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IFES - Santa Teresa

Curso Técnico em Agropecuária

APOSTILA DE IRRIGAÇÃO
Vol. 2

Prof. Gustavo Haddad Souza Vieira - IFES

Santa Teresa
2022
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3. Medição de água para a irrigação

3.1. Medição Direta


Consiste na determinação do tempo necessário para encher um determinado recipiente
de volume conhecido. Este método é aplicável a pequenas vazões (Q ≤15 L s -1); devem ser
feitas pelo menos três medições do tempo e trabalhar com a média.
Para que toda a água aflua para o recipiente, às vezes torna-se necessário a construção
de um pequeno dique de terra a fim de que o recipiente possa entrar livremente à jusante do
dique; neste caso a água é conduzida ao recipiente através de uma calha qualquer (telha,
pedaço de tubo, bambu, etc.). A Figura 3.1 ilustra a medição direta da vazão.

Figura 3.1 - Medição direta da vazão de um córrego.

3.2. Método do Vertedor


O vertedor é uma abertura ou entalhe feito em uma chapa de madeira, ferro, etc, por
onde a água deve ser direcionada para escoar sob a ação da gravidade. A vazão é determinada
pelo produto da área da seção transversal do escoamento pela velocidade, nesta seção. São
utilizados na medição de vazão de pequenos cursos d’água, canais, nascentes (Q ≤300 L s -1).

Figura 5.2 - Ilustração de um vertedor.


Os vertedouros são dispositivos facilmente confeccionados em qualquer localidade e
prestam-se a medição de vazões de valores de até 300 L s-1. Devem ser instalados
transversalmente ao curso d´água. Em curso de grandes vazões tem-se dificuldade de
instalação em função das correntes.

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Na Figura 3.3 observam-se algumas características de um vertedor.

Figura 3.3 - Detalhes de um vertedor.

Alguns cuidados devem ser tomados na instalação do vertedor:


- A soleira deve estar nivelada;
- A face de montante sempre deverá estar na vertical e deve ser lisa;
- As paredes devem ser delgadas ou os cantos em bisel;
- O vertedor não deve ser afogado e a água não deve escoar pela parede de jusante;
- A altura da soleira (P), em relação ao fundo do canal, deve ser maior que três vezes a
altura da lâmina vertente(H) (P ≥ H) e P deve ser superior a 20 cm;
- A altura da lâmina vertente (H) deve ser entre 5 e 60 cm;
- O vertedor deve ser instalado em um trecho retilíneo de, pelo menos, 3 metros;
- A medição da altura da lâmina vertente (H) deve ser feita a 1,5 m à montante do
vertedor.

Quanto à forma, os vertedouros podem ser:


- Triangular
- Retangular
- Trapezoidal
- Circular

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Vertedor triangular
Na Figura 3.4 observa-se um esquema de construção do vertedor triangular. O ângulo
entre as duas paredes laterais vede ser de 90°. É o mais recomendado para medição de
pequenas vazões.

Figura 3.4 - Vertedor triangular.

Para o cálculo da vazão, utiliza-se a Equação 3.1.

53.1

Em que,
Q = vazão (m3 s-1);
H = Altura da lâmina vertente (m).

Vertedor retangular
Na Figura 3.5 observa-se um esquema de construção do vertedor retangular.

Figura 3.5 - Vertedor retangular.

Para o cálculo da vazão, utiliza-se a Equação 3.2.

53.2

Em que,
Q = vazão (m3 s-1);
L = largura da soleira (m);
H = Altura da lâmina vertente (m).
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Vertedor trapezoidal
Na Figura 3.6 observa-se um esquema de construção do vertedor trapezoidal, também
conhecido como vertedor tipo Cipolletti. A inclinação recomendada das paredes laterais, para
este tipo de vertedor, é de 1:4.

1
4

Figura 3.6 - Vertedor trapezoidal.

Para o cálculo da vazão, utiliza-se a Equação 3.3.

53.3

Em que,
Q = vazão (m3 s-1);
L = largura da soleira (m);
H = Altura da lâmina vertente (m).

3Vertedor circular
Na Figura 3.7 observa-se um esquema de construção do vertedor circular.

Figura 5.7 - Vertedor circular.

Para o cálculo da vazão, utiliza-se a Equação 3.4.

53.4

Em que,
Q = vazão (m3 s-1);
D = diâmetro do vertedor (m);
H = Altura da lâmina vertente (m).

