final desta primeira parte, foi notória a preocupação do docente em perguntar


se todos os seus alunos possuíam calculadora gráfica, pois o trabalho que se iria realizar
era em grupo e era essencial recorrer a este instrumento.

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O professor encarregou-nos de dinamizar esta segunda parte da aula. A partir do
momento em que passamos a orientar os grupos, verificámos que houve sempre ou
quase sempre empenhamento, por parte dos alunos, na resolução do problema sobre
funções.
As suas reacções, aquando da receptividade ao problema (anexo IV), foram de
entusiasmo e motivação. Após uma leitura do enunciado do problema, os alunos
começaram por introduzir as expressões analíticas das funções na calculadora, o que nos
levou a concluir que estariam “à vontade” com esse recurso. No entanto, quando o
problema exigiu uma maior exploração do mesmo, notámos que sentiram algumas
dificuldades no seu manuseamento, nomeadamente, na utilização dos comandos que
permitem encontrar os zeros e os máximos das funções. No entanto, podemos constatar
que esta dificuldade não foi geral, pois existiam alguns alunos que dominavam a
calculadora gráfica com mais facilidade. Logo na primeira alínea do problema, “De que
altura foi lançada cada uma das bolas?”, verificámos que os alunos discutiam o facto do
ponto (0,0) não representar um valor correspondente ao zero de nenhuma função e um
dos zeros das funções ser negativo. Neste momento, um aluno de um grupo salientou
que “apesar do tempo não poder ser negativo, em Matemática isto pode acontecer!”.
Deste modo, recorrendo à calculadora gráfica, explicou aos colegas o raciocínio que
tinha desenvolvido para fazer aquela afirmação.
Na questão seguinte, a maioria dos alunos, através da visualização do gráfico,
percebeu que as bolas não embatiam ao mesmo tempo no chão, porém quando lhes é
solicitada uma explicação e um método para obter o valor correcto, as respostas não
foram imediatas. Pelo contrário, foram evidentes algumas dificuldades.
No geral, foi interessante verificar a existência do espírito de inter-ajuda entre
todos, ou seja, os estudantes que a manuseavam melhor a calculadora tentavam sempre
ou quase sempre explicar aos outros o que era necessário fazer.
Constatámos que a maioria dos alunos utiliza a calculadora para auxiliar de
cálculo e para uma visualização do gráfico.
No geral, o ambiente vivido na sala era agradável e motivador. Foi perceptível o
interesse, demonstrado pelos alunos, face à resolução deste tipo de tarefa e à utilização
deste recurso. Os alunos estavam demasiado envolvidos na sua exploração que não se
aperceberam que o final da aula tinha chegado. Para terminar afirmaram ter gostado da
aula e pediram-nos para voltar a repetir aquele momento.

