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A. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As abordagens multinível definem-se como modelos educativos, que oferecem uma intervenção
integrada na aprendizagem e no comportamento, com suporte em processos de tomada de decisão
baseados em resultados, através de uma estrutura organizada por níveis de apoio/suporte, que variam
em tipo, intensidade e frequência, dependendo das necessidades dos alunos. A sua eficácia dita que
toda a comunidade educativa seja parte integrante de um sistema atento às necessidades dos alunos,
atuando proativamente e em estreita colaboração. Um método para promover serviços de saúde mental
inclusivos, na escola, envolve o uso de sistemas de suporte multicamadas (MTSS) de intervenções e
apoios comportamentais positivos (Weist et al. 2018). O MTSS inclui três níveis de suporte: nível 1, onde
a programação universal é fornecida a todos os alunos, nível 2, onde os apoios direcionados são
fornecidos a pequenos grupos de alunos, e nível 3, onde é fornecido suporte individualizado intensivo
(Weist et al. 2018). Esta abordagem em três camadas também está representada noutras estruturas,
incluindo o modelo de resposta à intervenção (RTI) (IDEA, 2004), como no Modelo de Saúde Pública para
Doenças Mentais e Comportamentos de Risco (Mrazek & Haggerty, 1994). O RTI pode ser definido como
um método preventivo do insucesso escolar para todos os alunos e como um método de identificação e
intervenção para os alunos com dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento (Fuchs &
Fuchs, 2006; IDEA, 2004), segundo níveis progressivamente mais seletivos e intensivos (McMaster &
Wagner, 2007). O modelo RTI realça a implementação de intervenções com validade científica (NCRTI,
2010) e na monitorização sistemática dos resultados (respostas) dos alunos à intervenção (Buffum et al.,
2009). Assim, o modelo permite selecionar, alterar e dosear as intervenções de acordo com as respostas
dos alunos (Olson, Daly III, Andersen, Turner, LeClair, 2007), sendo consideradas como uma parte formal
do processo de identificação das dificuldades (Fuchs et al., 2012; NCRTI, 2010). Programas de promoção
da saúde mental para todos os adolescentes e programas de prevenção em risco dessas condições
exigem uma abordagem multinível com plataformas de distribuição variadas (site da OPAS/OMS). A
abordagem multinível implica um conjunto de condições que garantam a sua efetiva concretização.
O tema escolhido para este projeto, resulta da observação da situação no Agrupamento de Escolas
Manuel Teixeira Gomes (AEMTG), em termos de saúde mental. O tema é: A Saúde Mental na Escola. De
acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), a saúde mental pode ser entendida como um
“estado de bem-estar em que cada indivíduo dá conta do seu próprio potencial intelectual e emocional
para lidar com as tensões normais da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera, e ser capaz de dar
um contributo para a sua comunidade”. A promoção da saúde mental é, segundo o Programa Nacional
de Saúde Escolar (PNSE), o pilar da capacitação de crianças e jovens em promoção e educação para a
saúde, surgindo assim, como uma área prioritária de intervenção, no espaço escola, devido ao aumento
de problemas de saúde mental entre os jovens. Como complemento à aprendizagem académica,
educadores e docentes podem influenciar as aprendizagens de crianças e jovens noutros domínios,
nomeadamente, na aprendizagem sócio-emocional (SEL). Várias iniciativas têm vindo a ser
bem-sucedidas na promoção da saúde mental, incidindo numa abordagem escolar global (Whole School
Approach), continuada e sequencial entre níveis de educação e ensino. Em vários países europeus, na
Austrália e também na América, inclusive a Latina, os programas baseados na SEL têm-se expandido,
sendo vistos como iniciativas de promoção de saúde mental de base escolar (Coelho, Marchante, Sousa,
