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MULTICULTURALIDADE E

PLURILINGUISMO
Tradição oral e educação plurilingue na África do Oeste

MULTICULTURALITÉ ET
PLURILINGUISME
Tradition orale et éducation plurilingue en Afrique de l’Ouest

Cabo Verde, Guiné-bissau, sénéGal


Coordenação geral Coordination générale

Parceiros Partenaires

Editor Éditeur
União Latina

Comité de redacção Comité de rédaction

Ilustrações Illustrations

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Sítios Internet Sites Internet


dolores ÁlVarez
Charles akibodé, Cristina Maio, toMé Varela
leonardo Cardoso, José da Cunha, Maria linda lopes
MassaMba Guèye, ouMar ndao, laMine sarr

MULTICULTURALIDADE E
PLURILINGUISMO
Tradição oral e educação plurilingue na África do Oeste

MULTICULTURALITÉ ET
PLURILINGUISME
Tradition orale et éducation plurilingue en Afrique de l’Ouest

Cabo Verde, Guiné-bissau, sénéGal


À la mémoire de Mamadou Diop Em memória de Mamadou Diop
prefÁCio da Ministra da eduCação e
desportos de Cabo Verde

Fernanda Marques, Ministra da Educação e Desportos


Praia, 01 de Março de 2012

—6—
préfaCe du Ministre de l’enseiGneMent
éléMentaire, du Moyen seCondaire
et des lanGues nationales

Kalidou Diallo
Ministre de l’Enseignement Élémentaire, du Moyen Secondaire et des Langues Nationales
Dakar, le 28 novembre 2011

—7—
equipas partiCipantes
équipes partiCipantes

equipa de cordenação geral


équipe de coordination générale

equipa de coordenação de Cabo Verde

—8—
equipa de coordenação da Guiné-bissau

équipe de coordination du sénégal

—9—
soMMaire ÍndiCe

Prefácio da Ministra da Educação e Desportos de Cabo Verde ................................................................................................... 6


............................ 7
............................................................................................................................... 8
.............................................................................................................................................................. 14

I. CONTOS DIDACTIZADOS CONTES DIDACTISÉS 17

Cabo Verde Cap-Vert .................................................................................................................. 19


Apresentação Présentation ........................................................................................................................................................... 20
1. Pexinhu O Peixinho ......................................................................................................................... 23
2. Mnin dzobdient ................................................................................... 47

(ŃĶĻ̏#ĶŁŁĮŃr(ŃĶĻ̏IJ#ĶŁŁĮŃ ...................................................................................................... 75
Apresentação Présentation ........................................................................................................................................................... 76
Vaidade do manhote .................................................................................. 79
.................................................................................................................................................................. 97

4̏Ļ̏ĴĮĹબrબ4IJĻIJĴĮĹ ............................................................................................................................ 117


Présentation Apresentação ......................................................................................................................................................... 118
A hiena Bouki e os pássaros ......................... 121

............................................................................................................ 137
........................ 157
.................................................................................................................................................................................. 179

— 10 —
II. CONTOS SELECCIONADOS CONTES SÉLECTIONNÉS 213

Cabo Verde Cap-Vert ................................................................................................................. 215


1. Mau irmon i bon irmon Mau irmão e bom irmão ................................................. 217
A escolha do noivo da princesa ................. 225
.......................................................................... 237
................................................................. 249
5. Rapasinhu spértu O rapaz matreiro ............................................................................................ 263
O lobo e a princesa ........................................................................... 271
..................................................................................................................... 279

........................................................................................................................ 287

Guiné-Bissau Guinée-Bissau................................................................................................... 295


9. [Ka´bet] [´nki] [kuju´ba] Curiosidade de kinancoi ............................................... 297
Dois irmãos desavindos .......... 303
À procura de um Rei ................................................... 313
Promessa Cumprida Promesse tenue ............................................................. 319
........................................................................................................................................................................ 325

................................................................................................................................ 333
Histoire de deux rivales.................................................................. 341
.................... 347

Sénégal Senegal .......................................................................................................................... 353


.............................. 355
Uma misteriosa maternidade ................................................... 365
Un jeune homme capricieux Um jovem caprichoso.................................................................... 373

A hiena e a lebre vão ao baptizado ..................................................................................................................................... 381


............................................................................................................................................................................................ 391

............................................................................................................................ 399

— 11 —
aVant-propos

multiculturalisme tradition orale et plu-


rilinguisme

— 12 —
corpus

corpus

didactisation

didactisation

Les coordinateurs

— 13 —
preâMbulo

multiculturalismo tradição oral plu-


rilinguismo educação plurilingue

corpus

— 14 —
corpus

didactização

didactização

Os coordenadores

— 15 —
I

Contos didactizados

Contes didactisés

Cabo Verde, Guiné-Bissau, Sénégal

— 17 —
Pexinhu
O Peixinho
Le petit poisson

47
Mnin dzobdient

— 18 —
Cabo Verde Cap-Vert

— 19 —
apresentação

— 20 —
présentation

— 21 —
1.

Conto crioulo Conte créole Ensino primário Enseignement primaire


Conteur Contador Local da colecta Lieu de collecte
1

1. Mais conhecido por “Ntóni-Lóka”, natural da freguesia Plus connu sous le nom de « Ntóni-Lóka », originaire de
de Santa Ana (São Tomé e Príncipe), residente em Ponta Santa Ana (São Tomé e Príncipe), résidant à Ponta Furna,
Furna, concelho do Tarrafal, ilha de Santiago. municipalité de Tarrafal, île de Santiago.

— 23 —
pexinhu
1


re-writter

— 24 —




— 25 —
1

s
s

— 26 —
o peixinho
Estamos aqui em Ponta-Furna, não é? Saímos da Mangue para aqui, não é? Em relação à Maria, era o
seguinte. Íamos a descer para a Fazenda, quando cruzámos com a madrinha acompanhada da afilha-
da. A madrinha tinha duas filhas, ambas Maria: uma filha e uma afilhada. A Maria, filha, chamava-se
Maria de Fátima e a afilhada chamava-se Maria Teresa. Todas as manhãs bem cedo, a madrinha dizia
para a Maria Teresa:
— Levanta-te, arruma a casa, vai à ribeira buscar a água, vai buscar a lenha e, quando regressares,
põe o milho no pilão, trata de o cochir1!
Ela não tinha nem pequeno-almoço, nem almoço, nem lanche. A vida para ela era o que calhasse.
Todos os dias era a mesma coisa. Passou uma semana, um mês, dois meses, quando ia fazer três meses,
ela disse para consigo mesma:
— Uff… minha mãe!... Não vou conseguir sobreviver!
Um belo dia, foi à fonte e pôs-se a pensar. Regressou, sentindo-se fraca, poisou a lata de água no
chão, pegou numa corda e foi à procura de lenha. Quando saiu para a lenha, parou no cimo de uma
colina, exclamou:
— Ó meu Deus, eu não vou sobreviver!... Vou morrer… se levar este feixe de lenha tão pesado, vai
ser uma afronta... Não vou resistir! Se não o levar, a minha madrinha vai me matar… vai me bater para
me matar!
Então, ficou de pé um pouquinho, depois sentou-se e começou a chorar. Chorou, chorou, chorou
e, a certa altura, disse:
— Meu Deus, não vou sobreviver… É melhor tirar-me a vida agora, antes de eu ir para casa!
Momentos depois e de repente, veio uma grande onda, com cerca de três metros de altura, bateu na
pedra e ficou ali um peixinho a estrebuchar. Ela olhou para o peixinho e disse:
— Peixinho, com toda esta fome que eu tenho, eu deveria comer-te!
Mas o peixe disse-lhe:
— Não me comas… Se quiseres ter uma boa vida e ser melhor que toda a gente como o rei, não me
comas!
Ela retorquiu:
— Peixe, porque não devo comer-te?
— Põe-me no chão… Olha só… põe-me no chão, vou e volto com comida para comeres.
Quando o Peixinho, cerca de cinco minutos depois, voltou com um balaio cheio de merenda (“me-
renda”, não sabem o que é? Badio diz “café”)… um balaio de café. Ela sentou-se e começou a comer. O
peixe disse-lhe:
— Come até te saciares!... De contrário, não precisas comer.
Momentos depois, o peixe aconselhou:
— Olha, pega na tua lenha e vai para casa!... Mas, se não quiseres continuar aí, eu te ajudo… Se
quiseres, ajudo-te a saíres daí!

— 27 —
Ela exclamou:
— Ah!… Não me faças isso!...
Ele confirmou:
— Faço, sim!
— Vais me ajudar?
— Ajudo-te.
— E quando eu chegar aqui e não te encontrar, o que faço?
Ele ensinou:
— Quando vieres, põe-te de pé em cima duma pedra, olha para o mar e canta: “Peixinho, Peixinho…
Peixinho, Peixinho!... Vem daí à praia, o mar é longínquo… Maria preta de bongolão ‘hu-uuu’…”
— Repete, por favor!... Não fixei!
O peixe repetiu:
— Peixinho, Peixinho!... Vem daí à praia, o mar é longínquo… Maria preta de bongolão…
A Maria Teresa fixou os dizeres e foi para casa levar a lenha. Noutro dia, muito cedo, foi à procura
de água e, ao chegar à casa, mal deixou a água à porta, a madrinha ordena-lhe:
— Vai buscar a lenha!
Ela saiu à procura da lenha, mas dirigiu-se ao local do encontro com o Peixinho. Ao chegar aí, can-
tou, e o Peixinho apareceu com a merenda. Ela comeu e o Peixinho disse-lhe:
— Olha, vou te dizer uma coisa: se quiseres que te ajude a mudar de casa, para saíres dessa maçada,
vais ter de te casar comigo!
Ela respondeu:
— Se me ajudares, caso-me contigo!... Caso-me… Caso-me!
Então, o Peixinho meteu a mão no bolso, tirou uma semente de abóbora e deu-lha:
— Tu… esta semente é para quê?...
— Leva-a. Quando chegares à casa, antes de pores a lenha no chão, ajoelha-te, esgravata o solo,
põe-na aí, entulha e calca com os pés três vezes. Depois, vai buscar uma caneca de água e rega-a.
A Maria Teresa fez exactamente como o Peixinho lhe ensinara. Quando amanheceu, daquela se-
mente de abóbora, a aboboreira tinha-se espalhado por toda a rua. Aliás, por toda a localidade, e até
sobre os tectos das casas.
No dia seguinte, a Maria de Fátima, que andava sempre sentada a uma máquina de costura, porque
o trabalho dela era costurar, disse:
— Mamãe, olha, a aboboreira que plantámos, já está com frutos maduros!
A mãe respondeu:
— Vai, apanha uma abóbora, traz… vamos fervê-la depressa e comê-la já, antes que a Teresa chegue!
A Maria Teresa estava com o Peixinho lá, à beira-mar. Pouco depois, chegava a Maria de Fátima
com a abóbora, que a mãe lhe arrebatou das mãos, lavou-a e cortou-a em pedaços que, colocados num
caldeirão, encheram-no, e, seguidamente, pô-lo ao lume.
Passados alguns instantes, foi ao fogão e viu que a abóbora já estava cozida. Chamou então pela
mãe e disse:
— Mamãe, a abóbora já está cozida, mas esqueci-me de lhe pôr sal.
A mãe respondeu:
— Olha, vai à taberna e compra sal!
Quando a Maria de Fátima saía para comprar sal, olhou para a panela, e disse:
— Ah!… abóbora!... Estás muito bonita, uma tentação! Deixa-me tirar-te um pedaço que vou co-
mendo pelo caminho, ainda que sem sal.

— 28 —
Tirou um pedaço que começou a comer. Tinha andado uns metros, quando começou a sentir-se
mal, sem força nas pernas. Então, chamou:
— Mamãe, mamãe!... A abóbora está a matar-me! – e caiu morta.
A mãe, que não ouvira o chamamento da filha, esperou, esperou, esperou, e a filha não vinha, então
levantou-se e disse:
— Ela está a demorar muito!... Espera aí…
Foi até à panela, olhou e exclamou:
— Oh! Abóbora!... Estás mesmo linda e pareces bem apetitosa! Deixa-me tirar-te um pedaço que
vou comendo pelo caminho!
Tirou um pedaço e foi comendo, enquanto ia ao encontro da filha. Mal saiu da casa, começou a
sentir-se mal e pôs-se a chamar:
— Fátima, oh! Fátima!... A abóbora está a matar-me! – e caiu também morta.
Assim, a casa ficou sem ninguém.
O Peixinho disse então à Maria Teresa:
— Olha, aquelas pessoas acabaram de morrer. Vai, arruma tudo o que está lá, menos a panela de
abóbora, e traz!
— Como é que eu vou fazer para trazer tudo?!... Não tenho carro!
O Peixinho disse-lhe:
— Vai, ajunta tudo, abre os braços e faz uma trouxa, põe-na à cabeça e traz tudo como está!
Trata-se de uma casa, com coisinhas e de pouco valor. Coisas de coitados como nós!
Ela foi buscar tudo, colocou tudo às costas e trouxe. Ao chegar ao sítio, cantou:
— Peixinho, Peixinho!... Vem daí à praia, o mar é longínquo… Maria preta de bongolão…
Logo veio uma onda muito forte que embateu nas rochas, apareceu uma carroça com quatro cava-
los, onde despejou as coisas que trazia.
A Maria Teresa, um pouco receosa, perguntou:
— Não se vai estragar nada?
Depois de tudo arrumado na carroça, o Peixinho disse para a Maria Teresa:
— Fecha os olhos!
Maria Teresa, que entrara já na carroça, fechou os olhos, e partiram pelo mar fora, e foram viver
para um castelo.
Desde aquela altura até agora, deixei-os com dois bebés. E mandaram-me uma carta a dizer que o
terceiro será meu afilhado!... Mas, depois, acabei me mudando de zona!
“Sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira a baixo, quem souber mais que conte melhor!”

— 29 —
actividades
NívEl

COMPEtêNCIa1

— 30 —
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa(S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNO

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO
O Ciências
Peixinho conto

Escuta conto

Onde Quando
Quem Quando
Como Porquê

SaBEr ESCutar uM CONtO

— 31 —
O
Peixinho conto
Entoação

Entoação
Como?

SaBEr Narrar uM CONtO


do conto
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa(S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNO

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO
O
Peixinho conto
Entoação

Lê o conto

conto

SaBEr lEr uM CONtO


do conto

— 32 —
O
Peixinho conto
Ciências

Educação ar
do conto

do conto do conto

do conto conto

do conto

SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO


aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa(S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNO

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO
O Educação ar
Peixinho conto

do conto

narrador

SaBEr rEPrESENtar uM CONtO

— 33 —
O
Peixinho conto Cidadania

do conto

SaBEr dESCOBrIr a MOral da EStórIa


outras actividades

1. Questionário sobre o conto

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

10.

11.

12.

13.

14.

15.

16.

17.

18.

19.

20.

21.

22.

23.

24.

25.

26.

— 34 —
2. Actividades à volta do conto

OutraS aCtIvIdadES PrOPOStaS dISCIPlINaS

EduCaçãO artíStICa

CIêNCIaS INtEgradaS

— 35 —
le petit poisson
Nous sommes bien ici à Ponta-Furna, n’est-ce pas ? Nous sommes partis de Mangue pour venir ici,
n’est-ce pas ? Pour ce qui est de Maria, voici ce qui arriva. Nous descendions vers Fazenda1, lorsque
nous croisâmes la marraine accompagnée de sa filleule. La marraine avait deux filles, toutes deux nom-
mées Maria : l’une était sa fille et l’autre sa filleule. Maria, la fille, s’appelait Maria de Fatima et la
filleule s’appelait Maria Teresa. Tous les matins, très tôt, la marraine disait à Maria Teresa :
— Lève-toi, nettoie la maison, va à la rivière chercher de l’eau, va chercher du bois et quand tu
reviendras, mets le maïs dans le mortier et pile-le2!
Elle n’avait pris ni petit-déjeuner, ni déjeuner, ni goûter. Sa vie allait bon gré mal gré. Tous les jours,
c’était la même chose. Une semaine passa, un mois, deux mois et ça durait depuis presque trois mois
quand elle se dit :
— Ouf… ma mère !... Je ne vais pas pouvoir survivre !
Un beau jour, elle alla à la fontaine et se mit à penser. Au retour, se sentant faible, elle posa le bidon
d’eau par terre, prit une corde et sortit ramasser du bois. Quand elle partit chercher le bois, elle s’arrêta
en haut d’une colline et s’écria :
— Oh mon Dieu, je ne vais pas survivre !... Je vais mourir… si je porte ce fagot de bois si lourd, ce
sera un supplice... Je ne vais pas résister ! Si je ne l’apporte pas, ma marraine va me tuer… elle me battra
à mort !
Alors, elle resta debout un instant, puis elle s’assit et se mit à pleurer. Elle pleura, pleura, pleura et,
à un moment, elle dit :
— Mon Dieu, je ne vais pas survivre… Il vaut mieux m’ôter la vie maintenant, avant que je re-
tourne à la maison !
Quelques instants après, tout à coup, arriva une grande vague de près de trois mètres de haut, elle
frappa le rocher et un petit poisson resta là à se débattre. Elle regarda le petit poisson et lui dit :
— Petit poisson, affamée comme je suis, je devrais te manger !
Mais le poisson lui dit :
— Ne me mange pas… Si tu veux avoir une belle vie et être au-dessus de tous, comme le roi, ne me
mange pas !
Elle rétorqua :
— Poisson, pourquoi ne devrais-je pas te manger ?
— Pose-moi à terre… Écoute… pose-moi à terre et j’irai chercher de quoi te donner à manger.
Quand le petit poisson, près de cinq minutes plus tard, revint avec un panier plein de quoi casser la
croûte (« un casse-croûte », vous ne savez pas ce que c’est ? les Badios3 disent un « café »)… un panier
plein de casse-croûte, elle s’assit et commença à manger. Le poisson lui dit :
— Mange jusqu’à ce que tu n’aies plus faim !... Sans quoi, c’est que tu n’as pas besoin de manger.
Un moment après, le poisson lui conseilla :

Badios

— 36 —
— Écoute, prends ton bois et rentre chez toi !... Mais, si tu ne veux pas continuer à vivre là-bas, je
t’aiderai… Si tu le souhaites, je peux t’aider à sortir de là !
Elle s’exclama :
— Ah… tu ne peux pas faire cela !...
Il confirma :
— Oui, je peux le faire !
— Tu vas m’aider ?
— Je t’aiderai.
— Et quand j’arriverai ici si je ne te trouve pas, que dois-je faire ?
Il lui montra :
— Quand tu viendras, mets-toi debout sur un rocher, regarde la mer et chante : « Petit poisson,
petit poisson… Petit poisson, petit poisson !... Viens sur la plage, la mer est loin… Maria la noire de
bongolon “hou-ououou”…»
— Répète, s’il te plaît !... Je n’ai pas retenu !
Le poisson répéta :
— Petit poisson, petit poisson !... Viens sur la plage, la mer est loin… Maria la noire de bongolon…
Maria Teresa retint bien ce qu’il avait dit et partit ramener le bois à la maison. Le jour suivant, très tôt,
elle alla chercher de l’eau et, de retour à la maison, à peine avait-elle posé le récipient d’eau sur le seuil
que la marraine lui ordonna :
— Va chercher du bois !
Elle sortit chercher le bois, mais elle se dirigea vers l’endroit où elle avait rencontré le petit poisson.
Lorsqu’elle arriva là-bas, elle chanta et le petit poisson apparut avec le casse-croûte. Elle mangea et le
petit Poisson lui dit :
— Écoute, je vais te dire quelque chose : si tu veux que je t’aide à changer de maison, pour en finir
avec ces corvées, tu vas devoir te marier avec moi !
Elle répondit :
— Si tu m’aides, je me marierai avec toi !... Oui, je me marierai… je me marierai !
Alors, le petit poisson mit la main dans sa poche, en tira une graine de citrouille et la lui donna :
— Dis-moi…, c’est pour quoi faire, cette graine ?...
— Emporte-la. Quand tu arriveras chez toi, avant de poser le bois par terre, mets-toi à genoux,
creuse un trou dans le sol, mets-la dedans, recouvre-la de terre et, avec les pieds, tasse la terre trois fois.
Ensuite va chercher une cruche d’eau et arrose-la.
Maria Teresa fit exactement ce que le petit poisson lui avait expliqué. Quand le jour se leva, la
graine avait germé et la citrouille s’étalait dans toute la rue. Et même, d’ailleurs, sur toute la commune
et aussi sur les toits des maisons.
Le lendemain, Maria de Fatima, qui était toujours assise derrière une machine à coudre, car son
travail consistait à coudre, dit :
— Maman, regarde, la citrouille que nous avons plantée porte déjà des fruits mûrs !
La mère répondit :
— Va, cueille une citrouille, apporte-la… nous allons vite la faire cuire et nous la mangerons tout
de suite, avant l’arrivée de Teresa !
Maria Teresa était avec le petit poisson là-bas, au bord de la mer. Peu après, Maria de Fatima arrivait
avec la citrouille que sa mère lui arracha des mains ; elle la lava et la coupa en morceaux qu’elle mit dans
une marmite qui, remplie à ras bord, fut ensuite posée sur le feu.
Au bout de quelques instants, elle alla au fourneau et vit que la citrouille était déjà cuite. Elle appela

— 37 —
alors sa mère et lui dit :
— Maman, la courge est cuite, mais j’ai oublié de mettre du sel.
La mère répondit :
— Eh bien, va au magasin en acheter !
Comme Maria de Fatima allait sortir pour acheter le sel, elle regarda la marmite et dit :
— Ah… citrouille !... Comme tu es appétissante, que c’est tentant ! Laisse-moi te prendre un mor-
ceau que je mangerai en route, même sans sel.
Elle prit un morceau et commença à manger. Elle avait parcouru quelques mètres, lorsqu’elle com-
mença à se sentir mal, sans force dans les jambes. Alors, elle appela :
— Maman, maman !... La citrouille est en train de me tuer ! – Et elle tomba morte.
La mère, qui n’avait pas entendu l’appel de sa fille, attendit, attendit, attendit, et sa fille n’arrivait
pas. Alors elle se leva et dit :
— Elle tarde trop !... Attends…
Elle se dirigea vers la marmite, regarda son contenu et s’exclama :
— Oh citrouille !... Tu es vraiment belle et tu as l’air bien savoureux ! Laisse-moi te prendre un
morceau que je mangerai en route !
Elle prit un bout qu’elle mangea pendant qu’elle allait à la rencontre de sa fille. A peine sortie de la
maison, elle commença à se sentir mal et se mit à appeler :
— Fatima, oh Fatima !... La citrouille est en train de me tuer ! – et elle aussi tomba morte.
Ainsi, la maison resta sans personne.
Le petit poisson dit alors à Maria Teresa :
— Tu vois, ces personnes viennent de mourir. Va, rassemble toutes les affaires qui sont là-bas, sauf
la marmite avec la citrouille, et apporte-les ici !
— Comment est-ce que je vais faire pour tout porter ?!... Je n’ai pas de charrette !
Le petit poisson lui dit :
— Va, rassemble tout, ouvre les bras et fais un balluchon, mets-le sur la tête et rapporte tout en
l’état !
Il s’agit d’une maison avec peu de choses et sans grande valeur. Des choses de gens pauvres comme
nous !
Elle alla tout chercher, mit l’ensemble sur son dos et le rapporta. En arrivant sur le lieu, elle chanta :
— Petit poisson, petit poisson !... Viens sur la plage, la mer est loin… Maria la noire de bongolon…
Puis vint une vague très forte qui s’écrasa sur les rochers et apparut un carrosse à quatre chevaux,
où elle déposa toutes les affaires qu’elle avait ramenées.
Maria Teresa, un peu méfiante, demanda :
— Rien ne sera abîmé ?
Après avoir tout rangé dans le carrosse, le petit poisson dit à Maria :
— Ferme les yeux !
Maria Teresa, qui était déjà installée dans le carrosse, ferma les yeux et ils partirent à travers la mer
pour aller vivre dans un château.
Depuis lors, au moment où je les ai laissés, ils avaient eu deux bébés. Et ils m’avaient envoyé une
lettre disant que le troisième serait mon filleul !... Mais, ensuite, je suis parti m’installer ailleurs !
« Haricot en amont, haricot en aval, que celui qui le sait mieux le raconte moins mal ! »

— 38 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 39 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE(S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvE
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)
Le
petit poisson


Quand
Comment Pourquoi

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE

— 40 —
Le
petit poisson

Comment ?

SavOIr raCONtEr uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE(S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvE
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)
Le
petit poisson

intonation

SavOIr lIrE uN CONtE

— 41 —
Le
petit poisson

action,

SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE(S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvE
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)
Le
petit poisson

scénario

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE

— 42 —
Le
petit poisson

SavOIr dÉCOuvrIr la MOralE d’uN CONtE


autres activités

1. Questionnaire sur le conte

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

8.

9.

10.

11.

12.

13.

14.

15.

16.

17.

18.

19.

20.

21.

22.

23.

24.

25.

26.

— 43 —
2. Activités autour du conte

autrES aCtIvItÉS PrOPOSÉES dISCIPlINES

ÉduCatION artIStIQuE

SCIENCES INtÉgrÉES

— 44 —
2.

Conto crioulo Conte créole Ensino secundário Enseignement secondaire


Contador Conteur Local da colecta Lieu de collecte
1

1. Mais conhecido por “Maika”, natural da freguesia de São Plus connu sous le nom de « Maika », originaire de São
João Baptista, concelho de Porto Novo, ilha de Santo João Baptista, municipalité de Porto Novo, île de Santo
Antão. Antão.

— 47 —
Mnin dzobdient

— 48 —

— 49 —

— 50 —
Numa tabanca1 havia um casal que tinha um filho muito desobediente. E, como desde que nasceu
chorava muito, levaram-no a um curioso que lhes disse que, pelo seu signo, a criança mataria alguém,
quando tivesse doze anos de idade.
A criança foi crescendo, crescendo, crescendo, crescendo, e todos os dias o pai o chicoteava, sem
dizer à mãe o porquê. A mulher, já com raiva pelo comportamento do marido, disse-lhe:
— Mas por que bates todos os dias no menino, sem que este tenha feito nada?
O marido ficava sempre calado, pois, estava já prevenido sobre o que poderia acontecer.
Quando o rapaz fez doze anos, deu-lhe uma catana para ir entregar a um vizinho numa outra zona.
Então, o rapaz, que ia passando numa ribeira, encontrou um homem e disse:
— Eu matava este homem, agora!... E se calhar, vou mesmo matá-lo!
Então, se lembrou e disse para consigo:
— Se o meu pai já me bate todos os dias, sem nada ter feito, se eu matar o homem, agora ele vai me
matar também!
Então, foi entregar a catana ao vizinho e, ao regressar à casa, o pai perguntou-lhe:
— Não te aconteceu nada pelo caminho?
Ele respondeu:
— Oh! Papá!... O senhor não vai acreditar! Eu ia matar um homem, mas, como me lembrei de que
o senhor tem vindo a bater-me diariamente sem motivo, não o matei, deixei a catana, e voltei para casa.
Levando em conta que o filho era desobediente, o pai mandou-lhe ir guardar umas vacas, dizendo-
-lhe:
— Olha, toma esta vara e vai dar de comer às vacas… Mas, escusa-te de voltares para casa, sem essa
vara ou com ela danificada!
O rapaz foi e chegou a um chafariz onde se encontravam uns miúdos a apanhar água, e, um deles
ao vê-lo com a vara, disse:
— Vede que varinha bonita!...
E, dirigindo-se ao rapaz, disse:
— Empresta-ma!
O rapaz respondeu:
— Olha, a vara não é minha… Não posso emprestá-la a ninguém, porque o meu pai disse que, se
ela se partir, não mais devo voltar para casa.
Mas o miúdo insistiu tanto, que acabou emprestando. Começaram então a brincar com a vara, até
que ela se partiu. O rapaz pôs-se a chorar, perguntando-se sobre o que iria fazer:
— O papá disse que, se eu partisse a vara, não precisava de voltar a casa… Agora, já não volto a casa!

— 51 —
Então, pôs-se a caminhar sem destino. Quanto às vacas, quando terminassem de comer, voltariam
para casa. É que as vacas, depois de comerem, sempre voltam para casa, para dormirem no lugar habi-
tual.
Tendo caminhado por algum tempo, o rapaz chegou a uma ribeira onde encontrou um homem a
bater com um pau no tronco de uma árvore, para retirar mel da abelha. Então, disse-lhe:
— Ó senhor, porque não lhe atira água… que assim fica com mais mel?
O homem respondeu que não tinha água. O rapaz replicou que tinha um garrafãozinho de água
que lhe poderia dar. Deu-lhe a água que colocou no buraco, e o mel saiu.
Na altura em que o rapaz prosseguia a caminhada, como já não tinha a água, começou a chorar.
Então, o homem disse-lhe que não precisava de chorar e ofereceu-lhe um pouco daquele mel, dizendo
que era melhor do que a água.
Recebeu o mel e foi andando. Andou, andou até chegar a uma outra zona, onde encontrou um se-
nhor que morava numa casa com um rapaz que tinha perdido a mãe, e parou lá. Encontrou-os a comer
arroz seco e disse-lhes:
— Porquê que não comem arroz com mel?
O homem respondeu que não tinham mel. O rapaz disse então que tinha um pouco de mel e que
podiam comer arroz com mel. Comeram arroz com mel e, quando terminaram de comer, o rapaz ia a
sair quando viu que não tinha nada nas mãos. Começou então a chorar. O homem tinha o azar de não
ter nada para oferecer. Então disse:
— Oh!… Meu filho!... Toma este pouco de terra, porque não tenho mais nada… Leva-o na mão!
Depois, chegou num rio onde um senhor estava a tentar tapar a água que saía, impedindo-o assim
de pescar. Estava usando a lama. Por mais lama que colocasse, a água levando a lama, continuava sain-
do. Então, o rapaz disse-lhe:
— Se colocar terra seca, em vez de lama, não seria melhor?
Respondeu o homem:
— Olha, eu não tenho terra seca… Se a tivesse, já a tinha colocado!
O rapaz disse:
— Empresto-lhe a minha terra!
Com a terra emprestada, o homem conseguiu tapar a água, e apanhou uma quantidade grande de
peixes. Quando o rapaz ia prosseguir a caminhada, pediu ao homem que lhe devolvesse a sua terra.
Mas, como ela estava já molhada, o homem ofereceu-lhe dois peixes, em vez de terra, dizendo-lhe:
— Comes um e levas o outro!
Pegou nos peixes e foi andando. Estava ele a descansar, sentado à sombra de uma árvore, quando
apareceu um falcão que lhe tirou o peixe das mãos. O rapaz começou a chorar, e disse:
— Ó falcão, calma!... É a última coisa que eu tinha… Não podes tirar-ma assim! Vais ser castigado,
vais receber um grande castigo!
E o falcão, sem se importar, continuou comendo o peixe. Ao terminar de comer, o falcão que esta-
va poisado num ramo seco, ao voar, o ramo partiu. O rapaz pegou no ramo, colocou-o aos ombros e
continuou o seu caminho.
Quando chegou a uma outra zona, encontrou uma senhora que estava a cozinhar para uns meninos
de uma escola. Cozinhava numas panelas de barro, com palha seca. O rapaz disse-lhe:
— Ó minha senhora, por que não cozinha com lenha?
Ela respondeu que não cozinhava com lenha porque naquela zona não havia lenha. Ele retrucou:
— Se cozinhar com lenha, a comida fica pronta mais rápido e você se despacha mais depressa.
A senhora disse ao rapaz que lhe emprestasse a sua lenha e o rapaz emprestou. Quando estava a

— 52 —
colocá-la ao lume, veio um vento forte e queimou toda a lenha. Então o rapaz desatou a chorar e a
senhora disse-lhe:
— Oh! Meu filho!... Não precisas de chorar… Vou te dar uma panela, das mais novas que eu tenho
aqui!
Ele tomou a panela e continuou a andar. Foi, foi, foi, foi… até chegar a uma ribeira onde se encon-
trava um senhor a trabalhar com lama, e que tinha deixado resto de lama pelo caminho.
O rapaz que ia com a panela à cabeça, pôs os pés na lama, escorregou e caiu, e a panela quebrou-
-se. Então desatou a chorar e a brigar com o homem, dizendo que foi ele quem tinha deitado lama no
caminho e que teria de lhe pagar a panela.
Como era na época de São João e o homem tinha um tambor que iria tocar e que estava pendurado
numa árvore, respondeu ao rapaz:
— Olha, toma este tambor… é mais útil do que aquela panela!... Toma o tambor e vai tocar!
O rapaz ficou contente e pensou em regressar a casa, levando o tambor em substituição da vara.
Mas quando passava numa tabanca, encontrou aí gente a dançar e a tocar, mas o instrumento de que
dispunha para percussão, era um balaio. Ele perguntou:
— Mas vocês conseguem tocar e dançar ao som de um balaio?
Eles responderam que não tinham mais nada. Então, ele disse que tinha um tambor, com melhor
som, e que certamente poderiam tocar e dançar melhor. Aí, o homem que tocava no balaio, pediu o
tambor emprestado. Mas, ele disse que não, porque, se o tambor se partisse, ele não iria conseguir levá-
-lo para casa. O homem respondeu que se o tambor se partisse, lhe dariam uma vaca em substituição.
O rapaz ficou contente e emprestou o tambor. Começaram a tocar e a dançar, e a festa ficou muito
melhor, até que o tambor estourou. Com o tambor danificado, o rapaz pôs-se a chorar. E o homem
disse-lhe:
— Não chores!... A promessa que te fizemos, vamos cumpri-la… Podes desamarrar a vaca e levá-la!
O rapaz pegou da vaca e levou-a consigo para a casa do pai. Quando chegou, contou ao pai tudo o
que lhe tinha acontecido, desde a vara até à vaca. E concluiu:
— Ó papá, a vara que o senhor me deu, deu-me uma botija de água, a botija de água deu-me mel de
abelha, o mel deu-me terra, a terra deu-me peixe, o peixe deu-me lenha, a lenha deu-me uma panela, a
panela um tambor e o tambor a vaca que eu trouxe em substituição da vara.
E o pai respondeu que tudo o que lhe tinha acontecido, era pelo facto de ele ser desobediente.
Porque, se ele fosse obediente, nada disso teria acontecido com ele.
O rapaz ficou contente e disse que a vaca era do pai. O pai disse-lhe que poderia ficar em casa,
ajudando-o na lavoura, e que a vaca pertencia ao rapaz.
E, assim, a história terminou. Quem for o mais novo, que vá apanhar, e o mais velho que vá amarrar.

— 53 —
actividades
NívEl

COMPEtêNCIa1

— 54 —
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNO avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
O
-

Fotos
conto Como?

contador
sional

SaBEr ESCutar uM CONtO


O
-

Entoação Onde Quando Quem O Onde Quando Quem O que Como Porquê
que Como Porquê

— 55 —
Como?

SaBEr lEr uM CONtO


alunos
oral

O
-

Fotos

Como?

conto

SaBEr Narrar uM CONtO


aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNO avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
O
-

Como?

SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO

— 56 —
O
- de:

Entoação

Como?

alunos

SaBEr rEPrESENtar uM CONtO


Como?
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNO avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
O
-

narrativo
Como?

narração

SaBEr dESCrEvEr uM CONtO

— 57 —
O
-

SaBEr ESCrEvEr uM CONtO


aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNO avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
O
-

lados através dos

sociais

— 58 —
SaBEr dar uMa OPINIãO SOBrE uM CONtO/ExtraIr a MOral dE uM CONtO
Contos

SaBEr COMParar CONtOS


outras actividades
1. Questionário

1.

1.

2. 2.

3.

3. 4.

4.

5.

6.

1.

7.

2.

3.

1.

4. 2.

3.

5. 4.

6.

7.

8.

9.

1.

10. 2.

3.

1. 4.

5.

2.

3.

1.

4. 2.

3.

4.

— 59 —
2. Funcionamento da língua

ENSINO aPrENdIzagEM

SugEStõES EStratÉgICaS SuPOrtES


CONtEúdOS OBjECtIvOS (aCtIvIdadES dO aluNO) avalIaçãO
PEdagógICOS
O conto

O conto

— 60 —
ENSINO aPrENdIzagEM

SugEStõES EStratÉgICaS SuPOrtES


CONtEúdOS OBjECtIvOS (aCtIvIdadES dO aluNO) avalIaçãO
PEdagógICOS

O conto

no conto
O conto

O conto

O conto

— 61 —
Dans une tabanca1 vivait un couple qui avait un fils très désobéissant. Et puisque depuis qu’il était né,
il pleurait beaucoup, ils l’amenèrent chez un guérisseur qui leur dit que selon son signe, lorsqu’il aurait
douze ans, l’enfant tuerait quelqu’un.
L’enfant grandissait, grandissait, grandissait, grandissait et tous les jours le père le fouettait, sans
dire à la mère pourquoi. La femme finit par se fâcher à cause du comportement du mari, et elle lui
demanda :
— Mais pourquoi bats-tu tous les jours le petit, sans qu’il ait rien fait ?
Le mari restait silencieux, car il avait été mis en garde contre ce qui pourrait arriver.
Lorsque le garçon eut douze ans, il lui donna une machette pour qu’il aille la remettre à un voisin
dans une autre région. Alors que le garçon passait près d’une rivière, il rencontra un homme et se dit :
— Je tuerais bien cet homme, maintenant !... Et peut-être que je vais le tuer !
Alors, il se souvint et se dit en lui-même :
— Si mon père me bat déjà tous les jours, sans que j’aie rien fait, si je tue cet homme, pour le coup,
il va me tuer aussi !
Alors, il alla remettre la machette au voisin et, de retour à la maison, le père lui demanda :
— Il ne t’est rien arrivé en chemin ?
Il répondit :
— Oh père !... Vous n’allez pas me croire ! J’allais tuer un homme, mais, comme je me suis souvenu
que vous me battiez tous les jours sans raison, je ne l’ai pas tué, j’ai remis la machette et je suis revenu
à la maison.
Compte tenu que le fils était désobéissant, le père l’envoya garder des vaches, lui disant :
— Écoute, prends cette baguette et emmène les vaches manger… Mais, garde-toi bien de revenir à
la maison sans la baguette ou en l’ayant abîmée !
Le garçon partit et arriva à une fontaine où se trouvaient des enfants qui étaient allés chercher de
l’eau, et l’un d’eux, en le voyant avec la baguette, dit :
— Comme elle est jolie cette baguette !...
Et, s’adressant au garçon, il dit :
— Prête-la-moi !
Le garçon répondit :
— Écoute, la baguette n’est pas à moi… Je ne peux la prêter à personne, parce que mon père dit
que, si elle se casse, il vaut mieux que je ne rentre pas à la maison.
Mais le petit insista tellement, qu’il finit par la lui prêter. Ils commencèrent alors à jouer avec la
baguette jusqu’à ce qu’elle se casse. Le garçon se mit à pleurer, en se demandant ce qu’il allait faire :

— 62 —
— Mon père a dit que si je cassais la baguette, ce n’était pas la peine de rentrer à la maison…
Maintenant, je ne vais pas rentrer à la maison !
Alors, il se mit à marcher sans but. Quant aux vaches, lorsqu’elles auraient fini de manger, elles
retourneraient à la maison. Parce que les vaches, après avoir mangé, retournent toujours à la maison,
pour dormir à l’endroit habituel.
Après avoir marché un certain temps, le garçon arriva à un ruisseau où il trouva un homme qui
frappait avec un bâton le tronc d’un arbre, pour en retirer du miel d’abeille. Alors, il lui dit :
— Oh Monsieur, pourquoi vous n’y versez pas de l’eau ?… Vous obtiendrez ainsi plus de miel.
L’homme répondit qu’il n’avait pas d’eau. Le garçon répliqua qu’il avait une petite bonbonne
d’eau qu’il pourrait lui donner. Il lui donna l’eau que l’autre versa dans le trou et le miel sortit.
Au moment où le garçon allait reprendre sa route, comme il n’avait plus d’eau, il se mit à pleurer.
Alors, l’homme lui dit qu’il ne devait pas pleurer et lui offrit un peu de ce miel, en lui disant que c’était
meilleur que de l’eau.
Il prit le miel et continua à marcher. Il marcha, marcha jusqu’à arriver dans une autre région où se
trouvait un homme qui vivait dans une maison avec un garçon qui avait perdu sa mère et là, il s’arrêta.
Il les trouva en train de manger du riz tout sec et leur dit :
— Pourquoi vous ne mangez pas le riz avec du miel ?
L’homme répondit qu’ils n’avaient pas de miel. Le garçon dit alors qu’il avait un peu de miel et
qu’ils pouvaient manger le riz avec du miel. Ils mangèrent le riz avec du miel et, quand ils eurent fini
de manger, le garçon allait partir quand il vit qu’il n’avait rien dans les mains. Il se mit alors à pleurer.
L’homme n’avait malheureusement rien à offrir. Alors il dit :
— Oh… mon garçon !... Prends ce peu de terre, parce que je n’ai rien d’autre… Emporte-la dans
ta main !
Ensuite, il arriva à une rivière où un homme était en train d’essayer de colmater l’eau qui s’échap-
pait, l’empêchant ainsi de pêcher. Il utilisait de la boue. Il avait beau mettre de la boue, l’eau l’empor-
tait et continuait à s’échapper. Alors, le garçon lui dit :
— Si vous mettiez de la terre sèche au lieu de boue, ça ne serait pas mieux ?
L’homme répondit :
— Écoute, je n’ai pas de terre sèche… Si j’en avais, j’en aurais déjà mis !
Le garçon dit :
— Je vous prête ma terre !
Avec la terre prêtée, l’homme parvint à colmater l’eau et prit une grande quantité de poissons. Au
moment de reprendre sa marche, le garçon demanda à l’homme de lui rendre sa terre. Mais, comme
elle avait été mouillée, l’homme lui offrit deux poissons à la place de la terre, en lui disant :
— Tu en manges un et tu emportes l’autre !
Il prit les poissons et reprit sa route. Il était en train de se reposer, assis à l’ombre d’un arbre, quand
survint un faucon qui lui enleva les poissons des mains. Le garçon se mit à pleurer et dit :
— Oh faucon, du calme !... C’est tout ce qui me restait… Tu ne peux pas me l’enlever comme ça !
Tu vas être puni, tu recevras un grand châtiment !
Et le faucon, sans s’occuper de lui, continua à manger les poissons. Quand il eut fini de manger, le
faucon s’envola, et la branche sèche sur laquelle il s’était posé se brisa. Le garçon prit la branche, la mit
sur ses épaules et poursuivit son chemin.
En arrivant dans une autre région, il tomba sur une femme qui était en train de faire cuire le repas
des enfants d’une école. Elle cuisinait dans des marmites en terre cuite, avec de la paille sèche. Le gar-
çon lui dit :

— 63 —
— Oh Madame, pourquoi vous ne cuisinez pas avec du bois ?
Elle répondit qu’elle ne cuisinait pas avec du bois parce que, dans les alentours, il n’y avait pas de
bois. Il rétorqua :
— Si vous cuisiniez avec du bois, le repas serait prêt plus vite et vous auriez fini plus tôt.
La femme demanda au garçon de lui prêter son bois et le garçon le lui prêta. Quand elle le mit dans
le feu, un vent fort se leva et brûla tout le bois. Alors le garçon fondit en larmes et la femme lui dit :
— Oh mon garçon !... Tu n’as pas besoin de pleurer… Je vais te donner une de mes marmites, une
des plus neuves que j’ai ici !
Il prit la marmite et continua sa route. Il marcha, marcha et marcha encore… jusqu’à une rivière
où se trouvait un homme qui travaillait avec de la boue et qui avait laissé tomber un peu de boue sur
le chemin.
Le garçon qui marchait avec la marmite sur la tête, marcha sur la boue, glissa et tomba, et la mar-
mite se brisa. Alors, il éclata en sanglots et commença à se disputer avec l’homme, disant que c’était lui
qui avait jeté de la boue sur le chemin et qu’il devait lui payer sa marmite.
Comme c’était la période de la Saint-Jean, l’homme avait, accroché à un arbre, un tambour dont il
allait jouer et il répondit au garçon :
— Écoute, prends ce tambour… c’est plus utile que cette marmite !... Prends le tambour et va en
jouer !
Le garçon fut content et pensa à retourner chez lui, apportant le tambour à la place de la baguette.
Mais, alors qu’il passait dans un hameau, il tomba sur des gens qui dansaient et faisaient de la musique,
mais le seul instrument dont ils disposaient pour les percussions, c’était un panier. Il demanda :
— Mais, vous arrivez à jouer et à danser au son d’un panier ?
Ils répondirent qu’ils n’avaient rien d’autre. Alors, il dit qu’il avait un tambour avec un meilleur
son et qu’ils pourraient certainement jouer et danser mieux. C’est alors que l’homme qui jouait du
panier lui demanda de lui prêter le tambour. Mais il répondit que non, parce que, si on lui cassait son
tambour, il ne pourrait pas le rapporter à la maison. L’homme répondit que s’ils cassaient le tambour,
ils lui donneraient une vache en échange.
Le garçon fut satisfait et prêta le tambour. Ils commencèrent à jouer et à danser et la fête fut bien
plus belle, jusqu’au moment où le tambour éclata. Le tambour endommagé, le garçon se mit à pleurer.
Et l’homme lui dit :
— Ne pleure pas !... La promesse que nous t’avons faite, nous allons la tenir… Tu peux détacher la
vache et l’emmener !
Le garçon prit la vache et l’emmena chez son père. Quand il arriva, il raconta à son père tout ce qui
lui était arrivé, depuis la baguette jusqu’à la vache. Et il conclut :
— Oh père ! Avec la baguette que vous m’aviez donnée, j’ai eu une bonbonne d’eau ; avec la bon-
bonne d’eau, j’ai eu du miel d’abeille ; avec le miel, de la terre ; avec la terre, du poisson ; avec le poisson,
du bois ; avec le bois, une marmite ; avec la marmite, un tambour et avec le tambour, la vache que j’ai
ramenée à la place de la baguette.
Et le père répondit que tout ce qui lui était arrivé, c’était parce qu’il était désobéissant. Parce que,
s’il avait été obéissant, rien de tout cela ne lui serait arrivé.
Le garçon fut content et dit que la vache était à son père. Le père lui dit qu’il pouvait rester à la
maison et l’aider aux champs, et que la vache appartenait au garçon.
Et ainsi finit l’histoire. « Au cadet de ramasser, à l’aîné de rattacher ».

— 64 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 65 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CONtENuS SuPPOrt aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvE ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

CaPaCItÉS
Comment ?

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE

— 66 —
Où Où Quand Qui Quoi
Quand Qui Quoi Comment Pourquoi Comment ?
Comment Pourquoi

SavOIr lIrE uN CONtE


Comment ?

SavOIr raCONtEr (dIrE) uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CONtENuS SuPPOrt aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvE ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

CaPaCItÉS
les élèves sont évalués à travers :

Comment ?

SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE

— 67 —
Comment ?

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE


Comment ?
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CONtENuS SuPPOrt aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvE ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

CaPaCItÉS
Comment ?

actions

SavOIr dÉCrIrE uN CONtE

— 68 —
action

actions

SavOIr ÉCrIrE uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CONtENuS SuPPOrt aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvE ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

CaPaCItÉS
discussion

— 69 —
SavOIr dONNEr uNE OPINION Sur uN CONtE/ExtraIrE la MOralE d’uN CONtE
SavOIr COMParEr dES CONtES
autres activités
1. Questionnaire

1. 1.

2.

2.

3. 3.

4. 4.

5.

6.

1. 7.

2.

3. 1.

2.

4. 3.

4.

5.

6.

7.

8. 1.

9. 2.

10. 3.

4.

1. 5.

2.

3. 1.

2.

4. 3.

4.

— 70 —
2. Fonctionnement de la langue

ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE
CONSEIlS StratÉgIQuES SuPPOrtS
CONtENuS ÉvaluatION
(aCtIvItÉS dE l’ÉlèvE) PÉdagOgIQuES

discours

cation

— 71 —
ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE
CONSEIlS StratÉgIQuES SuPPOrtS
CONtENuS ÉvaluatION
(aCtIvItÉS dE l’ÉlèvE) PÉdagOgIQuES

— 72 —
Falkon ku jugude
Vaidade do manhote
Le faucon vaniteux

Tedungal Djamanu

— 74 —
(ŃĶĻ̏#ĶŁŁĮŃr(ŃĶĻ̏IJ#ĶŁŁĮŃ

— 75 —
apresentação

— 76 —
présentation

— 77 —
3.

1
Ensino básico Enseignement de base
Contista Conteur Local da colecta Lieu de collecte

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

Guinée Bissau pour les langues dans lesquelles ces contes


versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont ont été collectés.

