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Quero agradecer particularmente à Márcia Carnaval pelo apoio, paciência e estímulo dados
desde o início deste percurso; aos meus filhos Fernanda e Rodrigo, sabedores das ausências
provisórias; Luiz Otávio Braga e Cláudia Savaget, orientadores e amigos, pela proximidade não
apenas acadêmica, mas de cotidiano musical que construíram com Radamés Gnatalli.
Este trabalho contou especialmente com a paciente amizade de Luiz D’Anunciação, Turibio
Santos e Nelson Cayhado, amigos de todas as horas; a generosa contribuição dos professores da
UNIRIO, Ricardo Tacuchian, Nícolas de Souza Barros, Lúcia e Sérgio Barrenechea, Luiz
Carlos Justi, Roberto Gnattali, Carole Gubernikoff e mais especialmente à Martha Ulhôa e
Nailson Simões; ainda o Sr. Aristides da Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Música
da UNIRIO.
Aos amigos da Escola de Música da UFRJ que apoiaram com o entusiasmo habitual,
professores da instituição e técnicos, especialmente José Mauro Albino, Francisco Conte,
Celina Machado, Graça Maria Pereira, Luiz Paulo Mendes da Silva e Sr. João (in memorian).
Aos alunos, ex-alunos e amigos que sempre presentes ouviram e contribuíram para as reflexões
aqui expostas: Adler Tatagiba, Fábio Neves, Túlio Gomide, Cyro Delvizio, Tuninho Duarte e
André Trindade; aos companheiros do Galo Preto, especialmente a Afonso Machado, João
Alfredo Schleder e Alexandre de la Peña. Genésio Claudino e José Menezes complementam a
longa relação que nunca estará completa.
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a aplicabilidade do dedo mínimo da mão direita no
Concertino n. 2 para violão e orquestra de Radamés Gnattali. O manuscrito da obra solicita do
intérprete a utilização do dedo mínimo, técnica violonística não usual. A pesquisa investiga
também as possibilidades do uso do mínimo da mão direita em outras obras de Gnattali e em
obras de outros compositores; apresenta um histórico da técnica violonística da mão direita,
com ênfase nos autores que a utilizaram. Sugere um conjunto abrangente de situações técnicas
inéditas que propicie nas performances a utilização do 5 da MD. Apresenta três obras escritas
especialmente para a tese, que exploram o uso do mínimo da mão direita, em que houve troca
de informações entre intérprete e compositor. O objetivo destas obras foi comprovar os
benefícios para a técnica e a performance violonísticas. Como referenciais prático e teórico
foram utilizados, respectivamente, os métodos de Domingo Prat e Charles Postlewate, além dos
conceitos de Pierre Bourdieu e Theodor Adorno. Acrescenta-se ainda redução para violão e
piano do Concertino n. 2 e do Concerto n. 4, além de DVD e CDR.
ABSTRACT
This research aims to analyze the applicability of the right hand little finger in the Radames
Gnattali’s Concertino n. 2 for guitar and orchestra. The work’s manuscript asks the interpreter
to use the little finger, an unusual guitaristic technique. The research also investigates the
possibilities of using the fifth finger of the right hand in other Gnattali’s works, as well as in
works by other composers. It presents a history of right hand guitaristic technique, with
emphasis on authors who apply the fifth finger. It also offers a comprehensive set of new
techniques in promoting performance in the use of the little finger of the right hand.This study
also presents three pieces, featuring the use of the right hand little finger, written especially for
this thesis. There was an exchange of information between performer and composer during the
production of these works, thus intending to demonstrate the benefits of this approach to the
technique and guitaristic performance. As practical and theoretical references were used,
respectively, Domingo Prat and Charles Postlewate methods, as well as the concepts of Pierre
Bourdieu and Theodor Adorno. The reduction scores for guitar and piano of the Concertino n. 2
and the Concerto no. 4, and a DVD and a CDR are included in the addendum.
Keywords: Technical guitaristic. Little finger of right hand. Radamés Gnattali and the
Concertino n. 2. Selected repertory of brazilian music for guitar of the xxth and xxith century.
WIESE, Bartolomeu F. L’applicabilité de l’auriculaire de la main droite : Radamés Gnattali –
Concertino no. 2 pour guitare et orchestre – et répertoire sélectionné de musique brésilienne
pour guitare des siècles xx et xxi. 2013. Thèse (Doctorat en Musique) – Programme de
Master/Doctorat en Musique, Centre des Lettres et des Arts, Université Fédérale de l’État de
Rio de Janeiro.
RÉSUMÉ
Cette recherche a pour objectif d’analyser l’applicabilité du cinquième doigt de la main droite
dans le Concerto n°2 pour Guitare et Orquestre de Radamés Gnattali. Le manuscrit de l’oeuvre
réclame de l’interprète l’usage du cinquième doigt, une technique inhabituelle dans le champ
du jeu de la guitare. Cette recherche explore également les possibilités d’application de cette
technique dans d’autres oeuvres de Gnattali ou dans celles d’autres compositeurs; elle retrace
un bref historique technique de la main droite pour la guitare, en se concentrant plus
particulièrement sur des compositeurs et interprètes utilisant le cinquième doigt. Elle propose
en outre un ensemble détaillé de techniques inédites favorisant dans les performances l’usage
du cinquième doigt. Elle présente trois oeuvres impliquant l’usage du cinquième doigt de la
main droite, composées spécialement pour le développement de cette thèse, et ayant donné lieu
à de multiples échanges entre interprète et compositeur. Le rôle de ces trois oeuvres dans le
cadre de la présente recherche est d’éprouver et de vérifier les bénéfices de cette technique dans
la performance de la guitare. Les références pratiques et théoriques à partir desquelles la
recherche a été menée sont, resêctivement, les méthodes de Domingo Prat et de Charles
Postelwate, ainsi que les concepts de Pierre Bourdieu et Theodor Adorno. Elle est
accompagnée de deux versions réduites pour guitare et piano des Concertos n°2 et n°4, ainsi
que d’un DVD et un CDR.
Mão direita
p = polegar
i = indicador
m = médio
a = anelar
c = mínimo
Mão esquerda
1 = indicador
2 = médio
3 = anelar
4 = mínimo
MD = mão direita
(5) = quinto dedo da mão direita ou dedo mínimo da mão direita
5 = quinto dedo da mão direita ou dedo mínimo da mão direita
5 da MD = dedo mínimo da mão direita
LISTA DE FIGURAS
26. Figura 26. ‘Concerto para Violão e Orquestra’, Ricardo Tacuchian, c. 159-160 77
27. Figura 27. ‘Concerto para Violão e Orquestra’, Ricardo Tacuchian, c. 314-315 77
28. Figura 28. ‘Concerto para Violão e Orquestra’, Ricardo Tacuchian, c. 137-141 77
31. Figura 31. ‘Choro’, homenagem a Garoto, de Antônio Carlos Jobim, c. 42-43 78
35. Figura 35. Egberto Gismonti, ‘Memória e Fado’, c. 13-16, 41-45 e 77-80 80-81
63. Figura 63. ‘Estúrdio n. 1’, Luiz Otávio Braga, c. 1-19 100
64. Figura 64. ‘Estúrdio n. 1’, Luiz Otávio Braga, c. 28-32 101-102
65. Figura 65. ‘Estúrdio n. 1’, Luiz Otávio Braga, c. 46-55 102-103
71. Figura 71. ‘Estúrdio n. 4’, Luiz Otávio Braga, c. 38-39 106
72. Figura 72. ‘Estúrdio n. 7’, Luiz Otávio Braga, c. 4-8 107
73. Figura 73. ‘Estúrdio n. 7’, Luiz Otávio Braga, c. 9-12 107
75. Figura 75. ‘Estúrdio n. 8’, Luiz Otávio Braga, c. 9-13 108
77. Figura 77. ‘Estúrdio n. 10’, Luiz Otávio Braga, c. 46-49 109
86. Figura 86. ‘Fotografia ilustrativa para harmônicos’, Márcia Carnaval, 2011 119
88. Figura 88 ‘Fotografia ilustrativa para harmônicos’, Márcia Carnaval, 2011 120
89. Figura 89 ‘Fotografia ilustrativa para harmônicos’, Márcia Carnaval, 2011 121
90. Figura 90 ‘Fotografia ilustrativa para harmônicos’, Márcia Carnaval, 2011 121
91. Figura 91 ‘Fotografia ilustrativa para harmônicos’, Márcia Carnaval, 2011 122
117. Figura 117. ‘Melodia dos cinco irmãos’, Ricardo Tacuchian, p. 1-5 147-150
118. Figura 118. ‘Melodia dos Cinco Irmãos’, Ricardo Tacuchian, c. 66-79 151
119. Figura 119. ‘Chacarera con el Cinco’, Arturo Medina, p. 1-2 153-154
120. Figura 120. ‘Divertimento a Cinco’, Luiz Otávio Braga, p. 1-2 155-156
121. Figura 121. ‘Estúrdio I’, Luiz Otávio Braga, p. 1-6 172-178
124. Figura 124. ‘Concertino n. 2’ (III Movimento), Radamés Gnatalli, p. 1-16 204-219
126. Figura 126. ‘Concerto n. 4’ (II Movimento), Radamés Gnatalli, p. 1-9 240-248
127. Figura 127. ‘Concerto n. 4’ (III Movimento), Radamés Gnatalli, p. 1-15 250-264
SUMÁRIO
LISTA DE SÍMBOLOS
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO 20
ANEXO 172
ANEXO – Partitura do Estúrdio I de Luiz Otávio Braga
APÊNDICES 180
APÊNDICE A – Revisão do Concertino n. 2 para Violão
e Piano de Radamés Gnattali
APÊNDICE B – Redução do Concerto n.4 para Violão
e Piano de Radamés Gnattali
APÊNDICE C – Vídeo com exemplos da inserção do 5 da MD
e áudio das obras escritas para esta tese, além de áudio do Estúrdio 1
de Luiz Otávio Braga
20
INTRODUÇÃO
O que ele faz com ela é praticamente impossível para os violonistas que estão aí.
Tardelli é o penúltimo dos moicanos, não sei se vai aparecer outro como ele. A mão
esquerda dele é realmente um componente a mais dentro do violão. E não sou só eu
quem diz isso, o Alieksey Vianna, por exemplo, diz que nunca viu nada igual (...).
Ele possui emoção e invenção que ninguém tem no instrumento (ESCOBAR, 2011).
Apesar do uso do polegar da mão esquerda não ser uma inovação, ou uma novidade
5
técnica , há que se dizer que Marcus Tardelli desenvolveu uma maneira própria de utilização
do polegar da mão esquerda. O próprio Tardelli dá seu parecer sobre tal aspecto:
1
Mestre em práticas interpretativas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde é professora de violão
do Departamento de Música desta Instituição. Sua dissertação, de 2005, trata de aspectos técnicos nos estudos de
Fernando Sor e Léo Brouwer. Tem como título Estudos de Sor e Brouwer: Uma abordagem Comparativa de
Demandas Técnicas.
2
Concertista, professor doutor violonista (e alaudista) do Instituto Villa-Lobos e do Programa de Pós-Graduação
em Música da UNIRIO. Multi-instrumentista e especialista em música antiga. Sua tese, de 2008, trata da
velocidade escalar ao violão e tem como título Tradição e Inovação no Estudo da Velocidade Escalar ao Violão.
3
Violonista concertista da cidade de Petrópolis. Utiliza o polegar da mão esquerda na realização de acordes,
polifonias, melodias acompanhadas, harmônicos.
4
Carlos Althier de Souza Lemos Escobar tem como nome artístico Guinga. É violonista e compositor carioca.
5
A utilização do polegar da mão esquerda para a realização de acordes já era comentada no método do italiano
Ferdinando Carulli no séc. XIX, embora o braço da guitarra romântica fosse menor que o do violão na sua forma
21
De modo geral, tive poucas influências das escolas de violonistas. Para produzir
determinados sons, as minhas mãos foram se desenvolvendo de uma forma que eu
sabia que não era permitida pela técnica tradicional de violão. Por exemplo, uso o
polegar da mão esquerda o tempo todo para fazer algumas harmonias e também
melodias que, com a técnica tradicional, eu não conseguiria fazer. Às vezes, você
quer deixar um acorde parado com a mão esquerda, de quatro notas, e o dedo
polegar pode ser usado para mover outras notas, sem aquele acorde parar de soar. É
como se você pegasse o pedal do piano e continuasse tocando outras notas. Penso
sempre em usar uma técnica em favor da música. Nunca coloquei barreiras do tipo:
‘Isso é impossível de tocar’ (TARDELLI, 2011).
Alguns apoiam o dedo mínimo da mão direita sobre o tampo com o objetivo de dar
segurança à mão na sua pulsação. Esse modo pode ser conveniente para
determinadas pessoas, enquanto o violão não esteja fixo, mas agora que está na
máquina [trípode] não considero necessário esse apoio, (...). Dessa maneira evitam-
se dois inconvenientes: o peso que faz esse dedo sobre o tampo, verdadeiro
impedimento para que ele vibre, e a probabilidade de manchá-lo com o atrito da
polpa. Outra vantagem tem esta posição, a mão fica mais solta e livre para todos os
movimentos que se queira fazer7 (AGUADO, 1924, p. 7).
atual. O pesquisador Matanya Ophee apresenta um estudo sobre o uso do polegar da mão esquerda na história do
violão. Cf.: <http://www.guitarandluteissues.com/LH-Thumb/lh-thumb.htm>.
6
É uma técnica onde o instrumentista utiliza o polegar da mão esquerda sobre o braço do violoncelo ou do
contrabaixo para a realização de notas no instrumento.
7
Algunos apoyan el dedo meñique de la mano derecha sobre la tapa con el fin de dar seguridad á la mano en su
pulsacion. Este médio há podido ser conveniente para ciertas personas, mientras la guitarra no ha estado fija, mas
ahora que lo está en la máquina no considero necesario este apoyo, (...). Asi se evitan además dos incovenientes,
á saber el peso de la fuerza que hace dicho dedo sobre la tapa, verdadero impedimento para que ella vibre, y la
exposicion de mancharla con el roce de la yema. Otra ventaja tiene esta posicion, y es que la mano está mas
airosa y dispuesta á todos los movimientos que se quieran hacer.
22
MD8 no tampo; e por último, sobre o livre movimento da mão direita. Em relação aos dois
primeiros aspectos, já é possível averiguar as transformações ocorridas; se avançarmos sobre
o uso do trípode9 – a ‘máquina de Aguado’ – também é demonstrada a variabilidade da
conduta técnica para a execução do instrumento: o aparelho foi abandonado pelo próprio
criador, que aderiu ao banquinho10. Portanto, desde sua invenção, há quase dois séculos,
muita coisa mudou.
Voltemos aos exemplos contemporâneos, ainda outra vez: o caso do violonista Odair
11
Assad . Em sua carreira vem utilizando o violão apoiado sobre a perna direita, sem dispor do
banquinho, e não mais na esquerda, como tradicionalmente se difunde nas instâncias
dedicadas ao ensino do instrumento e que de certa forma reprovam esta postura. Odair
demonstra, no entanto, que tal posição torna-se perfeitamente viável uma vez que o rigor
técnico, além da qualidade interpretativa, não são sacrificados em nenhum momento da
reprodução musical. Pode-se alegar que tais mudanças têm razões ergonômicas ou médicas,
ou seja, dizem respeito aos benefícios posturais para a coluna vertebral. O fato, porém, é que
Assad quase sempre estudou sem o banquinho12. Parece-nos, então, necessário desmistificar
determinados conceitos, reproduzidos como verdades tópicas irrefutáveis para a excelência
performática ao violão. Do contrário não seremos capazes de perceber que as transformações
podem vir a ocorrer, obviamente em benefício da qualidade de execução. Diversos outros
exemplos poderiam ainda ser citados13, mas recorrer-se-á somente a mais um, o do violonista
alemão Franz Halasz que recentemente se apresentou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro
interpretando o Concerto de Aranjuez de Joaquin Rodrigo. Halasz não utiliza o banquinho e
apoia o instrumento entre as duas pernas; a verticalidade com que o violão precisa ser
posicionado, neste caso, chega a lembrar aquela dos violoncelistas − remetendo visualmente o
braço direito do violonista ao arco do violoncelo.