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A experiência que partilhámos, no passado dia 27 de Abril de 2004, facultou-nos
uma oportunidade de olhar, de perto, o modo como os alunos utilizam a calculadora
gráfica, numa aula de Matemática.
A primeira conclusão que retiramos dessa observação relaciona-se com a
receptividade dos alunos face ao tipo de actividade proposto. Podemos mesmo afirmar
que todos os alunos cooperaram e mostraram entusiasmo na resolução do problema.
No que se refere ao manuseamento da calculadora gráfica, reparámos que grande
parte dos alunos apresentou dificuldades na utilização dos menus disponíveis pela
mesma, ou seja, acreditamos que grande parte dos alunos não usufrui das
potencialidades que a máquina oferece. Apercebemo-nos desta situação quando os
estudantes passaram ao cálculo dos zeros e dos máximos das funções, não recorrendo
aos comandos da calculadora gráfica. Intuímos que esta atitude, desenvolvida pelos
alunos, seja uma consequência provocada pela escassa utilização deste recurso, nas
aulas de Matemática. Reforçamos esta ideia, pois constatámos que bastava uma
orientação nossa para que os alunos, de imediato, manipulassem os comandos
necessários para a resolução do problema em causa. Este aspecto foi visível aquando da
nossa explicação para encontrar os zeros da função. Apercebemo-nos que os alunos
assimilaram a informação transmitida pois, seguidamente, repetiram, sem dificuldades,
o mesmo processo para a outra função. Este aspecto leva-nos a abduzir que, com
alguma exploração e utilização, os alunos conseguem usufruir das principais
potencialidades oferecidas pela calculadora gráfica.
Gostaríamos de salientar o facto de uma aluna, ao introduzir as operações que
pretendia efectuar na calculadora, omitiu alguns parêntesis que eram necessários, logo
não estava a perceber porque é que os seus resultados eram muito distintos dos obtidos
pelos outros colegas. Consideramos que esta aluna não é crítica em relação aos
resultados obtidos, apenas se apercebeu do seu erro porque verificou que a solução
obtida era diferente da dos seus colegas. No geral, todos os alunos obtiveram as
soluções para os seus cálculos recorrendo à calculadora gráfica, deixando, deste modo,
mais tempo para a discussão de estratégias de resolução do problema. O uso deste
recurso promoveu a interacção entre os alunos e entre estes e as pessoas que os estavam
a orientar quando discutiam possíveis estratégias de resolução através do gráfico
desenhado pela calculadora.

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Por outro lado, concluímos que os alunos não foram além do que lhes foi pedido,
por exemplo, não fizeram zooms e, quando visualizaram o gráfico, não tentaram
interpretar, logo, os pontos de intersecção.
Através da observação desta aula podemos concluir que os alunos percebem
melhor determinados aspectos utilizando a calculadora gráfica. Estamo-nos a referir ao
facto de terem, através da visualização do gráfico, percebido que as duas bolas não
embatiam ao mesmo tempo no chão, porém, analiticamente não conseguiam resolver.

4.2. Entrevista

O professor entrevistado defende que a calculadora gráfica só deveria ser


permitida à partir do 10º ano de escolaridade. Os argumentos utilizados para justificar a
sua posição andam em torno do preço da máquina e desta não ser um recurso
indispensável até ao 3º ciclo. Considera que a compra de uma calculadora gráfica é um
investimento demasiado elevado para algumas famílias e tendo em consideração esse
aspecto, aproveita a época do Natal para incentivar os alunos a comprá-la. Antes do 10º
ano, o docente explica que este recurso “…permite um tipo de resolução que não se
pretende que eles façam, ainda, ao nível do 9º ano…”.
Apesar das justificações apresentadas para a não utilização da calculadora
gráfica antes do 10º ano, o professor salienta que a partir desse ano lectivo, a sua
utilização torna-se inevitável, sobretudo, na unidade didáctica que trata as funções, mais
precisamente, no estudo da função quadrática. Em relação a esta temática, o docente
frisa que por um lado “…permite uma exploração muito diversificada de problemas.” e
por outro, uma investigação mais profunda das potencialidades da calculadora gráfica.
Nesse sentido, menciona a descoberta dos comandos da máquina que permitem
encontrar os zeros da função, os extremos, a intersecção de duas funções ou encontrar a
expressão analítica de uma função, a partir de uma tabela de valores.
No 3º ciclo, o professor defende que, unicamente, se deveriam utilizar as
calculadoras científicas e contrariar a utilização de outros modelos. O docente
fundamenta a sua opinião argumentando que as calculadoras não científicas nem
respeitam a prioridade das operações, levando a que os alunos sejam induzidos em erro.
Esta posição é a oposta quando falamos de alunos “especiais”, como é o caso
dos dois filhos do entrevistado. Estes tiveram a oportunidade de usar a calculadora “…

