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A Justiça Social e a Cidade – Ed.

HUCITEC , SP, 1980


David Harvey
é um teórico da Geografia britânico formado na Universidade de Cambridge. É
professor da City University of New York e trabalha com diversas questões ligadas à
geografia urbana. Influenciado pelos pensamentos de Karl Marx e Henri Lefebvre,
constituiu uma Geografia Urbana e Econômica de contestação ao pensamento
neoliberal e ao sistema capitalista como um todo, buscando expressar e denunciar a
forma com que as contradições sociais

Livro:
Primeira parte: Formulações Liberais
Capitulo 1: Processos Sociais e Forma Espacial
1. Os problemas conceituais do Planejamento Urbano:
Levanta o problema da formação dos técnicos, a visão de cada
disciplina que estuda a cidade – cada disciplina utiliza a cidade como
laboratório para testar suas proposições e teorias - mas nenhuma tem
proposições e teorias sobre a cidade.pg 13

2. A imaginação geográfica versus a imaginação sociológica


Deve relacionar de algum modo os processos sociais à forma espacial
que ela assume- estrututura conceitual para entender a cidade:
 Imaginação sociológica é a consciência do papel que individuo
dentro da sociedade e no período temporal que ele vive –
entendimento da sua inserção social e histórica dentro do seu
contexto de temporal ; pg 14
 Imaginação geográfica: quando o individuo reconhece seu papel
no espaço e sua relação com ele. Reconhecer como seu território
é afetado pela transação entre os indivíduos e as organizações –
reconhecer, visualizar e usar os espaços (consciência espacial)
pg 14
Teóricos: Weber defende o desenho espacial sem a preocupação com o
processo social – Howard = modificar a forma espacial cidade com a
adaptação processo social – Leven busca identificar fatores que
determinam a forma da cidade. Pg 16/17
3. Em direção a uma filosofia do Espaço social
Desenvolver ideias considerando a experiência espacial e as maneiras
que podemos analisar esta experiência. – Cassier oferece o espaço
orgânico = experiência espacial transmitida geneticamente – espaço
perceptivo fruto da memória das experiências e experimentações dos
sentidos – Espaço simbólico = abstrata , ligada a interpretação e ao
conhecimento adquirido. São interdependentes. Pg 18/19
É preciso entender o significado criativo na produção da cidade – a
produção de significados simbólicos que constituem a cultura, ordem
social – pg 21
Precisamos entender a mensagem que as pessoas recebem do
ambiente construído p.22
O espaço social os indivíduos tem em certa medida uma “imagem
comum” derivada de normas grupais –de como agir a respeito daquela
imagem – e uma imagem única - Questões de imagem: Para Lynch as
pessoas constroem esquemas espaciais - Lee e Steinitz conceitos de
limites e vizinhanças , como barreiras que podem ser transpostas ou
não. pg 24
O significado simbólico e a complexidade de seu impacto sobre o
comportamento está ligado ao processo cognitivo.pg25

4. Alguns Problemas Metodológicos na Interseção:


A compreensão da complexidade do processo social depende de uma
apreciação da forma espacial. Os problemas que impedem a ligação
entre o trabalho (imaginações) sociológico(a) e o geográfico(a) : Pg 26
 Individualização
Definição de um conjunto de indivíduos que formam uma
população para inferência – conforme wilson por linguagem
substantivas (propriedades comuns) ou por linguagem no espaço
e tempo.pg 27
As conclusões politicas dependem da linguagem dominante e
como as duas linguagens são combinadas em alguma estrutura
analítica.pg 28
 Confusões
Controlar as variáveis indesejáveis pg 28
 Inferência Estatística
Devemos prever dificuldades em fazer previsões condicionais e
em validar a teoria; pg 32