— 79 —
falkon ku jugude

— 80 —
Vaidade do manhote1
Há muitos anos atrás, um jagudi 2, estava sentado num ramo de uma árvore, envolto nos seus pensa-
mentos. Durante todo o tempo em que esteve sentado nesse galho, pensava em como conseguir alguma
coisa para comer, porque ele não caçava e nem comia animais vivos, somente mortos. De repente, sur-
giu um falcão que lhe perguntou? – Então senhor jagudi, em que estás a pensar? És muito preguiçoso
e a tua preguiça já é demais. Mas o jagudi continuou calado e não respondeu às provocações do falcão.
O falcão continuou, dizendo:
— Vês aquela pomba que vai aí, vou atrás dela e vou comê-la fresca e com sangue, e tu que não
gostas de te esforçares, vais continuar aqui com fome.
O falcão foi atrás da pomba, que sentindo-se ameaçada, começou a fazer o voo cruzado tentando
escapar das garras do falcão. E nesta luta de vida ou morte, a pomba fez uma manobra em frente a uma
árvore e o falcão que vinha com muita velocidade, não conseguiu evitá-la e bateu com o peito contra
o tronco e caiu, perdendo os sentidos. Ao acordar já moribundo, viu o jagudi sentado ao lado dele e,
aflito, perguntou ao jagudi:
— Será que vais comer-me?
O jagudi respondeu:
— Tu ainda não morreste. Eu só como os mortos e não estou com pressa, vou esperar até morreres.
E assim sucedeu. Depois de um tempo de agonia o falcão morreu e o jagudi comeu-o até se saciar e
voltou a voar até àquela árvore, onde esteve sentado a pensar onde encontraria comida.
Moral da história: esta história nos ensina que não devemos vangloriar-nos e que não somos supe-
riores aos outros. Todos somos iguais e todos temos os nossos direitos.

— 81 —
actividades
NívEl

COMPêtENCIa 1

— 82 —
atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO

do conto

SaBEr ESCutar uM CONtO

— 83 —
SaBEr lEr uM CONtO
conto
do conto
atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO

conto

SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO

— 84 —
Moral

SaBEr Narrar uM CONtO


atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO

Ciências
do conto

conto

SaBEr dESCOBrIr a MOral dE uM CONtO


diano

— 85 —
Ciências

conto

SaBEr rEPrESENtar uM CONtO


outras actividades
1. Questionário

5.

1. ja-
2. gudi
6.

3. jagudi
7.

4.

8.

a B C d

9.

10.

16.

11. 17.

12.

13. jagudi
14.

15.

— 86 —
2. Para melhor compreender o texto

Perguntas texto

descrição

Narração

3. Actividades de vocabulário

Objectivos Exercícios

envolto
moribundo
voo cruzado
saciar

conto

4. Actividades de escrita

1. 4.

2. 5.

3.

5. Funcionamento da língua

1 vaidoso humilde
vaidoso -
2 humilde
maveril
3

— 87 —
le faucon vaniteux
Il y a bien des années, un vautour était perché sur une branche d’arbre, plongé dans ses pensées.
Pendant tout le temps passé sur cette branche, il se demandait comment il pourrait trouver quelque
chose à manger, parce qu’il ne chassait pas et qu’il ne mangeait même pas d’animaux vivants mais
seulement des animaux morts. Soudain, surgit un faucon qui lui demanda :
Alors, monsieur le vautour, à quoi penses-tu ? Tu es très paresseux et ta paresse est vraiment trop
grande.
Mais le vautour resta silencieux et ne répondit pas aux provocations du faucon.
Le faucon continua, en disant :
— Tu vois cette colombe qui vole là-bas, je vais la poursuivre et je vais la manger toute fraîche avec
son sang, et toi qui n’aimes pas faire d’efforts, tu vas rester ici, affamé.
Le faucon s’élança à la suite de la colombe qui, se sentant menacée, commença à voler en zig-
zag, essayant d’échapper aux griffes du faucon. Dans cette lutte de vie et de mort, la colombe fit une
manœuvre devant un arbre et le faucon qui arrivait à grande vitesse, ne parvint pas à éviter le tronc, le
percuta avec sa poitrine et tomba sans connaissance. Lorsqu’il retrouva ses esprits, moribond, il vit le
vautour assis à côté de lui, et le faucon affligé demanda au vautour :
— Est-ce que tu vas me manger ?
Le vautour répondit :
— Tu n’es pas encore mort. Je mange seulement les morts et je ne suis pas pressé, je vais attendre
que tu meures.
Ce qui arriva. Après un moment d’agonie, le faucon mourut, et le vautour mangea à sa faim et
vola à nouveau jusqu’à l’arbre où il était resté perché à se demander où il pourrait bien trouver de la
nourriture.
Morale de l’histoire : ce conte nous apprend que nous ne devons pas nous vanter et que nous ne
sommes pas supérieurs aux autres. Nous sommes tous égaux, et nous avons tous nos droits.

— 88 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 89 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE (S) d’aCCuEIl

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES POSSIBlE(S)
Le
-

-
ment

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE

— 90 —
Le
-

SavOIr lIrE uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE (S) d’aCCuEIl

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES POSSIBlE(S)
Le Français
-

SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE

— 91 —
Le
-

SavOIr raCONtEr uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE (S) d’aCCuEIl

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES POSSIBlE(S)
Le Français
-

tions

SavOIr dÉCOuvrIr la MOralE d’uN CONtE

— 92 —
Le Français
-

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE


autres activités
1. Questionnaire

5.

1.

2.

6.

3.

7.

4.

8.

a B C d

9. 15.

10.

16.

11. 17.

12.

13.

14.

— 93 —
2. Pour mieux comprendre le texte

QuEStIONS tExtE ÉtaPES dE la NarratION

3. Activités de vocabulaire

ExErCICES

moribond
vol croisé
mangea

— 94 —
4. Activités d’écriture

1.

2.

3.

4.

5.

5. Fonctionnement de la langue

humble
vaniteux
vaniteux

humble

— 95 —
4.

1
Ensino secundário Enseignement secondaire
Contista Conteur Local da colecta Lieu de collecte

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

Guinée Bissau pour les langues dans lesquelles ces contes


versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont ont été collectés.

— 97 —
tedungal djamanu

— 98 —
tedungal djamanu1
Havia um casal que ao longo de muitos anos de casamento não conseguiu ter mais do que um filho. Já
estavam muito velhos e cansados e, por isso, o filho decidiu procurar uma mulher dos seus sonhos que,
na opinião dele, seria uma mulher que pudesse respeitar e trabalhar para os seus pais. Pelos vistos, este
tipo de mulher, com estas qualidades, era difícil encontrar na sua própria tabanca2, pois aí as raparigas
tinham a fama de não respeitarem os próprios progenitores.
Em virtude da idade avançada dos pais, era ele quem fazia todos os trabalhos, desde a lavoura até
ao trabalho doméstico.
Ao decidir ir buscar uma mulher em casamento, pediu ao pai que o deixasse ir para longe da sua
povoação para encontrar uma mulher nos moldes e nos valores da educação que ele idealizara para
casar. O pai autorizou-o a ir procurar essa mulher numa outra povoação.
Ao partir para esta aventura, os pais, como sempre, aconselharam-no a que nunca na vida tomasse
coisas de outrem que não lhe fossem dadas de livre e espontânea vontade, em quaisquer circunstâncias.
A mãe preparou-lhe comida de viagem que ele guardou num saco, pendurado aos ombros.
Ao andar durante muitos e longos dias a comida começou a esgotar-se pouco a pouco. Ele passava
por entre muitas plantações de frutas e, apesar da privação e da fome, sempre resistiu à tentação de
provar fruta que fosse. Mas num dado momento, esqueceu-se dos conselhos dos pais e agarrou inad-
vertidamente numa manga e mordeu-a. Logo que engoliu o primeiro pedaço, lembrou-se do conselho
dos pais e ficou confuso sem saber o que fazer. Resolveu interromper a viagem e procurar o dono da
plantação para lhe pedir desculpas pelo acto que praticara. Percorreu duas plantações sem encontrar
o proprietário, que entretanto residia numa terceira povoação, segundo informações dos populares.
Quando chegou à povoação, encontrou-se de frente com o proprietário, que por sinal era um ve-
lho, com uma idade avançada, de tez clara e que se encontrava sentado a descansar em cima de um
baloiço de cordas. Cumprimentou o velho e disse-lhe que vinha pedir desculpas pelo facto de ter co-
mido uma manga da sua plantação sem autorização para tal. Explicou-lhe que se encontrava de viagem
à procura de uma rapariga com que se casar e que interrompera a viagem para se desculpar junto do
velho por causa desse incidente. Contou ao velho que estava a precisar de uma mulher educada e bem
comportada que o ajudasse a tratar dos pais de forma condigna e respeitosa.
O velho mirou o rapaz de frente e com emoção respondeu que estava pronto para lhe perdoar, mas
com uma condição: ele também era pai de uma rapariga cega, muda, surda, paralítica e leprosa, com
a aparência do animal mais feio e horrendo do mato. Ele explicou que precisava de um marido para a
filha e se o rapaz estivesse disposto a desposá-la, ele estaria para sempre perdoado.
O rapaz ficou estupefacto com o pedido do velho e disse-lhe que ele realmente precisava de uma
rapariga que o ajudasse no trabalho de casa e a cuidar dos pais, mas a filha do velho era tudo menos
aquilo de que ele precisava e que tinha idealizado. Portanto, não podia aceitar as condições propostas
pelo velho. Então o velho retorquiu e disse que ele podia continuar à procura do seu sonho, sem o

Tedungal Djamanu

— 99 —
perdão dele.
O rapaz decidiu continuar a sua peregrinação, mas, lembrando-se do conselho dos pais, virou-se de
novo para o velho e disse:
— Por favor perdoe-me, pai, mas não me obrigue a casar com a sua filha que nem sequer pode
andar.
O velho retorquiu outra vez que não o perdoava de jeito nenhum, mas que o rapaz podia partir e
seguir viagem à vontade. O rapaz, depois de alguma hesitação, muita reflexão e ponderação, decidiu
aceitar contrariado a condição imposta pelo velho de se casar com a filha.
O velho, satisfeito com o acordo conseguido, desembolsou dinheiro e mandou comprar cola para
selar o casamento entre a filha e o rapaz que lhe veio pedir desculpa. Finda a cerimónia de prenúncio
de casamento, o velho indicou ao rapaz a casa onde habitava a filha e que se encontrava muito afastada
do centro da morança1. Dirigiu-se ao rapaz e disse em tom jocoso:
— Vai ter com a tua esposa, mas não vale a pena cumprimentá-la, porque não ouve e não vê e muito
menos anda.
O rapaz encaminhou-se para a residência da mulher que lhe tinha sido dada em casamento e, che-
gado em frente da casa, fez-se anunciar com educação, dizendo em voz alta:
— Salamaleikum,
Respondeu uma voz vinda de dentro da casa:
— Aleikumssalkame.
O rapaz estranhou e de imediato pensou que estivesse uma outra pessoa em visita à casa da sua
mulher e certamente teria sido essa pessoa a responder. Contudo, não desarmou e resolveu entrar.
Qual não foi o seu espanto, quando viu perante si uma mulher completamente diferente daquela que
lhe tinham anunciado e, sobretudo, de uma beleza estonteante. Não se contendo com a surpresa, disse
para a moça:
— Mas, eu vim ver a filha do velho que me disseram ser uma mulher diminuída em todos os senti-
dos, o que é completamente diferente daquilo que estou a ver neste momento.
Ela retorquiu:
— Sou a mesma pessoa que lhe indicaram.
O rapaz, de tão surpreendido, não quis acreditar e, dando sinais de impaciência, começou a discutir
com a rapariga.
A rapariga disse-lhe que ela era a tal mulher cujas características tinham sido descritas pelo velho,
seu pai, pois desde criança nunca tinha conversado com nenhum homem, por isso a apelidavam de
muda, e que nunca tinha cumprimentado nenhum homem, por isso lhe diziam leprosa, nunca tinha
ouvido voz de homem, por isso era considerada surda. Ao concluir esta explicação convincente, esten-
deu o braço ao rapaz que o agarrou e saíram juntos da casa. O rapaz ficou estarrecido ao contemplar a
rapariga e, disse para consigo, que nunca lhe passara pela cabeça casar-se com uma mulher tão bonita
e educada.
O rapaz voltou para a casa do velho e disse-lhe:
— Obrigado, pai, por me ter perdoado e me ter dado em casamento a mulher dos meus sonhos.
O velho disse-lhe que a rapariga era a sua única filha e, portanto, sendo a herdeira, todos os seus
bens transitavam para as mãos do casal. Pediu ainda ao rapaz que fosse buscar os seus pais e que vies-
sem morar para junto das plantações para assim melhor cuidarem do património e dos outros bens da
família.

— 100 —
actividades
NívEl

COMPEtêNCIa 1

— 101 —
atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
conto dos actos

SaBEr ESCutar uM CONtO

— 102 —
SaBEr lEr uM CONtO
conto

alunos

SaBEr Narrar uM CONtO


— 103 —
SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO SaBEr dESCOBrIr a MOral dO CONtO SaBEr rEPrESENtar uM CONtO CaPaCIdadES
OBjECtIvOS
CONtEúdOS
SuPOrtES
atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM

conto
conto

diano
aCtIvIdadES aluNOS
avalIaçãO daS aPrENdIzagENS
atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
contos
Contos
tituição
cidos

SaBEr ESCrEvEr uM CONtO


conto

— 104 —
SaBEr dar uMa OPINIãO SOBrE uM CONtO
Contos

ração

SaBEr COMParar CONtOS


outras actividades
1. Perguntas iniciais

1. 3.

2. 4.

2. Estrutura do conto

1. 3.

4.

2.

3. Personagens

1. 5.

2.

6.

3.

4.

4. Compreensão global

1.

2.

3. 7.

8.

4. 9.

10.

5.

11.

6.

— 105 —
5. Para uma melhor compreensão

OBjECtIvOS vISadOS ExErCíCIOS a títulO INdICatIvO

6. Prolongamentos

1. 4.

2.

5.

3.

6.

— 106 —
tedungal djamanu1
Il était une fois un couple qui, après de longues années de mariage, n’avait réussi à avoir qu’un seul fils.
Ils étaient désormais tellement vieux et fatigués que leur fils décida de chercher la femme de ses rêves,
qui selon lui, devait être capable de respecter ses parents et de travailler pour eux. Apparemment, ce
type de femme, avec ces qualités-là, serait difficile à trouver dans son propre village, car là-bas les filles
avaient la réputation de ne pas respecter leurs propres parents.
Étant donné l’âge avancé de ses parents, c’était lui qui faisait toutes les besognes, depuis les travaux
de la terre jusqu’aux tâches ménagères.
Lorsqu’il se décida à aller chercher une femme pour l’épouser, il demanda à son père de le laisser
partir loin de son village, pour trouver une femme selon le modèle et les valeurs d’éducation qui étaient
son idéal pour se marier. Le père l’autorisa à aller chercher cette femme-là dans un autre village.
Comme il partait pour cette aventure, les parents, comme toujours, lui conseillèrent de ne prendre
jamais de la vie une chose qui appartienne à autrui, sans que cela lui soit donné librement et volontiers,
quelles que soient les circonstances. La mère lui prépara de la nourriture pour le voyage qu’il mit dans
un sac, accroché à l’épaule.
Au fil de nombreuses et longues journées de marche, la nourriture commença à s’épuiser peu à peu.
Il traversa de nombreuses plantations d’arbres fruitiers et, malgré les privations et la faim, il résista à la
tentation de goûter au moindre fruit. Mais à un moment donné, il oublia les conseils de ses parents et,
par inadvertance, saisit une mangue et mordit dedans. À peine le premier morceau avalé, il se souvint
du conseil de ses parents et resta confus sans savoir quoi faire. Il décida d’interrompre son voyage, de
chercher le propriétaire de la plantation et de lui présenter des excuses pour l’acte qu’il avait commis. Il
parcourut deux plantations sans trouver le propriétaire, qui finalement vivait dans un troisième village,
d’après les explications des gens.
Quand il arriva au village, il se trouva face au propriétaire, qui était d’ailleurs un vieil homme, d’un
âge avancé, au teint clair, et qui se reposait assis sur une balançoire de cordes. Il salua le vieil homme et
lui dit qu’il venait présenter ses excuses pour avoir mangé une mangue de sa plantation sans autorisa-
tion. Il lui expliqua qu’il était en voyage à la recherche d’une fille avec laquelle se marier et qu’il avait
interrompu son voyage pour lui présenter des excuses à cause de cet incident. Il raconta au vieil homme
qu’il avait besoin d’une femme bien élevée, avec de bonnes manières, qui l’aiderait à prendre soin de
ses parents de façon digne et respectueuse.
Le vieil homme regarda le garçon en face et lui répondit avec émotion qu’il était prêt à lui par-
donner mais à une condition : lui-même était père d’une fille aveugle, muette, sourde, paralytique et
lépreuse, ayant l’apparence de l’animal le plus laid et le plus hideux des bois. Il lui expliqua qu’il avait
besoin d’un mari pour sa fille et que s’il était disposé à se marier avec elle, il serait à jamais pardonné.
Le garçon fut stupéfait de la demande de l’ancien et il lui répondit qu’il avait réellement besoin
d’une fille qui l’aiderait dans les tâches ménagères et les soins à ses parents. Mais la fille du vieil homme
était tout sauf celle dont il avait besoin et qu’il avait imaginée. Par conséquent, il ne pouvait accepter

Tedungal Djamanu

— 107 —
les conditions proposées par l’ancien. Alors le vieil homme rétorqua en disant qu’il pouvait continuer
la recherche de son rêve, sans son pardon.
Le jeune homme décida de continuer son périple, mais, se souvenant du conseil de ses parents, il se
retourna vers l’ancien et lui dit :
— S’il vous plaît pardonnez-moi, père, mais ne m’obligez pas à me marier avec votre fille qui ne
peut même pas marcher.
L’ancien rétorqua à nouveau qu’il ne lui pardonnait en aucune façon, mais qu’il pouvait partir
et poursuivre son voyage à son aise. Le jeune homme, après quelque hésitation, ayant longtemps et
mûrement réfléchi, contrarié, décida d’accepter la condition imposée par l’ancien et d’épouser sa fille.
Le vieil homme, satisfait d’avoir obtenu son accord, sortit de l’argent et demanda qu’on aille ache-
ter des noix de cola pour sceller le mariage entre sa fille et le jeune homme qui était venu présenter des
excuses. Après la cérémonie de l’annonce du mariage, l’ancien indiqua au garçon l’endroit où vivait sa
fille qui se trouvait très éloigné du centre de la concession. Il s’adressa au garçon et lui dit sur le ton de
la plaisanterie :
— Va rejoindre ta femme, mais ce n’est pas la peine de la saluer, car elle n’entend pas, ne voit pas
et marche moins encore.
Le jeune homme se dirigea vers l’endroit où habitait la femme qui lui avait été donnée en mariage
et, arrivé devant la maison, s’annonça poliment, en disant à haute voix :
— Salamaleikum.
Une voix à l’intérieur de la maison répondit :
— Aleikumssalkame.
Le jeune homme fut surpris et pensa immédiatement qu’il y avait dans la maison quelqu’un d’autre
qui rendait visite à sa femme et que c’était certainement cette autre personne qui avait répondu.
Cependant, cela ne l’arrêta pas et il décida d’entrer. Quelle ne fut pas sa surprise quand il vit devant lui
une femme complètement différente de celle qu’on lui avait décrite et surtout d’une beauté étourdis-
sante. Sans cacher sa surprise, il dit à la jeune fille :
— Mais, je suis venu voir la fille du vieil homme et l’on m’a dit que c’était une femme totalement
infirme, ce qui est tout à fait différent de ce que je vois en ce moment.
Elle répliqua :
— Je suis celle qu’on vous a indiquée.
Le garçon était tellement stupéfait qu’il ne voulait pas la croire et, montrant des signes d’impa-
tience, il commença à discuter avec la jeune fille.
La jeune fille lui dit qu’elle était bien cette femme dont les caractéristiques avaient été décrites par
le vieil homme, son père, parce que depuis son enfance, elle n’avait jamais discuté avec aucun homme,
c’est pour cela qu’on l’appelait la muette, et qu’elle n’avait jamais salué aucun homme, c’est pour
cela qu’on la disait lépreuse, elle n’avait jamais entendu la voix d’un homme, c’est pour cela qu’on la
considérait comme sourde. En concluant cette explication convaincante, elle tendit le bras au jeune
homme qui le saisit et ils sortirent ensemble. En observant la jeune fille, le garçon fut ébahi et se dit
qu’il n’aurait jamais imaginé épouser un jour une femme aussi belle et bien élevée.
Le jeune homme retourna à la maison du vieil homme et lui dit :
— Merci, père, de m’avoir pardonné et de m’avoir donné en mariage la femme de mes rêves.
L’ancien lui dit que la jeune fille était sa fille unique et par conséquent son héritière, et que tous ses
biens passeraient aux mains du couple. Il demanda aussi au jeune homme d’aller chercher ses parents
afin qu’ils viennent vivre près des plantations pour pouvoir ainsi mieux prendre soin du patrimoine et
des autres biens familiaux.

— 108 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 109 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE

— 110 —
SavOIr lIrE uN CONtE
SavOIr raCONtEr uN CONtE
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE

— 111 —
SavOIr dÉgagEr la MOralE d’uN CONtE
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE

— 112 —
La créativité

SavOIr ÉCrIrE uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr dONNEr uN avIS Sur uN CONtE

— 113 —
SavOIr COMParEr dES CONtES
autres activités
1. Questions initiales

1. 3.

2. 4.

2. Structure du conte

1. 3.

4.

2.

3. Personnages

1. 5.

2.

6.

3.

4.

4. Compréhension globale

1. 5.

6.

2.

3.

7.

4. 8.

9.

— 114 —
10. 11.

5. Pour mieux comprendre le texte

ExErCICES SuggÉrÉS

6. Pour aller plus loin

1. 4.

2.

5.

3.

6.

— 115 —
taa kulliwoolto
Bouki-l’hyène et les oiseaux
A hiena Bouki e os pássaros

Sambayel gujjo
tanum pennowo

Sambayel, Filho de Ladrão


e Neto de Mentiroso

— 116 —
4̏Ļ̏ĴĮĹબrબ4IJĻIJĴĮĹ

157

espera de marido

A Samba

— 117 —
présentation

— 118 —
apresentação

— 119 —
5.

Conte bassari (onyan) Conto bassari (onyan) Enseignement élementaire Ensino elementar
Conteur contador

— 121 —
taa kulliwoolto

— 122 —
bouki-l’hyène et les oiseaux
Un jour, Bouki-l’hyène eut envie d’accompagner à la chasse des oiseaux appelés sënar. Ils lui deman-
dèrent :
— Mais comment vas-tu faire ? Quand nous chassons, nous nous cachons dans les feuillages des
rôniers et toi tu n’as pas de plumes pour voler.
L’hyène les supplia de lui donner quelques plumes pour qu’elle puisse les suivre. Ils lui en four-
nirent, non sans lui dire :
— Écoute, il y a des tourterelles qui font : « Réveillez-vous ! Réveillez-vous ! Réveillez-vous » !
Elles nous signalent l’heure du réveil, chaque matin, et il ne faudra surtout pas les manger.
L’hyène accepta. Ils s’envolèrent et se posèrent sur le rônier. Mais Bouki ne résista pas à sa grande
envie de se nourrir de tourterelles. Durant la nuit, elle se mit à les manger l’une après l’autre. Et elle
finit par les dévorer toutes. Le lendemain matin, personne pour les réveiller ! Un des oiseaux se leva,
bien après l’heure habituelle, et réveilla les autres en criant :
— Celui qui est venu avec nous a mangé toutes les tourterelles. Qu’allons-nous faire de cet hôte
qui n’a pas respecté sa parole ?
— Reprenons toutes les plumes que nous lui avons prêtées, répondirent les autres.
Ils mirent leur sentence à exécution et retirèrent à l’hyène toutes les plumes. Après l’avoir ainsi
punie, les oiseaux s’envolèrent et la laissèrent seule sur le rônier. Bouki ne pouvait plus descendre de
l’arbre. Un hippopotame, venant de la mer, passait son chemin. Il leva la tête, aperçut Bouki et lui
demanda :
— Oh, toi ! Que fais-tu là haut ?
— Ce sont les oiseaux qui m’ont abandonnée ici, répondit Bouki. Ils m’ont enlevé toutes les
plumes que j’avais ! Je ne sais plus comment descendre de ce maudit rônier.
L’hippopotame lui proposa de se laisser tomber et lui offrit son dos pour amortir sa chute. Bouki
n’hésita pas une seconde. Elle ferma les yeux, prit son envol et ongayar !1 Elle se jeta du haut de l’arbre
et atterrit brutalement sur l’hippopotame. Ils roulèrent tous les deux jusqu’à la mer et se retrouvèrent
dans les eaux. Bouki était effrayée. Elle ne savait pas nager.
L’hippopotame lui dit encore :
— Rassure-toi ! Toute cette surface m’appartient, l’eau c’est mon royaume. Je te demanderai juste
de te pousser vers l’arrière de mon dos pour que je puisse mieux te porter. Pousse-toi un peu !
Bouki regarda le dos de l’hippopotame et déclara :
— J’ai peur de ce furoncle que tu as sur le dos, je ne peux pas me tenir dessus.
L’hippopotame lui répondit :
— Ce n’est pas un furoncle, c’est une bosse qui est faite de graisse. Ce n’est pas un furoncle.
Bouki remonta un peu vers l’arrière du dos de l’hippopotame. Elle se mit à penser :
— Avant qu’on n’arrive là-bas, je vais goûter cette bosse pleine de graisse.
L’hippopotame entendit ces mots et lui demanda :
— Qu’est-ce que tu dis Bouki ?

— 123 —
— Rien, je veux juste te remercier de m’aider ainsi à traverser cette mer, répondit Bouki.
À quelques mètres de la berge, Bouki mordit profondément la bosse puis sauta sur la rive.
— Aïe ! Eh ! s’écria l’hippopotame. Dans l’eau, les poissons mangeront ma plaie et sur la rive aussi,
les mouches en feront de même.
L’hippopotame, malgré ses souffrances, regagna la rive. Des gens qui passaient par là le trouvèrent
étalé sur la berge et crurent qu’il était mort. L’hippopotame leur raconta sa mésaventure. Ils déci-
dèrent de le venger. Ils se mirent à parler à haute voix :
— Il y a un hippopotame mort au bord de la mer. Qu’est-ce qui a bien pu lui arriver ?
— On ne sait pas mais il faut qu’on se mobilise pour aller le dépecer.
— Quand un hippopotame meurt sur la rive, on ne peut pas le dépecer sur place. Il faut verser sur
lui de l’eau, beaucoup d’eau. Comment faire donc ?
— Il faut qu’on retrouve celui qui l’a tué et qu’on l’attache sur l’hippopotame.
Bouki se montra et s’écria :
— C’est moi qui l’ai mordu.
Alors, ils décidèrent d’attacher Bouki et l’hippopotame ensemble. Quand ils commencèrent à
nouer les cordes, l’hippopotame inspira profondément et Bouki dit :
— Il bouge, il bouge !
Les gens lui répondirent :
— Non, non ! C’est comme ça qu’il fait quand on le tue, c’est normal. On peut avoir l’impression
qu’il bouge, mais il n’en est rien.
Ils nouèrent encore la corde qui attachait Bouki.
— Je vous ai bien dit qu’il bouge, répéta Bouki.
Les gens lui répondaient toujours la même chose. Quand ils l’eurent solidement attachée, l’hip-
popotame se leva : yoyët1 et se jeta poxuŋ2 dans la mer. Il resta très longtemps sous l’eau puis émergea :
— Je suis encore avec toi, dit Bouki.
— Très bien, rétorqua l’hippopotame.
Il plongea une deuxième fois pour la même durée sous l’eau. L’hippopotame émergea encore.
— Je suis toujours avec toi, dit Bouki.
Il plongea une troisième fois au fond de l’eau. Bouki mourut cette fois.

— 124 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 125 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE(S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)

analyse :

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE


Synthèse :

— 126 —
analyse :
raconté

SavOIr raCONtEr uN CONtE


Synthèse :
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE(S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)

analyse :

SavOIr lIrE uN CONtE


Synthèse :

Exercice 1 :

— 127 —
Exercice 2 :

analyse :

Synthèse :

SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt-aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE(S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)
Exercice 1 :

analyse :
Exercices 2 :

Exercices 3 :

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE


Synthèse :

— 128 —
Exercice :

analyse :

Synthèse :

SavOIr dÉCOuvrIr la MOralE d’uN CONtE


a hiena bouki e os pássaros
Um dia Bouki, a hiena, quis ir à caça com os pássaros chamados Sënar. Eles perguntaram-lhe:
— Mas como vais fazer? Quando caçamos escondemo-nos na folhagem das palmeiras e tu não
tens penas para voar.
A hiena pediu-lhes que lhe dessem algumas penas, para que conseguisse ir com eles. Eles deram-
-lhas mas disseram:
— Ouve, há rolas que dizem: “Acordem, acordem, acordem!” Todas as manhãs anunciam a hora
de acordar. Acima de tudo não se deve comê-las.
A hiena concordou.
Voaram e poisaram na palmeira. Mas Bouki não resistiu à imensa vontade de comer rolas. À noite
começou a comê-las uma a uma e acabou por as devorar todas. No dia seguinte de manhã não havia
ninguém que os acordasse. Um dos pássaros despertou muito depois do que era normal e acordou os
outros, a gritar.
— Essa que veio connosco comeu as rolas todas. Que vamos fazer a esta hóspede, que não cumpriu
a palavra?
— Tiramos-lhe as penas todas que lhe emprestámos –, responderam os outros.
Puseram mãos à obra e tiraram as penas todas à hiena. Tendo-a assim castigado, os pássaros le-
vantaram voo e deixaram-na sozinha na palmeira. Agora Bouki não conseguia descer da árvore. Um
hipopótamo que vinha do mar passou por ali. Levantou a cabeça e vendo Bouki perguntou-lhe:
— Ei, tu aí!, o que fazes aí em cima?
— Foram os pássaros que me abandonaram aqui –, respondeu Bouki –, tiraram-me as penas to-
das! Como hei-de descer desta maldita palmeira?
O hipopótamo sugeriu-lhe que se deixasse cair e ofereceu-lhe as costas para amortecer a queda.
Bouki não hesitou um segundo, fechou os olhos, tomou balanço e ongayar 1!, atirou-se do cimo da
árvore e aterrou com toda a força em cima do hipopótamo. Rebolaram os dois até ao mar e acabaram
na água. Bouki estava aterrada, pois não sabia nadar.
O hipopótamo ainda lhe disse:
— Não tenhas medo! Toda esta superfície me pertence, a água é o meu reino. Só peço que te vás
para a parte de trás das minhas costas, para que te transporte melhor. Ajeita-te!
Bouki olhou para as costas do hipopótamo e disse:
— Tenho medo deste furúnculo que tens nas costas, não consigo aguentar-me em cima dele.
O hipopótamo respondeu:
— Não é um furúnculo, é uma bossa de gordura, não é um furúnculo.
Bouki chegou-se um bocadinho mais para trás nas costas do hipopótamo e começou a pensar:
— Antes de chegarmos vou provar esta bossa cheia de gordura.
O hipopótamo ouviu isto e perguntou:
— O que é que estás a dizer, Bouki?
— Nada, quero apenas agradecer-te por me ajudares a atravessar este mar –, respondeu Bouki.

— 129 —
A alguns metros da margem Bouki mordeu a bossa com muita força e saltou logo para lá.
— Ai, ó! –, gritou o hipopótamo. – Na água os peixes vão morder-me a ferida e na margem as
moscas vão fazer o mesmo.
Apesar das dores, o hipopótamo chegou à margem. Pessoas que passavam por ali viram-no esten-
dido e pensaram que estava morto. O hipopótamo contou-lhes a sua desdita e elas decidiram vingá-lo.
Começaram a falar em voz alta.
— Há um hipopótamo morto à beira-mar. O que lhe terá acontecido?
— Não se sabe, mas temos de nos organizar para o esquartejar.
— Quando um hipopótamo morre na margem não se pode esquartejá-lo lá, é preciso despejar-lhe
água em cima, muita água. Como havemos de fazer?
— Temos de apanhar quem o matou e amarrá-lo ao hipopótamo.
Bouki apareceu e gritou:
— Fui eu que o mordi.
Decidiram então atar Bouki e o hipopótamo um ao outro. Quando começaram a atar as cordas, o
hipopótamo inspirou profundamente e Bouki disse:
— Ele está a mexer-se, ele está a mexer-se!
As pessoas responderam:
— Não, não, é assim que faz quando o matam, é normal, podemos ter a impressão de que se mexe,
mas não.
E continuaram a amarrar Bouki.
— Bem vos disse que ele estava a mexer-se –, disse Bouki.
Mas as pessoas respondiam-lhe sempre a mesma coisa.
Quando acabaram de os atar, hop, o hipopótamo levantou-se, yoyët 1!, e atirou-se, boxuŋ 2! Ficou
debaixo de água durante muito tempo e depois emergiu.
— Olha que ainda estou contigo –, disse Bouki.
— Muito bem –, disse o hipopótamo. E mergulhou outra vez, ficando debaixo de água o mesmo
tempo.
Depois voltou à superfície.
— Ainda estou contigo –, disse Bouki.
Ele mergulhou pela terceira vez, bem até ao fundo. Desta vez Bouki morreu.

— 130 —
actividades
NívEl

COMPEtENCIa 1

— 131 —
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO
A O conto

Fotos

contador

análise:

SaBEr ESCutar uM CONtO


Síntese:

— 132 —
O conto
A

-
do conto
Fotos

análise: análise:

conto

SaBEr Narrar uM CONtO


Síntese: Síntese:
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO
A O conto

Fotos
análise:

SaBEr lEr uM CONtO


Síntese:

A O conto Exercício1:

— 133 —
Fotos
Exercício 2:

análise:

Síntese:

SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO


aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
avalIaçãO daS dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS

CaPaCIdadES
aPrENdIzagENS aCOlhIMENtO
A O conto Exercício 1:

Fotos
análise:

Exercício 2:

Exercício 3:

SaBEr rEPrESENtar uM CONtO


Síntese:

— 134 —
A O conto Exercício:

conto

Fotos

análise:

Síntese:

SaBEr dESCOBrIr a MOral dE uM CONtO


6.

Conte pulaar Conto fula


Conteuse Contadora

— 137 —
sambayel gujjo
tanum pennowo

— 138 —
— 139 —
Il était une fois un homme qui, toute sa vie durant, n’avait fait que voler les biens des autres. Un jour,
sur son lit de mort, il appela sa femme qui portait leur enfant dans son ventre. Il lui fit part de son sou-
hait de voir son fils en gestation suivre sa voie, et devenir à la fois menteur et voleur.
Sambayel naquit. Quelques années plus tard, dans leurs moments de jeux avec ses amis, chacun
évoquait les exploits accomplis par son propre père dans l’exercice de son métier. Et quand Sambayel
voulait se mêler à la conversation pour parler à son tour de son père, on lui disait :
— Tais-toi ! Ton père n’était qu’un voleur et un très grand menteur.
Il se taisait, vexé. Un jour, rongé par la honte, il dit à sa mère :
— Mère, quel métier exerçait mon père ? Mes amis me répètent tout le temps qu’il était voleur et
menteur.
Sa mère lui répondit :
— Mon fils, ce n’est pas la peine de chercher à savoir ce que faisait ton père dans la vie.
Sambayel insista et dit à sa mère :
— Même si mon père était un petit vendeur de sandales, je dois en être informé.
C’est ainsi que sa mère lui dit toute la vérité et lui révéla que son père était un voleur et un grand
menteur.
Le lendemain, Sambayel se leva tôt et partit jouer avec ses amis à la sortie du village. Ils virent trois
pigeons, l’un tourné vers l’est, l’autre vers l’ouest et le troisième pigeon se tenant entre les deux autres.
Sambayel rampa sans faire de bruit et vola le pigeon qui était au milieu sans que les deux autres ne s’en
rendissent compte.
De retour à la maison, il dit à sa mère :
— J’ai commencé à suivre la voie de mon père.
Un autre jour, il se leva avec l’intention de voler la pintade du roi que personne n’osait toucher. Il
l’attrapa, la tua et fit sept vases de sa graisse qu’il planqua dans les toilettes. Personne ne pût s’aper-
cevoir tout de suite de son forfait. Le roi finit par remarquer la disparition de sa pintade et la chercha
partout. En vain. On fit alors battre le tambour pour demander au peuple de dire s’il savait où était la
pintade. Tout le monde dit qu’il ne l’avait pas vue.
Le roi avait une fille qui s’appelait Farmata. Elle convoqua à son tour tous les jeunes du village pour
s’enquérir du métier qu’exerçait chacun d’entre eux. Ils vinrent un à un et lui dirent ce qu’ils faisaient
dans la vie. Elle leur répondit :
— Je vous ai tous écoutés, mais je n’ai pas encore entendu la réponse que je cherche.
Arriva le tour de Sambayel. Il dit à la fille du roi :
— C’est moi qui ai volé la pintade de votre père.
Farmata lui dit :
— Fournis-en la preuve pour que je puisse la donner à mon père.
— Il faudra que vous me rasiez une partie de la tête et ceci sera la preuve. Demain vous montrerez
mes cheveux au roi, répondit Sambayel.
Aussitôt dit, aussitôt fait. Elle rasa une partie de la tête du garçon et emporta les cheveux. Sambayel
alla, aussitôt après, voir sa mère et lui demanda :
— Mère, est-ce que mon père de toute sa vie de voleur a eu à dérober des lames ?

— 140 —
Sa mère lui répondit :
— Ce n’est pas ce qui manque dans cette maison car ton père en avait beaucoup volé.
Il alla prendre les lames dans la chambre de sa maman. Il lui demanda de lui raser complètement la
tête et d’enduire son crâne de graisse de pintade. Après cela, Sambayel se rendit dans chaque maison
du village pendant la nuit, il rasa une partie de la tête de tous les hommes, les uns après les autres, sans
qu’ils s’en rendissent compte. Même sur la tête du roi endormi, il fit passer sa lame.
Le lendemain, le roi fit convoquer tout le monde mais Sambayel manqua à l’appel. Le roi envoya
quelqu’un quérir Sambayel-fils-de-voleur-et-petit-fils-de-menteur, comme tout le monde l’appelait
dans le village. Ce dernier dit à l’envoyé du roi :
— Je prends juste le temps de me préparer avant de venir répondre à la convocation.
Après un court instant, Sambayel se mit en route, portant un bonnet sur la tête. Dès qu’il franchit
le seuil de la maison royale, Farmata le désigna du doigt et dit à son père :
— Voilà ton voleur.
Sambayel se défendit et demanda :
— Qu’est-ce que j’ai volé ?
Le roi lui dit :
— C’est toi qui as volé ma pintade ?
Sambayel lui demanda :
— De qui tenez-vous cette accusation ?
Farmata sursauta et dit :
— Oserais-tu nier que c’est toi le voleur ? Moi j’en ai la preuve puisque ta tête est chauve à moitié
et c’est moi-même qui t’ai rasé. Voilà la preuve, dit-elle en exhibant les cheveux de Sambayel.
Sambayel ôta son bonnet et dit à l’assemblée :
— Est-ce que vraiment cette tête vous semble avoir eu des cheveux ? Dans cette assemblée, tout le
monde est à moitié rasé, sauf moi.
On se rendit compte que tout le monde, même le roi, avait la tête à moitié rasée. La stupéfaction
fut générale. L’assemblée se dispersa et chacun rentra chez soi.
Une femme du nom de Déwel Diawando1 promit au roi de lui retrouver sa pintade, en prenant le
soin d’ajouter :
— Ce sera sous la condition que tu me donnes en échange un kilo d’or et un kilo d’argent.
Le marché fut rapidement conclu. Le roi lui remit l’or et l’argent. Elle décida alors de se rendre
chez Sambayel dont elle était liée à la mère. Usant de ruse, elle dit à cette dernière :
— Mon petit-fils est tombé malade. On a tout essayé pour le soigner mais tous nos efforts se sont
avérés vains. On m’a dit qu’avec de la graisse de pintade, on pourrait le soigner.
La mère de Sambayel lui dit :
— Si c’est seulement ce qui doit le guérir alors là tu es venue au bon endroit. Sambayel avait volé
une pintade dont on a conservé la graisse dans sept vases pour de pareilles circonstances. Sambayel
n’est pas là, mais viens, je vais t’en donner un peu.
Elle lui en offrit un peu sur une cuillère en bois. En sortant de la maison, Déwel Diawando croisa
Sambayel juste à l’entrée. Il lui dit, après l’avoir attentivement observée :
— Mère Kaari2, qu’est-ce que tu es venue faire chez nous ?
Elle répondit :
— Mon petit-fils est malade et on m’a dit que c’est de la graisse de pintade qui serait le bon remède
pour le soigner et le guérir. C’est pourquoi je suis venue demander à ta mère si elle n’en avait pas gardé

Kaari

— 141 —
un peu.
Sambayel, encore plus futé qu’elle, lui dit :
— Mais, viens ! Je vais t’en donner un peu plus. Vu l’amitié qui te lie à ma mère, je ne te laisserai
pas repartir avec une si petite quantité de graisse. Suis-moi !
Elle suivit Sambayel qui la mena à l’intérieur de la maison. Sitôt arrivés, il la terrassa et l’égorgea
avant de lui souffler à l’oreille :
— Je ne sais pas qui dira au roi que c’est moi qui ai volé sa pintade. Ce dont je suis sûr, c’est que ce
ne sera pas toi !
Le roi attendit des jours et des jours sans recevoir aucune nouvelle de Déwel Diawando ni de sa
pintade. Il prit alors l’initiative de disposer de l’or dans toutes les rues du village. Il plaça des gardes à
tous les coins de rue pour surveiller l’or, pensant ainsi pouvoir mettre la main sur celui qui se baisserait
pour en ramasser. À ce moment Sambayel était en train de dormir. Sa mère vint le réveiller et lui dit :
— Lève-toi mon fils ! ils sont en train de monter un stratagème pour te prendre. Le roi a mis
de l’or à tous les coins du village et quiconque y touchera sera coupable de vol et se fera ainsi exé-
cuter. Car c’est à lui que sera imputée la disparition de la pintade du roi. Je sais que tu ne pourras pas
résister à l’appât du fait de ton sang. Tu en voleras et tu seras tué mon fils.
À ces mots, Sambayel se leva et conçut immédiatement un plan pour voler l’or :
— Mère, est-ce que dans sa vie mon père a une fois eu à voler du kaañeeri1 et des sandales ?
Sa mère lui répondit :
— Ce n’est pas cela qui nous manque, mon fils. Ton père en a beaucoup volé aux gens.
Sambayel alla chercher les sandales et mit sous chaque semelle du kaañeeri. Pour pouvoir voler
l’or, il sillonnait les rues du village et il changeait à chacune de ses sorties de paire de sandales. Et l’or,
à chaque fois qu’il marchait dessus, restait collé sous ses sandales. Il revenait déposer son butin et
repartait avec une autre paire de sandales. Il fit ainsi jusqu’à ce qu’il ne restât plus d’or dans les rues du
village. Cela étonna encore une fois de plus le roi et tout le village. On convoqua de nouveau l’assem-
blée du village. Tout le monde était là, sauf Sambayel.
Farmata reçut Sambayel qui lui avoua que c’était lui qui avait volé l’or de son père et il lui révéla
comment il l’avait fait en se servant de ses sandales. Farmata lui demanda de lui fournir une preuve
de ses allégations. Il enleva de son poignet un bracelet en argent et le lui remit. Mais à la nuit tombée,
Sambayel se rendit au palais, il pénétra dans la chambre du roi et lui subtilisa finement le bracelet qu’il
portait au poignet. Il pénétra dans la chambre de Farmata, remplaça le bracelet qu’il lui avait remis par
celui du roi et rentra chez lui, comme si de rien n’était. Le lendemain, Farmata dit à son père :
— Je sais qui est ton voleur. J’en détiens une preuve sûre et incontestable. Cette fois-ci le coupable
ne pourra pas nier le délit.
Le roi fit venir Sambayel et lui rapporta les propos de sa fille. Sambayel se défendit en exigeant
une preuve. Farmata apporta devant l’assemblée la petite boîte qui contenait le bracelet. On se rendit
compte que c’était le bracelet du roi et non celui de Sambayel. L’hébétude se lisait sur les visages.
Pendant plusieurs jours, le-fils-de-voleur-et-petit-fils-de-menteur multiplia les tours de ce genre.
Une autre fois, Sambayel eut l’idée diabolique d’aller voler le roi en personne. Il vint auprès de sa mère
et le lui dit :
— Mère, est-ce que, pendant toute sa vie de voleur réputé, mon père a pu une fois voler le roi lui-
même ?
Sa mère s’écria :
— Tu viens de signer ton arrêt de mort, mon fils ! Qu’est-ce que tu dis là ?
Il insista :

— 142 —
— Mère, je vais voler le roi cette nuit.
Il se leva tard dans la nuit et alla chez le roi. Il le trouva en train de dormir profondément à côté de
sa femme. Il souleva tout doucement le roi et le porta sur son dos, toujours tout doucement, et il se
dirigea avec son fardeau vers la sortie du village. Arrivé au centre du cimetière, il assit le roi contre le
tronc d’un arbre et le ligota. Il monta ensuite sur l’arbre et sortit un sac rempli de cailloux. Dès qu’il
jeta un premier caillou mëlëp !1, le roi sursauta et s’écria :
— Que se passe-t-il ? Où est-ce que je me trouve ? Qui m’a amené ici ?
Il tremblait de tout son être. Sambayel lui répondit :
— C’est moi, Dieu, qui t’ai amené ici.
Le roi dit :
— Un dieu qui parle !
Sambayel prit une voix d’outre-tombe :
— Oui, et je te tuerai si tu ne te tais pas.
Le roi se tut immédiatement. Sambayel lança encore un caillou rut2 à côté du roi qui tremblait
toujours de peur. Il lui dit :
— Est-ce que tu connais Sambayel ?
Le roi répondit :
— Sambayel-fils-de-voleur-et-petit-fils-de-menteur, oui !
Il lui redonna un coup mëlëp et lui dit :
— Je ne veux plus entendre cette infamie. Que plus jamais dans ce village on n’entende quelqu’un
l’appeler par ce sobriquet ! Une recommandation supplémentaire : tu as une jolie fille, du nom de
Farmata. Donne-la en mariage à Sambayel puis divise en deux ton royaume : tu resteras roi sur une
partie et tu laisseras Sambayel régner sur l’autre. C’est ce que j’ordonne, sinon tu seras bientôt un
homme mort.
Il lui lança encore un autre caillou pour l’effrayer un peu plus. Le roi donna son consentement
à tout ce que lui avait demandé « Le dieu Sambayel » et il fut débarrassé des liens qui le retenaient
attaché à l’arbre.
Le roi rentra chez lui. Le lendemain, il convoqua les gens du village. Tout le monde répondit à
l’appel, sauf Sambayel qui, comme à son habitude, dormait. Le roi demanda où il était et quelqu’un
eut la malchance de répondre :
— Qui ? Sambayel-fils-de-voleur-et-petit-fils-de-menteur ?
Le roi ordonna qu’on l’égorgeât sur le champ car plus personne ne devait désormais appeler ainsi
Sambayel. Quelqu’un alla chercher Sambayel et le trouva en train de dormir. Il lui dit :
— Tu es attendu chez le roi.
— Dis-lui que j’arrive, je vais juste prendre le temps de me préparer, répondit Sambayel.
Quelques instants après, il arriva au palais du roi. Ce dernier l’accueillit comme il ne l’avait jamais
fait auparavant et lui dit :
— C’est moi qui t’ai fait appeler. Je voudrais que tu saches que plus personne ne prononcera le
sobriquet de Sambayel-fils-de-voleur-et-petit-fils-de-menteur.
Il ajouta aussitôt un « Astaghfirulah3 » pour se faire excuser. Il lui dit aussi : « Je vais scinder mon
royaume en deux et une partie te reviendra. Je t’accorde également la main de ma fille Farmata. Elle
sera ton épouse quand tu le voudras ».
C’est ainsi que Sambayel devint le roi d’une partie du royaume. Il épousa la fille du roi et fit oublier
le surnom dont les gens du village l’avaient affublé.

meuleup

— 143 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 144 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE (S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)
Exercice 1 :

Exercice 2 :

analyse :

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE


Synthèse :

— 145 —
Exercice 1 :

du roi

analyse :

raconté

Exercice 2 :

SavOIr raCONtEr uN CONtE


Synthèse :

Exercice 3 :
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE (S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)
Exercice 1 :

Exercice 2 :

SavOIr lIrE uN CONtE


Synthèse :

— 146 —
Exercice 1 :

Exercice 2 :

du Roi
analyse :

Synthèse :

SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

ÉvaluatION dES dISCIPlINE (S)

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES
aPPrENtISSagES d’aCCuEIl POSSIBlE(S)
Exercice 1 :

analyse :

Exercice 2 :

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE


Synthèse :

— 147 —
Exercice 1:

Exercice 2 :

analyse :

Synthèse :

SavOIr dÉCOuvrIr la MOralE d’uN CONtE


sambayel, filho de ladrão
e neto de Mentiroso
Era uma vez um homem que não fazia mais que roubar os bens dos outros. Um dia, no leito de morte,
chamou a mulher, que estava à espera de bebé. Falou-lhe do seu desejo de ver o filho que ia nascer se-
guir o seus passos e tornar-se também mentiroso e ladrão.
Sambayel nasceu.
Alguns anos depois, quando brincava com os amigos, cada um falava dos feitos do próprio pai no
exercício da sua profissão. Quando Sambayel queria meter-se na conversa para também ele falar do
pai, diziam-lhe: “Cala-te, o teu pai não passava de um ladrão e de um grandessíssimo mentiroso.” E ele
calava-se, vexado.
Um dia, atormentado pela vergonha, perguntou à mãe:
— Mãe, qual era o trabalho do pai? Os meus amigos estão sempre a dizer que ele era ladrão e
mentiroso.
A mãe respondeu:
— Filho, não vale a pena saberes o que o pai fazia quando era vivo.
Sambayel insistiu e disse à mãe:
— Mesmo que o pai tenha sido um pequeno vendedor de sandálias devo saber.
Foi assim que a mãe lhe contou toda a verdade e que o pai tinha sido um ladrão e um grande men-
tiroso.
No dia seguinte Sambayel levantou-se cedo e foi brincar com os amigos para a saída da aldeia.
Viram três pombos, um virado para leste, outro para oeste e o terceiro no meio de ambos. Sambayel
rastejou sem fazer barulho e apanhou o pombo que estava no meio, sem que os outros dois dessem por
isso.
Quando chegou a casa disse à mãe:
— Comecei a seguir as pisadas do pai.
Noutro dia levantou-se com a intenção de roubar a galinha-do-mato do rei, em que ninguém se
atrevia a tocar. Apanhou-a, matou-a e encheu sete vasos com a enxúndia dela, que escondeu na casa de
banho. Na altura ninguém se apercebeu do que ele fez. O rei acabou por notar que a galinha-do-mato
tinha desaparecido e procurou-a em todo o lado, em vão. Tocaram-se então os tambores, para pedir
às pessoas que dissessem se sabiam onde estava a galinha-do-mato. Toda a gente disse que não a tinha
visto.
O rei tinha uma filha que se chamava Farmata. Esta convocou todos os rapazes da aldeia para saber
qual era a profissão de cada um. Os jovens vieram um a um e disseram-lhe o que faziam na vida. Ela
disse:
— Ouvi-vos todos, mas ainda não tive a resposta que procuro.
Chegou a vez de Sambayel, que disse à filha do rei:
— Fui eu que roubei a galinha-do-mato do vosso pai.
Farmata disse:
— Dá-me uma prova disso, para que a mostre ao meu pai.

