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actividade física, o desconforto crescente, a presença de trics 2004 Mar; 113 (3 Pt 1): e163-7. Disponível em: http://www.pe-
diatrics.org/cgi/content/full/113/3/e163 [acedido em 14/08/2009].
sintomas sistémicos ou de sintomas neurológicos são
4. Freedman KB, Bernstein J. The adequacy of medical school education
alguns dos sinais de alarme.
in musculoskelectical medicine. J Bone Surg Am 1998 Oct; 80 (10):
Boa leitura. 1421-7.
5. Hergenroeder AC, Chorley JN, Laufman L, Fetterhoff AC. Pediatrics re-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS sidents’ performance of ankle and knee examinations after educatio-
1. Jordão JG.A Medicina Geral e Familiar – Caracterização da prática e da nal intenvention. Pediatrics 2001 Apr; 107 (4): e52. Disponível em:
sua influência no ensino pré-graduado. (Dissertação de Doutoramen- http://pediatrics.aappublications.org/cgi/content/full/107/4/e52 [ace-
to). Lisboa: Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; 1995. dido em 16/08/2009].
2. Inquérito Nacional de Saúde 2005-2006. Disponível em: http://
www.insa.pt/sites/INSA/Portugues/Publicações/Outros/Docu- ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
ments/Epidemiologia/INS_05_06.pdf [acedido em 15/08/2009]. Leonor Prata
3. Reeder BM, Lyne ED, Patel DR, Cucos DR. Referral patterns to a pedia- E-mail: leonor.prata@rpcg.apmcg.pt
tric orthopedic clinic: implications for education and practice. Pedia-
capa
JULIO PÊGO
Natural de Lapa-Cartaxo. Cursou Medicina e especializou-
-se em Psiquiatria. A paixão pela arte acompanhou-o des-
de muito jovem, a par do percurso escolar. Expôs aguarelas,
pela primeira vez aos 19 anos de idade, no Coreto do Jardim
da República em Santarém, integrado no «Grupo Bar-4».
Numa fábrica de cerâmica experimentou a roda e fez as pri-
meiras peças em terracota, com a colaboração do escultor
Miguel Calado. Organizou exposições de artes plásticas de
alunos da Escola António Arroio e da Escola Superior de Be-
las Artes no espaço universitário associativo da Faculdade S/Título
de Medicina de Lisboa. Integrou um atelier de Artes Plásti- Óleo s/Tela, 50x70, Ano 2009
cas, durante dois anos, orientado pela Drª Ricardina Sam- Júlio Pêgo
paio, no Centro de Saúde Mental Infantil de Lisboa. Diplo-
mado no curso de Artes Plásticas, durante um ano, patroci- • Menção Honrosa de Escultura. SOPEAM. 2002. Lisboa
nado pela Rotring Portugal, orientado pelo pintor Durand • Prémio Celestino Gomes de Escultura. SOPEAM. 2004.
Caistailbert, da Colômbia. Expõe regularmente pintura des- Lisboa.
de 1986. Fez cinco mostras individuais de pintura e cinco
de escultura. Participou em cerca de meia centena de expo- • Sócio Titular da Sociedade Nacional de Belas Artes.
sições colectivas de artes plásticas. Co-autor do livro: «O Membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Es-
Erotismo na Arte», coordenado pelo Dr. Santinho Martins, critores e Artistas Médicos.
Edição Pfizer. Citado no livro: «Artistas Médicos do Século • Artista Acreditado pela AIAP.UNESCO.
XX», do Prof. Dr. Armando Moreno. Divulgado no Guia
D’Arte, 2009. Tem três esculturas em ferro no Jardim da Or- OBRA PÚBLICA
dem dos Médicos, em Lisboa em regime de «comodato». • Escultura em Ferro Policromado (2004)- Jardim do Hos-
pital de Santa Maria. Lisboa, Alusiva aos 25 anos do Cur-
PRÉMIOS so Médico de Lisboa 1961/86.
• Prémio Pintura Dr. Anastácio Gonçalves, 1997. ACMP. • Representado em colecções nacionais e estrangeiras.
Lisboa • Blogue pessoal: www.psicoarte-psicoarte.blogspot. com
RESUMO
O conceito de Luxação Congénita da Anca (LCA) tem vindo gradualmente a ser substituído pelo de Displasia de Desenvolvi-
mento da Anca.
A importância desta evolução respeita sobretudo à noção de doença acetabular e sua capacidade de conter a cabeça femo-
ral em termos físicos. O autor apresentam algumas noções práticas sobre a semiologia desta entidade bem como uma abor-
dagem racional sobre meios complementares de diagnóstico e referenciação à consulta de Ortopedia infantil.
tica têm uma incidência muito menor de DDA, em tando da linha média) e elevando a articulação coxo-
comparação com a raça branca e com os nativos da femoral, levantando o grande trocanter e palpando a
América. entrada da cabeça do fémur dentro do acetábulo. Tra-
duz a presença de uma luxação da anca, em princípio,
SEMIOLOGIA CLÍNICA redutível. Qualquer uma destas manobras deverá ser
Em geral, existe na população médica algum grau de de- pesquisada em separado e para cada um dos membros
sinformação em relação ao diagnóstico e tratamento isoladamente. É importante perceber que estes sinais
desta patologia. Os sinais clássicos de DDA mais fre- desaparecem mais ou menos rapidamente, sobretudo
quentemente assinalados (Ortolani, Barlow, etc) são, a partir da 2ª ou 3ª semanas de vida e permanecem, ra-
muitas vezes, mal interpretados ou procurados quan- ramente, até ao 6º mês de vida, consoante o tónus mus-
do já não existem.3 cular e a laxidão ligamentar (Figura 1).
Assimetria de pregas (glúteas ou inguinais): é um si-
Recém-nascido nal menor, pois aparece em cerca de 20% de casos nor-
Para a observação, a criança deverá estar em ambien- mais. É, muitas vezes, mal percebido ou avaliado. De
te tranquilo e aquecido, sem fome, sem fralda e mani- um modo prático, devemos considerá-lo como um si-
pulando-a delicadamente. nal importante para nos recordar da existência desta
Sinal de Barlow: O examinador agarra os joelhos da patologia (Figura 2).
criança e, forçando a adução (aproximando da linha Movimentos circulares da articulação desenca-
média) e a deslocação posterior da coxa, tenta provo- deiam, frequentemente, «ruídos» ligamentares do liga-
car a saída da cabeça femoral do acetábulo, que é sen- mento redondo ou da fascia lata, vulgarmente designa-
tida como um movimento mais ou menos amplo. Ao re- dos por «clic» ligamentar e sem significado patológico.
laxar a pressão exercida deverá sentir-se a ressalto de Por definição, o sinal de Ortolani deverá ser sentido ou
reentrada da cabeça no acetábulo. Este sinal significa visto, mas não «ouvido».2
que a anca é instável e luxável. Deverá ser pesquisado
com delicadeza e nunca em DDA em tratamento Lactente
(Figura 1). A partir do 1º mês de vida, a instabilidade da anca do
Sinal de Ortolani: Inverso do anterior, pois o que se RN poderá evoluir para a cura espontânea ou para a lu-
tenta é reduzir a anca luxada, abduzindo a coxa (afas- xação, de uma forma progressiva e com rapidez variá-
vel. Do mesmo modo, a luxação redutível poderá tor-
nar-se irredutível, alterando muita da semiologia vul-
garmente pesquisada. Surge uma limitação da abdução
do membro afectado (Figura 3). Raramente se poderá
Criança andante
Ao contrário daquilo que é vulgarmente assumido, a uma experiência confirmada nesta competência. A sua
DDA não está associada a um atraso do início da mar- precisão diagnóstica pode ser assumida, em particular,
cha. A limitação da abdução torna-se mais óbvia e exis- após as 3 ou 4 semanas de vida, pois os exames preco-
te um encurtamento do membro afectado mais ou me- ces diagnosticam, sobretudo, imaturidades articulares.