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desde criancinhas e não é por isso que deixaram de ser excelentes alunos a
Matemática.” O professor argumenta, que “…são experiências pontuais, um tanto ou
quanto acompanhadas e controladas”. No entanto e nas suas aulas, o docente só deixa
que os seus alunos utilizem a calculadora para confirmar os resultados, deste modo,
verifica “…se estão a fazer os cálculos simples com a calculadora, que seriam mais
rápidos e seguros de cabeça.” Finalmente, promove pequenos debates, entre os alunos,
para discutirem os resultados fazendo com que acreditem mais em si próprios do que em
qualquer apoio electrónico ou mecânico que utilizem. Com esta análise, somos tentadas
a induzir uma situação que iremos transformar em questão: se por um lado, com os
filhos, o controlo e o acompanhamento fizeram surtir efeitos muito positivos, qual a
razão, de com a turma, isso não ser visível?
Voltemo-nos a centrar nessas medidas de acompanhamento e controlo que o
professor promove dentro da sua sala de aula. Estas atitudes, por parte do docente e
segundo ele, permite um desenvolvimento do espírito crítico, dos seus alunos. Acredita
que seja um aspecto fundamental e a ter sempre em consideração, pois caso contrário, o
uso da calculadora, na sala de aula, contribuiu para enfatizar uma das limitações
apontadas que é a dos alunos perderem esse espírito crítico. A outra limitação é a
dependência que a calculadora cria. Para diminuir e/ou evitar que os seus alunos fiquem
dependentes deste recurso, o docente propõe problemas cuja resolução seja mais fácil
sem recorrer à máquina. Deste modo, os alunos percebem que “…nem sempre é
vantajoso” recorrer a esse instrumento. Esta estratégia é adoptada pelo entrevistado,
sobretudo com alunos do 3º ciclo, no início de cada ano lectivo, aquando dos primeiros
contactos com as turmas.
Apesar de tudo, o entrevistado aponta algumas vantagens ao uso da calculadora
gráfica. Este menciona que evita cálculos repetitivos que podem ser morosos,
aproveitando, assim, o tempo para explorar condições em torno de problemas. Neste
sentido, são criados métodos alternativos de resolução, tendo em conta os dados obtidos
e, fornecidas oportunidades de modelação de situações que podem ser reais.
Na opinião do docente, esta ferramenta, ainda devia ser usada nas provas
globais, exames e testes. Se os alunos desenvolvem uma aprendizagem da Matemática,
apoiada neste recurso, então considera justo que esses apoios continuem a ser os
mesmos nos processos de avaliação. Se, pelo contrário, o processo de ensino-
aprendizagem da Matemática se desenvolvesse sem o apoio da calculadora, seria injusto
a obrigatoriedade da sua utilização nos testes, exames ou nas provas.

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De qualquer forma, o professor considera que a utilização da calculadora gráfica
pode influenciar, “no bom sentido”, o processo de avaliação dos alunos pois salienta
que “…leva a que o tipo de problemas colocados, no exame, sejam problemas mais
virados para o raciocínio e não para a Matemática pura e dura de papel e lápis.”
Porém, o entrevistado defende que existem aspectos que nunca poderão ser dispensados,
ao nível do ensino-aprendizagem da Matemática. Em particular, dentro do capítulo das
funções, a construção analítica de gráficos nunca poderá ser descurada. Só através dessa
construção, os alunos interpretam os gráficos, percebem e interiorizam conceitos
necessários a essa aprendizagem. Seguindo a mesma linha de pensamento, encontra-se o
algoritmo da divisão e o trabalhar com as fracções.
Apesar da calculadora gráfica ser um instrumento considerado, pelo professor,
indispensável, a partir do 10º ano, este frisa que este recurso é, por vezes, utilizado,
pelos alunos com a indevida finalidade. Existem momentos em que esta ferramenta é
utilizada/vista como uma máquina de jogos e é necessário constituir esforços para
contrariar essa visão. Este aspecto, também, contribui para uma boa aceitação, por parte
dos alunos, deste recurso. Tal como o professor argumenta, no geral, o interesse dos
alunos, pelas aulas de Matemática aumenta com o uso da calculadora
Em relação à uma formação complementar para um professor orientar tarefas em
que a calculadora seja um recurso potencialmente relevante, o entrevistado afirma que
depende da categoria do professor que está em causa. Se for um professor recém-
licenciado, este, eventualmente, não terá necessidade de uma formação, ao nível da
concepção da calculadora gráfica, todavia, se se pensar em professores com uma
carreira mais longa, certamente, terão necessidade de um apoio nessa matéria. No caso
do docente entrevistado, este confessa que sente dificuldades em trabalhar com os
modelos da Casio, pois, por um lado, não gosta do seu menu e, por outro, habituou-se às
Texas. Esta preferência deve-se ao facto do docente ter frequentado uma acção de
formação sobre calculadoras. A marca escolhida para essa acção fora precisamente a
Texas, daí as dificuldades do docente em trabalhar com outras marcas.
No final, o professor conclui que a utilização da calculadora gráfica pode
enriquecer uma aula de Matemática, através da exploração de resultados, abrindo novos
campos. No entanto, essa utilização exige aulas menos expositivas, promovendo uma
maior interacção com os alunos, sendo necessário “…circular por meio deles e ver
como eles trabalham…”. Deste modo, é necessário, um maior envolvimento do
professor, o que dificulta a sua gestão de tempo na sala de aula.