— 148 —
— Tendes de me rapar uma parte da cabeça, e isso será a prova. Amanhã mostrai o cabelo ao rei –,
respondeu Sambayel.
Dito e feito. Farmata rapou um parte da cabeça do rapaz e levou o cabelo. Sambayel foi logo ter
com a mãe e perguntou-lhe:
— Mãe, terá o pai, ao longo da sua vida de ladrão, roubado lâminas?
A mãe disse:
— Não falta disso cá em casa, o teu pai roubou muitas.
Ele foi buscar as lâminas ao quarto da mãe e pediu-lhe que lhe rapasse a cabeça toda e a untasse
com a enxúndia da galinha-do-mato. Depois disto, durante a noite, Sambayel entrou em cada uma das
casas da aldeia e rapou parte da cabeça de todos os homens, sem que eles se apercebessem. Até mesmo
a cabeça do rei, que dormia, foi rapada.
No dia seguinte o rei mandou chamar toda a gente, mas Sambayel não apareceu. O rei mandou
alguém saber de Sambayel, Filho de Ladrão e Neto de Mentiroso, como todos lhe chamavam na aldeia.
Este disse ao enviado do rei:
— É só o tempo de me preparar para responder à chamada.
Passado um instante Sambayel pôs-se a caminho, levando um boné na cabeça. Mal entrou na casa
real, Farmata apontou-o e disse ao pai.
— Eis o teu ladrão.
Sambayel defendeu-se e perguntou:
— O que foi que eu roubei?
O rei perguntou-lhe:
— Foste tu que roubaste a minha galinha-do-mato?
Sambayel retorquiu:
— Onde fostes buscar essa acusação?
Farmata sobressaltou-se e disse:
— Atreves-te a negar que és o ladrão? Tenho a prova disso, a tua cabeça está meio rapada e fui eu
que a rapei. Eis a prova –, disse ela, exibindo o cabelo de Sambayel.
Sambayel tirou o boné e voltando-se para as pessoas, disse:
— Na verdade parece-vos que esta cabeça tenha tido cabelo? Aqui todos os homens estão meio
rapados, excepto eu.
Todos se deram conta de que tinham a cabeça meio rapada, mesmo o rei. O espanto foi geral. As
pessoas foram-se embora, cada uma foi para sua casa.
Uma mulher chamada Déwel Diawando1 prometeu ao rei que havia de encontrar a galinha-do-
-mato, acrescentado, no entanto:
— Será com a condição de me dardes em troca um quilo de ouro e um quilo de prata.
O contrato foi rapidamente selado e o rei entregou-lhe o ouro e a prata. Ela decidiu então ir a casa
de Sambayel, com cuja mãe tinha laços. Ardilosamente disse-lhe:
— O meu neto está doente. Tentámos tudo para o curar, mas em vão. Disseram-me que podíamos
curá-lo com enxúndia de galinha-do-mato.
A mãe de Sambayel disse-lhe:
— Se só isso pode curá-lo então vieste ao lugar certo. O Sambayel roubou uma galinha-do-mato e
guardámos a enxúndia em sete vasos, para circunstâncias como esta. Ele não está cá, mas vem comigo,
vou dar-te um bocado.
Ela deu-lhe um bocado numa colher de pau. Quando estava a sair de casa, precisamente na entrada,

— 149 —
Déwel Diawando cruzou-se com Sambayel, que lhe disse, depois de a observar atentamente:
— Mãe Kaari1, que vieste fazer a nossa casa?
Ela respondeu:
— O meu neto está doente e disseram-me que a enxúndia de galinha-do-mato é o remédio indica-
do para o tratar e curar, por isso vim perguntar à tua mãe se ela tinha alguma guardada.
Sambayel, ainda mais finório que ela, disse-lhe:
— Vem daí, vou dar-te mais um bocado. Tendo em conta a amizade que te liga à minha mãe não
vou deixar-te ir com tão pouca enxúndia. Vem comigo.
Ela seguiu Sambayel, que a levou para dentro de casa. Logo que chegaram ele atirou-a ao chão,
degolou-a e sussurrou-lhe ao ouvido:
— Não sei quem irá dizer ao rei que fui eu que roubei a galinha-do-mato dele, do que tenho a
certeza é que não serás tu!
O rei esperou dias e dias, sem receber notícias de Déwel Diawando nem da galinha-do-mato. Então
decidiu espalhar ouro pelas ruas da aldeia. Pôs guardas em todos as esquinas para guardarem o ouro,
pensando que assim havia de deitar a mão a quem se baixasse para o apanhar. Na altura Sambayel estava
a dormir. A mãe veio acordá-lo e disse:
— Levanta-te, filho, estão a montar uma armadilha para te apanhar. O rei espalhou ouro por todos
os cantos da aldeia e quem lhe tocar vai ser acusado de roubo e executado, pois ser-lhe-á imputado o
desaparecimento da galinha-do-mato do rei. Sei que não vais conseguir resistir à tentação, por causa
do teu sangue, vais roubá-lo e vais ser morto, filho.
Atendendo a estas palavras, Sambayel levantou-se e concebeu logo um plano para roubar o ouro:
— Mãe, o pai alguma vez na vida roubou kaañeeri2 e sandálias?
A mãe respondeu:
— Nada disso nos falta, meu filho, o pai fartou-se de roubar dessas coisas às pessoas.
Sambayel foi buscar as sandálias e em cada sola pôs kaañeeri. Para roubar o ouro calcorreava as ruas
da aldeia, mudando de sandálias de cada vez que saía. Quando andava por cima do ouro este ficava
colado às solas das sandálias, depois Sambayel regressava a casa, para deixar o espólio, e voltava a sair,
calçado com outro par de sandália, e assim fez até não haver mais ouro nas ruas da aldeia.
A assembleia da aldeia foi de novo convocada. Todos estavam presentes, menos Sambayel.
Farmata recebeu Sambayel, que lhe confessou ter sido ele que roubara o ouro do pai dela e lhe con-
tou como se tinha servido das sandálias para o fazer. Farmata pediu-lhe que apresentasse uma prova
das suas alegações. Ele tirou do pulso uma pulseira de prata e deu-lha.
Mas quando a noite caiu Sambayel foi ao palácio, entrou no quarto do rei e roubou delicadamente
a pulseira que ele tinha no pulso, depois foi ao quarto de Farmata e substituiu a pulseira que lhe tinha
dado pela do rei, voltando em seguida para casa como se nada fosse.
No dia seguinte Farmata disse ao pai:
— Sei quem é o teu ladrão, tenho comigo uma prova segura e incontestável. Desta vez o culpado
não conseguirá negar o crime.
O rei mandou vir Sambayel e transmitiu-lhe o que a filha lhe tinha dito. Sambayel defendeu-se
exigindo uma prova. Farmata trouxe perante a assembleia a caixinha em que tinha a pulseira. As pes-
soas, que perceberam que se tratava da pulseira do rei e não da de Sambayel, tinham a incredulidade
estampada no rosto.
Durante vários dias o Filho de Ladrão e Neto de Mentiroso desfez-se em golpes deste género e a
certa altura teve a ideia diabólica de roubar o próprio rei. Foi ter com a mãe e perguntou-lhe:

— 150 —
— Mãe, durante a sua vida de ladrão reputado alguma vez o pai conseguiu roubar o próprio rei?
A mãe gritou:
— Acabas de assinar a tua sentença de morte, filho! Que estás para aí a dizer?
Ele insistiu:
— Mãe, vou roubar o rei esta noite.
Tarde na noite levantou-se e entrou em casa do rei. Encontrou-o a dormir profundamente, ao
lado da mulher. Levantou-o com muito cuidado e carregou-o às costas. Sempre com muito cuidado,
dirigiu-se para a saída da aldeia com o seu fardo. Quando chegou ao centro do cemitério sentou o rei
contra um tronco de árvore e amarrou-o, depois subiu para a árvore e pegou num saco cheio de pedras.
Quando atirou a primeira pedra, mëlëp1, o rei sobressaltou-se e gritou:
— Que se passa? Onde estou eu? Quem me trouxe para aqui?
O rei tremia como varas verdes. Sambayel respondeu:
— Fui eu, Deus, que te trouxe para cá.
O rei disse:
— Um deus que fala!
Sambayel fez uma voz de além-túmulo:
— Sim, e mato-te se não te calares.
O rei calou-se imediatamente. Sambayel atirou outra pedra, rut!, que caiu ao lado do rei. Este con-
tinuava a tremer de medo. Sambayel disse-lhe:
— Conheces o Sambayel?
O rei respondeu:
— O Sambayel, Filho de Ladrão e Neto de Mentiroso? Sim!
Ele voltou a atirar-lhe uma pedra, rut!, e disse:
— Não quero voltar a ouvir essa infâmia. Que nunca mais nesta aldeia se oiça alguém chamá-lo
por essa alcunha. Mais uma recomendação, tens uma filha bonita, que se chama Farmata, dá-a em
casamento ao Sambayel, depois divide em dois o teu reino, tu continuarás rei numa parte e deixarás
Sambayel reinar na outra. É uma ordem, se não lhe obedeceres és um homem morto.
Atirou mais uma pedra, para o assustar ainda mais. O rei concordou com tudo o que o deus
Sambayel lhe pediu e foi desamarrado da árvore.
O rei voltou para casa.
No dia seguinte convocou os aldeões. Todos responderam à chamada excepto Sambayel, que como
de costume dormia. O rei perguntou por ele, mas alguém teve a infelicidade de responder:
— Quem? O Sambayel, Filho de Ladrão e Neto de Mentiroso?
O rei mandou degolá-lo imediatamente, porque já ninguém podia chamar Sabayel assim.
Alguém foi buscar Sambayel e encontrou-o a dormir. Disse-lhe:
— Estão à tua espera em casa do rei.
— Diz que vou já, é só o tempo de me preparar.
Instantes depois chegou ao palácio do rei. Este recebeu-o como nunca antes e disse-lhe:
— Fui eu que mandei chamar-te. Quero que saibas que mais ninguém proferirá a alcunha Filho de
Ladrão e Neto de Mentiroso, e acrescentou logo “Astaghfirulah2”, para se fazer perdoar. Depois disse:
— Vou dividir o meu reino em dois e uma parte é para ti. Dou-te a mão minha filha Farmata. Ela
será tua mulher quando quiseres.
Foi assim que Sambayel se tornou rei de uma parte do reino, casou com a filha do rei e fez esquecer
a alcunha com que os aldeões o tinham ridicularizado.

— 151 —
actividades
NívEl

COMPEtENCIa1

— 152 —
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
aCOlhIMENtO
O conto Exercício 1:

Fotos

Exercício 2:

contador

análise:

SaBEr ESCutar uM CONtO


Síntese:

— 153 —
O conto Exercício 1:

conto ouvido,
Fotos
análise:

Síntese:
Exercício 2:

SaBEr Narrar uM CONtO


Exercício 3:
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
aCOlhIMENtO
O conto Exercício 1:

Exercício 2:
Fotos

do conto análise:

SaBEr lEr uM CONtO


Síntese:

— 154 —
O conto Exercício1:

do conto Fotos Exercício 2:

análise:

Síntese:

SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO


aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
dISCIPlINa (S) dE
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
aCOlhIMENtO
O conto Exercício 1: Educação

Fotos análise: Exercício 2:

SaBEr rEPrESENtar uM CONtO


Síntese:

— 155 —
O conto Exercício 1:

vo do conto

Exercício 2:
Fotos
análise:

Síntese:

SaBEr dESCOBrIr a MOral dE uM CONtO


7.

Conte serere Conto serere Enseignement moyen Ensino médio


Conteur Contador

— 157 —
— 158 —
Il était une fois une jeune fille qui souhaitait avoir un époux avec qui elle s’entendrait à merveille. Elle
ne voulait pas convoler avec un cousin germain ou un parent comme les autres filles de son âge. Elle
renvoyait tous ceux qui se présentaient à elle. Un jour, un prétendant arriva, au trot de son beau cheval,
dans ce village.
La fille le fit entrer dans la concession où elle vivait avec ses parents. Elle appela quelqu’un de la
maisonnée et lui dit : « Buguma1 ! Viens attacher le cheval de cet hôte ! ». L’étranger lui répondit : « Je
suis accompagné par Xajaanum2 ». Et il voulut repartir, mais la fille lui dit : « Non, tu ne peux t’en aller
ainsi. J’ai l’impression que c’est toi que j’attendais ».
Ils discutèrent un moment et elle le supplia de revenir un autre jour pour demander sa main. Il
revint à la date indiquée, mais son beau-père était ce jour-là aux champs. La jeune fille lui dit : « Je vais
t’expliquer le chemin qui mène à mon père, et si tu arrives à le retrouver tu m’épouseras ».
Elle lui indiqua le chemin de façon énigmatique. « Passe sous le lait caillé du haut3, va là où les esprits
se rencontrent4, passe par ce qui rend un étranger perplexe5, traverse l’espoir de l’année prochaine6, entre
dans la dernière demeure7. Et lorsque tu seras sorti de la dernière demeure, tu verras mon père ».
Le prétendant se mit en route et passa sous le baobab qui est le lait caillé du haut. Il passa devant le
puits, là où les esprits se rencontrent. Il passa par le carrefour qui est ce qui rend un étranger perplexe. Il
traversa le champ qui contient du fumier, qui est l’espoir de l’année prochaine. Il passa par le cimetière
c’est-à-dire la dernière demeure, et là, il vit le père de la jeune fille.
Dès son retour au village, ils furent déclarés mari et femme. Le mari était un commerçant qui avait
coutume de parcourir les contrées en caravane et en compagnie des Maures. Un jour, ces derniers se sai-
sirent de lui et le plongèrent dans un puits. Ils jetèrent sur lui des pierres jusqu’à ce que le commerçant
infortuné se trouvât entre la vie et la mort. Au moment où ils allaient reprendre leur chemin, le com-
merçant eut la force de les héler. Il leur dit : « Sans l’aide de Dieu, je vais mourir fatalement. Il ne me
reste qu’à vous demander, si vous atteignez mon village, de dire à ma femme ceci : qu’elle choisisse deux
moutons rouges et qu’elle en fasse un sacrifice à mon intention. Dites-lui aussi qu’elle laisse le mouton
noir en vie. Il sera l’étalon et le géniteur de mon futur troupeau ».
Les Maures étaient au nombre de trois : deux Maures blancs et un Maure noir. Les dernières volon-
tés du mari ne signifiaient rien d’autre que la mort de deux d’entre eux comme nous allons le voir. Ils lui
dirent simplement que le commerçant avait été retenu dans la brousse et ils ne manquèrent pas de lui
rapporter ses recommandations. Elle les pria de partager le repas qu’elle était en train de préparer et les
invita à s’installer sur une grande natte qu’elle déroula dans la cour.
Elle sortit de la maison à leur insu et alla aviser le village de la visite de ces Maures qui, elle en était
sûre, avaient attenté à la vie de son mari. En effet, elle avait su décoder le message que son mari lui avait
fait passer : il lui demandait en fait de tuer les deux Maures blancs et de torturer le Maure noir pour qu’il
passe aux aveux. Ce qui fut fait. Le Maure noir les conduisit au puits où était enfermé le commerçant.
C’est ainsi qu’il fut sauvé d’une mort qui semblait inéluctable s’il n’avait pas eu, comme dans les
ménages qui vivent en harmonie, cette belle complicité avec son épouse.

— 159 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 160 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

réduction

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE

— 161 —
Niveau 2, lecture attentive du texte :

SavOIr lIrE uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr raCONtEr (dIrE) uN CONtE

— 162 —
SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE
nonciation

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr dÉCrIrE uN CONtE

— 163 —
1.
2.

3.

4.
5.

6.

SavOIr ÉCrIrE uN CONtE


7.
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr dONNEr uN avIS Sur uN CONtE/dÉgagEr la MOralE d’uN CONtE

— 164 —
SavOIr COMParEr dES CONtES
autres activités
1. Fiche récapitulative d’aide à l’écriture d’un conte

1. Choisir le titre et le héros

2. Élaborer le schéma actanciel

3. Construire le schéma narratif

5. Gérer les temps verbaux

4. Choisir et enrichir son vocabulaire

6. Respecter les normes de production

— 165 —
7. Exploiter une grille de critères de réussite

CIBlES autO-ÉvaluatION
Oui Non Oui Non

2. Questionnaire

1. Les personnages 3. La situation de communication


1. 1.

2. 2.

3.

3. 4.

5.

4. 6.

5. 7.

6.

7. 8.

8.

4. Compréhension globale
2. La structure du conte 1.

1. 2.

2. 3.

3.

4.

4.

5. 5.

— 166 —
3. Prolongements

1. En langue 2. En écriture
1.

2. 3. Dramatisation

sketch

— 167 —
a jovem que estava à
espera de marido
Era uma vez uma jovem que queria ter um marido com que se entendesse maravilhosamente. Não
queria casar com um primo direito ou com outro parente, como as outras raparigas da idade dela, e
mandava embora todos os que vinham apresentar-se. Um dia um pretendente chegou à aldeia monta-
do num belo cavalo.
A rapariga mandou-o entrar na morança1 em que vivia com os pais. Chamou alguém de casa e disse:
— Buguma2, vai prender o cavalo deste hóspede.
O forasteiro respondeu:
— Vim acompanhado por Xajaanum3.
Fez menção de partir, mas a rapariga disse:
— Não, não podes ir-te embora assim, tenho a impressão de que era por ti que eu esperava.
Conversaram um bocadinho e a rapariga pediu-lhe que voltasse noutro dia, para pedir a mão dela. Ele
veio na data indicada mas o pai da jovem estava a trabalhar no campo. Ela disse:
— Vou explicar-te o caminho que leva ao meu pai, se conseguires encontrá-lo casas-te comigo.
Ela indicou-lhe o caminho de maneira enigmática.
— Passa por baixo do leite coalhado de cima4, vai aonde os espíritos se encontram5, passa por aquilo
que deixa perplexo um estranho6, atravessa a esperança do próximo ano7 e entra na última morada8, quan-
do de lá saíres hás-de ver o meu pai.
O pretendente pôs-se a caminho e passou por baixo do embondeiro, que é o leite coalhado de cima,
passou diante do poço, que é onde os espíritos se encontram, passou pelo cruzamento, que é o que
deixa perplexo um estranho, atravessou um campo estrumado, que é a esperança do próximo ano, e
passou pelo cemitério, isto é, a última morada, e lá viu o pai da rapariga.
Quando regressou à aldeia foram declarados marido e mulher.
O marido era um comerciante que costumava viajar em caravanas com mouros. Um dia estes agarra-
ram-no, mergulharam-no num poço e atiraram-lhe pedras até que o infeliz comerciante ficou entre

— 168 —
a vida e a morte. Quando iam pôr-se de novo a caminho o comerciante teve forças para os chamar e
dizer-lhes:
— Sem a ajuda de Deus é inevitável que morra. Resta-me pedir-vos que se forem à minha aldeia
digam isto à minha mulher: que escolha duas ovelhas vermelhas e as sacrifique em minha intenção.
Digam-lhe também que deixe a ovelha preta viva, ela será a reprodutora e a geradora do meu futuro
rebanho.
Eram três mouros, dois mouros brancos e um mouro negro. O último desejo do marido nada mais
significava do que a morte de dois deles, como vamos ver. Os mouros disseram simplesmente à mulher
que o comerciante tinha ficado retido no mato e transmitiram-lhe as suas recomendações. Ela pediu-
-lhes que partilhassem a refeição que estava a preparar e convidou-os a instalar-se numa grande esteira,
que estendeu no pátio.
Saiu de casa sem que eles percebessem e foi informar a aldeia da visita destes mouros, que, tinha a
certeza, tinham atentado contra a vida do marido. A verdade é que ela tinha decifrado a mensagem
que o marido lhe fizera chegar. Ele pedia-lhe que matasse os dois mouros brancos e torturasse o mouro
negro, para o obrigar a falar, o que foi feito. O mouro negro levou-os ao poço em que o comerciante
estava preso. Foi assim que este foi salvo de uma morte que pareceria inevitável se não tivesse, como
têm os casais que vivem em harmonia, cumplicidade com a mulher.

— 169 —
actividades
NívEl

COMPêtENCIa 1

— 170 —
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
SaBEr ESCutar uM CONtO

— 171 —
conto

Nível 2, leitura atenta do texto:

SaBEr lEr uM CONtO


do conto
aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
indicados

SaBEr Narrar uM CONtO

— 172 —
conto

SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO


conto

conto

SaBEr rEPrESENtar uM CONtO


aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
conto

SaBEr dESCrEvEr uM CONtO

— 173 —
1.
2.

conto
3.
4.
5.
6.

7.

SaBEr ESCrEvEr uM CONtO


aCtIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
CONtEúdOS SuPOrtES aCtIvIdadES aluNOS avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES

— 174 —
SaBEr dar uMa OPINIãO SOBrE uM CONtO/ExtraIr a MOral dE uM CONtO
do conto

a acção

SaBEr COMParar CONtOS


outras actividades
4. Ficha recapitulativa de ajuda para a escrita de um conto

1. Escolher o título e o herói

2. Elaborar o esquema actancial

3. Construir o esquema narrativo

5. Gerir os tempos verbais

4. Escolher e enriquecer o vocabulário 6. Respeitar as normas de produção

— 175 —
7. Utilizar uma grelha de critérios de sucesso

alvOS autO-avalIaçãO
Sim Não Sim Não Observações

5. Questionário

1. Personagens 3. Situação de comunicação


1. 1.

2. 2.

3.

3. 4.

4. 5.

5. 6.

6. 7.

8.

7.

8.

4. Compreensão global
1.

2. Estrutura do conto
1. 2.

2. 3.

3.

4.

4.

5. 5.

— 176 —
6. Prolongamentos

1. Em língua 2. Em escrita:
1.

3. Dramatização
2.

— 177 —
8.

bandial)

— 179 —
a samba


— 180 —

— 181 —

— en tout cas

— 182 —


sabar

— 183 —


— 184 —


— 185 —

— 186 —

— 187 —
a samba
Quand Samba perdit son père et sa mère, c’est sa co-épouse qui reçut la charge de l’éduquer.
Un jour, alors qu’ils s’apprêtaient à manger, elle voulut appeler son propre fils par son nom. Mais
Samba et son demi-frère se ressemblaient comme deux gouttes d’eau et portaient le même prénom.
Elle n’arrivait pas à savoir lequel des deux était son enfant. Elle appela :
— A Samba !
Ils répondirent en chœur
— A Samba !
Elle dit, s’adressant à celui qu’il prenait pour son fils et qui l’était en réalité :
— Je t’appelle A Samba et tu me réponds A Samba, qui es-tu ?
Il lui répondit :
— Mère, tu veux me créer des problèmes. C’est moi que tu as mis au monde.
— Alors viens t’asseoir ici par terre. Si c’est moi qui t’ai mis au monde, l’autre ne touchera pas à ce
repas, dit-elle en désignant l’autre Samba. Il va manger avec les porcs.
Alors, lorsqu’elle servit à manger à l’autre Samba au milieu des porcs, son propre fils lui dit :
— Pas question que je prenne mon repas ici alors que mon frère est avec les porcs. Nous mange-
rons ensemble.
— Et pourquoi ? lui demanda sa mère.
— Parce que j’ai décidé que moi, je ne vais pas manger ici, tout seul.
Alors la femme alla chercher un bracelet qu’elle mit au poignet de son fils afin de le distinguer de
l’autre Samba. Lorsqu’ils sortirent pour jouer, Samba prit le bracelet, le brisa et en fabriqua deux, l’un
qu’il mit au poignet de son frère et un autre qu’il porta lui-même. Et il dit à son frère :
— Si Mère dit « A Samba », répondons tous les deux en même temps. Il ne faut pas qu’un seul
réponde. Nous répondrons tous les deux. Si elle regarde ma main, elle y trouvera le bracelet. Si elle
regarde la tienne, elle y trouvera le même bracelet.
Un jour, alors qu’ils rentraient du pâturage, la maman appela :
— A Samba !
Les enfants répondirent en chœur :
— Oui !
Elle prit la main de l’un et y trouva le bracelet. Elle prit la main de l’autre et y trouva le bracelet. Elle
resta sans voix. Elle leur servit du riz. Ils mangèrent tout.
Les enfants vécurent ainsi jusqu’à l’âge adulte. Samba, l’orphelin, finit par se convaincre qu’il fal-
lait qu’il aille s’installer là où le porteraient ses pas pour laisser Samba, son frère, vivre en paix avec sa
mère. Il alla acheter du lait, en remplit une bouteille qu’il ferma avant de la suspendre à sa porte. Puis,
il appela son frère.
— A Samba !
Il lui répondit :
— A Samba !
Il lui dit :
— Nous sommes devenus des adultes. Je vais prendre le vélo que nous conduisions pour aller gar-

— 188 —
der le troupeau. Je m’en irai là où me porteront mes pas.
Son frère lui dit :
— A Samba. Je te suivrai partout où tu iras.
Il lui dit :
— Non, reste et occupe-toi de ta mère.
Il ne voulut rien entendre. Alors, Samba prit le vélo et arriva dans un village où il était difficile de
se procurer de l’eau. En effet, les villageois devaient sacrifier un être humain à un boa avant de pouvoir
accéder au puits qui se trouvait à la mare.
À son arrivée, Samba demanda aux villageois de lui donner à boire. Sa gorge était sèche.
Ils répondirent :
— Il y a bien un lieu où nous pouvons aller chercher de l’eau mais il y a un monstre qui y habite.
Nous devons faire sacrifice d’une personne pour avoir droit à l’eau.
Stupéfait, il répondit :
— Ah bon ? Montrez-moi l’endroit en question.
Ils lui répondirent :
— Tu te feras avaler.
Il insista et on le conduisit à l’endroit tant redouté. Arrivé à la mare, il se pencha et puisa de l’eau :
kiribÿ.
La chose demanda :
— Qui est-ce ?
Il répondit :
— Un étranger.
Elle lui dit :
— Tu puises de l’eau pour quoi faire ?
Il répondit :
— Je puise de l’eau pour en boire.
Le monstre reprit :
— Tes hôtes ne t’ont-ils pas dit qu’aujourd’hui ils n’ont pas le droit de toucher à cette eau ? C’est
demain le jour où il leur est donné l’autorisation d’accéder à cette eau !
Il lui rétorqua :
— Toi, tu crois que moi l’étranger, je viens jusqu’ici pour mourir de soif ? Pourquoi ne devrais-je
pas boire ?
Sur ces mots, Il puisa de l’eau et s’aspergea tout le corps. Il puisa encore : kiribÿ. La chose lui dit :
— C’est qui ?
Il lui répondit :
— C’est moi toujours.
Elle lui demanda :
— Tu puises de l’eau pour quoi faire ?
Il lui répondit :
— Pour me laver.
Elle lui dit :
— Pour te laver ? On ne t’a pas dit qu’on ne touche pas comme ça à mon eau ?
Et Samba se mit encore à prendre de l’eau : kiirbiÿ.
Elle demanda :
— Qui est-ce ?

— 189 —
Il lui répondit :
— C’est moi.
Elle lui demanda :
— Tu puises de l’eau pour quoi faire ?
Il lui répondit :
— Pour en donner à mon chien.
— Non, non, toi, si je te laisse faire, tu vas me finir mon eau !
Samba continua à prendre de l’eau et la chose lui demanda :
— C’est qui ?
Il lui dit :
— Je t’ai dit que c’est moi.
— Tu puises de l’eau pour quoi faire ?
— Je puise pour la déverser par terre, il y a trop d’eau.
Le monstre lui dit :
— Tu t’es donc préparé pour me chercher noise. Attends que j’arrive.
A Samba avait des cartouches et lorsque la chose se montra, il tira sur elle. Elle tomba mais il tira
encore. Elle s’immobilisa et lui dit :
— C’est donc toi qu’ils ont envoyé ?
Il lui répondit :
— Si toi, tu manges des personnes, eh bien, aujourd’hui, c’est moi qui vais te manger.
Il tua le boa, lui coupa la queue qu’il mit dans son sac. Il alla puiser de l’eau avec un seau. Et il s’en
alla trouver la fille qui devait être sacrifiée. Il la trouva en train de pleurer à chaudes larmes. Il la consola
et lui dit :
— Prends de cette eau et bois-en.
Elle dit :
— Je ne peux pas en boire, je ne vais pas en boire.
Il lui dit :
— Comment se fait-il que tu ne veuilles pas en boire ?
Elle lui dit :
— Aujourd’hui, dans le village, c’est ma famille qui doit donner une fille en offrande au boa. Et
c’est moi qui vais être livrée en sacrifice pour qu’ils puissent avoir de l’eau.
Pendant ce temps, tout le village se préparait pour faire le sacrifice et donner la jeune fille en of-
frande afin de pouvoir ensuite puiser de l’eau. Les tam-tams résonnaient. Arrivée à la mare, on intima
à la jeune fille l’ordre d’entrer dedans. Elle descendit jusqu’au niveau où le boa se tenait d’habitude ;
l’animal ne réagit pas.
On lui dit :
— Descends encore.
Elle leur répondit :
— Je suis en train de le toucher, mais je ne pense pas qu’il soit en vie. L’eau est devenue toute rouge.
Il est mort.
Elle le ligota. Les villageois le sortirent des eaux et tous laissèrent éclater leur joie par des chants et
des danses. Leur chef demanda :
— Qui de vous a accueilli un étranger chez lui ?
Chacun déclarait qu’il avait un hôte chez lui.
Le chef leur dit :

— 190 —
— Si quelqu’un se présente avec la queue de cet animal, nous saurons comment le récompenser.
Pendant ce temps, le garçon s’était rendu dans la forêt. Il avait longuement cheminé dans la forêt et
y avait rencontré un autre être maléfique qui prenait les personnes en otage. L’esprit lui dit :
— C’est qui ?
Il lui répondit :
— C’est moi.
— Toi qui ?
Il lui répondit :
— Moi, Samba.
Il poursuivit :
— Tes hôtes ne t’ont pas dit que cet endroit est inaccessible ? Ici, personne ne passe.
Le garçon lui dit :
— Moi, je passerai.
Il s’obstina à vouloir passer, l’esprit maléfique le frappa avec la calebasse qu’il tenait. Il le prit et
l’enferma dans sa demeure. Cependant, la bouteille de lait qu’il avait laissée avec son demi frère Samba
se gonfla et se déversa. Son frère prit peur et dit à sa mère.
— Maman ! J’ai perdu mon frère. Je m’en vais moi aussi. Prends soin de la maison toute seule.
Lui aussi prit l’autre vélo et partit. Arrivé au village où était passé son frère, tout le monde courut,
croyant que c’était lui. On lui demanda :
— A Samba, où étais-tu ?
Il leur dit :
— Non, ce n’est pas moi que vous avez vu. C’est mon frère. Montrez-moi par où il est passé, pour-
suivit-il.
On lui dit :
— Ton frère nous avait dit qu’il allait dans la forêt.
Il s’en alla et arriva à l’endroit où se trouvait l’esprit maléfique. Ce dernier demanda :
— Qui est-ce ? Et où est-ce que tu vas ?
Il lui répondit :
— Je vais au cœur de cette forêt.
Il lui dit :
— Personne n’entre ici.
Il entra dans le lieu et avant même que l’esprit maléfique ne le frappât, il tira sur lui une balle. L’être
maléfique tomba. Ainsi, il entra dans la demeure de l’esprit maléfique et en ouvrit toutes les portes en
appelant :
— A Samba, A Samba !
Le silence régnait. Lorsqu’ il ouvrait une porte, il ne trouvait que des gens que l’esprit maléfique
avait pris en otage. Il leur dit :
— Sortez, sortez !
Il était même étonné de voir tout ce monde. Il continuait à ouvrir les portes. Il entra enfin dans la
pièce où se trouvait A Samba. Il lui dit :
— En fait, lorsque la bouteille s’est déversée, j’ai su que tu avais des ennuis. C’est pour cela que je
t’ai suivi.
Ainsi, ils libérèrent beaucoup de gens et les ramenèrent avec eux. Son frère dirigea la foule et lui
resta derrière pour la surveiller. Arrivés dans le village d’où ils venaient, certains disaient :
— Ces gens ont été pris en otage des années durant.

— 191 —
— Tieh1 ! C’est vous qui les avez fait sortir ?
On demanda encore au premier garçon.
— Nous ne savons pas qui a tué l’animal qui était dans la mare. N’est-ce pas toi ? Cela nous embar-
rasse vraiment.
Il sortit la queue de l’animal et la leur donna.
Ils lui dirent :
— C’est donc toi qui l’as tué ? Bon ! Que veux-tu qu’on te donne en récompense ?
Il leur répondit :
— Je n’ai pas besoin d’être payé. Donnez-moi en mariage la fille que vous deviez sacrifier à l’ani-
mal.
Les villageois accompagnèrent la fille jusqu’au village de son mari. Ils prirent les richesses trou-
vées dans la demeure de l’esprit maléfique et leur construisirent une belle maison. A Samba garda les
richesses. La marâtre changea de comportement et l’aima comme son propre fils. Ils vécurent ainsi
dans la paix jusqu’à la fin de leurs jours.
Ainsi s’achève le conte.

— 192 —
activités
NIvEau

COMPÉtENCE 1

— 193 —
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

A 1.

2.

SavOIr ÉCOutEr uN CONtE


A 3.
4.
5.
6.

— 194 —
7.
8.

9.

Niveau 2, lecture attentive du texte :

invariants

SavOIr lIrE uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr raCONtEr (dIrE) uN CONtE


A

— 195 —
SavOIr dÉCrIrE lES PrINCIPaux PErSONNagES d’uN CONtE
A

SavOIr rEPrÉSENtEr uN CONtE


aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr dÉCrIrE uN CONtE


A 1.

— 196 —
2.

3.

Consignes d’écriture :

récit

SavOIr ÉCrIrE uN CONtE


autres consignes d’écriture :
aCtIvItÉS d’ENSEIgNEMENt/aPPrENtISSagE

CaPaCItÉS
CONtENuS SuPPOrtS aCtIvItÉS ENSEIgNaNt aCtIvItÉS ÉlèvES ÉvaluatION dES aPPrENtISSagES

SavOIr dONNEr uN avIS Sur uN CONtE/dÉgagEr la MOralE d’uN CONtE

— 197 —
A

SavOIr COMParEr dES CONtES


autres activités
1. Questions de compréhension

1.

2.

3.
4.

2. Activités de vocabulaire

ExErCICES

— 198 —
3. Étude du schéma narratif

N° QuEStIONS tExtE (ÉlÉMENtS dE rÉPONSE) ÉtaPES du rÉCIt

5
6

4. Activités d’écriture

1.

2.

5. Bilan et synthèse

1.

rÉPONSES

— 199 —
2.

PErSONNagES aCtIvItÉS aSPECtS SOCIaux Et rElIgIEux aSPECtS lIÉS à l’ENvIrONNEMENt

3. 4.

6. Recherche documentaire

Samba et le guinarou Sia ou le rêve du python

7. Élargissement

— 200 —
a samba
Quando Samba perdeu o pai e a mãe, foi a co-esposa da mãe que ficou encarregue de o educar.
Um dia, quando iam comer, ela quis chamar o filho pelo nome, mas Samba e o meio-irmão pare-
ciam-se como duas gotas de água e tinham o mesmo nome, e ela não conseguia saber qual dos dois era
o seu filho. Chamou:
— A Samba!
E eles responderam em coro:
— A Samba!
Ela disse, dirigindo-se ao que pensava ser seu filho e realmente era:
— Chamo-te A Samba e tu respondes-me “A Samba”. Quem és tu?
Ele respondeu:
— Mãe, queres meter-me em sarilhos. Sou eu, que tu deste à luz.
— Então vem sentar-te aqui no chão. Se fui eu que te dei à luz o outro não toca nesta refeição –,
disse ela, indicando o outro Samba –, vai comer com os porcos.
Então, quando deu de comer com os porcos ao outro Samba, o próprio filho disse-lhe:
— Está fora de questão que eu tome a refeição aqui enquanto o meu irmão está com os porcos.
Vamos comer juntos.
— E porquê? –, perguntou a mãe.
— Porque decidi que não vou comer aqui sozinho.
Então a mulher foi buscar uma pulseira, que pôs no pulso do filho para o distinguir do outro
Samba. Quando saíram para brincar Samba pegou na pulseira, partiu-a e com ela fez duas, uma que
pôs no pulso do irmão e outra para ele, e disse ao irmão:
— Se a mãe disser “A Samba” respondemos os dois ao mesmo tempo, não deve responder só um,
respondemos os dois. Se ela olhar para a minha mão vê a pulseira e se olhar para a tua vê a pulseira.
Um dia, quando voltavam da pastagem, a mãe chamou:
— A Samba!
Os filhos responderam em coro:
— Sim!
Ela pegou na mão de um e viu a pulseira, pegou na mão do doutro e viu a pulseira. Ficou sem pala-
vras. Serviu-lhes arroz. Comeram tudo.
Os rapazes viveram assim até à idade adulta. Samba, o órfão, acabou por se convencer de que devia
ir aonde os seus passos o levassem, para deixar Samba, o irmão, viver em paz com a mãe. Foi comprar
leite e encheu uma garrafa, que fechou antes de a pendurar na porta. Depois chamou o irmão.
— A Samba!
O irmão respondeu:
— A Samba!
Ele disse:
— Já somos adultos. Vou buscar a bicicleta que usávamos para ir guardar o gado e vou até onde os
meus passos me levarem.
O irmão disse-lhe:
— Samba, vou contigo para onde fores.

— 201 —
Ele respondeu:
— Não, fica e toma conta da tua mãe.
Ele não quis ouvir o irmão. Então este pegou na bicicleta e chegou a uma aldeia em que era difícil
arranjar água. Na verdade os aldeões tinham de sacrificar um ser humano, oferecendo-o a uma jibóia,
para ter acesso ao poço que havia na lagoa.
Quando chegou Samba pediu aos aldeões que lhe dessem de beber, pois tinha a garganta seca.
Responderam-lhe:
— Na verdade há um lugar a que podemos ir buscar água, mas há um monstro que mora lá. Temos
de sacrificar uma pessoa para ter direito a água.
Estupefacto, ele disse:
— Ai é? Mostrem-me esse lugar.
Responderam-lhe:
— Vais ser comido.
Ele insistiu e levaram-no até ao lugar tão temido. Quando chegou à lagoa Samba inclinou-se e tirou
água, kiribÿ!
A coisa perguntou:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Um forasteiro.
Ela perguntou:
— Porque tiras água?
Ele respondeu:
— Tiro água para beber.
O monstro continuou:
— Os teus anfitriões não te disseram que hoje não têm direito a tocar nesta água? Amanhã é o dia
em que estão autorizados a aceder a ela.
Ele retorquiu:
— Tu pensas que eu, o forasteiro, venho até aqui para morrer de sede? Porque não hei-de beber?
Dito isto tirou mais água e borrifou o corpo. Tirou outra vez, chap! A coisa disse:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Sou eu outra vez.
Ela perguntou-lhe:
— Estás a tirar água para quê?
Ele respondeu:
— Para me lavar.
Ela disse-lhe:
— Para te lavares! Não te disseram que não se mexe assim na minha água?
E Samba voltou a tirar, chap!
Ela perguntou:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Sou eu.
Ela perguntou:
— Estás a tirar água para quê?
Ele respondeu:

— 202 —
— Para dar ao meu cão.
Ela disse:
— Não, não, tu aí, se eu te deixar fazer o que quiseres vais acabar com a minha água!
Samba continuou a tirar água e a coisa perguntou:
— Quem é?
Ele disse:
— Disse-te que era eu.
— Estás a tirar água para quê?
— Para a despejar na terra, há muita água.
O monstro disse:
— Então vieste preparado para me arranjar sarilhos... espera que já vou.
A Samba tinha uns cartuchos e quando a coisa apareceu disparou sobre ela. Ela caiu, mas ele tornou
a disparar. Ela imobilizou-se e disse:
— Então foi a ti que enviaram?
Ele respondeu:
— Se tu comes pessoas, bem, hoje sou eu que vou comer-te.
Ele matou a jibóia, cortou-lhe o rabo e meteu-o no saco, depois foi buscar água com um balde e
foi à procura da jovem que ia ser sacrificada. Encontrou-a a chorar amargamente. Consolou-a e disse:
— Toma esta água e bebe um bocadinho.
Ela disse:
— Não posso beber, não vou beber.
Ele perguntou:
— Por que razão não queres beber?
Ela respondeu:
— Hoje, na aldeia, é a minha família que tem que ofertar uma rapariga à jibóia e sou eu que vou
ser sacrificada para que tenham água.
Entretanto toda a aldeia se preparava para o sacrifício e para oferecer a jovem, para depois poder
tirar água. Os tantans ressoavam.
Quando chegaram à lagoa mandaram a rapariga entrar nela, que desceu até à zona em que normal-
mente estava a jibóia. O animal não reagiu.
Disseram-lhe:
— Desce mais um bocadinho.
Ela respondeu:
— Estou a tocar-lhe, mas acho que não está viva. – A água ficou toda vermelha. – Está morta.
Ela atou a jibóia e os aldeões tiraram-na da água e todos explodiram de alegria, com cantos e danças.
O chefe da aldeia perguntou:
— Qual de vocês recebeu um forasteiro em casa?
Toda a gente dizia que tinha um hóspede em casa.
O chefe disse:
— Se alguém aparecer com o rabo deste animal saberemos recompensá-lo.
Entretanto o rapaz dirigira-se para a floresta e por lá andou muito tempo, até que encontrou outro
ser maléfico, que fazia as pessoas reféns. Este espírito perguntou-lhe:
— Quem é?
Ele respondeu:
— Sou eu.
— Tu quem?

— 203 —
Ele respondeu:
— Eu, Samba.
O outro disse:
— Os teus anfitriões não te disseram que este sítio é inacessível? Aqui ninguém passa.
O rapaz disse:
— Eu vou passar.
Ele teimou em passar e o espírito maléfico bateu-lhe com a cabaça que levava com ele. Agarrou-o e
fechou-o em casa. Entretanto a garrafa de leite que Samba tinha deixado com o meio-irmão inchou e
entornou-se. O irmão ficou com medo e disse à mãe:
— Mãezinha, perdi o meu irmão, também me vou embora! Cuida da casa sozinha.
Pegou na outra bicicleta e partiu. Quando chegou à aldeia em que o irmão tinha estado, toda a
gente acorreu, pensando que fosse ele. As pessoas perguntavam-lhe: “A Samba, onde estavas?”
Ele disse:
— Não, não foi a mim que viram, foi o meu irmão. Digam-me para onde foi –, continuou ele.
Disseram-lhe:
— O teu irmão disse que ia para a floresta.
Ele foi-se embora e chegou ao sítio em que estava o espírito maléfico, que lhe perguntou:
— Quem és tu e aonde vais?
Ele respondeu:
— Vou ao coração da floresta.
O outro disse:
— Ninguém entra aqui.
Ele entrou e antes que o espírito maléfico lhe batesse deu-lhe um tiro. O ser maléfico caiu. Então ele
entrou em casa do espírito maléfico e pôs-se a abrir as portas todas, chamando: “A Samba, A Samba!”
Reinava o silêncio. Quando abria uma porta só encontrava pessoas que o espírito maléfico tinha
feito reféns, e dizia-lhes: “Vão-se embora, vão-se embora!”
Estava espantado por ver tanta gente.
Continuou a abrir portas, até que entrou no quarto em que estava A Samba. Disse-lhe:
— Na verdade, quando a garrafa se entornou, soube que estavas com problemas. Foi por isso que
vim ter contigo.
Foi assim que libertaram muitas pessoas, levando-as com eles. O irmão conduziu a multidão e ele
ficou atrás, para a guardar. Quando chegaram à aldeia houve quem dissesse: “Esta gente ficou refém
durante anos.” “tieh! Foram vocês que os tiraram de lá?”
Perguntaram ao primeiro rapaz:
— Não sabemos quem foi que matou o bicho que estava na lagoa. Foste tu? Isto é mesmo muito
embaraçoso para nós.
Ele tirou o rabo do animal e entregou-o.
Disseram-lhe:
— Então foste tu que o mataste. Bem, o que queres que te dêmos de recompensa?
Ele respondeu:
— Não preciso de pagamento, dêem-me em casamento a rapariga que iam sacrificar ao animal.
Os aldeões acompanharam a jovem até à aldeia do marido. Eles ficaram com o tesouro encontrado
em casa do espírito maléfico e construíram uma bela casa. A Samba guardou o tesouro. A madrasta
mudou de comportamento e amou-o como se fosse filho dela. E viveram em paz até ao fim dos seus
dias.
E assim acaba a história.

— 204 —
actividades
NívEl

COMPêtENCIa 1

— 205 —
atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
aCtIvIdadES
CONtEúdOS SuPOrtES avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
aluNOS
A 1.
conto 2.

A
conto

conto

SaBEr ESCutar uM CONtO


A 3.
4.
conto 5.
6.
7.

— 206 —
8.

9.

Nível 2, leitura atenta do texto:

SaBEr lEr uM CONtO


do conto
conto
atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
aCtIvIdadES
CONtEúdOS SuPOrtES avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
aluNOS
A
ria o conto aos
outros alunos

SaBEr Narrar uM CONtO


A

— 207 —
no conto

SaBEr dESCrEvEr aS PrINCIPaIS PErSONagENS dE uM CONtO


A
do conto

conto

SaBEr rEPrESENtar uM CONtO


atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
aCtIvIdadES
CONtEúdOS SuPOrtES avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
aluNOS
A
conto

Analisar os

conto

SaBEr dESCrEvEr uM CONtO


A 1.

— 208 —
conto
2.

3.

SaBEr ESCrEvEr uM CONtO


atIvIdadES dE ENSINO-aPrENdIzagEM
OBjECtIvOS
aCtIvIdadES
CONtEúdOS SuPOrtES avalIaçãO daS aPrENdIzagENS

CaPaCIdadES
aluNOS
A
conto

nou, cativou

— 209 —
SaBEr dar uMa OPINIãO SOBrE uM CONtO/ExtraIr a MOral dE uM CONtO
A
conto

SaBEr COMParar CONtOS


outras actividades
1. Questões de compreensão

OBjECtIvOS vISadOS ExErCíCIOS a títulO INdICatIvO

1.

2.

3.
4.

2. Actividades de vocabulário

OBjECtIvOS ExErCíCIOS

— 210 —
3. Estudo do esquema narrativo

tExtO (ElEMENtOS dE
N° PErguNtaS EtaPaS da NarraçãO
rESPOSta)

4. Actividades de escrita

1.

2.

5. Balanço e síntese

1.

rESPOStaS

— 211 —
2.

PErSONagENS aCtIvIdadES aSPECtOS SOCIaIS E rElIgIOSOS aSPECtOS lIgadOS aO MEIO-aMBIENtE

3. 4.

6. Documentação

7. Prolongamentos

— 212 —
II

Contos seleccionados

Contes sélectionnés

Cabo Verde, Guiné-Bissau, Sénégal

— 213 —
Mau irmon i bon irmon
Mau irmão e bom irmão
Le bon et le mauvais frère

Lobu ku Xibinhu
O Lobo e o Chibinho
Le loup et Chibinho

Sabel Belelê
O rapaz matreiro Isabel Belelê
Isabel Belelê

— 214 —
Cabo Verde Cap-Vert

A escolha do noivo da princesa

de la princesse

Pedru, Palu, Manel Família póbri i galinha


Pedro, Paulo e Manuel inkantadu
Pedro, Paulo et Manuel Família pobre e
galinha encantada
La famille pauvre et la

O lobo e a princesa
Le loup et la princesse

— 215 —
1.

