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Personagens:
Cena I
Lígia deitada no caixote dentro do cercado
Lígia (Deitada) (Delicada) A onde meu olhar alcança eu vejo idades diferentes, mas tem uma
coisa que não tem idade, não tem tamanho, é a tal da memória afetiva.
Lígia (Deitada) (Delicada) O mundo não faz sentido. Viver é basicamente uma contagem
regressiva pra não estar mais vivo, e a gente quer viver nossa vida buscando sentido onde
não tem, um sentido. Um caminho que todos devem seguir, chamam de caminho da
felicidade, se você estiver fora dele você não vale, não importa se você olhar pro espelho e
sentir que não é você de verdade. Abre um sorriso! Ou pelo menos finge que abre. Me diz
se vale a pena viver assim? Buscando um caminho certo, se afastando da sua realidade e só
apressando seu fim, acorda! Você não faz sentido e não precisa fazer. A vida é muito curta
pra ter certeza de alguma coisa, então para de achar que só tem um sentido certo pra viver.
Música acaba
Cena II
Eurico com Lua entra em cena
Eurico abraçando Lua pela cintura
Eurico (A falar a Lua) Eu te amo até essa bebida acabar, mas eu não quero que você vá
embora, eu só sou do tempo. Eu sinto até a última gota desse vinho barato.
Lua (A falar a Eurico) Amores vãos são mais verdadeiros pela graça de amar sem pra quê
Lua (A falar a Eurico) A verdade estraga tanta coisa. Mas me ame mais do que tudo, é só por
essa noite.
Eurico (A falar a Lua) O amor ele é uma eterna brincadeira temporal e eu brinco com o
tempo como se pudesse, como se fosse só mais uma das traquinagens do destino, sabe,
uma ferramenta do universo.
Lua (A falar a Eurico) E eu sinto as horas passando através dos meus dedos
Cena III
Lígia (Triste) De novo!?
Eurico (Bravo) Olha o jeito que você fala comigo, você tá achando que é quem
Eurico (Bravo) De novo!! Eu trouxe mulher aqui de novo, porque a casa é minha e quem
manda aqui sou eu! Eu vou trazer essa, mas outra, e mais outra, quantas eu quiser!!
Eurico (Debochado) Hahahah ta tristinha é!? Oque que foi... quê um chocolatinho pra cura
essa tristeza!?
Lígia (Triste) Não... você não entende, eu queria você aqui ó.… comigo, mas não...
Eurico (Debochado) Eu não vou fica aí com você não. Você que sabe... eu acho que eu já fiz
foi demais!! Queria casa... casamos. Queria lua de mel... teve. Agora a casa é minha.... e
você fica aí e eu, eu aqui!!
Lígia (Triste) Eu só não saio daqui porque eu não consigo..., mas o dia que eu saí
Eurico (Debochado) (Saindo de cena) Isso sonha, sonha que você vai saí... olha, mesmo que
você quisesse você não ia sai daí, porque você que fica e eu sei disso!
Cena IV
Ana Gabriela (Alto) Carpe Noctem!! Uma Boa Noite a todos!! Apenas de eu ter ficado
sozinha, eu tenho certeza de que sozinha eu não vou fica, é.… eu não vou não!! Talvez eu
até fique sozinha sim, mesmo eu não querendo, até porque eu nunca, mas nunca quis ficar
sozinha. Naquelas Carpes Noctems cantando, reluzente, em lindos, lindos palcos. Eram
noites brilhantes, e ele me conheceu assim sabe. Foi... cantando. Eu, eu me apaixonei à
primeira vista, (Música “Home” de Gabrielle Aplin) E ele, ele eu sabia que me amava, ele
dizia isso. Como eu disse nós conhecemos naquele bar que eu cantava. Eu cantando em
bares, era um começo para a minha sonhada carreira, enfim... naquele bar ficamos, nos
conhecemos, me apaixonei, e casamos... tudo lindo. Até que ele não deixou eu cantar mais,
falou que era melhor eu parar, tinha ciúmes dos homens me olhando, e eu, eu idiota parei.