A técnica está entre os aspectos envolvidos na atividade da performance musical,
muitas vezes interrelacionada a outros de igual importância. Por tais características, as
8
O 5 da MD, como já dito na tabela de símbolos, significa o dedo mínimo da mão direita.
9
Um suporte com três pés e dois braços de metal que servia para segurar o violão, ficando, assim, o intérprete
livre dessa tarefa. Mais tarde, este aparelho foi abandonado pelo próprio autor. Também foi denominado pelo
criador como ‘máquina de Aguado’.
10
O banquinho ou pezinho é um aparelho, normalmente de 15 cm de altura, utilizado para o apoio da perna
esquerda do instrumentista.
11
Violonista paulista.
12
O autor da presente pesquisa foi seu aluno por longos anos e pode constatar tal afirmativa.
13
Turibio Santos, Pepe Romero e Paul Galbraith.
23
14
Concertista brasileira. Doutora em Piano e Pedagogia do piano pela Universidade de Iowa e Mestre pela
Universidade de Boston, EUA, além de professora do Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de
Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
15
Por tratar-se de uma pesquisa na área das práticas interpretativas, não se apresentará um perfil biográfico do
compositor. Sugere-se, aos interessados no assunto, a leitura dos trabalhos de Valdinha Barbosa e Anne Marie
Devos (1985), assim como o de Nadge Breide (2006), além de outras inúmeras pesquisas científicas
(dissertações e teses) que abordam tal item, algumas relacionadas nas referências bibliográficas deste trabalho.
16
Aqui cabe uma indagação: o que leva um editor ou revisor de uma obra a omitir símbolos fundamentais numa
edição? Esta questão voltará à tona no transcorrer desta pesquisa.
17
Músico Alemão..
18
É professor titular de História da Música e de Composição no Departamento de Música do Instituto de Artes
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
24
19
Palestra proferida no I Simpósio Brasileiro de Pós-Graduandos em música − XV Colóquio do Programa de
Pós-Graduação em música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), no dia 09 de nov.
de 2010.
20
O estadunidense José Antonio Bowen é reitor da Escola de Artes Meadows e professor de música na Southern
Methodist University. Escreveu um grande número de artigos científicos para revistas e ou periódicos de música.
25
para o conceito Letzter Hand [última mão]: a ideia de que um artista cria um texto
final, fixo, um texto imortal21 (BOWEN, 1999, p. 429, grifo do original).
21
Historically, the advent of a new symphony signified a new ideal in the phenomenological status of music. In
the eighteenth century, the composer was in charge of most of performances, making the score a less important
object, and music was, to a large extent, an event. In the nineteenth century, a new model of music as a work
evolved from Beethoven's 'finished' scores and the Letzter Hand concept: the idea that an artist creates a final,
fixed, immortal text.
22
Filósofo alemão da Escola de Frankfurt.
23
(…) the interpreter of contemporary works frequently has little or no personal choice, as he is forced to follow
the very strict directions of the composer.
24
Each performance (and each score) attempts to include the qualities which the performer (composer or editor)
considers essential to retain the identity of the musical work, along with additional interpretive or accidental
qualities which are necessary to realize a work in sound.
25
Violonista paulista, mestre em musicologia pela Universidade de São Paulo (USP), onde apresentou a pesquisa
sobre os dez estudos para violão de Radamés Gnattali.
26
Violonista que escreveu sobre O Estudo Da Técnica Violonística na Escola Carlevariana.
27
Violonista uruguaio, professor e autor de métodos de violão.
26
Carlevaro destaca que para uma boa qualidade sonora é preciso dominar: as cinco
formas de ataque [1.toque livre; 2.toque por fixação da última falange; 3.toque
utilizando a articulação entre o dedo e a mão; 4.toque por fixação dos dedos e
participação da munheca e braço; 5. toque por tímbrica, fixação da última falange
em ângulo]; ter controle da ação muscular; ter um bom formato e polimento da
unha; saber extrair do violão seus diversos matizes e timbres; e utilizar os recursos
da fixação (OLIVEIRA, 2008, p. 5).
Pretende-se, então, com a pesquisa, apresentar uma técnica para a mão direita cujos
benefícios para o universo do instrumento – seja para reprodução e ou, possivelmente,
criação de novas obras –, nos parecem relevantes. Fazemos nossas as palavras de Ricardo
Lobo Kubala32:
faz inúmeras reflexões sobre a interpretação musical. Desse modo pretende-se refletir sobre a
inter-relação entre o compositor, a obra e o instrumentista, o que certamente ajudará a
desenvolver o estudo da relação entre o compositor Radamés Gnattali, a obra o Concertino n.
2 e o instrumentista Garoto. O conceito de Adorno, no entanto, não resolve todas as questões
em destaque. Visto que a teoria da reprodução musical situa-se principalmente na filosofia
estética, não surpreende, portanto, que o aspecto técnico-instrumental fique pouco presente
nessas reflexões. Em função disso, uma terceira componente do instrumental teórico abordará
o conceito da linguagem idiomática inerente aos instrumentos musicais. Os trabalhos de
Huron e Berec, e Kubala serão importantes neste sentido.
Vale pautar, aqui, a abordagem teórica com a qual o sociólogo francês trabalhou a
sua teoria dos bens e capitais simbólicos sobre diferentes aspectos da sociedade. Com a
proposta teórica do parcelamento da sociedade em diferentes campos sociais, Bourdieu frisa a
presença da disposição por classe social incorporada em e por meio de um habitus particular.
Por consequência, quando trata da arte erudita, parte da ideia de que as pessoas envolvidas
nesse campo atuam de acordo com regras internas estabelecidas por ele, sendo o habitus o
mediador entre as estruturas e as práticas dos agentes. Assim, para o autor, a música é um
campo social.
Vejamos a questão do ‘uso, não-uso’, pelos violonistas, do dedo 5 da MD: a presença
das habilidades e regras técnicas instrumentais predominantes do violão estão circulando no e
através do campo da música erudita. É importante lembrar que, apesar da grande riqueza
composicional dos violonistas brasileiros como João Pernambuco, Garoto e Nicanor Teixeira,
por exemplo, a consolidação de uma técnica do instrumento no Brasil se deu por meio de
aulas, concertos e master classes de autores e intérpretes estrangeiros da música de concerto
que no Brasil estiveram a partir da primeira metade do século XX. Cumpre ressaltar, por sua
vez, – para citar alguns – os métodos do violão ‘clássico’ que aqui fixaram as proposições de
Dionisio Aguado33 (1924), Matteo Carcassi34 (2000), Emílio Pujol35 (1934-40-54-71), Isaias
Sávio36 (1947), Abel Carlevaro37 (1975). Assim, a técnica do violão de concerto que se
consolidou no país foi trazida pelas mãos dos estrangeiros ‘eruditos’, músicos violonistas e
professores com seus métodos para o instrumento. “Vale lembrar que a obra para violão de
Radamés Gnattali somente passou a ser incluída no repertório dos violonistas eruditos a partir
da segunda metade dos anos 70” (BRAGA, 2011)38.
Para Bourdieu o argumento do desejo erudito de diferenciar-se dos ‘inferiores’, com
o objetivo de estabelecer e preservar a autonomia, adquire, assim, maior ênfase. Como o autor
afirma, as regras estabelecidas ganham uma brutalidade que condena todos os recursos de
distinção não reconhecidos pelo campo. Em outras palavras, práticas, técnicas, ideias que não
33
Nuevo Método para Guitarra.
34
Compositor italiano e autor do Nuevo Método para Guitarra – opus 59.
35
Espanhol, autor do método Escuela Razonada de la Guitarra onde aplica os ensinamentos técnicos do seu
professor de violão, Francisco Tárrega. Esta é uma obra com mais de 400 páginas, composta de 4 volumes e
escrita entre os anos de 1934 a 1971.
36
Violonista uruguaio que residiu na cidade de São Paulo por muitos anos, onde lecionou e difundiu sua técnica
e métodos para o violao. Foi o criador do primeiro curso de violão erudito no Brasil, no Conservatório Musical e
Dramático de São Paulo, no ano de 1942. Um dos métodos que se pode citar é Escola Moderna do Violão: a
técnica do mecanismo.
37
Concertista e teórico da técnica violonistica, Nasceu no Uruguai. Escreveu, entre outros trabalhos, Serie
Didáctica para Guitarra: Cadernos 1 a 4.
38
Entrevista concedida ao autor em fevereiro de 2011.
33
estiverem em acordo com o cânon estabelecido no campo da música erudita não serão
reconhecidas, mas tratadas como meros artifícios. É o caso da não utilização da técnica do
Garoto.
A história recente de um modo de expressão, como por exemplo, a música, extrai o
princípio de sua evolução da busca de soluções técnicas para problemas
fundamentalmente técnicos, estritamente reservados a profissionais dotados de uma
formação altamente especializada, e aparece como a realização do processo de
refinamento que tem início desde o momento em que a música popular é submetida
à manipulação erudita de um corpo de profissionais (BOURDIEU, 1998, p. 114).
39
Para Bourdieu o capital cultural é tão ou mais poderoso que o capital econômico. Serve também para separar
os ‘cultos’ ou ‘eruditos’ dos simples ‘plebeus’ ou ‘não cultos’.
34
Por maiores que possam ser as variações da estrutura das relações entre as instâncias
de conservação e consagração, a duração do ‘processo de canonização’ (montado
por essas instâncias antes de concederem sua consagração) depende diretamente da
medida em que sua autoridade é reconhecida e capaz de impor-se de maneira
duradoura (BOURDIEU, 1998, p. 121-2).
40
Entrevista concedida ao autor em fevereiro de 2011.
41
The theory is neither able nor willing to develop all problems of interpretation in depth – they are infinite –;
but certainly to establish models for solutions. It will not save any work or effort. Every work of art is a monad;
there is no universal schema for overcoming these problems.
35
Porém, como lembra Frank Kuehn42 (2010, p. 747), observam-se nas ciências
humanas vários problemas no uso dos conceitos vinculados a esses tipos de traduções que,
além de ‘interpretação’ ou ‘reprodução’, na música também são discutidos sob o termo
performance. Kuehn ressalta, então, a importância de se fazer uma retrospectiva minuciosa da
obra do filósofo, sociólogo e teórico de música Theodor W. Adorno, um dos poucos autores a
elaborar questões sobre a produção, interpretação e ‘apresentação’. Soma-se o fato do filósofo
alemão ter dialogado fundamentalmente na intercessão dos campos da música praticada e da
filosofia estética de uma forma bastante enriquecedora. A partir dessa visão ampliada, Adorno
pode elaborar suas principais ideias sobre ‘reprodução musical’, pressupondo que elas
pudessem fornecer instrumentos que permitissem uma maior aproximação das concepções
sonoras de um compositor, de uma partitura e até mesmo de um ‘senso musical’, como
elemento que vai além do significado verbal.
Adorno acumulou, durante aproximadamente 40 anos (1925-1965), um grande
número de notas, esquemas, breves reflexões e rascunhos em relação à chamada ‘Teoria da
Reprodução Musical’. É provável que seu projeto fosse escrever um livro teórico, que acabou
não se realizando. Apesar da importância desse material para os estudiosos do fazer musical,
tanto quanto para musicólogos, somente em 2001 publicou-se uma compilação de todos esses
fragmentos. O livro foi editado primeiramente em alemão, Zu einer Theorie der
musikalischen Reproduktion: Aufzeichnungen, ein Entwurt und zwei Schemata, e só
posteriormente foi traduzido para o inglês43. Trata-se de uma obra claramente inacabada e
suspensa, o que torna, em primeiro lugar, sua leitura mais complexa, uma vez que as reflexões
se apresentam de modo desordenado e o texto, portanto, formalmente desvinculado; em
segundo lugar, e diretamente relacionado a essa fragmentação, abre-se a necessidade de uma
inspeção aos processos de reflexão do autor. Significa dizer, no caso de Adorno, uma
recorrente preocupação com o ‘ser’ da música – a materialização de um paradoxo
aparentemente insolúvel. Cada vez que se pensa ter achado o senso musical, ele já não é mais.
O desafio da interpretação que deriva desse dilema, remete o filósofo a uma posição onde não
é possível formular todas as respostas em relação aos problemas da interpretação. Também,
segundo Adorno, isso não seria nem possível nem desejável. Parte-se do pressuposto, então,
de que a ‘reprodução musical’ está situada nessa tensão, ou seja, nessa multiformidade
42
Músico e pesquisador berlinense. Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Letras e
Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (2009).
43
ADORNO, Theodor W. Towards a Theory of Musical Reproduction. UK: Polity Press, 2006.
36
produtiva e transformadora (KUEHN, 2010, p. 747), aliás, o que nos interessa, em particular,
para esta pesquisa.
Apesar das questões da indústria cultural estarem quase sempre presentes na obra de
Adorno, nos apontamentos em questão não há reflexões teóricas sobre o tema. Os conceitos e
abordagens em desenvolvimento nesse livro remetem, quase completamente, à tradição
vienense dos séculos XIX e XX. Dessa maneira, a teoria da reprodução musical sempre
implica num sistema que está baseado em uma forma estabelecida na partitura. Para Adorno,
portanto, é somente a partir dela que decorrem as realizações sonoras que podem representar
uma interpretação adequada. Ainda que a partitura musical nunca possa figurar, ou indicar,
toda essência da música, Adorno reconhece suas potencialidades dentro e nas margens dela.
Convém notar que o filósofo era também compositor e pianista apaixonado, e isso se reflete
no modo como vincula e ultrapassa as fronteiras sustentadas entre a técnica e a composição.
Assim, é correto afirmar, como ressalta Kuehn (2010, p. 747), que em Adorno a
partitura ganha um papel muito mais ativo e dinâmico, visto que no conceito de reprodução
musical está contido, de certo modo, o objetivo de desenvolver uma técnica analítica, que
Adorno denomina por ‘fotografia raio-x da obra’ (2006, p. 159). Dessa forma convergem os
elos implícitos na obra que se traduzem em manifestações sensoriais. Significa dizer, em
outras palavras, que qualquer parte ou detalhe da obra ganha sua função em relação ao pleno,
à totalidade, e vice-versa.
O pleno se torna perceptível unicamente como consequência dos detalhes
adequadamente apresentados, e é precisamente a partir dessa constatação que se processa a
conexão com o presente trabalho. Para Adorno devem entrar – na ‘fotografia raio-x da obra’ –
todos os detalhes técnicos, uma vez que são parte intrínseca da experiência sensorial do pleno
e que o intérprete deve captar. A clara defesa de Adorno sobre este ponto em sua ‘teoria da
reprodução musical’ encontra, na presente pesquisa, seu ponto de ligação, o que torna,
portanto, imprescindível aprofundar.