nos aparente. Infelizmente, os pais são, muitas vezes, Permite fazer diagnósticos em casos de clínica duvido-
os primeiros a detectá-la, e a radiografia extra longa sa e avaliar a evolução do tratamento em casos confir-
dos membros inferiores é também, frequente e infeliz- mados. A sua utilização universal não está recomenda-
mente, o meio complementar de diagnóstico mais uti- da como forma de rastreio (Figuras 6 e 7).1-3
lizado; isto significa que o diagnóstico surge como um A radiografia (RX) da bacia em incidência antero-
achado radiológico e, também, que a criança foi expos- posterior (AP), com extensão neutra dos membros in-
ta a radiação desnecessária. A marcha torna-se claudi- feriores, pode ser válida, sobretudo, após o aparecimen-
cante, surgindo o sinal de Trendelenburg (em que a ba- to dos núcleos de ossificação femoral, aos 4-6 meses no
cia cai para o lado oposto do membro afectado e a sexo feminino e cerca de 2 meses mais tarde, no sexo
criança se inclina para o lado afectado para compen- masculino. Para nos ajudar na interpretação e avalia-
sar o desequilíbrio). Nos casos bilaterais, é vulgarmen- ção do Rx da bacia em AP existe um conjunto de linhas
te conhecida como «marcha de pato». Estes são acom- auxiliares:
panhados de hiperlordose lombar, mais ou menos mar- Linha de Perkins: vertical no bordo externo do ace-
cada. A marcha em rotação externa também se torna tábulo
mais aparente.2 Linha de Hilgenreiner: horizontal através do centro
da cartilagem triradiada
EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO Estas três linhas intersectam-se definindo quatro
A ecografia das coxo-femorais tornou-se, rapidamen- quadrantes, e o núcleo cefálico deverá estar normal-
te, um meio muito útil para o rastreio da DDA. No en- mente, localizado no quadrante supero interno (anca
tanto, é um exame técnico-dependente, requerendo luxada).
fisários dos fémures, cerca dos 4 a 6 meses de vida. de osteotomia do fémur e/ou do ilíaco e, em ultima ins-
4. Após os 4 meses de vida, fazer RX da bacia em AP. tância, de substituição articular por prótese, em idades
5. Investigar marchas anómalas, sobretudo se com as- mais avançadas.
simetrias rotacionais.2 A referenciação à consulta de Ortopedia infantil de-
verá ser feita com carácter urgente, indicando a suspei-
TRATAMENTO ta do diagnóstico. Nas crianças após os 4 meses de ida-
O tratamento destas situações poderá ser relativamen- de deverá ser feito, previamente, Rx da bacia.
te simples ou extremamente complexo, com implica-
ções graves para o futuro da criança e deverá ser orien- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
tado por um médico experiente em ambas as vertentes 1. Staheli LT. Practice of Pediatric Orthopedics. Philadelphia: Lippincott,
Williams & Wilkins; 2001.
do tratamento, quer seja cirúrgico ou conservador.
2. Herring JA. Tachdjian’s Pediatric Orthopaedics. 3rd ed. Philadelphia:
O uso de fraldas duplas deve ser desaconselhado, W.B. Saunders; 2002.
pois, além de ineficaz, desenvolve nos pais um falso 3. Morrissey RT,Weinstein SL, editors. Pediatric Orthopedics. Philadelphia:
sentido de «cura» que tende a adiar o tratamento cor- Lippincott, Williams & Wilkins Ed; 2001.
recto.1
O tratamento conservador é aplicável nos casos em Os autores declararam não possuir conflitos de interesses
que a anca pode ser reduzida directamente ou após
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:
tracção, em regime de internamento e implica o uso de Francisco Sant´Anna
aparelhos de abdução das ancas. Serviço de Ortopedia, Hospital Dona Estefânia
O tratamento cirúrgico poderá ser relativamente Rua Jacinta Marto, 1169 Lisboa, Portugal
simples, em casos de reposicionamento da cabeça do E-mail: fccsantanna@gmail.com
fémur no acetábulo ou envolver processos complexos
ABSTRACT
DEVELOPMENT DISEASE OF THE HIP - BASIC CONCEPTS AND GUIDELINES IN FAMILY MEDICINE
The concept of Congenital Hip Displasia (CHD) has been gradually replaced by the one of Developmental Displasia of the HIP
(DDH). The importance of this evolution mainly concerns the notion of the acetabular disease and its capacity of physically
containing the femural head. The authors present some practical notions concerning the semiology of this entity and also a ra-
tional approach on complementary diagnostic tools and the needs of referral to Paediatric Orthopaedic consultation.
Gonalgia na criança e
no jovem adolescente
em Medicina Familiar
Monika Furriel Thüsing*
RESUMO
A gonalgia é uma queixa comum na criança e no adolescente e esta é uma razão frequente para os pais levarem os seus filhos
a uma consulta. A prevalência da dor no joelho é considerável, mas só ocasionalmente o joelho apresentará uma lesão que leve
a uma intervenção cirúrgica. Por este motivo, é muito importante perceber que tipo de dor no joelho nos é referida.
É importante saber que há diferenças significativas entre o joelho de uma criança (ou do adolescente) e o joelho de um adulto.
O objectivo deste artigo é fornecer uma linha de abordagem prática na avaliação e no tratamento da dor no joelho da crian-
ça e do adolescente.
• manter a perna em rotação interna e abdução (‘val- Pensa-se que o aumento das acções mecânicas ou
gus stress’), nesta posição o joelho é trazido da exten- traumatismos sobre uma região com predisposição se-
são para a flexão; rão responsáveis pelo aparecimento da lesão.
• em caso de haver uma rotura do ligamento cruzado
anterior surge uma subluxação da tíbia para anterior. Osteocondroses no joelho:
Doença de Osgood Schlatter
EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO • idade: 11 aos 16, distribuição masculino/ feminino
Imagiologia 1:1
Os exames a pedir são • situada na tuberosidade anterior da tíbia
• radiografia do joelho em dois planos (antero-poste- Doença de Sindling- Johannson-Johansson
rior e perfil); • idade: 10 aos 15, distribuição masculino/ feminino
• radiografia da rótula em perfil; 1:1
• por vezes, radiografia axial da rótula a 30º e a 60º de • situada no pólo inferior da rótula
flexão.
Neste contexto, não se pode esquecer que, numa Princípios terapêuticos:
criança ou num adolescente, depois de um traumatis- • Identificação das causas e sua minimização;
mo articular pode não haver alterações facilmente vi- • Alívio da tensão muscular (palmilhas, joelheira...);
síveis na radiografia, o que não significa que não haja • Alongamentos musculares;
arrancamentos ou pequenas fracturas na zona da car- • Restrição da actividade física por períodos relativa-
tilagem. mente longos (mais de 3 meses, até desaparecimen-
Acessoriamente, em caso de suspeita de outras pa- to total de toda a sintomatologia).
tologias, poderão ser pedidas:
• Ecografia articular Prevenção:
• Tomografia axial computorizada (TAC) • Manter um bom equilíbrio músculo-tendinoso;
• Ressonância magnética nuclear (RMN) • Alívio da tensão muscular (palmilhas, joelheira...);
• Cintigrafia óssea (actividade metabólica óssea) • Tentar descobrir o jovem em risco para poder inter-
Em caso de derrame intraarticular, a punção articu- venir precocemente;
lar pode ser uma mais valia na formulação do diagnós- • Alertar o jovem para a existência desta patologia e es-
tico. O líquido pode ser seroso, serohemático, hemáti- timulá-lo a fazer treinos de forma equilibrada e con-
co, hemático com gotas de gordura e, com essas carac- trolada.
terísticas, indicar um diagnóstico (por exemplo, fractu-
ra osteocondral). Osteocondrite dissecante
A osteocondrite dissecante é uma necrose asséptica lo-
BREVE REVISÃO DE ALGUMAS ALTERAÇÕES QUE calizada, que afecta o osso subcondral com maior fre-
CAUSAM DOR NO JOELHO NA CRIANÇA E NO quência na região lateral do côndilo femural interno,
ADOLESCENTE podendo, também, estar localizada no côndilo lateral
Osteocondroses e, por vezes, na face posterior da rótula.
