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Música (trecho): Asas batendo Música (trecho): Como é que se fala coração
Menina: Hey você distraído! Menina!
Diz pra onde mirar Como é que se fala coraçã o
Tenho asas batendo na tribo de onde você vem?
Nã o sei onde pousar... (2x) Como é que se acha um jeito
(canta para si, mas na repetiçã o vê o narrador de viver sem ser perfeito
Alpha e o encara, faz um cumprimento e diz) e ainda assim tentar ser alguém?
Menina: Sabe... eu nã o consigo entender. Como é que se fala coraçã o
na tribo de onde você vem?
Alpha: O que é que aperta seu coraçã o, Menina? Como é que se diz a histó ria
de quem deixa a sua marca?
Menina: Por que é que todas as histó rias que a Como é que se faz pra ir além?
gente conta só tem heró i menino?
(apaga a luz de serviço ou focã o /acende geral
(congela a cena no palco / apaga o PALCO / do branca)
fundo cantam os atores / LUZ de SERVIÇO NO
CORREDOR ou FOCÃ O) Narrador A: (entra pela direita, anda até
posição central/direita e fica)
Música (trecho): Como é que se fala coração Era uma vez um povo que contava histórias
É de quatro cores! e que morava no lugar onde o sol se põe
Filhos da natureza, os elementos eram seus guias,
(atores permanecem no fundo / VOLTA LUZ no E cantando e dançando sempre a mesma melodia
palco [geral branca]) Eles ensinavam e aprendiam novas lições.
É que toda vez que a gente conta uma história
Alpha: Olha, nã o sei se é bem assim! Quer ver... ela é a mesma e só o que muda é o tom
tem a... e a... espera um pouco que eu estou E o tom dessa história
tentando me lembrar! a gente ainda não sabe.
Menina: Você nã o percebe que as histó rias da Música (trecho): Como é que se fala coração
tribo sã o sempre iguais. Princesas estã o sempre lá , moyo wangu ana rangi nyingi
esperando a vida inteira sem fazer nadinha até que
um grande heró i chega do nada pra resgatá -las? É de quatro cores!
Alpha: Ora, eu acho que nã o é exatamente desse (black out – atores saem no escuro / Menina e
jeito, se você for ver, há outras maneiras de Alpha entram conversando e ocupam posiçã o
interpretar isso que você está falando. central – geral branca)
Alpha: O lugar que a gente procura sempre Menino: Oi! Eu vi você por aqui e pensei se eu nã o
aparece... podia ficar aqui por perto com você!
Menina: ...quando a gente para de procurar! Olha, Menina: Vem cá , pode sim! Eu nã o queria dormir
eu já ouvi isso mil vezes e pra mim nã o tem esse tã o cedo... estava olhando pra lá !
“lugar lindo onde o sol se põ e romanticamente”...
sabe... eu simplesmente nã o vejo isso! Menino: Pra lá onde?
(Alpha sai balançando a cabeça depois do primeiro Menino: É ... (sem dar muita atençã o). Eu nã o vejo
refrã o enquanto a menina senta na lateral direita muita graça na lua nã o!
do palco, pensativa, na beira)
Menina: Pois eu vejo uma boca sorrindo! (brinca
(mudança de luz – acrescentar tom de cor ou luz de sonhadora)
outra posiçã o para marcar a mudança)
Menino: Nã o! Se a lua é um sorriso, onde estã o os
Narrador C: (entra pela direita, anda até olhos, o nariz...?
posição central/direita e fica)
Numa tribo bem distante vivia uma Menina Menina: Na sua cabeça! (brincando)
que tinha vontade de saber quem era.
Todo lugar que ela ia Menino (apalpa a cabeça, como quem procura)
olhava pra ela e nada dizia.
Heróis de armadura, Menina: Nã o aqui fora... aí dentro!
meninos que roubavam o tempo
sábios, velhos e reis em castelos, Menino: Você tem ideias demais nessa sua cabeça!
mas nada, nenhuma história mesmo de menina.
A Menina dessa história tinha sede de aventura Menina: Tenho. (dá um tempinho e recomeça
e ela via beleza na lua como se nada tivesse acontecido, como num papo
que brincava de mudar de rosto de bons amigos) O que você acha que vai ser
E achava que devia brilhar além. quando crescer?
Princesas valentes, ela dizia,
Será que elas não salvam o mundo também? Menino: Grande!
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Menina: (com cara de bronca) E o que o menino Menino:
grande vai fazer? (meio de zoaçã o) E a menina abriu caminho na mata e no mito
E brincou de escrever com os pés na terra a história
Menino: Contar histó rias, caçar, amar, sei lá , eu que ela mesma queria buscar
posso ser o que quiser! E você? Rodou cata-vento colorido para visitar os mundos
onde, quem sabe, pudesse estar seu coração.