& Romão, 2016; Durlak et al., 2011). Um dos casos de sucesso, é do programa “MindMatters”, aplicado
em 24 escolas secundárias, na Austrália, tendo como objetivos: facilitar a prática exemplar na promoção
de abordagens de toda a escola para a promoção da saúde mental; desenvolver recursos de educação
em saúde mental, currículo e programas de desenvolvimento profissional adequados a uma ampla gama
de escolas, alunos e áreas de aprendizagem; e diretrizes de ensaios sobre saúde mental e prevenção do
suicídio e para encorajar o desenvolvimento de parcerias entre escolas, pais e agências de apoio
comunitário para promover o bem-estar mental dos jovens (J.Wyn, H.Cahill, R.Holdsworth, L.Rowling,
S.Carson); e o Modelo Aplicado da Geelong Grammar School para a Educação Positiva (Hoare, E., Bott,
D., & Robinson), com o objetivo de promover a saúde mental positiva e o bem-estar entre a comunidade
escolar. Esta abordagem compreende alterações do ambiente físico e social, das relações interpessoais e
na mudança de comportamentos de todos os intervenientes nos processos de ensino-aprendizagem. É
de extrema importância a detecção precoce e a aplicação de intervenções baseadas em evidências às
necessidades de adolescentes com condições de saúde mental definidas, priorizando abordagens não
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O AEMTG, que serve um elevado número de alunos com diversas problemáticas de ordem familiar,
emocional e de comportamento, que os coloca numa situação de vulnerabilidade, pretende desenvolver
uma intervenção que ajude a dar uma resposta célere à problemática da ansiedade. Todos os anos são
identificados para o Serviço de Psicologia e Orientação (SPO) e Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família,
alunos onde se observam níveis de ansiedade ligeira, moderada e grave, tendo-se verificado o aumento
destes números, durante os períodos de confinamento, devido à pandemia COVID 19. Este projeto foi
pensado para intervenção junto dos alunos do 10º, 7º, 5º e 4º ano de escolaridade, e respetivos
diretores de turma. A escolha da população-alvo, teve como critério, o número de sinalizações efetuadas
para os serviços especializados do agrupamento, pelos diretores de turma, nos últimos três anos, no
âmbito das dificuldades emocionais/comportamentais, nomeadamente, as questões relacionadas com a
crise de ansiedade e pânico (cerca de 50% das sinalizações realizadas no ensino secundário,
correspondem a esta problemática). Segundo a OPAS/OMS (Organização Pan-Americana da
Saúde/Organização Mundial de Saúde), num estudo levado a cabo sobre saúde mental revela que, as
condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas
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com idade entre 10 e 19 anos; metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de
idade, mas a maioria dos casos não é detetada nem tratada; em todo o mundo, a depressão é uma das
principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes; o suicídio é a terceira principal causa de
morte entre adolescentes de 15 a 19 anos. As consequências de não abordar as condições de saúde
mental dos adolescentes estendem-se à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando
futuras oportunidades. Assim, a promoção da saúde mental e a prevenção de transtornos são
fundamentais para ajudar as crianças e jovens a prosperar. Podemos verificar que são vários os fatores
que determinam a saúde mental de um adolescente e, quanto mais expostos aos fatores de risco, maior
o potencial impacto na sua saúde mental: o desejo de uma maior autonomia, pressão para se ajustar aos
pares, exploração da identidade sexual e maior acesso e uso de tecnologias, a qualidade de vida em casa
e suas relações com os pares, a violência, problemas socioeconómicos, estigma, discriminação ou
exclusão, além de falta de acesso a serviços e apoio de qualidade. Estas e outras questões estão
presentes como causas da ansiedade, no nosso agrupamento.