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Analisando as posições defendidas pelo professor entrevistado, podemos intuir
algumas conclusões, mais gerais. Na sua entrevista, o docente tornou claro que
desconhece a obrigatoriedade imposta pelo Ministério da Educação, quanto ao uso da
calculadora gráfica, no 10º ano de escolaridade. Deste modo, abduzimos que ao
considerar, apenas o uso da calculadora como autorizado, não existe um esforço mais
acentuado para promover tarefas em que a sua utilização seja relevante. Esta não
disponibilidade para a utilização da calculadora também poderá ser provocada pela
constante falta de tempo, característica comum de quem tem de cumprir um programa,
ou ainda pela dificuldade que o professor demonstra possuir no manuseamento da
máquina (sobretudo modelos da Casio), desta forma, não se sente à vontade para ensinar
algo que não domina.
Outro aspecto que consideramos curioso foi o facto do entrevistado defender que
a calculadora gráfica promove uma maior interacção entre professor e alunos, porém,
afirma que a calculadora não serve de veículo para a interacção “…até pode ser ao
contrário, eles podem se esconder atrás da calculadora...”.
Intuímos que o professor respondeu às nossas questões utilizando argumentos
“politicamente correctos”, visto que, quando confrontado com aspectos mais práticos,
prevalece uma necessidade de justificação da não utilização da calculadora.

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4.3. Questionários

1. Que modelo de calculadora gráfica utilizas regularmente na aula de


Matemática?
Dos 23 alunos que responderam ao questionário, 15 usam regularmente a
calculadora gráfica TI 83, 5 utilizam o modelo anterior desta marca, nomeadamente, TI
82. Apenas 3 utilizam uma calculadora gráfica da marca Casio.
Gráfico 3 – Distribuição dos alunos pelo modelo de calculadoras

Deste modo, verificamos que a maioria dos estudantes adquire uma calculadora
gráfica, de acordo com a marca e modelo sugerida pela escola, ou seja, a Texas TI 83.

2. Já utilizaste a calculadora gráfica em anos anteriores?


Quando questionamos alunos sobre o uso da calculadora gráfica em anos anteriores,
constatamos que a sua maioria (19 alunos) não teve qualquer contacto com a mesma.
Apenas 4 referiram já a ter utilizado anteriormente. Deste grupo de alunos, 3
reprovaram de ano e referem ter utilizado a calculadora gráfica, pela primeira vez, no
10º ano de escolaridade, ou seja, no ano anterior. Apenas um aluno refere que utiliza a
calculadora gráfica desde o 7º ano de escolaridade.

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Gráfico 4 – Distribuição dos alunos pelas respostas dadas ao uso

da calculadora gráfica em anos anteriores

Assim sendo, verificamos que é no 10º ano de escolaridade que os alunos, na sua
maioria, contactam pela primeira vez com este modelo de calculadora.