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3.3 Método do flutuador
De pouca precisão, sendo usado normalmente em cursos d'água onde é impraticável a
medição pelos métodos vistos anteriormente. Consiste em medir a velocidade média de
escoamento da água em um trecho do curso d'água previamente escolhido, com o auxílio de
um flutuador e determinar a seção média do referido trecho. A vazão é dada pela equação da
continuidade (Q = A x V).
a) Determinação da velocidade média (V)
Feita com o auxílio de uma garrafa parcialmente cheia de água (flutuador) de forma que
somente o gargalo fique fora da superfície livre de água. A tendência do flutuador é ser levado
pela região de escoamento de maior velocidade. Na Figura 3.8 observa-se um flutuador em um
canal.

Figura 3.8 - Flutuador em um canal.

Escolhe-se um trecho retilíneo do curso d'água de, pelo menos, 10 metros de


comprimento e procede-se a limpeza do mesmo. Para marcar essa distância colocam-se duas
varas transversalmente à direção do escoamento. Lança-se o flutuador a uma distância de ±5
metros à montante do primeiro ponto.

Figura 3.9 - Esquema de montagem para medição de vazão em um canal pelo método do
flutuador.

Um observador aciona um cronômetro quando o flutuador passar pelo primeiro ponto e


o tranca quando passar pelo segundo ponto. Com isso, tem-se o tempo gasto para percorrer
a distância conhecida (10 metros) e consequentemente a velocidade máxima (v1). Essa
determinação do tempo deve ser feita pelo menos três vezes, usando-se a média.

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A velocidade média (V) é conseguida através dos seguintes coeficientes corretivos:
Natureza das paredes do canal Fator de correção ( f )
(adimensional)
Paredes lisas de cimento ou concreto 0,85 – 0,95
Paredes pouco lisas (canais de terra para irrigação) 0,75 – 0,85
Paredes rugosas ou irregulares (cursos naturais) 0,65 – 0,75

b) Determinação da seção média do curso d'água


A seção de escoamento deve ser considerada como a média da medição pelo menos
três seções, no trecho considerado (seção A, seção B e seção D entre A e B). Os cursos d'água
naturais apresentam-se com seções muito irregulares. Quando se tratar de um pequeno
córrego, pode-se enquadrar a figura numa seção geométrica conhecida (retângulo, trapézio,
etc.). No caso da seção ser avantajada, pode-se subdividi-la em subseções, para se ter uma
maior precisão, como apresentado na Figura 3.10. Assim, determina-se a área de cada
subseção e depois somam-se todas.

A
1 A A
2 A A A 7
A 5 6
3 4

Figura 3.10 - Subdivisão da seção transversal do curso d'água para determinação da área de
escoamento.

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Exercício:
Utilizando um flutuador, determinou-se a velocidade da água em um trecho de 12,0 m
de um curso d’água com paredes irregulares. Sabendo que a seção deste curso d’água
apresenta a forma abaixo (dimensões em metros), calcular a vazão que nele escoa, sabendo
que os tempos medidos para o deslocamento do flutuador foram de 10,5 s; 10,7 s; 11,0 s e 10,8
s.

A1 A2 A3 A4 A5
A6

Cálculo da seção transversal:


0,2  0,8 0,8 + 0,6
A1 = = 0,08m 2 A5 =  0,2 = 0,14m 2
2 2
A2 = 0,2  0,8 = 0,16m 2 0,2  0,6
A6 = = 0,06m 2
2
A3 = 0,16m 2 A4 = 0,16m 2

Atotal = 0,08 + 0,16 + 0,16 + 0,16 + 0,14 + 0,06


Atotal = 0,76m 2

10,5 + 10,7 + 11 + 10,8


Tmed = Vel máx =
12 m
= 1,11 m s −1
4 10,75 s
Tmed = 10,75s
Vel med = 1,11 0,7 = 0,78 m s −1

Q = 0,78  0,76 = 0,593m 3 s −1


Q = 593L s −1

4. Condução da água para irrigação


A água pode ser conduzida de sua origem (rios, lagos, poços etc) até os sistemas de
irrigação de duas maneiras, por condutos livres ou por condutos forçados.

4.1 - Condutos Livres


Os condutos livres são aqueles sujeitos à pressão atmosférica em pelo menos um ponto
de sua seção de escoamento.
Na zona rural, os canais são utilizados para condução e distribuição de água, de sua
fonte até o local de uso. Como não são pressurizados, é necessário que o nível da água no
canal permita sua distribuição por gravidade, assim, a cota da fonte deverá estar acima da cota
de destino.
Alguns exemplos de uso de canais na agricultura são para irrigação, principalmente em
sistemas de superfície, condução de água para tanques de criação de peixes, distribuição de
resíduos originários de criação animal, de processamento de produtos agropecuários
(destilarias, lavagem de café, laticínios) etc.