Interpretação e História
Ao contrário de outros teóricos, Adorno reconhece uma dialética entre história e obra
musical. Esse reconhecimento, talvez difuso em uma primeira leitura, começa com a
observação crítica de que a maioria dos teóricos partia na busca da “interpretação verdadeira”
(ADORNO, 2006, p. 164). As raízes dessa concepção, de acordo com Adorno, encontram-se
num conceito antigo e dominante: compreender a transformação histórica segundo a ‘lei da
natureza’ que fornece, simultaneamente, a base para poder captar o tempo passado de uma
37
44
Sobre a regência. A obra, publicada por Wagner em 1869, para o Neue Zeitschrift für Musik, trata, em poucas
páginas, da arte da regência, e foi reimpresso em 1870. Sem ser um tratado propriamente didático sobre regência,
contém inúmeras observações acerca do fazer musical.
45
Wagner’s theory encompasses the conclusion that the truth of interpretation does not lie within history as
something that is alien to it and helpless against it; it is rather history that lies within the truth of interpretation as
something that unfolds according to the latter’s laws.
46
All music-making is a recherche du temps perdu.
38
música. Uma poesia, por exemplo, poderá ser interpretada, mas sua interpretação não é
indispensável, uma vez que sua forma intrínseca pode ser ‘sensorialmente captada’, não
precisa, portanto, de uma interpretação que a transponha, uma característica que a música em
forma escrita (partitura) jamais poderá alcançar sem a performance (ADORNO, 2006, p. 167).
Para Mário Vieira Carvalho48, buscando esclarecer essa relação entre música e escrita
em Adorno, “a música só se constitui verdadeiramente como texto através da interpretação”
(2007, p. 23).
47
The fundamental difference between musical reproduction and translation from a foreign language, however,
lies in the fact that music requires interpretation to this day, whereas literature has no need of a translator. An
untranslated poem loses nothing of its beauty, (…). A score, however, which is radically removed from the
possibility of its performance at once seems senseless in itself.
48
Mário António Pinto Vieira de Carvalho nasceu em Portugal na cidade de Coimbra. Professor Catedrático de
Sociologia da Música na Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
39
Nunca e em passagem alguma [an Keiner Stelle] o texto musical notado é idêntico à
obra; antes é sempre necessário captar, na fidelidade [Treue] ao texto, aquilo que ele
oculta dentro de si. Sem tal dialéctica, a fidelidade transforma-se em traição
(ADORNO51 apud CARVALHO, 2007, p. 22-3).
Assim, para Adorno, o sentido musical é encontrado pelo intérprete que mergulha
neste texto musical, pois o sentido não se revela somente pela leitura das notas, é preciso
construir-se a partir dele próprio. Um acréscimo de subjetividade, então, é substancialmente
necessário para desenvolver uma “objetividade de introspecção”. Claramente, Adorno toma
de empréstimo essa ideia do próprio romantismo – “o componente subjetivo da objetividade é
a interpretação”52 (ADORNO, 2006, p. 65) –, mas, concomitantemente, quer distanciar-se
49
the work changes and disintegrates before the ideal of its own truth – this is the secret of its inner historicity.
50
The objectivity of reproduction presupposes depth of subjective perception, otherwise it is merely the frozen
imprint of the surface.
51
ADORNO, Theodor W. Bach defendido contra os seus adeptos. In: Prismas: crítica
cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 1998. p.131-144.
52
The subjective component of objectivity is interpretation.
40
dela. A chave para poder entender esse posicionamento tem base, mais uma vez, na crítica ao
historicismo. Ao passo que o romantismo de Wagner pressupunha uma verdade real e
histórica de cada obra, revelando-se por meio da interpretação musical, Adorno argumentava
que aquela verdade histórica não era mais do que uma máscara, que velava a natureza fugitiva
e irrecuperável do momento histórico-musical, e conclui assim essa observação: “A
verdadeira interpretação é uma ideia estritamente pré-definida, mas que, por causa da
antinomia fundamental da arte musical, deve seguir sendo essencialmente irrealizável”53
(ADORNO, 2006, p. 55). Braga (2011) acrescenta que “isto é a própria história, como ela
deve ser tomada pelo historiador: irrealizável em sua suposta ‘realidade’”.
53
True interpretation is a strictly predefined idea, but one that, for the sake of art music’s fundamental antinomy,
must remain essentially unrealizable.
54
The epitome of all that is unambiguously given through symbols.
55
Mimic, mimetic or gestural.
41
O modelo citado funciona como ponto de partida, ou seja, uma espécie de bússola
para a interpretação. Segundo Adorno, os elementos interagem dialeticamente: “A tarefa da
interpretação musical é transformar o elemento idiomático para o nêumico por meio do
mensural. A origem é a meta. Teses do meu livro”56 (ADORNO, 2001, p. 67). Em outras
palavras, encontra-se, mais uma vez, a evidência de que todo método ou ato de interpretação
começa com um documento escrito e formalizado (entendido aqui como sinônimo do
mensural). O segundo passo, então, consiste em ‘entender’, ou melhor, ‘transformar’ certa
língua musical a qual, em si, varia relativamente conforme a tradição ou o compositor (o
idiomático). Essa transformação, porém, só é possível desejando-se atingir o elemento
neumático; sendo este último e o idiomático os elementos mais criativos do processo. Vale
lembrar que ao se referir a ‘criativo’, Adorno diferenciava de ‘verdadeiro’ posto que, assim, a
tarefa não é a da busca a uma ‘fidelidade’ ao texto, mas a ‘representação’ da obra que é, em
síntese, a ‘intenção da música’ sintetizada no texto (ADORNO, 2006, p. 68-71). O autor cita
alguns exemplos das ‘obsessões’ de Schumann ou Chopin, que demonstram o espírito
daquelas músicas que vivem na fusão dos elementos neumático e idiomático57. Kuehn
escreve:
56
The task of musical interpretation is to transform the idiomatic element into the neumic by means of the
mensural. ‘The origin is the goal’. Theses of my book.
57
Vale lembrar que Adorno tinha ciência de que a música não poderia ser entendida como um equivalente da
língua. Ainda assim não consegue evitar comparações e uso de modelos da linguística, dizendo que “a coisa mais
próxima a ela [música] é provavelmente o dialeto. Música não é linguagem, mas tem dialetos, e sua essência está
incorporada pelo conceito do idiomatismo” (ADORNO, 2006, p.69).
42
Cabe ressaltar que Adorno não buscava nas partituras autógrafas o rigor de suas
datações, localizações etc, como faziam os românticos, mas aquilo que se pode chamar de
“escrita original” de um compositor (CARVALHO, 2007, p. 30), no que nelas poderia deixar
ver do gestual da música, do elemento mímico, que a partitura impressa oculta em parte. A
partitura autógrafa de Radamés, do Concertino n. 2, nos faz revelar um importante dado desse
gestual e, compartilhamos, assim, da mesma forma, as sensações expressas por Adorno
quando afirma se ver nelas assinaladas “todo rir e chorar, toda afirmação e negação”
(ADORNO, 2006 apud CARVALHO, 2007, p. 30).
O modelo em discussão posto pelo autor nos leva, novamente, ao ‘ser’ da música.
Adorno o vê como o “terceiro elemento”, ao lado do elemento visual (o que “é”) e do
elemento escrito (o que “descreve, significa”). Portanto, o texto musical permanecerá, para
sempre, na “não-intencionalidade” (ADORNO, 2006, p. 4), porque a raiz da música é
mimética e desata-se continuamente. Para melhor compreendê-la, Adorno faz uma
comparação com o teatro da antiguidade clássica. Entendida como tendo um caráter
processual-criativo permanente, a reprodução genuína:
58
(…) is not simply a realization of the analytical results. (...) musical notation is not simply a sign system, but
rather a model for imitation (...) analysis must uncover the intended object of imitation, as yet locked within the
text; but imitating it still remains the task of reproduction, and demands the element of spontaneity.
59
Músico vienense. Estudou teoria e composição com Anton Webern e piano com Eduard Steurmann.
43
‘substância elusiva da música’. Adorno questiona, entretanto, que o texto musical seja
reduzido somente a esta função. Para o filósofo:
É algo que aponta precisamente para os distúrbios desse estado orgânico no qual a
memória está em casa, e onde a distinção entre o agora e o antes não está
firmemente estabelecida. (...) A notação musical é um elemento de disciplina. Se
despoja da memória mediante o apoio desta60 (ADORNO, 2006, p. 52, grifo do
original).
60
It rather points to precisely the disturbance of that organic state in which the memory is at home, and where
the distinction between now and before is not firmly established. (...). Musical notation is an element of
discipline. It dispossesses the memory by supporting it.
61
All reification is a forgetting’– making available what has passed at once makes it irretrievable.
62
É preciso lembrar neste momento a ameaça da “indústria cultural” no palco da música que Adorno diagnostica
no presente.
63
Rationalization, the condition for all autonomous art, is at once its enemy.
44
Performance e Técnica
A música, na visão de Adorno, torna-se relativamente independente, mas isso não
pressupõe que não existam uma interpretação ‘correta’ e uma interpretação ‘errada’. É a busca
de uma reflexão que chegue às precondições inerentes à obra, que resulta na habilidade de se
diferenciar o que é ‘correto’ e o que é ‘falso’.
O aspecto histórico é, então, destacado por Adorno, que lembra que toda época
conhecia seus próprios modos não só de escrita, mas também de execução, ou seja, no
momento da reprodução musical. Este pensamento do filósofo é acompanhado pelo
musicólogo José Bowen:
64
There is an absolutely correct interpretation, or at least a limited selection of correct interpretations, but it is an
idea: it cannot even be recognized in its pure state, let alone realized. The measure of interpretation is the height
of its failure. (...). Even if true interpretation is unknown and unrealizable – the incorrect kind can always be
sensed concretely.
65
The gap between performances and scores was wider in the eighteenth century than it usually is today. Since
all performers were trained in composition (so much so that the distinction between performers and composers
was often virtually non-existent), a 'composer' could assume that any 'performer could 'realize' not only a figured
bass, which was an explicit shorthand, but a melodic line, which was an implicit shorthand.
45
O piano (…) não faz o que desejo que faça, mas ao mesmo tempo sempre está
dizendo: assim é como pode ser, assim é como deve ser, ou seja, o piano é um
elemento da imaginação, outras vezes também é corretivo66 (ADORNO, 2006, p.
130).
66
The piano (...) does not do what I would like it to, but at the same time it is always saying: this is how it can
be, this is how it should be, i.e. it is itself in turn an element of the imagination, at times also its corrective.
67
Conceito desenvolvido pelo sociólogo Pierre Bourdieu, já comentado anteriormente nesta pesquisa.
46
Adorno pareceria preferir os maus aos bons instrumentistas, já que os elementos imaginativo-
analíticos se mostravam mais importantes do que qualquer tipo de técnica. Adorno respondeu
ser isto “nonsense, of course” e complementa que as escolhas dos sons, tocando tecnicamente,
precisam fluir livremente de acordo com as necessidades da composição. (ADORNO, 2006,
p. 111). Mais além, demonstrou, ainda, as múltiplas conexões entre o elemento neumático e a
técnica instrumental: as músicas para piano de Beethoven, por exemplo, foram concebidas
nos dedilhados de piano, em outro instrumento entrariam em conflito com o sentido musical
do autor (ADORNO, 2006, p. 74). Assim, o aspecto técnico, desde Wagner, ganhou um papel
constitutivo, sobretudo na realização máxima do timbre, onde se tornou também uma fonte da
produtividade composicional.
Este importante papel da técnica – que Adorno comenta em poucas páginas – passa,
em seguida, para as habilidades do músico. Para ele, um bom instrumentista deveria possuir
livre controle de todos os meios sonoros em conformidade com a obra (ADORNO, 2006, p.
100), pois o desenvolvimento da técnica representava, inevitavelmente, um caminho para
atingir a liberdade – pré-requisito para se captar o ‘ser’ da música. Vale lembrar que Adorno
situa a técnica como parte da análise profunda da obra: ela é, por parte do instrumentista, tão
necessária quanto a contribuição intelectual. Assim, a técnica forma parte do procedimento da
‘fotografia raio-x’, como já mencionado anteriormente. Dito isso, novamente remetemos ao
Concertino n. 2 de Radamés Gnattali, onde a obra requer do violonista pleno domínio da
técnica do 5 da MD. Faz-se necessário, então, um estudo diário do intérprete para que alcance
plena fluência ao utilizar o mínimo da mão direita na obra de Gnattali, para que obtenha,
dessa forma, minimamente uma performance nos moldes requeridos pelo autor.
Finalmente, Adorno enxerga o aspecto do hábito corporal-técnico que caracteriza a
maioria dos músicos profissionais. Argumenta, então, que:
(...) toda autêntica apresentação tem um certo senso de transformar a saída de som
do piano, de jogar corporalmente, por assim dizer, desde o interior do piano. Isto é o
68
And since Wagner’s emancipation of the timbre, instrumental techniques have themselves become a source of
compositional productivity, (...); analysis must rather determine the value of playing techniques in a given
musical context, and the rendition must then take shape accordingly.
47
Adorno, porém, reconhece as limitações desses hábitos corporais que fazem parte do
tocar tecnicamente o instrumento, e afirma que no piano os dedos do instrumentista
profissional fluem automaticamente, tanto técnica como metaforicamente em relação ao senso
musical. Essa automatização corporal-técnica, por sua vez, apresentava-se como ameaça para
uma interpretação ‘correta’, visto que toda obra revela suas próprias intenções sonoras.
Adorno chama atenção, neste raciocínio sobre a técnica, para a necessidade de se quebrar com
hábitos técnicos caso a obra exija, pois o procedimento do músico consiste em uma aliança do
si com a obra, atuando ‘contra o si’, ou seja, o subjetivo automatizado (ADORNO, 2006, p.
131). Essas reflexões de Adorno permitiram-nos desenvolver muitos dos aspectos inerentes ao
aparecimento no Concertino n. 2 da exigência de aplicação do dedo mínimo da mão direita.
Encaixam-se perfeitamente na obra citada de Radamés Gnattali, onde se requer que o
intérprete quebre com os hábitos técnicos violonísticos tradicionais ao escrever explicitamente
seu desejo da aplicação do 5 da MD nos três movimentos da obra. A historicidade interna do
Concertino n. 2 remete à história da técnica violonística. Segundo Braga (2011)70,
“provavelmente Garoto não foi o único no seu tempo a utilizar o mínimo da mão direita.” De
fato, pode-se comprovar através de entrevista com Zé Meneses (como se verá mais à frente)
que ele também aplicava e continua aplicando o 5 para a realização de acordes.
69
(...) all genuine presentation has a certain sense of hewing the sound out of the piano, of playing corporeally,
as it were, inside the piano. This is what defines a pianist, and this is precisely what I lack.
70
Entrevista concedida ao autor em fevereiro de 2011.
71
(…) the mechanics of musical instruments commonly influence how the music itself is organized.
48
Kubala, na sua pesquisa, também apontou, como se viu, para a existência necessária
do ‘diálogo íntimo’ entre o compositor e o instrumentista, o que é, enfim, uma situação que se
apresenta no exemplo histórico de Radamés Gnattali e de Aníbal Augusto Sardinha no
período em que trabalharam juntos na Rádio Nacional, mais especificamente na primeira
metade do século XX72. Nesse sentido, pretende-se lembrar das habilidades, competências
culturais – a técnica ou a linguagem - do músico Aníbal Augusto Sardinha na obra Concertino
n. 2 de Radamés Gnattali. Aparentemente consciente da riqueza sonora que o uso do dedo 5
pode proporcionar, Gnattali incorpora este procedimento técnico na partitura da obra citada.