Local da colecta Lieu de collecte

1. Mais conhecido por “Morais”, natural da freguesia de Plus connu sous le nom de « Morais », originaire de São
São João Baptista, concelho de Porto Novo, ilha de Santo João Baptista, municipalité de Porto Novo, île de Santo
Antão. Antão.

— 217 —
Mau irmon i bon irmon

— 218 —

— 219 —
Mau irmão e bom irmão
Era uma vez um senhor que tinha dois filhos. Os dois filhos andavam sempre a desafiar-se um ao outro.
Um era considerado mau irmão, e o outro era considerado uma pessoa muita compreensiva e com
muitos amigos. O bom irmão não gostava do outro, por nada deste mundo, porque era considerado
como uma pessoa desorientada, que andava à margem da lei, e sempre a fazer a família passar vergonha.
O irmão bom resolveu então deixá-lo de lado, já não o considerava mais seu irmão.
Acontece que o bom irmão, que tinha muitos amigos, resolveu fazer uma prova para ver o que seria
melhor: ter um mau irmão ou um bom amigo. Por isso, um dia resolveu matar um porco e colocou-o
no meio duma sala, cobrindo-o. Então, chamou um amigo, um rapaz que ele considerava como sendo
o seu melhor amigo, e disse-lhe:
— Meu amigo, caí numa desgraça… matei uma pessoa… Quero saber se me ajudas a enterrá-la,
antes de amanhecer, caso contrário a autoridade tomará conta de mim!
O rapaz respondeu-lhe:
— Olha, em coisas destas, não gosto de participar… É melhor procurares outra pessoa!
O rapaz virou-lhe as costas e foi-se embora. No entanto, o mesmo rapaz tratou de ir conversar sobre
o assunto com outros amigos de rua. O bom irmão, porém, chamou mais um amigo e disse-lhe:
— Já cometi um crime… Venho pedir a tua ajuda para resolver esta situação, de modo a não ir para
a cadeia!
O amigo disse-lhe a mesma coisa:
— Olha, eu não participo em coisas dessas… Do contrário, passaria por assassino.
Então, o irmão que era tido como uma boa pessoa, chamou umas cinco, seis pessoas consideradas
por ele como amigos de peito, que andavam sempre juntos em farras e bailes, e, nesse momento, todos
lhe deram costa, dizendo que não iam ajudá-lo a resolver o problema do crime.
Então, disse o bom irmão:
— Está bem!... A única alternativa que me resta, é o meu irmão… mas eu e ele temos mau relacio-
namento! Fico sem saber o que fazer…
Pensou um pouco e disse:
— Vou chamar o meu irmão.
Foi ter com o seu irmão e disse-lhe:
— Ó irmão, desculpa-me!... Sei que temos as nossas desavenças… mas, cometi um crime! Matei
uma pessoa, e quero saber se me ajudas a enterrá-la, antes que a autoridade se aperceba disso.
Então, aquele que era considerado mau irmão disse:
— Oh! Meu irmão!... Não há problema! Vamos arranjar de imediato pá e enxada e vamos enterrar
essa pessoa… Já sabes que é um segredo que fica entre nós, porque, senão, vão te pôr na cadeia, e a nossa
família ficaria manchada, etc.
Mas, nesse meio-tempo, aqueles que eram considerados amigos do bom irmão, já tinham chamado
as autoridades. Quando as autoridades chegaram, disseram:
— Ouvimos dizer que mataste uma pessoa e viemos aqui colocar-te à margem da lei… Queremos
ver o que fizeste!

— 220 —
E o rapaz disse aos senhores:
— Está aí, no meio da sala… Descubram-no e vejam!
Quando lhe tiraram o pano, viram que se tratava de um porco morto. Perguntaram então ao rapaz:
— Por que fizeste isso?
Respondeu:
— Estava a tentar entender o que seria melhor: um mau irmão ou um bom amigo?
Acabara de ver que, de facto, ele não tinha amigo. Resolveu-se a pedir ao seu irmão desculpas, per-
dão pelas desavenças que tinham tido até àquela altura. Passou a considerar o irmão que, mesmo sendo
mau, era alguém com quem poderia contar e que poderia ajudá-lo em momentos difíceis.
Assim, terminou a história. O mais velho que vá apanhar e o mais novo que vá amarrar! Sapatinho
alto como em baixo, sapatinho alto como em cima.

— 221 —
le bon et le mauvais frère
Il était une fois un homme qui avait deux fils. Les deux fils étaient toujours en train de se lancer des
défis l’un à l’autre.
L’un était considéré comme un mauvais frère, et l’autre était considéré comme quelqu’un de très
compréhensif et il avait de nombreux amis. Le bon frère n’aimait pas l’autre, mais pas du tout, car il
était considéré comme quelqu’un d’écervelé, qui ne respectait pas la loi et trouvait toujours moyen de
faire honte à sa famille. Alors, le bon frère décida de le laisser de côté, ne le considérant plus comme
son frère.
Il arriva que le bon frère, qui avait beaucoup d’amis, décida de tenter une expérience pour voir ce
qui serait préférable : avoir un mauvais frère ou un bon ami. Ainsi, un jour, il décida de tuer un cochon
et le plaça, recouvert d’un tissu, au milieu d’une pièce. Alors, il appela un ami, un garçon qu’il consi-
dérait comme son meilleur ami, et lui dit :
— Mon ami, il m’est arrivé un malheur… j’ai tué quelqu’un… j’aimerais savoir si tu peux m’aider
à l’enterrer, avant le lever du jour, sinon j’aurai affaire aux autorités !
Le garçon lui répondit :
— Écoute, une affaire comme ça, je préfère ne pas m’en mêler… Tu ferais mieux de chercher
quelqu’un d’autre !
Le garçon lui tourna le dos et s’éloigna. Cependant, ce même garçon alla parler de la chose avec
d’autres amis de la rue. Le bon frère, pourtant, fit appel à un autre ami et lui dit :
— J’ai commis un crime… Je viens demander ton aide pour trouver une solution, je n’aimerais pas
aller en prison !
L’ami lui répondit la même chose :
— Écoute, je ne me mêle pas de ce genre de choses… Sinon, je passerais pour un assassin.
— Alors, le frère qui était considéré comme quelqu’un de bien, appela cinq, six autres personnes
qu’il considérait comme des amis de coeur, avec lesquels il allait toujours aux fêtes et aux bals, et à ce
moment-là, ils lui tournèrent tous le dos, lui disant qu’ils n’allaient pas l’aider à résoudre le problème
du crime.
Alors, le bon frère dit :
— Eh bien !... La seule alternative qu’il me reste, c’est mon frère… mais lui et moi avons de mauvais
rapports ! Je ne sais vraiment plus quoi faire…
Il réfléchit un peu et dit :
— Je vais appeler mon frère.
Il alla voir son frère et lui dit :
— Mon frère, excuse-moi !... Je sais que nous avons nos désaccords… mais, j’ai commis un crime !
J’ai tué quelqu’un, et je voudrais savoir si tu es prêt à m’aider à l’enterrer, avant que les autorités ne
s’en aperçoivent.
Alors, celui qui était considéré comme le mauvais frère, dit :
— Oh mon frère !... Pas de problème ! Allons chercher immédiatement une pelle et une pioche et
allons enterrer cette personne… tu sais que c’est un secret qui doit rester entre nous, parce que sinon
on te mettrait en prison et notre famille serait déshonorée, etc.

— 222 —
Mais, pendant ce temps, ceux qui étaient considérés comme les amis du bon frère, avaient déjà
alerté les autorités. Quand les autorités arrivèrent, elles dirent :
— Nous avons entendu dire que tu as tué quelqu’un et nous venons ici pour t’arrêter… Nous vou-
lons voir ce que tu as fait !
Et le garçon répondit à ces messieurs :
— Il est là, au milieu de la pièce… Découvrez-le et voyez !
Quand ils enlevèrent le tissu, ils virent qu’il s’agissait d’un cochon mort. Ils demandèrent alors au
garçon :
— Pourquoi as-tu fait cela ?
Il répondit :
— Je voulais essayer de savoir ce qui était préférable : avoir un mauvais frère ou un bon ami ?
— Il venait de constater, qu’en fait, il n’avait pas d’amis. Il décida de présenter des excuses à son
frère, de lui demander pardon pour les désaccords qu’ils avaient eus jusque-là. Il commença à avoir de
l’estime pour son frère qui, même s’il était mauvais, était quelqu’un sur qui il pouvait compter et qui
pourrait l’aider dans des moments difficiles.
Ainsi s’achève l’histoire. « À l’aîné de ramasser, au petit de rattacher ; haricot qui grimpe en aval,
haricot qui grimpe en amont ! »1

— 223 —
2.

Local da colecta Lieu de collecte


Contador Conteur
1

1. Mais conhecido por “Júliu-Manti”, natural da freguesia Plus connu sous le nom de « Júliu-Manti », originaire
de Santo Amaro Abade, concelho do Tarrafal, ilha de de Santo Amaro Abade, municipalité de Tarrafal, île de
Santiago. Santiago.

— 225 —
skódja di noibu di prinséza

1


— 226 —
1

— 227 —

— 228 —
a escolha do noivo
da princesa
Coisas e coisas que passaram a acontecer neste mundo, e que hoje venho contar, neste preciso mo-
mento.
Era uma estória de um rei e de uma rainha que moravam numa grande cidade habitada por muita
gente. O rei era o chefe deles todos e por isso mandava em toda a gente. Tiveram dois filhos, o príncipe
e a princesa. A princesa já estava crescida e feita mulher.
Já em idade de se casar, o rei resolveu publicar uma lei a dizer que pretendia casar a sua filha com
um dos rapazes da cidade. Mas o rapaz que quisesse se casar com a princesa, tinha que conseguir comer
um prato de malagueta1, sem fazer “hxhxhxh”.
Então, mandou abrir inscrições e todos os rapazes de todos os bairros da cidade, se inscreveram:
eram milhares de rapazes. Chegado o dia do concurso, com toda a gente, acomodada num campo de
futebol (antigamente os campos não tinham relva. Eram de terra batida), todos sentados no chão,
alguns descalços, outros com sapatos, outros com chinelos ou sandálias de plástico, cada um à sua ma-
neira (dentro da possibilidade de cada qual). Pobres e ricos, todos juntos, foram assistir ao concurso.
Os rapazes concorrentes estavam sentados, todos juntos. Iniciou-se o concurso. Chamou-se o primeiro
concorrente que logo tomou o seu prato de malagueta e levando uma colherada à boca, depois de uma
dentada, exclamou:
— “Hxhxhxh”… Oh! Minha mãe... isto não vai!
Desistiu.
Veio o próximo inscrito, foi a mesma coisa. Vieram mais de três mil rapazes e nenhum deles con-
seguiu.
Então o rei decidiu que a filha não iria se casar com nenhum daqueles rapazes. Aguardaria até que
alguém conseguisse comer o tal prato de malagueta.
Aconteceu que, no momento em que todos iam abandonar o espaço, um dos curiosos que estavam
ali, olhou para o lado e viu um homem, com ar de coitadinho, com uma grande cabeleira toda ela
branca e desgrenhada, trazendo umas calças velhas e rotas, descalço, com os pés sujos e com parasitas,
lêndeas no cabelo e com uma roupa que não dava nem para ver: um coitadinho mesmo! Daqueles para
os quais faltam palavras para caracterizá-los. (A propósito de “coitado”, costumo dizer2 que há coitado,
muito coitado e oh! Minha mãe de coitado! O andrajoso era “oh! Minha mãe de coitado!”) Então, a
pessoa, que viu o tal coitadinho, disse:
— Sr. Rei, ainda falta um.
O sr. rei respondeu:
— Falta um?!... Não deve estar inscrito!

— 229 —
— Sim, ele não está inscrito… Mas ele está aqui. Ele está cá, Sr. Rei… e palavra do rei não se desmen-
te! O senhor disse que todos podiam participar… e ele está cá.
Então, todos se aproximaram, quando o senhor rei o mandou entrar.
Quando o coitadinho entrou, o rei disse:
— Quem?... Tu?!... Vai-te embora! Não vais conseguir!
Os outros… mais bonitos, mais afeiçoados do que tu, não conseguiram, tu vais conseguir?!...
Bom, já que tem de ser!... Já sabes como é que é!
O coitadinho respondeu:
— Sei… sabemos como é. Devemos comer um prato de malagueta, sem fazer “hxh”.
Ele nem conseguia fazer “hxhxhxh”! Quando começou o concurso, todos se ajeitaram. (Pena é que
não havia televisão na época para filmar, mas como eu estava lá, vi tudo e passei a contar!)1
Pegou num prato de malagueta, virou-se para o rei e disse:
— Sr. Rei, o senhor disse que se casará com a sua filha, aquele que conseguir comer um prato de
malagueta, sem fazer “hxhxhxh”.
O rei confirmou e disse:
— Felizmente que te lembraste!
Então, apanhou uma colherada de malagueta, levou à boca, deu uma valente dentada e disse:
— Sr. Rei, é para não fazer “hxhxhxh”!
O rei disse:
— Isso mesmo!... É para não fazer “hxhxh”.
O coitado retorquiu:
— Sr. Rei, não vou fazer “hxhxhxh”!...
E voltou a apanhar mais um bocado. Antes de o colocar na boca, disse:
— Sr. Rei… já sabe como é: é para não fazer “hxhxhxh”.
Levou a colher à boca, deu uma boa dentada e disse:
— Sr. Rei, já viu que não estou a fazer “hxhxh”… Ai minha mãe!... Não vou fazer “hxhxhxh”!... Sr.
Rei, não vou fazer “hxhxhxh”!
O rei respondeu:
— Não, não podes fazer “hxhxh”.
Retorquiu o concorrente:
— Então, não faço “hxhxhxh”!...
Assim, de colherada em colherada, acabou por comer todo o prato de malagueta.
Então, o rei acabou ficando constrangido e a pensar: “Ai minha gente… vou ter de casar a minha
filha que tanto amo, a minha princesa, com este coitado!” A seguir, disse:
— Pronto, vais te casar com a minha filha.
De seguida, o rei mandou contratar um barbeiro, o melhor barbeiro da cidade, e mandou comprar
os materiais da barbearia da melhor qualidade que havia na cidade, providenciou uma bancada para ele
se sentar e o barbeiro começou a trabalhar, cortando-lhe a barba e arranjando-lhe o cabelo.
À medida que ia lhe aparando o cabelo, o rapaz foi parecendo mais jovem. Ele não era assim velho;
estava era maltratado. O coitado tinha fome e não tinha ninguém que lhe desse de comer. É dessa ma-
neira que foi-se definhando, e ficou franzino.
Com os aparos, o rapaz foi ficando mais bonito, enquanto o barbeiro lhe fazia a barba e lhe apa-
rava os cabelos. O rei mandou preparar-lhe um banho, com o melhor “shampô”, sabão, gel de banho,

— 230 —
tudo do melhor e lhe deram um bom banho. De seguida, mandou vir um fato dos Estados Unidos da
América, o mais bonito e o melhor que havia. Quando apareceu vestido com tal fato, ninguém queria
acreditar que era o mesmo rapaz que ganhara o concurso comendo o prato de malagueta. Ninguém
acreditou mesmo!
Marcou-se o casamento. Nem imaginam quem foi que o casou! O papa veio de Roma, de propósi-
to, para casar a filha do rei, naquele tempo de mil novecentos e não sei quantos. Então, o rapaz casou-se
com a princesa e fez-se uma grandiosa festa. (Eu estive lá e foram três dias de festejo! Festa como essa,
jamais se viu! De tal maneira que me esqueci do caminho de regresso! Tal era a festa! Eu jamais fora a
uma festa assim!)1
Quando se casaram, foram para a casa deles. Os filhos começaram a nascer: tiveram um, tiveram
dois… Há dias passei por lá, com um amigo, encontrei-o na varanda, ele convidou-me para tomar um
chá com eles. Fui, tomei o chá e, depois, disse-me:
— Lembra-se de mim?
Respondi-lhe:
— Claro que me lembro de si! O senhor é um dos que estavam no concurso e que conseguiu co-
mer um prato de malagueta… Pergunta-me se me lembro de si!? Eu é que estava pensando que não se
lembrava de mim!
— Desprezaram-me, mas olhe para mim! Hoje, sou um dos homens mais ricos desta cidade!
“Sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo… quem souber mais que conte melhor!” Como
se costuma dizer, há um saco cheio de dinheiro a rolar pela encosta do Fontão abaixo, em direcção ao
mar. Se não forem depressa, tudo vai parar ao mar e ficam sem o dinheiro!

— 231 —
de la princesse
Il s’en est passé des choses et des choses dans ce monde, des choses que je vais raconter à l’instant
même.
Il était une fois un roi et une reine qui habitaient dans une grande ville, peuplée de nombreux habi-
tants. Le roi était leur chef à tous et c’est pourquoi il commandait tout le monde. Ils avaient eu deux
enfants, le prince et la princesse. La princesse, était déjà grande et devenue femme.
Quand ils eurent l’âge de se marier, le roi décida de publier une loi qui disait qu’il voulait marier sa
fille avec un des garçons de la ville. Mais celui qui voudrait épouser la princesse devrait arriver à manger
une assiette de piment, sans faire « Hxhxhxhxhxh »1
Alors, il ouvrit les inscriptions et tous les garçons de tous les quartiers de la ville s’inscrivirent : il y
en avait des milliers. Lorsque le jour du concours arriva, tous les gens étaient rassemblés dans un stade
de football (autrefois les stades n’avaient pas d’herbe. C’était de la terre battue), tous étaient assis par
terre, certains les pieds nus, d’autres avec des chaussures, d’autres avec des savates ou des sandales en
plastique, chacun selon ses moyens. Pauvres et riches, tous ensemble, allèrent assister au concours.
Les garçons qui concouraient étaient assis ensemble. Le concours commença. On appela le premier
concurrent qui prit aussitôt son assiette de piment et, portant une cuillerée à la bouche, mordit la
bouchée et s’écria :
— « Hxhxhxhxhxh »… Oh ma mère… ce n’est pas possible !
Il renonça.
Ce fut le tour du concurrent suivant et ce fut la même chose. Plus de trois mille garçons défilèrent
et aucun d’eux n’y parvint.
Alors, le roi décida que sa fille ne se marierait avec aucun de ces garçons. Il attendrait jusqu’à ce que
quelqu’un parvienne à manger l’assiette de piment.
Au moment où tous s’apprêtaient à quitter les lieux, l’un des curieux qui se trouvaient là regarda
sur le côté et vit un homme, la mine d’un pauvre misérable, avec une grande chevelure toute blanche
et ébouriffée, portant un vieux pantalon déchiré, sans chaussures, les pieds sales et pleins de parasites,
des poux dans les cheveux et portant des vêtements qui n’étaient pas présentables : un véritable misé-
rable ! Le genre de personne dont on n’a pas de mots pour la décrire. (À propos de « misérable », j’ai
l’habitude de dire2 qu’il y a le misérable, le très misérable et oh quel pauvre misérable ! Le gueux était
« oh quel pauvre misérable ! ») Alors la personne qui avait remarqué ce misérable-là dit :
— Majesté, il en reste encore un.
Le roi répondit :
— Il en reste un !?... Il ne doit pas s’être inscrit !

— 232 —
— Non, il ne s’est pas inscrit… mais il est là. Il est là, Majesté… et la parole d’un roi est sacrée !
Votre Majesté a dit que tous les garçons pouvaient participer… et il est là.
Alors tout le monde s’approcha quand le roi demanda qu’il entre.
Quand le misérable entra, le roi dit :
— Qui ?... Toi ?!... Va-t-en ! Tu ne vas pas y arriver !
Les autres… plus beaux, plus décents que toi n’ont pas réussi et toi, tu pourrais le faire ?!...
Eh bien, puisqu’il le faut !... Tu sais de quoi il s’agit !
Le misérable répondit :
— Oui… je sais de quoi il s’agit. Il faut manger une assiette de piment, sans faire « hxhxh ».
Il n’arrivait même pas à faire « Hxhxhxhxhxh »! Lorsque commença le concours, tout le monde
se fit une place pour le regarder. (Malheureusement à l’époque, il n’y avait pas la télévision pour pou-
voir retransmettre ce qui se passait, mais comme j’étais là, j’ai tout vu et je vais tout vous raconter !)1.
Il prit une assiette de piment, se tourna vers le roi et dit :
— Votre Majesté a dit que celui qui arriverait à manger une assiette de piment, sans faire
« Hxhxhxhxhxh » se marierait avec la princesse.
Le roi confirma et dit :
— Heureusement que tu t’en souviens !
Alors, il prit une cuillerée de piments, la porta à la bouche, mâcha avec ardeur en disant :
— Majesté, il ne faut pas faire « Hxhxhxhxhxh » !
Le roi répondit :
— C’est bien cela !... Il ne faut pas faire « Hxhxhxhxhxh ».
Le miséreux rétorqua :
— Majesté, je ne vais pas faire « Hxhxhxhxhxh »
Et il en reprit une cuillerée. Avant de la mettre dans la bouche, il dit :
— Majesté… vous savez bien : il ne faut pas faire « Hxhxhxhxhxh »
Il porta la cuiller à sa bouche, mâcha avec vigueur, et dit :
— Majesté, vous avez vu que je ne fais pas « Hxhxhxhxh »… ô ma mère !... Je ne vais pas faire
« Hxhxhxhxhxh » !... Majesté, je ne vais pas faire « Hxhxhxhxh » !
Le roi répondit :
— Non, tu ne peux pas faire « Hxhxhxhxh ».
Le concurrent rétorqua :
— Alors, je ne fais pas « Hxhxhxhxhxh » !...
Ainsi, de cuillerée en cuillerée, il finit par manger toute l’assiette de piment.
Alors, le roi se retrouva finalement dans l’embarras ; il se mit à penser : « Oh mon Dieu !… je vais
devoir marier ma fille que j’aime tant, ma princesse, avec ce miséreux ! ». Il dit ensuite :
— Bien, tu vas épouser ma fille.
Immédiatement, le roi envoya quérir un barbier, le meilleur barbier de la ville, et ordonna d’acheter
le meilleur matériel de barbier qui se vendait dans la ville, on apporta un large banc pour le faire asseoir
et le barbier commença à travailler, lui taillant la barbe et lui arrangeant les cheveux.
Au fur et à mesure qu’on lui coupait les cheveux, le garçon paraissait plus jeune. Il n’était pas si
vieux ; il n’était pas soigné. Le misérable avait faim et personne ne lui donnait à manger. Voilà pour-
quoi il s’était amaigri et était devenu chétif.
Avec les soins, le garçon commençait à paraitre plus beau, pendant que le barbier lui faisait la

— 233 —
barbe et lui coupait les cheveux. Le roi envoya quelqu’un lui préparer un bain, avec les meilleurs sham-
pooings, savons, gels de bain, tout ce qu’il y avait de meilleur et on lui donna un bon bain. Puis, il fit
venir un costume des États-Unis d’Amérique, le plus beau et de la meilleure qualité qui existât. Quand
il apparut vêtu du costume, personne ne voulait croire que c’était le même gars qui avait gagné le
concours en mangeant une assiette de piment. Vraiment personne n’arrivait à le croire !
On fixa la date du mariage. Vous ne pouvez même pas imaginer qui fut celui qui les maria ! Le Pape
était venu spécialement de Rome, pour marier la fille du roi, en cette année-là de mille neuf cents et
quelques. Le garçon se maria avec la princesse et on organisa une fête grandiose. ( J’étais présent et ce
furent trois jours de festivités ! Une fête comme celle-là, on n’en avait jamais vu ! Tant et si bien que
je ne me souvenais plus du chemin du retour ! Quelle fête ! Je n’étais jamais allé à une fête pareille !)1.
Une fois mariés ils partirent pour leur demeure. Les enfants commencèrent à naître : ils en eurent
un, puis deux… Il y a quelques jours de cela, alors que je passais par là avec un ami, j’ai vu le jeune-
homme sur sa véranda et il m’a invité à prendre le thé avec eux. J’y suis allé et j’ai pris le thé et, puis
après, il m’a dit :
— Vous vous souvenez de moi ?
Je lui ai répondu :
— Bien sûr que je me souviens de vous ! Vous êtes un de ceux qui ont participé au concours et c’est
vous qui avez réussi à manger une assiette de piment… Vous me demandez si je me souviens de vous !?
C’est moi qui pensais que vous ne vous souviendriez pas de moi !
— Ils me méprisaient, mais regardez-moi ! Aujourd’hui, je suis l’un des hommes les plus riches de
cette ville !
« Haricot en amont, haricot en aval, que celui qui le sait mieux le raconte moins mal ! »
Comme on dit, il y a un sac plein d’argent qui roule sur la pente du Fontão vers la mer. Si vous n’y
courez pas bien vite, tout ira dans la mer et vous vous retrouverez sans un sou !

— 234 —
— 235 —
3. 1

1. Xibinhu : deformação de “sobrinho” devido ao ceceio 3. Mais conhecido por “Júliu-Manti”, natural da freguesia
palatal do lobo. de Santo Amaro Abade, concelho do Tarrafal, ilha de
2. Lire « Chibigno », qui est la déformation du mot
originaire de Santo Amaro Abade, municipalité de
du loup. Tarrafal, île de Santiago.

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lobu ku Xibinhu





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1

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o lobo e o Chibinho
O Lobo e o Chibinho andaram por todo o Curral de Baixo, Fazenda, Trás-os-Montes, Ponta-Furna,
Biscainhos, foram para Matu Brasil, Lagoa, Chã de Juncos, para todas as zonas do Tarrafal e não en-
contraram comida.
Então resolveram ir para o concelho de Santa Catarina. Ali, estiveram em Picos, Belém, Santana,
até chegarem à Praia. Estavam cheios de fome.
Depois, regressaram a Santa Catarina. Ali, passaram a caçar animais alheios que cozinhavam e
comiam. Chibinho tinha um cão e o Lobo também. Mas o cão do Lobo morreu e este conservou os
ossos, melhor dizendo, a caveira do cão. Então, a partir daí, sempre que saíam em caçadas, o cão do
Chibinho matava uma cabra e o Lobo ia em correria com a sua caveira, e, aproximando-se da cabra
morta, dizia:
— Chibinho, Chibinho… O “Arreganhado” é que a apanhou!
“Arreganhado” era a caveira do cachorro morto. E o Chibinho, que não era o mais coitado, e até era
mais esperto que o Lobo, mas, como o Lobo era seu tio, deixava-o com a carne toda.
Passado algum tempo, aconteceu que os dois se separaram: Chibinho foi para um lado e o Lobo
para outro. Então, o Lobo começou a passar fome, enquanto que o Chibinho, não se sabe como, des-
cobriu uma figueira, carregada de figos maduros, no meio de uma ribeira. Assim, ele passou a comer
figos, até não poder mais.
Um belo dia, Chibinho vinha caminhando, de repente, cruzou-se com o Lobo, que coitadinho,
andava dobrado de tanta fome, e estava muito magro, velho, quase a morrer. Então, disse-lhe o Lobo:
— Ei Chibinho, por onde tens andado que estás assim tão gordo, forte e valente, que te tenho
procurado por todos os sítios, e nada?... Eu, como vês, estou aqui quase a morrer!
Chibinho respondeu:
— Tenho andado por aí, desenrascando-me… Foram aparecendo coisinhas aqui e ali, que tenho
comido para não morrer.
— Chibinho – replica o Lobo –, tu estás a comer algo muito bom para estares assim!
Então, resolveu o Lobo enganar o Chibinho. Fingiu que ele estava com dores de dentes, e começou:
— Ui, ui, ui… Oh! Chibinho, tira-me uma coisa, aqui assim, nos dentes!
Chibinho disse-lhe:
— Deixa-me tirar-ta com este pedaço de pau.
— Com pau, não… Chibinho!... Pau serve para fazer caixão para as nossas mães quando morrerem.
Então, o Chibinho sugeriu:
— Então com agulha.
— Oh Chibinho!... Com agulha!?... Pelo amor de Deus!... Não vês que com a agulha coseremos a
mortalha das nossas mães quando falecerem.
Chibinho exclamou:
— Meu tio, então o quê?...
Ele disse ao Chibinho:
— Com os dedos!
Ao que o Chibinho respondeu:

— 241 —
— Mas, tio, como é que consigo que os dedos entrem no espaço entre os dentes?
— É só esfregar um pouquinho. – Explicou o Lobo.
Mal o Chibinho lhe meteu os dedos na boca, o Lobo advertiu-o:
— Enquanto não me disseres onde tens vindo a encontrar comida, não te largo os dedos!
Então foram até à figueira. Mas, como os figos estavam muito altos, o lobo perguntou ao Chibinho
como é que se chegava aos figos.
Chibinho disse-lhe:
— Meu tio, é fácil. Oiça, para a figueira se abaixar até à nossa altura, dizemos “Figueira, dixi, dixe-
ti!”, a figueira desce, e nós subimos. Para a figueira subir, dizemos “Figueira, subi, subeti!” e ela sobe.
Então, o Chibinho ordenou à figueira para descer, eles subiram e, de novo, ordenou para subir,
a figueira subiu, e começaram a comer figos. Era ainda manhã, quando começaram a comer figos. A
certa altura, o Chibinho disse:
— Tio, já é noite!... É hora de irmos para casa! Vamos e voltemos amanhã!
— Se quiseres, vai sozinho, porque eu não vou! Eu tenho que desforrar de toda a fome que já pas-
sei! Não vou a lado nenhum.
Chibinho disse-lhe:
— Meu tio, vou-me embora.
Chibinho mandou a figueira descer. Uma vez no chão, o Lobo perguntou-lhe:
— Como é que se faz para a figueira voltar a subir?
Chibinho lembrou-lhe:
— Diga “Figueira, subi, subeti!”
Ele repetiu a fórmula, a figueira voltou a subir. Perguntou de novo:
— Para descer, o que devo dizer, quando quiser ir para casa?
— Tio, diga “figueira, dixi, dixeti!”, e desce.
O Lobo era burro, e “mantekasku”1, como dizemos em crioulo aqui, no Tarrafal. Então, o Lobo
continuou comendo. E quando se saciou, era quase meia-noite. Sentiu vontade de ir para casa e resol-
veu pedir à figueira para descer. Mas já não se lembrava da fórmula. Só lhe veio à cabeça “subi, subeti”
que foi dizendo e repetindo, e a figueira foi assim subindo, até chegar ao céu. Lá, ele encontrou São
Pedro que lhe disse:
— Ó rapaz, o que estás fazer?
— Foi uma figueira que me trouxe até aqui, mas eu quero ir para casa.
S. Pedro disse-lhe:
— Como é que queres ir para casa?... Bem, vais para casa, mas vê lá bem o que fazes! Toma esta
pele de cabra e vai lavá-la no mar, para tirar a gordura e todas as sujidades, e vou fazer um tambor, para
te levar à terra.
E o lobo, guloso como era, mesmo farto, quando chegou à beira mar, começou a lavá-la, ao mesmo
tempo que a ia comendo, pedaço daqui, pedaço dali. Quando voltou a S. Pedro, sem a pele, justificou-
-se:
— Sabe o mar estava muito bravo e, logo à primeira, arrebatou-me a pele…
— E agora? Como é que eu faço? Bom, tu já não vais lavar mais pele!
Então, São Pedro mandou um anjo:
— Vai lavar esta pele, e traz-ma para eu fazer um tambor, amarrar o Lobo numa corda e descê-lo.
Quando chegar à terra, toca o tambor, eu corto a corda. Mas só toca o tambor, quando chegar à terra.

— 242 —
Voltando-se para o Lobo:
— Sei que o senhor é traquinas, mas só pode tocar quando chegar à terra!
O Lobo começou a ser descido. A certa altura, viu um corvo e disse-lhe:
— Dá-me um pedaço do cuscuz que aí levas e toco-te uma bela música.
O corvo respondeu:
— Não, não te dou do meu cuscuz.
— Ó corvo, dá-me um pedaço do teu cuscuz que te toco uma linda música!
— Não te dou do meu cuscuz.
Depois viu um francelho, ao qual disse:
— Francelho, dança que te toco uma bela música!
O francelho respondeu:
— Para eu dançar?!
— Dança, que te toco uma bela música!
O francelho começou a dançar e o Lobo tocou o tambor “tantan-tan-tantan”. São Pedro cortou a
corda e o Lobo despencou, enquanto gritava:
— Oh! Chibinho… Oh! Chibinho arranja lá a cama… arranja a cama!...
Chibinho pegou em montes de garrafas, quebrou-as, fez uma “cama” com os vidros partidos.
Quando o Lobo caiu sobre eles, morreu.
Até agora, anda o Chibinho a chorar a morte do tio.
“Sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais que conte melhor!”

— 243 —
le loup et Chibinho
Le loup et Chibinho parcoururent tout Curral de Baixo, Fazenda, Trás-os-Montes, Ponta-Furna et
Biscainhos ; ils allèrent à Matu Brasil, Lagoa, Chã de Juncos1 ; ils firent toutes les zones de Tarrafal et
ils ne trouvèrent rien à manger.
Alors, ils décidèrent d’aller à la municipalité de Santa Catarina. Là-bas, ils allèrent à Picos, Belém,
Santana2, jusqu’à arriver à Praia3. Ils étaient très affamés.
Puis ils retournèrent à Santa Catarina. Là-bas, ils commencèrent à chasser des animaux d’élevage
qu’ils faisaient cuire et qu’ils mangeaient. Chibinho avait un chien et le loup aussi. Mais le chien du
loup mourut et celui-ci conserva ses os, ou plus exactement le crâne du chien. Donc, à partir de ce jour,
quand ils partaient chasser, le chien de Chibinho tuait une chèvre et le loup courait avec son crâne,
s’approchait de la chèvre morte, et disait :
— Chibinho, Chibinho… C’est « Grande Gueule » qui l’a attrapée !
« Grande Gueule », c’était le crâne du chien mort. Or Chibinho n’était pas le plus stupide, il était
même plus dégourdi que le loup, mais comme le loup était son oncle, il lui laissait toute la viande.
Après un certain temps, ils se séparèrent : Chibinho partit d’un côté et le loup d’un autre. Alors, le
loup commença à souffrir de la faim, alors que Chibinho, on ne sait comment, trouva un figuier chargé
de figues mûres, au milieu d’une vallée. De sorte qu’il se mit à manger des figues jusqu’à satiété.
Un beau jour, Chibinho marchait tranquillement quand soudain il croisa le loup, qui, le pauvre,
était plié en deux tant il avait faim. Il était très maigre, vieux, presque mourant. Alors, le loup lui dit :
— Eh Chibinho, où es-tu allé pour être si gras, si fort et si bien portant, alors que je t’ai cherché
partout, sans résultat ?… Moi, comme tu vois, je suis presque mourant !
Chibinho répondit :
— J’ai rôdé un peu partout, je me suis débrouillé… J’ai trouvé des choses ici et là, que je me suis
mis à manger pour ne pas mourir de faim.
— Chibinho, – répliqua le loup –, tu as dû manger quelque chose de bien nourrissant pour être
ainsi !
Alors, le loup décida de tromper Chibinho. Il fit semblant d’avoir une rage de dents et commença
à gémir :
— Aïe, aïe, aïe… Oh Chibinho, enlève-moi quelque chose que j’ai là dans les dents !
Chibinho lui dit :
— Laisse-moi te l’enlever avec ce bout de bois.
— Non, pas avec du bois… Chibinho !... Le bois sert à faire des cercueils pour nos mères quand
elles meurent.
Alors, Chibinho suggéra :
— Alors avec une aiguille.
— Oh Chibinho !... Avec une aiguille !?... Pour l’amour de Dieu !... tu ne vois pas que c’est avec une

— 244 —
aiguille que nous coudrons le linceul de nos mères quand elles mourront.
Chibinho s’écria :
— Alors, avec quoi, mon oncle ?...
Il répondit à Chibinho :
— Avec les doigts !
À quoi Chibinho répondit :
— Mais, mon oncle, comment vais-je faire pour que les doigts rentrent dans les espaces entre les
dents ?
— Il suffit de frotter un peu, expliqua le loup.
À peine Chibinho lui eut-il mis les doigts dans la bouche que le loup lui dit :
— Tant que tu ne m’auras pas dit où tu as trouvé de la nourriture, je ne te lâcherai pas les doigts !
Alors, ils allèrent jusqu’au figuier. Mais comme les figues étaient très hautes, le loup demanda à
Chibinho comment on atteignait les figues.
Chibinho lui dit :
— Mon oncle, c’est facile. Écoute, pour que le figuier se baisse jusqu’à notre niveau, il faut dire
« Figuier, baisse-toi, baisse-toi bien bas !», le figuier se baisse et nous montons. Pour que le figuier
monte, il faut dire « Figuier, lève-toi, lève-toi bien haut !» et il monte.
Alors, Chibinho ordonna au figuier de descendre, ils montèrent ; et à nouveau, il ordonna de mon-
ter, le figuier monta et ils commencèrent à manger des figues. C’était encore le matin quand ils com-
mencèrent à manger des figues. À un moment donné, Chibinho dit :
— Mon oncle, il fait nuit !... Il est temps de rentrer à la maison ! Allons-y, nous reviendrons de-
main !
— Si tu veux, vas-y tout seul, parce que moi je reste ! Je dois récupérer de toute la faim que j’ai
endurée ! Je ne vais nulle part.
Chibinho lui dit :
— Je m’en vais alors, mon oncle.
Chibinho demanda au figuier de descendre. Quand il fut à terre, le loup lui demanda :
— Comment fait-on pour que le figuier remonte ?
Chibinho lui rappela :
— Dis « Figuier, lève-toi, lève-toi bien haut ! »
Il répéta la formule et le figuier monta à nouveau. Il demanda encore :
— Pour descendre, qu’est-ce que je dois dire, quand je voudrai rentrer à la maison ?
— Mon oncle, tu dis « Figuier, baisse-toi, baisse-toi bien bas ! », et tu pourras descendre.
Le loup était bête et niais (« mantekasku »1, comme on dit en créole, ici, à Tarrafal). Alors, le loup
continua à manger. Et quand il fut rassasié, il était presque minuit. Il eut envie de rentrer à la maison et
décida de demander au figuier de descendre. Mais, il ne se souvenait plus de la formule. Il ne lui vint à
l’esprit que « lève-toi, lève-toi bien haut » ce qu’il dit et répéta plusieurs fois, de sorte que le figuier se
mit à monter, jusqu’à atteindre le ciel. Là-haut, il rencontra Saint Pierre qui lui dit :
— Oh l’ami, qu’est-ce que tu fais là ?
— C’est un figuier qui m’a amené jusqu’ici, mais je veux rentrer chez moi.
Saint Pierre lui dit :
— Comment veux-tu rentrer à la maison ?... Bon, rentre chez toi, mais réfléchis bien à ce que tu
fais ! Prends cette peau de chèvre et va la laver dans la mer, pour enlever toute la graisse et les saletés et

— 245 —
je ferai un tambour pour te ramener sur terre.
Et le loup, gourmand comme il était et bien que repu, quand il arriva au bord de la mer, commença
à laver la peau en même temps qu’il en mangeait un morceau par-ci, un morceau par-là. Quand il
retourna voir Saint Pierre, sans la peau, il se justifia en disant :
— Vous savez, la mer était très agitée et elle m’a tout de suite arraché la peau…
— Et maintenant ? Comment vais-je faire ? Bon, toi tu ne laveras plus de peau !
Alors, Saint-Pierre commanda à un ange :
— Va laver cette peau et rapporte-la moi pour que je fabrique un tambour. J’attacherai le loup à
une corde et je le descendrai. Quand il arrivera sur terre, il jouera du tambour et je couperai la corde.
Mais il ne devra jouer du tambour qu’à son arrivée sur terre.
Se tournant vers le loup :
— Je sais que tu es turbulent, mais il ne faudra jouer du tambour qu’une fois arrivé sur terre !
La descente du loup commença. À une certaine hauteur, il vit un corbeau et lui dit :
— Donne-moi un peu du couscous1 que tu portes là et je te jouerai un beau morceau de musique.
Le corbeau répondit :
— Non, non je ne te donnerai pas de mon couscous.
— Oh corbeau, donne-moi un peu de ton couscous et je te jouerai un joli morceau !
— Non, je ne te donnerai pas de mon couscous.
Ensuite, il vit un faucon, auquel il dit :
— Faucon, danse et je te jouerai un beau morceau de musique !
Le faucon répondit :
— Pour que je danse ?!
— Danse et je te jouerai un joli morceau !
Le faucon commença à danser et le loup joua du tambour “tantan-tan-tantan”. Saint Pierre coupa
la corde et le loup commença à dégringoler tout en criant :
— Oh Chibinho… Oh Chibinho, prépare un lit… prépare un lit !...
Chibinho prit un tas de bouteilles, les brisa et fit un « lit » avec les morceaux de verre. Quand le
loup atterrit sur eux, il mourut.
Chibinho pleure encore à ce jour la mort de son oncle.
« Haricot en amont, haricot en aval, que celui qui le sait mieux le raconte moins mal ! »

— 246 —
4.

Local da colecta Lieu de collecte


Contador Conteur
1

1. Mais conhecido por “Ntóni-Lóka”, natural da freguesia


de Santa Ana (São Tomé e Príncipe), residente em Ponta de Santa Ana (São Tomé e Príncipe), demeurant à Ponta
Furna, concelho do Tarrafal, ilha de Santiago. Furna, municipalité de Tarrafal, île de Santiago

— 249 —
pedru, palu, Manel
1

— 250 —

1

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— 252 —

— 253 —
pedro, paulo e Manuel
Era uma vez… coisas e coisas acontecem. Desde aquele tempo aos dias de hoje. Eu estava aqui, em casa,
sossegado. De repente, deu-me vontade de sair e andar por aí. Então, cheguei numa aldeia, encontrei
um rapaz e disse-lhe:
— Ó rapaz, que localidade é esta?
— Ao menos me dissesse “boa tarde”… de nada vale serem adultos! – reagiu ele.
Corrigi-me dizendo-lhe “boa tarde” e voltei a perguntar:
— Que localidade é esta?
Respondeu:
— Aqui é não há muito mistério e necessidade não é mal nenhum… Todo aquele que aqui vier, se
rege bem!
Então, disse-lhe:
— Bom, se aqui se rege bem, vou ficar um bocadinho para me mostrares como é este lugar!
Ele respondeu-me:
— Se quiser ficar, fique… O senhor é que escolhe o lugar para onde quer ir.
Retorqui:
— Bom, então vou ficar contigo, para me mostrares como é a aldeia.
Estávamos aí nos divertindo e contando anedotas, quando ele me disse:
— Recentemente, ouvi uma notícia sobre uma mulher que se chama Maria e que se diz ser a mu-
lher mais bonita do mundo… Que igual a ela, ainda não nasceu!
— A sério?!... Onde é que ela está? – Perguntei.
Ele disse:
— Não… Trata-se de uma notícia.
Comentei:
— Conheço-a! Eu, António1, conheço-a! Só que nunca estivemos perto um do outro… Despacha-
te, que eu vim cá te buscar!...
Ele respondeu:
— Não, há três rapazes, Pedro, Paulo e Manuel, que estão à procura de uma maneira de ir à cata
dessa mulher, para a conhecerem e pedi-la em casamento.
Disse-lhe então:
— É normal. Se quiserem, eu os levo até lá.
Saímos. Fomos à casa dos rapazes e eles ficaram muito contentes comigo. Eu tomava o meu grogui-
nho, deram-me um pouquinho, surgiram umas ideias, ganhei coragem. E quando ganhei coragem, me
aproximei dos rapazes, conversamos e, então, disse-lhes que fôssemos.
Quando chegámos, viram aquela linda mulher!... Beleza igual não havia! Pedro disse-lhe:
— És tu a Maria, a mulher mais bonita do mundo?
Ela respondeu:

— 254 —
— Sim, sou eu.
Paulo e Manuel fizeram-lhe a mesma pergunta. Eu, António, fiquei assim… Não tinha nada a dizer.
Disseram:
— Olha, queremos casar contigo!
Ela, admirada, disse:
— Como é que vocês, os três, se casam comigo… se sou apenas uma!?...
Insistiram:
— É contigo que temos de nos casar!
Então, disse-lhes a Maria:
— Bom, não vou discutir e nem vou negar… Vocês vão se casar comigo, mas com a seguinte con-
dição: têm de se deslocar ao estrangeiro e comprar-me um presente, uma coisa muito bonita e de um
grande valor, para eu poder me casar com vocês!
Aquele que me trouxer a prenda mais bonita, caso-me com ele!
O Pedro respondeu, logo:
— Eu vou!
O Paulo e o Manuel, aliás, todos eles, já queriam ir naquele mesmo dia. Viraram-se para mim e
disseram:
— António1, se não vais, ficas!
Respondi:
— Por que ficaria?!... Vamos juntos!
Então fomos. Quando chegámos, descemos, e eu fiquei encostado à parede. Paulo foi para um lado,
Pedro para outro e Manuel para aqueloutro. Eu fiquei de pé, à espera deles, porque cada um foi fazer
a sua compra.
Tinham que apresentar-me as respectivas compras, já eu era a testemunha da primeira hora.
Então, foram e regressaram quase três dias depois. Naquele dia, vieram encontrar-me os três e dis-
seram:
— Sr. António, já estamos de volta!
Exclamei, perguntando:
— Regressaram!?...
Retorquiram:
— Chegámos!
Então, pedi-lhes as provas das compras que fizeram. O Pedro tinha comprado um barquinho que
cabia debaixo do braço; o Manuel comprara um machadinho, do tamanho dos que se usam na cozi-
nha; o Paulo tinha comprado um espelhinho… (já agora – tirando o contador de um dos bolsos das
suas calças um pequeno espelho que apresentou ao público, enfatizou – é mesmo este que ele tinha no
bolso!) disse:
— É isto que eu comprei!
Nos desatamos a rir, e perguntei ao Pedro:
— Para que serve este barquinho?
Virando-me para o Manuel:
— E tu?... Este machadinho que nem serve para rachar lenha? – Naquele tempo nem se cortava
carne com machadinho.
Mas quando o Manel puxou do seu espelhinho, aí é que foi gargalhada grossa, porque o espelho era

— 255 —
mesmo pequenininho…
Aí, o Pedro disse:
— Para já, querem saber uma coisa?... Eu posso dizer ao meu barco que nos tire daqui e nos leve
para outro país, que não o nosso, vamos e voltamos quando quisermos!
Como os rapazes riram, então, ele ordenou:
— Barco, leva-nos a uma outra terra estranha… ida e volta!
No mesmo instante, todos entraram no barco e, num abrir e fechar de olhos, já estavam num outro
país. Em aí chegando, acharam a terra maravilhosa. Sentiram-se tão bem, que melhor seria impossível.
O Pedro perguntou:
— E agora?...
Respondi:
— Está visto. Agora, vamos embora!
O Manuel disse:
— O meu machadinho também me serve em todos os momentos de que necessito dele… Tanto
na vida como na morte!
Voltámos a rir à farta, batendo palmas e exclamando:
— Oh!… Esse machadinho!!!
Então, ensaiou uma demonstração:
— Vou me deitar de costas, e um de vocês vai me cortar a cabeça, com o machado. Logo depois, um
outro de entre vocês, apanha a cabeça cortada e vem colocá-la no lugar em que estava. Um terceiro pega
no machadinho, dá uma machadada no meu peito e faz-me o sinal da cruz na testa, que me levanto de
imediato, como se nada tivesse acontecido!
Eu, que já estava com vontade, saí à rua, peguei no machado, dei-lhe uma machadada no pescoço,
a cabeça voou; um outro apanhou-a logo, e foi colocá-la no lugar, enquanto o terceiro lhe dava uma
outra machadada no peito, fazendo-lhe o sinal da cruz na testa. O Manuel levantou-se logo, melhor do
que estava antes. (Olhem lá!... Se for mentira, digam-me, que me calo… porque eu estava lá e vi tudo!
Não riam… porque não estou a brincar!).
Então, perguntou-se ao Paulo o que tinha para contar.
Ele disse, puxando do seu espelho:
— Olhai!...
Todos nos abaixamos para ver o espelho e vimos a Maria morta, dentro de um caixão, a caminho
do cemitério. Os rapazes lamentaram e Pedro disse:
— Agora é assim… Entrem no barco!
O barco partiu e, num abrir e fechar de olhos, estavávamos na terra da Maria. Quando chegámos,
tinham já tirado o caixão do carro funerário e as pessoas estavam todas a chorar: “uh-uh-uh-uhuu”. O
Pedro chegou e disse:
— Parem!... Parem! Não dêem nem mais um passo!
O Manuel, por sua vez, acrescentou:
— Ponham o caixão no chão!
E o Paulo:
— Abram-no!
Quando abriram o caixão, eu estava lá de pé, a observar. Ele disse:
— Sr. António, e agora?...
Respondi:
— Vocês é que sabem!