As osteocondroses constituem um amplo e heterogé- A etiologia exacta não está esclarecida: discutem-se
neo grupo de alterações, caracterizado por transtorno razões traumáticas e factores hereditários. Existe uma
da ossificação encondral das epífises ou apófises. disrupção da vascularização de uma área localizada do
Manifestam-se por dor de carácter mecânico e estão osso subcondral, da qual resulta a necrose focal.
relacionadas com os surtos de crescimento e de altera- A idade do adolescente no início da osteocondrite
ções hormonais. As osteocondroses têm uma origem dissecante tem um valor prognóstico. Segundo D. Wen-
desconhecida. Historicamente, são classificadas como ger2 as crianças que, no início, têm menos de 12 anos,
necroses isquémicas e são conhecidas pelo nome do têm lesões muitas vezes mais pequenas e apresentam
autor que descreveu cada uma das suas localizações. uma maior probabilidade de ter uma resolução espon-
Lesão meniscal
Figura 2. Radiografia em perfil de um joelho, alterações da tubero- Em comparação com o adulto, é rara a lesão do menis-
sidade anterior da tíbia (arquivo da autora) co na criança e no adolescente. Quando há uma lesão
do menisco interno, ela é, normalmente, extensa e di-
tânea. Adolescentes com mais de 12 anos de idade e vide-se em lesões do tipo «asa de cesto» ou em «rotu-
aqueles com lesões maiores de dois centímetros têm ras na base», que devem, sempre que possivel, ser su-
um potencial para fazer uma separação parcial ou até turadas (o menisco do jovem tem irrigação sanguínea
mesmo um descolamento do fragmento. na base do menisco; o adulto, por norma, já não tem).
Os sintomas são, em regra: dor inespecífica, poden- A lesão do menisco externo é, na maior parte das ve-
do haver a sensação de um clique ou ressalto, e um au- zes, ligada à presença de um menisco discóide. O me-
mento moderado de volume do joelho. No caso do frag- nisco discóide é um menisco de forma redonda, em vez
mento estar deslocado, existe um corpo livre dentro do de ter a forma de meia lua.
joelho que pode causar o bloqueio do mesmo.
Para obter o diagnóstico é feita a anamnese e, geral- Lesão do ligamento colateral
mente, a radiografia convencional basta, talvez adicio- A lesão do ligamento colateral externo é muito rara; já
nando uma imagem de Frick (imagem AP do joelho em a lesão do ligamento colateral interno é mais comum.
flexão, que permite interpretar a zona intercondiliana). O tratamento é conservador. Esta lesão pode estar re-
O tratamento é, na maior parte dos casos, conserva- lacionada com a lesão do ligamento cruzado anterior e
dor, passando pela diminuição da actividade física; por do menisco interno («unhappy triad»), tendo o joelho
vezes é necessária a descarga do membro afectado com indicação cirúrgica (o ligamento colateral interno con-
duas canadianas. No caso de o fragmento se ter solto, tinua a ser tratado de modo conservador).
o tratamento será cirúrgico.
Lesão do ligamento cruzado anterior
Luxação da rotula Na criança e no adolescente a lesão mais típica por
Neste contexto é preciso distinguir a luxação aguda da stress do ligamento cruzado anterior é a fractura da es-
rótula por um traumatismo adequado, que é uma situa- pinha tibial, que corresponde à inserção distal do liga-
ção mais rara, da luxação rotuliana aguda por predis- mento cruzado anterior. Estas fracturas podem ser tra-
posição, sem traumatismo major ou mesmo sem trau- tadas com gesso se o fragmento estiver reduzido; se não
matismo nenhum. Neste último caso, os jovens não estiver, é necessário fazer uma redução e fixação do
conseguem, geralmente, explicar como aconteceu a lu- fragmento.
xação, referindo que o joelho simplesmente «falhou». No jovem, a lesão do ligamento cruzado anterior iso-
lada e incompleta tem potencial para regenerar. A le- • Medidas diagnósticas ou terapêuticas (iatrogenia);
são completa isolada pode ter tratamento conservador • Feridas perfurantes.
ou cirúrgico. O prognóstico desta lesão na criança é A flora responsável varia com o escalão etário, sen-
pior que no adulto, por um lado pela maior actividade do essencial fazer uma tentativa de isolamento do ger-
física, por outro, pela laxidão ligamentar típica da crian- me em causa antes do início de um tratamento antibió-
ça que, por si, dá uma maior instabilidade ao joelho. Por tico.
esta razão, o tratamento é, cada vez mais, cirúrgico. Na No recém-nascido, o quadro clínico é, por vezes, me-
lesão do ligamento cruzado anterior com lesão de mais nos claro, e o único achado positivo pode ser uma pseu-
estruturas, o tratamento deverá ser cirúrgico. do-paralisia de um membro.
A técnica cirúrgica no adolescente difere da do adul- A osteomielite distal do fémur e proximal da tíbia
to, enquanto as cartilagens de crescimento ainda não também podem causar dor referenciada ao joelho.
estiverem fechadas.
Tumores
Fracturas Quase 40% dos tumores ósseos da criança e do adoles-
A fractura de um osso de uma criança tem característi- cente encontram-se na região do joelho, principalmen-
cas especiais, tanto te no fémur distal e na tíbia proximal, onde estão loca-
• no tipo de fractura, lizadas as cartilagens de crescimento mais activas do
• como no processo de consolidação, corpo.3 Por este motivo, e embora raros e mais frequen-
• no tempo que este leva e temente benignos (osteocondroma, por ex.), é neces-
• nas complicações que podem resultar. sário não esquecer esta possibilidade.
O osso infantil é menos rígido que o osso do adulto,
resultando daí fraturas típicas da criança. As fracturas PROCEDIMENTOS DO MÉDICO DE FAMÍLIA
articulares deverão ser reduzidas anatomicamente e A longo prazo, a maioria dos casos de crianças e ado-
assim ser mantidas por meios incruentos ou cruentos. lescentes que referem dor no joelho não apresentam re-
percussões funcionais. Por este motivo, é importante
Infecções chegar ao diagnóstico correcto, para não haver um so-
Neste contexto, é preciso dar especial atenção às artri- bre-tratamento dos casos que podem ser tratados de
tes sépticas, que são uma situação grave, com alta mor- forma relativamente simples. Por outro lado, também
bilidade. Podem surgir em qualquer idade: 30% dos ca- não devem escapar os doentes com um diagnóstico que
sos ocorrem antes dos 2 anos e 50% antes dos 3 anos. necessita de tratamento mais cauteloso.
Do ponto de vista anatómico, o joelho é a articula- O tratamento após um traumatismo agudo deve in-
ção mais frequentemente atingida depois dos 2 anos; cluir descarga do membro afectado com o uso de 2 ca-
antes dessa idade, nomeadamente no recém-nascido, nadianas, a elevação do membro, crioterapia local, con-
é a anca. O total destas 2 áreas abarca 85% de todas as tenção local e AINE em SOS. Estas medidas devem ser
artrites na criança. respeitadas até à ausência de dor.
A criança apresenta-se com ar «doente», geralmen- No caso de a criança não deixar examinar o joelho
te com febre, sem apetite, irritada e prostrada. A arti- após o traumatismo, deve ser reavaliada em tempo útil
culação do joelho perde os contornos ósseos, demons- (2-3 dias). Em caso de dúvida, deve ser encaminhada
tra um aumento da temperatura local e rubor, derrame para um Ortopedista.
articular e limitação dolorosa da mobilidade. Os casos em que há suspeita de lesão do joelho ou
Existem várias vias pelas quais os agentes infeccio- os casos em que há um quadro álgico significativo de-
sos podem atingir uma articulação: verão ser encaminhados para um serviço de Urgência.