Dessa maneira, a indicação do 5 deve ser entendida como idiomática, visto que foi, também,
um aspecto técnico que orientou a escrita do compositor Radamés Gnattali. As diversas
possibilidades sonoras específicas de um determinado instrumento não vêm necessariamente
assinaladas nas indicações de uma partitura, mas são fundamentais em todas as etapas da
‘reprodução musical’. É um conjunto de aspectos técnicos e de linguagem que ajudam a
formar as características peculiares de um instrumento, ou seja, o seu idiomatismo. Por
consequência, acha-se importante especificar o argumento do idiomatismo no âmbito dos
aspectos técnicos do violão: longe de realmente supor o uso do dedo 5 como parte integrante
da linguagem violinística atual, pretende-se dar ênfase às conclusões de Kubala, uma vez que
aponta para uma compreensão tanto mais processual como dinâmica do idiomático. Em outras
palavras, a colaboração aprofundada entre o compositor e o instrumentista apresenta-se como
72
Isto é o que será tratado no capítulo 5, uma troca de informações entre o compositor e o intérprete.
49
motor de inovações, quer dizer, descobertas capazes de entrar no conjunto de gestos inerentes
ao idiomatismo já estabelecido, no habitus do músico. Dessa maneira, o pressuposto de
Adorno de que era preciso uma aliança do ‘si’ com a obra deve ser ampliado por um momento
menos filosófico: a vivacidade da música, simplesmente estabelecida pela troca criativa entre
o compositor e o instrumentista. Esta representa, finalmente, a chave precisa para desafiar as
tendências sociais de ‘fechamento’ da música erudita, e, assim, então, possibilita a entrada de
inovações técnicas frutíferas.
73
Uma das técnicas da música flamenca que consiste em tocar todas as cordas do violão, ou algumas delas,
utilizando, normalmente, todos os dedos da mão direita, inclusive o mínimo.
74
Violonista espanhol nacionalizado argentino em 1907. No campo da investigação histórica escreveu a obra o
Dicionário de Guitarras, Guitarristas y Guitarreros, além do método de violão La Nueva Técnica de la Guitarra
para la práctica de los cinco dedos de la mano derecha.
75
Charles Postlewate é estadunidense, do Estado do Texas, e escreveu o livro Right-Hand Studies for Five
Fingers (estudos para os cinco dedos da mão direita) na década de 1980, além de outros que tratam do mesmo
tema. Ainda, quase três décadas depois, é um método pouco conhecido no meio acadêmico brasileiro.
50
76
Esta obra foi publicada pela primeira vez em Madri no ano de 1825, sendo posteriormente traduzida para o
francês e diversas outras línguas.
77
Abel Carlevaro, didata uruguaio, complementou as proposições técnicas de Aguado com execuções onde,
além de eliminação do apoio no tampo, mantinha o dedo mínimo esticado. Na sua atuação instrumental,
Carlevaro utilizou tal procedimento, porém “não deixou qualquer esclarecimento escrito a esse respeito”
(SOUZA BARROS, 2008, p, 51).
51
78
Entende-se por abdução o afastamento dos dedos da mão direita. Por exemplo, ao se tocar a nota sol (terceira
corda) com o indicador e a nota mi (primeira corda) com o dedo médio ocorrerá uma abertura, um afastamento
entre estes dedos.
52
53
Nas edições desta obra não aparece a sinalização do 5. Como não se teve acesso ao
manuscrito desconhece-se se o autor lá o digitou. É possível que os editores, por não ser uma
técnica reconhecida no campo social da música erudita, tenham se decidido por não sinalizar
o referido dedo.
Domingo Prat, no prefácio do seu método La Nueva Técnica de la Guitarra para la
práctica de los cinco dedos de la mano derecha refere-se a Aguado:
Dionisio Aguado em seu primeiro método completo publicado no ano de 1820 (sic)
página 118, diz para se fazer um estudo com os cinco dedos da direita: esse estudo é
o que aparece na página 52 da edição publicada em Madri no ano de 1843; nas
páginas 96 e 97 da edição Lemoine et fils, Paris; e na página 132 da edição Breyer –
Ricordi. Recordando Aguado, se não o músico, mas sim o muito respeitado, até
hoje, grande didata, no seu Apêndice, página 10, parágrafo 2º disse “... Também
serve a direção e fixides desses dedos, quando se faz uso do anular e ainda do
mínimo...” e finaliza esse parágrafo com a seguinte chamada... [2], disse assim:
“Bem considero a violência que custa conseguir que os dedos anular e mínimo
pulsem com alguma energia as cordas, se a mão tem de conservar a postura que
tenho explicado; não obstante, tendo feito a experiência com meus discípulos,
verifiquei que essa dificuldade é vencível” isto é o que se lê na SEGUNDA SEÇÃO,
CAPÍTULO II, ARTIGO II, parágrafo 2º e pé de página [2], no importantíssimo
54
apêndice, que muitos não lêem e a edição LEMOINE ET FILS suprimiu79 (PRAT,
1951, p. 1, grifo do original).
Aqui, além das considerações que Aguado tece sobre o 5, percebe-se, novamente, o
poder das ‘instâncias de difusão’ – tratadas por Bourdieu – ao suprimirem um importante
apêndice ao método. As instâncias de ‘conservação’ e de ‘difusão’ por não reconhecerem o 5
como integrante da técnica violonística acabam por sacramentar sua perda de potencialidade.
79
Dionisio Aguado en su primer método completo publicado en el año 1820, página 118, ordena hacer un
estudio con los cinco dedos de la derecha: este estúdio, es el que está en la página 52 de la edición publicada en
Madrid el año 1843; en las páginas 96 y 97 de la edición Lemoine el fils, Paris; y en la página 132 edición Breyer
– Ricordi. Recordando a Aguado, si no al músico pero si al muy respectable hasta hoy, gran didacta, en su
Apêndice, página 10, parágrafo 2º dice “...También sirve la dirección y fijeza indicada de estos dedos, cuando se
hace uso del anular y aún del pequeño...” y finaliza este párrafo con esta llamada... (2) dice así: “Bién considero
la violencia que cuesta conseguir que los dedos anular y pequeño pulsen con alguna energia las cuerdas, si la
mano ha de conservar la postura que llevo explicada; no obstante, habiendo hecho la experiencia en mis
discípulos, he visto que esta dificultad es vencible” esto es lo que se lee en la SECCION SEGUNDA,
CAPITULO II, ARTICULO II, párrafo 2º y llamada (2) del muy importante apêndice, que muchos no lo leen y
la edición LEMOINE ET FILS ha suprimido.
80
Essa técnica será explicada no capítulo 4.
81
Violonista e professor de violão. Autor do método A Escola de Tárrega.
82
Violonista espanhola, aluna de Francisco Tárrega, lecionou no Brasil na década de 20.
55
Este parecer de Soares corrobora a afirmativa de que o 5 era e continua sendo usado
principalmente como fortalecedor da MD, não para a performance como dito anteriormente.
Prat, na apresentação do seu método, escreve:
Faz um século que se colocou sob o tapete o uso do dedo mínimo no violão em
igualdade com os demais dedos, talvez os oásis sofridos no cultivo desse
instrumento, desde a ausência de Aguado até o presente, sejam a razão, mas não é
perdoável deixar esse tesouro sem explorar num empório de violão como a
Argentina, em particular Buenos Aires que não se iguala nenhuma população83
(PRAT, 1951, p. 1).
Jamais vi qualquer mão normal que esteja em estado de repouso, que se conserve
semifechada, abrir do indicador para o mínimo, e ao contrário, toda mão que estiver
com os dedos esticados, bem abertos, se fechará do mínimo para o indicador. Faça o
teste. Quando uma mão está em seu estado natural, segundo a lógica, o dedo que se
segue ao polegar será o mínimo. Quais são as razões para que os autores que
escrevem trêmulos digitem com os dedos p, a, m, i? Todos eles, sem suspeitarem,
afirmavam essa minha teoria. Para concluir, nem sempre passamos de uma corda
inferior para outra superior (do grave para o agudo) com os dedos i, m ou m, a, mas
também fazemos e recomendamos com m, i ou a, m, que são os dedos consecutivos;
uma vez que pulsamos de uma corda a outra, a imediata, com m, i, ou a, m, a fim de
evitar repetições de um mesmo dedo, também podemos realizar com três ou quatro
dedos respectivamente84 (PRAT, 1951, p. 1).
A sensação para a técnica invertida é a mesma que se tem ao iniciar o estudo do 5.85
Numa primeira tentativa parece sem sentido, mas com pouco tempo de exercícios percebe-se
seus benefícios, além de se estar usando um gesto ergonomicamente preciso e fluente.
86
Estudos para os cinco dedos da Mão Direita.
87
Pasará a la historia de la guitarra..
88
Concertista e autor do método para violão Kitharologus.
89
(...) una notable contribución que merece ser estudiada por todos los guitarristas.
90
Antologia da música contemporânea para violão solo: para os cinco dedos da mão direita.
91
Antologia de Estudos do século XIX para os cinco dedos da mão direita.
57
3 – Right-Hand Studies for Five Fingers92. Usando acordes, arpejos, trêmulos e harmônicos,
percorre nas 56 páginas mais de 350 estudos criados para o treinamento da mão direita dos
violonistas clássicos. Estes estudos desenvolvem a técnica dos cinco dedos começando com
uma combinação do polegar com mais um dedo e vai seguindo em progressão crescente até
que sejam incorporados todos os demais. Os estudos se apresentam numa fácil progressão de
acordes para a mão esquerda.
4 – Homage to Villa-Lobos and Other Compositions93. Com 96 páginas, o livro apresenta,
além do CD com as composições gravadas por Postlewate, as suas digitações com a inclusão
do dedo mínimo da mão direita. Todas estas composições apresentam novas técnicas, dos
cinco dedos, para tocar escalas, acordes, arpejos, trêmulos e harmônicos.
Numa breve aproximação ao método de Postlewate, em especial ao Right-Hand
Studies for Five Fingers, aqui citado, percebe-se um trabalho de maior envergadura sobre o 5.
Além de apresentar uma infinidade de exercícios, todos direcionados para o desenvolvimento
da técnica, o autor complementa o trabalho com exemplos para a performance de obras de
compositores como Heitor Villa-Lobos, Fernando Sor, e Federico Moreno Torroba.
Destacamos um exemplo ilustrativo, retirado dessa obra, conforme a Figura 3.
92
Estudos para os Cinco Dedos da Mão Direita. Este volume também pode ser adquirido com um DVD de mais
de duas horas de duração, com explicações detalhadas da técnica e com diversas imagens, sempre em primeiro
plano, da MD.
93
Homenagem a Villa-Lobos e outras composições.
58
Embora este livro termine aqui, não há nenhuma conclusão sobre o desenvolvimento
da mão direita. Espera-se que as ideias e os exercícios nesta obra apresentem uma
base para o violonista no processo inacabável de melhorar a técnica da mão direita94
(POSTLEWATE, 2001, p. 56).
94
While this book ends here, there is no conclusion to right hand development. It is hoped that the ideas and
exercises in this work present a basis for the guitarist to continue the never-ending improvement of right hand
technique.
95
The training of the right hand little finger (e, after the second letter in the Spanish noun ‘menique’) will
become more and more an integral part of guitar technique.
96
Regular training of E should be undertaken to improve freedom and dexterity of the articulation of A, as well
as for the general strengthening of the outer part of the hand. Without this work on E, the outer part of the hand
might atrophy, therefore weakning it as whole.
59
b) Eduardo Castañera
Eduardo Castañera97, na recente edição do seu Método de Violão, de 2005, abordou a
referida técnica:
A sugestão do exercício inclui o dedo mínimo pelo fato da musculatura dos dedos
anular e mínimo estar estreitamente interligada, o que condiciona a velocidade do
dedo anular ao tônus e mobilidade do dedo mínimo. Com frequência se fala das
limitações de atuação do dedo anular quando comparado aos dedos indicador e
médio. Isso acontece porque se costuma utilizar o dedo anular como fosse uma peça
independente. Na realidade, ele atua sempre em conjunto com o dedo mínimo que,
involuntariamente, lhe opõe resistência aos movimentos. No entanto, quando
devidamente treinado, o dedo mínimo pode servir como reforço ao aparato motor do
dedo anular (CASTAÑERA, 2005, p. 14).
97
Castañera nasceu em Buenos Aires. Na década de 70 estudou com Abel Carlevaro. Atualmente é professor na
capital gaúcha, Porto Alegre.
98
O autor do presente trabalho foi seu aluno durante o citado festival.
60
O 5 − simbolizado pela letra ‘c’ − aparece nas frases descendentes, como está
apresentado no segundo compasso.
Agora, um exemplo de José Menezes, ver Figura 5110.
99
José Menezes (mais conhecido como Zé Menezes), cearense, é compositor e multi-instrumentista,
companheiro e parceiro musical de Radamés Gnattali.
100
Laurindo de Almeida, paulista, violonista e amigo de Radamés Gnattali.
101
Violonista concertista. Foi diretor do Museu Villa-Lobos e atualmente é o presidente da Academia Brasileira
de Música.
102
Violonista mineiro, criador de um modo próprio de harmonizar e tocar o violão.
103
Compositor multinstrumentista..
104
Violonista popular, amigo de Radamés Gnattali.
105
Violonista carioca, integrante do regional ‘Tira Poeira’ e violonista flamenco.
106
Músico ucraniano, professor de violão na Escola de Belas Artes de Praga.
107
Piñero é cubano, doutor em Ciências da Arte, professor e compositor em Havana.
108
Violonista japonês.
109
Compositores brasileiros.
110
Este exemplo foi retirado da entrevista semiestruturada realizada pelo autor deste trabalho no ano de 2010.
61
Já uma situação que chama atenção na obra de Stepan Rak, no que diz respeito à
questão técnica, é o fato de que em duas obras utiliza uma digitação que remete à técnica de
Domingo Prat, a técnica da MD invertida. Não se pôde afirmar se de uma maneira consciente
ou não. Estas obras são The Czech Fairy Tales e Song for David111, compostas nas décadas de
1980 e 1990. Na Figura 6 um exemplo de Song for David.
Nota-se então que nesta digitação o resultado técnico está em função de o movimento
começar com os dedos mais externos da MD e não pelo médio, como é usual. A digitação
padrão seria: polegar, médio, indicador e anular e não a apresentada na Figura 6. Para melhor
exemplificar a técnica proposta por Domingo Prat apresenta-se uma digitação ‘usual’ de
arpejo e uma digitação ‘invertida’ conforme a Figura 7. No primeiro exemplo também é usual
a substituição do médio pelo indicador na nota Mi 4 do segundo tempo, dependendo
unicamente da decisão do intérprete.
Figura 7. ‘Exemplo da técnica usual e da técnica invertida’, Bartolomeu Wiese, c. 1(usual) e c. 2 (invertida).
111
Os Contos de fada tchecos e Canção para David, respectivamente.
62
porém pensa-se que Prat deixa de aplicar no segundo tempo o movimento natural de fechar a
mão através do anular, médio e indicador112. Rak é categórico com relação à técnica do 5 da
MD:
(...) eu tenho usado a técnica dos cinco dedos da mão direita, e aplico também para
todos os meus alunos, e através deles, com a sua ajuda, para as crianças que estão
começando os estudos do violão. (...) Eu penso que isto é revolucionário113 (RAK,
2010).
Pela análise comparativa das digitações dos Estudos selecionados nas demandas
técnicas (...) conclui-se que as transformações ou mudanças de concepção nas
demandas técnicas de mão direita nas duas abordagens didáticas consistem,
basicamente, no uso do dedo anular com igualdade de condições em relação aos
dedos indicador e médio. Dessa forma, o dedo polegar é poupado de realizar saltos
para cordas distantes e geralmente desempenha uma só função na música.