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Outro uso comum de canais na agricultura é para sistemas de drenagem, que visam
recolher a água de escoamento superficial ou utilizada em alguma atividade, conduzindo-a até
os drenos naturais (rios, córregos etc.). Para que isso seja possível, é necessário que a cota do
nível d'água esteja abaixo do local de uso. Na Figura 3.1 observa-se canais trapezoidais não
revestidos usados para drenagem na agricultura.

Figura 4.1 - Canais trapezoidais não revestidos para drenagem na agricultura.

Quanto à forma, os canais podem ser retangulares, trapezoidais, triangulares ou circulares.


A forma mais utilizada é a trapezoidal (Figura 4.1) e, junto com o triangular, geralmente são
escavados em terra, sem revestimento. As formas retangular, semicircular e também a
trapezoidal, geralmente são revestidos, para proporcionar maior durabilidade, resistência às
intempéries e facilitar a manutenção. Os canais circulares, também chamados de tubos de
concreto ou manilhas são mais utilizadas para condução de águas pluviais e esgoto em áreas
urbanas. Na Figura 4.2 observam-se canais do tipo trapezoidal(a), circular (b) e retangular (c),
revestidos, utilizado para condução de água para irrigação (a e c) e para drenagem (b).

A B C

Figura 4.2 - Canais trapezoidal (A), Circular (B) e Retangular (C), revestidos, para condução
de água.

A inclinação das paredes dos canais deve respeitar critérios de dimensionamento para que
se estabeleça limites seguros, de modo a garantir sua estabilidade e reduzir desmoronamentos.
Na Tabela 4.1 são apresentados os intervalos recomendados de inclinação das paredes dos
canais trapezoidais não revestidos, conforme o tipo de solo.

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Tabela 4.1 - Taludes recomendados para as paredes dos canais trapezoidais não revestidos.

Tipo de solo Talude "m"


Arenoso 3:1
Barro-arenoso 2 a 2,5:1
Barro-argiloso 1,5 a 2:1
Argiloso 1 a 2:1
Cascalho 1 a 1,5:1
Rocha 0,25 a 1:1

Os valores de "m" representam a distância horizontal do talude, para cada 1 metro na


vertical, conforme apresentado na Figura 4.3.

Figura 4.3 - Representação da determinação dos taludes das paredes dos canais trapezoidais.

Em alguns casos, os canais são revestidos e os objetivos do revestimento são: redução


das perdas por infiltração da água durante sua condução, evitar o crescimento de vegetação e
evitar o desmoronamento das paredes do canal. Os principais materiais usados para
revestimento são: concreto, lona plástica, manta de borracha, alvenaria de tijolos ou pedras,
compactação, solo-cimento, uso de pré-moldados (telhas de cimento-amianto, canaletas de
concreto ou polietileno etc.
Um elemento que merece especial atenção no dimensionamento dos canais é a
velocidade de escoamento da água. Quanto maior a declividade longitudinal do canal, maior
será a velocidade da água. Altas velocidades podem provocar erosão do fundo e paredes dos
canais, danificando-os. Os valores recomendados de velocidade média máxima recomendada
para cada tipo de solo são apresentados na Tabela 4.2.

Tabela 4.2 - Velocidade média máxima recomendada para cada tipo de solo.
Tipo de solo Velocidade média máxima
recomendada (m s-1)
Arenoso 0,3 a 0,7
Barro-arenoso 0,5 a 0,7
Barro-argiloso 0,6 a 0,9
Argiloso 0,9 a 1,5
cascalho 0,9 a 1,5
Rocha 1,2 a 1,8

A velocidade de escoamento da água considerada é um valor médio, já que na seção


molhada, a velocidade varia com a posição e com a profundidade do canal. Junto às margens
e ao fundo do canal, o atrito da água contra essas superfícies sólidas, reduz a velocidade. No

10
centro do canal, um pouco abaixo da superfície (devido à resistência oferecida pelo ar na
superfície), a velocidade será máxima, como apresentado na Figura 4.4.

Maior

Figura 4.4 - Representação das zonas de velocidade da água na seção transversal ao fluxo.