— 256 —
O Manuel tirou o seu machadinho, deu uma machadada no peito da Maria, fez o sinal da cruz no
peito dela e a Maria começou a gemer:
— Ai… Ai, meu pai… Meu pai!
A Maria levantou-se e, olhando em volta, perguntou:
— O que é isto?!...
Dissemos:
— Bom, vamos daqui!
Apanhámos a Maria e levámo-la para a casa dela. O pai dela estava um coitado porque, mesmo
tendo muito dinheiro e sendo abastado, Maria era a riqueza mais preciosa que ele tinha, e ela tinha
falecido. Então, o pai estava muito triste quando aparecemos com a Maria e lhe dissemos:
— Toma a tua filha!
O homem ficou tão contente que não cabia em si de tanta alegria. Mas, de repente, voltou a ficar
triste, porque os rapazes puseram-se a discutir com qual deles se casaria a Maria. Todos se diziam com
direito a se casar com a Maria. Eu limitei-me a olhar apenas. Foi então, que o pai da Maria disse:
— Rapazes, porque estão a discutir desta maneira?... Podem-me explicar o motivo?
Pedro disse:
— Olhe, o barco que eu comprei é que nos trouxe de onde estávamos até aqui!
Paulo argumentou:
— Foi o espelho que eu comprei, que nos mostrou a Maria morta!
E Manuel defendeu-se, dizendo:
— Ai-ai… Eu é que a ressuscitei! Portanto, sou eu a casar-me com ela.
O pai da Maria olhou para todos os lados, e disse:
— Não sei o que vou fazer… Mas vou resolver-vos o problema, agora!
Pensou um bocado, olhou para mim, pôs-se em frente da Maria, levou a mão para trás e deu uma
grande bofetada à Maria que virou três Marias iguais. Então, disse:
— Paulo, toma a tua!... Pedro, toma a tua!... Manuel, toma a tua!
Sr. António, o senhor é testemunha… Viu o que se passou! Não conte a ninguém porque é só aqui
que isto aconteceu.
“Sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais que conte melhor!”
Um saco de dinheiro vai por aí… O mais pequeno que aqui está, que o apanhe, antes que seja tarde!

— 257 —
pedro, paulo et Manuel
Il était une fois…, il y a tant de choses qui se passent (dans ce monde). Depuis ce temps-là jusqu’à nos
jours. Moi, j’étais ici, à la maison, au calme. Soudain, j’eus envie de sortir faire un tour. Alors que j’arri-
vais dans un village, j’ai rencontré un garçon et je lui dis :
— Eh, garçon, quel est ce village ?
— Vous pourriez au moins dire « bonjour »… ça sert à quoi d’être adulte ! – protesta-t-il.
Je me repris en disant « bonjour » et répétai ma question :
— Quel est ce village ?
Il répondit :
— Ici, il n’y a pas grand mystère et il n’y a pas de mal à être dans le besoin… Toute personne qui
arrive ici, s’en sort bien !
Alors, je lui dis :
— Eh bien, si on s’en sort bien ici, je vais rester un petit peu pour que tu me montres comment est
cet endroit !
Il me répondit :
— Si vous voulez rester, restez donc… À vous de choisir l’endroit où vous voulez aller.
Je rétorquai :
— Bien, alors je vais rester avec toi, pour que tu me montres comment est le village.
Nous étions là-bas, en train de nous amuser et de nous raconter des histoires lorsqu’il me dit :
— Il n’y a pas longtemps, j’ai entendu parler d’une femme qui se nomme Maria et on dit que c’est
la plus belle femme du monde… Qu’on n’en a jamais vu comme telle au monde !
— Vraiment ?!... Où est-elle donc ? – demandai-je.
Il dit :
— Non… C’est quelque chose qu’on raconte.
Je lui dis :
— Mais je la connais ! Moi, António1, je la connais ! Sauf que nous n’avons jamais été l’un près de
l’autre… Dépêche-toi, je suis venu ici te chercher !...
Il répondit :
— Non, il y a trois garçons, Pedro, Paulo et Manuel, qui sont en quête d’un moyen d’aller à la
recherche de cette femme, pour la rencontrer et la demander en mariage.
Je lui dis alors :
— C’est normal. S’ils le désirent, je les conduirai jusque là-bas.
Nous sortîmes. Nous allâmes chez les trois garçons qui furent très contents de me voir. A l’époque,
je prenais mes petites gorgées de grog, on m’en avait servi un petit peu, des idées surgirent et je pris
courage. Et, quand j’eus pris courage, je me suis approché des garçons, nous discutâmes et je leur ai
proposé de nous y en rendre.
Quand nous arrivâmes, ils la virent cette belle femme !... Il n’existait aucune beauté semblable !

— 258 —
Pedro lui dit :
— C’est toi Maria, la femme la plus belle du monde ?
Elle répondit :
— Oui, c’est moi.
Paulo et Manuel lui posèrent la même question. Moi, António, je restai là… Je n’avais rien à dire.
Ils dirent :
— Écoute, nous voulons nous marier avec toi !
Elle, perplexe, dit :
— Comment est-ce que vous trois vous pourriez m’épouser,… si je ne suis qu’une !?...
Ils insistèrent :
— C’est avec toi que nous devons nous marier !
Alors, Maria leur dit :
— Bien, je ne vais pas discuter ni refuser… Vous allez vous marier avec moi, mais à cette condition :
vous devrez partir à l’étranger et m’acheter un cadeau, quelque chose de très beau et de grande valeur,
pour que je puisse me marier avec vous !
Celui qui apportera le plus beau cadeau, je l’épouserai !
Pedro répondit aussitôt :
— J’y vais !
Paulo et Manuel aussi ; d’ailleurs, tous trois voulaient partir le jour même. Ils se tournèrent vers
moi en disant :
— António1, si tu n’as pas l’intention de partir, tu peux rester !
Je répondis :
— Pourquoi resterais-je ?!... Allons-y ensemble !
Et nous partîmes. À l’arrivée, nous débarquâmes et je suis allé m’adosser à un mur. Paulo partit
d’un côté, Pedro d’un autre et Manuel encore d’un autre. Je suis resté tranquille à les attendre, parce
que chacun était parti faire son achat.
Ils devaient me montrer leurs achats respectifs, puisque j’étais témoin depuis la première heure.
Ils partirent donc et revinrent près de trois jours plus tard. Ce jour-là, ils vinrent me trouver tous
les trois en disant :
— M’sieur António, nous sommes de retour !
Je m’exclamai, en demandant :
— Vous voilà revenus !?...
Ils rétorquèrent :
— Nous sommes de retour !
Alors, je leur ai demandé de me montrer les achats qu’ils avaient faits. Pedro avait acheté un petit
bateau qui tenait sous son bras ; Manuel avait acheté une hachette, comme celles que l’on utilise en
cuisine ; Paulo avait acheté un petit miroir… (à propos – et le conteur, sortant d’une des poches de son
pantalon un petit miroir qu’il montra au public, précisa – c’est justement celui-ci qu’il avait dans la
poche !) et il dit :
— Voici ce que j’ai acheté !
Nous rîmes de bon cœur et je demandai à Pedro :
— À quoi sert donc ce petit bateau ?
Je me suis tourné vers Manuel :

— 259 —
— Et toi ?... Cette hachette qui ne sert même pas à fendre du bois ? – en ces temps-là on ne coupait
même pas la viande avec une hachette.
Mais quand Paulo sortit son petit miroir, c’est là que l’on rit à gorge déployée, parce que le miroir
était vraiment tout petit…
Mais alors, Pedro dit :
— D’abord, voulez-vous savoir une chose ?... Je peux dire à mon bateau de nous sortir d’ici et de
nous emmener dans un autre pays, qui ne soit pas le nôtre, nous pourrons partir et revenir quand nous
le voudrons !
Comme les garçons riaient, il ordonna :
— Bateau, porte-nous vers une terre étrangère… aller-retour !
À l’instant même, tous montèrent sur le bateau et, en un clin d’œil, ils furent transportés dans un
autre pays. Dès leur arrivée, ils trouvèrent l’endroit merveilleux. Ils se sentaient si bien, qu’il semblait
impossible de trouver mieux.
Pedro demanda :
— Et alors ?...
Je répondis :
— On a vu. Allons-nous-en, maintenant !
Manuel dit :
— Ma hachette m’est bien utile aussi chaque fois que j’ai besoin d’elle… aussi bien dans la vie que
dans la mort !
Nous rîmes encore aux éclats, tapant dans les mains et nous exclamant :
— Oh… cette hachette !!!
Alors, il entreprit une démonstration :
— Je vais me coucher sur le dos et l’un de vous va me couper la tête avec la hachette. Aussitôt après,
un autre parmi vous, récupère la tête coupée et la replace à l’endroit où elle se trouvait. Un troisième
prend la hachette, me donne un coup de hachette sur la poitrine, fait le signe de croix sur mon front et
je me relève immédiatement, comme si rien ne s’était passé !
Moi, qui en avais envie, je sortis dans la rue et je pris la hachette, lui donnai un coup de hachette
sur le cou et la tête vola ; un autre la ramassa aussitôt et alla la remettre à sa place, tandis que le troi-
sième lui donnait un autre coup de hachette sur la poitrine, lui faisant le signe de croix sur le front.
Manuel se releva à l’instant, se sentant mieux qu’auparavant. (Écoutez !... Si vous pensez que c’est un
mensonge, dites-le et je ne dirai plus rien… parce que j’y étais et j’ai tout vu ! Ne riez pas… ce n’est pas
une blague !).
Alors, on demanda à Paulo ce qu’il avait à raconter.
Il dit, en sortant son miroir :
— Regardez !...
Nous nous penchâmes tous pour regarder dans le miroir et nous vîmes Maria morte, dans un cer-
cueil, en route pour le cimetière. Les garçons se lamentèrent et Pedro dit :
— Voilà ce qu’on va faire maintenant,… Montez sur le bateau !
Le bateau partit et, en un clin d’œil, nous fûmes au pays de Maria. À notre arrivée, on avait déjà sor-
ti le cercueil du corbillard et tout le monde pleurait : “ouh-ouh-ouh-ouhouou”. Pedro s’avança et dit :
— Arrêtez !... Arrêtez ! Ne faites pas un pas de plus !
Manuel, à son tour, ajouta :
— Posez le cercueil à terre !
Et Paulo :

— 260 —
— Ouvrez-le !
Quand ils ouvrirent le cercueil, j’étais là debout en train d’observer. Il dit :
— Et maintenant, M’sieur. António ?...
Je répondis :
— À vous de voir !
Manuel sortit sa hachette, donna un coup sur la poitrine de Maria, fit le signe de croix sur sa poi-
trine et Maria commença à gémir :
— Aïe… Aïe, mon père… mon père !
Maria se releva et en regardant autour d’elle, elle demanda :
— Qu’est-ce que c’est ?!...
Nous dîmes :
— Bon, allons-nous-en !
Nous attrapâmes Maria et la ramenâmes chez elle. Son père était un malheureux, parce que, même
s’il avait beaucoup d’argent et vivait dans l’aisance, Maria était ce qu’il avait de plus précieux et elle
était morte. Alors le père était très triste quand nous arrivâmes avec Maria et lui dîmes :
— Prends ta fille !
L’homme en fut tellement heureux qu’il débordait de joie. Mais, subitement, il redevint triste,
parce que les garçons commencèrent à discuter pour savoir lequel d’entre eux épouserait Maria. Tous
disaient avoir obtenu le droit de se marier avec Maria. Moi, je me contentais de regarder, simplement.
Ce fut alors que le père de Maria dit :
— Mes garçons, pourquoi vous disputez-vous de la sorte ?... Pouvez-vous m’expliquer la raison ?
Pedro dit :
— Écoutez, c’est le bateau que j’ai acheté qui nous a ramenés de là où nous étions jusqu’ici !
Paulo argumenta :
— C’est le miroir que j’ai acheté qui nous a montré Maria morte !
Et Manuel se défendit, en disant :
— Eh, eh… c’est moi qui l’ai ressuscitée ! Donc, c’est moi qui l’épouserai.
Le père de Maria regarda de toutes parts, et dit :
— Je ne sais pas comment faire… Mais je vais trouver une solution, maintenant !
Il réfléchit un peu et me regarda, il se mit en face de Maria, envoya sa main en arrière et donna une
forte gifle à Maria qui se transforma en trois Maria identiques. Il dit alors :
— Paulo, voici la tienne !... Pedro, voici la tienne !... Manuel, voici la tienne !
M’sieur Antonio, vous êtes témoin… Vous avez vu ce qui s’est passé ! Ne le racontez à personne car
il n’y a qu’ici que c’est arrivé.
« Haricot en amont, haricot en aval, que celui qui le sait mieux le raconte moins mal ! »
Un sac plein d’argent traîne par là… Que le plus jeune le ramasse avant qu’il ne soit trop tard !

— 261 —
5.

Local da colecta Lieu de collecte


Contadora Conteuse
1

1. Mais conhecida por “Mariâ-Agusta”, natural da freguesia Plus connue sous le nom de « Mariâ-Agusta », originaire
de São Salvador do Mundo, concelho do mesmo nome, de São Salvador do Mundo, municipalité du même nom,
ilha de Santiago. île de Santiago.

— 263 —
rapasinhu spértu




1



— 264 —








— 265 —
o rapaz matreiro
Era uma vez uma mulher mentirosa. Um certo dia, ela, que tinha uma novilha, disse para consigo:
— Eu minto muito!... No dia em que encontrar alguém que minta como eu ou mais, dou a esse
alguém a novilha!
Deixou então a casa e pôs-se a caminho, levando consigo a novilha. Andou, andou e, a certa altura,
chegou à casa de uma família, onde apenas encontrou um rapaz, a quem cumprimentou:
— Bom dia, como estás?... Rapaz, onde está a tua mãe?
— A minha mãe foi a Lisboa esgotar o mar para o transformar em horta!
Ela perguntou:
— Onde está o teu pai?
— O meu pai foi arrombar uma rocha para fazer do lugar um espaço de cultivo!
Então, comentou ela:
— Rapaz, pelo que acabo de ouvir, preciso de me sentar… Vou-me sentar mesmo!
Virou-se então para o rapaz e disse:
— Olha, entra em casa e traz-me um assento para me sentar!...
O rapaz entrou e passou imediatamente a colocar as cadeiras umas sobre outras e as cadeiras aca-
bavam caindo, e o rapaz sempre começando de novo. A mulher estranhando a demora, perguntou:
— Rapazinho, ainda não encontraste a cadeira?!...
Respondeu o miúdo:
— Não, estou tentando encontrar uma cadeira fêmea, porque as cadeiras machos costumam dar
beliscões nos traseiros das mulheres…
Ela disse:
— Olha, deixa para lá as cadeiras!... Dá-me, antes, um pouco de água do pote!
Indo ao pote, o rapaz apanhava uma caneca de água que, elevando-a, voltava a deitar toda a água no
pote, para recomeçar tudo de novo, numa rotina sem fim. A mulher, cansada de esperar, perguntou:
— Rapazinho, ainda não encontraste a água?...
— Dona, estou separando as águas de ontem, de anteontem e do dia anterior, para lhe levar a água
fresca de hoje!...
Ela disse:
— Rapazinho, deixa pra lá!... Traz-me, antes, lume para acender um cigarro!
Então o rapaz começou a mexer desordenadamente nas lenhas do fogão, ao que a mulher pergun-
tou:
— Que fazes?
— Estou à procura de lume azul e do amarelo, para lhe levar o mais brando!...
Retorquiu ela:
— Olha, deixa pra lá!...
Mudando de assunto, disse ela:
— Ouve cá, ao passar numa ribeira, encontrei uma camisa a secar com sete mangas!...
Respondeu o rapaz:
— Não digo que seja mentira, pois, na nossa zona, uma mulher deu à luz catorze crianças, com

— 266 —
catorze mãos cada!...
Então, disse ela:
— Olha, toma esta novilha!...
A mulher foi-se embora, e ele levou a novilha para a casa do rei, seu padrinho, a fim de ser fecunda-
da pelo touro do rei. O rei disse-lhe:
— Ouve cá, daqui a uma semana, podes vir buscar a tua novilha!...
— Está bem, meu padrinho, virei!...
O rapaz foi-se embora e, só passados sete anos, foi buscar a sua vaca. Quando chegou, disse:
— Padrinho, vim buscar a minha vaca!
O rei disse-lhe:
— Pega aquela que trouxeste e leva-a!...
O rapaz questionou:
— Padrinho, todo este tempo que a minha vaca tem andado cá, não deu nenhuma cria?!...
Ao que o padrinho respondeu:
— Os que lá estão, são todos filhos do meu boi!
Inconformado, disse o rapaz:
— Então, vou indo!
O padrinho tinha um pé de poilão na rua da sua casa pelo qual tinha tanta estimação, a ponto de
ter aí alguém à guarda, para evitar que as moscas se poisassem na árvore.
Então, à meia-noite, levantou-se o rapaz e, com um machado bem afiado, trepou na árvore, e foi-
-lhe dando golpes. O rei, ouvindo os golpes, perguntou:
— Quem está sobre o meu poilão?
— Sou eu!...
— Quem és tu?...
(O rapaz chamava-se Salvador)
— Padrinho, sou eu, Salvador!
— Salvador, que estás a fazer, a esta hora, aí em cima?!...
Respondeu:
— Estou com um problema sério!
— Que problema?
— Olhe, o pai está de parto esta noite… enganei-me na contagem dos meses!... Ele está acamado,
com tremuras, e eu não tenho nenhum tronco para aquecê-lo.
Ao que o rei reagiu:
— Quando é que viste um homem a dar à luz?
Responde o rapaz:
— Padrinho, desde que o seu boi começou a parir, todos os homens passaram a dar à luz!
Então, disse o rei:
— Desce daí depressa e pega em todo o rebanho que resultou da tua vaca, e desaparece!
Ao que o rapaz responde:
— Padrinho, é isso mesmo que eu quero!...
Desceu, recolheu o rebanho e foi-se embora.
Acabou: “sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais que conte me-
lhor!”

— 267 —
un garçon futé
Il était une fois une femme menteuse. Cette femme, qui possédait une génisse, se dit un jour :
— Je mens beaucoup !... Le jour où je trouverai quelqu’un qui ment autant ou plus que moi, je lui
donnerai cette génisse !
Elle sortit donc de chez elle et se mit en chemin, emmenant la vachette avec elle. Elle marcha,
marcha et, à un moment donné, elle arriva à la maison d’une famille où elle ne trouva qu’un garçon
qu’elle salua :
— Bonjour, comment vas-tu ?... Où est ta mère, mon garçon ?
— Ma mère est allée à Lisbonne pour assécher la mer et la transformer en potager !
Elle demanda :
— Où est ton père ?
— Mon père est allé défoncer un rocher pour créer à la place un champ de culture !
Alors, elle commenta :
— Mon garçon, d’après ce que je viens d’entendre, j’ai besoin de m’asseoir… Je vais donc m’as-
seoir !
Elle se tourna alors vers le garçon et dit :
— Écoute, entre dans la maison et apporte-moi un siège pour m’asseoir !...
Le garçon entra et entreprit immédiatement de mettre les chaises les unes sur les autres, et les chaises
finissaient par tomber, alors le garçon recommençait. La femme s’étonnant de l’attente, demanda :
— Petit, tu n’as pas encore trouvé de chaise ?!...
Le gamin répondit :
— Non, je suis en train d’essayer de trouver une chaise femelle, parce que les chaises mâles ont
l’habitude de pincer les fesses des femmes…
Elle dit :
— Écoute, laisse tomber les chaises !... Donne-moi, plutôt, un peu d’eau de la cruche !
Quand il arriva près de la cruche, le garçon versa de l’eau dans un gobelet et, en le levant, il rever-
sait toute l’eau dans le pot, pour tout recommencer à nouveau, dans une routine sans fin. La femme,
fatiguée d’attendre, demanda :
— Petit, tu n’as pas encore trouvé l’eau ?...
— Madame, je sépare les eaux d’hier, d’avant-hier et du jour d’avant, pour vous apporter de l’eau
fraîche d’aujourd’hui !...
Elle lui dit :
— Petit, laisse tomber !... Apporte-moi, plutôt, du feu pour allumer une cigarette !
Le garçon commença, alors, à remuer dans le désordre les bouts de bois dans le poêle et la femme
lui demanda :
— Que fais-tu ?
— Je cherche une flamme bleue et jaune, pour vous apporter la plus douce !...
Elle rétorqua :
— Écoute, laisse tomber !...
Changeant de sujet, elle dit :
— Écoute-moi, en passant une rivière, j’ai trouvé une chemise à sept manches qui était en train de
sécher !...
Le garçon répondit :
— Je ne dis pas que c’est un mensonge, parce que dans notre région, une femme a donné le jour à

— 268 —
quatorze enfants, avec quatorze mains chacun !...
Alors, elle dit :
— Tiens, prends cette vachette !...
La femme s’en alla et le garçon amena la vachette chez le roi, son parrain, pour la faire féconder par
le taureau du roi.
Le roi lui dit :
— Écoute-moi, d’ici une semaine, tu pourras venir chercher ta génisse !...
— C’est bien, parrain, je viendrai !...
Le garçon rentra chez lui alors, et ce n’est que sept ans plus tard qu’il retourna chercher sa vache.
Quand il arriva, il dit :
— Parrain, je suis venu chercher ma vache !
Le roi lui dit :
— Prends celle que tu avais amenée et emmène-là !...
Le garçon étonné demanda :
— Parrain, après tout le temps que ma vache est restée chez vous, elle n’a eu aucun petit ?!..
Ce à quoi le parrain répondit :
— Ceux qui sont là, sont tous des petits de mon taureau !
Peu convaincu, le garçon dit :
— Alors je m’en vais !
Le parrain, avait un fromager1 devant chez lui auquel il tenait énormément, au point de le faire
garder par quelqu’un, pour éviter que les mouches n’aillent se poser dessus. Alors, à minuit, le garçon
se leva et, avec une machette bien aiguisée, il grimpa dans l’arbre et se mit à donner des coups. Le roi,
entendant les coups, demanda :
— Qui est sur mon fromager ?
— C’est moi !...
— Qui toi ?...
(Le garçon s’appelait Salvador)
— Parrain, c’est moi, Salvador !
— Salvador, que fais-tu, à cette heure-ci, perché là-haut ?!...
Il répondit :
— J’ai un sérieux problème !
— Quel problème ?
— Voyez-vous, mon père est en train d’accoucher cette nuit… je me suis trompé en comptant les
mois !... Il est au lit, avec des tremblements et je n’ai pas de bois pour le réchauffer.
Sur quoi le roi réagit en disant :
— Quand est-ce que tu as vu un homme accoucher ?
Le garçon répondit :
— Parrain, depuis que votre taureau a commencé à mettre bas, tous les hommes se sont mis à
accoucher !
Alors, le roi dit :
— Descends vite de là et va prendre tout le troupeau qui est né de ta vache et disparais !
Ce à quoi le garçon répondit :
— Parrain, c’est exactement ce que je veux !...
Il descendit, rassembla son troupeau et s’en alla.
Et voilà : « Haricot en amont, haricot en aval, que celui qui le sait mieux le raconte moins mal ! »

— 269 —
6.

Local da colecta Lieu de collecte


Contadora Conteuse
1

1. Mais conhecida por “Mariâ-Agusta”, natural da freguesia Plus connue sous le nom de « Mariâ-Agusta », originaire
de São Salvador do Mundo, concelho do mesmo nome, de São Salvador do Mundo, municipalité du même nom,
ilha de Santiago. île de Santiago.

— 271 —
lobu ku prinsénsa

— 272 —

— 273 —
o lobo e a princesa
Havia um lobo que vivia sozinho, isolado. Sendo pescador, ia todos os dias à pesca, mas sempre sozi-
nho. Na sua ida e vinda da pesca, passava em frente à casa dum rei que tinha uma filha, a princesa, que
não gostava nada do lobo. Por isso, que fazia ela? Sempre que o lobo passasse, ela, que já tinha prepa-
rado um bacio com urina e fezes, atirava-lhe à cara todo o conteúdo do bacio.
O lobo, resignado, sacudia a cabeça, e seguia o seu caminho, pois, tratava-se da princesa, e ele era
um pobre coitado. Certo dia, ao atirar a vara à agua, pescou um peixe encantado, que lhe disse:
— Ó lobo… já me apanhaste mesmo!... Mas, não me mates, não me comas!...
O lobo respondeu:
— Há muitos dias que aqui venho e não consigo nada… hoje, que já te apanhei, vou te largar?!...
Disse-lhe o peixe:
— Ouve cá, se me deixares ir, não vais te arrepender!
Então, considerou o lobo:
— Bem, há muitos dias que aqui venho sem nada encontrar, pode ser que não morra, se te largar…
Então, soltou o peixe. Passados cinco minutos, voltou o peixe encantado trazendo-lhe muitos pei-
xes, e disse-lhe:
— Toma, a estes podes comer!
Deu-lhe ainda uma varinha mágica, e disse-lhe:
— Esta é uma varinha mágica… Tudo o que pedires, ser-te-á concedido!
Vinha o lobo a passar em frente à casa do rei, quando a princesa lhe atirou à cara, mais uma vez, o
habitual conteúdo do bacio. O lobo que deixava todo o conteúdo secar sobre si mesmo, sem se limpar
ou lavar, continuou sua caminhada e disse assim:
— Ó varinha mágica, em virtude de Deus te me ter dado neste mundo, que a princesa fique grávida
de um filho meu!
Passado algum tempo, a princesa que não ia para nenhum lugar sozinha, que tinha tudo em casa,
sempre ao lado da mãe e do pai, apareceu grávida do nada. Levaram-na, incrédulos, a todos os médi-
cos, porque ela só podia estar doente. Grávida é que não, já que não tinha tido relações com ninguém.
Entretanto, todos os médicos eram unânimes em afirmar que ela estava grávida.
Foi então que o rei a levou para a casa do sábio, e este disse-lhe:
— A sua filha está grávida, mas não teve relações com ninguém… Ela está grávida por virtudes!
O rei perguntou:
— O que faço para saber quem é o pai da criança?
O sábio disse-lhe:
— Quando a criança nascer, trará um sinal do pai dentro da mão.
A criança ao nascer, nasceu com uma bola dentro da mão. O rei foi perguntar ao sábio o que deveria
fazer para saber quem era o pai. O sábio disse-lhe:
— O senhor deve organizar uma festa e convidar a todos. A criança só vai entregar a bola ao pai
dela, e a mais ninguém!
Então, preparou a festa e convidou toda a gente para a festa. Todos estavam ansiosos por receber a
bola da criança, independentemente de serem casados, padres ou bispos, pois, tratava-se da única filha

— 274 —
do rei, e o rei já tinha dito que quem fosse o pai da criança, havia de se casar com a sua filha. E palavra
do rei não se desmente.
Na festa todos se mostraram contentes. A princesa estava sentada com a sua criança ao colo. Todos
os que entravam iam brincar com a criança. Ela, a princesa, por vezes se encantava com um ou outro
pretendente a pai, e aí até se esforçava para que a criança brincasse com ele. A criança, todavia, manti-
nha escondida a mão com a bola, que não entregou a ninguém.
Então, foi outra vez o rei à casa do sábio que lhe perguntou:
— O senhor convidou mesmo toda a gente à festa?
Respondeu:
— Convidei a todos!
— Convidou todos os homens?
Respondeu:
— Convidei todos os homens!
Disse-lhe então o sábio:
— Veja bem!... Eu estava lá! Mas, quando eu ia para festa e ao passar pelo funco do lobo, ele lá esta-
va com seu fumo, e, no regresso, ele estava sentado à porta do seu funco. A ele o senhor não convidou.
Respondeu o rei:
— Não!... A minha filha iria apaixonar-se por ele?!...
O sábio disse-lhe:
— Ouça, não o menospreze!... Ele é macho!...
O rei regressou e convidou de novo a todos, incluindo o lobo, mas o lobo não compareceu. Foi
preciso mandar buscá-lo. Quando ele se aproximou da casa do rei, a criança que se escondia entre os
braços da mãe, sempre que alguém aparecesse, mal apareceu o lobo, com aquela sua barriga, a criança
abriu bem olhos.
O lobo abeirou-se da porta, mas não queria entrar, enquanto a princesa tentava esconder a criança
que se atirou ao lobo, entregando-lhe a bola. A princesa, de um pulo, caiu desmaiada no chão, de tan-
to desgosto. Então, todos aplaudiram, e à princesa, que depois de muito chorar e tentar matar-se, só
restou casar-se com o lobo.
Uma vez casada com o lobo, cobriu a cabeça com um lenço e foi se sentar à beira-mar, chorando
amargamente, enquanto o lobo regressava ao funco com a criança.
Passado algum tempo, o lobo foi para cima da casa do rei e pediu:
— Minha varinha mágica, em virtude de Deus te me ter dado, ergue-me aqui um prédio tal, que
a casa do senhor rei passe a comparar-se à cozinha deste meu prédio, e assim eu possa trazer a minha
mulher e o meu filho para junto de mim, e me transforme no homem mais lindo e delicado do mundo!
Os seus desejos foram imediatamente satisfeitos. Então foi buscar a sua mulher e o seu filho para
morarem no prédio, enquanto a mulher ficava feliz e contente com todos os amigos e familiares.
Acabou: “sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais, conte melhor!”

— 275 —
le loup et la princesse
Il était une fois un loup qui vivait tout seul, isolé. Comme il était pêcheur, il allait tous les jours à la
pêche, mais toujours tout seul. Dans ses allées et venues de la pêche, il passait devant la maison d’un roi
qui avait une fille, la princesse, à qui le loup ne plaisait pas du tout. Et donc, que faisait-elle ? Chaque
fois que le loup passait, elle, qui avait déjà préparé un bassin avec de l’urine et des selles, lui jetait à la
figure tout le contenu du bassin.
Le loup résigné, secouait la tête et poursuivait son chemin, car il s’agissait de la princesse et lui était
un pauvre misérable. Un jour, en jetant sa ligne à l’eau, il pêcha un poisson enchanté qui lui dit :
— Ô loup… tu m’as donc attrapé !... Mais, ne me tue pas, ne me mange pas !...
Le loup répondit :
— Cela fait plusieurs jours que je viens et que je ne prends rien… et aujourd’hui, que je t’ai attrapé,
je devrais te relâcher ?!...
Le poisson lui dit :
— Écoute bien, si tu me laisses aller, tu ne le regretteras pas !
Alors, le loup considérant la chose, dit :
— Bien, cela fait plusieurs jours que je viens ici sans rien prendre, si je te relâche, je n’en mourrai
sans doute pas…
Et il laissa aller le poisson. Cinq minutes après, le poisson enchanté revint, lui apportant de nom-
breux poissons et il lui dit :
— Tiens, ceux-ci tu peux les manger !
Il lui donna aussi une baguette magique et lui dit :
— Cette baguette est magique… Tout ce que tu demanderas, te sera accordé !
Lorsque le loup vint à passer devant la maison du roi, la princesse lui jeta au visage, une fois encore,
l’habituel contenu du bassin. Le loup, qui laissait tout le contenu sécher sur lui, sans s’essuyer ni se
laver, continua son chemin, et dit ceci :
— Ô baguette magique, puisque c’est à moi que Dieu t’a donnée en ce monde, que la princesse se
retrouve enceinte d’un enfant de moi !
Au bout de quelque temps, la princesse, qui n’allait nulle part toute seule, qui avait tout chez elle,
qui restait toujours aux côtés de sa mère et de son père, se retrouva enceinte sans savoir comment.
Sans pouvoir y croire, on l’emmena voir tous les médecins, car il ne pouvait s’agir que d’une maladie.
Impossible qu’elle soit enceinte, puisqu’elle n’avait eu de relations avec personne. Cependant, tous les
médecins étaient unanimes à affirmer qu’elle était enceinte.
C’est alors que le roi l’emmena voir le sage et celui-ci lui dit :
— Votre fille est enceinte, mais elle n’a eu de rapport avec personne… Elle est enceinte par sorti-
lège !
Le roi demanda :
— Comment faire pour savoir qui est le père de l’enfant ?
Le sage lui dit :
— Quand l’enfant naîtra, il portera un signe de son père dans la main.
L’enfant à sa naissance vint au monde avec une balle dans la main. Le roi alla demander au sage ce

— 276 —
qu’il devait faire pour savoir qui était le père. Le sage lui dit :
— Sire, il vous faut organiser une fête et inviter tout le monde. L’enfant remettra la balle seule-
ment à son père et à personne d’autre !
Il prépara alors la fête et y invita tout le monde. Tous étaient désireux de recevoir la balle de l’en-
fant, même les hommes mariés, les prêtres et les évêques, car il s’agissait de la fille unique du roi, et le
roi avait bien dit que celui qui serait le père de l’enfant devrait épouser sa fille. Et la parole du roi ne
doit pas être mise en doute.
Pendant la fête tous étaient contents. La princesse était assise avec son enfant sur les genoux. Tous
ceux qui entraient allaient jouer avec l’enfant. La princesse, elle, était parfois sous le charme de l’un ou
l’autre prétendant au titre de père, et elle s’efforçait alors de faire jouer l’enfant avec lui. Mais l’enfant
tenait cachée sa main avec la balle qu’il ne remit à personne.
Alors, le roi se rendit à nouveau à la maison du sage qui lui demanda :
— Sire, vous avez bien invité tout le monde à la fête ?
Il répondit :
— J’ai invité tout le monde !
— Vous avez invité tous les hommes ?
Il répondit :
— J’ai invité tous les hommes !
Le sage lui dit alors :
— Écoutez -moi !... J’y étais ! Mais, quand je me suis rendu à la fête et que je suis passé devant la
case du loup j’ai vu de la fumée sortir et au retour, il était assis devant son logis. Sire, vous ne l’avez pas
invité.
Le roi répondit :
— Non !... Est-ce que ma fille irait s’amouracher de lui ?!...
Le sage lui dit :
— Écoutez, ne le méprisez pas !... C’est un mâle !...
Le roi partit et invita à nouveau tout le monde y compris le loup, mais le loup ne se présenta pas
à la fête. Il fallu aller le chercher. Alors qu’il s’approchait de la maison du roi, l’enfant, qui se cachait
dans les bras de sa mère chaque fois que quelqu’un se présentait, dès que le loup arriva, avec son ventre,
l’enfant ouvrit tout grand les yeux.
Le loup s’approcha de la porte, mais ne voulait pas entrer, tandis que la princesse essayait de cacher
l’enfant, qui se jeta sur le loup, en lui remettant la balle. La princesse tomba tout à coup par terre,
évanouie, tant elle était horrifiée. Mais tout le monde applaudit et la princesse, après avoir beaucoup
pleuré et tenté de mettre fin à ses jours, n’eut d’autre choix que de se marier avec le loup.
Une fois mariée au loup, elle se couvrit la tête avec un foulard et alla s’asseoir au bord de la mer,
pleurant amèrement, tandis que le loup retournait dans sa cabane avec l’enfant.
Au bout de quelque temps, le loup alla jusqu’à la maison du roi et demanda :
— Ma baguette magique, puisque c’est à moi que Dieu t’a donnée, érige-moi un tel palais qu’on
puisse comparer la maison du roi à la cuisine de ce palais, de sorte que je puisse faire venir ma femme et
mon enfant près de moi et que je me transforme en l’homme le plus beau et le plus délicat du monde !
Ses désirs furent immédiatement satisfaits. Il alla alors chercher sa femme et son fils pour qu’ils
habitent dans son palais, si bien que sa femme vécut heureuse et contente avec tous ses amis et les
membres de sa famille.
Et voilà, « Haricot en amont, haricot en aval, que celui qui le sait mieux le raconte moins mal ! »

— 277 —
7.

Local da colecta Lieu de collecte


Contadora Conteuse
1

1. Natural da freguesia de Santa Catarina, concelho de


Santa Catarina, ilha de Santiago. Originaire de Santa
Catarina, municipalité de Santa Catarina île de Santiago.

— 279 —
sabel belelê

1






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— 281 —
isabel belelê
Isabel Belelê era uma menina muito bonita e engraçada. Pouco depois de ter nascido, ficou órfã de pai
e mãe. Ficou sozinha. Criou um cão e este cão era tudo para ela: servia-lhe de guarda e era guarda da
sua casa.
À noite, deitavam-se na mesma cama. Os rapazes gostavam dela, mas ela não dava nenhuma aten-
ção a nenhum deles, e a ninguém mesmo. Era toda reservada, com o seu cão.
Certo dia, à noite, ela ouviu uma voz dizendo:
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, pega o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de ouro...1
O cão respondeu:
— Iepu, iepu, Isabel não está cá… Iepu, iepu, Isabel não está cá!... Isabel já está no seu primeiro
sono!...
Passado algum tempo:
— Isabel Belelê, Isabel Beleêe, pega o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de ouro!...
Esse tal levava um saco de moedas de ouro! Por isso, queria conhecê-lo. Então, levantou-se e pôs o
cão no quintal. Entretanto, o desconhecido voltou a dizer a mesma coisa. Como o cão voltou a repetir,
ela pegou no cão e colocou-o dentro de uma espécie de mala, para o cão não falar, porque ela queria
aquele dinheiro. Então, o desconhecido disse:
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, pega o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de ouro!...
O cão ainda respondeu:
— Iepu, iepu, Isabel não está cá… Iepu, iepu, Isabel não está cá!... Isabel já está no seu primeiro
sono!...
Ela levantou-se, matou o cão e enterrou-o dentro do quintal.
No dia seguinte, voltou o desconhecido, e o cão, mesmo morto, respondeu. Isabel levantou-se,
queimou o cão que ficou em cinzas. O desconhecido voltou a dizer:
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, pega-me o teu cão, vou à tua casa, levar-te um saco de moedas de
ouro!...
Tendo em conta que mesmo as cinzas do cão reagiam ao desconhecido, ela raspou as cinzas, colo-
cou-as num pano e foi deitá-las ao mar. Julgava ela que, dessa forma, iria ter a chance de ficar com aque-
le saco de moedas de ouro. Abriu então a porta e o desconhecido entrou. Levantou-se ela e perguntou:
— Você?!... Para que servem esses dentes?...
— Unm!... Servem para eu te comer!
— Esse chifre para que serve?...
— Serve para te colocar em cima dele!
— E essa mão grande, para que serve?
— É com ela que te agarro para andarmos juntos!

— 282 —
Ela começou então a gritar, a gritar, mas os vizinhos não a socorreram, porque todos sabiam o que
andava ela a tramar. O desconhecido colocou-a sobre o chifre e andou com ela de porta em porta,
enquanto ela dizia:
— Vizinhos, vizinhos, socorrei-me porque caí numa desgraça… Estou sobre o chifre de coisa ruim,
coisa ruim de porta adentro, coisa ruim de porta afora!
Os vizinhos responderam:
— Isabel Belelé, Isabel Belelê, passa pelo teu caminho… passa pelo teu caminho!
Foi à outra porta:
— Minha comadre, minha comadre, me ajude, porque caí em desgraça… Estou sobre o chifre de
coisa ruim, coisa ruim de porta adentro, coisa ruim de porta afora!
A comadre respondeu-lhe:
— Comadre, comadre… comadre, comadre, passe lá pelo seu caminho!
Ninguém a socorreu. Depois, surgiu mais uma coisa ruim, meteram-lhe os chifres dos dois lados,
retalharam-na e deixaram-na na ribeira.
Ficou a história para que todos saibamos que foi satanás quem fez o dinheiro. Por causa do dinhei-
ro em ouro, queria ela conhecer o desconhecido, e assim acabou chegando ao ponto, que poderia ter
evitado.
“Sapatinhar ribeira acima, sapatinhar ribeira abaixo, quem souber mais, conte melhor!”

— 283 —
isabel belelê
Isabel Belelê était une fille très belle et très drôle. Peu après sa naissance, elle devint orpheline de père et
de mère. Elle resta seule. Elle éleva un chien qui était tout pour elle : il lui servait de gardien et gardait
aussi sa maison.
La nuit, ils couchaient dans le même lit. Les garçons aimaient bien Isabel Belelê, mais elle ne prêtait
la moindre attention à aucun d’eux, vraiment à personne. Elle était très réservée, avec son chien.
Un jour, pendant la nuit, elle entendit une voix qui disait :
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, retiens ton chien, je vais chez toi t’apporter un sac de pièces d’or...1
Le chien répondit :
— Ouah, ouah, Isabel n’est pas là… Ouah, ouah, Isabel n’est pas là !... Isabel dort déjà de son pre-
mier sommeil !...
Quelque temps après :
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, retiens ton chien, je vais chez toi t’apporter un sac de pièces d’or !...
Cet individu apportait un sac de pièces d’or ! Aussi, voulait-elle le connaître. Alors, elle se leva et
amena le chien dans la cour. Pendant ce temps, l’inconnu redit la même chose. Comme le chien répon-
dit à nouveau, elle le prit et le mit dans une sorte de malle pour qu’il ne parle plus, car elle voulait cet
argent.
Alors l’inconnu dit :
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, retiens ton chien, je vais chez toi t’apporter un sac de pièces d’or !...
Le chien répondit encore :
— Ouah, ouah, Isabel n’est pas là… Ouah, ouah, Isabel n’est pas là !... Isabel dort déjà de son pre-
mier sommeil !...
Elle se leva, tua le chien et l’enterra dans la cour.
Le lendemain, l’inconnu revint et le chien, même mort, répondit. Isabel se leva, brûla le chien qui
devint cendres. L’inconnu dit encore :
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, retiens ton chien, je vais chez toi t’apporter un sac de pièces d’or !...
Étant donné que même les cendres du chien réagissaient à l’inconnu, elle racla les cendres, les mit
dans un tissu et alla les jeter à la mer. Elle pensait qu’ainsi elle aurait la chance de prendre possession de
ce sac de pièces d’or. Alors elle ouvrit la porte et l’inconnu entra. Elle se leva et demanda :
— C’est toi ?!... À quoi te servent ces dents ?...
— Hum !... Elles servent à te manger !
— Cette corne, à quoi sert-elle ?...
— Elle sert à te porter !
— Et cette grande main, à quoi sert-elle ?
— C’est avec elle que je te tiendrai pour que nous partions ensemble !

— 284 —
Alors, elle se mit à crier, crier, mais les voisins ne lui portèrent pas secours, car tous savaient ce
qu’elle avait fait. L’inconnu la mit sur sa corne et alla avec elle de porte en porte, pendant qu’elle
disait :
— Voisins, voisins, aidez-moi car je m’enfonce dans le malheur… Je suis sur la corne d’une chose
maléfique, une chose mauvaise au dedans, une chose mauvaise au dehors !
Les voisins répondirent :
— Isabel Belelê, Isabel Belelê, passe ton chemin… passe ton chemin !
Elle alla à une autre porte :
— Ma commère, ma commère, aidez-moi car je m’enfonce dans le malheur… Je suis sur la corne
d’une chose maléfique, une chose mauvaise au dedans, une chose mauvaise au dehors !
La commère lui répondit :
— Commère, commère… commère, commère, passez donc votre chemin !
Personne ne l’aida. Puis, une autre chose mauvaise surgit. Toutes deux lui enfoncèrent leurs cornes
des deux côtés, la mirent en pièces et la laissèrent dans le ruisseau.
L’histoire est là pour que nous sachions tous que c’est Satan qui a fait l’argent. À cause des pièces
d’or, Isabel Belelê voulut connaître l’inconnu et arriva ainsi au point qu’elle aurait pu éviter.
« Haricot en amont, haricot en aval, que celui qui le sait mieux le raconte moins mal ! »

— 285 —
8.

Local da colecta Lieu de collecte


Contadora Conteuse
1

1. Mais conhecida por “Odília”, natural da freguesia de


Nossa Senhora da Conceição, concelho de São Filipe, ilha Nossa Senhora da Conceição, municipalité de São Filipe,
do Fogo. île de Fogo.

— 287 —
família póbri i galinha
inkantadu


1

b a

b a

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b a

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família pobre e
galinha encantada
Havia uma mulher que tinha um filho que se chamava Cristóvão. Este foi ao campo e encontrou uma
galinha-do-mato que cantava agradavelmente. Quando regressou a casa, disse:
— Mamã, fui ao campo e encontrei uma galinha-do-mato a cantar agradavelmente! Continuou:
— Mamã, dá-me uma quarta de milho para eu ir apanhá-la.
A mãe deu-lhe uma quarta de milho e ele foi correr atrás da galinha. Tendo deitado todo o milho
ao chão, mesmo assim a galinha não se deixou apanhar. Regressou a casa e disse à mãe:
— Mamã, a galinha não me deixou apanhá-la!
No dia seguinte, voltou ao campo, lançou ao chão mais uma quarta de milho, mas não conseguiu
apanhá-la. No terceiro dia, conseguiu apanhá-la. E quando a deteve, a galinha pôs-se a cantar:
— Serafim de ouro, chão de Guiné, praia dendé1, matador de frangos em achadas… Se me apanha-
res, é tua riqueza… tua riqueza que Deus te deu!
Voltou à casa e disse:
— Oh! Mamã!... A galinha canta tão agradavelmente!...
A mãe era pobre… Eles eram pobres, moravam numa casinha, um funco. Aquela galinha era a
riqueza deles. Dormiu naquele funquinho e, ao amanhecer, acordou rico… com muita casa e todas as
coisas à vontade. Então, disse à mãe:
— Mamã, agora tenho de ir à Praia buscar a minha madrinha e o meu padrinho para virem ver a
minha galinha e apreciarem como ela canta.
Antes de ir à Praia, colocou a galinha dentro de uma vitrina e deixou-a lá para que ninguém pegasse
nela. Quando foi, apareceu uma amiga da mãe que disse a esta:
— Venho ver a galinha do Cristóvão!
A mãe respondeu:
— Lá onde ele a colocou, é para não ser tocada!...
Mas a galinha respondeu:
— Para eu cantar melhor ainda, coloca-me sobre a mesa.
E a galinha repetiu essas palavras, por três vezes. Então, a mãe disse:
— Vou tirá-la!
Tirou a galinha e colocou-a em cima da mesa. A galinha cantou:
— Serafim de ouro, chão de Guiné, praia dendé, matador de frangos em achadas… Se me apanha-
res, é tua riqueza… tua riqueza que Deus te deu!
De imediato, a galinha voou. Naquele tempo, havia Barlavento e Sotavento e estavam um à frente e
o outro atrás. A galinha voou e pousou sobre o Sotavento2 que vinha à frente, e cantando, disse:
— Serafim de ouro, chão de Guiné, praia dendé, matador de frangos em achadas… Se me apanha-

— 290 —
res, é tua riqueza… tua riqueza que Deus te deu!
Cristóvão disse:
— Oooh!… A mamã já me soltou a galinha!...
Entretanto, a galinha disse-lhe que, quando chegasse a casa, fosse esgravatar debaixo da soleira da
porta, e retirasse a riqueza que ela tinha colocado ali. Quando chegou, disse:
— Oooh!… Mamã, a senhora soltou a minha galinha!
Ela respondeu:
— A galinha disse-me que ela cantaria ainda melhor, se a colocasse sobre a mesa… e voou!…
Quando foi para debaixo da soleira da porta, para retirar a riqueza que a galinha tinha ali deixado
para ele, escavou e encontrou todo o dinheiro, conforme a galinha lhe dissera. Então, disse:
— A galinha já tinha cantado!
Concluindo:
— Mamã!…
A galinha, no alto daquele barco, era difícil de ser apanhada. Ficou, entretanto, com a sua riqueza,
a riqueza que a galinha lhe deu.
A estória terminou e o balaio ficou de borco.

— 291 —
la famille pauvre et la
pintade enchantée
Il était une fois une femme qui avait un fils appelé Cristóvão. Celui-ci partit à la campagne et trouva
une pintade qui chantait agréablement. Quand il rentra à la maison, il dit :
— Maman, je suis allé à la campagne et j’ai trouvé une pintade qui chantait tellement bien !
Il continua :
— Maman, donne-moi un litre de maïs que j’aille l’attraper.
Sa mère lui donna un litre de maïs et il se mit à courir après la pintade. Il eut beau répandre tout le
maïs par terre, la pintade ne se laissa pas prendre. Il revint à la maison et dit à sa mère :
— Maman, la pintade ne m’a pas laissé l’attraper !
Le lendemain, il retourna à la campagne, répandit encore par terre un litre de maïs, mais il ne réus-
sit pas à l’attraper.
Le troisième jour, il réussit à l’attraper. Et quand il la saisit la pintade se mit à chanter :
— Séraphin d’or, terre de Guinée, plage dendé1, tueur de poulets dans les achadas2… si tu m’at-
trapes, ce sera ta richesse… ta richesse que Dieu t’a donnée !
Il rentra à la maison et dit :
— Oh ! Maman !... La pintade chante si bien !...
Sa mère était pauvre… Ils étaient pauvres et ils logeaient dans une petite maison, un funco3. Cette
pintade était leur richesse. Il dormit dans ce petit funco et au lever du jour, quand il se réveilla il était
riche… avec beaucoup de maisons et tout à volonté.
Alors il dit à sa mère :
— Maman, maintenant je dois aller à Praia chercher ma marraine et mon parrain pour qu’ils
viennent voir ma pintade et apprécier son chant.
Avant d’aller à Praia, il mit la pintade dans une vitrine et l’y laissa pour que personne ne la prenne.
Quand il partit, une amie de sa mère arriva et dit à celle-ci :
— Je viens voir la pintade de Cristóvão !
La mère répondit :
— Là où il l’a mise, il ne faut pas la toucher !…
Mais la pintade répondit :
— Pour que je chante mieux encore, pose-moi sur la table.
Et la pintade répéta trois fois ces mots. Alors la mère dit :
— Je vais la sortir !
Elle sortit la pintade et la posa sur la table. La pintade chanta :

— 292 —
— Séraphin d’or, terre de Guinée, plage dendé, tueur de poulets dans les achadas… si tu m’attrapes,
ce sera ta richesse… ta richesse que Dieu t’a donnée !
Soudain, la pintade s’envola. À cette époque-là, il y avait Barlavento et Sotavento1, l’un était devant
et l’autre derrière. La pintade s’envola et se posa sur Sotavento qui était devant, et dit en chantant :
— Séraphin d’or, terre de Guinée, plage dendé, tueur de poulets dans les achadas… si tu m’attrapes,
ce sera ta richesse… ta richesse que Dieu t’a donnée !
Cristóvão dit :
— Oooh !… Voilà que maman a relâché la pintade !...
Entre-temps, la pintade lui dit, dès qu’il arriverait à la maison, de gratter sous le seuil de la porte et
d’en retirer la richesse qu’elle y avait déposée. Quand il arriva, il dit :
— Oooh !… Maman, vous avez relâché ma pintade !
Elle répondit :
— La pintade m’a dit qu’elle chanterait encore mieux si je la posais sur la table… et elle s’est envo-
lée !
Quand il alla vers le seuil de la porte, pour retirer la richesse que la pintade y avait laissée pour lui,
il creusa et trouva tout l’argent, comme le lui avait dit la pintade. Alors il dit :
— C’est bien ce qu’avait chanté la pintade ! !
Pour conclure :
— Maman !…
La pintade une fois perchée sur ce bateau, c’était difficile de l’attraper. Il garda cependant sa ri-
chesse, la richesse que la pintade lui avait donnée.
L’histoire est finie, le panier aussi.

