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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Programa de Pós-Graduação em


Ciência da Informação
Mestrado Acadêmico em Ciência da Informação

CIÊNCIA ABERTA, ACESSO ABERTO – DISCUSSÕES

Mestrando - Roberto Luiz Barbosa da Silva


Docente - Caterina Marta Groposo Pavão

Porto Alegre/RS
19/09/2023
CIÊNCIA ABERTA, ACESSO ABERTO – DISCUSSÕES.

RESUMO
Acesso aberto, Ciência Aberta e indicadores de visibilidade e impacto da produção
científica. Nos processos de Ciência Aberta e de Acesso Aberto para os conhecimentos
científicos, existe uma premissa mercadológica e cultural que determina entre outras
questões, uma pergunta: Quão aberto e transparente pode ser criado um trabalho
científico? Saber se seria possível tornar todas as informações sobre tal projeto e o próprio
processo de trabalho tão abrangentes quanto possível, direta e imediatamente durante a
criação, para que todos pudessem ver e acompanhar a qualquer momento, acessar num
ambiente aberto e licença gratuita. Esta pergunta demonstra a complexidade da questão e
da dificuldade prática de sua implantação. Esta discussão, é a proposição deste trabalho,
já que discutir Ciência Aberta e Acesso Aberto, não é somente o apontamento de seus
objetivos enquanto movimento, mas sim, a abordagem de todos os aspectos que compõe
este contexto.
INTRODUÇÃO
A ciência prometeu à sociedade contribuir para os grandes desafios para mudança e
melhoria de nossas vidas. Contudo, este contrato social entre ciência e sociedade se
desenvolveu de diversas formas até então, quando começamos a discutir Ciência Aberta
e Acesso Aberto, considerando os desafios financeiros, éticos e demais que circundam a
questão. Até 1980 aproximadamente, a resposta da política e do público foi um apelo à
responsabilidade social e política da ciência, em síntese, pesquisa inspirada em
desenvolvimentos sociopolíticos mais amplos na sociedade. Após este período, até mais
ou menos até 2010, foi construída uma ideia de que a ciência e a tecnologia trariam
crescimento económico, o que deveria tornar as nações internacionalmente competitivas.
Havia também cada vez mais espaço para problemas sociais relacionados com o ambiente
e sustentabilidade, saúde e bem-estar. Nesta abordagem do chamado conhecimento da
economia (o conceito de economia do conhecimento foi cunhado por Drucker (1969) para
se referir à aplicação do conhecimento de qualquer campo ou fonte, novo ou velho, como
estímulo ao desenvolvimento econômico), foram estabelecidas fortes relações entre os
governos e os setores privados em diversas partes do mundo, caracterizado pela
responsabilização de curto prazo, controle do governo e dos financiadores dos resultados
do projeto, utilizando métricas e indicadores devidamente definidos. Esse modelo tornou-
se globalmente institucionalizado. Contudo hoje, a grande questão sobre ciência além do
aspecto ético, é o movimento da Ciência Aberta e Acesso Aberto. Este movimento que se
caracteriza pela busca de maior disponibilidade e acessibilidade dos resultados da
investigação científica via financiamento público; possibilidade de processos rigorosos
de revisão por pares; reprodutibilidade e transparência mais eficientes dos trabalhos
científicos e por mais impacto da pesquisa científica. Estas iniciativas promovem o
desenvolvimento e a implementação de estratégias de comunicação e de investigação
científica que sejam inclusivas, eficazes e propícias à colaboração e descoberta científica
em todos os campos científicos.