Que idiota eu fui. Dai começou a grande cagada da minha vida, cada vez mais ele ia me
prendendo e eu aqui. Só uma coisa que ele não sabe. Estou gravida, mas não conte a ele,
não conte por favor, um segredo só nosso, eu te peço!! Eu só não sei oque fazer, porque
essa barriga vai crescer! Eu sempre sonhei tem um filho, eu não queria agora, nem aqui, e
nem com ele! Mas é o jeito, presa, calada e sozinha é assim que vou ter meu filho!! Espero
que me entendam e não me julguem! É o meu filho, o meu, o meu filho!!
Cena V
Eurico e Ferreira entram em cena; Eurico senta em seu espaço destinado e Ferreira deita
sobre ele e Eurico fazendo carrinho nela
Ferreira (Alto) Aff sei lá, encontra um lugar, eu não quero ela aqui, essa mulher me irrita
Ana Gabriela (Indignada) Essa mulher!? Você que me irrita, você está na minha casa, com o
meu marido
Ferreira (Alto) E... (Fala “Foda-se” mexendo apenas os lábios) Que ele é teu marido, não me
importa
Eurico (Alto) Não importa mesmo, porque ela vai ficar aqui
Ana Gabriela (Alto) Eu que deveria está aí... você não acha
Ferreira (Alto) Nem eu.... minha querida entenda, ele não te quê, ela me quê, a vida é assim,
entenda
Ana Gabriela (Alto) Não é que ele te quê, ele que todas
Ana Gabriela (Passando mal) Aí, aí, minha pressão, to passando mal, vou desmaiar
Ferreira (Alto) Ela não entendeu que é pra ficar quieta, aff que mulherzinha mais chata
Ana Gabriela (Passando mal) não, não é sério, eu to passando mal, vou desmaia
Eurico (Alto) Não me interessa se é sério ou não, eu não me importo. Agora fica quieta
Eurico joga um objeto em Ana Gabriela; Antes do objeto chegar nela, ela desmaia
Ferreira (Alto) Pronto, agora sim a gente consegue fazer alguma coisa
Performance:
Eurico e Ferreira pegam roupas fora do palco e levam para o palco com um pano grande.
Eurico levanta o pano; Ferreira vai para trás e coloca outra roupa; Ele abaixa o pano, ela
com outra roupa faz uma pose.
Ferreira levanta o pano; Eurico vai para trás e coloca outra roupa; ela abaixa o pano, ele
com outra roupa faz uma pose.
Eurico levanta o pano; Ferreira vai para trás e coloca outra roupa; Ele abaixa o pano, ela
com outra roupa faz uma pose.
Ferreira levanta o pano; Eurico vai para trás e coloca outra roupa; ela abaixa o pano, ele
com outra roupa faz uma pose.
Fim da performance; Eurico e Ferreira saiam de cena
Cena VI
Ana Gabriela em cena se sentando
Ana Gabriela (Sentado) (Recuperando ar) Quando eu vejo um fim, eu gostaria de ver mais
que um simples fim. Gostaria de ver muito mais do que uma só ideia. O fim não pode ser só
fim não é mesmo. E quando eu ver o meu fim, eu não quero vê isso daqui eu quero ver
muito, mas muito mais. Quero ter novas experiências, novas saudades, novos amores,
quero ter de novo... tudo. Tudo mesmo, mas eu acho que meu filho vai ser algo novo, que
irá me trazer algo novo. Vai ser a coisa mais nova nós últimas 5 anos que estou aqui.
Haammmmm.
Cena VII
Ana (Alto) Não, não é a minha casa. Se fosse a minha casa eu iria sair, volta, dormi, viver
como uma pessoa qualquer
Ana (Alto) Como!? Você, você me prende aqui, você me prende aqui não entende. São cinco
anos aqui, são 60 meses e 1800 dias!! Você me prendendo, me batendo, eu, eu não aguento
mais.