— 293 —
[Ka´bet] [´nki] [kuju´ba]
Curiosidade de kinancoi

Bïrïng bab daame nda bëde nnis En


Dois irmãos desavindos Àp
Àl
s’entendaient pas

— 294 —
Guiné-Bissau Guinée-Bissau

Promessa Cumprida
Promesse tenue

E na buska algin pa reynansa Musoh Fula Sotata


À procura de um Rei História de duas rivais
À la recherche d’un roi Histoire de deux rivales

Siwoolo Siwoolo Wünak na wüngërbe


yehyeng kürleng Corrida entre o macaco
História do Mam e a tartaruga
Tamba e do búfalo Course entre le singe
Histoire de Mam et la tortue

— 295 —
9.
2

Conto bijagó Conte bijago1 Local da colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma
de Guinée-Bissau pour les langues dans lesquelles ces
contes ont été collectés.
versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont 2. Garça-boieira.
fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe 3. Héron-garde-bœuf.

— 297 —
[ka´bet] [´nki] [kuju´ba]

— 298 —
Curiosidade de kinancoi
Uma vez o kinancoi e a coruja viajaram para uma ilha, onde foram hospedados por um homem. A
coruja tinha as penas levantadas nos dois lados da cabeça como se fossem cornos e constantemente
ameaçava atacar o kinancoi caso este recusasse cumprir as suas ordens.
Todas as manhãs, entre tantas outras ordens a coruja dizia ao kinancoi que lhe pusesse água na casa
de banho. Quando o kinancoi queria recusar a coruja dizia-lhe em tom de ameaça:
— Kinancoi, faz isto senão vou te maltratar com o meu mungumungu!
Mungumungu eram as tais penas levantadas em jeito de cornos.
O kinancoi não tinha outra alternativa senão obedecer, para evitar que fosse machucado.
Um dia o homem que os recebeu na ilha comprou dez litros de vinho de palma e disse-lhes:
— Meus queridos, bebam este vinho de palma.
O kinancoi ofereceu-se logo para ser ele a servir o vinho, proposta imediatamente aceite pela coruja
que se achava chefe. De tanto beber, a coruja embebedou-se até perder o controlo e deitou-se na cama
a dormir.
O kinancoi não bebeu tanto vinho como a coruja, com receio do mungumungu e também porque
queria saber se a coruja tinha realmente cornos.
Enquanto a coruja, embriagada, dormia, o kinankoi observava a sua cabeça para se certificar se
tinha cornos. Soprou-lhe na cabeça até as penas se levantarem mas, não viu cornos nenhuns. Assim, o
kinancoi descobriu que a coruja não tinha cornos.
A coruja adormecida, ao sabor do vento, murmurava:
— Que bom vento!
Depois desta descoberta, o kinancoi foi de pronto, sem medo, entornar o balde de água que tinha
ido buscar para a coruja tomar banho.
Quando ela acordou, sem saber que tinha sido descoberta, começou a gritar, como habitualmente.
— Kinancoi, onde está o balde de água para eu tomar banho?
O kinancoi respondeu dizendo que a água tinha sido derramada mas, a coruja foi insistindo com as
suas ordens até que o kinancoi confiante replicou:
— Hoje eu não vou, tu vais catar água para ti. Faz o que quiseres.
A coruja voltou a ameaçar ferir o Kinancoi com o seu mungumungu mas este retorquiu:
— Olha coruja, se brincares comigo vais conhecer a verdade, eu já sei que aquilo que tens na cabeça
não são chifres. Se eu te pegar, deito-te ao chão e arranco aquelas coisas que tu tens na cabeça.
A Coruja atónita perguntou,
— O que estás a dizer kinancoi?
O kinancoi, sem contestar, pediu à coruja que fosse chamar o dono da casa que, ao se inteirar do
desentendimento que havia entre os seus dois hóspedes, pô-los a lutar para ver quem era o mais forte.
A coruja fez uma breve preparação indo para trás e para a frente. Mas, quando decidiu avançar para
o embate com o kinancoi, este limitou-se a soprar em direcção à cabeça dela. As penas arreganharam-se
e puseram a descoberto o embuste da coruja.
As crianças que assistiam ao combate, gritaram em coro,
— Oouoo!
É por esta razão que a coruja se refugiou no mato e ficou a viver definitivamente na floresta, no
cume das palmeiras.

— 299 —
la curiosité du kinancoi
Un jour, le kinancoi et le hibou partirent en voyage sur une île où ils furent hébergés par un homme.
Le hibou avait les plumes dressées de chaque côté de la tête, comme si c’était des cornes, et menaçait
constamment d’attaquer le kinancoi au cas où celui-ci refuserait d’obéir à ses ordres.
Tous les matins, parmi tous les ordres que le hibou donnait au kinancoi, il lui disait de lui apporter
de l’eau dans la salle de bains. Lorsque le kinancoi s’apprêtait à refuser, le hibou lui disait sur un ton
menaçant :
— Kinancoi, fais-le sinon je vais te faire mal avec mes mungumungu !
Les mungumungu, c’étaient ces plumes dressées comme des cornes.
Le kinancoi n’avait d’autre alternative que d’obéir pour éviter d’être blessé.
Un jour, l’homme qui les avait reçus sur l’île acheta dix litres de vin de palme et leur dit :
— Chers amis, buvez ce vin de palme.
Le kinancoi proposa sur-le-champ de servir le vin, la proposition fut aussitôt acceptée par le hibou
qui se prenait pour le chef. À force de boire, le hibou s’enivra jusqu’à ce que la tête lui tourne et il se
mit au lit pour dormir.
Le kinancoi ne but pas autant de vin que le hibou, par crainte du mungumungu et aussi parce qu’il
voulait savoir si le hibou avait réellement des cornes.
Pendant que le hibou, ivre, dormait, le kinancoi observa sa tête pour vérifier s’il avait des cornes.
Il lui souffla sur la tête jusqu’à ce que les plumes se soulèvent, mais ne vit pas la moindre corne. C’est
ainsi que le kinancoi découvrit que le hibou n’avait pas de cornes.
Le hibou endormi, caressé par le souffle, murmura :
— Quel vent délicieux !
Aussitôt après cette découverte, le kinancoi renversa sans crainte le seau d’eau qu’il était allé cher-
cher pour que le hibou prenne son bain.
Quand il se réveilla, ignorant qu’il avait été découvert, le hibou commença à crier, comme d’habi-
tude.
— Kinancoi, où est le seau d’eau pour que je prenne mon bain ?
Le kinancoi répondit en disant que l’eau avait été renversée, mais le hibou persista à donner ses
ordres jusqu’à ce que le kinancoi, plein d’assurance, répliquât :
— Aujourd’hui, moi je n’y vais pas, va chercher ton eau toi-même. Fais comme tu voudras.
Le hibou recommença à menacer de blesser le kinancoi avec son mungumungu, mais celui-ci rétor-
qua :
— Écoute, hibou, si tu veux m’embêter, tu vas connaître la vérité : je sais maintenant que ce que
tu as sur la tête, ce ne sont pas des cornes. Si je t’attrape, je te jette par terre et je t’arrache ce que tu as
sur la tête.
Le hibou stupéfait demanda :
— Mais qu’est-ce que tu dis, kinancoi ?
Le kinancoi, sans répondre, demanda au hibou d’aller chercher le propriétaire de la maison qui,

— 300 —
apprenant le différend qui existait entre ses deux hôtes, organisa un combat entre eux pour voir qui
était le plus fort.
Le hibou fit une brève préparation, allant d’arrière en avant, mais quand il se décida à affronter le
kinancoi, celui-ci se limita à souffler en direction de sa tête. Les plumes s’écartèrent révélant le men-
songe du hibou.
Les enfants qui regardaient le combat, crièrent en chœur :
— Ououoh !
C’est pour cette raison que le hibou se réfugia dans les bois et vécut depuis lors dans la forêt, perché
tout en haut des palmiers.

— 301 —
10. 1

Conto cassanga Conte cassanga Local da colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

as línguas em que estes contos foram recolhidos. Les de Guinée-Bissau pour les langues dans lesquelles ces
versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont contes ont été collectés.

— 303 —
bïrïng bab daame
nda bëde nnis

— 304 —
— 305 —
— 306 —
dois irmãos desavindos
Numa aldeia, havia dois irmãos em permanente divergência, mas que teimavam em permanecer jun-
tos, em casa dos pais. Mesmo quando o mais velho se casou, as querelas continuaram, não obstante os
esforços da sua mulher no sentido de os dois se entenderem.
O irmão mais novo também contraiu matrimónio mas, como as relações não melhoravam, ele op-
tou por abandonar a aldeia natal e construir a sua casa noutro local, deixando toda a herança ao irmão.
No início, no novo local, ele começou a ganhar a vida cortando lenha e vendendo carvão. Ia dia-
riamente ao mato à procura de lenha. Um dia viu um grupo de cavaleiros a passar. Eram ladrões, que
iam roubar ouro, e que voltariam sete dias depois. Precisamente no sétimo dia, o grupo de gatunos
regressou, com os cavalos carregados de sacos. Escondido num local, viu onde guardavam os sacos.
Assim que se foram embora, o lenhador foi verificar o que havia no interior dos sacos, e descobriu que
estes continham ouro. Num burro, levou uma parte do ouro para casa. Ao chegar, chamou a mulher e
contou-lhe o sucedido, garantindo-lhe que iam deixar de viver na miséria.
A mulher não acreditou, porque ignorava a importância e o valor do ouro. Depois de lhe expli-
car tudo, o marido disse-lhe ainda que o ouro tinha sido uma dádiva de Deus. Pediu-lhe ajuda para
transferir o conteúdo dos sacos para um grande balaio. Terminado o trabalho, não deram conta que
uma pepita de ouro ficara encravada num balaio mais pequenino que também fora utilizado. Algumas
horas depois, apareceu a mulher do irmão mais velho, a pedir emprestado o balaio. Esta, mal chegou à
sua casa, reparou no bocado de ouro retido no balaio. Intrigada, chamou o marido e disse-lhe:
— Eu já tinha avisado para evitares atritos com o teu irmão mais novo. A vida dele agora mudou.
Sem perceber onde ela queria chegar, o marido indagou:
— O que há de novo na vida dele?
Então, a mulher mostrou-lhe o pedaço de ouro que encontrou no balaio da mulher do cunhado.
Sem perder a calma, este resolveu ir visitar o irmão mais novo, a fim de tentar descobrir como é que ele
tinha conseguido o ouro. Foi bem recebido e a cunhada obsequiou-lhe com um jantar de muito boa
qualidade. Perante isto, deixou de ter qualquer dúvida de que a vida do irmão realmente mudara para
melhor, como lhe tinha dito a sua própria esposa.
Sem se inibir, confessou ao irmão que tinha lá ido para pedir ajuda para poder se alimentar.
O irmão mais novo chamou a mulher e explicou-lhe a situação. Esta, sem hesitar, mediu 20 canecas
de arroz e deu ao cunhado. De regresso à casa, o irmão mais velho mostrou à mulher o arroz e admitiu
que esta tinha razão quando afirmara que o seu irmão mais novo se tinha enriquecido.
Passado algum tempo, o irmão mais novo começou a construir um prédio, confirmando assim
que realmente tinha prosperado. Sem vergonha, o irmão mais velho decidiu ir ter novamente com ele.
Revelou que a plantação, herdada do pai já não dava frutos, e por isso ele e a família passavam fome e
precisavam de ajuda. Perguntou ainda ao irmão onde é que ele tinha conseguido tanta fortuna.
O irmão mais novo escutou-o sempre bem-disposto e satisfez-lhe todos os pedidos. Prometeu que
na manhã seguinte ia conduzi-lo ao local onde tinha encontrado os sacos de ouro.
No dia seguinte, na hora fixada, partiram juntos para a floresta e esconderam-se num sítio onde não
podiam ser detectados pelo grupo de ladrões a cavalo.
Horas depois, viram os assaltantes a passar mas, assim que os perderam de vista, o irmão mais novo

— 307 —
sugeriu que não tocassem nos sacos, porque os ladrões iriam desconfiar que alguém tinha descoberto
o esconderijo. Voltaram para casa sem mexer no ouro.
Entretanto, o mais velho não se desarmou. Mal chegou a casa, decidiu voltar ao esconderijo. Disse
à esposa que iria viajar na madrugada seguinte e que regressaria de tarde.
Pouco tempo depois de ter chegado ao local onde estavam os sacos de ouro, foi surpreendido pelo
grupo de ladrões a cavalo. Estes pressentiram a presença de um intruso no esconderijo. Puseram-se a
procurar e acabaram por descobrir o homem. Bateram-lhe até morrer e deitaram o cadáver num bura-
co longe do esconderijo.
Depois de esperar pelo marido durante todo o dia, e como este não dera sinal de vida, a mulher foi
ter com o cunhado a quem disse:
— O teu irmão saiu de madrugada para uma viagem, prometeu voltar de tarde, mas até então não
apareceu.
O irmão mais novo desconfiou de imediato do que se teria passado. Pediu à cunhada que não falas-
se com ninguém sobre o assunto, e partiu em busca do irmão no local onde estavam os sacos de ouro.
Porém, antes de lá chegar, notou um bando de abutres a rodar com insistência num local. Dirigiu-se
para lá e deparou com o cadáver do irmão. Levou o defunto para casa e tanto o velório como o funeral
decorreram na maior discrição possível, para evitar que os ladrões descobrissem quem tinha ficado
com parte do seu ouro.
No entanto, os ladrões não desistiram. Contrataram um jovem para investigar onde havia gente a
chorar pela morte de um familiar. O jovem acabou por descobrir o local e fez um sinal na casa, para
posterior identificação. Mas, sem se dar conta, ele estava a ser observado por uma menina. E esta, para
evitar a desgraça da família, fez igual sinal em todas as casas da aldeia.
Quando os ladrões do ouro se dirigiram finalmente para a casa que tinha sido assinalada, notaram
que mais casas tinham o mesmo sinal. Confusos, chamaram o jovem e protestaram em relação ao tra-
balho mal feito. Mesmo assim, não abandonaram a busca. Disfarçaram-se de vendedores de óleo de
palma e foram à casa do irmão do morto. Este não se apercebeu da armadilha, e combinaram que eles
voltariam no dia seguinte, com muitos potes de óleo de palma. No interior dos potes, os ladrões pensa-
vam pôr homens armados, que tentariam recuperar os sacos de ouro e depois matar o irmão mais novo.
Mais uma vez, foi uma criança a detectar o perigo.
A mulher do irmão mais novo mandou uma sobrinha comprar algo, e quando esta regressou, foi es-
preitar, num dos potes, e em vez de óleo de palma, descobriu que havia pessoas armadas. Alertou ime-
diatamente a tia que esses homens eram falsos negociantes, que tinham vindo apenas para matar o tio.
A mulher do irmão mais novo pôs então a ferver uma grande quantidade de óleo de palma, que
usou como arma para neutralizar os bandidos. Primeiro entornou uma porção do óleo escaldante so-
bre o chefe que estava sentado a negociar. Depois, com a ajuda do marido, foi pondo óleo candente
no interior de cada pote, matando um a um todos os assaltantes. Depois de enterrarem os cadáveres,
dirigiram-se ao esconderijo dos ladrões e tiraram todo o resto do ouro que lá se encontrava.
Com a riqueza conseguida, o irmão mais novo construiu muito mais casas e atribuiu uma à viúva
do irmão mais velho.
Não se casou com ela, como manda a tradição, apesar da cunhada ainda ser nova. Mas encarregou-
-se da criação dos sobrinhos e disponibilizou-se a ajudar em tudo o que a mulher do falecido irmão
precisasse.

— 308 —
les deux frères qui ne
s’entendaient pas
Il y avait une fois, dans un village, deux frères qui se disputaient continuellement, mais qui persistaient
à vivre ensemble dans la maison de leurs parents. Même lorsque l’aîné se maria, les querelles conti-
nuèrent, malgré les efforts de sa femme pour que les deux arrivent à s’entendre.
Le plus jeune se maria aussi, mais comme les relations ne s’amélioraient pas, il choisit d’abandon-
ner le village natal et de construire sa maison ailleurs, laissant tout l’héritage à son frère.
Au début, dans ce nouvel endroit, il commença à gagner sa vie en coupant du bois et en vendant
du charbon. Il allait chaque jour dans la forêt chercher du bois. Un jour, il vit passer un groupe de
cavaliers. C’étaient des voleurs, qui allaient voler de l’or et qui devaient revenir sept jours plus tard. Le
septième jour précisément, le groupe de brigands revint avec les chevaux chargés de sacs. Depuis une
cachette, le bûcheron vit où ils rangeaient les sacs. Dès qu’ils furent partis, il alla voir ce qu’il y avait
à l’intérieur des sacs et découvrit qu’ils contenaient de l’or. Sur un âne, il emporta une partie de l’or
chez lui. À son arrivée, il appela sa femme et lui raconta ce qui s’était passé, lui assurant qu’ils allaient
cesser de vivre dans la misère.
La femme ne le crut pas parce qu’elle ignorait l’importance et la valeur de l’or. Après lui avoir tout
expliqué, le mari lui dit aussi que l’or était un présent de Dieu. Il lui demanda son aide pour transférer
le contenu des sacs dans un grand panier. Une fois le travail terminé, ils ne remarquèrent pas qu’une
pépite d’or était restée coincée dans un panier plus petit qui avait également été utilisé. Quelques
heures après, la femme du frère aîné arriva pour emprunter le panier. À peine arrivée chez elle, celle-ci
remarqua le morceau d’or qui était resté dans le panier. Intriguée, elle appela son mari et lui dit :
— Je t’avais bien conseillé d’éviter les disputes avec ton jeune frère. Sa vie a changé maintenant.
Sans comprendre où elle voulait en venir, le mari demanda :
— Qu’y a-t-il de nouveau dans sa vie ?
Alors, la femme lui montra le morceau d’or qu’elle avait trouvé dans le panier de la femme de son
beau-frère. Sans perdre son calme, le mari décida d’aller rendre visite à son frère cadet, pour essayer
de découvrir comment il avait obtenu l’or. Il fut bien reçu et sa belle-sœur lui offrit un très bon dîner.
Devant cette évidence, il n’eut plus le moindre doute : la vie de son frère avait réellement changé en
mieux, comme le lui avait dit sa propre femme.
Sans hésiter, il avoua à son frère qu’il était venu lui demander son aide pour pouvoir se nourrir.
Le frère cadet appela sa femme et lui expliqua la situation. Celle-ci, sans hésiter, mesura 20 tasses de
riz et les donna à son beau-frère. De retour chez lui, le frère aîné montra le riz à sa femme et reconnut
qu’elle avait eu raison quand elle avait dit que son frère cadet s’était enrichi.
Après un certain temps, le frère cadet commença à construire une grande maison, confirmant ainsi
qu’il avait réellement prospéré. Sans aucune honte, le frère aîné décida d’aller le trouver à nouveau. Il
lui révéla que la plantation héritée du père ne donnait plus de fruits et que, pour cette raison, lui et sa
famille souffraient de la faim et avaient besoin d’aide. Il demanda aussi à son frère où il avait acquis
une telle fortune.

— 309 —
Le frère cadet l’écouta, toujours bien disposé, et satisfit toutes ses demandes. Il promit que le len-
demain matin il le conduirait à l’endroit où il avait trouvé les sacs d’or.
Le lendemain, à l’heure convenue, ils partirent ensemble vers la forêt et se cachèrent dans un en-
droit où ils ne pourraient pas être aperçus par le groupe de voleurs à cheval.
Au bout de quelques heures, ils virent passer les bandits, mais dès qu’ils les eurent perdus de vue, le
cadet suggéra de ne pas toucher aux sacs, parce que les voleurs allaient se douter que quelqu’un avait
découvert la cachette. Ils rentrèrent chez eux sans toucher à l’or.
Cependant, l’aîné ne renonça pas. À peine arrivé chez lui, il décida de retourner à la cachette. Il dit
à sa femme qu’il allait voyager tôt le lendemain matin et qu’il serait de retour dans l’après-midi.
Peu après son arrivée à l’endroit où se trouvaient les sacs d’or, il fut surpris par le groupe de voleurs
à cheval. Ils s’étaient aperçus de la présence d’un intrus dans la cachette. Ils se mirent à chercher et
finirent par découvrir l’homme. Ils le frappèrent à mort et jetèrent le cadavre dans un trou, loin de la
cachette.
Après avoir attendu son mari toute la journée, comme il n’avait donné aucun signe de vie, la femme
alla trouver son beau-frère et lui dit :
— Ton frère est parti en voyage à l’aube et a promis de revenir dans l’après-midi, mais il n’est pas
encore revenu.
Le cadet se douta immédiatement de ce qui avait pu se passer. Il demanda à sa belle-sœur de ne
parler de la chose à personne et partit à la recherche de son frère vers l’endroit où se trouvaient les sacs
d’or. Mais avant d’y arriver, il remarqua une bande de vautours qui rôdaient avec insistance au-dessus
d’un autre endroit. Il se dirigea vers là-bas et tomba sur le cadavre de son frère. Il ramena le mort à
la maison et la veillée comme les funérailles eurent lieu dans la plus grande discrétion possible, pour
éviter que les voleurs ne découvrent qui avait pris une partie de leur or.
Cependant, les voleurs ne renoncèrent pas. Ils embauchèrent un jeune garçon pour chercher où il y
avait des gens qui pleuraient la mort d’un membre de leur famille. Le garçon finit par trouver l’endroit
et marqua d’un signe la maison, pour pouvoir la reconnaître plus tard. Mais il ne s’était pas rendu
compte qu’une petite fille l’observait. Celle-ci, pour éviter le malheur de sa famille, fit la même marque
sur toutes les maisons du village.
Quand les voleurs d’or se dirigèrent finalement vers la maison qui avait été marquée, ils remar-
quèrent que d’autres maisons avaient la même marque. Confus, ils appelèrent le jeune garçon et lui
reprochèrent d’avoir mal fait son travail. Mais ils n’abandonnèrent pas les recherches pour autant.
Ils se déguisèrent en vendeurs d’huile de palme et se rendirent chez le frère du défunt. Celui-ci ne se
rendit pas compte du piège et ils convinrent de revenir le lendemain avec beaucoup de jarres d’huile
de palme. À l’intérieur des jarres, les voleurs pensaient mettre des hommes armés qui tenteraient de
récupérer les sacs d’or et de tuer ensuite le frère cadet.
Encore une fois, c’est une fillette qui éventa le danger.
La femme du frère cadet envoya une de ses nièces acheter quelque chose. Quand celle-ci revint, elle
alla examiner l’une des jarres, et au lieu d’huile de palme, elle découvrit qu’elles contenaient des gens
en armes. Elle avertit aussitôt sa tante que ces hommes étaient de faux marchands, qui étaient venus
juste pour tuer son oncle.
La femme du frère cadet mit alors à bouillir une grande quantité d’huile de palme qu’elle utilisa
comme arme pour neutraliser les bandits. Elle versa d’abord une partie de l’huile bouillante sur la tête
du chef qui était assis en train de négocier. Ensuite, avec l’aide de son mari, elle versa de l’huile chaude
dans chacune des jarres, tuant un à un tous les assaillants. Après avoir enterré les cadavres, ils s’en
allèrent vers le repaire des voleurs et prirent tout l’or qui restait dans la cachette.

— 310 —
Devenu riche, le frère cadet se fit construire beaucoup d’autres maisons, et en offrit une à la veuve
de son frère aîné.
Il ne se maria pas avec elle, comme le veut la tradition, bien que la belle-sœur fût encore jeune. Mais
il se chargea de l’éducation de ses neveux et nièces et il était toujours disponible pour aider la femme
du défunt dans tout ce dont elle avait besoin.

— 311 —
11. 1

Conto crioulo Conte créole Local de colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

de Guinée-Bissau pour les langues dans lesquelles ces


versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont contes ont été collectés.

— 313 —
e na buska algin pa reynansa

— 314 —
À procura de um rei
Er, er, er certo…
Havia num reino uma preocupação de encontrar um novo rei, um rei que devia preencher um certo
requisito. Todo o candidato deveria ter uma determinada altura e quem não tivesse essa medida, que
fosse menos ou mais alguns milímetros, não serviria.
Todos os homens daquela cidade foram medir-se mas ninguém tinha aquela medida. Homens im-
portantes, grandes comerciantes, lavradores, etc., todos foram candidatar-se mas nenhum deles foi
seleccionado.
Um sapateiro pobre, que reparava os sapatos dos seus clientes, viu aquela movimentação e pergun-
tou:
— O que é que se passa?
Explicaram-lhe que estava-se à procura de alguém para reinar no país e ele disse que queria ir tam-
bém se submeter ao teste. Então as pessoas começaram a rir-se dele dizendo:
— Se os homens mais destacados da cidade foram e não serviram, será você que vai servir? Tenha
paciência, não goze connosco!
Mas ele insistiu e foi. Chegado perante os jurados, estes começaram a medição: pela frente ele tinha
a altura exacta, por trás a mesma coisa, de lado ele tinha a altura que se exigia. Então, o responsável
pela medição comunicou aos outros que tinham encontrado o homem ideal para o posto real e assim
o sapateiro pobre foi declarado rei da tabanca.

— 315 —
À la recherche d’un roi
Il était une fois un royaume où l’on se préoccupait de trouver un nouveau roi, un roi qui devait remplir
certaine condition. Tout candidat devrait avoir une certaine hauteur et celui qui n’aurait pas cette
taille, ne serait-ce que quelques millimètres de plus ou de moins, ne ferait pas l’affaire.
Tous les hommes de la ville allèrent se faire mesurer, mais aucun n’avait la taille requise. Hommes
importants, gros commerçants, fermiers etc., tous se portèrent candidats, mais aucun d’eux ne fut
sélectionné.
Un pauvre cordonnier, qui était en train de réparer les souliers de ses clients, vit toute cette agita-
tion et demanda :
— Qu’est-ce qui se passe ?
On lui expliqua que l’on cherchait quelqu’un pour régner sur le pays et il dit que lui aussi voulait se
soumettre au test. Alors les gens commencèrent à se moquer de lui en disant :
— Si les hommes les plus importants de la ville se sont présentés et n’ont pas fait l’affaire, com-
ment le pourriez-vous ? Un peu de sérieux, ne vous moquez pas de nous !
Mais il insista et alla se présenter. Arrivé devant le jury, on commença à lui prendre les mesures : de
face il avait la taille exacte, de dos également, de côté il avait la taille exigée. Alors, le responsable des
mesures informa les autres qu’ils avaient trouvé l’homme idéal pour le poste royal et c’est ainsi que le
pauvre cordonnier fut proclamé roi du village.

— 316 —
12. 1

Conto crioulo Conte créole Local da colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

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— 319 —
tabanka misti

— 320 —
promessa Cumprida

Havia um homem numa tabanca que tinha uma filha da qual todos gostavam e queriam casar com
ela. O pai, que era muito vaidoso, disse que quem quisesse casar com a filha devia ter muito dinheiro
e estipulou uma quantia que sabia que quase todos na tabanca não tinham. Para sua surpresa, aparece-
ram três candidatos dispostos a conseguirem esse montante e foram para sítios diferentes buscar esse
dinheiro. O homem disse-lhes que num determinado dia deveriam apresentar-se com o montante por
ele exigido.
Foram e no dia combinado os três apareceram na mesma hora e no mesmo local com o montante
por ele exigido, sem nenhum tostão em falta.
O homem, comprometido e embaraçado voltou a desafiar os concorrentes em como quem conse-
guisse atravessar o rio sem se molhar casaria com a sua filha, uma vez que na primeira aposta empata-
ram.
Os três homens foram ao rio. O primeiro pegou na sua arma, disparou um tiro, foi sentar-se em
cima da bala e atravessou o rio sem se molhar. O segundo tinha um grand boubou (uma túnica), entrou
no rio e, ao sair na outra margem, tirou a túnica que sacudiu, e ao invés de deitar água expeliu poeira.
O terceiro pegou na sua catana, deu um golpe na água, o rio dividiu-se ao meio e ele foi até à outra
margem sem se molhar.
Desta feita, os três repetiram a mesma proeza e o homem ficou encostado contra a parede sem saber
o que fazer. Mas para não passar vergonha pelo desafio que lançara, pegou na filha, esbofeteou-a e ela
transformou-se em três meninas, que entregou uma a cada concorrente, livrando-se assim da vergonha.

— 321 —
promesse tenue

Il était une fois, dans un village, un homme qui avait une fille dont tous étaient amoureux et que tous
voulaient épouser. Le père, qui était très vaniteux, dit que celui qui voudrait se marier avec sa fille
devrait avoir beaucoup d’argent et il fixa un montant que presque personne, il le savait, ne possédait
dans le village. À sa surprise, trois candidats se manifestèrent, prêts à se procurer la somme et ils par-
tirent dans différentes directions pour chercher cet argent. L’homme leur dit qu’à une date précise, ils
devraient se présenter avec le montant fixé par lui.
Ils s’en allèrent et, le jour convenu, tous les trois apparurent à la même heure et au même endroit
avec le montant qu’il exigeait, sans un sou en moins.
L’homme, embarrassé par son engagement, lança un nouveau défi aux concurrents : celui qui arri-
verait à traverser la rivière sans se mouiller se marierait avec sa fille, puisqu’ils étaient à égalité dans la
première épreuve.
Les trois hommes se dirigèrent vers la rivière et le premier prit son fusil, tira un coup, alla s’asseoir
sur la balle et traversa la rivière sans se mouiller. Le deuxième avait un grand boubou (une tunique), il
entra dans la rivière et lorsqu’il sortit sur l’autre berge, il l’enleva et le secoua, et à la place de l’eau il en
sortit de la poussière.
Le troisième saisit sa machette, donna un coup dans l’eau, la rivière se divisa en deux et il passa au
milieu jusqu’à l’autre rive sans se mouiller.
De la sorte, les trois renouvelèrent le même exploit et l’homme se retrouva dos au mur sans savoir
quoi faire. Mais pour ne pas se couvrir de honte à cause du défi qu’il avait lancé, il attrapa sa fille, la
gifla et elle se transforma en trois filles qu’il remit respectivement à chacun des concurrents, échappant
ainsi à la honte.

— 322 —
13. 12

Conto fula Conte peulh Local da colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. Nafa Munharé: O valor da paciência. “Nafa Munharé ”


ou la valeur de la patience. versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont
2. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe
em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma
de Guinée-Bissau pour les langues dans lesquelles ces
as línguas em que estes contos foram recolhidos. Les contes ont été collectés.

— 325 —
nafah Munñaare

— 326 —
nafa Munharé
Quando Alah criou o Mundo, também criou três tipos de pessoas, a saber:
Indivíduos que podem aceitar a diferença do seu semelhante (Sofredor), pessoas traidoras por na-
tureza (Djanfante) e pessoas que gostam de aldrabar os outros.
Havia um reino, cujo rei se chamava Mohamadal Chaad e que nunca tinha tido filhos, mesmo
sendo casado com duas mulheres muito bonitas. Este era o primeiro reino depois do surgimento do
ser humano. Por ironia do destino, essas duas mulheres encarnavam as duas últimas personagens acima
mencionadas.
O rei, sabendo que por mais dinheiro e poder que tivesse não se sentiria realizado e feliz se não ti-
vesse filhos, convocou todos os sábios que habitavam no seu reino para os consultar e descobrir a razão
por que ele não conseguira até à data ter filhos.
Os sábios reunidos fizeram as suas preces durante noites a fio e descobriram que o rei, para ter
filhos, devia se casar com uma terceira esposa, mas com uma condição:
Esta mulher tinha que ser a mais feia do reino do rei Mohamadaal Chaad, caso contrário o rei nun-
ca teria filhos. Assim que foi anunciado o resultado da consulta, o rei mandou centenas de emissários
para todo o seu território, a fim de buscar a mulher mais feia do reino. Depois de muita procura, os
emissários foram descobrir esta personagem de mulher numa povoação algures, muito longe do reino.
A mulher foi encontrada quando fazia o percurso entre a fonte e a sua casa. Na realidade era uma
mulher bastante feia: o nariz quase colado aos lábios; os lábios fendidos ao meio e os dentes saídos para
fora. O seu nome era Umo.
O rei foi informado da localização da rapariga, da feiura que patenteava, bem como das dificulda-
des e da extrema pobreza em que vivia com os seus pais e, por fim, que era filha única. Não obstante
esta descrição pouco favorável, o rei decidiu enviar cola para a pedir em casamento, o que aliás foi feito
com muita rapidez. Ela foi levada de imediato para o palácio do rei.
Lamentavelmente, ela era não somente a mulher mais feia do rei, mas também escrava das suas duas
rivais, porque todos os trabalhos domésticos, tais como limpar e cozinhar, eram por ela feitos.
Depois de algum tempo de casada com o rei, a profecia cumpriu-se! A dona casa (primeira esposa)
engravidou, a segunda esposa também engravidou, seguidas pela noiva1, quase que em simultâneo.
Após nove meses de gravidez, todas deram à luz filhos saudáveis, entre os dias segunda, terça e quarta-
-feira da semana.
Num misto de espanto e contentamento, o rei mandou chamar a sua primeira esposa e fez-lhe a
seguinte pergunta: por que razões, por mais que se lhes faça bem, as mulheres gostam de trair? À se-
gunda esposa perguntou: porque gostam as mulheres de aldrabar, mesmo bem tratadas?
Quando a mesma pergunta foi colocada a Umo, ela respondeu que tudo tem a ver com a educa-
ção das pessoas. Ela foi educada para não trair e nem aldrabar ninguém, pois os seus pais sempre a
aconselharam que devia saber sofrer e tratar bem o marido para ter filhos como recompensa desse
comportamento.
Depois desta pequena conversa com as suas esposas, o rei mandou chamar o djidiu/trovador para

— 327 —
anunciar a todos o baptismo de todas as crianças num único dia. Mais, anunciou ao trovador que todos
os filhos teriam o nome de Mamadu, com alcunhas diferenciadas em conformidade com o comporta-
mento das mães de cada um.
O primeiro filho foi chamado de Mamadu (Djanfante), ao segundo foi dado o nome de Mamadu
Calabante (Aldrabão) e ao terceiro o de Mamadu Munhare (Sofredor). Este último era o filho da
Umo.
Ao completarem dez anos, o pai decidiu que deveriam emigrar para conhecerem a dureza da vida
e a necessidade de crescerem solidários num espírito de irmandade sadia e fraterna. Antes de partirem
para a emigração, cada um foi falar com a sua mãe, para receber os últimos conselhos em como deviam
se comportar com estranhos e entre si.
Partiram num belo dia entre lágrimas e despedidas, cada um tendo um saquinho de provisão de
canha1 debaixo do braço.
Após vários dias de caminhada e confrontados com a falta de água, os dois primeiros irmãos pedi-
ram ao irmão que era sofredor que permitisse furarem-lhe um olho para se abastecerem de água para
beber e lavar roupas. Este sempre resignado, aceitou o pedido dos irmãos, que furaram-lhe o olho e
obtiveram água. Volvidos alguns dias, sentindo outra vez falta de água, solicitaram uma vez mais ao
irmão que os deixasse furar o outro olho, dizendo que eles iriam providenciar um pau para o guiar e
ajudar na caminhada. Mais uma vez ele anuiu e furaram-lhe o olho e ele ficou totalmente cego.
Depois de saciarem a sede e de lavarem os haveres, disseram ao irmão que um sofredor é sempre
um estúpido porque não resiste aos sentimentalismos. Por isso abandonaram-no à sua sorte e partiram
para a viagem.
Ele ficou naquele lugar sozinho, indefeso e muito isolado, lugar habitual de concentração anual de
todos os animais, das mais variadas espécies. Justamente, naquele dia começava a concentração para o
início da nova época de caça de animais e aves.
Foi a jagudi, a mais velha de todos os animais, a primeira a chegar. Ela tinha quase 250 anos. Devido
à idade, tinha algumas penas nas suas asas, cujas propriedades faziam ressuscitar a visão de qualquer
animal ou ser humano.
Mamadu Munhare, (Sofredor), ouviu e presenciou toda a discussão das aves sobre as propriedades
das penas e peles de todos os animais que ali estavam aglomerados para planearem as suas caçadas.
Assim, quando as aves e os animais saíram do local, Mamadu Munhare, apalpou até achar três penas
de jagudi que tinham três propriedades: poder, dinheiro e visão.
Pegou na primeira pena, passou-a em cima dos olhos e recuperou a visão. Pegou na segunda que
tinha a propriedade do poder e na terceira que tinha a propriedade do dinheiro. Com essas proprieda-
des, ele partiu em busca dos seus irmãos e foi encontrá-los a serem castigados numa povoação interdita
a hóspedes.
Quando Munhare viu a condição dos seus irmãos, utilizou a pena que tinha a propriedade do po-
der e conseguiu dissuadir o rei daquele povoado a deixar livre de castigo os seus irmãos e a alimentá-los
com um prato servido com fígado de vaca.
Libertos dos castigos e alimentados, eles continuaram a viagem de volta para o reino do pai. Quando
chegaram informaram o rei do que se tinha passado. O rei castigou com severidade os dois irmãos pelo
comportamento desleal que tiveram para com o irmão, e disse-lhes que ninguém deve enveredar pelo
caminho do mal e da maldade, pois quem faz mal, sempre colhe o troco dos seus actos.

— 328 —
nafa Munharé
Quand Allah créa le Monde, il créa aussi trois types de personnes, à savoir : des individus capables
d’accepter que leurs semblables soient différents (Tolérants), des personnes qui trahissent par nature
(Djanfante) et des personnes qui aiment tromper les autres.
Il y avait une fois un royaume dont le roi, qui s’appelait Mohamadal Chaad, n’avait jamais eu
d’enfants, alors même qu’il était marié à deux très belles femmes. C’était le premier royaume après
l’apparition de l’être humain. Par ironie du sort, ces deux belles femmes incarnaient les deux derniers
types de personnes mentionnés ci-dessus.
Le roi, sachant que malgré tout l’argent et le pouvoir qu’il pourrait avoir, il ne se sentirait ni plei-
nement satisfait ni heureux s’il n’avait pas d’enfants, convoqua tous les sages qui vivaient dans son
royaume pour les consulter et découvrir la raison pour laquelle il n’avait pas encore d’enfant à ce jour.
Les sages réunis, firent leurs prières des nuits durant, et découvrirent que pour avoir des enfants, le
roi devait prendre une troisième épouse, mais à une condition : cette femme devrait être la plus laide
du royaume du roi Mohamadaal Chaad, sinon le roi n’aurait jamais d’enfant. Dès qu’on annonça le
résultat de la concertation, le roi envoya des centaines d’émissaires à travers son territoire, afin de trou-
ver la femme la plus laide du royaume. Après de longues recherches, les émissaires trouvèrent ladite
femme dans un village, quelque part très loin dans le royaume.
On trouva la femme alors qu’elle faisait le trajet entre la fontaine et sa maison. C’était vraiment
une femme bien laide : le nez presque collé aux lèvres ; les lèvres fendues au milieu et les dents qui
pointaient vers l’avant. Elle s’appelait Umo.
Le roi fut informé de l’endroit où elle se trouvait, de la laideur qu’elle affichait, comme aussi de ses
difficultés et de l’extrême pauvreté dans laquelle elle vivait avec ses parents, et enfin, qu’elle était fille
unique. En dépit de cette description peu favorable, le roi décida d’envoyer des noix de cola pour la
demander en mariage, ce qui fut fait d’ailleurs au plus vite. Elle fut aussitôt conduite au palais du roi.
Malheureusement, elle n’était pas seulement la femme la plus laide du roi, mais aussi l’esclave de
ses deux rivales, parce que toutes les corvées domestiques, comme nettoyer et cuisiner, c’est elle qui
les faisait.
Quelque temps après son mariage avec le roi, la prophétie s’accomplit ! La maîtresse de maison (la
première épouse) se trouva enceinte, la seconde aussi se trouva enceinte, suivies par la nouvelle mariée,
presque simultanément. Au bout de neuf mois de grossesse, toutes donnèrent le jour à des enfants en
bonne santé, le lundi, le mardi et le mercredi de la même semaine.
Dans un mélange de surprise et de joie, le roi fit appeler sa première épouse et lui posa la question
suivante : pour quelles raisons, vous les femmes, même si l’on vous fait du bien, aimez-vous trahir ?
À la deuxième épouse, il demanda pourquoi les femmes aiment-elles mentir, même si elles sont bien
traitées.
Lorsque la même question fut posée à Umo, elle répondit que tout dépendait de l’éducation des
personnes. Elle avait été éduquée pour ne trahir personne et ne pas mentir, et ses parents lui avaient
toujours conseillé de savoir être patiente et de bien traiter son mari pour avoir des enfants, en récom-
pense de ce comportement.
Après cette petite conversation avec ses épouses, le roi envoya chercher le Griot/Troubadour pour

— 329 —
annoncer à tout le monde le baptême de tous les enfants le même jour. Il dit aussi au troubadour que
tous les enfants porteraient le nom de Mamadu, avec un surnom différent en fonction du comporte-
ment de la mère de chacun d’eux.
Le premier fils s’appela Mamadu Djanfante (le Traître), on donna au deuxième le nom de Mamadu
Calabante (le Menteur) et au troisième celui de Mamadu Munhare (le Tolérant), ce dernier était le
fils d’Umo.
Quand ils eurent dix ans, le père décida qu’ils devaient émigrer pour connaître la dureté de la vie
et la nécessité de grandir solidaires, dans un esprit de bonne entente et de fraternité. Avant de partir,
chacun d’eux alla trouver sa mère pour recevoir les derniers conseils sur la façon dont ils devaient se
comporter avec les étrangers et entre eux.
Ils partirent un beau jour entre pleurs et adieux, avec chacun pour provisions un petit sac de Canha1
sous le bras.
Après plusieurs jours de marche, confrontés au manque d’eau, les deux premiers frères deman-
dèrent au frère Tolérant de les autoriser à lui crever un oeil afin de s’approvisionner en eau pour boire
et laver le linge. Celui-ci, toujours résigné, accepta la demande des deux frères. Ils lui crevèrent l’œil
et eurent de l’eau. Quelques jours après, ayant de nouveau besoin d’eau, ils sollicitèrent à nouveau
leur frère pour qu’il les laisse lui crever l’autre oeil et eux, en échange, lui fourniraient un bâton pour
l’aider à se guider et à marcher. Une fois encore, il consentit, ils lui crevèrent l’autre œil et il fut donc
complètement aveugle.
Une fois leur soif étanchée et leurs affaires lavées, ils dirent à leur frère qu’on est toujours stupide
d’être tolérant, parce qu’on ne résiste pas au sentimentalisme. C’est pourquoi ils l’abandonnèrent à
son sort et continuèrent leur voyage.
Il resta dans ce lieu solitaire, exposé et très isolé, lieu habituel du rassemblement annuel de tous les
animaux, des espèces les plus variées. Justement, ce jour-là, commençait le rassemblement pour débu-
ter une nouvelle période de chasse des animaux et des oiseaux.
Ce fut le vautour, le plus vieux de tous les animaux qui arriva le premier. Il avait presque 250 ans.
En raison de son âge, il avait quelques plumes à ses ailes dont les propriétés faisaient recouvrer la vue à
n’importe quel animal ou être humain.
Mamadu Munhare (le Tolérant), étant présent, entendit toute la discussion entre les oiseaux sur les
propriétés des plumes et des peaux de tous les animaux qui étaient là réunis pour planifier leurs chasses.
Ainsi, lorsque les oiseaux et les autres animaux quittèrent les lieux, Mamadu Munhare, tâtonna jusqu’à
trouver trois plumes de vautour qui avaient trois propriétés : pouvoir, argent et vision.
Il prit la première plume, la passa sur ses yeux et retrouva la vue. Il prit la deuxième qui avait la
propriété du pouvoir et la troisième qui avait la propriété de l’argent. Avec ces propriétés, il partit à la
recherche de ses deux frères et les retrouva, en train d’être châtiés, dans un village interdit aux invités.
Lorsque Munhare vit la situation de ses frères, il utilisa la plume qui avait la propriété du pouvoir
et parvint à convaincre le roi de ce village de libérer ses frères et de leur servir un plat préparé avec du
foie de vache.
Libérés et nourris, ils reprirent le voyage du retour vers le royaume de leur père. À leur arrivée, ils in-
formèrent le roi de ce qui s’était passé. Le roi punit sévèrement les deux frères pour leur comportement
déloyal envers leur frère, et leur dit que nul ne doit prendre le chemin du mal et de la méchanceté, car
celui qui fait le mal, récolte toujours le fruit de ses actes.

— 330 —
14. 1

Conto mandinga Conte mandingue Local da colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

as línguas em que estes contos foram recolhidos. Les de Guinée-Bissau pour les langues dans lesquelles ces
versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont contes ont été collectés.

— 333 —
siwoolo siwoolo
yehyeng kürleng

— 334 —
história do Mam
tamba e do búfalo
Numa mata de grandes dimensões, residiam búfalos, dentre os quais se destacava um casal, por ser o
mais carinhoso e amável de todos. O casal tinha um filho que não se distanciava dos pais que também
brincavam com ele com muito afecto. Um dia, porém, o filho afastou-se, indo brincar com outras crias
noutras zonas, ficando os pais muito tempo à sua espera. Ante a demora e ausência do filho, os pais de-
cidiram partir para a lala grande à procura de alimentos. Saciada a fome, partiram à procura de água no
riacho onde costumam beber. No local encontraram o Mam Tamba, caçador conhecido e temido por
todos os animais da área. Ele, entretanto, à partida não os impediu de beber. Só que ao prepararem-se
para abandonar o local, após terem matado a sede, o caçador atirou sobre eles, matando a mãe. Morta,
levou-a para casa para fazer da carne alimento para a sua família.
Os búfalos de corrida voltaram apavorados à mata onde residiam, sem saberem o que fazer, tendo
também chegado o filhote daquela que fora morta, cantando a seguinte canção, a perguntar pela mãe:
— Ciólu djê, Ien Ien Curien, Ci djumá iê n´té ba fâ ien ien curien? Ci djuma ien te ba fâ ien ien
curien? (búfalos, búfalos, quem foi que matou a minha mãe?).
Ele indagava assim sobre o possível paradeiro da mãe pensando que ela pudesse ter sido morta por
algum dos búfalos. Nenhum dos búfalos quis responder, até que ao chegar perto do mais velho deles,
este decidiu contar o sucedido. O mais velho dos búfalos disse-lhe em resposta, cantando também, que
não foram os búfalos que mataram a sua mãe mas sim o caçador Mam Tamba. Na sua canção o velho
búfalo dizia:
— Ciólu uó, ien ien curien Mam Tamba ié ité bâ fá ien ien curien.
O filhote, tomado de ira, perguntava por que motivo o caçador matara a sua mãe:
— A iâ fá mun cu la ien curien? O velho búfalo replicou cantando:
— A iá fâ dji cuó la ien ien curien” (matou-a por causa da água). O filho então respondeu dizendo:
— Dji cu man fari si ien ien curien, n´bem djô la, o que quer dizer: só por causa da água não se deve
matar, vou vingar-me.
Quanto à pergunta sobre o local onde residia, o velho disse-lhe que ele morava numa tabanca não
longe e a ocidente do local onde costumam beber água. O filho fez saber que se vingaria da morte da
mãe. No dia seguinte, partiu à procura do caçador. Aproximando-se da aldeia deste, transformou-se
num verdadeiro ser humano, para melhor se disfarçar, perguntando a todos quantos encontrava pelo
caminho pelo Mam Tamba, até que o encontrou. Apresentou-se a ele como um hóspede e foi também
acolhido por este.
Após alguns dias de hospedagem em casa do caçador, como resultado da observação que vinha
fazendo do dia-a-dia do caçador e dos seus familiares, notou que o anfitrião, repetidamente, todas as
manhãs, chamava as crianças todas para juntas partilharem com ele o pequeno-almoço, repetindo o
mesmo gesto na hora do almoço e do jantar, sem fazer diferença entre elas.
A seguir, agrupadas à volta dele, contava-lhes histórias até ficarem com sono, momento em que re-
gressavam às suas casas para dormirem. Comovido com o carinho e atenção que o Mam Tamba, pessoa

— 335 —
que jurara vingar pela morte da sua mãe, dispensava repetidamente às crianças, desapareceu a raiva que
guardava dele. Foi desta maneira que, dias depois, se despediu do seu anfitrião, para voltar à sua aldeia.
Como é costume nas aldeias, ao despedir-se, o hóspede é acompanhado por alguma distância pelo
anfitrião. Assim foi naquele dia. Pelo caminho conversou bastante, tendo o búfalo manifestado a sua
satisfação por ter conhecido e ter sido agasalhado pelo caçador. Mam Tamba, desejando boa viagem
ao visitante decidiu retroceder. O jovem búfalo transformado em homem, decidiu então desvendar o
segredo da sua visita. Confessou ao caçador que ele era filhote do búfalo morto por ele na lala e, que se
transformara em homem com a intenção de se vingar. Continuando, disse que mudara de ideia como-
vido pelo tratamento que o caçador dava diariamente às crianças de igual modo, sem distinção. Que
esse gesto que ele testemunhou durante os dias de hospedagem lhe tocara profundamente, levando-o a
desistir da sua intenção para sempre, porque imaginava quanta falta o caçador iria deixar a essas crianças
se levasse a cabo o seu intento.
Foi assim que se despediram, indo cada um para o seu lado. Chegado a casa, como era habitual à
noite após o jantar, Mam Tamba repetindo o gesto que comovera o seu hóspede, ao ponto de lhe valer
o perdão do mesmo, contou a história daquele, repetindo a mesma canção que o jovem cantou ao
contar-lhe como soubera que foi ele que matara a sua mãe. Termina assim a história de Mam Tamba e
do búfalo, com um final feliz, graças sobretudo ao gesto de bom tratamento às crianças.

