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para o Brasil e para o mundo, com o direito que um Estado possa ter para inter-
ferir em assuntos internos de outro Estado e com o tema da segurança interna-
cional sob o prisma ambiental.
Dado esse contexto, a presente pesquisa tem, como objetivo geral, analisar
a possiblidade de ressignificação do conceito de soberania a partir do entendi-
mento da Amazônia brasileira como um “bem comum” da humanidade.
Para atingir o objetivo proposto, a pesquisa também procurará: (1) exami-
nar o atual estágio de fragilização e degradação do meio ambiente global em
função do processo de mudanças climáticas e a importância da floresta ama-
zônica nesse contexto; (2) identificar os elementos que permeiam e permitem
os atuais discursos limitadores da soberania brasileira sobre a Amazônia; (3)
delimitar, nesse pano de fundo, os dispositivos do Direito Internacional Públi-
co para confirmar ou refutar um direito e/ou um dever de ingerência sobre a
Amazônia e, consequentemente, uma ressignificação do conceito de soberania.
Ao final, será observado que normas de direito internacional e do tratado
regional amazônico, somadas à conduta negligente, principalmente do Brasil,
tem dado sustentação ao direito, ou dever, de ingerência externa sobre o espaço
amazônico.
Isso significa que a situação atual da floresta tropical está a meio caminho
do ponto de não retorno ou, em outras palavras, a meio caminho do ponto de
inflexão a partir do qual esse ecossistema pode deixar de ser floresta.
Os estudos científicos promovendo a preservação da floresta não encon-
tram, entretanto, respaldo na realidade fática. As taxas do desmatamento ile-
gal na Amazônia, que haviam apresentado reduções significativas até o ano de
2014, passaram, conforme o Ministério do Meio Ambiente (2019), a apresentar
aumentos expressivos e sucessivos: 5,0 mil km2 em 2014, 6,2 mil km2 em 2015 e
7,9 mil km2 em 2016. Após uma ligeira queda no ano de 2017, o desmatamento
voltou a crescer em 2018, chegando a 7,9 mil km2.
Em agosto de 2019, a divulgação de um crescimento especial nos dados
de desmatamento da Amazônia gerou posicionamentos inusitados por parte
do governo que, inicialmente, desqualificou o órgão responsável pela apuração
e divulgação desses dados, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
e, em seguida, levantou suspeitas quanto à veracidade das informações divul-
gadas. O desmatamento verificado pelo Inpe, entre agosto de 2018 até julho de
2019, foi 40% maior do que o período anterior (INPE, 2019).
Aliado aos dados alarmantes a respeito do crescimento do desmatamento
na região, as queimadas também apresentaram um aumento considerável. O
Brasil teve 39% mais incêndios de janeiro a agosto de 2019 do que no mesmo
período de 2018. O ano de 2019 se encaminha para ser o terceiro ano com maior
taxa de incêndios desde 2010 (WEISSE, 2019).
Em adição, Andrade (2019) apresenta que, “Até agora, mais de 76.000 in-
cêndios florestais foram contabilizados no Brasil este ano – a maioria na Ama-
40 | Charles Armada & Ricardo Boff
Mesmo com a presença de soft norms, é certo que todos os Estados têm o de-
ver de colaborar com a política internacional de preservação ambiental, res-
peitando os acordos que firmaram, adotando medidas de proteção, prevenção
e reparação e evitando a ocorrência de danos ambientais locais, assim como
de catástrofes que transcendam os limites geográficos e afetem outras nações.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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