Menina: Eu nã o sei... Eu quero ser como a lua,
sabe? (menino sai do palco – blackout – do fundo vem
um narrador e a luz vai crescendo junto com a
Menino: Sorridente assim? Ou cheia? Como é que primeira frase)
você quer ser um negó cio que muda o tempo todo?
Narrador Estrela:
Menina: Eu nã o sei explicar. Eu tenho vontade é de Era uma vez uma estrela
descobrir, sabe? que no pretume do céu oscilava intensos brilhos.
Ela sempre parecia parada no mesmo lugar,
Música (trecho): Partida {Cesar Sinicio} mas achava que talvez não fosse bem assim.
Vem cá , vem me explicar Um dia, viu um pontinho de luz refletido na água de
o que eu nã o posso enxergar um rio lá perto da tribo
Por que somente heró is E aproveitou pra descer bem depressa
tem que a princesa salvar, e ver de perto o lugar
trazer a gló ria e a honra pro lar Desprendeu-se do escuro do céu e foi estrela
cadente.
Menino: Os velhos dizem que se a gente ouvir E enquanto cruzava o universo em chamas viu que
histó rias consegue saber quem é. transformava as partículas ao seu redor.
Estrela, reflexo, chuva de meteoro,
Menina: Mas eu ouço as histó rias da tribo e elas tudo isso que brilha do fogo de querer saber quem é,
nã o parecem falar sobre mim. Onde estã o as é a menina.
histó rias que me contam quem eu sou?
CENA 4
Menino: Na sua cabeça! (acendem as luzes de serviço, da plateia e
corredor, do fundo da plateia vem a Moça Fogo
Menina Nã o.. eu nã o consigo encontra-las aqui [ENDY] e um amigo(a) [FOGO] conversando de
dentro... longe e falando alto indo em direçã o ao palco e
pú blico)
Menino: Se suas histó rias nã o estã o aqui na tribo,
como você vai encontra-las? Endy: Bonitas narraçõ es e essa ideia de tribo! Uau!
Mas teatro mesmo é diferente, né?
Menina: É isso que eu preciso descobrir...
Fogo: Teatro é diferente! O que você sugere?
Música (trecho): Partida {Cesar Sinicio}
Sinto que há um segredo Endy: Olha só , a gente pode colocar uns atores no
certo brinquedo meio do pú blico aqui nos corredores e as pessoas
no movimento luar nã o vã o saber exatamente o que está acontecendo
Nessa força flutua e vã o ficar confusas!
faces da lua
fazem sair do lugar Fogo: Mas isso é arriscado! E se elas começarem a
Vou lá , vou caminhar, interagir de verdade e a coisa sair do controle?
calçar as botas em par
Nã o há quem entre nó s Endy: É isso que é teatro! Controle é coisa de
negue o princípio exemplar: condicionamento e dominaçã o! As pessoas tem que
só quem já viveu a histó ria pode a recontar ser tocadas pela arte da peça e é isso que vai fazer
da experiência algo realmente significativo.
(Menina deixa o palco / Menino volta, matreiro,
narrando o início da jornada da Menina) Fogo: É , talvez você tenha razã o!
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(durante a mú sica acontece um exercício de teatro
Endy: Eu sempre tenho razã o! simples do qual a Menina participa)
(Menina vem da coxia para o palco e vai se Endy: Muito bem! (pode fazer observaçõ es
aproximando– GERAL BRANCA) pontuais sobre a performance – aponta para
pessoa do microfone) Talvez a gente precise
Endy: Pega a prancheta ali, pra mim! Vamos encurtar essa mú sica, né? É muita viagem...
organizar esse palco aqui, galera? (rindo!) (vira para a menina) E aí, gostou do
grupo? Acha que tem as histó rias legais que você
Menina: Oi! procura aqui? Quer participar?
Endy: Oi! Você veio pro ensaio do grupo de teatro? Menina: Acho que é um bom começo, mas eu ainda
tenho outras viagens pra fazer.
Menina: Nã o exatamente, eu... eu estou
procurando histó rias onde eu possa... Endy: Pois vá viajar, entã o!
Endy: (interrompendo) A gente provoca as Menina: E o que eu faço pra saber se encontrei?
pessoas pra histó ria da vida delas se transformar!
Endy: Eu tenho aqui pra mim que ‘O caminho é
Menina: É isso mesmo que eu quero! mais importante que a chegada!’ (fala como que
recitando).