— 336 —
histoire de Mam

Il y a longtemps, dans une grande forêt, vivaient des buffles, parmi lesquels se détachait un couple,
qui était le plus tendre et le plus aimable de tous. Le couple avait un petit qui ne s’éloignait pas de ses
parents qui jouaient aussi avec lui avec beaucoup d’affection. Un jour, pourtant, le bufflon s’éloigna
pour aller jouer ailleurs avec d’autres jeunes, et ses parents attendirent longtemps son retour. Face au
retard et à l’absence du petit, les parents se décidèrent à partir dans la grande savane pour aller chercher
de la nourriture. Une fois rassasiés, ils partirent chercher de l’eau au ruisseau où ils avaient l’habitude
de boire. Sur les lieux, ils trouvèrent Mam Tamba, chasseur connu et redouté de tous les animaux des
parages. Cependant, celui-ci ne les empêcha pas de boire dans un premier temps. Mais, lorsque, après
avoir étanché leur soif, ils s’apprêtaient à quitter les lieux, le chasseur tira sur eux, tuant la mère. Quand
elle fut morte, il la ramena chez lui pour donner la viande en nourriture à sa famille.
Terrifiés, les buffles retournèrent en courant dans la forêt où ils vivaient, sans savoir quoi faire, car
le petit de celle qui était morte était revenu en chantant la chanson suivante où il réclamait sa mère :
— « Ciólu djê, Ien Ien Curien, Ci djumá iê n´té ba fâ ien ien curien ? » « Ci djuma ien te ba fâ ien
ien curien ? » (« buffles, buffles, qui a tué ma mère ? »).
Il demandait où pouvait bien se trouver sa mère, pensant qu’elle avait pu être tuée par l’un des
buffles. Aucun des buffles ne voulut répondre, mais quand il arriva auprès du plus ancien d’entre eux,
celui-ci décida de raconter ce qui s’était passé. Le plus vieux des buffles lui répondit, en chantant lui
aussi, que ce n’étaient pas les buffles qui avaient tué sa mère, mais le chasseur Mam Tamba. Dans sa
chanson le vieux buffle disait :
— « Ciólu uó, ien ien curien Mam Tamba ié ité bâ fá ien ien curien ».
Pris de colère, le bufflon demanda pour quelle raison le chasseur avait tué sa mère :
— « A iâ fá mun cu la ien curien ? ».
Le vieux buffle répondit en chantant :
— « A iá fâ dji cuó la ien ien curien », (« il l’a tuée à cause de l’eau »).
Le bufflon répliqua alors en disant :
— « Dji cu man fari si ien ien curien, n´bem djô la » ce qui veut dire : « on ne doit pas tuer seu-
lement pour de l’eau, je vais me venger ».
Quand il demanda où vivait le chasseur, l’ancien lui dit qu’il vivait dans un village à l’ouest, non
loin de l’endroit où ils avaient l’habitude d’aller boire de l’eau. Le bufflon fit savoir qu’il se vengerait
de la mort de sa mère. Le lendemain, il partit à la recherche du chasseur. À l’approche du hameau où
celui-ci vivait, il se transforma en un véritable être humain, pour mieux se camoufler, et il demanda à
tous ceux qu’il rencontrait où il pourrait trouver Mam Tamba, jusqu’à ce qu’il le trouve. Il se présenta
à lui comme un hôte et fut ainsi accueilli chez lui.
Après avoir passé quelques jours chez le chasseur, où il avait pu observer jour après jour le chasseur
et les membres de sa famille, il remarqua que tous les matins son amphitryon appelait tous les enfants
pour partager avec lui le petit-déjeuner. Il faisait la même chose à l’heure du déjeuner et du dîner, sans

— 337 —
faire de distinction entre eux.
Puis, les enfants groupés autour de lui, il leur racontait des histoires jusqu’à ce qu’ils aient sommeil,
et alors ils rentraient dormir chez eux. Emu par l’affection et l’attention que Mam Tamba dispensait
assidûment aux enfants, ce Mam Tamba dont il avait juré de se venger à cause de la mort de sa mère,
la rage qu’il avait en lui disparut. C’est ainsi que, quelques jours plus tard, il prit congé de son hôte et
retourna vers sa demeure.
Dans les villages la coutume veut qu’au moment de se quitter, l’amphitryon fasse un bout de che-
min avec son hôte. Il en fut ainsi ce jour là. Sur le chemin le bufflon parla abondamment, et manifesta
sa satisfaction d’avoir connu le chasseur et d’avoir été accueilli par lui. Mam Tamba, souhaitant bon
voyage au visiteur, décida de faire demi-tour. Le jeune buffle changé en homme, résolut alors de révéler
le secret de sa visite. Il confessa au chasseur qu’il était le petit du buffle tué par lui dans la grande savane
et qu’il s’était transformé en homme avec l’intention de se venger. Il poursuivit en disant qu’il avait
changé d’idée, ému par la façon dont le chasseur traitait les enfants, jour après jour, équitablement,
sans faire de distinction. Il ajouta que l’attitude qu’il avait observée pendant son séjour l’avait profon-
dément touché, et conduit à renoncer pour toujours à son intention, parce qu’il imaginait combien le
chasseur viendrait à manquer à ces enfants, s’il menait à terme son projet.
C’est ainsi qu’il se dirent au revoir, et partirent chacun de son côté. De retour chez lui, comme
d’habitude le soir après le dîner, Mam Tamba, répétant les gestes qui avaient ému son hôte au point de
lui valoir le pardon de celui-ci, raconta l’histoire du bufflon, répétant la chanson même que le jeune
avait chantée au moment où il lui avait révélé comment il avait appris que c’était lui qui avait tué sa
mère. Ainsi finit l’histoire de Mam Tamba et du buffle, et c’est une fin heureuse, surtout grâce à son
habitude de bien traiter les enfants.

— 338 —
15. 1

Conto mandinga Conte mandingue Local da colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

as línguas em que estes contos foram recolhidos. Les de Guinée-Bissau pour les langues dans lesquelles ces
versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont contes ont été collectés.

— 341 —
Musoh fula sotata

— 342 —
história de duas rivais
É uma história de duas meninas, filhas de duas mulheres casadas com um homem. Por infelicidade
de uma das crianças, a mãe morreu, deixando-a de tenra idade sob custódia da madrasta. A madrasta
maltratava a enteada, transformando a sua vida numa autêntica agrura. Ela é que fazia todo o trabalho
doméstico. Algumas tarefas de tão pesadas, não eram apropriadas para a sua idade. A filha da madras-
ta era protegida e mimada. Um dia, a madrasta mandou a órfã à fonte buscar água, levando consigo
um pote. Normalmente, na tabanca, as pessoas para irem àquela fonte, iam em grupos, porque ficava
muito longe e também porque assim se protegiam dos animais ferozes que surgiam pelo caminho. Ela
confessou que tinha medo de ir sozinha, porque naquele momento todas as suas amigas já tinham ido
e voltado da fonte. A madrasta não se comoveu com a confissão e obrigou-a, ainda assim, a ir sozinha.
Amedrontada, ela lá foi. Com o pote de água na cabeça, de regresso à aldeia, tropeçou e caiu partindo o
recipiente. Chegou a casa abalada e explicou o sucedido à madrasta que, sem pena e nem dor, obrigou-
-a a ir arranjar um pote novo para repor no lugar do que tinha partido.
O local onde se podia adquirir potes ficava longe da aldeia mas, com medo de represália, partiu
sozinha. Pelo caminho encontrou-se com uma serpente, que ao invés de amedrontá-la ou de lhe fazer
mal, se ofereceu para ajudá-la a encontrar o que ia procurar. Deu-lhe não só um novo pote mas tam-
bém roupas novas. De volta, acompanhou-a até perto da aldeia. Ao chegar à aldeia, todos os aldeões,
incluindo a madrasta, ficaram admirados de vê-la assim tão bem vestida. Ela entregou o pote novo à
madrasta. Continuou a ter contactos com a serpente ao mesmo tempo que a inveja e ódio tanto da
madrasta, como da sua meia-irmã, cresciam.
Esta última, julgando poder ter a mesma sorte, decidiu partir o pote propositadamente, acreditan-
do que se fosse buscá-lo de volta, como foi o caso da outra, teria a mesma sorte.
A sua mãe maldosa fingidamente obrigou-a a ir buscar um outro em substituição do que partiu.
Entretanto, a justiça da natureza quis que a sorte das duas fosse diferente. A filha da madrasta pelo ca-
minho fora, na sua aventura de ir procurar o pote, perdeu-se no meio da mata densa por longo tempo,
acabando por morrer devido ao cansaço e à fome. Mais tarde, quando se soube da sua má sorte, a mãe
arrependeu-se, perdendo todo o gosto pela vida. Foi assim, triste e com amargura, que terminou os
seus últimos dias de vida.

— 343 —
histoire de deux rivales
Écoutez l’histoire de deux filles, les filles de deux femmes mariées au même homme. Pour le malheur
de l’une des enfants, sa mère mourut, la laissant en bas âge à la garde de sa marâtre. La marâtre maltrai-
tait sa belle-fille, faisant de sa vie un véritable calvaire. C’était elle qui faisait toutes les corvées domes-
tiques. Certaines tâches étaient si lourdes qu’elles ne convenaient pas à son âge. La fille de la marâtre
était protégée et choyée. Un jour, la marâtre envoya l’orpheline chercher de l’eau à la fontaine, empor-
tant une cruche avec elle. Normalement, les gens du village allaient à cette fontaine en groupe, car elle
était très éloignée et aussi parce que, de la sorte, ils se protégeaient des animaux féroces qui surgissaient
sur le chemin. La fillette avoua qu’elle avait peur d’y aller toute seule, parce que, à cette heure, toutes
ses amies étaient déjà allées à la fontaine et en étaient revenues. La marâtre ne fut pas touchée par la
déclaration et l’obligea, malgré cela, à y aller toute seule. Terrifiée, elle y alla. S’en retournant au village,
la cruche d’eau sur la tête, elle trébucha et cassa le récipient en tombant. Elle arriva à la maison toute
secouée et expliqua ce qui s’était passé à la marâtre qui, sans un brin de pitié, l’obligea à aller chercher
une nouvelle cruche pour remplacer celle qui s’était brisée.
L’endroit où l’on pouvait acheter des cruches se trouvait loin du village mais, craignant des repré-
sailles, elle partit seule. En chemin, elle rencontra un serpent qui, au lieu de lui faire peur ou du mal,
s’offrit à l’aider à trouver ce qu’elle cherchait. Il lui donna non seulement une nouvelle cruche, mais
aussi des vêtements neufs. Pour le retour, il l’accompagna jusqu’à proximité du village. En arrivant au
village tous les villageois, y compris sa belle-mère, furent surpris de la voir aussi bien habillée. Elle remit
la nouvelle cruche à la marâtre. Elle resta en contact avec le serpent tandis que grandissaient la jalousie
et la haine de la marâtre comme de sa demi-sœur.
Cette dernière, croyant qu’elle pourrait avoir la même chance, décida de casser volontairement la
cruche, pensant que si elle devait aller en chercher une autre pour la remplacer, il lui arriverait la même
chose qu’à sa demi-soeur.
Sa méchante mère feignit de l’obliger à aller en chercher une autre pour remplacer celle qu’elle avait
cassée. Cependant, la justice naturelle voulut que le sort des deux sœurs fût différent. Dans l’aventure
d’aller chercher la cruche, la fille de la marâtre, sur le chemin de retour, se perdit au milieu de la forêt
dense pendant longtemps, et elle finit par mourir de fatigue et de faim. Plus tard, quand on apprit son
malheur, la mère se repentit, perdant toute envie de vivre. C’est ainsi, triste et amère qu’elle vécut les
derniers jours de sa vie.

— 344 —
16.

Conto manjaco Conte manjak1 Local da colecta Lieu de collecte


Contista Conteur

1. As versões originais dos contos da Guiné-Bissau estão


em transcrição fonética. Com efeito, não existe uma fournies en transcription phonétique. En effet, il n’existe

as línguas em que estes contos foram recolhidos. Les de Guinée-Bissau pour les langues dans lesquelles ces
versions originales des contes de la Guinée-Bissau sont contes ont été collectés.

— 347 —
Wünak na wüngërbe

— 348 —
Corrida entre o macaco
e a tartaruga
Um dia um macaco e uma tartaruga envolveram-se numa forte discussão sobre quem era mais veloz. O
macaco dizia que a tartaruga não tinha fôlego para correr com ele. E a tartaruga também afirmou que
o macaco não podia competir com ela. E como ninguém dava o braço a torcer, decidiram organizar
uma corrida, para ficarem a saber qual dos dois era mais rápido. Escolheram um leão para árbitro, e este
fixou a data da competição para dois dias depois do início da disputa.
Entretanto, como a tartaruga sabia que não tinha recursos físicos para rivalizar com o macaco, deci-
diu pôr em prática um estratagema para neutralizar o adversário. Na véspera da corrida, arranjou dois
cachos de bananas bem cozidos1, levou-os à tardinha para o local da contenda e colocou-os na berma
da estrada, de forma visível.
No dia seguinte, logo de manhã, os dois apresentaram-se pontualmente no ponto de partida. Mal
foi dado o sinal de partida, o macaco disparou logo à frente. Ao virar numa curva à sua esquerda, o
macaco deu com um dos cachos de banana. Parou e olhou para trás, para ver se via a tartaruga, mas esta
ainda estava bastante atrasada. Pôs-se então a comer até acabar todas as bananas que havia no cacho.
Retomou a corrida e passado algum tempo deparou-se de novo com um segundo cacho de bananas na
berma da estrada. Deteve-se outra vez para se deleitar com o fruto. Antes, virou-se para verificar onde
se encontrava a tartaruga, mas a estrada estava deserta. Confiante, o macaco sentou-se e deu largas ao
seu apetite. Comeu, comeu e comeu tanto, que alguns minutos depois acabou por adormecer no local.
Acordou cerca de seis horas depois, quase ao pôr-do-sol. Arrancou a toda a velocidade, mas já era tar-
de. Enquanto dormia, a tartaruga aproveitou para recuperar o atraso, cortou a meta em primeiro lugar,
e ficou sentada tranquilamente à espera do macaco.

— 349 —
Course entre le singe
et la tortue
Un jour, un singe et une tortue se lancèrent dans une grande discussion sur celui qui courait le plus vite.
Le singe disait que la tortue n’avait pas assez d’endurance pour courir avec lui. Et la tortue affirmait
aussi que le singe ne pouvait pas se mesurer à elle. Et comme aucun des deux ne voulait en démordre,
ils décidèrent d’organiser une course pour savoir lequel des deux était le plus rapide. Ils choisirent un
lion pour arbitre, et celui-ci fixa la date de la compétition à deux jours après le début de la querelle.
Cependant, comme la tortue savait qu’elle n’avait pas les ressources physiques pour rivaliser avec
le singe, elle décida de mettre en œuvre un stratagème pour neutraliser son adversaire. La veille de la
course, elle se procura deux régimes de bananes bien mûres, les apporta dans la soirée sur les lieux de la
course, et les plaça bien en vue sur le trajet.
Le lendemain, tôt le matin, tous deux se présentèrent à l’heure exacte au point de départ. À peine
le signal de départ donné, le singe partit comme une flèche en tête. En prenant un virage sur sa gauche,
le singe trouva l’un des deux régimes de bananes. Il s’arrêta et se retourna pour voir s’il voyait la tortue,
mais celle-ci était encore assez loin. Il se mit alors à manger jusqu’à la dernière toutes les bananes qu’il
y avait sur le régime. Il reprit sa course et, au bout de quelque temps, il tomba sur le deuxième régime de
bananes au bord de la route. Il s’arrêta à nouveau pour se régaler des fruits. D’abord, il se retourna pour
vérifier où se trouvait la tortue, mais la voie était déserte. Confiant, le singe s’assit et se laissa aller à son
appétit. Il mangea, mangea, mangea tellement, que quelques minutes après, il finit par s’endormir sur
les lieux. Il se réveilla près de six heures après, presque au coucher du soleil. Il démarra à toute allure,
mais il était déjà trop tard. Pendant qu’il dormait, la tortue en avait profité pour rattraper son retard,
elle coupa la ligne d’arrivée la première et resta assise tranquillement à attendre le singe.

— 350 —
La taupe, le termite
et la fourmi

e a formiga

Egënd enangërëx Lab


Un
Uma misteriosa maternidade Um

— 352 —
Sénégal Senegal

L’hyène et le lièvre
vont au baptême
A hiena e a lebre vão
ao baptizado

Labar er bital
Un jeune homme capricieux
Um jovem caprichoso Amary le pieux
Samba, o Satânico, e
Amary, o Piedoso

Sira

— 353 —
17.

Conte balante Conto balanta Lieu de collecte Local da colecta


Conteur Contador

— 355 —
— 356 —
— 357 —
— 358 —
la taupe, le termite
et la fourmi
La taupe et le termite sont tous deux des maçons, la fourmi quant à elle est un chasseur.
— Combien de personnes habitent dans ta chambre ? demanda, un jour, la taupe au termite.
— Eh, dans ma chambre, je peux faire entrer beaucoup d’animaux, lui dit-elle, l’hyène, le boa, le
serpent ainsi que d’autres animaux comme le porc-épic. Et tant d’autres encore. Et toi, peux-tu me dire
à présent combien d’êtres vivent dans ta chambre ?
— Il y en a beaucoup aussi, répondit la taupe. Je ne peux pas les dénombrer mais je peux t’en citer
quelques-uns comme le rat ou le serpent. Ils sont si nombreux et ils sortent et rentrent sans cesse. Je ne
saurais les reconnaître.
La termite lui demanda :
— Ta chambre ne compte donc pas une seule porte ?
— Non. Il y a partout des portes, répondit le termite.
La taupe lui dit :
— Avec une seule porte comme chez moi, tu aurais pu aisément contrôler les entrées et sorties.
Moi, c’est une seule personne qui me fatigue dans ma chambre avec son pagne : c’est le porc épic, dit
la taupe. Et si par hasard, il approche quelqu’un, il le pique. C’est pour cela que je ne voudrais pas qu’il
vienne dans ma chambre.
Ce termite s’appelait « Siga ».
— Laisse-le dans ta chambre, ce n’est pas grave.
— Mais toi, dit la taupe, le boa qui est dans ta chambre, qu’est-ce qu’il y fait ?
— S’il voit un animal, il le dévore, dit le termite.
— Non, celui-là ne peut pas cohabiter avec quelqu’un.
La fourmi est un chasseur tout comme l’hyène qui se trouvait dans la même chambre que le boa.
Comme il y avait toujours des disputes entre le boa et l’hyène, on appela cette dernière pour lui de-
mander si vraiment la chambre lui appartenait. L’hyène répondit :
— Non. La chambre ne m’appartient pas.
La taupe dit au termite que dans sa chambre, il y avait une seule porte d’entrée avant d’ajouter :
— Quand il se fait tard, je la ferme. Mais vous, vous ne fermez jamais la vôtre.
Un jour, presque toute la chambrée partit faire une promenade nocturne. À leur retour, ils ont
trouvé que le boa avait barré l’accès à la porte d’entrée. Personne ne pouvait entrer à l’intérieur de la
maison. Ayant constaté la situation, l’hyène lui dit :
— Qui a barré l’accès ?
Sur le champ, le boa s’est levé et a giflé l’hyène qui lui dit :
— Attention, tu m’attaques en oubliant que j’ai des dents capables de t’écraser alors que toi tu
n’en es pas capable.
La bagarre éclata entre les deux protagonistes. L’hyène sortit victorieuse de la confrontation.
La taupe, leur dit :

— 359 —
— Si vous vous faites la guerre, vous n’allez plus passer la nuit ici.
Les autres lui dirent :
— Il ne faut pas faire cela car nous ne sommes pas tous fautifs. Les seuls responsables de cette
guéguerre sont le boa et l’hyène.
Ils firent venir le termite pour qu’il donnât son avis. Celui-ci arriva et écouta les explications. Il leur
dit aussi que, s’ils continuaient à se faire la guerre, il allait faire tomber la maison et partir des lieux. Ils
savaient que s’il partait, la maison allait tomber. Il tint parole et s’en alla vivre ailleurs. Quelques jours
après, la maison s’affaissa. Les animaux sans abris allèrent l’informer de la situation.
— J’avais raison, car quand je vous avertissais, vous ne m’aviez pas compris. Aujourd’hui vous vous
rendez compte que j’avais raison.
La taupe revint et dit à l’hyène :
— Tu peux quitter votre chambre ainsi tu ne vivras plus avec le boa.
La taupe construisit une nouvelle maison. Elle avait prévu une pièce pour chacun. Et pourtant le
boa et l’hyène se retrouvèrent dans une seule et même chambre. Pour sortir de cette crise, que fallait-il
faire ?
Les colocataires décidèrent que l’hyène et le boa devaient payer une amende chacun. Ils dirent aussi
à l’hyène d’aller trouver du gibier vu qu’il était un grand chasseur.
— Et tout ce que tu attraperas sera partagé entre tous.
C’est la raison pour laquelle l’hyène a appelé son ami chasseur, la fourmi, pour qu’elle l’aidât. Cette
dernière, lui dit : « D’accord, je vais partir à la chasse ».
Une fois la fourmi partie l’hyène alla attraper le termite. A son retour de la chasse, lorsqu’il arriva
à la maison, tout le monde l’attendait. Il leur montra sa proie : le termite.
— Pourquoi, tu as fait cela ? Tu as tué le termite ? S’exclamèrent les autres. Tu ne devais pas faire ça
car le termite est un grand maçon qui nous construit des maisons.
— C’est cela ma chasse. Je ne chasse pas autre chose que les termites. Maintenant, nous allons tous
être dans la même chambre pour qu’il n’y ait plus de problèmes.
Mais le hic est que le termite ne peut pas vivre avec le porc-épic. Il demanda que le porc-épic quittât
la chambre à cause de ses piquants. Ce dernier dit :
— Je ne peux rien contre la volonté divine ; je suis né comme ça. Et si c’est cela, tu veux me faire
quitter la chambre. Ce n’est pas grave, je m’en vais.
La taupe demanda aussi à tout le monde de sortir de sa maison. A partir de ce moment, chacun
allait se débrouiller. L’hyène quant à elle est retournée chez la taupe pour que cette dernière l’héber-
geât. La taupe maintint toujours sa position de refus. C’est pour cela que l’hyène n’a pas de résidence
fixe. Aujourd’hui elle est dans un endroit, demain dans un autre. Elle est sans domicile fixe.

— 360 —
a toupeira, a térmita
e a formiga
A toupeira e a térmita são ambas pedreiras, enquanto que a formiga é caçadora.
— Quantas pessoas vivem no teu quarto? –, perguntou um dia a toupeira à térmita.
— Hum... no meu quarto podem entrar muitos animais –, disse ela –, a hiena, a jibóia, a serpente,
assim como outros animais, como o porco-espinho, e muitos outros ainda. E agora podes tu dizer-me
quantos seres vivem no teu quarto?
— Também há muitos –, respondeu a toupeira –, não consigo contá-los, mas posso citar-te alguns,
como o rato e a serpente. São tantos a entrar e a sair sem parar... não seria capaz de os reconhecer.
A térmita perguntou:
— O teu quarto não tem só uma porta?
— Não, há portas por todo o lado –, respondeu a térmita.
A toupeira disse:
— Só com uma porta, como acontece em minha casa, seria fácil controlares as entradas e as saídas.
No meu quarto só uma pessoa me incomoda, por causa da vestimenta, é o porco-espinho. Se por acaso
se aproxima de alguém pica-o, é por isso que eu não gostava que ele viesse para o meu quarto.
A térmita chamava-se Siga.
— Deixa-o ficar no teu quarto, não é grave.
— Quanto a ti –, disse a toupeira –, a jibóia que está no teu quarto, o que faz ela lá?
— Se vir um animal devora-o –, disse a térmita.
— Não, essa aí não pode viver com ninguém.
A formiga é caçadora, tal como a hiena, que estava no mesmo quarto que a jibóia. Como havia
sempre discussões entre a jibóia e a hiena, esta última foi chamada para lhe perguntarem se o quarto
realmente lhe pertencia. A hiena respondeu:
— Não, o quarto não é meu.
A toupeira disse à térmita que no quarto dela só havia uma porta de entrada, e acrescentou:
— Quando se faz tarde fecho-a, mas vocês nunca fecham a vossa.
Um dia quase todos os ocupantes do quarto foram dar um passeio à noite. No regresso viram que
a jibóia tinha impedido o acesso à porta de entrada. Ninguém podia entrar em casa. Constatando a
situação, a hiena perguntou:
— Quem bloqueou a entrada?
A jibóia pôs-se imediatamente de pé e deu uma bofetada à hiena, que disse:
— Tem cuidado, atacas-me e esqueces que tenho dentes capazes de te esmagar, enquanto tu não és
capaz de me fazer o mesmo.
A briga rebentou entre as duas protagonistas. A hiena saiu vitoriosa do confronto.
A toupeira disse:
— Se brigam não passam a noite aqui.
Os outros moradores retorquiram:

— 361 —
— Não deves fazer isso, não somos todos culpados, os únicos responsáveis desta guerrinha são a
jibóia e a hiena.
Mandaram vir a térmita, para que desse a sua opinião. Esta chegou, ouviu as explicações e disse que
se continuassem a brigar deitava a casa abaixo e ia-se embora dali.
Eles sabiam que se ela se fosse embora a casa caía.
A térmita cumpriu a palavra e foi viver para outro sítio. Alguns dias depois a casa ruiu.
Os animais, sem abrigo, foram informá-la da situação.
— Eu tinha razão. Quando vos avisei vocês não perceberam, mas hoje dão-se conta de que eu tinha
razão.
A toupeira voltou e disse à hiena:
— Podes deixar o vosso quarto, assim já não tens de viver com a jibóia.
A toupeira construiu nova casa, prevendo uma divisão para cada um. Só que a jibóia e a hiena
encontraram-se num único e mesmo quarto. Que havia de se fazer para resolver o imbróglio?
Os co-inquilinos decidiram que a hiena e a jibóia deviam pagar uma multa cada uma e disseram à
hiena que fosse caçar, uma vez que era uma grande caçadora.
— E tudo o que caçares será dividido por todos.
Foi por isso que a hiena chamou a sua amiga caçadora, a formiga, para que a ajudasse. Esta disse:
— Está bem, vou caçar.
Logo que a formiga se foi embora a hiena foi caçar a térmita. Quando chegou a casa, de regresso da
caçada, estavam todos à espera dela, que lhes mostrou a presa, a térmita.
— Mataste a térmita? Porque fizeste isso? –, exclamaram os outros. – Não devias ter feito isso, a
térmita é uma grande pedreira e constrói casas para nós.
— Esta é a minha caça, eu só caço térmitas. Agora vamos ficar todos no mesmo quarto, para que
não haja mais complicações.
Mas o problema é que a térmita não pode viver com o porco-espinho, por causa dos espinhos, e
pediu que ele saísse do quarto. Este disse:
— Não posso fazer nada contra a vontade divina, nasci assim, e se é por isso que queres que eu saia
do quarto, não há problema, vou-me embora.
A toupeira também pediu a todos que saíssem de casa dela. A partir de então cada um devia cuidar
de si.
Quanto à hiena, voltou para casa da toupeira, para que ela a albergasse, mas a toupeira manteve a
decisão e recusou. É por isso que a hiena não tem residência fixa, hoje está num sítio e amanhã noutro,
não tem morada fixa.

— 362 —
18.

Conte bassari (onyan) Conto bassari (onyan) Lieu de collecte Local da colecta
Conteuse Contadora

— 365 —
egënd enangërëx

— 366 —
— 367 —
une mystérieuse maternité
Il était une fois une belle jeune fille prénommée Thiéra qui avait fait la connaissance d’un jeune homme
venu d’on ne savait où. Souvent, Thiéra disait : « Je pars en brousse chercher des fruits ! ». En réalité,
elle allait rencontrer le jeune homme.
Quelques temps après, elle se trouva enceinte. La grossesse de Thiéra suscita beaucoup d’étonne-
ment de la part des gens de son village qui se demandaient qui pouvait bien en être l’auteur. Au terme
de la gestation, Thiéra mit au monde un beau garçon auquel on donna le nom de Thiara. Le temps
passa, Thiara grandissait et bientôt il se mit à marcher. Les gens, toujours étonnés, lui demandaient :
— « Thiéra, avec qui as-tu eu ce bel enfant ? »
Elle leur répondait :
— « Mais, je ne sais pas, je n’en ai pas la moindre idée ! »
En dépit de cette réponse, les gens continuaient d’insister et lui posaient toujours la même ques-
tion. Un beau jour, ils décidèrent de convoquer une assemblée générale. Ce jour-là, l’homme-venu-
d’on-ne-sait-où vint lui aussi assister à la réunion. Il était très laid et avait tout le corps couvert de
plaies. Les villageois s’adressèrent alors à Thiéra, la mère, en ces termes :
— Puisque tu ne connais pas le père de ton fils, on va lui attacher des grelots aux pieds et on va lui
chanter une chanson.
Ils se mirent à chanter : « Thiara, montre-nous ton père, Thiara, montre-nous ton père, sinon on
dirait que tu es tombé du ciel ! Qui est ton père, Thiara ? Es-tu tombé du ciel ? Qui est ton père » ?
Alors Thiara courut, jer, jer, jer, jer ! 1 et désigna le jeune homme couvert de plaies. Les villageois
hurlèrent : « Non, non ! Lui ! Ce n’est pas lui ! »
Thiara se retourna, jer, jer, jer, jer, jer, jer !
Les villageois se remirent à chanter : « Allons Thiara, montre-nous qui est ton père, montre-nous
qui est ton père. Es-tu tombé du ciel ? Qui est ton père ?»
Thiara continuait à courir jer, jer, jer, jer, jer, jer et il continuait à désigner l’homme couvert de
plaies. Les gens continuaient à refuser d’admettre ce que l’enfant leur disait.
« C’est faux, non, c’est faux. C’est celui-là le père, c’est ce beau garçon ! Non, ce n’est pas cet
homme, ce n’est pas cet homme couvert de plaies. Non, ce n’est pas lui ! »
Et comme Thiara insistait et désignait l’homme couvert de plaies, les gens étaient dépités. Tout le
village parlait du problème. Et Thiara donnait toujours la même réponse.
C’est alors que l’homme-venu-d’on-ne-sait-où s’approcha de Thiéra et lui dit : « Thiéra, les gens
sont fâchés contre toi à cause de cet enfant que tu as eu avec moi. Un grand vent viendra te chercher.
Quand il arrivera, n’aie pas peur. Va ranger toutes tes affaires, dans ta chambre. Tu les poseras dans la
cour et toi, tu te mettras au milieu ».
Malheureuse d’avoir déplu aux villageois, Thiéra accepta volontiers la proposition de l’homme-
venu-d’on-ne-sait-où. Elle pleurait tout en rassemblant ses affaires. Elle les mit toutes au milieu de la
cour.
Les gens lui demandaient : « Pourquoi sors-tu tes affaires et pourquoi les mets-tu là ? »

— 368 —
Ils répétèrent trois fois la même question, mais Thiéra ne leur répondit pas. Elle ramassait ses biens
et pleurait doucement. Soudain, ils entendirent un grand bruit, « Uuuuuuuu1».
Un grand vent se leva et se mit à tourbillonner et, soudain, les villageois virent Thiéra et son enfant
Thiara s’envoler dans le ciel : « Regardez Thiéra, regardez-la, regardez-la ! ». Ils la perdirent de vue.
Elle avait été emportée au ciel par l’homme-venu-d’on-ne-sait-où, celui-là même qui était couvert de
plaies. Quand ils arrivèrent au ciel, avec leur garçon, ils s’installèrent.
Un jour, elle prépara de la purée de pois et de pommes de terre. Elle appela son mari pour man-
ger, mais ce dernier lui demanda : « Qu’as-tu préparé » ?
Elle répondit : « De la purée de pomme de terre ».
Il répondit que, lui, ne mangeait pas de cette purée-là.
Les jours passaient et la même scène se répétait. Un jour, Thiéra alla demander à ses voisins :
« Depuis que mon mari m’a amenée ici, il n’a pas accepté de manger de purée. Je ne sais plus que
faire ! »
Ils lui demandèrent : « Mais, qu’est-ce que tu prépares à ton mari ? » Elle leur répondit : « De la
purée de pomme de terre ».
Ils lui dirent alors : « Eh ! Ici, nous préparons des étoiles. Alors, toi aussi, tu iras cueillir des étoiles.
Cherche un pilon et un mortier en fer, et pile les étoiles, puis prépare-les. Tu verras, il mangera ».
Elle cueillit des étoiles, les pila et les prépara. La cuisson terminée, elle appela son mari : « Viens
manger, le repas est prêt. » Il lui demanda : « Qu’est-ce que tu as préparé ? »« Des étoiles », répon-
dit-elle.
Il mangea.
En fait, elle ne savait pas encore qu’elle était au ciel.

— 369 —
uma misteriosa maternidade
Era uma vez uma linda rapariga chamada Thiéra que conheceu um jovem que veio não se sabe donde.
Era frequente Thiéra dizer: “Vou ao mato buscar fruta.” Na verdade ia encontrar-se com o jovem.
Algum tempo depois ficou grávida. A gravidez de Thiéra deixou as pessoas da aldeia muito admi-
radas e a perguntar-se quem seria o autor. No fim da gravidez Thiéra deu à luz um belo rapaz, a quem
foi dado o nome de Thiara. O tempo passou. Thiara crescia e depressa começou a andar. As pessoas,
sempre admiradas, perguntavam: “Thiéra, com quem tiveste este belo filho?” E ela respondia: “Não
sei, não faço a mínima ideia!”
Apesar desta resposta as pessoas insistiam e estavam sempre a perguntar-lhe o mesmo. Um belo dia
decidiram convocar uma assembleia geral.
O homem que veio não se sabe donde também foi assistir à reunião. Era muito feio e tinha o corpo
coberto de chagas.
Os aldeões dirigiram-se a Thiéra, a mãe da criança, nestes termos:
— Como não sabes quem é o pai do teu filho vamos prender-lhe guizos nos pés e cantar-lhe uma
canção.
E começaram a cantar: “Thiara, mostra-nos o teu pai, Thiara, mostra-nos o teu pai, se não dizemos
que caíste do céu! Quem é o teu pai, Thiara? Caíste do céu? Quem é o teu pai?”
Então Thiara correu, jer, jer, jer, jer1, e apontou o jovem cheio de feridas. Os aldeões gritaram:
“Não, não, ele não, não pode ser ele!”
Thiara correu outra vez, jer, jer, jer, jer, jer, jer.
Os aldeões começaram outra vez a cantar. “Vá, Thiara, mostra-nos o teu pai. Caíste do céu? Quem
é o teu pai?”
Thiara continuava a correr, jer, jer, jer, jer, jer, jer, e a apontar o homem das feridas. As pessoas con-
tinuavam a não querer aceitar o que a criança lhes dizia. “Não é verdade, não, não é verdade. O pai é
aquele ali, aquele belo rapaz! Não, não é este homem coberto de chagas, não é ele!”
E como Thiara insistia e continuava a apontar o homem das feridas, as pessoas ficaram desaponta-
das. Toda a aldeia falava do assunto. Thiara dava sempre a mesma resposta.
Então o homem que veio não se sabe donde foi ter com Thiéra e disse:
— Thiéra, as pessoas estão zangadas contigo por causa deste filho que tiveste comigo. Um vento
muito forte há-de vir buscar-te. Quando chegar não tenhas medo. Arruma todos os haveres que tens
no quarto, põe-nos no pátio e põe-te lá no meio.
Triste por ter desagradado aos aldeões, Thiéra aceitou de boa vontade a proposta do homem que
veio não se sabe donde.
Thiéra chorava enquanto reunia os haveres, que ia pondo no meio do pátio.
As pessoas perguntavam-lhe: “Porque é que estás a tirar as tuas coisas e a pô-las aí?”
Repetiram a pergunta três vezes, mas Thiéra não lhes respondeu. Ia juntando as coisas e chorando
baixinho. De repente ouviu-se um grande barulho, uuuuuuuu2. Um vento forte levantou-se num re-

— 370 —
demoinho e de repente os aldeões viram Thiéra e o filho, Thiara, a voar para o céu: “Vejam a Thiéra,
vejam-na, vejam-na!” Perderam-na de vista. Ela foi levada para o céu pelo homem que veio não se sabe
donde, o tal que estava coberto de chagas. Quando chegaram ao céu, com o filho, instalaram-se.
Um dia ela fez puré de ervilhas e batata. Chamou o marido para comer, mas ele perguntou:
— O que é que preparaste?
Ela respondeu:
— Puré de batata.
Ele disse que não comia tal puré.
Os dias iam passando e a cena repetia-se. Um dia Thiéra disse aos vizinhos:
— Desde que o meu marido me trouxe para cá que se recusa a comer puré. Já não sei o que hei-de
fazer!
Eles perguntaram-lhe:
— O que é que preparas para ele?
Ela respondeu:
— Puré de batata.
Então disseram-lhe:
— Ah! Aqui cozinhamos estrelas. Tens de ir apanhar estrelas. Arranja um pilão e um almofariz de
ferro, pila as estrelas e depois cozinha-as. Vais ver que ele come.
Ela foi apanhar estrelas, pilou-as e cozinhou-as. Pronta a refeição, chamou o marido:
— Vem comer, a comida está feita.
Ele perguntou-lhe:
— O que é que fizeste?
— Estrelas –, respondeu ela.
Ele comeu.
Na verdade ela ainda não sabia que estava no céu.

— 371 —
19.

Conte bëdik Conto bedik Lieu de collecte Local da colecta


Conteuse Contadora

— 373 —
labar er bital

— 374 —
un jeune homme capricieux
Charo1 avait une femme. De cette union naquirent une jeune fille et un jeune garçon. Quand l’enfant
devint adulte, il décida de n’épouser qu’une fille aussi belle que sa sœur appelée Bego2. La nouvelle se
répandit dans les différents villages. Les filles des contrées environnantes venaient se faire admirer. Le
garçon monta sur un rônier et sa mère chantait dès que les filles s’approchaient de l’arbre :« Saroram
injarar Mamadu sarama ger timo ».
Si ladite fille n’était pas aussi belle que sa soeur, il lui disait : « Nëma Ka injarar ar timo timo gër
beggo ».
Dans un village, des filles décidèrent de se rendre à la demeure du jeune garçon. Elles abusèrent
une de leurs copines en lui disant qu’elles devaient ramasser des crottins de chèvre pour les porter en
cadeau chez l’homme. Faisant tout à fait le contraire de cette ignoble recommandation, elles empor-
tèrent du riz. Avant d’arriver au village du jeune homme, elles s’arrêtèrent à un point d’eau. Elles se
déchargèrent pour se laver. Là, elles décidèrent de montrer chacune ce qu’elles transportaient pour
voir laquelle avait le riz le plus blanc. Quand elles déballèrent leurs besaces, leur copine leur dit :
— Eh ! vous m’avez trompée en me disant qu’il fallait apporter des crottins de chèvre.
Elles lui dirent :
— C’est que tu es bien naïve ! Qui peut donner à un homme des crottins de chèvre ? Tu es même
très sotte !
La jeune fille les pria de l’attendre là et de lui laisser le temps de retourner au village pour prendre
du riz. Elle leur dit même qu’elle avait du riz déjà pilé. Les autres filles firent semblant d’accepter. Mais
dès qu’elle leur tourna le dos, elles portèrent chacune son riz sur sa tête et poursuivirent leur chemin.
Leur copine refit le trajet jusqu’à leur village. Elle prit du riz et se remit en route. Mais, pendant qu’elle
hâtait le pas, un orage la surprit.
Elle arriva en vue d’une case où vivait une diablesse. Cette dernière était potière et avait fabriqué
des canaris qu’elle avait exposés au soleil. Voyant que la pluie allait faire fondre tous ces canaris, la jeune
fille les prit, ouvrit la porte et les rangea à l’intérieur de la case. Puis elle alla, non loin de cette case,
se mettre à l’abri de la pluie. La vieille femme arriva en courant. Dans sa course, elle ne manquait pas
de tomber, de se relever, de chuter encore. Elle pensait que la pluie avait détruit ses canaris. Elle vit la
jeune fille, la salua et lui demanda :
— Qui es-tu, petite fille ?
Elle lui dit qui elle était, où elle allait et lui raconta toute l’histoire. La diablesse l’invita à entrer
dans sa case.
Elle prit un grain de riz et lui demanda de préparer à manger. Ce qu’elle parvint à faire. Le repas
servi, elles mangèrent de bon appétit. C’est alors que la diablesse la transforma en une très belle jeune
fille. Elle lui dit :
— Il t’épousera ! Il ne choisira aucune de celles qui cherchent à rivaliser avec toi. Va !
La jeune fille reprit sa route. Quand elle arriva à destination, le groupe de filles qui l’avait précédée

— 375 —
était installé dans la case du garçon. Elle, on la fit entrer dans la case de la maman. Quand l’homme la
vit, la maman chanta une seule fois : « Faroram injarar Mamadu sarama gër timo »
Il marcha vers la case, y entra et salua la jeune fille. La sœur du jeune homme vint s’asseoir près de
Niano. On ne pouvait pas savoir qui était sa sœur Bego ni qui était l’étrangère qui venait d’arriver. La
confusion demeura jusqu’à la tombée de la nuit. Les deux filles allèrent puiser de l’eau, la chauffèrent
et la présentèrent à l’homme.
Il commença à faire sa toilette avec l’eau apportée par l’une et finit avec celle apportée par l’autre.
Dans la chambre où elles devaient passer la nuit, il y avait deux lits. Chacune des deux filles choisit
le sien et se coucha. Le garçon déroula une natte, l’installa au milieu de la case et se coucha. Le len-
demain, il alla trouver le buisson rouge qui leur servait d’oracle. Le buisson lui dit qu’il devait aller
fabriquer deux ficelles rouges pour l’attacher au poignet de chacune des deux filles et lui prédit que sa
sœur couperait sa ficelle. Mais quand il les eut attachées, toutes les deux défirent leurs ficelles. Alors, il
retourna voir le buisson rouge qui lui dit :
— À présent, trouve une chicotte et va les voir. Frappe chacune d’entre elles une fois. Celle qui est
ta sœur te demandera pourquoi tu la frappes.
Il alla et les trouva en train de piler le mil. Quand il les frappa, sa sœur dit :
— Que t’ai-je fait ?
Il lui cria à la face :
— Lève-toi et va te trouver un mari !
Sa sœur lui répondit :
— Eh bien, moi aussi, je me suis vengée de toi ! C’est toi qui me gardais ici alors que toutes mes
camarades sont mariées. Tu refusais la main offerte de toutes les filles en voulant les comparer à moi !
C’est pour cela que moi aussi je t’ai confondu ainsi !
C’est sur ces mots que sa sœur partit de la maison.
Il en fut ainsi.

— 376 —
um jovem caprichoso
Charo1 tinha uma mulher. Desta união nasceram uma menina e um rapaz. Quando o rapaz se tor-
nou adulto decidiu que só se casaria com uma rapariga que fosse tão bonita como a irmã, Bego2. A
notícia espalhou-se pelas aldeias. As raparigas das terras vizinhas vinham apresentar-se. O rapaz subia
para uma palmeira e assim que as jovens se aproximavam da árvore a mãe cantava: “Saroram injarar
Mamadu sarama ger timo.”
Se a rapariga não fosse bonita como a irmã ele dizia-lhe: “Nëma Ka injarar ar timo timo gër beggo.”
Numa aldeia algumas raparigas decidiram ir a casa do jovem. Enganaram uma das amigas dizendo-
-lhe que deviam apanhar caganitas de cabra para levar de presente para casa do jovem. Mas elas, fazen-
do o contrário desta ignóbil recomendação, levavam arroz. Antes de chegarem à aldeia do rapaz pa-
raram numa fonte e poisaram os carregos para se lavarem. Decidiram mostrar o que cada uma levava,
para ver qual tinha o arroz mais branco. Quando abriram os sacos a amiga disse:
— Ó, vocês enganaram-me dizendo que era preciso levar caganitas de cabra.
Elas disseram:
— Tu é que és ingénua! Quem é que vai oferecer a um homem caganitas de cabra? És mesmo
parva!
A jovem pediu-lhes que esperassem ali por ela e lhe dessem tempo de voltar à aldeia para ir buscar
arroz, até lhes disse que já tinha arroz pilado. As outras jovens fingiram concordar mas logo que ela
virou costas cada uma pôs à cabeça o seu arroz e seguiram caminho. A amiga voltou à aldeia, pegou
no arroz e pôs-se a caminho. Mas, enquanto estugava o passo, foi surpreendida por uma tempestade.
Aproximou-se de uma cabana em que vivia uma diaba. Esta era oleira e tinha feito potes de água,
que deixara a secar ao sol. Vendo que a chuva ia desmanchar os potes, a rapariga pegou neles, abriu a
porta da cabana e arrumou-os lá dentro. Depois foi abrigar-se da chuva, não longe dali. A anciã veio
a correr, e na correria não parava de cair, de se levantar e de voltar a cair. Pensava que a chuva tinha
estragado os potes todos. Viu a jovem, cumprimentou-a e perguntou-lhe:
— Quem és tu, menina?
Ela disse-lhe quem era e aonde ia e contou-lhe a história toda. A diaba convidou-a a entrar na
cabana.
Pegou num grão de arroz e pediu à jovem que fizesse comida, e ela fez. Uma vez servida a refeição
comeram com apetite. Então a diaba transformou-a numa rapariga muito bela e disse-lhe:
— Ele vai casar-se contigo, não vai escolher nenhuma das que querem rivalizar contigo. Vai!
A jovem pôs-se de novo a caminho. Quando chegou ao destino o grupo de raparigas que a tinham
precedido estava instalado na cabana do rapaz. Quanto a ela, mandaram-na para a cabana da mãe.
Quando o homem a viu a mãe cantou uma só vez: “Faroram injarar Mamadu sarama gër timo.”
Ele dirigiu-se para a cabana, entrou e cumprimentou a rapariga. A irmã do jovem chegou e foi
sentar-se ao pé de Niano. O rapaz não conseguia saber quem era a irmã dele, Bego, nem quem era a
estranha que tinha acabado de chegar. A confusão continuou até ao cair da noite. As duas raparigas

— 377 —
foram buscar água, aqueceram-na e levaram-lha.
Ele começou a lavar-se com a água trazida por uma e terminou com a que a outra trouxe. No quarto
em que elas deviam passar a noite havia duas camas. Cada uma das jovens escolheu uma e deitou-se.
O rapaz estendeu uma esteira, instalou-a no meio da cabana e deitou-se. No dia seguinte foi até ao
arbusto vermelho que lhes servia de oráculo. O arbusto disse-lhe que tinha que fazer dois cordões
vermelhos, cada um para atar no pulso de uma das jovens, e que a irmã dele havia de cortar o dela. Mas
quando lhos pôs ambas desmancharam os cordões. Então ele foi ter com o arbusto vermelho outra vez,
que lhe disse:
— Agora arranja um chicote e vai ter com elas. Bate uma vez em cada uma delas. A que é tua irmã
há-de perguntar-te porque é que lhe bates.
Ele foi e encontrou-as a pilar painço. Quando bateu nelas a irmã disse:
— O que te fiz eu?
Ele gritou-lhe na cara:
— Levanta-te e vai procurar um marido!
A irmã respondeu-lhe:
— Pois bem, eu também me vinguei de ti! Eras tu que me guardavas aqui, enquanto todas as mi-
nhas companheiras se casaram. Recusavas a mão de todas as raparigas comparando-as comigo! Foi por
isso que te baralhei assim.
Foi com estas palavras que a irmã dele se foi embora de casa, foi assim.