• Via hematogénea (é a mais frequente, em mais de
80 % dos casos); CONCLUSÕES
• Disseminação de uma osteomielite na proximidade; Existem muitas crianças e adolescentes, de todas as
• Infecção periarticular; idades e de ambos os sexos, com dor no joelho de todo
o tipo de intensidade. As causas mais comuns estão re- sioterapia e, também, de limitação da actividade física.
lacionadas com o stress por actividade em excesso e No entanto, outros casos requerem tratamento espe-
com o crescimento, não necessitando de exercícios de cífico ou, até, intervenção cirúrgica. São estes os que é
recuperação específicos extensos nem de intervenção necessário detectar e que deverão ser encaminhados
cirúrgica. para um serviço de Ortopedia.
A função do médico é a de analisar com atenção a
história clinica, examinar o joelho, fazer as radiografi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
as necessárias (o mínimo possível) e excluir doenças da 1. J. Fairbank JC, Pynsent PB, van Poortvliet JA, Phillips H. Mechanical fac-
tors in the incidence of knee pain in adolescents and young adults. J
anca, estabelecendo um diagnóstico. Na maior parte
Bone Boint Surg Br 1984 Nov; 66 (5): 685-93.
das vezes, basta dar uma explicação ao jovem e aos pais 2. Wenger DR, Rang M. The Art and Practice of Children’s Orthopaedics.
sobre o diagnóstico, as suas causas, o prognóstico e o New York: Raven Press; 1993.
plano terapêutico, de forma a que a criança ou o ado- 3. Hefti F. Kinderorthopädie in der Praxis. Berlin: Springer Verlag; 1997.
lescente possam «crescer» sem queixas e/ou sem se-
quelas. Os autores declararam não possuir conflitos de interesses
Para isso, o médico tem sempre que ter em mente as
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
diferenças existentes na criança e no adolescente (com Monika Furriel Thüsing
as diferenças inerentes no possível diagnóstico), tanto Serviço de Ortopedia, Hospital Dª Estefânia
do fôro ortopédico como traumatológico. Rua Jacinta Marto, 1169 Lisboa, Portugal
Alguns casos necessitam de auxílio por ortóteses, fi- E-mail: monikathuesing@gmx.de
ABSTRACT
Deformidades do Pé – conceitos
básicos e orientações para
o Médico de Família
Francisco Sant´Anna,* Manuel Cassiano Neves**
RESUMO
O pé da criança constitui uma das principais preocupações dos pais em relação ao futuro da criança. Os autores abordam, de
forma resumida, as principais deformidades do pé da criança, bem como as suas indicações terapêuticas e fornecem indicações
sobre as atitudes a tomar pelo médico de família ou pediatra.
ções, como a displasia de desenvolvimento da anca, das. O material de que é feito o sapato deve ser poroso
pelo que estas crianças devem ser submetidas a um e permitir a respiração, ter características térmicas e de
rastreio sistematizado de outras malformações. protecção adequadas e permitir liberdade de movi-
Na avaliação da patologia do pé da criança, é neces- mentos.
sário ter presentes os principais sinais de alarme. A Devemos ter a noção de que a marcha se desenvol-
identificação de uma deformidade rígida, que, com a ve e aperfeiçoa com o crescimento até aos 6-7 anos,
manipulação, não assuma a posição anatómica, é sem- idade em que a criança adquire um padrão de marcha
pre indicativa de uma situação patológica, requerendo semelhante ao dos adultos.
uma observação ortopédica imediata. As deformida-
des assimétricas são, também, geralmente patológicas, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
requerendo igualmente uma avaliação ortopédica. 1. Herring J, editor. Tachdjian’s Pediatric Orthopaedics. 4th ed. Phila-
delphia: W.B. Saunders; 2008.
Uma situação benigna, o pé plano, merece aqui uma
2. Staheli LT, editor. Practice of Pediatric Orthopedics. Philadelphia: Lip-
referência, pelas dúvidas que sempre levanta nos pais pincott, Williams & Wilkins; 2001.
e que, por vezes, exigem uma observação ortopédica. 3. Ponseti IV, Campos J. Observations on pathogenesis and treatment of
O pé plano é normal na criança e o desenvolvimento congenital clubfoot. Clin Orthop Relat Res 1972 May; 84: 50-60.
da arcada plantar não depende do uso de calçado cor- 4. Wenger DR, Mauldin D, Speck G, Morgan D, Lieber RL. Corrective shoes
and inserts as treatment for flexible flatfoot in infants and children. J
rectivo; todos os implantes, palmilhas ou reforços são
Bone Joint Surg Am 1989 Jul; 71 (6): 800-10.
inúteis e até, por vezes, prejudiciais. O pé plano deve ser 5. Mubarak SJ, Patel PN, Upasani VV, Moor MA, Wenger DR. Calcaneona-
encarado como um problema apenas se for rígido, do- vicular coalition: treatment by excision and fat graft. J Pediatr Orthop
loroso ou muito pronunciado. Uma arcada plantar mui- 2009 Jul-Aug; 29 (5): 418-26.
to alta constitui, seguramente, um motivo muito maior
de preocupação. Os autores declararam não possuir conflitos de interesses
O calçado da criança deve ser flexível, confortável e
ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
nunca demasiado justo. Os sapatos duros devem ser
Francisco Sant´Anna
evitados, pois impedem o movimento normal do pé, Serviço de Ortopedia, Hospital Dona Estefânia
que é essencial para o desenvolvimento da força mus- Rua Jacinta Marto, 1169 Lisboa, Portugal
cular. A sola não deve ser muito escorregadia nem de- E-mail: fccsantanna@gmail.com
masiado aderente, pois é uma fonte frequente de que-
ABSTRACT
RESUMO
As deformidades axiais dos membros inferiores constituem um dos principais motivos de consulta na área de Ortopedia Infan-
til. Esta situação deve-se, por um lado, ao facto de haver uma grande percentagem de crianças (cerca de 20%) que apresentam
uma deformidade fisiológica durante o desenvolvimento e, por outro, à «tradição» existente, segundo a qual estes desvios ne-
cessitam de um tratamento, usualmente por calçado ortopédico.
Torna-se, por isso, imperioso destrinçar o fisiológico do patológico, diferenciar as diferentes etiologias e corrigi-las precoce-
mente medicamente e, ainda, determinar quando uma deformidade é passível de correcção espontânea ou quando exige uma
terapêutica cirúrgica.
B) Geno valgo
Idiopático: é mais frequente em adolescentes; coexis-
te, geralmente, com dor anterior e interna do joelho, as-
sociada a uma marcha com necessidade de um joelho
«contornar» o outro (marcha circundante) e, por vezes,
com instabilidade patelo-femoral.
Trata-se de uma situação habitualmente progressi-
Figura 1. Evolução do eixo mecânico dos membros inferiores va, que não corrige espontaneamente e que requer
durante o crescimento
eventual tratamento cirúrgico.
Secundário: é mais comum dos 3 aos 10 anos e as
versão dos colos do fémur. Nos dois primeiros anos, causas mais frequentemente associadas são:
fruto da acção muscular, estas deformidades vão cor- • Doenças metabólicas: raquitismo
rigindo espontaneamente, ajudadas pelo hiper-cres- • Doenças genéticas: displasias ósseas, Síndroma de
cimento do côndilo femoral interno, o que acontece Down, neurofibromatose, Síndroma de Marfan
cerca dos 2 anos de idade. • Doenças reumatológicas: ex. artrite inflamatória
É, por isso, frequente observar um varismo entre o • Traumatismos: ex. fractura proximal da tíbia*
1º e 2º ano de vida e um valgismo entre o 2º e 6º ano de • Infecções: poliomielite
vida conforme o quadro anexo (Figura 1). É uma situa- • Outras causas: ex. hemofilia
ção geralmente assintomática, simétrica, benigna, de
resolução espontânea, que não precisa de tratamento. SEMIOLOGIA CLÍNICA
• Não fisiológico: resulta de alterações biomecânicas Na avaliação dos desvios de eixo, existem dados que se
mantidas e progressivamente agravadas, que con- devem particularmente evidenciar:
duzem a um desequilíbrio das forças exercidas a ní-
vel do joelho, com sobrecarga, seja do compartimen- História clínica:
to interno (varo), seja do externo (valgo). • Motivo da consulta, história natural das queixas/
/deformidades, início das queixas/deformidades e
A) Geno varo sua progressão.