Para manter a velocidade de escoamento da água nos canais em níveis adequados,


deve-se manter sua declividade longitudinal, por meio de curvas para adaptação ao terreno ou
construindo-se degraus, conforme apresentado nas Figuras 4.5a e 4.5b.

a b

Figura 4.5 - Curvas (a) e degraus (b) em canais.

4.2 - Condutos Forçados


Os condutos forçados ou tubulações são aqueles em que a pressão interna é diferente
da pressão atmosférica. Nesse tipo de conduto, as seções transversais são sempre fechadas
e o fluido circulante as enche completamente, trabalhando sob pressão. A pressão que ocorre
no interior das tubulações também é denominada de carga, que representa uma força incidente
sobre uma superfície plana, como apresentado na Figura 4.6. Observa-se uma coluna de água
de 10 m de altura sobre uma superfície de 1 cm 2 e, com isso, dizemos que a pressão na base
é de 10 m.c.a. (metros de coluna de água). Essa pressão é, aproximadamente, equivalente a 1
kgf cm-2 (kilograma força por centímetro quadrado), ou seja, possui 1 kilograma de água em
cada cm2 de área de base.

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Figura 4.6 - Representação da "pressão" exercida em uma superfície.

A unidade utilizada para pressão, no Sistema Internacional (métrico), é o kilo Pascal


(kPa). 1 kgf cm-2 equivale a 100 kPa, a 10 mca, a 1 bar e a 1 atm, aproximadamente. Na Figura
4.7 observa-se a representação da medição de 1 kgf cm-2 em uma instalação hidráulica, devido
à diferença geométrica (diferença de nível) de 10 m de altura.

Figura 4.7 - Representação da "pressão" exercida em uma superfície, em função da altura


geométrica.
Nesse caso, a pressão medida no manômetro instalado na parte mais baixa da
instalação foi igual à diferença de nível, pois não havia deslocamento do fluido. Quando ocorre
o movimento do fluido no interior da tubulação, em regime de escoamento turbulento, ocorre
atrito do líquido com as paredes dos condutos e das próprias partículas, umas com as outras,
o que promove a perda de carga, ou seja, uma redução gradual da pressão ao longo da
tubulação (perda de carga contínua) e também em peças especiais, como joelhos, curvas, tês,
válvulas e registros (perda de carga localizada).
Quanto mais rugosa for a parede das tubulações, maior será o atrito e,
consequentemente, maior a perda de carga. Na Figura 4.8 observa-se a representação da
rugosidade das paredes de uma tubulação e do deslocamento das partículas do fluido em seu
interior.

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Figura 4.8 - Representação da rugosidade das paredes de uma tubulação e do deslocamento
das partículas do fluido em seu interior.

Para determinação da perda de carga contínua, ao longo da canalização, é comum


utilizar o método de Hazen-Williams, que é uma método prático de fácil execução. Esta fórmula
é recomendada para tubulações de diâmetro superior a 50 mm (2"), com escoamento de água
em temperatura ambiente, em regime turbulento. A perda de carga unitária (m m -1) pode ser
calculada pela Equação 4.1.

1,85
Q 1
J = 10,641  (4.1)
C  D 4,87
Em que:
J = perda de carga unitária (m m-1);
Q = vazão (m3 s-1);
C = coeficiente de rugosidade (adimensional);
D = diâmetro da tubulação (m).

Os valores do coeficiente de rugosidade (c) podem ser obtidos na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Coeficiente de rugosidade para uso da fórmula de Hazen-Williams.

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A perda de carga ao longo da tubulação (m) pode ser calculada pela Equação 4.2.

Hf = J  L (4.2)
Em que:
Hf = perda de carga ao longo da tubulação (m);
J = perda de carga unitária (m m-1);
L = comprimento da tubulação (m).

Para se estimar a perda de carga localizada, ou seja, aquela que ocorre nas peças
especiais, é comum se utilizar o método dos comprimentos equivalentes, em que se atribui um
comprimento equivalente para cada tipo de peça, material e determinado diâmetro, conforme
apresentado na Tabela 4.4.

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Tabela 4.4 - Comprimentos equivalentes de peças especiais de aço e PVC.

Para o cálculo, faz-se uma lista de todas as peças e conexões existentes na canalização,
atribui-se o comprimento equivalente para cada uma e soma-se todos os valores. Ao final,
multiplica-se o comprimento equivalente total (m) pela perda de carga unitária (m m -1).
Em instalações de recalque comuns, para elevação de água da fonte até um reservatório,
com poucas peças especiais e longos trechos de tubulações retilíneas, pode-se considerar um
adicional de 10% das perdas ao longo da canalização, em substituição às perdas localizadas.
Para projetos de irrigação por aspersão e localizada, valores em torno de 15 e 20%,
respectivamente, representam adequadamente as perdas localizadas.