5. Estratégia de Interseção
Necessita-se de uma estrutura analítica para enfrentar os problemas da
intersecção entre a análise espacial e social. Pg.32
A forma espacial de uma cidade como determinante do comportamento
humano. O determinismo ambiental espacial é uma hipótese que busca
promover uma ordem social pela manipulação do ambiente espacial da
cidade. Uma forma espacial adaptada a uma norma dominante pode
reforça-la . ex. uso de automóveis nas cidades americanas Pg. 32
Weber – a dinâmica do processo social adquirirá a sua própria forma
espacial = o planejador pode retardar ou diminuir a eficiência=
planejador a serviço do processo social; pg 32
O que se espera são os resultados produzidos numa linguagem social e
espacial.pg 34
Teoria da localização= o espaço é entendido como um bem econômico
por meio de custos de transporte – e os custos de transporte podem ser
substituídos por um modelo de processo social que produz equilíbrio da
produção para cada indústria ou firma. Pg 36

Capitulo 2: O processo Social e a Forma Espacial


1. A Redistribuição da Renda Real em um sistema Urbano
A abordagem tradicional e a miopia disciplinar, problemas metodológicos e
filosóficos dificultam a plena integração da forma espacial e o processo social –
a dificuldade do entendimento ou consenso geral do que é um “objetivo social
coerente”. Pg 39
Há a necessidade de alcançar uma função social de bem-estar, compreensiva
e globalmente aceita onde as decisões e resultados políticos possam ser
julgáveis; ser claro nos motivos dos investimentos - isso significa em assumir
alguma responsabilidade em alcançar as condições ideais – os mecanismos
ocultos por nossa inabilidade em analisar um sistema de interdependência
entre o social e o espacial. Pg 40
2. A distribuição de Renda e os objetivos sociais de um sistema urbano
A maioria das políticas sociais são elaboradas como tentativas de manter a
distribuição de renda em um sistema social ou para a redistribuição de renda
entre vários grupos sociais que constituem uma sociedade.
O juízo ético deve ser considerado na formulação de qualquer política social
em relação ao sistema urbano;
Definição de renda: renda é a soma recebida em forma disponível em um dado
ano e que é usualmente gasta em consumo no mesmo ano.
Titnus define: é a soma de todos os recursos que aumentam o poder do
individuo sobre o uso dos recursos escassos de uma sociedade>pg. 41
Mas como as mudanças na forma espacial da cidade e nos processos
sociais que operam na cidade provocam mudança na renda do individuo?
Por ex. O desemprego e as oportunidades de moradia tem imposto custos de
acessibilidade para alguns grupos da população em relação a outros. A
dinâmica espacial do crescimento urbano influenciam no valor da propriedade –
solo pg 42

3. Algumas condições que governam a redistribuição de renda


 A rapidez de troca e o grau de ajustamento em um sistema
urbano
Compreensão analítica do sistema urbano vem da Análise do
equilíbrio pg 43
Considerando a velocidade do ajustamento com a qual às partes
diferentes de um sistema urbano podem ajustar-se às trocas que
ocorrem dentro dele – Os grupos dotados de recursos financeiros
e educacionais estão mais aptos a adaptar-se rapidamente à
mudanças no sistema urbano; esta disposição para responder à
mudança são fontes básicas de desigualdades. Pg 44

 O preço da acessibilidade e o custo da proximidade


A acessibilidade a oportunidades de emprego, recursos e serviços
de bem estar pode ser obtida por um preço – igualado ao custo
de superar distancias e do uso do tempo = preço social = custo
do transporte até o preço emocional e psicológico imposto ao
individuo. Pg 45

 Efeitos da exteriorização

A atividade de qualquer elemento em um sistema urbano pode


gerar certos efeitos sem preço – não monetizados sobre outros
elementos no sistema = exteriorizações=efeitos de
transbordamento= efeitos de terceira ordem -
São efeitos de produção e bem estar inteiramente ou
parcialmente gratuitos – produtos desejados ou não, das
atividades de outras pessoas que direta ou indireta afetam o bem
estar de indivíduos (Mishan) - Podem ser privados ou públicos;
ex. poluição do ar, aguas, descartes que poluem o ambiente;
Na medida que a sociedade cresce em riqueza material a
incidência destes efeitos cresce rapidamente.pg 46
Fonte de desigualdade de renda pela localização dos custos e
benefícios externos ;pg 48