Idiopático: observam-se casos de geno varo persisten- Refira-se que os desvios de eixo são, habitualmente,
te após o 2º ano de vida, com angulação significativa, assintomáticos, sendo de salientar que as deformida-
mas que corrigem espontaneamente após 1-2 anos de des assimétricas devem ser sempre valorizadas, pois
evolução. Nestes casos as epífises são radiologicamen- traduzem a existência de patologia subjacente. Do mes-
te normais. mo modo, também a progressão de um desvio deve ser
Secundário é mais frequente dos 3 aos 10 anos e com sempre alvo de atenção: um varismo que progride de-
causas semelhantes às do geno valgo secundário, mas pois dos 2 anos não é, com certeza, fisiológico, o mes-
com alterações biomecânicas que afectam preponde- mo se passando com um valgismo que progride depois
rantemente o compartimento interno do joelho. Pode dos 4 anos.
ser causado por:
Doenças de desenvolvimento, das quais a mais fre- * Caso particular do geno valgo pós-traumático: fractura da metáfise proximal da
quente é a Doença de Blount tíbia com ou sem fractura do peróneo ("fractura de Cozen"); neste caso terá um tra-
tamento com gesso cruro-podálico em ligeiro varo do joelho; a máxima deformi-
• Doenças metabólicas: raquitismo dade em geno valgo será evidente depois de um ano e a resolução, espontânea, pode
• Doenças genéticas: displasias ósseas demorar vários anos, sendo controversa a necessidade de cirurgia.2
• Antecedentes pessoais: dieta, doenças prévias, ante- • Rotação externa da tíbia compensada com o geno
cedentes traumáticos valgo
• Antecedentes familiares: factor hereditário (Nota: o geno valgo patológico não corrige com as ró-
tulas ao zénite)
Exame objectivo: A deformidade é avaliada pela distância inter-maleo-
Um exame clínico sucinto informa acerca do morfóti- lar (DIM – o valor normal é inferior a 2 cm), quando os
po da criança: o eixo anatómico de carga do membro joelhos estão em contacto. Pode ser sobre-avaliada em
inferior passa, normalmente, pelas espinhas das tíbias; indivíduos obesos com coxas volumosas, em que os
no caso de um joelho valgo, passa por fora e, num joe- côndilos femorais não se conseguem encostar (nestes
lho varo, por dentro.3 casos, quando uma indicação cirúrgica é ponderada, a
A observação deve ser efectuada com as rótulas ao avaliação deve ser radiológica).5
zénite e uma rotação dos pés para pôr a rótula ao zé-
nite. Factores associados a cada tipo de desvio
Devem, ainda, valorizar-se os seguintes dados: A) Geno varo
• Peso e altura, pois podem agravar as condições me- Habitualmente, crianças com cerca de 2-3 anos e com:
cânicas do eixo de carga • Raquitismo
• Deformidade localizada/generalizada • Doença de Blount: associado ao início precoce da
• Dismetrias dos membros inferiores marcha é a obesidade. Neste caso particular conse-
• Hiperlaxidão ligamentar: geno valgo que aumenta gue-se palpar um «bico» ósseo no lado interno, cor-
em carga respondente à proeminência da metáfise proximal
• Joelhos que «roçam na marcha» → Marcha em «cir- da tíbia.
cundução»
• Gonalgia no compartimento medial e anterior em B) Geno valgo
carga Frequentemente, crianças com cerca de 4-6 anos e com:
• Casos mais graves: luxação da rótula e fracturas os- • Baixa estatura
teo-condrais • Traumatismo prévio
• Avaliação dos desalinhamentos rotacionais dos • História de infecção
membros inferiores: • Doença metabólica
• Aumento da anteversão femoral • Assimetria importante, sugerindo situação patoló-
• Rotação tibial interna (pseudo geno valgo) gica
• Pé plano valgo
imagiológicos:
• RX coxo-femorais AP+P (se o RX extra-longo detec-
tar anomalias da fise femoral proximal)
• RX do punho/mão em AP – lado não dominante, para
determinação da idade óssea
• Outras incidências especiais
• Tomografia axial computorizada (TAC), ressonância
magnética nuclear (RMN)
B) Exames laboratoriais
Perante uma deformidade generalizada, tem indicação
o pedido de exames laboratoriais, em especial o estu-
Figura 4. Eixo mecânico do do metabolismo fosfo-cálcico, para rastreio de uma
doença metabólica que possa estar subjacente (p.e., o
raquitismo); nessas situações, o doente deve, também,
EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNÓSTICO ser referenciado para uma consulta de genética e endo-
A) Imagiologia crinologia.
O diagnóstico de uma deformidade patológica deve ser
imagiológico. CLASSIFICAÇÃO
Os exames a pedir serão: A) Geno varo
• Radiografia (RX) extra-longo em carga dos membros Classificação de Langenskiöld da doença de Blount em
inferiores 6 graus. Trata-se de uma classificação radiográfica que
• RX dos joelhos nos 2 planos (antero posterior (AP) + nos indica o prognóstico. A partir do grau III existem re-
perfil, para definição de eventuais alterações locais) percussões futuras em termos de crescimento,6 pelo
Poderão ser analisados: que esta doença obriga a um tratamento precoce.