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5. Bombas Hidráulicas

As bombas hidráulicas são máquinas transformadoras de energia, neste caso,


transformam energia mecânica, advinda dos motores elétricos e a convertem em energia
hidráulica. As bombas podem ser divididas em duas categorias: bombas volumétricas e bombas
hidrodinâmicas (turbobombas). As mais comumente utilizadas em irrigação são as
hidrodinâmicas.
- Bombas volumétricas: o órgão fornece energia ao fluido em forma de pressão. São
as bombas de êmbulo ou pistão e as bombas diafragma. O intercâmbio de energia é estático e
o movimento é alternativo.
- Turbo-Bombas ou Bombas Hidrodinâmicas: o órgão (rotor) fornece energia ao fluido
em forma de energia cinética. O rotor se move sempre com movimento rotativo.
Os principais componentes da bomba são o rotor e o difusor. O rotor é o órgão móvel
que fornece energia ao fluido. É responsável pela formação de uma depressão no seu centro
para aspirar o fluido e de uma sobrepressão na periferia para recalcá-lo. O Difusor é um canal
de seção crescente que recebe o fluido vindo do rotor e o encaminha à tubulação de recalque.
Possui seção crescente no sentido do escoamento com a finalidade de transformar a energia
cinética em energia de pressão. Na Figura 4.1 é apresentado um esquema com a
representação de uma bomba centrífuga.

Figura 5.1 - Corte de uma bomba centrífuga de eixo horizontal apresentando o rotor e o difusor.

5.1. Classificação das Turbobombas

5.1.1. Quanto à trajetória do fluido dentro do rotor


a) Bombas radiais ou centrífugas: o fluido entra no rotor na direção axial e sai na direção
radial. Caracterizam-se pelo recalque de pequenas vazões em grandes alturas. A força
predominante é a centrífuga. Pelo fato das bombas centrífugas serem as mais utilizadas, será
abordado, neste material, todo o seu princípio de funcionamento e critérios de seleção (Figura
5.2a).
b) Bombas Axiais: o fluido entra no rotor na direção axial e sai também na direção axial.
Caracterizam-se pelo recalque de grandes vazões em pequenas alturas. A força predominante
é a de sustentação (Figuras 5.2b e 5.3).

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Figura 5.2 - Esquema de bombas com rotores radial (a) e axial (b).

a b
Figura 5.3 - Deslocamento de água em bomba axial (a) e vista de uma bomba axial (b).

5.1.2. Quanto ao número de rotores dentro da carcaça


a) Bombas de simples estágio, monoestágio ou unicelular: a bomba possui um único
rotor dentro da carcaça. Teoricamente é possível projetar uma bomba com um único estágio
para qualquer situação de altura manométrica e de vazão. As dimensões excessivas e o baixo
rendimento fazem com que os fabricantes limitem a altura manométrica para 100 m.
b) Bombas de múltiplo estágio: a bomba possui dois ou mais rotores dentro da
carcaça. É o resultado da associação de rotores em série dentro da carcaça. Essa associação
permite a elevação do líquido a grandes alturas (> 100 m), sendo o rotor radial o indicado para
esta associação.
Na Figura 5.4 observa-se as bombas monoestágio (a) e multiestágios (b).

a b
Figura 5.4 - Bombas monoestágio (a) e multiestágio (b).

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5.1.3. Quanto ao posicionamento do eixo
a) Bomba de eixo horizontal: O eixo da bomba se encontra posicionado
horizontalmente à superfície do solo. É a concepção construtiva mais comum.
b) Bomba de eixo vertical: O eixo da bomba se encontra posicionado verticalmente à
superfície do solo. Usada na extração de água de poços profundos.
Na Figura 4.5 observa-se as bombas de eixo horizontal (a) e vertical (b).

a b

Figura 5.5 - Bombas de eixo horizontal (a) e vertical (b).