C. PLANEAMENTO DO PROJETO
O nosso projeto tem como base teórica as SEL (Social Emotional Learning). Avilés e colegas (2006)
defendem a utilização da escola como principal contexto de intervenção ao nível sócio emocional,
referindo que o desenvolvimento da criança e do jovem, decorre das suas interações com os seus
contextos internos e externos. O SEL é o processo através do qual estudantes e adultos desenvolvem e
adquirem as atitudes, o conhecimento e as competências de que precisam para identificar e regular
emoções com sucesso, para formar relações significativas e para tomarem decisões responsáveis. A
aplicação de um modelo SEL em meio escolar, implica também novas atitudes, conhecimentos e
competências por parte dos adultos envolvidos, para poderem providenciar um bom suporte aos alunos,
propiciando um clima de aprendizagem facilitadora, traduzindo-se a médio prazo em ganhos em saúde e
na promoção do sucesso escolar. Torna-se urgente e necessário, ajudar crianças e jovens numa
2. Objetivos do Projeto
O projeto do AEMTG, numa perspectiva de ação e de transformação social, tem como objectivo geral,
melhorar a qualidade de vida das crianças e adolescentes do agrupamento, em termos de saúde mental,
nomeadamente na área da ansiedade. Como objetivos específicos, contempla:
Durante o primeiro período do presente ano letivo, a intervenção, focar-se-á num primeiro nível de
intervenção, de ação universal (com o objetivo de identificar os alunos que estão em risco acrescido
para problemas de comportamento e de aprendizagem e que requerem suporte suplementar), através
do preenchimento pelos alunos identificados na população-alvo, do State-Trait Anxiety Inventory for
Children, desenvolvido por C. Spilberger, C.D. Edwards, J. Montuori & R. Lushene, versão validada para a
população portuguesa. Embora a ansiedade seja conceptualizada como uma resposta natural e
adaptativa (Beck & Emery, 2005), frequente ao longo do desenvolvimento de crianças e adolescentes,
respostas excessivas de ansiedade que persistem no tempo causam interferência significativa na vida
académica (King, Mietz, Tiney, & Ollendick, 1995) e no funcionamento social (Morris, 2004), altura em
que se consideram perturbações de ansiedade merecedoras de atenção clínica. Os resultados desta
avaliação, permitir-nos-á identificar os alunos em situação de risco e consequentemente, focarmos a
intervenção adaptando-a às reais necessidades do nosso agrupamento, através do desenvolvimento de
estratégias de organização escolar que suportem o bem-estar geral. Para os diretores de turma será
aplicado o BAI - Inventário da Ansiedade de Beck (Beck, Epstei, Brown, e Stter, 1988), validado para a
população portuguesa, com o objetivo de avaliar a intensidade dos sintomas de ansiedade. O trabalho
com crianças e jovens é uma tarefa gratificante, mas também complexa e de grande responsabilidade.
Para tal, é aconselhável que os docentes tenham em conta a importância do seu papel junto dos seus
alunos, bem como o seu próprio bem-estar. É da responsabilidade de todos os docentes a promoção de
um contexto inclusivo e aberto, com uma mentalidade de resolução de problemas, aceitação da
diferença e da diversidade.
Num segundo nível de intervenção, de ação suplementar (2º e 3º período), as medidas serão dirigidas a
alunos identificados como em risco acrescido, por terem revelado uma resposta insuficiente ao nível 1,
abordar-se-á a sua especificidade, pretendendo-se a integração das SEL na escola e envolvimento da
comunidade escolar, implementado no formato de pequeno grupo, planeado e dirigido a áreas de
competências específicas em que foram detectadas dificuldades, proporcionando aos alunos
oportunidades de reforço da aprendizagem, treino e prática extra, de carácter temporário para muitos
dos alunos, com o objetivo de criar condições de sucesso no nível 1. Incluem-se neste nível, a título de
exemplo, o desenvolvimento de sessões de sensibilização sobre saúde e saúde mental; ansiedade - o que
é?; técnicas de meditação e relaxamento; e expressão das emoções através da escrita. Simultaneamente,
será prestada consultoria em saúde mental, aos diretores de turma identificados). As sessões serão
desenvolvidas pelas psicólogas do Serviço de Psicologia e Orientação (SPO) e do Gabinete de Apoio ao
Aluno e à Família (GAAF). Prevê-se a realização de 4 sessões para as turmas onde sejam identificados
alunos em risco, em pequeno grupo, ou individualmente. Torna-se essencial promover um espaço de
discussão e integração das tarefas, na sequência das mesmas, para o qual se podem encontrar algumas
sugestões específicas junto do descritivo da atividade. A reflexão é um momento especial de integração
e partilha de todo o conjunto de informações produzidas durante a atividade nos diversos domínios da
comunicação, relação e estratégias.
