Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 30

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO

CONTEXTO JURÍDICO

Carolina Marca Panarotto, Natália DallʼAgnol e Sofia Barth


Área das Humanidades: Universidade de Caxias do Sul
Avaliação Psicológica II
Professora Raquel Boff
INTRODUÇÃO
➔ A Avaliação Psicológica desempenha um papel fundamental no campo das perícias
psicológicas, sendo especialmente relevante dentro do contexto do Sistema Judiciário;
➔ Seu objetivo principal é coletar dados psicológicos que possam subsidiar decisões
judiciais;
➔ No entanto, a avaliação psicológica no contexto jurídico apresenta características
específicas, moldadas pelas demandas legais, e busca fornecer uma abordagem
embasada e direcionada para a resolução do caso em questão;
➔ Neste trabalho, exploraremos de forma mais aprofundada o papel da Avaliação
Psicológica no contexto jurídico, suas particularidades e sua importância para a
tomada de decisões judiciais fundamentadas.
HISTÓRICO
HISTÓRICO
➔ A delimitação de uma data específica é difícil (Lago, Amato, Teixeira &
Bandeira, 2009).
➔ Preocupação com a avaliação de criminosos doentes mentais inicia no século
XVII, o que gera a exclusão social do “louco”.
➔ Com as intervenções de Pinel, psicólogos e psiquiatras passam a trabalhar
juntos nos exames psicológicos em sistemas de justiça juvenil (Lago et al, 2009).
➔ Nos manicômios, o psicólogo fazia atendimento aos internos, suas famílias,
elaboravam pareceres e acompanhavam a evolução do “tratamento” (Moura,
Costa, Lima, De Souza, Barbosa, 2015).
HISTÓRICO
➔ Oficialmente, a comunicação entre Direito e Psicologia se inicia com o
reconhecimento da psicologia como profissão, em 1960.
➔ Essa inserção é gradual e lenta, iniciando por meio de trabalhos voluntários
(Lago et al, 2008).
➔ As primeiras intervenções são realizadas na área criminal, na realização de
estudos com adolescentes e adultos infratores (Lago et al, 2009).
➔ Primeira metade do século XX, psicólogo como "testólogo": fornece dados
matematicamente comprováveis para o profissional de direito (Lago et al, 2009).
➔ “Psicologia do Testemunho”
HISTÓRICO
➔ 1997, Foro Central de Porto Alegre - Criação do NAF (Núcleo de atendimento à
família (Lago et al, 2008).
➔ Lei da Execução Penal (Lei Federal nº 7.210/84) → Psicólogo passa a ser reconhecido
pela instituição penitenciária (Moura, Costa, Souza & Barbosa, 2015).
◆ Instituído o exame criminológico e a classificação da personalidade pelo CTC
(Comissão Técnica da Classificação)
➔ Em 2013, o CFP desenvolveu uma cartilha de avaliação psicológica especificamente
para o contexto judiciário e prisional.
POSSIBILIDADES

1. Avaliação da capacidade mental 4. Avaliação de competência legal

2. Determinação da credibilidade de 5. Avaliação de danos psicológicos


testemunhas
6. Avaliação para casos de guarda de
3. Avaliação de risco de violência crianças
ALIENAÇÃO PARENTAL
VARA DA FAMÍLIA

➔ Alienação parental se insere na Vara da


Família;
➔ Construção de um estudo biopsicossocial;
➔ Assessoramento ao magistrado na
confecção de perícias, pareceres ou
relatórios (Moura et al, 2015);
➔ Problemática → dinâmica familiar;
➔ Dinâmica importante para divórcios
Figura 1: KMO Advocacia Empresarial (2020)
destrutivos, especialmente quando há
crianças envolvidas (Moura et al, 2015).
ALIENAÇÃO PARENTAL - CONCEITO
➔ Duas possíveis conceituações:
◆ Síndrome de Alienação Parental
◆ Atos de Alienação Parental presentes na
Legislação
➔ Ações de uma pessoa (na maioria dos casos, um dos
pais) que promovem o afastamento e deterioramento
da criança para com um dos progenitores.
➔ Causador de desconforto e sofrimento para a criança
(Veiga, Soares e Cardoso, 2019). Figura 2: Psicólogo e Terapia (2016)
ALIENAÇÃO PARENTAL - LEGISLAÇÃO
➔ De acordo com a Lei 12.318 (2010), são alguns exemplos de alienação parental:
◆ Realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da
paternidade ou maternidade;
◆ Dificultar o exercício da autoridade parental;
◆ Dificultar o contato e a convivência, como se mudar para lugar distante sem
justificativa;
➔ Essa lei aumenta a complexidade da demanda de atendimentos no judiciário,
somando-se à pensão, guarda e visitação
NOTA TÉCNICA CFP Nº04/2022
➔ Esse documento pretende responder aos anseios da categoria profissional de psicologia
e da sociedade quanto ao posicionamento do CFP e Sistema Conselhos sobre o tema da
Alienação Parental;
➔ Considera o fato do tema da alienação parental já ser uma realidade na prática de
psicólogos que atuam em instituições públicas e privadas;
➔ Tece considerações e reflexões importantes sobre a lei da alienação parental articulando
com o Código de Ética Profissional;
➔ Traz recomendações para o exercício profissional da Psicologia.
ALIENAÇÃO PARENTAL - LEGISLAÇÃO

