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Aula de Antropologia: Vida em Ruínas Capitalistas - Uma Análise de "O Cogumelo no Fim do

Mundo"

Introdução

Hoje, nossa aula se concentra em "O Cogumelo no Fim do Mundo: Sobre a Possibilidade de Vida em
Ruínas Capitalistas", de Anna Lowenhaupt Tsing. O livro se baseia no estudo etnográfico do cogumelo
matsutake para explorar a possibilidade de vida em ambientes devastados pelo capitalismo.

Contextualização

A antropologia sempre se esforçou para compreender a relação entre os seres humanos e o


ambiente natural. Os trabalhos de autores como Claude Lévi-Strauss em "O Pensamento Selvagem"
(1962) e Donna Haraway em "Espécies Companheiras" (2003) abordam essas interações. No entanto,
Tsing vai além, trazendo um retrato etnográfico da vida em condições de degradação ambiental
causada pelo capitalismo.

O matsutake: um símbolo de vida em ruínas

O matsutake, um cogumelo valorizado especialmente no Japão, torna-se para Tsing um símbolo de


resiliência e sobrevivência em um mundo devastado pela atividade humana. O cogumelo prospera
em florestas degradadas, tornando-se um emblema da vida em "ruínas capitalistas". Através do
estudo desse cogumelo, Tsing revela como a vida continua a florescer, mesmo em condições
precárias e danificadas.

As redes de comércio e sobrevivência

Tsing também examina as redes de comércio que emergem em torno do matsutake. Ela mostra
como a coleta de cogumelos conecta uma variedade diversificada de pessoas, incluindo refugiados,
veteranos de guerra e migrantes, que encontram no matsutake uma fonte de subsistência. Essas
"cadeias de suprimentos" são emblemáticas de como a globalização e o capitalismo moldam, de
maneiras inesperadas e complexas, as relações entre seres humanos e o ambiente.

A "arte de notar"

Alinhando-se a Donna Haraway, Tsing enfatiza a importância da "arte de notar" - uma atenção
cuidadosa às maneiras como a vida se manifesta e se adapta em ambientes alterados pelo homem.
Ela critica abordagens que separam a natureza e a cultura, argumentando que essa visão nos impede
de ver as formas complexas e imprevisíveis que a vida pode assumir em paisagens danificadas.

Interseccionalidade e o Antropoceno

Assim como Haraway, Tsing incorpora uma perspectiva interseccional em seu trabalho, explorando
como gênero, raça e classe moldam as experiências humanas no Antropoceno. Ela examina, por
exemplo, como a coleta de cogumelos é uma forma de subsistência para migrantes e refugiados
marginalizados, ilustrando como as forças globais de desigualdade social e ambiental estão
intrincadamente conectadas.

Conclusão
"O Cogumelo no Fim do Mundo" oferece uma reflexão poderosa sobre a vida em um mundo
marcado pela degradação ambiental e desigualdade social. Ao explorar as interações entre seres
humanos, cogumelos e ambientes danificados, Tsing nos convida a repensar nossas relações com o
mundo natural e a considerar novas maneiras de viver e prosperar em um mundo de "ruínas
capitalistas".

Leituras Complementares

1. Tsing, A. L. (2015). The Mushroom at the End of the World: On the Possibility of Life in
Capitalist Ruins.

2. Haraway, D. (2003). The Companion Species Manifesto: Dogs, People, and Significant
Otherness.

3. Lévi-Strauss, C. (1962). The Savage Mind.

4. Morton, T. (2013). Hyperobjects: Philosophy and Ecology After the End of the World.

5. Stengers, I. (2015). In Catastrophic Times: Resisting the Coming Barbarism.

Esta aula é apenas um ponto de partida para explorar os ricos e complexos temas abordados em "O
Cogumelo no Fim do Mundo". Eu encorajo vocês a lerem o livro e as obras complementares para
aprofundar suas reflexões.

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