5.1.4. Quanto ao tipo de rotor


a) Rotor aberto: usada para bombas de pequenas dimensões. Possui pequena
resistência estrutural. Baixo rendimento. Dificulta o entupimento, podendo ser usado para
bombeamento de líquidos sujos.
b) Rotor semi-aberto ou semi-fechado: possui apenas um disco onde são afixadas as
palhetas.
c) Rotor fechado: usado no bombeamento de líquidos limpos. Possui discos dianteiros
com as palhetas fixas em ambos. Evita a recirculação da água, ou seja, o retorno da água à
boca de sucção.

a b c
Figura 5.6 - Rotores fechado (a), semi-fechado (b) e aberto (c).

5.1.5. Quanto à posição do eixo da bomba em relação ao nível da água.


a) Bomba de sucção positiva: o eixo da bomba situa-se acima do nível d’água do
reservatório de sucção (Figura 5.7a).
b) Bomba de sucção negativa ou afogada: o eixo da bomba situa-se abaixo do nível
d’água do reservatório de sucção (Figura 5.7b).
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Figura 5.7 - Bomba de sucção positiva (a) e negativa (b).

5.2. Seleção da bomba


Para se selecionar determinado conjunto motobomba é necessário saber, basicamente,
qual a vazão e a altura manométrica do projeto. De posse destes dados, consulta-se os
catálogos dos fabricantes para escolher qual modelo de bomba atenderá ao projeto. Cada
fabricante possui determinado padrão de catálogos, uns utilizam curvas e gráficos, outros,
tabelas. Deve-se saber, antes de consultar os catálogos, se o fabricante possui revenda na
região e se possui assistência técnica e peças de reposição.
Para o cálculo da altura manométrica, somam-se as alturas geométricas (sucção e
recalque) com as perdas de carga (ao longo da tubulação e localizadas).
- Altura geométrica de sucção: É a diferença de nível entre o eixo da bomba e o nível
d'água;
- Altura geométrica de recalque: É a diferença de nível entre o eixo da bomba e o ponto
mais alto da tubulação de reacalque, geralmente a extremidade do tubo, no destino da água;
- Perda de carga ao longo da tubulação: perdas ocorridas devido ao atrito entre as
paredes internas e as moléculas de água, e estas, entre si;
- Perda de carga localizada: perdas ocorridas devido à presença de peças especiais
(conexões, válvulas, etc.).
Para se calcular a Altura Manométrica, utiliza-se a Equação 5.1.

Hman = DN S + DN R + H f + H f loc + Pressão 5.1

Em que:
Hman = Altura Manométrica (mca);
DNR = Diferença de nível do recalque (m);
DNS = Diferença de nível da sucção (m);
Hf = Perda de carga da tubulação (mca);
Hf loc = perda de carga localizada (mca);
Pressão = Pressão requerida para o funcionamento do sistema (mca).

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Exemplo 5.1: Seleção de uma bomba
Selecione uma bomba para atender a uma vazão de 104,4 m 3 h-1 e uma altura
manométrica de 65 m.
Pelo Catálogo da Mark-Peerless, para a rotação de 3.500 rpm, tem-se os modelos
apresentados na Figura 5.8. Observa-se que, para os dados fornecidos, os modelos GN e GM
atendem ao projeto. Para decidir qual o modelo deverá ser usado, consulta-se as curvas
características de cada modelo, como apresentado nas Figuras 5.9 (GM) e 5.10 (GN).
Na Figura 5.9 (Modelo GM), observa-se que o ponto de projeto, está situado pouco acima
da curva do rotor de 174 mm e entre as curvas de rendimento 78% e 80%. Caso seja este o
modelo selecionado, será necessário usar o rotor de 185 mm, que é o diâmetro imediatamente
superior ao ponto e projeto. Considera-se que o rendimento seja de 79%. Para o modelo GN
(Figura 5.10), seria usado o rotor de 239 mm, com eficiência de 64%.
Como o modelo GM apresenta maior eficiência, será o selecionado. Recomenda-se que
se observem outros modelos, de diferentes fabricantes. É importante também, observar o valor
de aquisição da bomba, pois, em curto prazo, torna-se mais econômica. O modelo mais
eficiente é mais econômico em longo prazo.

Figura 5.8 - Gráfico de seleção de bombas Mark-Peerless.

20
Figura 5.9 - Curva característica da bomba Mark-Peerless, modelo GM.

Figura 5.10 - Curva característica da bomba Mark-Peerless, modelo GN.

