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Anselmo Guimarãesi
Eixo Temático: Educação, Sociedade e Práticas Educativas.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar o livro Noções de Literatura Nacional no
intuito de verificar as práticas escolares nas escolas primárias na segunda metade do século
XIX, através do uso do compêndio como material escolar, suas finalidades políticas e
culturais. A primeira edição da obra foi publicada em 1896 e adotada em diversas escolas
primarias do Distrito Federal. Utilizamos como fontes a norma legal vigente na época da
publicação do livro didático, bem como, opinião da imprensa local publicada na segunda
edição da obra. Para esta análise lançamos mão dos pressupostos dos trabalhos de Chervel,
Darnton e Souza, dentro de uma perspectiva da História Cultural.
Resumen: Este trabajo tiene como objetivo analizar el libro Noções de Literatura Nacional
en el intento de verificar las prácticas escolares en las escuelas primarias en la segunda mitad
del siglo XIX, a través del uso del compendio como material escolar, sus finalidades políticas
y culturales. La primera edición de la obra fue publicada en 1896 y adoptada en varias
escuelas primarias en el Distrito Federal. Utilizamos como fuentes a norma legal vigente en la
época de la publicación del libro didáctico, así como la opinión de la prensa publicada en la
segunda edición de la obra. Para este análisis nos apoyamos en los presupuestos de los
trabajos de Chervel, Darnton y Souza, dentro de una perspectiva de la Historia Cultural.
Introdução
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Essas normas e práticas devem estar vinculadas as finalidades do ensino dentro das
sociedades. Essas finalidades (religiosas, sócio-políticas, psicológicas, culturais, etc.) são
variáveis segundo a época e a sociedade (CHERVEL, 1990).
O livro como objeto histórico tem suas fases e ciclos de vida. Darnton descreve este
ciclo como “um circuito de comunicação que vai do autor ao editor (se o livreiro não assumir
esse papel), ao impressor, ao distribuidor, ao livreiro e ao leitor. Por influenciar o autor tanto
antes quanto depois do ato da escrita, o leitor completa o circuito” (DARNTON, 2010, p.
193).
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Essa dificuldade em encontrar fontes que retratem os docentes negros no século XIX é
uma questão sentida por todos que se aventuram nessa área. Muitos são os obstáculos a
serem ultrapassados.
A autora
A obra
Essa obra foi publica seis anos após a reforma do ensino feita pelo Ministro Benjamin
Constant, através do Decreto N. 981 de 8 de novembro de 1890. Esse decreto regulamentava
a instrução primária e secundária do Distrito Federal. A instrução primária ficou dividida em
duas categorias: escolas primárias de 1º grau que admitiriam alunos de 7 a 13 anos e escolas
primárias de 2º grau com alunos de 13 a 15 anos, sendo que meninos e meninas estudariam
em escolas separadas.
Segundo o decreto a Escola Primária do Segundo Grau teria Português nos dois
primeiros anos. No primeiro ano os estudos se dariam com carga horária de 3 horas semanais
e estavam constituídos de: “Revisão da grammatica. Exercicios graduados de redacção:
descripção, narrativas, cartas, etc. Exercicios de leitura expressiva, leitura de manuscriptos e
recitação”. No segundo ano a carga horária caía para 2 horas e seria ensinado: “Analyse.
Exercicios de redacção e invenção. Noções de litteratura nacional” (BRASIL, 1890).
A primeira edição da obra da professora Cacilda F. de Souza foi adotada por diversos
estabelecimentos, segundo o Jornal do Comércio, porém, não foi bem aceita pelo Conselho
Diretor de Instrução Primaria e Secundaria do Distrito Federal, o qual tinha por incumbência:
“Resolver sobre a adopção de todo o material escolar, e approvar ou mandar compôr livros e
quaesquer trabalhos” (BRASIL, 1890). O Conselho de Instrução “entendeu por deficiente o
livro da Sra. D. Cacilda, por não incluir trechos de autores portuguezes clássicos” (Jornal do
Commercio, apud SOUZA, 1902, p. X).
Por que colocar trechos de autores portugueses clássicos se os estudos são de noções
de literatura nacional? Poderia ter por trás desse indeferimento um preconceito de gênero e
etnia? Não nos esqueçamos de que a professora Cacilda era uma mulher negra.
Divisão da obra
Conclusão
Pudemos, neste trabalho, percorrer o caminho das práticas escolares nas escolas
primárias do século XIX, através do estudo do livro didático Noções de literatura nacional da
professora Cacilda Francioni de Souza.
Vimos o aspecto legal para ensinar o tema “noções de literatura nacional” que foi a
reforma de Benjamin Constant, através do Decreto 981, de 8 de novembro de 1890. A
publicação em 1896 do livro Noções de literatura nacional, materializando em um material
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escolar a prática em sala do que foi previsto na norma. Observamos a dificuldade para adoção
do livro, ou seja, que o material impresso pudesse realmente chegar até os alunos.
Verificamos que o livro, em sua primeira edição, somente foi adotado nas escolares
particulares, não sendo aprovado pelo Conselho Diretor para as escolas municipais.
Referências bibliográficas
CARVALHO, Antonio José de; DEUS, João de. Diccionario prosodico de Portugal e
Brasil. 3ª ed. Porto: Lopes & C. Rio de Janeiro: Frederico Augusto Schmidt, 1885.
CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa.
In: LOURO, Guaracira Lopes (Trad.). Teoria & educação. Porto Alegre, 1990, nr. 2. p. 177-
229.
DARNTON, Robert. A questão dos livros: passado, presente e futuro. São Paulo:
Companhia das Letras, 2010.
JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. In: Revista Brasileira de
História da Educação. Campinas: Editora Autores Associados, nº 1, Janeiro/Junho. 2001,
p. 9-43.
SOUZA, Cacilda Francioni de. Noções de literatura nacional. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Laemmert & C., 1902.
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SOUZA, Rosa de Fátima de. História da cultura material escolar: um balanço inicial. In:
BENCOSTA, Marcus Levy (org.) Culturas escolares, saberes e práticas educativas:
itinerários históricos. São Paulo: Cortez, 2007, p. 163-189.
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Integrante do Grupo de Pesquisa História do Ensino das Línguas no Brasil (GPHELB/UFS), estudante do curso
de especialização em Língua Portuguesa e Literatura pela Faculdade São Luis de França. Email:
anselmo.guima@yahoo.com.br