Tannenbaum faz um interessante comentário a respeito do uso do dedo anular:
“texturas não são mais limitadas a três vozes, e os instrumentistas de hoje precisam
112
Esta questão será aprofundada no desenrolar deste trabalho.
113
(…) I have been using five-finger techniques in the right hand, and I apply this to all of my students, and
through them, with their help, to young children just starting the guitar. (…) This is quite revolutionary, I think.
114
Solos de minuto.
63
de um dedo anular forte para dominar o repertório” [1991, p. 5]. Nos acordes de três
sons, com o uso do dedo anular, podem ser evitados os afastamentos entre os dedos
imediatos e as mudanças de ângulo de ataque da mão direita (ALVES, 2005, p.
148).
115
Violonista estadunidense, professor e autor de métodos para violão. Ver seu trabalho sobre Fernando Sor: The
Essencial Studies: Fernando Sor’s 20 Estudios. San Francisco: Guitar Solo Publications, 1991.
116
Entrevista concedida ao autor em fevereiro de 2011.
117
Bandolinista, autor do primeiro método para o bandolim brasileiro, compositor e fundador do regional Galo
Preto.
118
Entrevista concedida ao autor em abril de 2011.
64
confirma que aprendeu a digitação de ‘Lamentos do Morro’ de Garoto com ele. Essa digitação
está exemplificada na Figura 34. Nin também utiliza o 5 para a realização de acordes e
rasgueos.
65
66
119
Violonista, guitarrista, compositor e arranjador nascido na cidade de São Paulo..
120
Entrevista concedida ao autor em fevereiro de 2011.
67
Primeiro Movimento
No primeiro movimento – Allegro moderato –, no compasso 27, aparece a primeira
indicação digitacional do compositor de como atuar com a mão direita. Repete a instrução no
compasso 28, conforme a Figura 9.
121
O leitor irá observar que num determinado momento a sinalização do 5 será substituída pela consoante c
(primeira letra da palavra cinco), mas que continuará simbolizando o mínimo. Optou-se por esta mudança por
perceber-se que o número 5 acaba confundindo-se com os signos utilizados para a digitação da mão esquerda,
que recebem os números 1, 2, 3 e 4 para os dedos indicador, médio, anular e mínimo, respectivamente. Assim, o
5 somente será utilizado no Concertino 2, respeitando dessa forma a escrita de Gnattali.
68
Segundo Movimento
No segundo movimento – Saudoso –, nos cinco primeiros compassos, sobre um
acorde de Si bemol diminuto com sétima maior e décima terceira menor, Gnattali emprega o
dedo mínimo. Ver Figura 11.
Neste movimento Gnattali foi ainda mais explícito quando assinalou no primeiro
compasso e no primeiro tempo as cordas a serem utilizadas, fato pouco usual na escrita do
compositor.
Aqui vale ressaltar que, caso o intérprete não queira fazer uso do dedo mínimo da
mão direita, ter-se-á uma sonoridade arpejada. No caso do intérprete decidir por tocar os
acordes somente com o polegar, tocando as seis cordas, fatalmente ter-se-á uma sonoridade na
corda Lá, a quinta corda do violão, um som indesejável, portanto. Caso o intérprete opte pela
utilização de polegar duplo, isto é, tocando a sexta e imediatamente a quarta cordas com a
adição dos dedos indicador na terceira corda, médio na segunda e anular na primeira, terá,
então, um som arpejado, contrário ao desejo do autor, ou seja, um acorde plaqué. Para a
realização de acordes com mais de quatro notas, Aguado escreveu:
Se as seis cordas da guitarra forem tangidas como irei indicar, elas todas parecerão
soar simultaneamente, produzindo uma sonoridade surpreendente. Por exemplo, (...)
o médio toca a primeira corda, o indicador a segunda e a terceira, deslizando a ponta
do dedo em direção ascendente, e o polegar toca a sexta, quinta e quarta corda
vigorosamente, deslizando em direção descendente o mais rapidamente possível
(AGUADO apud SOUZA BARROS, 2008, p. 53).
Para esta técnica Souza Barros dá o nome de técnica escovada (2008, p. 52-53).
Como a questão dos acordes de cinco sons é fundamental para o objeto desta pesquisa, faz-se
necessário proceder a certo número de observações. Parece-nos que Aguado, nesse momento,
deixa de lado o uso do 5 para aplicar a ‘técnica escovada’. Uma pena, visto que o próprio
autor escreveu ‘parecerão soar simultaneamente’, sugerindo sua vontade de obter acordes
plaqués. ‘Parecer’ é diferente de ‘ser’. Portanto, na execução de acordes de cinco sons jamais
se conseguirá acordes simultâneos com a técnica sugerida. Somente com o uso de todos os
69
dedos da MD conseguir-se-á tal resultado. Aguado desperdiçou, com esta sugestão, uma
ótima oportunidade para desenvolver a questão do 5 na realização de acordes de cinco sons.
Para a realização de acordes de seis sons, também se pode usar o 5, restando, então, somente
duas cordas que não soarão simultâneas. Para resumir, então, a ‘técnica escovada’ nunca
apresentará um som simultâneo, e a física clássica é testemunha. Outro fato chama a atenção
na declaração de Aguado: o de tocar o polegar ‘vigorosamente’. Aqui se levanta outra
questão. Se a sonoridade desejada for a de um som doce e pianíssimo, conseguirá o intérprete
realizar tal feito com facilidade? Com o acréscimo do 5 esta qualidade sonora é perfeitamente
alcançada, e com muita facilidade, além do perfeito equilíbrio sonoro.
Ressalte-se que quando Gnattali desejava um acorde arpejado utilizava o símbolo
adequado, uma linha ondulada na vertical. Para exemplificar, basta conferir a primeira
intercessão do violão no primeiro movimento, no compasso 19, primeiro e terceiro tempos.
Ver Figura 12.
Terceiro Movimento
Novamente, no terceiro movimento, na primeira intervenção do violão, Radamés
Gnattali apresentou 16 compassos seguidos – com exceção dos compassos 33 e 34 – em torno
da tonalidade de Lá Maior, acordes simétricos e cromáticos com a utilização do dedo mínimo.
“O cromatismo é uma linguagem musical explorada ao extremo por Radamés Gnattali”
(WIESE, 1994, p. 98), assim como o paralelismo. Ver Figura 13.
’
Figura 13. Manuscrito de Radamés Gnattali, ‘Concertino n. 2’, c. 27-28.
70
122
Uma situação análoga pode-se encontrar no penúltimo acorde do Estudo n. 9 de Heitor Villa-Lobos.
123
O violonista Barbosa Lima ao comentar os estudos de Mignone escreve: “O subtítulo da obra em questão
deve sua criação a Laurindo Almeida, segundo relata Barbosa Lima: “Um último detalhe, que nunca se
materializou, é que nas duas últimas ocasiões em que estive com ele surgiu a idéia de darmos subtítulos a cada
um dos 12 Estudos. Dois deles já estavam batizados, como o VIIº Estudo, “Cantiga de Ninar” e o XIº Estudo,
“Spleen” (gotas d’água), que tem um clima todo impressionista. Eu deveria ter apressado Mignone, pois ele veio
a falecer em 1986, um ano após termos perdido outra pessoa querida, Arminda Villa-Lobos. Seriam títulos
românticos e descritivos. O Iº Estudo, por exemplo, seria chamado de “Homenagem a Tárrega”, ele falava nisso.
Poderia até ser um projeto póstumo, embora se trate de uma aventura subjetiva, como fez meu amigo Laurindo
Almeida, que deu subtítulos aos concertos de Gnatalli, como o Concerto Nº 3 “de Copacabana”, o Concerto nº 4
“à Brasileira”. Antonio Lauro fez o mesmo com suas valsas, com os belos subtítulos “Tatiana”, “Natalia”, “El
Niño”, etc.” (BARBOSA LIMA, apud APRO, 2004, Apêndice C, p. 5).
71
usual, a partir da opção do 5 da MD, conforme se demonstra na Figura 15, com acordes
plaqués e não acordes rasgueados124.
124
Normalmente esta parte é tocada com rasgueos, destinadas a uma maior sonoridade. No entanto, há que se
dizer que esta obra foi apresentada na Sala Villa-Lobos da UNIRIO, em 2011, onde estava presente o concertista
e atualmente luthier Sergio Abreu que deu seus parabéns por termos executado a obra acusticamente (o pianista
era Fábio Ventura) e que se ouvia perfeitamente. A obra foi apresentada sem os rasgueos.
72
Esses acordes de cinco sons aparecem inúmeras vezes na obra de Aníbal Augusto
Sardinha, são integrantes do seu idiomatismo. José Menezes confirma: “O Garoto usava o
dedo mínimo, como eu também uso” (MENEZES, 2010)125.
Novamente, no terceiro movimento, encontra-se outra situação para acorde plaqué,
conforme a Figura 17. Ao não se utilizar o 5 faz-se uma abertura desnecessária entre os dedos
da MD.
Caso o intérprete opte pelos rasgueos para a execução dos acordes no terceiro
movimento, pergunta-se: como resolver o final da obra sem acrescentar a nota lá 3 no acorde?
Se o executante acrescentar o lá 3, estará alterando a escrita do autor, sua sonoridade original.
Sabe-se que Gnattali conhecia profundamente o instrumento – “(...) quando escrevia para
violão testava principalmente os acordes, num violão que ficava ao lado do piano e que lhe
tinha sido presente de Garoto (...) (Braga, 2011)” –, o que nos leva a crer que era sua intenção
essa mudança de estrutura nos acordes apresentados a seguir. O compositor substitui um
125
Entrevista concedida ao autor em abril de 2010.
73
acorde de Lá maior por outra formação de Lá maior, e insiste nessa mudança, reafirmando-a
até o final do concerto. Verificável segundo os exemplos das Figuras 19 e 20.
Sugere-se que se faça a experiência de tocar primeiro com p-i-m-a-i e depois com o
5. Na primeira proposta pode-se observar o grande esforço que o indicador terá que fazer ao
sair da quinta corda para depois atacar a primeira. Utilizando o 5 no exemplo dado sugere-se o
75
toque ‘tirando preparado livre’126, onde os dedos primeiro entram em contato com as cordas
para depois pulsá-las.
A Figura 24 apresenta uma escala – Ré pentatônica com sétima maior – onde se pode
aplicar uma técnica mista – ligados e à campanella127. A digitação proposta proporciona
conforto para a mão direita nas abduções (aberturas ou afastamentos) dos dedos, necessárias
para a realização das frases.
126
Entende-se por ‘tirando preparado livre’ a ação dos dedos da mão direita que se posicionam nas cordas antes
de pulsá-las e ao pulsá-las o toque se dá sem apoio.
127
A campanella, no violão, significa utilizar o máximo de cordas soltas alternadas com cordas presas numa
escala, por exemplo, deixando-as soar o maior tempo possível.
76
O Método RIght-Hand Studies for Five Fingers de Charles Postlewate apresenta uma
série de estudos técnicos para a realização dos harmônicos com o dedo mínimo da mão
direita, além de situações inéditas para a realização de harmônicos em acordes de 4 sons,
conforme se verá mais a frente.
128
Compositor da cidade do Rio de Janerio. A obra citada teve sua estréia em 20/03/2009 com o violonista
Nícolas de Souza Barros acompanhado pela pianista Katia Ballousier, na Sala Villa-Lobos da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro − UNIRIO. A estréia da versão com orquestra de cordas se deu com Turíbio
Santos e a Orquestra do Estado do Mato Grosso sob a regência de Leandro Carvalho em 11/09/ 2010 e recebeu a
segunda apresentação no dia seguinte, com a mesma formação. Um mês após a estreia outra apresentação com
Turíbio Santos e a Orquestra Sinfônica da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 9/10/
2010, no Salão Leopoldo Miguez, sob a regência de Ernani Aguiar, dentro das comemorações dos 30 anos de
criação do Curso de Bacharelado em Violão desta instituição. A estréia internacional se deu em 30/06/2011em
Salamanca, cidade espanhola.
77
Assim como Gnattali, Tacuchian sinalizou suas intenções antes dos acordes. Quando
deseja que sejam arpejados insere uma linha ondulada na vertical, símbolo apropriado para
tais situações, conforme a Figura 28.
Pensa-se que os exemplos das Figuras 26 e 27 devam ser realizados de forma plaqué,
uma vez que o autor não coloca o símbolo do arpejo, como no exemplo aqui citado (Figura
29). Estas suposições foram confirmadas com o compositor (TACUCHIAN, 2012)129.
129
Entrevista concedida ao autor em março de 2012.
130
Nome artístico do compositor Antônio Carlos Jobim.
131
A epígrafe “ao modo de Garoto tocar” consta no manuscrito do Concertino n. 2, indicando que Radamés
Gnattali preservava a técnica de Garoto, ou através disso, incentivava que o intérprete se reportasse ao violonista
(Garoto) durante a preparação do concerto.
79
132
Esta obra costuma ser interpretada em grande velocidade depois da gravação de Rafhael Rabello. Na
realidade a peça é bem mais lenta do que se costuma executar. Segundo Braga (2011), Garoto tocava lentamente
este choro.
133
A técnica híbrida é utilizada por alguns guitarristas (guitarra elétrica), que consiste no uso da palheta – que é
segurada pelo polegar e indicador – e os demais dedos (médio, anular e mínimo) para o uso de uma técnica
similar à convencional utilizada por violonistas clássicos. “(...) denomina-se técnica híbrida (do inglês, hybrid
picking) que se refere justamente à ação conjunta da palheta com os dedos” (MAIA, 2007, p. 24).
80
Tenho certeza de que seu estudo não começa ontem e não terminará amanhã. Como
lhe disse durante nosso encontro em casa, o seu objetivo ou sua determinação é/está
diretamente ligada a fraseologia. Assim sendo, sem exageros posso garantir que seu
estudo terminará quando terminar a função, necessidade e existência da fraseologia -
como padrão pessoal e único, uma espécie de DNA da compreensão da linguagem
musical escrita, pensada, compreendida e sedimentada. (GISMONTI, 2012)134.
O mínimo da mão direita pode ser utilizado de uma maneira muito benéfica nesta
obra, principalmente no exemplo 2 da Figura anterior, onde o violonista pouquíssimas vezes
terá que repetir algum dedo, com exceção do polegar.
2.4 Os Estudos
De acordo com o Dicionário Grove de Música um estudo é:
134
GISMONTI, Egberto. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por bartholomeu
wiese@hotmail.com em 15 jan. de 2012.
82
em grupos de 12 também foram publicados por Alkan [dois grupos, cobrindo todas
as 24 tonalidades] e Debussy. Estudos para muitos outros instrumentos foram
escritos nos sécs.XIX e XX, e o termo ‘estudo’ [ou seus equivalentes em outras
línguas] tem sido usado nos títulos de numerosas peças orquestrais, incluindo os
Quatre études pour orquestre (1929), de Stravinsky, e os Synphonic Studies (1939),
de Rawsthorne (ESTUDO, 1994, p. 304-305).
Neste momento daremos alguns exemplos de estudos compostos para violão por
compositores brasileiros de diferentes épocas, entre os séculos XX e XXI. Esta forma
composicional apresenta possibilidades reais de observação da aplicação da técnica
mencionada, sem dispensar outras possibilidades musicais. No século XX, entre os autores
que compuseram estudos relevantes, serão relacionados e analisados exemplos do ciclo de
estudos de Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone e Radamés Gnattali. No século XXI,
dentre os estudos mais contemporâneos, os ciclos de Carlos César Belém e Luiz Otávio
Braga. Deu-se preferência aos estudos do século passado por serem os mais representativos da
literatura violonística brasileira. Os estudos recentes de Belém e Braga por duas razões em
especial, ou seja, o reconhecimento de órgãos públicos ou publicamente reconhecidos. O
primeiro, Carlos César Belém, foi premiado pela RioArte para escrever a obra; o segundo,
através da Associação de Violão do Rio (AV-RIO) foi eleito e convidado a escrever uma série
de estudos para a ‘VIII Seleção de Novos Talentos da AV-Rio, 2010’. Este concurso tem
apresentado e premiado jovens instrumentistas do todo o país.