• 1. O eixo mecânico (divide o joelho em 2 partes iguais)
• 2. O ângulo femoro-tibial B) Geno valgo: distância intermaleolar normal < 2 cm
• 3. Outras medições: GV LEVE = 2-5 cm
• Ângulo femoral lateral distal (N=94º, valgo=6º) MODERADO= 5-9 cm
• Ângulo proximal medial tibial (N=3º Varo) GRAVE > 9 cm
Acessoriamente, se houver suspeita de outras pato-
logias associadas, poderão ser pedidos outros exames DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Geno valgo/varo
• Fisiológico
Valores normais:
• Ângulo femoro-tibial
N= 6º 8º
– deitado (rótula centrada)
– em carga
• DIM em carga
N <2 cm
– Deitado (rótula centrada)
– Em carga
Figura 5. Valores referência (DIM e ângulo femoro-tibial) Figura 6. Classificação de Langenskiöld da Doença de Blount
• Displasias esqueléticas (condrodisplasia metafisá- • Geno varo não fisiológico: o tratamento é função da
ria, displasia espondilo-epifisária, displasia epifisá- gravidade e/ou da evolução clínica:
ria múltipla, acondroplasia) – Doença de Blount: cirurgia a partir do grau III da
• Doenças metabólicas (osteodistrofia renal, raquitis- doença
mo resistente à vitamina D) • Geno valgo não fisiológico: tratamento em função
• Pós-traumático da gravidade e/ou da evolução clínica:
• Pós-infeccioso – Geno valgo idiopático:
• Displasia fibro-cartilagínea focal – Se sintomático
– Alterações da marcha
Geno varo – Dificuldade na corrida
• Doença de Blount – Gonalgia
– Mau alinhamento patelar
ATITUDE/PROCEDIMENTOS DO MÉDICO – Instabilidade ligamentar
DE FAMÍLIA/PEDIATRA – Preocupação com o aspecto estético
A primeira noção a ter em conta é que as deformidades • Geno valgo secundário: a necessidade de tratamen-
axiais dos membros não se tratam com sapatos correcti- to é frequente
vos, vulgarmente chamados ortopédicos. Há 20 anos atrás,
era comum receitar as ortóteses tipo «talas de sereia» para Tipos de tratamento
correcção destas alterações. Hoje em dia, é difícil conven- A) Conservador
cer uma criança de 8 anos ou uma adolescente a «dormir B) Cirúrgico
de pernas atadas». Por isso, o princípio básico do trata-
mento destas deformidades é a correcção dos factores A) Tratamento Conservador
etiológicos que possam estar subjacentes e, perante a fa- • Isolado
lência da terapêutica conservadora, a cirurgia. – Tratamento dos estados carenciais: ex. défice die-
O geno varo persistente após os 2 anos de idade é tético – raquitismo
uma indicação para o envio à consulta de Ortopedia, – Ortóteses
pois uma deformidade evoluída pode ter repercussões – Fisioterapia
graves na idade adulta. • Associado a tratamento cirúrgico
Quanto ao geno valgo, é uma patologia frequente e – Tratamento de raquitismos não carenciais: altera-
benigna, mas deve ser enviada ao especialista quando ções metabólicas no raquitismo hipofosfatémico
se verifica a presença de: vitamina D resistente (de difícil correcção)
• deformidades múltiplas associadas ao esqueleto – Bifosfonatos (osteogénese imperfeita)
• deformidade progressiva a partir dos 4 anos
• geno valgo grave (mais de 9 cm de distância inter- B) Tratamento Cirúrgico
maleolar) • Hemiepifisiodese temporária: paragem provisória
• geno valgo sintomático do crescimento de um dos lados da cartilagem de
• crianças entre os 6-8 anos com geno valgo sem reso- crescimento (interna ou externa) – cirurgia de mo-
lução espontânea delagem do crescimento ósseo através de grampos
• assimetria ou placas/parafusos7
• Hemiepifisiodese definitiva – paragem definitiva do
PERSPECTIVA DO PLANO TERAPÊUTICO DO crescimento ósseo por brocagem percutânea da car-
CIRURGIÃO ORTOPÉDICO tilagem de crescimento ou cirurgia invasiva
A orientação terapêutica tem indicações em função do • Osteotomia correctiva da deformidade
tipo de geno valgo ou varo:
• Deformidades fisiológicas: não carecem de trata- Discussão em relação às opções cirúrgicas:
mento 1) Localização dos grampos /Placas
ABSTRACT
Raquialgias na criança
Paulo Reis,* Jorge Mineiro**
RESUMO
As raquialgias são, na criança e no adolescente, menos frequentes do que no adulto, mas traduzem, com maior frequência, a
existência de patologia subjacente. Longe de constituírem um gasto excessivo de tempo do clínico, a colheita minuciosa da his-
tória clínica e um exame objectivo cuidadoso e sistemático são, indubitavelmente, um dos melhores investimentos do médico
que vê crianças com este tipo de sintoma. Permitem abordar correctamente o doente e a sua doença e a solicitação dos exa-
mes complementares de diagnóstico mais adequados, em face de uma hipótese diagnóstica correctamente equacionada.
Perante uma criança com raquialgias, a atitude depende da idade, da gravidade dos sinais encontrados na observação e da
existência de complicações neurológicas ou outros sinais extra-raquidianos; na sua ausência, é prudente seguir a evolução das
queixas durante algum tempo, antes de submeter o doente a uma investigação frequentemente onerosa, consumidora de tem-
po e com baixa probabilidade de êxito.
Exame Objectivo
Figura 1. RMN de hérnia discal L5S1 direita num rapaz de 13 anos
O EO deve incluir uma avaliação geral completa e inci-
dir sobre todo o aparelho músculo-esquelético (não se
limitando apenas ao ráquis); o exame neurológico é, até ao ortostatismo. Perante uma criança com lombal-
igualmente, fundamental.1,2,10 Deve observar-se de to- gias, deve pesquisar-se sempre o sinal de Laségue, mas
dos os ângulos a criança ou o adolescente, em ortosta- é necessário distinguir entre a dor associada à limita-
tismo (com os membros em extensão e os pés unidos), ção da flexão da coxa sobre o tronco (resultante de uma
sentada e durante a mobilização do ráquis, registando- contractura dos músculos isquio-tibiais), da dor com
-se o alinhamento vertebral, as mobilidades e a existên- origem no ráquis, que irradia pelo membro inferior até
cia de espasmo da musculatura paravertebral.10 Com- ao pé (resultante de uma compressão nervosa, por
pleta-se o EO com a observação da pele da linha média exemplo, por uma hérnia discal) (Figura1).2
da face posterior do corpo, já que a existência de alte- O exame neurológico completo constitui, também,
rações a esse nível pode ser um elemento indicador da um elemento obrigatório.
presença de anomalias estruturais congénitas do rá-
quis.1 A identificação de pontos dolorosos pode orien- Atitude clínica e diagnóstica
tar a investigação complementar e pode denunciar, por Perante este sintoma, não podem definir-se atitudes
exemplo, o envolvimento das articulações sacro-ilía- nem abordagens diagnósticas padronizadas, devendo
cas. A exclusão de outras patologias (extra-raquidia- orientar-se as investigações de acordo com os dados
nas), que podem ter expressão clínica indistinguível, obtidos na anamnese e EO.
deve ser sempre feita, nomeadamente em relação ao No entanto, podem, genericamente, distinguir-se
aparelho urinário, tubo digestivo e ao aparelho hepa- dois tipos de situações padrão, que condicionam atitu-
to-bilio-pancreático. Embora menos comum como des diferentes:
causa de raquialgias, a patologia ginecológica pode es- a) a de uma criança com raquialgias flutuantes e de
tar implicada, sobretudo nas adolescentes pré-menar- curta duração (1 a 2 semanas), sem outras manifes-
ca.1,17,18 Também algumas infecções sistémicas (bruce- tações ou incapacidade associadas e
lose, febre Q, gripe, encefalite, por exemplo) podem b) um quadro de raquialgias persistentes (mais de 4 se-
apresentar-se com raquialgias.1 Devem, avaliar-se, tam- manas), em crianças jovens, condicionando incapa-
bém, a morfologia, dimensões e mobilidades dos mem- cidade para as actividades habituais (desporto,
bros superiores e inferiores: a existência de deformida- brincar, frequência da escola) e/ou que se acompa-
des do pé, por exemplo, pode reflectir uma lesão neu- nham de repercussões sistémicas ou de sinais neu-
rológica progressiva. Numa criança muito jovem, a ava- rológicos.19
liação das mobilidades pode fazer-se observando a No primeiro grupo, aquele em que as queixas resol-
criança a realizar actividades normais da sua vida, vem espontaneamente, incluem-se alguns doentes cuja
como, por exemplo a mudança da posição de cócoras dor tem um componente psicogénico.11, 20
Investigação laboratorial
Globalmente, pode considerar-se que, perante uma Na maioria das situações, não é necessário realizar tes-
criança que apresente sintomatologia dolorosa referi- tes laboratoriais para avaliar uma criança com ra-
da ao aparelho locomotor, a ausência de sinais objecti- quia1gias.2,10 Existem, contudo, alguns casos, como a
vos de dor ou de limitação da mobilidade sugere que as suspeita de um processo infeccioso ou inflamatório,
queixas se devem a um problema pouco grave e que é em que se justifica o pedido da velocidade de sedi-
provável a sua resolução espontânea,20 justificando, as- mentação (VS), proteína C reactiva (PCR) e de um he-
sim, a atitude expectante advogada por alguns autores. mograma.
Por outro lado, existem alguns «sinais de alerta», que
obrigam a uma abordagem cuidadosa; o Quadro I re- Etiologias específicas e diagnóstico diferencial
sume as manifestações que devem implicar uma atitu- Existem múltiplas classificações das causas de raquial-
de mais célere e cuidadosa. gias na criança e no adolescente; escolhemos, aqui, a
classificação proposta por Thompson10 (Quadro II), que
Meios Complementares de Diagnóstico resume bem as diversas etiologias.