4. Os efeitos redistributivos da mudança de localização de empregos e


habitação
O crescimento das cidades produz uma reorganização na localização, e
distribuição de algumas atividades , com a justificativa de ajustamento
do sistema urbano a mudanças em tecnologia, demandas, etc.pg 48
A mudança da localização das atividades econômicas afeta na mudança
de oportunidades de emprego – a mudança da atividade residencial
altera as oportunidades de moradias – a politica de transporte urbano
deveria atender as diferentes regiões para assim possibilitar um
desenvolvimento do sistema urbano mais equilibrado com a diminuição
do custo do deslocamento. As oportunidades de emprego não estão
próximo as moradias da baixa renda. Assim como não é acessível os
valores dos imóveis próximo as áreas da localização do emprego. O rico
bem localizado consegue benefícios e o pobre tem oportunidades
restritas.
O desequilíbrio diferencial na forma espacial da cidade pode constituir
assim uma forma regressiva de redistribuição de renda. Pg 51

5. A redistribuição e o valor mutável dos direitos de propriedade


O valor dos terrenos e edificações podem variar em espaço curto de tempo.
Estas mudanças são pensadas como sendo resultantes de movimentos
demográficos, facilidades locais, alterações na forma, de politica de
investimentos em mudanças, etc. – mas tb é afetado pelo direito de
propriedade dos vizinhos.- se o governo tivesse a informação por qual motivo
as pessoas se unem as outras poderia controlar o mercado em certa medida.
Pg 52 – O autor sugere uma organização por grupos e zoneados por menor
influência em relação umas as outras. A independência zonal é impossível mas
comforme o modelo de Davis e Whinston é possível como solução de
exteriorizações. Organização territorial homogênea possível .o zoneamento é
difícil de ocorrer quando em situações de desequilíbrio na distribuição do
poder econômico e político (Makielski). Segundo não consieramos os efeitos de
exteriorização entre zonas. Terceiro a seleção do lugar – os que chegam por
último tem condições de observar os lugares já organizados. Pg 54
6. A disponibilidade e preços dos recursos
As mudanças locacionais provocam redistribuição , principalmente através das
exteriorizações a elas associadas –
A razão pela qual a forma espacial de um sistema espacial muda , será
parcialmente função do modo pelo qual os grupos se formam, relacionam-se
com os outros e desenvolvem uma ação coletiva em direção as disposições
das várias fontes de exteriorizações , que afetarão a sua renda real. Pg 59
A distribuição usual de renda em um sistema urbano deve ser vista como
consequência do processo politico (Buchanan).
7. Os processos políticos e a redistribuição da renda real
O autor faz uso da analogia de um jogo político em que a barganha em forma
de recursos diversos (legais ou ilegais) oferece o poder e influência de
decisão aos grupos de maior poder econômico. Geralmente o grupo ou
comunidade são homogêneos pg. 61
Geralmente pequenos grupos privilegiados sendo mais organizados e mais
ativos podem ser mais hábeis para prover-se de bens coletivos enquanto que
os grandes grupos que deveriam prevalecer a democracia são desorganizados
e inativos – somente se organizam por auto-interesse: ex. aposentadoria,
benefícios seguro ou através de coersão – ex. lojistas em um associação.
Alguns grupos são excluídos totalmente da negociação – não tem o que
barganhar.
A possibilidade de que um sistema social possa reconhecer este fato e ajustar-
se para combater essa tendência natural está correlacionada ao grau de êxito
do sistema social em evitar os problemas estruturais e as tensões sociais
profindas, consequentes do processo da maciça urbanização.pg 62