3. Com que frequência recorres à calculadora gráfica nas aulas de Matemática?


Quanto à frequência de utilização da calculadora gráfica nas aulas de Matemática,
verificamos que 11 alunos a utilizam regularmente, 9 alunos às vezes e, apenas, 3
raramente a usam.
Deste modo, podemos abduzir que os alunos que assinalaram a opção
Frequentemente se encontram mais dependentes da calculadora gráfica e que esta não
constitui um recurso regular nas aulas de Matemática pois, caso contrário, pensamos
que não existiria um número tão elevado de alunos que só a utiliza ocasionalmente.

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Gráfico 5 – Frequência do uso da calculadora gráfica na aula de Matemática

A – Frequentemente
B – Às vezes
C – Raramente

4. Qual o apoio dado pelo professor na utilização da calculadora?


No que se ao apoio dado pelo professor na utilização da calculadora, podemos
observar, através do gráfico 6, que as opções Bom e Razoável foram assinaladas,
simultaneamente, por 9 alunos.

Gráfico 6 – Apoio prestado pelo professor

A – Muito bom
B – Bom
C – Razoável
D – Mau
E – Nenhum

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Apenas 2 estudantes consideram o apoio como Muito bom. Contrastando com estes
resultados, 1 aluno refere que o apoio prestado pelo docente é Mau, sendo que 2 alunos
referem que não é Nenhum.
Curiosamente, não são os alunos que possuem a marca Casio (modelo com o qual o
professor sente mais dificuldade) que consideram como sendo negativo ou nulo o apoio
prestado pelo professor. Os dois alunos que assinalaram a opção Nenhum possuem uma
calculadora gráfica Texas TI 82. Esta pode ser uma justificação para a sua resposta, no
entanto, consideramos que este modelo não difere muito do modelo recomendado pela
escola. Neste sentido e sem ter acesso à identificação de cada aluno, abduzimos que os
alunos que consideram como sendo menos positivo o apoio dado pelo professor, são
aqueles que sentem maiores dificuldades em lidar com meios tecnológicos.

5. Em que situações utilizas a calculadora gráfica?


Para termos a percepção das situações em que os alunos utilizam a calculadora
elaborámos esta questão. As opções que facultámos como possíveis respostas podiam
não ser únicas e cada aluno poderia assinalar mais do que uma possibilidade.

Gráfico 7 – Situações em que os alunos utilizam a calculadora gráfica

A – Confirmação de resultados
B – Exploração de uma actividade
C – Efectuar cálculos
D – Outros

Assim, e através da análise do gráfico 7, podemos constatar que 20 alunos


recorrem à calculadora para efectuar cálculos e 16 alunos para confirmação dos

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resultados. A exploração de uma actividade também é uma situação por eles referida,
mas em menor número (12 alunos).
Para além das situações que lhes eram apresentadas, alguns alunos, na opção
outros, referiram a utilização da máquina de calcular para “jogar” (5 alunos) e nos
“testes” (2 alunos).
Na nossa opinião, as situações em que os alunos utilizam a calculadora estão
relacionadas com as restrições impostas pelo professor ao uso da mesma, ou seja,
“...prefere que se façam cálculos analiticamente e utilizar a calculadora só para
confirmar resultados”.

6. Em que conteúdos do programa recorres à calculadora?


As calculadoras gráficas são ferramentas que cada vez mais devem ser entendidas
não só como recursos de cálculo, mas também como meios incentivadores do espírito de
pesquisa.
Novamente e dada a natureza desta questão cada aluno poderia assinalar mais do
que uma possibilidade. Assim sendo, verificámos que a maioria mencionou duas
opções.

Gráfico 8 – Em que conteúdos do programa se recorre à


calculadora gráfica

A – Funções
B – Álgebra
C – Estatística
D – Geometria
E – Probabilidades

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O tema das Funções foi nomeado pela maioria (19) dos alunos. A Álgebra, a
Estatística, a Geometria e as Probabilidades também foram referidas mas por um
número mais reduzido de alunos, 5, 4, 7 e 4 respectivamente.
Mais uma vez, verificamos que a calculadora gráfica oferece grandes
potencialidades para o estudo das funções.