Endy: Vamos aquecer entã o, já junta com as
pessoas! (falando mais alto!) Galera! Andando pelo Fogo: Que lindo!
espaço... Sss Fff Chh Pá ! Ocupando o espaço! Galera
da frente peguem os copos! Galera de trá s lembra Endy: Eu que inventei! Anota pra gente usar na
do “peito, estrala, bate, peito, estrala bate” pró xima peça! (tira o acessó rio que está levando)
E... olha aqui! Leva isso (entrega acessó rio) pra
Menina: E eu...? você lembrar de incluir a gente na sua histó ria!
Endy: Peito, estrala, bate, peito, estrala, bate. Menina: Eu vou me lembrar!
(olhando para quem vai começar a mú sica) Você!
Microfone! Puxa o som! Endy: Que minhas palavras te transformem como
o fogo!
Música: Outra viagem {Ana Sinicio}
Tomo um copo de café Menina: Eu agradeço por elas!
Preparo a mala, arreda o pé
É outra viagem, é outra viagem Endy: Vamos dar uma passada naquela cena do
O nã o, o sim musical infantil?
Um sim, um nã o
Um até logo e um coraçã o Música: A menina de quatro cores {Cesar}
é outra viagem, é outra viagem Tem quatro cores, essa menina
Se eu fico aqui, se eu vou pra lá Que é da China, é do Brasil, é d’Africa
Os lá bios coçam pra cantar Ela é moleca, essa menina,
E o grito faz pular portã o E é difícil conhece-la e nã o amar
A asa tira o pé do chã o E ela mal pode esperar pra viajar
É muita coragem Ele é princesa e heroína
É outra viagem E o mundo inteiro, sem fronteira é seu lugar
Nã o era miragem
Testa o sangue, acorda a fé CENA 5
Costura o rasgo, grita é
É outra viagem (MUDANÇA DE LUZ: deixar em um pouco menos
É muita coragem de 100% se possível, criar clima, cor azul se
É outra viagem disponível – monta-se o rio com tecido, na parte da
Nã o era miragem frente do palco durante a narraçã o)
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Narrador Nascente: Lucia: A minha tem a ver com compartilhar os
Era uma vez a nascente, caminhos possíveis com essa pessoa que se
Que surgia num fiozinho de á gua lá perto de onde a aproxima. E a sua, o que você sente que é?
tribo se esconde.
A fonte de á gua seguia sentindo tudo ao redor e lá Menina: Eu nã o sei se sou contadora de histó rias
na frente alargava num ribeirã o. ou a pessoa que precisa ouvir histó rias e que está
A nascente tinha essa vontade enorme de correr esperando ainda pra chegar.
pra longe e ao mesmo tempo um desejo gigante de
querer ficar. Lucia: Seu caminho parece que está ainda mais à
Um dia, virou cachoeira e chamou as pedras pra frente...
dançar sem medo,
depois, virou lagoa nos cercados de terra pra Música: Como um pássaro {Ana Sinicio}
descansar. Lucia: Lá , pra lá
A fonte de á gua até virou oceano, Aonde a gente nã o
Porque raso ou profundo, sempre há movimento Aonde a gente nã o consegue enxergar
nas correntes que percorrem o mundo. A tua alma pede pra voar
A nascente, a cachoeira, a lagoa e o mar, tudo isso E construir um chã o onde possa pisar
que flui na á gua de onde a gente vem, é a Menina Coro: Lá , pra lá
da histó ria. Aonde a gente nã o
Aonde a gente nã o consegue enxergar
(algumas das meninas estarã o no rio com roupas A minha alma pede pra voar
para lavar; Mã e Á gua [LUCIA] entra cantando E construir um chã o onde eu possa pisar
sozinha e na segunda estrofe cantam com ela - Solo: Voa livre como um pá ssaro
coreô zinha) Que acabou de sair do ninho
Voa e pousa aonde for melhor
Música: Aliá {Daniela Coutinho} Aonde for melhor pra você ficar
Sou a guerreira, a princesa, a sacerdotisa,
a guia na lida e no lar. Menina: Eu acho que eu ainda nã o encontrei esse
Sou a menina que é mã e do heró i, chã o pra pisar. Mas eu nã o quero ficar aqui
da heroína e das crias que outras deixar esperando.
Matriarca das manadas
O arrimo que traz o pã o Lucia: Esperar é pra quem fica feliz com isso. Se os
Fonte de vida em á guas claras seus pés querem correr, vai lá conhecer o mundo.
E nas tempestades eu sou o trovã o
Menina: Correr me faz sentir bem!
Menina: Oi... que mú sica linda! Pra quem é que
você tá cantando? Lucia: Entã o é isso que te convém! Leva isso aqui
pra você lembrar de incluir a gente na sua histó ria!