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DISCUSSÕES
A busca pela democratização do conhecimento e do acesso à informação científica
com o objetivo de reunir, hospedar, preservar, tornar disponível e dar visibilidade à
produção científica, é um desafio sócio científico profundo, mesmo que hoje na realidade,
tenhamos um número crescente de repositórios, quer sejam institucionais (ligados a uma
instituição) ou temáticos (sobre determinados assuntos). Estes repositórios, possibilitam
de maneira prática, a ampliação do acesso, o aumento da visibilidade, a preservação
digital de cada registro de conhecimento, além da disponibilização de fontes privilegiadas
de informação para análise e gestão da pesquisa, que concorre para o impacto dos
resultados da pesquisa, naturalmente ampliando os contatos e as possibilidades de
parcerias, sobretudo, internacionais, apresentando como resultado, a disponibilização de
estatísticas de uso dos registros de informação, com clara perspectivas de interesse e de
valor global e local.
Outro aspecto relevante na questão da Ciência Aberta e do Acesso Aberto, é que
a adesão dos pesquisadores beneficia a proteção da produção intelectual em ambiente
seguro, pois armazena os trabalhos permanentemente, dando permissão para que sejam
citados e usados como referência. Estas características reduzem objetivamente os
potenciais plágios e amplia o impacto dos artigos. A transformação da ciência através da
adoção dos conceitos de ciência aberta apresenta uma estratégia muito atraente para
aumentar a viabilidade da ciência. As políticas de ciência aberta incorporam os conceitos
de dados abertos e acesso aberto que abrangem a partilha de recursos, a disseminação de
ideias e a sinergia de fóruns colaborativos de investigação. A popularização da Internet
revolucionou todas as esferas da vida humana e a comunicação científica não foi exceção.
Antes da existência da Internet, a partilha de conhecimento científico dependia do ritmo
da mídia impressa e dos periódicos, e incorria em despesas associadas. Isso levou ao
modelo de acesso baseado em assinatura. Normalmente, os custos de assinatura de
periódicos são arcados pelas instituições em troca do fornecimento de acesso para
estudantes e funcionários. Com o advento do acesso online, esperava-se que esses custos
diminuíssem. Infelizmente, pelo contrário, as taxas de assinatura da maioria das editoras
aumentaram exponencialmente ao longo dos anos. Mas a complexidade desta discussão
se amplia, porque também existem graves preocupações éticas, que apresentam um
dilema de dupla utilização. O acesso a informações confidenciais é visto como um risco
de segurança e apresenta outras preocupações, como confidencialidade, privacidade e
acessibilidade. Existem argumentos de que contrapõe aos benefícios da Ciência Aberta e
do Acesso Aberto, e enxerga talvez com insuficientes os princípios éticos essenciais:
respeito pelas pessoas, beneficência e justiça.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mais plausível é que com o avanço da Ciência Aberta e do Acesso Aberto,
aspectos como flexibilidade, transparência, conformidade legal, proteção da propriedade
intelectual, responsabilidade formal, profissionalismo, interoperabilidade, qualidade,
segurança, eficiência, responsabilidade e sustentabilidade são aspectos que exigirão
permanentes revisões, face o contínuo avanço da própria ciência e as transformações
técnicas e político-sociais, que alterarão este ambiente de maneira ainda imprevisível. Na

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verdade, a divulgação da investigação produzida através da Internet é provavelmente uma
das formas mais eficazes em termos de custos de ajudar os países subdesenvolvidos a sair
da pobreza. O acesso aberto através da Internet ajudaria a neutralizar a praga do plágio
que a própria Internet tem instigado.
A ciência Aberta e o Acesso Aberto, são empreendimentos científicos emergentes
que incorporam valores fundamentais de compartilhamento de conhecimento,
acessibilidade e reutilização. No entanto, levantam inúmeras questões éticas e de
segurança. Na prática a apontada dualidade da Ciência Aberta e do Acesso Aberto, criam
a percepção de que antes de serem abraçados de forma ampla e profunda por todas as
comunidades científicas e académicas, serão de fato exigidos e necessários, significativos
debates. O que parece claro, é que manter o conhecimento reprimido (fechado) prejudica
profundamente os mais os pobres do mundo, sejam empresas, cientistas, populações ou
nações e isso deveria ser um norteador da discussão.

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