7. O professor faz algum tipo de restrições quanto ao uso da calculadora?


Apesar de ser uma orientação metodológica do programa de Matemática, alguns
professores mostram-se, ainda, relutantes quanto à sua utilização.
Com esta questão pretendíamos averiguar a opinião dos alunos sobre qual a
posição do professor face a possíveis restrições ao uso da calculadora, para
posteriormente a confrontar com as afirmações do professor ao longo da entrevista que
realizámos.
A maioria (20) dos alunos não aponta restrições, por parte do professor, ao uso
da calculadora na aula. Apenas 3 referem a sua existência, é o caso de não poderem
jogar, durante as aulas, o que no nosso entender é perfeitamente compreensível e
aceitável. Um aluno foca que o professor “...prefere que se façam os cálculos
analiticamente e utilizar a calculadora só para confirmação de resultados”.

Gráfico 9 – Restrições ao uso da calculadora gráfica

Neste ponto a nossa opinião diverge da do professor pois, no nosso entender,


este está a menosprezar uma das grandes potencialidades da calculadora. Pensamos que
a visualização dos gráficos das funções antes do cálculo algébrico é positivo, facilitador
e motivador. Reconhecemos, no entanto, que não se deve dispensar o cálculo analítico
em todas as situações.

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8. Quais as atitudes que a calculadora gráfica permite que os alunos
desenvolvam?
Uma vez que existem várias potencialidades da calculadora gráfica e possíveis
aplicações em situação de aula, criámos esta questão, onde propomos que os alunos
seleccionem as que consideram mais significativas.

Gráfico 10 – Atitudes que a calculadora gráfica permite que os alunos desenvolvem

A – Aumentar a confiança pessoal


B – Libertar de tarefas rotineiras
C – Formular e desenvolver conjecturas
D – Relacionar diferentes representações
E – Possibilitar aos alunos a produção dos seus próprios exemplos
F – Aumentar a persistência na selecção de caminhos adequados
na resolução de problemas

Apesar de todas as hipóteses terem sido assinaladas pelos alunos, a análise do


gráfico revela que as mais referidas foram relacionar diferentes representações (como é
o caso da representação numérica, gráfica e simbólica de funções) (16 alunos) e libertar
ao alunos de tarefas rotineiras (longos e morosos algoritmos ou manipulação algébrica)
deixando-os disponíveis para que possam raciocinar matematicamente (15 alunos).
Perante as opções seleccionadas pelos alunos concluímos que estes têm consciência de
que a calculadora constitui um recurso positivo no estudo da Matemática, no entanto,
não vão muito além do que os problemas exigem pois a resposta menos assinalada (5

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alunos) foi que a calculadora permite possibilitar aos alunos a produção dos seus
próprios exemplos.

9. Que problemas achas que poderão estar inerentes à utilização da calculadora


gráfica?
Para além das inúmeras vantagens resultantes da utilização da calculadora, existem
alguns factores que têm condicionado, de certo modo, a sua integração no seu processo
de ensino-aprendizagem.

Gráfico 11 – Problemas inerentes à utilização da calculadora gráfica

A – Limita o desenvolvimento das capacidades de cálculo mental


B – Cria dependência, devido à sua excessiva utilização
C – Limita o desenvolvimento do espírito

No respeita à análise do gráfico 11, verificamos que todas as opções facultadas


foram assinaladas, tendo alguns alunos apontado mais do que uma hipótese. As
limitações no desenvolvimento do cálculo mental e a dependência gerada por um
eventual excesso de utilização são as opções mais referidas, por 16 e 13 alunos
respectivamente. A limitação do espírito crítico é, também, assinalada mas por, apenas 2
alunos.
Através da análise das respostas, concluímos que os alunos não associam a
utilização da calculadora apenas a vantagens, estão cientes de que o seu uso pode trazer
implicações negativas.