— 378 —
20.

Conte mandingue Conto mandinga Lieu de collecte Local da colecta


Conteur Contador

— 381 —
taa kuliwooto


— 382 —

— 383 —
l’hyène et le lièvre
vont au baptême
Un baptême allait être célébré et les convives s’affairaient aux préparatifs avec entrain et allégresse.
Seul le lièvre semblait soucieux parce que l’hyène, qui est connue pour son manque de savoir vivre,
était venue lui proposer de l’accompagner à cette cérémonie. Le lièvre lui exprima sa grande méfiance.
Bouki promit de bien se tenir et le jura sur tous ses saints. Elle finit par convaincre le lièvre. Ils se
mirent en route, après avoir recueilli du lait de vache qu’ils allaient offrir aux parents du nouveau-né.
À peine sortis du village, l’hyène fit au lièvre une proposition saugrenue :
— Tu sais ce qu’on pourrait faire ? Remplissons nos calebasses avec nos excréments ! Laissons juste
près du couvercle un peu de ce bon lait.
Le lièvre fit semblant de se prêter à ce jeu bien stupide. Chacun d’eux alla se cacher derrière un
buisson. L’hyène prit sa calebasse et Vatatata1 en but le contenu. Elle n’avala pas la dernière gorgée
qu’elle versa sur le couvercle de la calebasse. Le lièvre, de son côté, n’avait pas respecté la consigne. Il
avait fait ses besoins sur le buisson avant d’en jeter au loin les branches souillées. Il ne but donc aucune
goutte de son lait.
Après cela, ils se remirent en route. Arrivés à quelques pas du village, les habitants les aperçurent
et s’exclamèrent :
— Nos hôtes arrivent ! Les hôtes arrivent !
Ils coururent à leur rencontre. Les vieilles femmes et les filles se disputèrent les calebasses. Les
vieilles femmes disaient aux jeunes filles que la grande calebasse leur revenait de droit. Elles soute-
naient que depuis longtemps c’étaient les jeunes filles qui prenaient la plus petite part des cadeaux.
Elles se mirent à reverser le lait dans des récipients plus grands. Elles commencèrent par la calebasse
de l’hyène, Solololo putuputuputu ! 2 Tout n’était qu’excréments. Elles s’emparèrent ensuite de la cale-
basse du lièvre. Les filles versèrent le lait dans un récipient. Saratatata ! La calebasse ne contenait que
du lait. Elles jetèrent à l’hyène sa calebasse, à la grande honte du lièvre.
Après cet incident, et après le dîner qu’on leur servit, ils demandèrent à regagner la chambre qui
leur avait été réservée. On donna une natte en paille à l’hyène et une natte en cuir au lièvre. Au milieu
de la nuit, l’hyène réveilla le lièvre en se plaignant :
— Mon frère Lièvre, cette natte me pique. On peut changer de place ?
Le lièvre lui dit :
— Tu sais très bien que si je te laisse te coucher sur la natte en cuir, tu vas la manger. Et tu nous feras
ainsi honte aux yeux de nos hôtes.
L’hyène lui dit :

— 384 —
— Mon petit frère, je ne ferais pas ça. Je le jure. Moi te faire honte ? Jamais !
Le lièvre céda et ils échangèrent leurs nattes dans l’obscurité. Après un long moment durant lequel
elle ne put trouver le sommeil, l’hyène se releva et prit un couteau. Fiirat !1 Elle déchira un bout de la
natte en cuir.
Le lièvre lui dit :
— Grand-frère Hyène, tu es en train de manger la natte.
— Je jure que ce sont ces bâtards de petits chats. Ils vont manger tout le cuir.
Ils se recouchèrent. Un long moment passa encore et l’hyène se remit à lacérer le cuir. Fiirat ! Elle
finit par manger toute la natte, ne laissant qu’un petit bout de natte à l’endroit où elle était couchée.
Le lendemain, ils sortirent leurs nattes dans la cour et les étalèrent au soleil. Tout le monde vit que celle
de l’hyène était en lambeaux. L’hyène maintint et répéta que c’étaient les chats qui avaient mangé la
natte en cuir. On leur dit :
— Allongez-vous ! Une étoile tombera sur le ventre du coupable.
Ils se couchèrent et l’étoile tomba sur le ventre de l’hyène. Pis !2 Elle se saisit de l’astre et le jeta sur
le ventre du lièvre. Ils se disputèrent pendant longtemps.
Après la célébration du baptême, le lièvre et l’hyène prirent congé de leurs hôtes. On les mena vers
un enclos où les attendaient leurs cadeaux retenus par des cordes. Ils ne virent, par terre, qu’une grosse
corde et une corde très fine.
Le lièvre se saisit de la grosse corde. L’hyène lui tapa sur la main en lui disant que, depuis que le
monde était monde, en toute chose c’était toujours le plus âgé qui prenait la plus grande part.
— Toi tu as osé choisir la grosse corde ! lui dit-elle sur un ton plein de reproches.
Le lièvre se contenta de prendre la petite corde et remit à l’hyène la grosse. Le lièvre tira sur sa corde
et une vache sortit de l’enclos. Il dit : « Hé, hé, hé ! Ça c’est la part du lièvre ». L’hyène à son tour tira
sur sa corde et vit venir une chèvre. Elle entra dans une grande colère.
Ils prirent le chemin du retour. En cours de route, l’hyène interpella le lièvre et lui demanda :
— Est-ce qu’une chèvre de trois pattes peut continuer à courir ?
Le lièvre lui répondit :
— Je me souviens que nous avons été menacés un jour par un feu de brousse qui venait vers nous.
Nous avons couru de toutes nos forces pour sauver nos vies. Devant nous, une chèvre qui n’avait que
trois pattes menait la course. Mais nous n’avons jamais pu la rattraper.
L’hyène arracha une patte de sa chèvre. Elle mangea tout le morceau de viande et ne laissa au lièvre
que l’os. Ce dernier mit l’os dans son sac. Ils marchèrent longtemps encore. L’hyène eut une nouvelle
fois faim. Elle demanda encore au lièvre :
— Petit-frère, est-ce qu’une chèvre à deux pattes peut encore courir ?
Le lièvre lui répondit :
— Un autre jour, nous avons été poursuivis par un autre feu de brousse. Nous avons suivi une
chèvre qui courait devant nous, sur ses deux pattes mais nous n’avons pas pu la rattraper.
L’hyène arracha d’un seul coup deux pattes à la chèvre qui n’en avait plus qu’une seule. Lorsque
l’hyène l’arracha, la chèvre tomba. Alors l’hyène mangea seule toute la chèvre. Quand elle dévorait un
morceau, elle donnait l’os au lièvre qui le mettait dans son sac. Ils reprirent leur chemin. L’hyène dit
au lièvre :
— Mon frère, mon frère Lièvre, tu sais ce qu’on va faire ? On va tuer ta vache et on va s’en nourrir.

— 385 —
Le lièvre refusa. L’hyène lui dit alors :
— Je te propose de te la surveiller. Je serai ton berger. C’est moi qui vais m’occuper de ta vache et
je vais bien m’en occuper.
Le lièvre lui dit :
— Tu es malicieux ! Un jour, tu pourrais couvrir ma vache avec de la boue rouge pour me venir
me dire ensuite : « Lièvre, quelque chose de bizarre est arrivé à ta vache. Ne devrions-nous pas la
tuer » ? Tu ne ferais pas ça ?
L’hyène lui dit :
— Non, mon frère Lièvre, je ne ferais jamais une telle chose.
Le lièvre lui dit :
— D’accord, je te confie ma vache.
L’hyène surveillait la vache. Elle s’en occupa pendant si longtemps que le lièvre semblait avoir
oublié sa bête. Un jour, le lièvre se rendit au pâturage, vers la fin de la journée. À cette heure, tous les
bergers font rentrer les animaux au village. Le lièvre se dit :
— J’espère que l’hyène ne tardera pas à rentrer comme tous les autres.
L’hyène, pendant ce temps, avait couvert tout le corps de la vache d’une boue rouge mais elle avait
oublié de lui en enduire les oreilles. Quand elle revint, l’hyène dit à lièvre :
— Petit frère, le buffle arrive, le buffle arrive. Il a chassé la vache.
Le lièvre arma son fusil et se mit à crier :
— Hu, hu !1
La vache arrêta sa course. Le lièvre se retourna vers l’hyène et lui dit :
— Hé ! À cause de toi, j’ai failli la tuer.
L’hyène lui répondit que c’était une blague. Elle en rit tellement que le lièvre la crut. Il lui renou-
vela sa confiance et la garde de sa vache. Quelques jours après, l’hyène recouvrit à nouveau l’animal
de boue et lui en mit sur les oreilles et sur le nez. Elle entra dans le village en courant et dit au lièvre :
— Le buffle arrive, le buffle arrive !
Le lièvre cria encore : « Hu ! hu hu !». Mais cette fois-là, la vache ne s’arrêta pas. Le lièvre l’abattit
d’un coup de fusil. L’hyène, satisfaite de son tour, se mit à chanter et à danser en disant :
— Mon frère Lièvre a tué sa vache. Le berger a droit à sa part de l’animal mort et c’est le tunku-
mee 2 qui lui revient. Mon frère Lièvre a tué sa vache, le berger a droit à sa part : le tunkumee.
Le lièvre acquiesça et dépeça sa vache. Quand il finit de griller le tunkumee, il le donna à l’hyène.
— En fait, le lièvre avait pris une petite pierre qu’il avait enveloppée dans le tunkumee avec les
os que Bouki lui avait donnés. L’hyène prit le morceau qu’elle jeta dans sa bouche. Elle entreprit de
le mâcher. Elle perdit une de ses dents et se prit la tête entre ses mains toute la nuit. Le lendemain, le
lièvre s’inquiéta de son état et lui posa mille questions. L’hyène lui répondit :
— Rien de grave ne m’est arrivé. La viande que tu m’as donnée hier, je ne l’ai pas mangée en fait.
Je ne sais pas pourquoi mais ma mâchoire est enflée. Tu veux bien venir voir si elle ne contient pas du
pus ?
Le lièvre mit sa main dans la bouche de l’hyène qui la referma dessus et lui dit alors :
— Montre-moi où tu as caché la viande sinon je ne lâcherai pas tes doigts.
Le lièvre remit toute la viande à l’hyène.

— 386 —
a hiena e a lebre vão
ao baptizado
Ia celebrar-se um baptizado e os convivas ocupavam-se dos preparativos com entusiasmo e alegria. Só
a lebre parecia preocupada, pois a hiena, conhecida pela sua falta de saber estar, tinha-lhe proposto
que a acompanhasse à cerimónia. A lebre manifestou-lhe a sua grande desconfiança. Bouki prometeu
comportar-se bem e jurou por todos os santos, acabando por convencer a lebre. Depois de se abaste-
cerem de leite de vaca, que iam oferecer aos familiares do recém-nascido, puseram-se a caminho. Mal
saíram da aldeia a hiena fez uma proposta absurda à lebre.
— Sabes o que vamos fazer? Enchemos as cabaças com os nossos excrementos e só deixamos um
bocadinho deste bom leite ao pé da tampa.
A lebre fingiu entrar neste jogo bem estúpido. Cada uma delas escondeu-se atrás de um arbusto. A
hiena pegou na cabaça dela, vatatata 1, e bebeu o leite. Não deu o último golo, que deitou na tampa da
cabaça. A lebre, por seu lado, não respeitou as recomendações. Fez as suas necessidades num arbusto,
atirando depois os ramos sujos para longe, e não bebeu nem uma gota de leite.
Depois disto puseram-se de novo a caminho. Quando estavam a alguns passos da aldeia os habi-
tantes viram-nas e exclamaram: “As nossas convidadas estão a chegar, as convidadas estão a chegar!”
Correram ao encontro delas. As mulheres velhas e as raparigas disputavam as cabaças. As velhas
diziam às jovens que a cabaça grande lhes pertencia por direito, argumentando que desde há muito
eram as raparigas que ficavam com a parte mais pequena dos presentes.
Começaram a despejar o leite em recipientes maiores. Começaram pela cabaça da hiena, solololo
putuputuputu 2, eram só excrementos! Em seguida pegaram na cabaça da lebre. As raparigas despeja-
ram o leite num recipiente, saratatata. A cabaça não continha senão leite. Atiraram à hiena a cabaça
dela, para grande vergonha da lebre.
Depois deste incidente e do jantar que lhes foi servido, pediram que as deixassem ir para o quarto
que lhes fora reservado. Deram à hiena uma esteira de palha e à lebre uma de couro. A meio da noite a
hiena acordou a lebre, a queixar-se.
— Minha irmã lebre, esta esteira pica, podemos trocar?
A lebre disse:
— Sabes bem que se eu deixar que te deites na esteira de couro vais comê-la, e vais fazer-nos passar
uma vergonha diante dos nossos anfitriões.
A hiena disse:
— Irmãzinha, eu não faria isso, juro. Eu, fazer-te passar uma vergonha? Nunca!
A hiena cedeu e trocaram de esteiras no escuro. Depois de um bom bocado sem conseguir dormir

— 387 —
a hiena levantou-se, pegou numa faca, fiirat 1!, e rasgou uma ponta da esteira de couro.
A lebre disse-lhe:
— Hiena, irmã mais velha, estás a comer a esteira.
— Juro que são esses gatinhos rafeiros, vão comer o couro todo.
Deitaram-se novamente. Passou-se mais um bom bocado e a hiena começou outra vez a rasgar o
couro, fiirat!, acabando por comer a esteira toda, a não ser um bocadinho no sítio em que estava dei-
tada. No dia seguinte levaram as esteiras para o pátio e estenderam-nas ao sol. Todos viram que a da
hiena estava estraçalhada. Mas a hiena insistia, repetindo que os gatos é que tinham comido a esteira
de couro.
Disseram-lhes:
— Deitem-se. Uma estrela vai cair na barriga da culpada.
Deitaram-se e a estrela caiu na barriga da hiena, pis2. Ela agarrou o astro e atirou-o para cima da
barriga da lebre. Discutiram durante muito tempo.
Depois da celebração do baptizado a lebre e a hiena despediram-se dos anfitriões, que as levaram
até um recinto em que estavam os presentes para elas, presos por cordas. No chão viram apenas uma
corda grossa e outra muito fina.
A lebre pegou na corda grossa. A hiena bateu-lhe na mão, dizendo que desde que o mundo era
mundo foram sempre os mais velhos a ficar com a parte maior de todas as coisas.
— Tu atreveste-te a escolher a corda grossa! –, disse ela, em tom de reprovação.
A lebre contentou-se em apanhar a corda fina e entregou a grossa à hiena. A lebre puxou a corda e
uma vaca saiu do recinto. Ela disse:
— Ha, ha, ha, esta é a parte da lebre!
A hiena, por sua vez, puxou a corda dela e viu aparecer uma cabra. Ficou furiosa.
Começaram a viagem de volta e a certa altura a hiena perguntou à lebre:
— Uma cabra com três patas ainda consegue correr?
A lebre respondeu:
— Lembro-me de que um dia fomos ameaçados pelo fogo de uma queimada, que vinha em nossa
direcção. Corremos com toda a velocidade, para salvar a vida. À nossa frente ia uma cabra só com três
patas, a liderar a corrida. Nunca conseguimos apanhá-la.
A hiena arrancou uma pata à cabra. Comeu a carne toda e não deixou à lebre senão osso. A lebre
pôs o osso no saco. Andaram durante muito tempo e a hiena ficou outra vez com fome. Então pergun-
tou à lebre:
— Irmãzinha, uma cabra com duas patas ainda consegue correr?
A lebre respondeu:
— Num outro dia fomos ameaçados por outra queimada. Corremos atrás de uma cabra com duas
patas, mas não conseguimos apanhá-la.
A hiena arrancou de uma só vez duas patas da cabra, que ficou só com uma. Quando as arrancou
a cabra caiu. Então a hiena comeu sozinha a cabra toda. Quando devorava um bocado dava o osso à
lebre, que o punha no saco.
Puseram-se de novo a caminho. A hiena disse à lebre:
— Minha irmã, minha irmã lebre, sabes o que vamos fazer? Vamos matar a tua vaca.
A lebre não aceitou. Então a hiena disse:

— 388 —
— Proponho-me vigiá-la. Serei o teu pastor, vou tomar conta da tua vaca e vou fazê-lo bem.
A lebre disse:
— És manhosa! Um dia podias cobrir a vaca com lama vermelha e vir dizer-me em seguida: “Lebre,
aconteceu uma coisa esquisita à tua vaca. Não será melhor matá-la?” Não era isto que farias?
A hiena disse:
— Não, minha irmã lebre, nunca faria tal coisa.
A lebre disse:
— Está bem, confio-te a minha vaca.
A hiena guardava a vaca, tomou conta dela durante tanto tempo que a lebre parecia ter-se esqueci-
do do animal. Um dia a lebre foi à pastagem, já perto do anoitecer. Àquela hora os pastores conduziam
os animais para a aldeia. A lebre disse para consigo:
— Espero que a hiena não demore a regressar a casa, como os outros.
A hiena, entretanto, tinha coberto o corpo da vaca com lama vermelha, mas esqueceu-se das ore-
lhas. Quando voltou disse à lebre:
— Irmãzinha, vem aí o búfalo, vem aí o búfalo! Ele caçou a vaca.
A lebre preparou a espingarda e começou a gritar: “huhu1!”
A vaca parou de correr. A lebre virou-se para a hiena e disse-lhe:
— Ei, por tua causa quase que a matava.
A hiena respondeu-lhe dizendo que estava a brincar. Riu tanto que a lebre acreditou nela. Voltou
a confiar nela e a deixá-la guardar a vaca. Alguns dias depois a hiena cobriu de novo a vaca com lama,
incluindo as orelhas e o nariz. Chegou à aldeia a correr e disse à lebre:
— Vem aí o búfalo, vem aí o búfalo!
A lebre gritou outra vez: “Uh, uh, uh!”, mas desta vez a vaca não parou. A lebre abateu-a com um
tiro de espingarda. A hiena, satisfeita com a sua esperteza, começou a cantar e a dançar, dizendo:
— A minha irmã lebre matou a vaca dela. A pastora tem direito à sua parte do animal morto e é ao
tunkumee2 que tem direito.
A lebre concordou e esquartejou a vaca.
Quando acabou de assar o tunkumee deu-o à hiena.
Na verdade a lebre tinha apanhado uma pedrinha, que escondeu no tunkumee, juntamente com
os ossos que Bouki lhe tinha dado. A hiena pegou naquilo e meteu-o na boca, começando a mastigar.
Acabou por perder um dente e passou a noite com a cabeça entre as mãos. No dia seguinte a lebre ficou
preocupada com o estado dela e fez-lhe mil perguntas. A hiena respondeu:
— Não me aconteceu nada de grave. Na verdade não comi a carne que ontem me deste. Não sei
porque é que tenho a mandíbula inchada. Não te importas de ver se tem pus?
A lebre pôs a mão na boca da hiena, que a fechou e lhe disse então:
— Mostra-me onde escondeste a carne, se não não te largo a mão.
A lebre entregou a carne toda à hiena.

Tunkumee

— 389 —
21.
Conte soninke Conto saracolé Lieu de collecte Local da colecta
Conteur Contador

— 391 —
sira

— 392 —
— 393 —
sira
Il était une fois…
Une femme fraîchement mariée qui devait rejoindre son époux qui habitait dans un village quelque
peu éloigné. Son père tint un langage ferme aux amis et parents venus la prendre pour l’accompagner
jusqu’au domicile conjugal. Il leur dit que sa fille devait être portée à bouts de bras en toutes circons-
tances, de sa maison jusqu’à celle du mari, sans qu’elle ne touchât le sol une seule fois. En effet, sur cette
route qu’ils allaient emprunter, se dressait une montagne habitée par des génies facétieux. Toute jeune
fille qui touchait terre à cet endroit maléfique était happée par la montagne qui la retenait prisonnière.
Après promesse faite au père que ses volontés seraient respectées, le cortège nuptial se mit en route.
En cours de route, la fatigue les gagna et ils voulurent observer un petit temps de repos. La petite
sœur de la femme qui était du voyage ne manqua pas de leur rappeler ce que son père avait dit : ils ne
devaient pas faire toucher le sol à sa sœur en cours de route. On fit fi de ses rappels à l’ordre.
Dès qu’ils eurent posé la fille par terre, elle fut immédiatement capturée par la montagne, exacte-
ment comme son père l’avait prédit. Les autres membres du cortège ne purent la libérer de l’étreinte
magique. Désespérés, ils poursuivirent leur chemin, laissant derrière eux la jeune fille désemparée.
Arrivés à destination, ils répondirent aux gens du village qui leur demandaient où était la jeune mariée
qu’elle s’était égarée dans la brousse.
Un jour, assise sur cette montagne, la jeune captive vit passer une femme qui se dirigeait vers son
village. Elle héla la passante par un chant en disant :
— Eh toi, femme ! Eh toi, la femme élancée, quand tu parviendras au village, passe mon salut à ma
mère.
La passante lui répondit en chantant elle aussi :
— Ne pleure pas. Ne pleure pas, sinon, les génies de cette montagne t’entendront, et ils te feront
encore plus de mal.
La passante lui promit de transmettre le message dès son arrivée. Mais quand la femme arriva au
village, elle oublia de dire à la mère de la fille le message qu’elle avait promis de transmettre.
Après le départ de la passante, la jeune fille aperçut un cavalier et chanta derechef :
— Eh toi, Homme ! Eh Homme de si grande taille, quand tu seras arrivé dans mon village, dis à
ma mère que je pense à elle.
Le cavalier lui dit :
— Ne pleure pas, ne pleure pas ! Sinon les génies de cette montagne t’entendront, et ils te feront
encore plus de mal.
Le cavalier lui promit qu’il ne manquerait pas de transmettre son message. Il arriva au village et
oublia sa promesse. Après le cavalier, elle aperçut un autre homme à cheval et lui demanda la même
faveur. L’homme oublia aussi de transmettre le message. Un autre homme qui se dirigeait vers le village
avec ses moutons fit de même. Elle vit enfin arriver un homme accompagné de sa chèvre et elle se remit
à chanter :
— Eh toi, Homme ! Eh, Homme à la haute stature, quand tu seras arrivé chez nous, dis à ma mère
que je l’aime.
Il lui répondit :

— 394 —
— Ne pleure pas. Ne pleure pas ! Sinon, les génies de cette montagne t’entendront, et ils te feront
encore subir pire.
Il promit, comme les autres l’avaient fait, d’aller répéter à sa mère ce que cette jeune femme venait
de lui confier. Tous ces gens, ainsi que leurs animaux, oublièrent de transmettre les messages de la fille.
Quand l’homme accompagné de sa chèvre arriva au village, il en fut de même. La chèvre se mit alors
à bêler. On demanda à l’homme de donner à boire à sa chèvre. Elle refusa l’eau qu’on lui apporta. On
suggéra de lui donner à manger. Mais la chèvre refusa de manger. C’est à ce moment que l’homme se
souvint de sa promesse et dit à la mère de la fille :
— Ah oui ! J’ai vu votre fille. Elle a été capturée par la montagne. Elle m’a demandé de vous dire
tout son amour pour vous.
Alors, le père ordonna à un homme d’aller chercher sa fille. Il lui donna sept grains de mil, sept
petits cailloux et sept grains de maïs, et l’homme se mit en route vers la montagne pour aller libérer la
captive. Mais il n’arriva pas à destination car son cheval se fractura une patte. L’homme tomba bru-
talement à terre et mourut de cette chute. On remit les mêmes provisions à une autre personne, mais
elle échoua également de la même façon et mourut en cours de route. C’est au bord du désespoir que
le père de la fille lança un appel aux gens du village en ces termes :
— Tout homme qui parviendra à ramener ma fille qui se trouve sur la montagne aura sa main. En
plus j’exaucerai tous ses vœux. Je le ferai puisque ma puissance de roi me le permet.
C’est à ce moment qu’une personne se porta volontaire pour effectuer cette terrible mission. Il
prit les sept grains de mil, les sept petits cailloux, les sept grains de maïs et sept œufs avant de se diriger
vers la montagne. À mi chemin, il écrasa les sept œufs par terre, puis ensuite les sept grains de mil sur
les parois d’une montagne. Lorsqu’il arriva à l’endroit où se trouvait la fille, il lança les sept cailloux.
Aussitôt la fille se releva et marcha vers lui. Il la porta sur son cheval, et ils se dirigèrent ainsi vers le
village de la jeune fille.
Quand le père les vit entrer dans la maison familiale, il dit à l’homme : « Cette femme est désor-
mais ton épouse ».

— 395 —
sira
Era uma vez…
Uma mulher recém-casada devia ir ter com o marido, que vivia numa aldeia que ficava um pouco
afastada. O pai dela foi categórico com os amigos e os parentes que vieram buscá-la para a acompanhar
até ao domicílio conjugal, dizendo-lhes que a filha devia ser levada sempre em braços, sem tocar no
chão uma só vez, desde casa dele até à do marido. A verdade é que a estrada por que deviam seguir
passava por uma montanha habitada por espíritos facetos e qualquer jovem que tocasse o solo naquele
lugar maléfico era arrebatada pela montanha, que a guardava prisioneira.
Depois de dada a garantia de que o desejo do pai seria respeitado, o cortejo nupcial pôs-se a cami-
nho. Durante o trajecto os acompanhantes sentiram-se cansados e quiseram parar um bocadinho. A
irmã mais nova da mulher, que também a acompanhava, não deixou de lembrar o que o pai tinha dito,
que não deviam deixar a irmã tocar no chão durante a viagem, mas os outros não quiseram saber.
Mal puseram a jovem no chão ela foi arrebatada pela montanha, exactamente como o pai tinha
dito. Os outros membros do cortejo não conseguiram libertá-la do enlace mágico. Desesperados, con-
tinuaram viagem, deixando a jovem para trás, desamparada. Chegados ao destino, disseram aos alde-
ões, quando lhes perguntaram onde estava a noiva, que ela se tinha perdido no mato.
Um dia, sentada na montanha, a jovem cativa viu passar uma mulher que ia para a aldeia dela.
Chamou a passante com um canto, dizendo: “Ó mulher, ó mulher esbelta, quando chegares à aldeia
dá cumprimentos meus à minha mãe!”
A passante respondeu-lhe, cantando também:
— Não chores, não chores, se não os génios da montanha ouvem-te e ainda te fazem mais mal!
A passante prometeu dar o recado assim que chegasse à aldeia, mas lá chegada esqueceu-se de trans-
mitir a mensagem à mãe da rapariga, como tinha prometido.
Depois de a passante ter partido a jovem avistou um cavaleiro, e de novo cantou.
— Ó homem, ó homem tão grande, quando chegares à minha aldeia diz à minha mãe que penso
nela!
O cavaleiro disse:
— Não chores, não chores, se não os génios da montanha ouvem-te e ainda te fazem mais mal!
O cavaleiro prometeu que não deixaria de transmitir o recado. Chegou à aldeia e esqueceu-se da
promessa.
Depois deste cavaleiro, ela avistou outro homem a cavalo e pediu-lhe o mesmo favor. O homem
também se esqueceu de transmitir a mensagem. E o mesmo aconteceu com um outro homem, que se
dirigia para a aldeia com as ovelhas. Por fim ela viu um homem com uma cabra e começou novamente
a cantar.
— Ó homem, ó homem tão alto, quando chegares à nossa terra diz à minha mãe que a amo!
Ele respondeu-lhe:
— Não chores, não chores, se não os génios desta montanha ouvem-te e fazem-te sofrer ainda
mais!
Tal como os outros ele prometeu dizer à mãe da jovem o que ela lhe confiara. Todas estas pessoas,
bem como os animais delas, tinham-se esquecido de dar o recado da jovem, e quando o homem da

— 396 —
cabra chegou à aldeia aconteceu o mesmo. A cabra começou então a balir. Aconselharam o homem
a dar de beber à cabra, mas ela recusou-se a beber. Sugeriram-lhe que lhe desse de comer, mas a cabra
recusou a comida. Foi nessa altura que o homem se lembrou da sua promessa e disse à mãe da jovem:
— Ah, é verdade!, vi a sua filha. Ela foi capturada pela montanha. Pediu-me que lhe transmitisse
todo o seu amor por si.
Então o pai mandou um homem ir buscar a filha. Deu-lhe sete grãos de painço, sete pedrinhas e
sete grãos de milho e o homem pôs-se a caminho da montanha para libertar a jovem cativa. Mas não
chegou ao destino, porque o cavalo partiu uma pata. O homem caiu com muita força no chão e morreu
da queda.
Deram as mesmas provisões a outra pessoa, mas esta também não foi bem sucedida e morreu no
caminho. À beira do desespero, o pai da jovem lançou um apelo aos aldeões, nestes termos:
— O homem que conseguir trazer a minha filha, que está na montanha, terá a sua mão. Além disso
satisfarei todos os seus desejos. Fá-lo-ei porque o meu poder de rei mo permite.
Foi então que um homem se voluntariou para a terrível missão. Pegou nos sete grãos de painço, nas
sete pedrinhas, nos sete grãos de milho e em sete ovos e partiu em direcção à montanha. A meio do
caminho esmagou os sete ovos no chão e depois os sete grãos de painço contra a encosta de uma mon-
tanha. Quando chegou ao sítio em que a jovem se encontrava atirou as sete pedras. A rapariga levan-
tou-se imediatamente e foi ter com ele. O homem pô-la no cavalo e dirigiram-se assim para a aldeia.
Quando o pai os viu entrar na casa de família disse ao homem:
— De agora em diante esta mulher é tua esposa.

— 397 —
22.

Conte wolof Conto uolofe Lieu de collecte Local da colecta


Conteuse Contadora

— 399 —
sàmba seytaane
ak amari njullit





— 400 —
— 401 —
samba le satanique
et amary le pieux
Il était une fois deux garçons : Samba-le-Satanique et Amary-le-Pieux. Un jour, leur père entreprit de
voyager. Mais avant de prendre congé d’eux, il leur fit les recommandations suivantes :
— Si votre mère accouche en mon absence, immolez la chèvre pour célébrer le baptême de l’en-
fant. Si la jument met bas, donnez-lui un tas de foin.
La mère accoucha par la grâce de Dieu. Samba Seytané1 prit un tas de foin et le déposa devant sa
mère.
Sa mère lui dit :
— Samba, ce n’est pas ce que ton père avait dit.
Samba dit à sa mère :
— Choisis ! Ou tu manges ou tu meurs.
Sa mère lui répondit :
— Tu sais bien que je ne vais pas manger de ce foin.
Il l’abattit d’un coup de fusil.
Quelques temps après, la jument mit bas. Samba tua la chèvre et la servit à la jument. Celle-ci refusa
de manger et se mit à hennir. Il lui décocha une flèche mortelle.
Sa sale besogne accomplie, Samba, se prélassant sur le lit, donna un ordre au bébé.
— Petit bébé, dit-il, va me chercher du tabac.
Le bébé se mit à pleurer. Il lui dit :
— Pourquoi pleures-tu ? Han !
Il déchargea son fusil sur le bébé qui en mourut. Il s’en alla ensuite monter sur le dos du poulain
qui venait de naître et lui dit :
— Je veux du tabac.
Le poulain tituba sous le poids de Samba et tomba. Il lui décocha une flèche mortelle.
Amary revint un jour à la maison familiale et constata tout ce qui était arrivé. Il s’adressa à Samba
Seytané :
— Ey Samba Seytané, notre père ne nous avait pas recommandé cela.
— En tous cas, je les ai tous tués. Partons maintenant d’ici, dit-il.
Ils montèrent sur un chameau et s’en allèrent. Sur leur chemin, ils croisèrent un bûcheron à qui
Samba dit :
— Prête-moi ta hache. Je vais rétrécir les pattes de cet animal car elles sont trop longues.
Amary voulut s’opposer à une telle idée. Samba ne l’écouta pas. Il coupa les quatre pattes du cha-
meau qui mourut de ce supplice. Les deux garçons poursuivirent leur voyage à pied. Ils pénétrèrent
dans une maison, et ils dirent au propriétaire :
— Nous cherchons un endroit pour passer la nuit.

— 402 —
C’était la maison du roi. Ce dernier leur dit :
— J’ai un endroit pour vous abriter. Mais sachez que c’est un lieu assez particulier où je n’ai pas
l’habitude de recevoir des étrangers.
— Nous vous prions, dirent-ils, de nous laisser passer la nuit en ce lieu.
Ainsi, ils furent accueillis et installés dans une chambre. Au milieu de la nuit, Samba se leva et alla
sectionner les organes génitaux du cheval du roi. Il les mit sur le feu pour en faire une grillade. Après
les avoir extraits des braises, il commença à manger et invita Amary :
— Viens goûter, dit-il à Amary-le-Pieux, c’est délicieux ! Goûte un peu de cette chair !
Amary se leva d’un coup et dit à Samba :
— Fuyons. Tu as signé notre arrêt de mort aujourd’hui.
Ils s’enfuirent et virent un tamarinier sur lequel ils grimpèrent. Le roi et sa troupe se mirent à leur
recherche pour les prendre et les tuer. Lorsqu’ils atteignirent, eux aussi, le tamarinier, ils déposèrent
leurs bagages sous l’arbre et se mirent à préparer leur repas. Ils mirent à cuire de la viande.
— Dès que nous finissons de prendre le repas, dirent-ils, nous poursuivrons notre route.
Samba Seytané dit à Amary- le-Pieux :
— Allons ! Descendons ! Je ne sais comment, mais moi, je mangerai de ce repas.
Son frère lui dit :
— Ey Samba Seytané !
— Rien ne m’empêchera d’en manger insista-t-il.
Il coupa deux branches dont il se servit pour prendre un bol d’abord et ensuite la marmite conte-
nant le repas. Il se régala. Quand il eut finit de manger, il prit le bol, le reste et les os qu’il jeta sur la tête
du roi Hang. Le roi et sa suite s’écrièrent :
— Au secours ! Il y a ici des djinns, des démons.
Ils se dispersèrent en criant :
— Les djinns nous attaquent. Qu’allons-nous devenir ?
Ils coururent et se dispersèrent. Les deux frères qui étaient sur l’arbre descendirent aussitôt. Ils
continuèrent leur course et arrivèrent à la demeure du lion :
— Nous sommes à la recherche d’un abri pour la nuit.
— Je peux aller chasser avec l’un d’entre vous et l’autre restera pour veiller sur ma famille, répondit
le lion.
Amary, qui connaissait mieux que quiconque son frère, dit au lion :
— Emmène Samba à la chasse. Moi, j’assure la garde de tes enfants.
Le lion partit avec Samba Seytané. Mais dès qu’ils avaient repéré une proie, Samba Seytané se
précipitait pour lui dire de fuir pour échapper au lion. Ainsi, tous les animaux avaient disparu à leur
approche. À maintes reprises, le lion voulut s’en prendre à lui et le dévorer mais à chaque fois, il disait :
— Remercie ton grand frère qui est chez moi si je ne t’ai pas encore tué ! Je suis en train de cher-
cher à manger pour mes petits et tu te mets à les priver de nourriture.
Samba n’entendit pas raison. Ils continuèrent ainsi de marcher dans la brousse et finirent par ren-
trer bredouille. Quand ils arrivèrent à la maison, le lion fit remarquer à Amary que c’est par égard pour
lui qu’il n’avait pas tué Samba. Amary lui fit une autre proposition :
— Voici ce qu’on va faire, dit-il au lion ! Je vais t’accompagner à la chasse. Samba assurera la garde
des petits.
Durant cette partie de chasse, ils eurent du gibier en abondance. Au même moment, Samba s’en
prenait aux lionceaux qu’il tua tous. Il les prit et en fit des tas de viande devant la demeure du lion.
— Ce tas m’appartient, dit-il. Celui-là à Amary et le dernier au lion.

— 403 —
Il se posta alors devant la maison pour les attendre. Pendant qu’ils étaient sur le chemin du retour
et qu’ils s’approchaient de la maison, Amary fit la proposition suivante au lion :
— Tu vas rester ici. Moi je vais aller t’apporter de l’eau.
— Non, non ! Continuons notre route, décida le lion.
— Attends ici, insista Amary.
Quand il arriva. Il constata tout ce que Samba Seytané avait fait.
— Nom d’Allah ! Ce sont les lionceaux que tu as mis en tas comme ça ? Il ne nous reste plus qu’à
fuir.
Dans leur course, un aigle s’apprêtait à les prendre pour s’envoler avec eux quand Samba eut une
drôle d’idée :
— Attends, commanda-t-il à l’aigle, j’ai oublié ma pipe chez le lion. Et je vais aller la prendre.
Il trouva le lion, las de pleurer, endormi sur les tas de viande de ses petits. Il chauffa alors sa pipe
jusqu’à l’extrême et le mit sur le derrière du lion. L’animal sauta et le poursuivit. Samba courut long-
temps. L’aigle le saisit entre ses serres et s’envola avec lui. Samba Saytane dit au bout d’un moment :
— Ce que je vois là, dans le derrière de l’aigle et qui ressemble au bonnet de mon père, je vais
l’enlever.
— Luxeet1, fit-il
Il fit tomber l’aigle et ils moururent tous de cette chute. Alors, vint une tortue qui avait deux
bâtons : un bâton de vie et un bâton de mort. Elle frappa de son bâton de vie Amary qui se leva alors
et lui dit :
— Passe-le moi, je vais en frapper Samba. Sinon, une fois qu’il reviendra à la vie, il n’hésitera pas
à te tuer.
La tortue s’entêta et dit que c’était à elle de le frapper.
— Baac2 ! fit-elle.
Samba Saytané sauta et, à la vue de la tortue, s’écria :
— Une tortue ! Quelle chance ! Je vais la faire griller !
— Attends-moi, lui ordonna-t-il, je vais chercher du bois mort. Garde-moi cette tortue dit-t-il à
Amary.
Quand il disparut de la vue d’Amary, ce dernier libéra la tortue et lui dit d’éviter de passer par l’en-
droit dans lequel Samba ramassait du bois mort. La tortue, par malchance, rencontra Samba Seytané.
— Ah ! Quelle joie ! Deux tortues ! Une pour moi, une pour Amary !
— Doucement, lui dit Amary, c’est la même tortue.
— Si elle s’était échappée, insulta-t-il, j’aurais frappé ta mère.
Il prit la tortue, la grilla et la mangea et reprirent leur route. Ils rencontrèrent une vieille femme qui
était en train de laver son linge. Samba Seytané lui posa une question :
— Vieille femme ! Entre ces deux voies, laquelle est celle du succès ?
— Celle-ci, dit la femme, est la voie de la mort, de la tuerie et du combat : son aboutissement, c’est
le trône. Celle-là, continua-t-elle, c’est le chemin des plaisirs, des loisirs. Tu fais ce que tu veux. Tu te
couches là où tu veux mais celui qui l’emprunte deviendra aveugle au bout de son itinéraire.
Je vais commencer par toi, dit Samba. Il égorgea la vieille dame. Amary choisit son chemin. Il
s’adonna aux plaisirs et devint aveugle à l’arrivée. Samba Seytané choisit la difficulté et le combat. Il se
battit dignement. Et quand il arriva au bout de son chemin, il fut proclamé roi.

— 404 —
Amary, l’aveugle, se mit à mendier et son chemin le mena chez Samba Seytané. Il le trouva assis
dans sa cour royale.
— Amary, dit Samba Seytané, tu es venu me demander l’aumône ?
— Moi, dis Amary, je n’en sais rien. Où suis-je ?
— C’est moi Samba Seytané, dit-il. Es-tu là pour me demander l’aumône ?
— Oui, répondit-il.
Il acheta des aiguilles qu’il éparpilla dans la chambre où il reçut Amary. Il chercha des branches de
tamarinier pour le bastonner. Il invita Amary à entrer. Quand ce dernier se retrouva dans la chambre,
Samba Seytané se mit à le battre.
— Aveugle, lui dit-il, dis que tu vois maintenant.
— Je vois maintenant ! dit Amary.
C’est là que le conte marcha vers le paradis.

— 405 —
samba, o satânico,
e amary, o piedoso
Era uma vez dois rapazes, Samba, o Satânico, e Amary, o Piedoso. Um dia o pai deles decidiu viajar,
mas antes de partir fez-lhes as seguintes recomendações:
— Se a vossa mãe der à luz na minha ausência imolem a cabra para celebrar o baptizado da criança,
se a égua parir dêem-lhe um molho de feno.
Com a graça de Deus, a mãe deu à luz. Samba Seytané1 apanhou um molho de feno e foi pô-lo
diante da mãe.
A mãe disse-lhe:
— Ah, Samba, não foi o que o teu pai disse!
Samba disse à mãe:
— Escolhe, comes ou morres!
A mãe respondeu:
— Sabes bem que não vou comer o feno.
Ele matou-a com um tiro.
Algum tempo depois a égua teve a cria. Samba matou a cabra e serviu-a à égua. Esta recusou-se a
comer e começou a relinchar. Ele atingiu-o com uma flecha mortal.
Terminado o trabalho sujo, Samba refastelou-se na cama e ordenou ao bebé:
— Bebezinho, vai buscar-me tabaco.
O bebé começou a chorar. Ele disse-lhe:
— Porque choras, hem?
Descarregou a espingarda no bebé, que morreu. Em seguida foi montar o potro que tinha acabado
de nascer e disse-lhe:
— Quero tabaco.
Este cambaleou com o peso de Samba e caiu. Ele atingiu-o com uma flecha mortal.
Amary voltou um dia à casa da família e ficou a saber o que tinha acontecido. Dirigiu-se a Samba
Seytané:
— Ai, Samba Seytané, o pai não nos tinha recomendado isto.
— De qualquer maneira matei-os todos. Agora vamos embora –, disse ele.
Montaram um camelo e foram-se embora. Pelo caminho encontraram um lenhador, a quem Samba
disse:
— Empresta-me o teu machado, vou encurtar as patas deste animal, são muito compridas.
Amary quis opor-se, mas Samba não fez caso e cortou as quatro patas do camelo, que morreu com
tal suplício. Os dois rapazes continuaram a viagem a pé. Entraram numa casa e disseram ao dono:
— Procuramos um sítio para passar a noite.
Era a casa do rei. Este disse-lhes:
— Tenho um lugar para se abrigarem, mas saibam que é um lugar muito especial, onde não tenho
o hábito de receber estranhos.
Eles disseram:
— Pedimos-lhe que nos deixe passar a noite nesse lugar.
Foram então acolhidos e instalados num quarto. A meio da noite Samba levantou-se e foi cortar os

— 406 —
órgãos genitais do cavalo do rei e pô-los sobre as brasas para os assar. Depois de os tirar de lá começou
a comer e disse a Amary, o Piedoso:
— Vem provar, é delicioso, vem saborear um naco desta carne!
Amary levantou-se num repente e disse a Samba:
— Temos de fugir. Hoje assinaste a nossa sentença de morte.
Fugiram e viram um tamarindeiro, que treparam.
O rei e as suas tropas começaram a procurá-los, para os prender e matar. Quando chegaram ao
tamarindeiro poisaram a equipagem debaixo da árvore e começaram a preparar uma refeição, pondo
carne a cozinhar.
— Logo que acabarmos de comer continuamos o nosso caminho –, disse alguém.
Samba Seytané disse a Amary, o Piedoso:
— Vá, vamos descer! Não sei como, mas bem comia desta comida.
O irmão disse:
— Ai, Samba Seytané!
— Nada vai impedir-me de comer –, insistiu ele.
Cortou dois ramos, de que se serviu para apanhar primeiro uma tigela e em seguida a panela que
tinha a comida. Regalou-se. Quando acabou de comer pegou na tigela, nos restos e nos ossos e deitou-
-os para cima da cabeça do rei, hang. O rei e o séquito gritaram: “Socorro, há aqui génios, demónios!”
Dispersaram-se, gritando: “Os génios estão a atacar-nos, que vai acontecer-nos?”
Correram e dispersaram-se.
Os irmãos, que estavam em cima da árvore, desceram logo e continuaram caminho, chegando a
casa do leão.
— Estamos à procura de abrigo para a noite.
— Posso ir à caça com um de vocês e o outro fica a guardar a minha família –, disse o leão.
Amary, que conhecia o irmão melhor que ninguém, disse ao leão:
— Leva o Samba à caça, eu fico a guardar os teus filhos.
O leão partiu com Samba Seytané. Mal viam uma presa Samba Seytané apressava-se a dizer-lhe
que fugisse, para escapar ao leão, e assim todas as presas desapareciam à aproximação deles. Por várias
ocasiões o leão quis atacar Samba e comê-lo, mas de cada vez dizia: “Agradece ao teu irmão mais velho,
que está em minha casa, por eu ainda não te ter matado! Estou à procura de alimento para os meus
filhos e tu estás a privá-los de comida.”
Samba não quis saber.
Continuaram a andar pelo mato e voltaram sem nada. Quando chegaram a casa o leão fez saber a
Amary que só por causa dele é que não tinha matado Samba. Amary fez-lhe uma proposta.
— Eis o que vamos fazer –, disse ele ao leão –, vou eu contigo à caça e o Samba fica a tomar conta
dos pequenos.
Durante a caçada tiveram presas em abundância. Enquanto isso Samba atacou os leõezinhos e
matou-os todos. Pegou neles e fez montes de carne em frente de casa do leão.
— Este monte é meu, aquele ali é do Amary e o outro é do leão –, disse ele
Pôs-se então à frente de casa, à espera deles.
Quando estavam de volta e já perto de casa Amary fez o seguinte oferecimento ao leão:
— Fica aqui e eu vou buscar-te água.
— Não, não, continuemos –, decidiu o leão.
— Espera aqui –, insistiu Amary.
Quando chegou viu o que Samba Seytané tinha feito.
— Meu Deus! São os leõezinhos, o que amontoaste assim? Temos de fugir.
Enquanto corriam uma águia preparava-se para os apanhar e levar com ela, quando Samba teve
uma ideia engraçada.
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— Espera –, ordenou ele à águia –, esqueci-me do meu cachimbo em casa do leão. Vou buscá-lo.
Encontrou o leão, cansado de chorar, adormecido sobre os montes de carne das crias. Então avivou
o lume do cachimbo tanto quanto possível e pô-lo em cima do traseiro do leão. O animal saltou e
perseguiu-o.
Samba correu durante muito tempo.
A águia apanhou-o com as garras e levantou voo com ele. Ao fim de algum tempo Samba Seytané
disse:
— Aquilo ali no rabo da águia, que se parece com o boné do meu pai, vou tirá-lo.
— Luxeet 1!, fez ele.
Fez com que a águia caísse e morreram todos na queda.
Então veio uma tartaruga com dois paus, um pau de vida e um pau de morte. A tartaruga bateu em
Amary com o pau de vida, que se levantou e disse:
— Passa-mo, vou bater no Samba com ele, se não, uma vez ressuscitado, não hesitará em matar-te.
A tartaruga teimou e disse que era ela que devia bater nele.
— Baac 2!, fez ela.
Samba Seytané saltou e quando viu a tartaruga gritou:
— Uma tartaruga, que sorte, vou grelhá-la!
— Espera por mim –, ordenou-lhe ele –, vou buscar lenha.
— Guarda-me esta tartaruga –, disse ele a Amary.
Quando o perdeu de vista Amary libertou a tartaruga e disse-lhe que evitasse o sítio em que Samba
andava a apanhar lenha. Infelizmente a tartaruga encontrou-se com Samba Seytané.
— Ah, que alegria, duas tartarugas, uma para mim e outra para o Amary!
— Calma –, disse-lhe Amary –, é a mesma tartaruga.
— Se ela tivesse escapado –, ameaçou ele, – eu batia na tua mãe.
Apanhou a tartaruga, grelhou-a e comeu-a, depois continuaram caminho.
Encontraram uma anciã que estava a lavar roupa. Samba Seytané fez-lhe esta pergunta:
— Anciã, destes dois caminhos qual é o do sucesso?
— Este aqui –, disse a mulher, – é a via da morte, da matança e do combate e a sua meta é o trono.
Aquele ali –, continuou ela, – é o caminho dos prazeres, dos lazeres, uma pessoa faz o que quer, deita-se
onde quiser, mas quem o escolhendo fica cego no fim do caminho.
— Vou começar por ti –, disse Samba, e degolou a anciã.
Amary escolheu o seu caminho, entregou-se aos prazeres, e à chegada ficou cego. Samba Seytané
escolheu a dificuldade e o combate, lutou com dignidade e quando chegou ao fim foi proclamado rei.
Amary, o cego, começou a mendigar e os seus passos levaram-no a casa de Samba Seytané.
Encontrou-o sentado na corte.
— Amary –, disse Samba Seytané –, vieste pedir-me esmola?
— Eu não sei nada. Onde estou? –, disse Amary.
— Sou eu, Samba Seytané. Estás aqui para me pedir esmola?
— Sim –, respondeu ele.
Samba comprou agulhas, que espalhou pelo quarto em que ia receber Amary, e foi buscar ramos de
tamarindeiro para o chicotear, depois convidou Amary a entrar. Quando ele entrou no quarto Samba
Seytané começou a bater-lhe.
— Cego –, disse ele –, diz que agora estás a ver.
— Agora estou a ver! –, disse Amary.
Foi aqui que a história foi para o Paraíso.

báti
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