Cena VIII
Cena IX
Eurico (Alto) Sabe que eu estou achando você muito, mas muito mau educada
Ana não fala nada
Cena X
Ana em cena
Ana (Alto) Eu não estou aguentando mais. Um filho na barriga, que não sei como vou ter,
uma vida aqui comigo. Sem um marido, sem ninguém, sozinha. Eu me perco se fosse contar
quantas as vezes fui espancada, calada. Eu pensava que era amor, mas não, não é, parece
que é um rancor que esta dentro dele que nunca, mais nunca mais vai sair dali.
Eurico (Da cochia) (Alto) Fique quieta!!
Ana leva esses tiros na barriga, ela começa a sangrar e gritar muito.
Ana cai no chão, e dá o seu texto no chão
Ana Gabriela (Chão) De saudade não morro. Não hoje, não dessa vez. Eu já morri algumas
vezes, eu confesso, mas toda vez que eu me via levantando do túmulo e deixando a poeira
pra trás, com a pele gasta e a falta de esperança, eu demorei tempos para me recompor.
Talvez porque a decomposição fosse o mais viável, quando a morte lhe atinge e te arranca
pedaços. O fato é que desde que você foi caminhar por outros cemitérios e tentar matar
mais almas por aí, eu me deixei ressurgir, mesmo antes do óbito, vi que a saudade já não
valia mais a pena, quando eu te vi dar adeus também te vi dizer oi pra outra, tão coitada
como eu, espero que ela tenha força e não se suicide junto a ti, espero que ela perceba a
dor de se ter o anjo da morte caminhando lado a lado, mas sem tempo pra vida.
Ana Gabriela (Chão) Às 20h e 34 da noite. Coisas acabam, livros, filmes, fins de tarde
ensolarados, amizades, papos prolongados, sobremesas de domingo, os próprios domingos,
amores sinceros, amores jovens, amores, algumas coisas já vêm com prazo de validade,
algumas terminam antes, outras enrolam por dias, meses, até anos, e acabam. Algumas
coisas tem que acabar, para assim coisas novas começarem, e talvez, acabarem de novo.
Ato II
Palco quadrado. Ana no centro de palco. Fitas e panos no palco para performance.
Troca de cenário com a música “Desses Nadas”
Performance de Fita a Ana
Eurico e Ferreira deitados um de frente para o outro na frente do palco; Ana em pé atrás
dos dois
Eurico (Alto) Viver me causa náusea. Na verdade, pensar sobre viver me causa náusea,
porque a partir do momento que eu começa a estrinchar tudo o que consiste, oque fazemos
o que eu faço, as trocas, silêncio, seus olhares, mercados, obrigações, mercadoria, eu como
mercadoria, sistema, tempo, idade, mote, memoria, fim, esquecimento. Tudo, tudo isso me
causa náusea, e pensar sobre um é necessariamente pensar sobre todos, sabe num ciclo,
num lupin eterno que eu me fui enfiada, eu queria que algum pseudo momento não
acreditar que seja só isso, sabe, eu quero me convencer por um milésimo de segundo que a
minha existência representa alguma coisa no mundo mesmo sabendo que não. Eu não sou
nada.
Ferreira (Alto) Se eu acabo amanhã. Meia dúzia de pessoas vão sentir a minha falta, depois
nada, o meu trabalho me substituiria, as pessoas com quem eu flerto, flertariam com
outras, quem eu me relacionei, seguiriam suas vidas mais que já seguem, e eu, nada, nadica
de nada, nenhuma marca ou registo meu no mundo, quase como se eu nunca tivesse
existido, talvez eu realmente nunca tenha. Quantas pessoas já pseudo existiram por um
pseudo momento, sabe, quantas pessoas viveram um ciclo eterno e hoje não são nada,
nadica de nada, quantos milhões de ninguém nesse mundo já brigou, esse país já brigou,
esse estado, cidade, essa casa, quantas...
Ana (Alto) Quantas pessoas que hoje não são nada, foram algo nos lugares em que hoje eu
possa estar pseudo alguma coisa. Eu preciso garantir que eu não vou ser nada só porque
não existe alguém olhando para mim, mas quanto mais eu quero sobreviver, mais enjoada
eu fico, viver me causa náusea, mas morrer me causa mais ainda.
Esperam a música acabar; Levantam e agradecem.