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10. O uso da calculadora torna o estudo da Matemática mais fácil e atractivo?
Quando questionámos os alunos se o uso da calculadora gráfica torna o estudo da
Matemática mais fácil e atractivo, obtemos uma maioria de respostas positivas, mais
concretamente 22 respostas. Apenas um aluno assinalou a resposta negativa, no entanto,
não apresenta qualquer justificação.
Em relação aos alunos que afirmam que a calculadora torna o estudo da
Matemática mais fácil e atractivo, as suas justificações são várias, algumas relacionam-
se com a visualização dos gráficos, “...podemos visualizar, por exemplo, os gráficos e
isso dá-nos uma perspectiva mais fácil para resolver os exercícios propostos” ou
“...porque com a calculadora podemos criar os nossos próprios gráficos”. Outro
aspecto focado pelos estudantes é que “...a calculadora torna o estudo mais fácil no
sentido que nos permite fazer certas coisas que não conseguimos, por vezes, fazer
mentalmente ou à mão” e permite uma “...ideia mais rápida e explícita do que estamos
a estudar”.

Gráfico 12 – O uso da calculadora gráfica torna o estudo


mais fácil e atractivo

Gostaríamos de salientar a opinião de um aluno que, apesar de responder


afirmativamente, refere que “...atractivo não digo pois, pelo menos para mim, fazer
cálculos é algo que me atrai...”. Através da análise desta última resposta, intuímos que a

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utilização que o aluno atribui à calculadora é, maioritariamente, o cálculo e que,
supostamente, é um aluno com bastantes capacidades e gosto pela Matemática.

11. Concordas com a utilização da calculadora nos testes, provas globais e exames
de Matemática?
Mais controversa que a integração da calculadora gráfica nas aulas de Matemática é
a sua utilização nos momentos de avaliação. No que se refere à utilização das mesmas
nos testes, provas globais e exames de Matemática, os alunos são unânimes na sua
opinião pois todos respondem afirmativamente.
Uma das razões apresentadas foi “...se nos deixam e incentivam a usá-la nas
aulas, qual era o objectivo de no-la tirarem nestes momentos?”. Outros referem que
“...é útil para dar uma perspectiva do gráfico que se está a analisar ou para confirmar
resultados...” e porque “...poupamos tempo que nos pode ser útil para outras coisas”.
Na nossa opinião, os alunos defendem que a calculadora gráfica os liberta de
determinados cálculos complexos, disponibilizando-lhes mais tempo para
desenvolverem o raciocínio e estratégias para a resolução das tarefas.

Gráfico 13 – Utilização da calculadora gráfica nos momentos


de avaliação

No nosso entender, os alunos têm consciência de que a calculadora não faz tudo
sozinha e percebem que têm de raciocinar para obter os resultados desejados.
Consideram-na, apenas, como um apoio. Efectivamente, o que se pretende avaliar não é
a capacidade de cálculo ou decorar expressões, mas sim avaliar a capacidade de

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compreensão e interpretação de novas situações e isso, claramente, a calculadora não
resolve.

12. Vês a calculadora como recurso para o teu futuro profissional?


A sociedade em que vivemos é fortemente influenciada pela tecnologia e dadas as
potencialidades que as calculadoras gráficas apresentam, procurámos saber se os alunos
vêm este recurso como sendo importante para o seu futuro profissional.

Gráfico 14 – A calculadora gráfica como recurso para o futuro

Os dados recolhidos revelam que 15 alunos pretendem dar continuidade ao uso


da calculadora gráfica na medida em que “...a calculadora gráfica ajuda qualquer
profissão porque a tecnologia é o futuro” e “...a fácil programação pode fornecer
ferramentas úteis”. Porém, 8 alunos afirmaram que não têm intenção de usar esta
tecnologia no futuro. As suas justificações prendem-se com o facto das profissões que
pretendem seguir não requerer o uso da calculadora gráfica, ou seja, “...a área que eu
pretendo seguir não exige cálculos que necessitem da sua ajuda”.