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Exemplo 5.2: Dimensionamento de uma tubulação e seleção de uma bomba
Dimensionar uma tubulação e conjunto motobomba, conforme esquema apresentado na
Figura 5.11, para elevar água até um reservatório, localizado a um altura de 60 m, em relação
à motobomba, com capacidade para 80.000 litros. A bomba somente poderá funcionar à noite,
durante 8 horas, para se utilizar a tarifa reduzida de energia elétrica.
Dados para o dimensionamento:
Altura geométrica de recalque: 60 m
Altura geométrica de sucção: 2 m
Comprimento da tubulação de recalque: 135 m
Comprimento da tubulação de sucção: 4 m
Tipo de tubos: PVC soldável
Peças especiais: adicionar 10% da perda de carga

Reservatório

60 m

2m
Motobomba
Figura 5.11 - Esquema de montagem do projeto de bombeamento.

a) Cálculo da vazão:
Volume (m3 ) 80
Q= = = 10m3h −1 = 0,00278m3 s −1
Tempo (h) 8

b) Cálculo do diâmetro da tubulação:


Obs.: a velocidade deverá estar entre 1 e 2 m s-1.
Q
Q D 2 v=
Q= Axv v= A=  D2
A 4
4
Testando o diâmetro de 100 mm (0,1 m)
0,00278
v= = 0,354 m / s A velocidade está muito baixa
 0,100 2
4

22
Testando o diâmetro de 75 mm (0,075 m)
0,00278
v= = 0,63 m / s A velocidade continua baixa
 0,075 2
4
Testando o diâmetro de 50 mm (0,050 m)
0,00278
v= = 1,42 m / s OK, velocidade dentro do intervalo (entre 1,0 e 2,0 m/s)
 0,050 2
4
Será adotado o diâmetro de 50 mm (2 polegadas) para o recalque. Recomenda-se que o
diâmetro de sucção seja superior ao de recalque, com isso, pode-se adotar o de 75 mm.

Outra opção de dimensionamento, mais prática, é rearranjar a Equação anterior, deixando-se


o diâmetro em evidência, da seguinte forma:
4Q
D=
v
Assim, aplicando-se um valor médio de velocidade igual a 1,5 m/s, e os valores utilizados no
exemplo anterior, tem-se:

4  0,00278
D= D = 0,0486 m.
  1,5

Arredondando-se para cima, tem-se o diâmetro comercial de 0,05 m ou 50 mm.

c) Cálculo da perda de carga no recalque


1,85 1,85
Q 1  0,00278  1
J = 0,04615m / m
J = 10,641  J = 10,641  
C  D 4,87  140  0,054,87
Hf = J x L Hf = 0,04615 x 135 = 6,23 mca

d) Cálculo da perda de carga na sucção

1,85
J = 0,00641m / m  0,00278  1 Hf = 0,00641 x 4 = 0,026 mca
J = 10,641 
 140  0,0754,87

e) Cálculo da altura manométrica


Hm = HG S + HG R + Hf S + Hf R + H f loc

Hm = 2 + 60 + 0,026 + 6,23 + H f loc

Considerando um adicional de 10% de adicional da perda de carga para as perdas localizadas,


tem-se:
Hm = 2 + 60 + 0,026 + 6,23 + 6,82
Hm = 75,08 mca aproximadamente Hm = 75mca

23
f) seleção da bomba
Q = 10 m3/h Hm = 75 mca

Figura 5.12 - Gráfico de seleção de bombas, Fabricante: KSB (3.500 rpm)

24
Nenhum modelo atende

Figura 5.13 - Gráfico de seleção de bombas, Fabricante: KSB (1.750 rpm)

Figura 5.14 - Curvas características do Modelo: 25-200, Fabricante: KSB (3.500 rpm)

25
Modelo selecionado:
ME-2 pot: 7,5 cv (verde)
Rend.: 58%

Figura 5.15 - Curvas características do Modelo: ME-2 CP-27, Fabricante: Schneider (3.500
rpm)

26
Modelo selecionado:
VME-9 pot: 5 cv (verde)
Rend.: 62%
Figura 5.16 - Curvas características do Modelo VME-9: Fabricante: Schneider (3.500 rpm)

Modelos pré-selecionados conforme as curvas e tabelas apresentadas:

Fabricante: KSB (3.500 rpm)


Modelo: 25-200 (A) Rotor de 209 mm
Rendimento: 30%

Fabricante: KSB (1.750 rpm)


Modelo: Nenhum modelo atende

Fabricante: Schneider (3.500 rpm)


Modelo: ME-2 7,5 cv 3 estágios rotor 135 mm
Rendimento: 58%

Fabricante: Schneider (3.500 rpm)


Modelo: VME-9 5 cv 6 estágios rotor 101 mm
Rendimento: 62%

O último modelo (Schneider VME-9) foi o selecionado, por apresentar o melhor rendimento.