A realização de testes laboratoriais ou outros ECD está A doença de Scheuermann constitui, provavelmen-
indicada sempre que exista algum dos «sinais de alar- te, a causa mais comum de raquialgias das regiões to-
me» (Quadro I)) ou que as queixas sejam crónicas.2 rácica e toraco-lombar, enquanto a espondilólise ou a
espondilolistese são as causas mais comuns das raqui-
Métodos de Imagem algias lombares e lombo-sagradas. No entanto, peran-
A avaliação por métodos de imagem deve começar pela te uma criança ou adolescente com raquialgias, o mé-
realização de estudo por radiologia convencional de dico deve, por uma questão de rigor metodológico,
toda a coluna, em posição ortostática, em projecções equacionar as diferentes categorias diagnósticas. Em
antero-posterior e de perfil. Esta avaliação deve ser seguida procede-se a uma breve discussão de algumas
complementada pela realização de radiografias em in- entidades nosológicas pertencentes aos pincipais gru-
cidências oblíquas direita e esquerda do segmento afec- pos de causas, referidos no Quadro II.
tado e, no caso de envolvimento da coluna cervical e
lombar, pela realização de radiografias dinâmicas de Patologia do desenvolvimento
perfil, em flexão e extensão, para despiste de uma even- Neste grupo incluem-se a escoliose idiopática e a doen-
tual instabilidade segmentar.10 Este tipo de abordagem ça de Scheuermann.
pode permitir obter o diagnóstico em cerca de 60% dos A escoliose idiopática é a forma mais comum de es-
casos.21 Algumas patologias específicas, como as defor- coliose na criança e é, em regra, uma condição assin-
midades, requerem a realização de radiografias em po- tomática, pelo que a existência de sintomas dolorosos
sições específicas: perfil em ortostatismo e em decúbi- deve levantar a hipótese da coexistência de outras pa-
to dorsal para avaliar a flexibilidade de uma cifose, ou tologias, como uma infecção ou tumor. Consoante a
as radiografias em antero-posterior com flexão lateral idade em que surge a deformidade da coluna, podemos
grave). As queixas podem agravar-se pelo ortostatismo, das durante actividades desportivas), mas podem veri-
pela posição sentada e pela actividade física e tendem ficar-se na sequência de traumatismos mais graves, não
a desaparecer com o fim do crescimento, a menos que sendo reconhecidas. As localizações preferenciais são
as deformidades residuais sejam muito importantes. as apófises transversas e espinhosas e as apófises arti-
Não há, habitualmente, défices neurológicos associa- culares, sendo, muitas vezes, pouco visíveis nos estu-
dos; no entanto, as forças anormais que se exercem na dos por radiologia convencional. Ocasionalmente, este
coluna lombar inferior resultam num aumento do ris- tipo de lesão pode ocorrer noutras localizações, como
co de desenvolvimento de espondilólise, sobretudo a por exemplo, o sacro.39 Se uma criança refere queixas
nível da quinta vértebra lombar.37,38 O tratamento da persistentes após um traumatismo e a radiologia con-
doença de Scheuermann baseia-se na gravidade da de- vencional é inconclusiva, está indicada a realização de
formação, presença de dor e idade do doente e pode uma cintigrafia óssea: a localização sugerida pela hiper-
passar apenas pela vigilância, pelo recurso a um cole- fixação na cintigrafia será, depois, estudada por TAC. O
te tipo Milwaukee ou, numa minoria de doentes, pela tratamento é geralmente conservador: restrição da acti-
cirurgia. vidade física até ao desaparecimento dos sintomas e um
programa de fisioterapia adequado. É fundamental um
Patologia traumática diagnóstico preciso da localização da fractura, já que,
É comum a referência a um traumatismo antecedendo embora a maior parte cure espontaneamente, as que in-
o início das raquialgias, mas não deve aceitar-se ime- teressam os pedículos podem evoluir para a insta-
diatamente a origem traumática dos sintomas:7 é fun- bi1idade.10
damental caracterizar a natureza e intensidade do me- As lesões musculares são comuns e diagnosticam-se
canismo de lesão proposto e a sua relação temporal a partir da história do início das queixas e da observa-
com o início das queixas. Sabe-se que, em 30% das ção, aliadas a um estudo por radiologia normal. Este
crianças e adolescentes saudáveis surgem raquialgias tipo de lesão é, geralmente, produzido por traumatis-
após o aumento recente da actividade física ou início mo directo ou resulta de uma hiperutilização (por acti-
de um desporto fisicamente exigente.13 No entanto, as vidade desportiva, por exemplo). O tratamento faz-se
raquialgias recorrentes e/ou persistentes, em crianças com repouso, seguido pela retoma das actividades des-
e adolescentes que fazem muito desporto, só podem ser portivas sob uma correcta orientação e com técnicas de
consideradas síndromes de hiperutilização ou lesões treino adequadas.10
musculares depois de se ter excluída a possibilidade de A espondilólise e a espondilolistese constituem le-
patologia grave, já que este tipo de evolução pode ser a sões comummente envolvidas na génese de raquialgi-
primeira manifestação de uma espondilólise juvenil.1 as na criança.37,40-42 Atingem cerca de 4 a 6% da popula-
Foi demonstrada a associação entre o desenvolvimen- ção gera1,1 mas existem grandes variações com a raça
to de alterações degenerativas precoces na coluna lom- e o sexo,43 sendo possível a ocorrência de um padrão fa-
bar e a ocorrência de lesões durante o surto de cresci- miliar.32 A área mais frequentemente envolvida é a tran-
mento na adolescência.16 Este facto justifica a necessi- sição entre a 5ª lombar e a 1ª sagrada.10 São mais co-
dade de caracterizar adequadamente a actividade físi- muns após os 7 anos de idade, sendo maior a prevalên-
ca presente e passada da criança ou adolescente, bem cia durante o surto de crescimento da adolescência.1
como o registo de eventuais traumatismos, como par- Habitualmente, são raquialgias de baixa intensidade,
te da avaliação perante queixas de raquialgias. localizadas na região lombar, atingindo, por vezes, as re-
Neste grupo incluem-se as fracturas ocultas, as le- giões glúteas e as faces posteriores das coxas. Há agra-
sões musculares, a espondilólise e a espondiolistese, as vamento com o exercício e alivío com o repouso e di-
hérnias discais e o «arrancamento» do rebordo dos pra- minuição da carga de esforço, sendo raras queixas ou
tos vertebrais em crescimento («slipped vertebral alterações no exame neurológico. A observação eviden-
apophysis»). cia, frequentemente, uma contractura dos músculos is-
As fracturas ocultas ocorrem, tipicamente, após trau- quio-tibiais, que se traduz numa marcha típica, com a
matismos de baixa energia (de que são exemplo as que- bacia basculada para trás, flexão limitada das coxo-fe-
Tumores benignos
Figura 4.. Osteomielite vertebral com destruição dos pratos discais Apesar de raras, as neoplasias benignas constituem cer-
e disco intervertebral ca de 70% dos tumores primários da coluna vertebral
nas crianças. Neste grupo, os tumores mais frequentes
são os osteomas osteóides, os osteoblastomas e os quis-
exemplo),56 podem constituir, igualmente, causa de in- tos ósseos aneurismáticos.
fecção no ráquis. A tuberculose envolve típicamente o
disco e a vertebra adjacente, mas pode atingir várias Tumores malignos
vértebras. O processo inicia-se, geralmente, na metade Apesar de muito raros, os tumores malignos da coluna
anterior do corpo da vértebra, junto ao disco, sendo na criança têm, ainda hoje, um prognóstico muito re-
este envolvido posteriormente. O aspecto radiográfico servado, pela gravidade da lesão e pelas particularida-
mais comum é a coexistência de um colapso do disco des da estrutura anatómica onde estão inseridos. Os
com lesão das 2 vértebras adjacentes. A VS está, habi- tumores malignos mais frequentes na coluna da crian-
tualmente, elevada e o teste de Mantoux é positivo. O ça/adolescente são o sarcoma de Ewing e o osteosar-
diagnóstico etiológico só se pode estabelecer pelo iso- coma.