Lucia: Pra pessoa que está para chegar. Eu
agradeço que me ouça. Mú sica é assim: mais Menina: Eu vou me lembrar!
má gica quanto mais ouvidos tem pra escutar.
Lucia: Que minhas palavras te movam como a á gua!
Menina: Ah, mas você está esperando alguém e eu
estou atrapalhando... Menina: Eu agradeço por elas
CENA 11 CENA 12
(blackout – escuro por alguns segundos - geral (geral branca aumentando gradativamente)
branca - A menina olha para as coisas que as
quatro meninas entregaram para ela) Menina: Era uma vez uma menina
E ela não sabia quem era ou o que deveria ser
Narrador J: Ou sabia, mas não conseguia ver.
Quando a gente ouve uma história Com o coração de botas,
Nosso desejo se divide em dois: Correu pela floresta e atravessou mundos
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E a cada encontro aprendia, A verdade é que o que a movia, aquela vontade de
mas não sabia ser só o que via. caminhar para descobrir quem era, era a pergunta!
Alguns habitantes da tribo sã o o ponto de partida,
(meninas vem entrando, uma de cada lado da outros o ponto de chegada.
menina equilibrando e dando as mã os) A Menina, lua encantada, era o caminho.
Endy: Só vermelho era pouco, porque às vezes é Menina: E dali por diante ela seguiu confiante
preciso calma. De que sempre haveria histórias de menina pra
contar - das que dançam, das que amam, das que
Lucia: Só azul era pouco, porque às vezes é preciso gostam de caminhar.
força. A Menina virou lua, e seguiu, pro resto da vida,
sendo uma e sendo muitas, e ajudando a
Ariane: Só amarelo era pouco, porque às vezes é transformar
preciso firmeza.
(black out)
Ana: Só verde era pouco, porque às vezes é preciso
abertura. Narrador O:
Se você acha que essa história terminou, você tem
Menina: Mas aí ela viu que existia em cada cor razão.
um pedaço do que ela poderia ser. Mas as histórias que nossa tribo conta,
E pôde ver que, bem de perto, que viram dança, teatro e canção, não tem fim.
ninguém brilhava de uma cor só. O livro da nossa tribo não tem abas, capítulos ou
marca páginas e é feito pra ser lido num gole só.
Meninas: Suas palavras nos ensinam e Toda aventura que vale a pena é assim e, mesmo
agradecemos por isso. quando se repete, ainda é, em alguma instância, a
primeira vez.
Menino: E a jornada que ela trilhou abriu caminhos Se você quer viver a aventura mágica de contar
pra outras meninas e outros meninos. histórias com a gente, pode vir!
Aqui sempre tem uma fogueira acesa, um ouvido
Ancião: Foi assim que a tribo desse povo que conta atento, e a vontade de desvendar histórias juntos.
histórias pôde ver as cores que sempre teve, mas que
ainda não sabia ver. Música (trecho): Como é que se fala coração
É de quatro cores! Menina!
CENA 13 Como é que se fala coraçã o
a tribo de onde você vem?
Narrador L: Como é que se diz a histó ria
Quando a Menina olhou ao redor pô de ver de quem deixa a sua marca?
Que eram muitas as cores que a cercavam Como é que se faz pra ir além?
E que em cada pessoa morava uma combinaçã o de Como é que se fala coraçã o
na tribo de onde você vem?
elementos que as tornavam ú nicas:
Como é que se acha um jeito
Três pitadas de ousadia, duas fatias de solidã o, de viver sem ser perfeito
quatro cores de temperos e um grande coraçã o. e ainda assim tentar ser alguém?
A partir dali, as pessoas da tribo que queriam moyo wangu ana rangi nyingi É de quatro cores!
conhecer o mundo, vinham, antes de partir, (black out)
ouvir as histó rias da Menina.
E sempre que ela parava por ali, AGRADECIMENTOS
quando nã o estava inventando novas aventuras, Música: Quero ser feliz
a Menina contava do quanto é importante ouvir as Quer saber alguma coisa sobre mim?
muitas vozes que nos dizem quem a gente quer ser. Que pena que eu nã o tenho manual.
Tenho pressa e sou um pouco chata sim,
Narrador N: Sorte que eu sou bem alto astral
Numa noite de lua cheia, em que a tribo se reunia Tropecei e descobri um novo jeito
pra contar histó rias, uma Menina voltou, cheia de Dessa vez eu vou fazer direito
orgulho, para dizer quem era. A escada pra felicidade estava interditada e eu tive
E a resposta da Menina, nã o era uma resposta só . que pegar o elevador.
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Eu quero o mundo e sei que posso tudo
Nã o é um absurdo: eu quero ser feliz
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