13. Achas que se aprende menos Matemática quando se usa a calculadora nas
aulas?
Quando se fala na utilização da calculadora na aula de Matemática, não podemos
esquecer, inevitavelmente, a sua implicação no processo de ensino-aprendizagem da
disciplina.Desta forma, procurámos que os alunos expressassem o seu ponto de

Acções Pedagógicas de Observação e Análise 40


vista, em relação ao facto de se aprender mais ou menos Matemática quando se
utiliza as calculadoras na sala de aula.

Gráfico 14 – A aprendizagem da Matemática recorrendo à


calculadora gráfica

Através da análise do gráfico 14, verificamos que 6 alunos afirmaram aprender


menos e 17 afirmaram aprender mais. A argumentação apresentada pelos primeiros
baseia-se, principalmente, no facto da calculadora criar dependência no cálculo mental.
Citemos algumas das suas respostas: “...os alunos, por vezes, fazem apenas o resultado
na calculadora e esta não nos estimula a efectuar cálculos à mão” ou “...não
efectuamos cálculos sozinhos e acabamos por ir ficando dependentes da calculadora”.
Um aluno, que também respondeu afirmativamente, argumenta que “...estamos menos
interessados nas aulas”. Supostamente, este estudante, nas aulas que utiliza a
calculadora, concentra-se na sua exploração e, deste modo, não presta atenção à aula.
Como já foi referido, 17 alunos não partilham desta opinião. Para eles, “...a calculadora
serve o para ter uma melhor perspectiva, por exemplo, dos gráficos e para a
confirmação de resultados” e “...estimula a nossa vontade pela Matemática”. Afirmam,
ainda, que “...somos nós que efectuamos o raciocínio do problema e não a máquina”.
Outro aspecto favorável, apontado pelos alunos, à utilização da calculadora é a rapidez
com que se resolvem os problemas, “...com calculadora fazemos mais exercícios do que
sem”.
Tendo em conta a última resposta apresentada e que a turma em questão é
constituída, na maioria, por alunos com boas notas pressupomos que é do interesse

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desses dos alunos a resolução de vários exercícios para, desta forma, aumentarem o seu
leque de conhecimentos e estarem melhor preparados para o teste.

14. Gostas mais das aulas de Matemática com ou sem calculadora?


Finalmente e com esta última pergunta, pretendíamos que os alunos, tendo em conta
os argumentos por eles apresentados ao longo de todo o questionário, fizessem um
balanço e demonstrassem o seu gosto pessoal.

Gráfico 15 – O gosto da aula de Matemática com


calculadora gráfica

A – Com calculadora
B – Sem calculadora
C – Indiferente

Apenas uma aluna prefere as aulas sem calculadora pois, segundo a mesma,
“...dá para perceber melhor os exercícios efectuados no quadro passo a passo”.
Abduzimos que, esta aluna sente necessidade de ter um caderno bem organizado para,
posteriormente, o seu estudo ser mais rentável. Como geralmente, para ter boas notas
nos testes são necessárias respostas completas e a utilização da calculadora leva, muitas
vezes, a uma menor organização dos resultados, esta aluna prefere não utilizar
calculadora nas aulas para ter um melhor suporte para estudar. Contrariamente, a
maioria (19) dos alunos gosta mais das aulas com calculadora pois “...as aulas tornam-
se mais atractivas...”, “...menos monótonas...” e é “...fácil de aprender”. Novamente, os
alunos associam a utilização da calculadora ao estudo das funções e afirmam que esta os

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ajuda “...a reflectir melhor quando comparamos com outros gráficos...” e até dá
“...muito jeito para resolver exercícios e perceber a matéria, mais exactamente as
funções”. Os que se manifestaram indiferentes, afirmam, que depende da matéria que
estão a estudar.
As conclusões que podemos tirar é que a maioria dos alunos gosta mais das
aulas de Matemática com calculadora e, portanto, este recurso serve de motivação para
o estudo da referida disciplina.

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