lamento do agente ou pela demonstração de histologia
típica, sendo necessário realizar uma biópsia por agu- OUTRAS PATOLOGIAS
lha. O tratamento faz-se com imobilização da coluna Podem, ainda, surgir raquialgias em crianças e adoles-
vertebral com colete de gesso ou outra ortótese, asso- centes noutras situações, como a fibromialgia,26 ou na
ciada a terapêutica antibacilar tripla. Os abcessos de sequência de cirurgia ortopédica de alongamento de
grandes dimensões devem ser drenados após o início membros inferiores, e noutras, primáriamente raquidi-
da quimioterapia.11 anas ou extraraquidianas. Uma correcta metodologia
de avaliação permitirá distinguir as situações em que
Neoplasias as raquialgias são o problema principal ou, apenas, o
As neoplasias podem localizar-se, quer nos componen- reflexo de outra patologia.
tes ósseos, quer nos elementos neurais. As neoplasias
ósseas da criança são raras, mas ainda mais raras são CONCLUSÃO
as neoplasias de origem em estruturas neurológicas. A As raquialgias são, na criança e no adolescente, menos
sua raridade obriga a manter um alto índice de suspei- comuns do que no adulto, mas traduzem, com maior
ta para ser possível um diagnóstico precoce. As zonas frequência, a existência de patologia subjacente. Lon-
mais envolvidas são a coluna lombar e torácica. A quei- ge de constituírem um gasto excessivo de tempo do clí-
nico, a colheita minuciosa da história clínica e um exa- Orthop Clin North Am 1988 Oct; 19 (4): 689-98.
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ABSTRACT
Noções de Traumatologia
Infantil em Medicina Geral
e Familiar
João Lameiras Campagnolo*
RESUMO
Os conceitos que ditam o diagnóstico e o tratamento das lesões de etiologia traumática na criança (e no adulto) são, frequen-
temente, «diluídos» na enorme massa de informação fornecida durante a formação universitária e pós-graduada dos médicos.
Para poder ultrapassar estas limitações apresenta-se, de forma genérica, a fisiopatologia, a epidemiologia e a semiologia a
valorizar num quadro de traumatologia infantil; também são apresentados alguns princípios terapêuticos para solucionar uma
parte significativa destas situações.
INTRODUÇÃO (EPIDEMIOLOGIA) trico. Com efeito, para além da já referida presença das
s lesões osteoarticulares de causa traumática cartilagens de crescimento (Figuras 2 e 3), existe um
FISIOPATOLOGIA
O osso da criança tem particularidades que o distin-
guem do osso do adulto na composição, na fisiologia
e na morfologia.1 Estas particularidades vão condicio-
nar o tipo de lesões encontradas neste escalão pediá-
*Médico Assistente em Ortopedia Figura 1. Cartilagens de crescimento dos ossos longos dos membros,
Serviço de Ortopedia, Hospital Dª Estefânia - CHCL, Lisboa, Portugal com respectiva proporção no crescimento ósseo até à fase adulta.
e, também, consoante o mecanismo lesional do trau- formidades major (com ou sem exposição óssea) ou os
matismo), a cartilagem de crescimento é biomecanica- casos em que há um quadro álgico significativo, mes-
mente mais frágil que os ligamentos presentes nessa re- mo em repouso - deverão ser rapidamente encaminha-
gião anatómica. Por esta razão, podemos estar peran- dos para um serviço de Urgência (com Ortopedista dis-
te uma fractura-epifisiólise (embora muitas vezes «in- ponível, de preferência).
visível» nas radiografias simples) e não perante uma
«simples» entorse… PERSPECTIVA DO PLANO TERAPÊUTICO DO
Alguns países aplicam os «critérios de Ottawa» para CIRURGIÃO ORTOPÉDICO
avaliação da necessidade de requisição de radiografia No escalão pediátrico, as lesões osteoarticulares atin-
nestas situações.5 Nalguns dos nossos hospitais, estes gem, preferencialmente, o osso e a cartilagem de cres-
critérios começam a ser usados nos serviços de Urgên- cimento, sendo raras as lesões ligamentares. Neste con-
cia e podem ser um guia importante na prática quoti- texto, queixas articulares pós-traumáticas sem lesão ra-
diana, por permitirem uma redução do número de exa- diologicamente visível podem ser interpretadas, con-
mes (neste caso inúteis) e pela sua importância no con- soante a clínica, como lesões da cartilagem de
texto médico-legal. crescimento (geralmente do 1° grau, mais benignas),
Assim, pelos critérios de Ottawa, apenas deverão ser com a consequente necessidade de imobilização do
pedidos exames radiográficos do tornozelo quando um segmento afectado.
doente, com dor nesta área após lesão aguda (mecanis- Actualmente, as fracturas dos ossos longos têm tido
mo habitual de torsão do tornozelo), apresenta um ou um aumento relativo das suas indicações cirúrgicas,
mais dos critérios seguintes: fruto de três ordens de factores: alta energia de alguns
Dor à palpação do maléolo externo e/ou interno (úl- acidentes (rodoviários e desportivos), surgimento de
timos 6 cm, nas suas vertentes mais posteriores – ver Fi- técnicas cirúrgicas com muito boa relação «custo-be-
gura 8); nefício» (tal como o encavilhamento elástico dos ossos)
• Dor à palpação do navicular (escafóide társico); e progressiva redução dos tempos de internamen-
• Dor à palpação do cubóide; to/imobilização do doente. No entanto, e apesar deste
• Incapacidade total de carga em ortostatismo; facto, a grande maioria das fracturas consolida rapida-
• Incapacidade para marcha (incapacidade de dar mente e sem sequelas valorizáveis.
mais de 2 passos após o traumatismo); No caso das fracturas com desvios nos planos fron-
• Idade superior a 55 anos (critério fora do âmbito des- tal e sagital (e sem atingimento da cartilagem de cres-
te artigo). cimento), como precedentemente referido, pode não
Quando nenhum destes critérios está presente, po- haver necessidade de redução, desde que o desvio não
der-se-á tranquilizar os pais (será amiúde a parte mais exceda cerca de 10-20° (variável consoante a idade); no
complicada da nossa prática clínica…), explicando que entanto, desvios rotacionais no foco de fractura impli-
a radiografia não será necessária para a decisão terapêu- cam a sua correcta redução e imobilização.
tica (sendo antes deletéria pela radiação implicada des- Finalmente, no que refere às lesões articulares e
necessariamente); o tratamento será igual e passará pe- como princípio básico, todas as fracturas deverão ser
las orientações preconizadas no início deste capítulo. reduzidas anatomicamente e assim mantidas, por
Como não temos forma de distinguir radiologica- meios incruentos ou cruentos. Quando assim não acon-
mente uma entorse sem avulsão óssea de uma fractura- tece e/ou quando a própria lesão destruiu parcial ou
-epifisiólise de tipo I não descoaptada (estes dois diag- totalmente a cartilagem de conjugação, são as seque-
nósticos cobrem a grande maioria das lesões agudas do las destas lesões que colocam os maiores problemas a
tornozelo na criança), o tratamento será idêntico, avi- resolver no campo da traumatologia infantil; serão, en-
sando da necessidade de descarga de 2 a 3 semanas, até tão, necessários diferentes tipos de estratégias cirúrgi-
se obter uma ausência total de dor e de edema local. cas (realinhamentos, alongamentos, desepifisiodeses,
Por fim, os casos de maior gravidade - ou seja aque- encurtamentos contra-laterais…) para minimizar as re-
les que apresentam risco vital, aqueles em que há de- percussões na vida da criança afectada, futuro adulto
ABSTRACT