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EDUARDO MARCONDES
A Pediatria tem sido definida como a comparar crianças sem considerar os fatores
parte da Medicina que estuda o ser humano constitucionais, étnicos e sociais, fazem que
em crescimento e desenvolvimento, desde o uma criança seja considerada de baixa esta-
nascimento até a adolescência inclusive. A tura pelos pais, quando na verdade, não o é.
ciência que estuda o crescimento (auxologia) Nesses casos, cabe ao pediatra a tarefa de
é, pois, integrante da própria doutrina pediá- convencer os pais de que estão errados, evi-
trica e a vigilância do crescimento e desen- tando, assim, erros alimentares (alimento da-
volvimento da criança a mais importante ação do à força a fim de favorecer o crescimento),
do pediatra. educacionais (sempre existe a possibilidade
Do ponto de vista social, a estatura dos da criança reagir desfavoravelmente à preo-
indivíduos de uma comunidade é um bom in- cupação dos pais o que pode gerar vários
dicador do estado de saúde de toda a popu- distúrbios) e terapêuticos (uso abusivo de
medicamentos, com ênfase em hormônios).
lação, índice melhor, segundo Tanner, do que
o produto bruto nacional. Estatura é status, Vê-se, portanto, que a baixa estatutra,
o cartão de visita biológico do indivíduo. A verdadeira ou falsa, é sempre um problema
vantagem em ser alto é notada desde o nas- importante. Deve o pediatra preparar-se para
cimento (recém-nascidos grandes têm me- o manejo adequado do problema, com ênfase
nor índice de morbidade e mortalidade do que nos aspectos semiológicos e terapêuticos. O
recém-nascidos pequenos), até a adultícia, objetivo dessa revisão é oferecer ao leitor um
pois se verificou coeficiente de correlação roteiro semiológico para o estudo de crian-
significante entre estatura e níveis de desem- ças portadoras de crescimento deficiente, o
penho. que envolve as seguintes etapas:
A baixa estatura pode ser considerada, Etapa l — reconhecimento da
pois, um desastre biológico na vida do indi- presença de distúrbio do
víduo, justificando uma das mais freqüentes crescimento
queixas dos pais ao pediatra: "meu filho não
cresce". Muitas vezes, o desconhecimento Etapa II — observação clínica
dos pais sobre a ampla variação normal do (anamnese e exame físico)
crescimento e a tendência incontrolável de Etapa III — auxograma
Etapa IV — exames subsidiários
Instituto da Criança "Prof. Pedro de Alcantara" do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,
Unidade de Endocrinologia e Distúrbios do Crescimento. Não se pretende nesta revisão descrever
1 Professor Titular de Pediatria
Aceito para publicação em 12 de julho de 1982. os quadros clínicos das doenças que evoluem
com baixa estatura: tal propósito transforma- DIAGNÓSTICO
ria este artigo num livro de Pediatria, tendo
em vista o elevado número de entidades en- ESTATURA NORMAL = estatura localizada
volvidas no crescimento deficiente de uma entre os percentis 2,5 e 97,5
criança. De qualquer modo, há textos que
descrevem suscintamente as principais cau- BAIXA ESTATURA = estatura inferior ao
sas de baixa estatura 2 ' 3 ' 4 6 1 3 . Em resumo, percentil 2,5
esta revisão tem como objetivo principal SITUAÇÃO DE VIGILÂNCIA = estatura
mostrar um caminho na abordagem do pa- localizada entre os percentis 2,5 e 10
ciente de baixa estatura, atualizando publi-
cações anteriores 6 e 7. CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO RELAÇÃO
Nunca será demais lembrar que a vigi- PESO/ESTATURA
lância do crescimento estatura! (propósito
(IE = idade estatura e IP = idade peso)
desta revisão) é uma parte apenas da Pedia-
tria Preventiva: não basta que a criança se BAIXA ESTATURA PROPORCIONADA = IE
transforme em um adulto de estatura normal, e IP próximas
é necessário que esse adulto seja também BAIXA ESTATURA
feliz e útil à sociedade. DESPROPORCIONADA =
IE superior a IP
Etapa l IE inferior a IP
Situações ilustrativas:
Etapa IV