135
Villa-Lobos 12 Estudos para violão. Solista Turíbio Santos, Rio de Janeiro: Caravelle, 1963.
136
Musicólogo e crítico musical carioca.
83
Interessante observar que Andrade visualizou o uso do 5, mesmo que não se encontre
nenhuma indicação nos manuscritos do compositor ou em suas obras editadas. Sabe-se
somente do embate entre Villa-Lobos e Andrés Segovia a respeito do dedo mínimo, embora
tal fato faça parte da tradição oral. O concertista Turibio Santos confirmou, em entrevista
dada ao autor desta pesquisa, que, de fato, este embate ocorreu e que Villa-Lobos em resposta
a Andrés Segóvia137 (ao dizer que não se deve usar o dedo mínimo da mão direita na execução
do instrumento) falou: “Ah, não se usa, não se usa? Então corta fora, corta fora” (SANTOS,
2012)138. Santos também afirmou que ouviu a versão de ambos, do próprio Heitor Villa-
Lobos - que utilizava o 5 da MD ao tocar o instrumento - e de Andrés Segóvia - que rejeitava
a técnica. Apesar de Andrade ter falado dos dois estudos que comportam o 5, pode-se dizer
que há situações tão ou mais marcantes que as citadas pelo crítico musical. É o que se verá a
seguir.
Nos estudos 1, 2 e 3 não se encontrou aplicabilidade para o mínimo da mão direita,
no entanto, no Estudo n. 4, que tem como principal objetivo o desenvolvimento da técnica de
acordes repetidos, encontram-se diversas situações favoráveis para a aplicação do 5. Ver os
dois próximos exemplos das Figuras 36 e 37.
137 137
Violonista espanhol que é referência no mundo violonístico.
138
Entrevista concedida ao autor em dezembro de 2012.
84
Este exemplo da Figura 37 segue com a mesma digitação da MD até o compasso 61.
No compasso 62 encontra-se outra possibilidade, bastante especial, com uso de harmônicos e
nota pedal. Ver Figura 38, onde o polegar realiza o pedal, o indicador toca a nota Sol 3 e os
demais dedos da MD tocam os harmônicos.
então, o arpejo em semicolcheia, realizado pelos dedos indicador, médio e anular, sem a
necessidade do uso do polegar. Além do mais, sendo o arpejo realizado como se propõe,
ocorrerá um toque com todos os dedos na mesma direção; se o polegar for utilizado ter-se-á
uma mistura de ataques, isto é, para baixo e para cima. Para se entender o resultado,
aconselha-se o estudo das três vozes separadas, esta prática ficará muito clara para o intérprete
e provavelmente para a audiência. Obtém-se, assim, uma sonoridade mais articulada entre os
três planos sonoros. Ver Figura 40.
139
Ao não se utilizar o 5 no terceiro tempo do comp. 57 jamais se conseguirá um acorde plaqué.
87
acordes arpejados. Este último acorde também pode ser arpejado pelos cinco dedos da MD,
não necessariamente precisa ser realizado somente com o polegar.
No Estudo n. 10 Villa-Lobos escreve acordes de cinco sons com baixo pedal em Fá#
em colcheias, outra oportunidade para acordes plaqués, uma vez que não foram sinalizados
para arpejos. Eduardo Meirinhos escreve:
Turibio Santos afirma que em algumas passagens de estudo, poder-se-ia empregar o dedo
mínimo da mão direita. Este autor referia-se aos acordes de cinco sons que ocorrem na terceira
seção: (...). Acreditamos que embora esta afirmação pudesse ser concernente, implicaria na
dificuldade de projeção do dedo mínimo, recurso técnico usado para se ressaltar a voz mais
aguda (MEIRINHOS, 1997, p. 311).
2012)140. Sugere-se assistir ao DVD, no Apêndice C, onde este exemplo é apresentado com o
mínimo da mão direita, e poder-se-á, então, comprovar que não há dificuldade para que se
destaque a voz do soprano com o 5 da MD. Na realidade, a estrutura do exemplo dado é
estendida do compasso 58 até o 65.
No Estudo n. 11 o compositor apresenta, na Seção A, a melodia principal na voz
interna, a do tenor. Esta pode ser realçada com o uso do polegar. Novamente recorrer-se-á às
reflexões de Meirinhos com as quais concordamos: “Acreditamos que, sem dúvida, a pureza
do ataque do polegar exerce fundamental papel na qualidade da articulação desta melodia e
que isto seria fundamental para a sua expressividade” (MEIRINHOS, 1997, p. 314).
Para este Estudo apresentamos um procedimento técnico que será mais bem
explicado e exemplificado ao falarmos dos Estudos do século XXI. Ver Figura 45.
140
Entrevista concedida ao autor em dezembro de 2012.
89
Após termos demonstrado um resumo de nossa tese, Turíbio Santos escreveu seu
parecer:
A Tese que Inova. Bartholomeu Wiese escolheu um rico tema que aborda
simultaneamente a técnica passada e futura do violão, com todas as suas vertentes de
enriquecimento do interprete. O uso do dedo 5, que já foi muito aplicado entre
alaudistas e vihuelistas, assim como no violão flamenco, da aos jovens violonistas
uma grande visão panorâmica da técnica com suas consequências musicais.
Escolhendo a obra de Villa-Lobos como exemplo desta prática o autor, mais uma
vez mostra seu profundo conhecimento dos Estudos do mestre e as janelas que eles
oferecem a curiosidade dos interpretes. No violão flamenco, a presença do dedo 5
amplia generosamente a capacidade da mão direita e em rasgueados, alzapuas e
golpes da a ela uma vivacidade invejável, relembrando movimentos coreográficos
dos vihuelistas e alaudistas. Estes são apenas alguns dos motivos que valorizam a
pesquisa de Bartholomeu Wiese e mostram uma nova trilha para inúmeros jovens,
que às vezes ficam literalmente engaiolados dentro de conceitos paralisantes e
superados da técnica do violão. Dando total liberdade à mão direita recupera-se o
esplendor desse instrumento, que já foi justamente batizado por grandes
compositores como uma pequena orquestra (Santos, 2013)141.
141
SANTOS, Turibio. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por bartholomeuwiese
@hotmail.com em 09 jan. de 2013.
90
Apro ao falar da técnica em questão, no entanto, não remete à sua realização ou como
suceder para a aplicação de tal recurso. A digitação dos 12 Estudos ficou por conta de Carlos
Barbosa-Lima, que também não utiliza em nenhum momento o dedo mínimo da mão direita.
O estudo n. 1 apresenta acordes de cinco sons, possibilitando, assim, o uso do 5. Ver
Figura 47.
O estudo n. 4 apresenta uma melodia oitavada com um baixo pedal em Mi. Sugere-se
a digitação conforme indicado na Figura 48, evitando-se dessa forma abduções entre o
indicador e o anular, permanecendo os dedos da MD em uma posição bastante confortável.
142
Escreveu também para o violão uma série de 12 valsas.
143
Concertista da cidade de São Paulo.
91
Uma situação mais complexa, tecnicamente falando, surge a partir do compasso 26.
A Figura 52 apresenta uma digitação bastante confortável para a MD, evitando-se, também,
um solavanco da mão ao se repetir o anular para atacar a melodia em quartas que se inicia no
compasso 26 e que usualmente é feita com os dedos médio e anular.
93
Caso o intérprete prefira não repetir o polegar no quarto tempo do exemplo dado,
tampouco queira utilizar o mínimo da mão direita, então, sugere-se fazer uma inversão144 (no
quarto tempo). Utilizar: polegar, anular, médio e indicador. Com isso ter-se-á o médio e o
anular livres para o ataque da melodia em quartas no compasso seguinte.
A Figura seguinte (Figura 53), retirada da edição, apresenta duas alterações quando
comparada com o manuscrito (Figura 52). O compasso 27 é bastante modificado, quebrando-
se desta forma o pedal formado pelas notas Ré2 e Lá2, conforme a Figura 52. Radamés, mais
uma vez demonstrando seus conhecimentos do instrumento, escreve no manuscrito, no
mesmo compasso, harmônicos para a melodia que está em quartas e em semibreve. Não se
sabe, no entanto, se estas alterações tiveram o consentimento do compositor ou se foram
alterações isoladas do editor, o violonista Laurindo Almeida, embora na primeira página da
série dos estudos, no manuscrito, apareça a informação: dedilhado de Laurindo Almeida.
144
Quando a palavra inversão estiver relacionada às questões digitacionais devemos entendê-la como o contrário
da posição tradicional da MD; ao invés de tocarmos polegar (quinta corda), indicador (terceira corda), médio
(segunda corda) e anular (primeira corda), toca-se o polegar na quinta corda, o anular na terceira, o médio na
segunda e o indicador na primeira. Esta questão será mais bem exemplificada a frente.
94
Outra situação para o uso do 5 está apresentada na próxima Figura (55), além do
compasso 29 que não será aqui reproduzido.
Esta série de harmônicos torna-se incômoda para a mão esquerda e o som costuma
não sair muito claramente. A maior dificuldade para esta mão está no compasso 39, ao se
tentar manter o Fá3 durante os quatro tempos. Com o dedilhado proposto consegue-se uma
sonoridade cristalina e de fácil execução. Sugere-se: fazer os harmônicos com o indicador e
mínimo da MD com cordas soltas, onde se poderia imaginar a casa 24, praticamente no meio
da boca do instrumento. As notas estarão na mesma altura, porém, com uma sonoridade
bastante transparente e a mão esquerda estará fazendo somente as notas não harmônicas, os
graves. Nesta Figura, dada como exemplo, colocou-se os três últimos acordes da obra para
comentar que muitas discrepâncias ocorrem quando se compara uma edição com o
manuscrito. Por exemplo: no penúltimo compasso o Lá4 está natural no manuscrito, ao passo
que na edição está sustenido; o último acorde, no último compasso, está em harmônicos, ao
passo que na edição aparece com um acorde de Lá menor com sexta (Am6). O que se observa
é que há um grande número de alterações entre a edição e o manuscrito, mas como este tema
não é parte do objeto de pesquisa nos deteremos aqui.
No Estudo n. 7, dedicado a Carlos Barbosa Lima – no manuscrito a dedicatória é para
Léo Soares – sugere-se duas digitações, conforme a Figura 58. Em ambas encontra-se uma
técnica mista – a digitação padrão ou tradicional (entre os primeiro e segundo tempos) com a
96
Este tipo de digitação, que se denominará de ‘mista’, não foi tratado nos métodos que
abordam a técnica do 5. Considera-se, no entanto, bastante frutífera a combinação da técnica
tradicional com a invertida em determinadas situações, conforme visto na Figura anterior. É
provável que esta proposição de dedilhado seja inédita na literatura violonística.
No penúltimo estudo da série, dedicado a Eduardo Abreu, também se encontram boas
situações para a aplicabilidade do 5 da MD, conforme a Figura 59.
Outras possibilidades para o uso do 5 neste estudo estão nos compassos 52, 54, 55,
57 e 59.
No último estudo da série encontram-se situações para o uso do 5 da MD em acordes
de cinco sons. “Bem a propósito: dedicado ao Garoto” (Braga, 2011). Conferir os compassos
7, 8 e 15, além do primeiro e segundo compassos da coda.
obra o referido dedo serve também para os acordes quebrados. O exemplo contido na Figura
60 facilita a visualização.
No Estudo n.7, Figura 61, no compasso 15, utiliza arpejos com afastamento dos
dedos da MD:
Cada uma dessas pequenas músicas deverá ser tocada com inteira liberdade. As
indicações metronômicas, agógicas e dinâmicas deverão ser relativizadas e poderão
ser modificadas, improvisadas até. Deixo a questão dos timbres ao sabor dos gostos
individuais, embora num ou n’outro Estúrdio tenha-me atrevido a indicar algo
(BRAGA, 2010).
Braga declarou que ao compor a série não pensou na técnica do 5 da MD, no entanto,
admite sua possível utilização e complementa: “trata-se de uma questão de tempo para que
145
Nicolas de Souza Barros não somente o incentivou a compor a série, mas ofereceu sugestões na estrutura,
além de ter digitado a obra.
100
compositores e intérpretes assimilem os benefícios que o dedo mínimo da mão direita pode
trazer para uma nova forma de criação para o instrumento” (BRAGA, 2011)146.
O compositor, profundo conhecedor do instrumento, logo no primeiro estudo –
dedicado a Radamés Gnattali – apresenta a possibilidade do uso dos cinco dedos da mão
direita em diversas situações, como assinaladas ao longo dos exemplos seguintes das Figuras
63, 64, 65 e 66.
Os acordes de cinco sons vão aparecer no decorrer de toda a obra. Neste exemplo
pode-se perceber que o polegar, no terceiro compasso, fica livre para realizar a segunda voz
que está no grave sem a necessidade de saltos entre a quarta e sexta cordas. Sugere-se,
também, que neste mesmo compasso, na metade do quarto tempo, o 5 funcione como
apagador. Ou seja, ao tocar o Si2 com o polegar, simultaneamente o mínimo apaga a nota
Mi2. Este gesto ocasionará muita clareza nos graves, além de proporcionar um ‘balanço’
146
Entrevista concedida ao autor em fevereiro de 2011.
101
147
Sabe-se que nesta situação não há necessidade de apagar o Mi2, uma vez que é integrante da harmonia, mas
pode-se fazê-lo e, além do mais, serve como exemplo para situações similares, onde o melhor seria apagá-lo, ou
quando seria obrigatório o seu apagar.
148
Este tipo de situação está representado no vídeo do Apêndice C.
149
Chegou-se a esta proposição através da inversão do polegar com o 5, ou com qualquer outro dedo da MD, a
partir dos estudos propostos no início do século passado por Prat. Prat desenvolveu um estudo para adicionar o
dedo mínimo da mão direita na técnica violonística em seu método La Nueva Técnica de la Guitarra... para la
práctica de los cinco dedos de la mano derecha. Charles Postlewate (2010) escreveu que Prat partiu da ideia de
abduzir o punho radicalmente para a direita ao tocar os arpejos numa ordem invertida. Há que se dizer, porém,
que não é o punho que faz uma abdução, mas os dedos que fazem uma inversão. Isto se pode confirmar
assistindo ao vídeo apresentado no Apêndice C.
150
Não se tem conhecimento desse gesto, seja em métodos ou em performances de violonistas. Sabe-se do uso
do 5 da MD em raríssimas performances e métodos, porém nunca nesta situação. É importante lembrar que os
benefícios para uma performance, quando usado este procedimento, são de grande valia, uma vez que muito
auxilia na clareza da voz de uma melodia que se queira destacar, principalmente quando esta se encontra na voz
do tenor, por exemplo.
102
151
A primeira no Salão Dourado da Praia Vermelha da UFRJ em 2010 e a segunda no Teatro Villa-Lobos da
UNIRIO em 2011.
104
indicador e médio, nesse momento, pode reduzir a liberdade de ataque do polegar, uma vez
que o indicador, que estará na terceira corda, vai, de certa forma, prender um pouco o
movimento do polegar. Propõe-se experimentar as duas digitações para que se faça uma
opção. É importante, também, nesse momento, que o intérprete não deixe que a nota Lá3, que
está no acompanhamento, se confunda com a melodia. Há uma tendência para que esta nota
apareça, falsamente, como parte integrante da melodia.