Num terceiro nível de intervenção, pretende-se uma ação mais intensa, de maior frequência e duração,
incidindo num pequeno grupo de alunos, ou individualmente, que revelem uma resposta mínima à
combinação das intervenções de nível 1 e 2, com o objetivo de desenvolver planos de intervenção
significativos e personalizados, por ação de profissionais/técnicos especializados. Esta intervenção
contará com o envolvimento da comunidade escolar e local, nomeadamente pais e encarregados de
educação, diretores de turma, Loja Ponto Já, do Instituto Português do Desporto e da Juventude (apoio à
intervenção especializada em psicologia clínica e nutrição); CHUA – Centro Hospitalar Universitário do
Algarve - Hospital de Portimão (apoio à intervenção especializada nas especialidades de Pediatria,
Psicologia Clínica e Psiquiatria) Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), para encaminhamento
dos alunos que apresentem situação clínica específica. O gabinete do SPO e do GAAF, no âmbito do
modelo SEL, terão por base a observação do aluno e das suas necessidades visando proporcionar um
espaço relacional de confiança num clima organizado para o bem-estar e segurança, promotores tanto
de uma melhoria do funcionamento afetivo e cognitivo do jovem, como da sua autoimagem e confiança.
4. A Equipa do Projeto
A equipa será constituída pelas psicólogas do SPO (Sandra Gabriel) e GAAF (Ana Rasquinho e
Mafalda Fonseca), em articulação com os docentes da coordenação dos diretores de turma, docente
responsável pela área da Cidadania e Desenvolvimento, e docentes responsáveis pelo projeto PES.
O acompanhamento do projeto é necessário para adaptar o fluir das necessidades que se vão
verificando, garantindo aconselhamento contínuo, solução de problemas, formação e acesso a recursos,
e na procura de estratégias alternativas de resolução de problemas. Na avaliação do projeto deverá ser
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E. REFLEXÃO FINAL
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apoio e disponibilidade de toda a comunidade escolar, e que os efeitos pretendidos se mantenham por
tempo significativo. Desejamos também, a continuidade do projeto no agrupamento, uma vez que, ao
longo dos últimos anos letivos nos deparamos com a crescente incidência desta problemática. A
monitorização do projeto é fundamental para o acompanhamento e avaliação do impacto da
intervenção a implementar, que permitirá aferir a necessidade de eventuais adaptações para o
cumprimento e sucesso do mesmo.
F. BIBLIOGRAFIA E WEBGRAFIA
Carvalho, Álvaro de; Amann, Gregória Von; Almeida, Conceição Tavares de; “Manual para a Promoção de
Aprendizagens Sócio emocionais em Meio Escolar”. Ministério da Educação, Direção Geral da Saúde,
2019.
Sousa, Carla Sofia Gonçalves de; “O Modelo de Resposta à Intervenção no âmbito da promoção da
expressão escrita”. Tese de Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento, Universidade de Coimbra,
2013.
https://doi.org/10.21865/RIDEP45.3.03
https://www.paho.org/pt/topicos/saude-mental-dos-adolescentes
https://internationaljournalofwellbeing.org/index.php/ijow/article/view/645/625
https://www.youtube.com/watch?v=6o5pVfODOBo
https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1098300717753832
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