27
5.3. Instalação de bombeamento

Em instalações de bombeamento, há necessidade de algumas peças especiais, como


válvulas, reduções e ampliações, curvas etc. Na Figura 5.18 observa-se um sistema de
bombeamento típico, com presença de:
- Válvula de pé com crivo: tem a função de manter a tubulação de sucção cheia d'água,
pois permite o deslocamento de água em sentido único e, quando a bomba é desligada, a
válvula se fecha e não permite o seu retorno. O crivo da válvula tem a função de impedir a
entrada de corpos estranhos, como fragmentos de plantas e animais, que poderiam danificar
ou obstruir o interior da bomba.
- Curva: tem a função de ajustar a tubulação à geometria da instalação, permitindo a
conexão. Em alguns casos, utiliza-se mangotes (mangueiras flexíveis) na sucção, o que
dispensa o uso da curva;
- Redução excêntrica: permite a conexão de uma tubulação de maior diâmetro à
entrada da bomba que, geralmente, possui menor diâmetro. Na sucção, a redução deve ser
excêntrica (não deve ser concêntrica) para evitar o acúmulo de bolhas de ar;
- Ampliação concêntrica: permite a conexão da saída da bomba (menor diâmetro) à
tubulação de recalque (diâmetro superior);
- Válvula de retenção: possui funcionamento semelhante ao da válvula de pé e evita o
retorno da água em caso de desligamento da bomba, que ocasionaria uma carga d'água em
cima da bomba (calço hidráulico). Outro problema pode ocorrer se o motor elétrico girar,
funcionando como um gerador elétrico, que pode queimar o painel e a instalação elétrica;
- Válvula de gaveta: também chamada de registro de gaveta, serve para a interrupção
do fluxo de água, com fechamento lento. Não se deve usar válvulas do tipo esfera ou globo
(fechamento rápido), pois podem causar um golpe de aríete quando for fechada e promover o
rompimento da tubulação. Em geral, para se ligar e desligar a bomba, a válvula de gaveta
deverá estar fechada.

28
As bombas centrífugas, quando corretamente instaladas e manejadas, possuem uma
vida útil relativamente longa. É importante observar os seguintes pontos na instalação e no
manejo dos conjuntos motobombas:
- A altura de sucção deve ser a mínima possível. Devem-se evitar peças especiais ou
curvas desnecessárias na tubulação de sucção, para diminuir as perdas de carga.
- A tubulação de sucção deve ser isenta de entrada de ar e deve apresentar uma
inclinação ascendente para a bomba, sem pontos altos. Deve-se instalar válvula de pé e crivo,
no seu início, para facilitar o escorvamento e evitar a entrada de corpos estranhos.
- O conjunto deve ser protegido contra inundação e chuva.
- A fundação sobre a qual se apoiará o conjunto deve ser bem firme e nivelada, de modo
que permita um correto alinhamento e evite as trepidações.
- As tubulações de sucção e recalque devem ter suportes próprios e próximos à bomba.
Não devem apoiar sobre a bomba.
- Devem-se instalar na tubulação de recalque uma válvula de retenção e um registro de
fechamento lento (registro de gaveta). É necessário fechar o registro, antes de parar e de ligar
o motor.
- A motobomba somente deve ser ligada após verificar se ela está escorvada. Os
principais defeitos que ocorrem em uma bomba centrífuga e as suas prováveis causas são:
Sem vazão: bomba não escorvada; velocidade de rotação muito baixa; altura de sucção
ou de recalque muito elevada; rotor completamente entupido; sentido de rotação errado; crivo
e válvula de pé enterrados no fundo do poço, ou registro fechado.

29
Com pouca vazão: bolsa de ar na tubulação de sucção; altura de sucção ou de
recalque elevada; rotor parcialmente entupido ou danificado; válvula de pé agarra-
da, de crivos pequenos ou pouco submersos; sentido de rotação do rotor errado.
Com pouca pressão: velocidade de rotação muito baixa; rotor danificado ou
com sentido de rotação errado ou com diâmetro muito pequeno.
Com decréscimo de vazão num período de funcionamento: entrada de ar na
tubulação de sucção; entupimento do crivo; altura de sucção muito elevada.
Consumo exagerado de energia: altura manométrica inferior à prevista, o que
aumenta a vazão bombeada; eixo não alinhado ou empenado; mancais muito apertados.

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