8. Os valores sociais e a dinâmica cultural do sistema urbano


A distribuição da renda real deve envolver comparações culturais transversais.
A espécie de ambiente criado num sistema urbano afeta as habilidades
cognitivas estimulando-as – mas não são funções do meio – (Smith) Os grupos
de renda mais alta e melhor educados tendem a fazer uso ativo do espaço
enquanto os grupos de renda mais baixa ficam a mercê dele. (Pahl) - Duhl diz
que os de renda alta usam como contraste e os de baixa renda se identificam
com ele. Webber diz que os de baixa renda tem se libertado da
territoriedade.pg 68
Os valores culturais são afetados pelas oportunidades criadas no meio urbano.
Há forças poderosas trabalhando para a heterogeneidade cultural e a
diferenciação territorial no sistema urbano.pg 69
Se os recursos são diferentes para pessoas diferentes como podemos
medir seu impacto sobre a renda real dos indivíduos e desenvolver
políticas de locação que atendam a um dado objetivo de redistribuição?
pg 70
Se falharmos ao investigá-los abandonamos a esperança de chegar a bases
firmes para tomar decisões significativas –
Deve-se fazer a avaliação de valores culturais que desejamos preservar ou
aumentar. – a sensibilidade da humanidade não pode permanecer
permanentemente , imune as mudanças ambientais que o homem está
desencadeando com suas próprias ações - a questão de longo alcance não é
a de que espécie de ambiente queremos, mas que espécie de homem
desejamos. (Sommer)pg 71

9. A organização espacial e os processos políticos, sociais e econômicos


A redistribuição da renda pode ocorrer através de mudanças:
 Na locação de empregos e moradias;
 No valor dos direitos de propriedade;
 No preço dos recursos para o consumidor.
Estas mudanças são afetadas pelas alocações dos custos e benefícios em
diferentes regiões do sistema urbano, e por mudanças na acessibilidade e
proximidade. As populações procuram controlar esses mecanismos ocultos que
governam a redistribuição por meio do exercício do poder político. Por meio
dos valores sociais e culturais este processo se retroalimenta, pois, esses
valores são causa e efeito – qualquer teoria de redistribuição de renda deve
estar baseada neles e eles próprios são suscetíveis a mudanças através da
alocação de oportunidades. Pg 71

 A provisão e controle de bens públicos impuros num sistema


urbano
 Organização regional e territorial em um sistema urbano

Pg 79 A elaboração bem-sucedida de políticas adequadas e a preservação de


suas implicações vai depender de alguma investida interdisciplinar ampla sobre
o processo social e os aspectos da forma espacial do sistema urbano;

Capitulo 3: A justiça Social e os sistemas Espaciais


Oque estamos distribuindo? É beneficio ou renda
Entre quem ou o que estamos distribuindo a renda? Para o individuo, entre
grupos, organizações , territórios...?

A distribuição de renda deveria ser tal que as necessidades da população


dentro de cada território fossem localizadas - os recursos fossem então
alocados para maximizar os feitos multiplicadores inter-territoriais e os recursos
extras fossem alocados para ajudar a resolver as dificuldades específicas
emergentes do meio físico e social.

Os mecanismos institucional, organizacional, político e econômico deveriam ser


tais que as perspectivas do território menos favorecido fossem tão grandes
quanto possivelmente ser. Pg 99

1. Uma distribuição justa


2. Justiça distributiva territorial
 Necessidade
 Contribuição ao Bem comum
 Mérito
3. Para obter distribuição com Justiça
4. Uma distribuição justa obtida com justiça: Justiça social territorial
Reflexões: pg 249/250
Um dos temas do livro foi buscar métodos apropriados e uma concepção de
teoria que pudesse investigar a complexidade do urbanismo.
O autor se debruça sobre o método e teorias de Marx ( baseados nos escritos
de Leibniz e Spinoza, Hegel e Kant) que forneceram métodos práticos de
investigação das atividades materiais da produção na sociedade.
Criação de uma prática teórica através do qual o homem podia moldar a
história do que ser moldado por ela.
Método de Marx que influenciaram as análises do livro:
1. Ontologia: fundamentado pelo o que existe. Suposições a respeito do
modo que a realidade está estruturada e organizada – e como mudam
2. Análise das relações dentro da totalidade e do estruturalismo
operacional - A totalidade busca moldar as partes de modo que cada
parte funciona para preservar a existência e a estrutura geral do todo -
elas funcionam para preservar o capitalismo e reproduzi-lo.
3. O materialismo dialético aparece como método para identificar as regras
de transformação através das quais a sociedade é reestruturada.

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