➔ O Novo Código do Processo Civil, de 2015, permitiu englobar as complexidades e


particularidades dos assuntos da família.
➔ Equipe Multidisciplinar é enfatizada.
➔ O psicólogo não é citado diretamente no NCPC, sendo utilizado o termo ‘Perito da
Legislação'.
➔ No NCPC, o juiz deve estar acompanhado de especialista para coletar depoimento de
incapaz em casos de abuso ou alienação parental (Veigas, Soares e Cardoso, 2019).
Prova Pericial
Art.464 ao 480 do Código de Processo Civil - Seção X da Prova Pericial

➔ O juiz é responsável por nomear perito especializado e deve fixar o prazo para
entrega do laudo pericial. A partir do despacho de nomeação do perito, portanto,
inicia-se o prazo de 15 dias para que as partes indiquem assistente técnico, arguir o
impedimento ou a suspeição do perito, apresentar quesitos.
➔ Ciente da nomeação o perito apresentará em 5 dias: proposta de honorários,
currículo com comprovação de especialização e por fim, contatos profissionais, em
especial o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as intimações pessoais
Prova Pericial
Art.464 ao 480 do Código de Processo Civil - Seção X da Prova Pericial

➔ O perito pode ser substituído quando faltar-lhe conhecimento técnico ou científico,


sem motivo legítimo ou deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado.
➔ As partes terão ciência da data e do local designados pelo juiz ou indicados pelo
perito para ter início a produção da prova.
➔ Se o perito, por motivo justificado, não puder apresentar o laudo dentro do prazo, o
juiz poderá conceder-lhe, por uma vez, prorrogação pela metade do prazo
originalmente fixado.
➔ O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 dias
antes da audiência de instrução e julgamento.
PERÍTO PSICOLÓGICO:
- Assessoramento da Justiça,
- Isenção em relação às partes envolvidas;
- Comprometimento ético para admitir
posicionamento (Paranhos, Bernardi,
Brandão, Brito, 2019)
ASSISTENTE TÉCNICO:
- Profissional de confiança de uma das
partes;
- Psicólogo autônomo
- Pode supervisionar os laudos da perícia;;
- Complementar/argumentar acerca do
estudo psicológico desenvolvido pelo
perito (Paranhos, Bernardi, Brandão, Brito,
2019).
PERÍCIA PSICOLÓGICA
➔ Vista como uma prova → gera um laudo;
➔ Periciado deve estar ciente dos motivos, técnicas, datas e locais da perícia.
➔ Crianças, adolescentes e interditos → Consentimento formal dos responsáveis.
➔ Artigo 5º da lei 12.318/2010, em casos de alienação, a perícia deve ser realizada por equipe
multidisciplinar.
◆ Nos tribunais, a equipe é composta por psicólogo e assistente social (Veiga, Soares e
Cardoso 2019).
➔ O trabalho do psicólogo não pode ser reduzido à produção de provas objetivas (Veiga,
Soares e Cardoso 2019).
➔ A perícia psicológica é uma avaliação psicológica, apesar de seguir certas demandas do
campo jurídico (Veiga, Soares e Cardoso 2019).
PERÍCIA PSICOLÓGICA

➔ Não há padronização para a perícia;


➔ Se adequa às necessidades do caso;
➔ Podem ser aplicadas entrevistas, testes, dinâmicas familiares e visitas (Veiga,
Soares e Cardoso 2019).
➔ A dificuldade não é o diagnóstico, mas sim que caminhos apontar para a solução;
➔ O diagnóstico não elimina o litígio (Veiga, Soares e Cardoso 2019).
Laudo - Código de Processo Civil
“Art. 473. O laudo pericial deverá conter:

I- a exposição do objeto da perícia;

II- a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III- a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser


predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se
originou;

IV- resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo
órgão do Ministério Público.”
Laudo - Código de Processo Civil
“§ 1º No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e
com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões.