A Figura 66 mostra uma situação bastante especial, pois principia com acordes de
quatro sons e termina com acordes de cinco. Ao se utilizar o 5 da MD o intérprete poderá
alcançar resultados sonoros inovadores se comparados com a técnica tradicional, apoiada na
tradição acadêmica. No terceiro tempo deste mesmo exemplo verificam-se os acordes
plaqués. O resultado estético trará uma surpresa sonora ao ouvinte.
152
Concertista mineiro, mestre em piano pela EM/UFRJ. É professor da Universidade do Estado do Amazonas.
153
Violonista e professor com mestrado em violão pela Escola de Música da UFRJ.
154
Mestre em violão pela EM/UFRJ, onde leciona, e integrante do grupo “Violões da UFRJ.
155
Multiinstrumentista das cordas, mestrando em gestão cultural na COPPE/UFRJ; integrante do grupo “Violões
da UFRJ.
156
Violonista e compositor argentino radicado em Madri.
157
A questão da estabilidade da mão direita é uma preocupação constante dos violonistas desde o século XIX.
Ver Tese de Nícolas de Souza Barros.
105
Somente no último acorde do estudo Braga escreve sua intenção de soar os acordes
arpejados, conforme reproduzido na Figura 69.
violonística brasileira, pois cremos ser a primeira vez que um compositor aponta para a
realização de tal técnica em uma obra de concerto158.
Esta aplicação do 5, assim como outros procedimentos já estudados neste trabalho,
sinalizam a superação de possíveis barreiras de uso e aplicação e que procedem – como não
poderia deixar de ser – de ações internas às instâncias de consagração do campo da produção
erudita da música para o violão. Consolida transformações já notáveis desde o século XIX: o
dedo mínimo da MD sai de sua aplicação no tampo, como forma de dar estabilidade à mão
direita, para efetivamente integrar a técnica do instrumento no presente século.
Como foi dito anteriormente, a digitação proposta dos Estúrdios é de Nícolas de
Souza Barros, mas acredita-se que tal sinalização do 5 tenha tido o consentimento do
compositor. Isto nos leva a destacar a importância das trocas efetivamente realizadas entre
compositor e intérprete. Tais profissionais, integrantes do campo social da música e que
participam das suas instâncias de consagração começam a aceitar tal proposição.
Anteriormente, porém, não reconhecida e, assim, as exceções vem a confirmar a regra. As
obras criadas para a técnica e apresentadas no capítulo 5 tendem, então, a mudar esta
dinâmica. A técnica não usual em questão, tendo autores como Tacuchian, Braga ou Medina
destacando-a em obras singulares, pode ter mais chance de ser reconhecida, discutida e
difundida pelas instâncias de consagração, ao mesmo tempo em que tais iniciativas acabam
reforçando a autonomia do campo, numa dinâmica destacada por Bourdieu, ainda que de
forma lenta ou gradual.
158
Iznaola no apêndice II do seu método Kitharologus fala desta técnica, porém ele a utiliza com os dedos
mínimo e anular para abafar as cordas, diferente, portanto, da técnica aqui sugerida, onde somente o mínimo atua
como abafador.
107
diversas combinações que o intérprete pode utilizar, basta experimentar algumas e decidir-se
por uma. Ao optar-se pela segunda sugestão apresentada, melhor que o mínimo entre pela
sexta corda, como se estivesse fazendo um gancho; se a opção for a primeira (com indicador e
médio), melhor que o mínimo fique por cima da sexta corda, sempre junto ao cavalete.
No Estúrdio n. 7, dedicado ao autor da presente pesquisa, pode-se utilizar o 5 para
acordes pláques e também para os harmônicos. O benefício da utilização do mínimo na
realização dos harmônicos dá-se em função da distância do pinçar e o encostar na corda.
Nesta obra encontra-se, ainda, uma situação especial cujo resultado transformou-se em grata
surpresa. O polegar na quinta ou quarta cordas e o 5 na sexta. É difícil precisar a parte
inovadora desta solução, apesar dos vários anos de estudo do instrumento pelo autor deste
trabalho. Foi a partir deste Estúrdio de Braga que se chegou às proposições digitacionais
apresentadas anteriomente no Estúrdio I. A digitação é descrita no exemplo da Figura 72.
Neste exemplo o polegar fica livre para realizar todas as notas da linha melódica, que
está na voz intermediária, mantendo assim uma uniformidade sonora e melódica. Ainda neste
Estúrdio apresenta-se outra possibilidade. Ver Figura 73.
O uso do mínimo nos compassos 9 e 11 facilita o ataque dos acordes nos compassos
10 e 12. Esta obra foi gravada em junho de 2012, pelo autor da presente pesquisa, no Estúdio
Radamés Gnattali da UNIRIO para o CD com obras de Braga159. Nessa gravação foram
utilizadas as digitações ora apresentadas.
No Estúrdio n. 8, dedicado a Marcos Farina, encontram-se diversos acordes plaqués.
Ver Figuras 74 e 75.
159
Nesse CD também está gravada a Rapsódia Urbana para Fagote e Violão, onde se utilizou diversas vezes da
técnica do 5. Ao fagote o Prof. da UNIRIO Elione Medeiros.
160
Esta situação foi comentada no Estudo n. 7 de Carlos César Belém.
109
sinalizados não devem ser arpejados. Acredita-se que isso valha para toda a série dos estudos.
Ver Figura 77.
Interessante notar que Braga deixa claro na sinalização até que momento quer os
acordes arpejados. No compasso 48 aponta o fim dos acordes arpejados. Isto leva a pensar,
como já dito anteriormente, que o último compasso deva ser realizado na forma plaqué.
110
161
Entende-se por técnica pura os exercícios dissociados de uma composição musical e que servem para resolver
antecipadamente as dificuldades motoras que podem aparecer em uma obra musical; por técnica aplicada aqueles
exercícios criados especificamente para o auxílio em uma passagem musical, dentro de uma obra, de difícil
resolução, por exemplo.
111
162
Movimento dos dedos extensores significa dizer que se deve fazer o movimento contrário ao toque, isto é,
para fora da mão e não para dentro, como quando se está tocando. É um movimento do dedo que se denomina de
extensor.
163
Alguns amigos violonistas que participam da pesquisa demonstraram uma aquisição satisfatória da técnica do
mínimo da MD em tempo mais curto que o de seis meses. No entanto, isto vai depender muito de cada estudante.
164
Brouwer, master class dada no II Festival Internacional de Violão da EM/UFRJ, no dia 29 de out. de 2011.
112
não deveriam utilizar o mínimo da mão esquerda. Este fato remete ao embate entre Andrés
Segóvia165 e Heitor Villa-Lobos, já comentado anteriormente nesta pesquisa.
Outra menção da utilização do dedo 5 na obra de Villa-Lobos é feita por Ayres
Andrade, na contracapa da primeira gravação integral dos 12 Estudos para violão, feita por
Turíbio Santos: “Villa-Lobos era apologista do emprego do dedo mínimo da mão direita na
execução, prática que não é usual no violão” (Andrade, 1963: contracapa). Talvez haja uma
conexão entre um possível desejo de Villa-Lobos em utilizar o dedo 5 em algumas obras e o
compositor espanhol Dionisio Aguado. Tal possibilidade foi levantada pelo professor e
violonista Nelson Cayhado166, ao lembrar que Villa-Lobos declarou conhecer e ter estudado
métodos de violão de compositores do século XIX; o que é confirmado em Zanon: “Villa-
Lobos admitiu haver aprendido violão pelos métodos do espanhol Dionisio Aguado” (2008).
Cayhado (2011)167 levanta a hipótese de que o fato de Heitor Villa-Lobos ter estudado o
método do espanhol Aguado, e este já fazer referência ao uso do 5 em um dos seus estudos,
poderia ter levado Villa-Lobos a compor obras que suscitam a solicitação de uso do mínimo,
apesar de não estar sinalizado nem nas edições, tampouco nos manuscritos.
166
Concertista carioca, mestre em violão pela EM/UFRJ e Professor Assistente da Universidade do Estado do
Amazonas (UEA). Entrevista concedida ao autor em janeiro de 2011.
167
Entrevista concedida ao autor em janeiro de 2011.
113
b) com três dedos (polegar e mais dois dedos). Os demais dedos ficam repousados nas
suas devidas cordas. Ver Figura 79 que apresenta sete variações de acordo com a sequência
harmônica dada nos dois primeiros sistemas:
114
Outras combinações na Figura 80. Nos próximos exercícios os dedos não ficam mais
repousados nas cordas.
115
c) com quatro dedos (polegar e mais três dedos). A Figura 81 apresenta três progressões
harmônicas com diferentes digitações para a MD:
116
d) com os cinco dedos. A Figura 82 apresenta uma progressão harmônica que deve ser
trabalhada com variações, conforme exemplos anteriores.
168
Prat no seu método, apesar de espanhol, não desenvolve a técnica do trêmulo da guitarra flamenca, que seria:
p – i – a – m – i.
118
Com este modelo harmônico estudar as variações seguintes, conforme a Figura 85.
119
169
Na técnica vigente a corda é pinçada com o anular.
120
A seguir, um exemplo com acordes plaqués de quatro sons, Figura 87, sendo um
deles harmônico. Trata-se de uma ação da mão direita de extrema dificuldade técnica,
somente possível com a utilização do 5170.
170
Não se está considerando a participação da mão esquerda, somente a da direita.
121
Cabe ressaltar que o polegar fica numa posição “similar à técnica do alaúde
renacentista – anterior a 1600 –” (SOUZA BARROS, 2012)171, no interior da mão entre os
dedos indicador e médio/anular. Percebe-se ainda, ao se usar o 5, a vantagem de se realizar o
harmônico numa voz interna do acorde, como no segundo e quarto tempos do exemplo dado
na Figura 87. A realização destes harmônicos é mais complexa em função da abertura entre o
dedo médio que está na terceira corda e o anular que está na primeira, como demonstram as
fotos anteriores. Sem o auxílio da mão esquerda esta configuração torna-se impossível quando
o 5 não é utilizado.
IV – Estudos para o desenvolvimento da função melódica dos dedos.
Praticar as seis próximas variações, Figura 92, com o modelo harmônico dado.
171
Entrevista concedida ao autor em janeiro de 2012.
123
Vai trabalhar também com os dedos indicador e mínimo nos mesmos moldes do
médio e anular, como apresentado na Figura 92.
As demais combinações para a MD, apresentadas pelo autor, são as seguintes: (m i);
(m a); (a m); (a c) e (c a). O autor propõe que se faça as sequencias cromaticamente, até
alcançar a casa 9 com pestana, e assim, então, retornar ao ponto inicial, também
cromaticamente. Domingo Prat sugere, também, que se faça as mesmas sequências somente
com o polegar.
Outras combinações harmônicas, apresentadas no método, estão nos acordes de Dó
Maior e La # diminuto.
124
b) para dois dedos sem o uso do polegar. Primeira vez com apoio e a segunda sem apoio.
Essa série é igual ao exemplo anterior (do item a), porém, com aberturas dos dedos da MD,
isto é, não com dedos contíguos. Vejamos as fórmulas:
(i a) − (a i) − (m c) − (c m) − (i c) − (c i)
No exemplo seguinte Prat apresenta sete variações. Cada pentagrama vai representar
uma delas, que se deve fazer nos moldes harmônicos do exemplo anterior. Para cada uma Prat
utiliza inúmeras combinações possíveis. Ver Figura 95.
125
(p i m i) − (p a m a) − (p m a m) − (p c a c) − (p c a c)
− Para a sétima e última variação da série:
(p i a i) − (p c m c) − (p m c m) − (p c i c) − (p i c i)
Este exercício aqui apresentado deve também ser estudado com as seguintes
combinações: (p a m i) − (p m a c) − (p c a m).
Domingo Prat apresenta inúmeras variações para o exercício dado. Apresentar-se-á
aqui, na Figura 97, quatro delas:
b) acordes arpejados
Nas formas usual e invertida. Ver Figura 101.
c) acordes quebrados
Nas formas usual e invertida. Ver Figura 102.
d) acordes em arpejos
Na Figura 103 Prat apresenta, também, os exercícios na forma tradicional e na forma
invertida:
172
Este tipo de abdução da MD para a formação de acorde vai aparecer três vezes no método de Domingo Prat,
no capítulo que trata do círculo harmônico, porém não desenvolve a questão de como realizá-la. Pode-se dizer
que, aparentemente, esta questão passou despercebida pelo autor.
173
Todos os exercícios para a técnica aplicada são de autoria do autor da presente pesquisa.
132
A variação 11 é mais complexa que a de número 10, por isso pode ser estudada nos
moldes das variações 2 a 9, como demonstrado. Consegue-se, assim, aquilo que Nícolas de
Souza Barros costuma denominar de “sobra técnica”174, isto é, a realização de algo ainda mais
difícil que o requerido. Estas variações, aqui apresentadas, devem receber diferentes
acentuações, assim como serem estudadas com variadas fórmulas rítmicas. O estudante pode
criar também suas próprias variações.
No segundo movimento da obra, para a realização da Figura 11, apresentada no
capítulo 3, basta aplicar os estudos dos métodos de Prat e de Postlewate. É uma técnica
requerida, mas de fácil aquisição. Para a realização da Figura 10, da metade do primeiro
tempo para o segundo, sugere-se o estudo das variações a seguir. Importante notar que aqui se
faz, propositalmente, a repetição do dedo anular, que deslizará da primeira para a segunda
174
Comunicação pessoal concedida ao autor em 1997.
133
corda, uma vez que para se conseguir o acorde plaqué, neste caso, um dedo necessariamente
será repetido e pensa-se para esta situação ser o anular o melhor dedo a ser repetido. Situação
esta também não apresentada nos métodos de Domingo Prat e Charles Postlewate. Ver Figura
105.
A variação 1 deve ser praticada também com os dedos anular (na segunda corda),
médio (na terceira corda) e por último com o indicador (na quarta corda). Estes substituindo o
5 que está na primeira corda.
confortável, sem aberturas dos dedos. Para isso, sugere-se o estudo dos exemplos da Figura
107.
em semibreve na variação 3, porém, foram repetidas para que não se esqueça que as vozes
devem ser executadas com independência e com a maior clareza possível.
anular e mínimo, não se apoiará. O mesmo procedimento vale para a variação 3 que
desenvolve a variação 1 com o acréscimo do anular. A variação 4, já praticamente completa,
como está no estudo, desenvolve a ação dos dedos anular e mínimo, além da mudança de ação
do polegar no quarto tempo. A variação 5 desenvolve todos os movimentos da ação da MD e
inclui a ação da mão esquerda. Outras variações podem ser criadas pelo intérprete. Ver Figura
111.
Ainda no Estúrdio 1 sugere-se o seguinte estudo da técnica aplicada para uma boa
resolução dos terceiro e quarto tempos do compasso 47 para o início do 48. Ver Figura 114.
142
175
Naturalmente que esta melodia, que está no tenor, poderia ser executada com o indicador e médio, porém, há
que se dizer que, após certo domínio da técnica proposta, o resultado é muito gratificante, conseguindo-se uma
excelente articulação da frase melódica.
143
Percebe-se que com o uso do polegar na voz do tenor a melodia recebe um forte
realce, ou seja, é facilmente destacada, e não a nota Mi (mais grave) que é voz secundária. Na
sexta variação o mínimo pode funcionar como apagador, isto é: no último compasso o polegar
toca a nota Lá e o dedo 5 simultaneamente apaga a nota Mi2 do compasso anterior. Nesta
última variação – a de número seis – pode-se trabalhar somente com a melodia na quinta
corda e, posteriormente, em cordas distintas, ou seja, quinta, quarta e terceira.
O último exemplo de técnica aplicada faz um retorno aos harmônicos. Charles
Postlewate desenvolveu a técnica para o harmônico de forma bastante criativa, porém, a
situação que se apresentará agora não foi pensada ou desenvolvida por ele, tão pouco nos
demais métodos consultados. Esta proposição, mostrada a seguir, surgiu através de conversas
com o violonista, compositor e amigo Túlio Gomide176. Consegue-se com as variações
propostas uma articulação mais natural em determinadas frases, além de uma maior
velocidade177. Em todas as variações seguintes serão digitados somente os dedos que pinçarão
as notas – subentende-se que o indicador estará encostando-se à corda para que se consiga o
seu resultado. Todas as variações podem ser praticas em diversas casas, por exemplo, casa 12,
9, 7 ou outras. Ver Figura 116.
176
Bacharel em violão pela EM/UFRJ.
177
Em agosto de 2012 esta técnica foi aplicada na gravação da obra Rapsódia Urbana para Fagote e Violão de
Luiz Otávio Braga, no Estúdio Radamés Gnattali da UNIRIO, para o seu CD com obras com obras autorais para
violão solo e com música de câmara. Ao fagote Elione Medeiros e ao violão Bartholomeu Wiese.
144
Estes exemplos dados para a técnica ‘aplicada’ podem servir como demonstração
para que o violonista interessado na técnica do 5 construa suas próprias fórmulas, uma vez
que elas estarão sempre, a todo momento, requerendo do intérprete esta iniciativa.
145
146
Este capítulo vai apresentar três obras compostas especialmente para este trabalho.
Foram convidados dois compositores brasileiros e um estrangeiro a pensar as proposições
abordadas nesta pesquisa: Ricardo Tacuchian, Luiz Otávio Braga e Arturo Medina178,
respectivamente. Prontamente abraçaram a ideia, e por isso mesmo não se poderia deixar de
manifestar aqui nosso profundo agradecimento, não somente por terem escrito, mas por terem
absorvido a abordagem que ela empreende e, finalmente, por colaborarem entusiasticamente
com este trabalho. Este fato nos remete mais uma vez aos conceitos de Pierre Bourdieu, onde
membros das instâncias de consagração e de divulgação do campo social da música
participam efetivamente para a consolidação de uma técnica até então não utilizada –
raríssimas sãos as exceções, já apresentadas no bojo desta pesquisa – e provavelmente
desconhecida dos violonistas e compositores. Este fato corrobora o que já foi dito no decorrer
desta tese, que as mudanças ocorrem, mesmo que lentamente, sejam elas estéticas,
comportamentais ou técnicas. As três obras foram compostas em um curto espaço de tempo,
uma vez que a ideia deste capítulo praticamente surgiu somente ao final do presente trabalho.
Estudo para o quinto dedo da mão direita – Rio de Janeiro, 2012 – dedicado a
Bartholomeu Wiese. Uma simples melodia que se repete, entremeada por passagens
cadenciais, com o objetivo de mostrar a viabilidade do uso do quinto dedo da mão
direita, digitação que não é habitual na execução convencional do instrumento. Foi
solicitada pelo violonista Bartholomeu Wiese para ilustrar sua Tese de Doutorado
(TACUCHIAN, 2012).
178
Arturo Medina é membro fundador da Sociedade Española de Guitarra.
147
148
149
150
179
Este tipo de situação seria facilmente resolvido com a aplicação do polegar da mão esquerda.Tal técnica foi
comentada no século XIX por Ferdinando Carulli e, na atualidade, muito bem desenvolvida e aplicada pelo
violonista Marcus Tardelli, já comentado anteriormente.
180
Promovido pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro ocorreu dos dias 12 a 16 de
novembro de 2011.
153
no compasso seguinte arpeja o acorde de seis sons. Finaliza sua composição com harmônicos,
onde o 5 pode ser utilizado. Ver Figura 120.
156
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sempre de forma autônoma e livre das chamadas 'convenções'; da mesma forma Nadge Breide
sintetizou Gnattali como ‘um músico para além dos rótulos’.
A descoberta do 5 no Concertino n. 2 partiu do método de abordagem da ‘fotografia
raio-x’ desenvolvido por Adorno, que consagra uma importante forma de aproximação do
músico com um manuscrito. A ‘fotografia raio-x’ e os seus desdobramentos permitiram que
se conseguisse transpor alguns enigmas da obra musical através da partitura, para tornar
possível uma interpretação mais próxima de uma ‘verdade musical’. Tal ‘verdade’, porém,
conforme ressalta o teórico, jamais será alcançada, pois do contrário a obra tornar-se-ia em
‘conservação’, perdendo, assim, sua função, resultado obviamente não desejável para a
fruição musical.
Expandiu-se, com esta pesquisa, a aplicabilidade do 5 da MD a outras obras de
Gnattali, assim como a obras de diversos compositores brasileiros, comprovando-se sua
usabilidade. Uma ampliação ramificada desta escolha tornou-se necessária para fornecer
alicerces e alimentar a metodologia que aqui sinalizamos.
O levantamento dos mais consagrados métodos para o violão mostrou que, desde o
século XIX, ainda que Dionisio Aguado tenha sinalizado o mínimo da mão direita, pouco se
avançou sobre sua técnica aplicada. Grosso modo, desde então, inoportunamente, tornou-se
comum delegar ao 5 da MD adjetivos como ‘exótico’, 'débil' ou 'limitado'. Comprovou-se,
contrariamente então, operar uma espécie de erro de fundamentação técnica ou mesmo uma
forma de preconceito. As mudanças de posicionamento da mão direita, assim como dedos da
MD de diferentes dimensões, tidas como limitadoras para a aplicabilidade do 5 da MD
também foram analisadas, desmistificando-se todas as prerrogativas contrárias.
Os métodos de Prat e Postlewate foram, até onde a pesquisa pode avançar, obras que
se preocuparam em destacar as qualidades da técnica do 5 da MD, tendo ambos defendido sua
aplicabilidade. Ainda assim, são pouquíssimos os intérpretes e compositores que fazem desta
técnica uma prática. Contudo, Prat e Postlewate deixaram de explorar diversas situações como
o ‘harmônico quase tremulado’, o ‘harmônico alternado’ (com o mínimo e o anular alternando
os ataques), os acordes abertos (com abdução dos dedos da MD), ou ainda, e principalmente,
o 5 como apagador e como acompanhador nas notas graves. Em muitos aspectos técnicos esta
pesquisa mostrou-se pioneira, pois anteriormente jamais haviam sido abordados. Com isso
algumas lacunas dos métodos dos autores citados foram apresentadas e exploradas na presente
pesquisa.
As experiências realizadas no curso desta tese, que resultaram num domínio bastante
satisfatório da utilização do dedo mínimo da mão direita, demonstraram sua assimilação de
160
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A obra deste anexo tornou-se fundamental em nossa pesquisa e por esta razão foi
gravada tanto no CDR, que se encontra no Apêndice C, quanto foi comentada no vídeo deste
mesmo Apêndice. Optou-se, por esta razão, por colocar a partitura na integra para que se
possa acompanhar com ela a gravação. Em diversas e diferentes situações a técnica do cinco
da mão direita é aplicada nesta obra, conforme se comprovou no Capitulo 2, que trata dos
estudos do século XX e XXI. Ver Figura 121.
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Esta revisão foi construída em parceria com a pianista Nadge Breide. Tomou-se
como fonte a versão para Violão de Sete Cordas e Piano, a gravação com Rafael Rabello e o
compositor ao piano, o manuscrito do Concertino para Violão e Orquestra e a edição para
Violão e Piano, editado como Sonatina para Violão e Piano pela Brazilliance de Laurindo
Almeida181. Segundo Luciano Chagas Lima,
Gnattali deixou três versões deste concerto: a partitura original para violão e
orquestra (ainda não publicada); uma redução para piano (também conhecida como
Sonatina para Violão e Piano); e uma adaptação desta última para violão de 7-cordas
e piano. A orquestração consiste de: duas flautas (piccolo), dois oboés, trompa,
clarinete, clarone, fagote, seis primeiros violinos, seis segundos violinos, quatro
violas, quatro violoncelos, dois contrabaixos e tímpanos (LIMA, 2008, p. 45).
181
Na realidade, o que Laurindo Almeida fez foi uma impressão do manuscrito. Erroneamente alguns intérpretes
e pesquisadores se referem a esta obra como Sonatina n. 2 para violão e piano. No manuscrito lê-se: Sonatina
para Violão e Piano. A Sonatina n. 2 refere-se à outra obra.
181
fórmula de compasso. Percebe-se algumas diferenças na versão para 7 cordas e piano com o
manuscrito para violão e piano, em ambos instrumentos.
Ao se analisar a digitação proposta por Radamés Gnattali para o violão nota-se que o
5 sempre está inserido somente para a formação de acordes. Pode-se levantar uma hipótese,
baseada nestas sinalizações, assim como pela entrevista com Zé Menezes – os exemplos
dados por Menezes foram para a realização de acordes de cinco sons, conforme visto no corpo
deste trabalho –, que Garoto utilizava o mínimo somente com esta função e não para arpejos,
harmônicos ou escalas, por exemplo. Ver Figura 122.
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resultado que se obtém sugira algo menos próximo do efeito original da execução com
orquestra.
Os comentários a seguir visam explicar determinadas opções de escrita para a
redução, assim como fornecer alternativas para facilitar a execução do pianista baseando-se na
experiência prática obtida através da preparação para a apresentação da obra (os comentários
referentes à execução violonística estão previamente inseridos no escopo do presente
trabalho). Esta etapa de testes foi fundamental para a adequação e consequente deliberação de
detalhes da escrita musical final.
I -Allegro moderato
1) Nos compassos 12 a 14 optou-se por substituir o Sol 2 – executados pelos primeiros e
segundos violinos - por Sol 3 para evitar a coincidência dessas notas.
2) No compasso 16 as violas e violoncelos tocam oitavando, embora na parte da viola
encontra-se a indicação de staccato – ponto de diminuição – ao passo que nos
violoncelos não. Porém optou-se pela articulação presente nas violas.
3) Devido às incongruências entre as partes orquestrais decidiu-se uniformizar o emprego
do sinal de staccato no trecho que compreende o terceiro tempo do compasso 47 ao
compasso 51.
4) No compasso 60 sugere-se executar as oito semicolcheias do primeiro e segundo
tempos - de altura Si 2 - com a mão esquerda. Ao dividir as oitavas entre as duas mãos
facilitamos a execução e evita-se um salto com a mão direita no terceiro tempo.
5) De forma semelhante pode-se executar as semicolcheias de altura Si 2 a partir do
terceiro tempo do compasso 74 com a mão esquerda para evitar o salto com a mão
direita em 75. Este procedimento pode ser estendido por todo trecho a partir de 67,
todavia optou-se por dispor as vozes em ambas as pautas para dar uma impressão
visual mais equilibrada e fiel à orquestração original.
6) Nos compassos 75 a 77 optou-se por uniformizar os sinais de articulação e acentos
com base em suas ocorrências nas partes orquestrais, que não coincidem totalmente,
mesmo nas vozes que tocam em uníssono.
7) Acrescentamos ligaduras de articulação no primeiro e segundo tempo da voz aguda do
compasso 108 para criar uma uniformização com o compasso 110, pois estes são
semelhantes em seu perfil motívico-intervalar.
222
II - Lento
1) Procurou-se manter neste movimento a separação dos naipes da orquestra indicados
pela direção das hastes das notas – para cima ou para baixo – sempre quando
conveniente.
2) Nos compassos 26 a 29, devido à limitação da extensão da mão, foi necessário
escrever os segundos violinos e as violas oitava acima.
3) Pelo mesmo motivo anterior os segundos violinos foram suprimidos nos dois
primeiros tempos do compasso 37 e nos dois últimos do compasso 46.
4) Foram fundidas as vozes dos primeiros e segundos violinos no primeiro tempo do
compasso 38.
5) Nos compassos de 47 ao primeiro tempo do compasso 49 houve a necessidade de se
escrever oitava acima o segundo e terceiro divisi dos primeiros violinos, tendo, no
entanto, que suprimi-los no compasso 46. Neste mesmo trecho a linha dos segundos
violinos também foi escrita oitava acima do original.
6) No compasso 53 tomou-se a liberdade de atrasar em uma colcheia o Ré# dos primeiros
violinos. Essa licença se justifica pelo melhor efeito sonoro que se obtém ao piano.
III - Ritmado
1) Uma dificuldade ao transcrever esse movimento deve-se à indicação [sul] ponticello
nas partes orquestrais – exceto os contrabaixos - e que perpassa praticamente todo o
movimento. Ao tocar perto ou sobre a ponte, os instrumentos de corda produzem um
timbre mais “vítreo”, devido aos harmônicos superiores que sobressaem nessa técnica.
Após certa reflexão optou-se simplesmente por alertar o pianista para não produzir um
som demasiado “pesado”. Sugere-se uma articulação leve (sutilmente staccato) no
intuito de traduzir melhor o efeito e corroborar o instrumento solista. As poucas
passagens onde não se encontra essa indicação se farão evidentes, devido ao caráter
mais melódico e suas marcas de ligadura. A voz mais grave desse movimento
referente aos contrabaixos – e às vezes aos violoncelos - apresenta marcas de
articulação que são exclusivas a ela.
2) Este movimento possui um caráter vivo e extremamente rítmico. Nessa rítmica deve-
se observar, sobretudo, a importância das vozes intermediárias. Estas marcam o ritmo
através das mudanças de alturas nas movimentações cromáticas que se sucedem,
sobretudo no “tenor” na mão esquerda.
3) Visando uma execução mais confortável sugere-se que as notas Dó#, Ré e Sib a partir
do segundo tempo do compasso 5 – na altura do “tenor” – sejam tocadas com o
223
polegar da mão direita, voltando a ser tocada com o polegar da mão esquerda a partir
do compasso 7.
4) A dificuldade de execução dos compassos 79 a 82 pode ser amenizada sem perder a
vibração rítmica executando em colcheias o movimento em terças ascendentes da mão
direita ao passo que a esquerda permanece marcando as semicolcheias.
5) O compasso 96 representa um momento desconfortável para o pianista por apresentar
uma textura densa - a quatro vozes - em tempo muito vivo. Caso seja necessário a
supressão de vozes para manter a fluência recomenda-se preservar as vozes da
extremidade – o soprano e o baixo.
6) Assim como no comentário 3 do primeiro movimento, podemos proceder com a
execução da mão direita em colcheias enquanto marcamos o ritmo em semicolcheias
na mão esquerda a partir do segundo tempo do compasso 112 e todo o compasso 113.
7) Devido a dificuldade de execução em andamento vivo, assim como no comentário 5
os compassos 191 a 193 podem ser simplificados em se mantendo as vozes das
extremidades – o soprano e o baixo.
Ver Figuras 125, 126 e 127.
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244
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Este Apêndice divide-se em duas pastas: uma com um DVD e a outra com um CDR.
O DVD tem como propósito apresentar alguns exemplos musicais e procedimentos técnicos
violonísticos não usuais, sempre partindo da utilização do mínimo da mão direita e, em
algumas situações, inéditos na história da performance do instrumento. Além das obras
escritas para esta tese – presentes no capítulo 4 – O CDR apresenta a gravação do Estúrdio I
de Luiz Otávio Braga, obra fundamental para nossa pesquisa. A partitura dessa obra encontra-
se no Anexo.
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