§ 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como emitir


opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto da perícia.

§ 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem


valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações,
solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições
públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou
outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.”
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO

➔ Segundo Cardoso (2020), os principais


procedimentos utilizados na Vara da Família são:
◆ Entrevistas clínicas com os genitores e filho
individualmente;
◆ Testagem de pais e filhos;
◆ Observação das interações familiares;
◆ Visita a escola e domicílio;
◆ Entrevista com terceiros.
Figura 3: ManualPsi (2022).
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO

➔ Os testes mais utilizados em adultos são (Cardoso, 2020):


◆ Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade (MMPI);
◆ Teste de Rorschach;
◆ Teste de Apercepção Temática (TAT)
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO

➔ Testes mais utilizados em crianças e adolescentes


(Cardoso, 2020):
◆ Escala Wechsler de Inteligência para crianças e
adolescentes (WISC);
◆ Escala Wechsler de Inteligência para adultos
(WAIS);
◆ Standford-Binet;
◆ Teste de Apercepção Temática para Crianças (CAT);
◆ Desenhos projetivos; Figura 4: FanFest (2018).
◆ Teste de Rorschach.
Resoluções
➔ Resolução CFP nº 009/2018

Estabelece diretrizes para a realização da Avaliação Psicológica no exercício profissional do(a)


psicólogo(a) e regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos.

➔ Resolução CFP nº 006/2019

Estabelece diretrizes para a elaboração de documentos escritos elaborados pelo(a) psicólogo(a) no


exercício profissional.
DESAFIOS

1. Complexidade dos casos 4. Compreensão das demandas legais

2. Vieses e preconceitos 5. Coerência entre as áreas da psicologia


e do direito
3. Pressões externas
6. Ética e confidencialidade
Debate sobre desvios de ética profissional descrita
no Código de Ética do Psicólogo:
Caso Glicia Brazil
CONCLUSÃO
➔ Tomadas de decisões justas e embasadas em evidências.
➔ Contribuição dos psicólogos na compreensão do comportamento humano, emoções
e processos mentais no sistema jurídico.
➔ Necessidade de uma abordagem ética (confidencialidade, imparcialidade e precisão
dos resultados) na avaliação psicológica no contexto jurídico, garantindo conduta
profissional adequada.
➔ Consideração do contexto cultural e social dos indivíduos avaliados para evitar
discriminação ou preconceito.
➔ Necessidade de embasamento científico na avaliação psicológica, utilizando
métodos e instrumentos validados.
REFERÊNCIAS
● Conselho Federal de Psicologia (2018). Resolução n. 009/2018. CFP. Disponível em:
https://satepsi.cfp.org.br/docs/ResolucaoCFP009-18.pdf
● Conselho Federal de Psicologia (2019). Resolução n. 006/2019. CFP. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Resolu%C3%A7%C3%A3o-CFP-n
-06-2019-comentada.pdf
● Conselho Federal de Psicologia. (2022). NOTA TÉCNICA SOBRE OS IMPACTOS DA LEI
Nº 12.318/2010 NA ATUAÇÃO DAS PSICÓLOGAS E DOS PSICÓLOGOS
(576600003.000068/2022-53).
https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2022/08/SEI_CFP-0698871-Nota-Tecnica.p
df
REFERÊNCIAS
● Lago, V. de M., Amato, P., Teixeira, P. A., Rovinski, S. L. R., & Bandeira, D. R.. (2009). Um breve
histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos de atuação. Estudos De Psicologia
(campinas), 26(4), 483–491. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2009000400009
● Moura, G. C., Costa, J. K. N., Lima, L. D. de, Souza, V. R. de, & Barbosa, Z. C. L. (2015).
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO CONTEXTO DAS INSTITUIÇÕES DE JUSTIÇA. Caderno De
Graduação - Ciências Humanas E Sociais - UNIT - ALAGOAS, 3(1), 149–166. Recuperado de
https://periodicos.set.edu.br/fitshumanas/article/view/2504
● Oliveira, Katya Luciane de, Inácio, Amanda Lays Monteiro, & Lúcio, Patrícia Silva. (2017).
Serviço de Avaliação Psicológica no Contexto Judiciário: um Relato de Estágio. Psicologia
Ensino & Formação, 8(2), 63-74. https://dx.doi.org/10.21826/2179-58002017816374
● Presidência da República (2015). Código de Processo Civil. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm

Você também pode gostar