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RE DefCLT
Quem lutou: Portugueses (Francisco de Almeida) versus Turcos e Egípcios (Husain Kurdi).
O que estava em jogo: O comércio com o extremo oriente e a Índia e a ascensão ou a queda
do Cristianismo ou do Dar es Islam.
Esse foi o primeiro aparecimento dos francos, que Deus os amaldiçoe, nos domínios dos
Oceano Índico (frota muçulmana).”
Assim al-Shihri ignorou o que se mostrou ser não apenas a pior derrota sofrida pelas forças
do Islã, como também um momento decisivo no conflito que durou séculos entre a Cruz e O
Crescente!. Shanbal, outro cronista árabe contemporâneo, fornece mais alguns detalhes:
“Naquele ano (1508-9 d. C.), os francos tomaram Dabul, pilhando-a e queimando-a, tam-
bém fizeram uma expedição contra Gujerat e atacaram Diu. O emir Husain, que estava, na-
quele momento, em Diu, lutando na guerra santa, foi adiante para encontrá-los. A batalha no
mar se deu além do porto. Muitos francos foram mortos, mas, finalmente, prevaleceram sobre
os muçulmanos, havendo uma carnificina entre os soldados do emir Husain. Foram aproxima-
à damente 600 mortos, e os sobreviventes fugiram para Diu. Os francos não partiram até que
; muito dinheiro lhes fosse pago.”
O mundo do Islã
Um milênio e meio depois do nascimento de Cristo, o cristianismo.estava quase totalmen-
- te limitado à Europa. Mas, em meio a esse tempo, o Islã tinha-se expandido da Arábia para toda
a costa oriental do Mediterrâneo; depois para o leste, pela Mesopotâmia, Pérsia, Afeganistão,
* norte da Índia, Indonésia e Filipinas; e para oeste, para o Egito, África do Norte e Espanha. Os
É muçulmanos cruzaram o Saara e converteram os impérios negros da África ocidental. A religião
J do profeta tinha se espalhado para o sul ao longo da costa oriental da África, onde os árabes
estabeleceram colônias, bem antes de Maomé. Almuadens” muçulmanos chamavam os crentes
para a oração na Ásia central, onde tribos turcas e mongóis já praticavam o xamanismo.
As rotas marítimas do leste, que controlavam muito mais comércios, também eram mono-
pólio muçulmano. As embarcações árabes da Arábia e da África cruzavam o oceano Índico. A
viagem de ida e volta era lenta porque as embarcações dependiam dos ventos sazonais, mas
volume de comércio era enorme — e imensamente valioso. Bens da China, Índia e Pérsia
terminavam no Egito, de onde eram transportados para a Europa em navios venezianos. A rota
o oceano Índico era protegida pelos europeus. Para alcançá-lo, os cristãos tinham de cruzar
. Almuadem — Mouro que anuncia, em voz alta, do alto das almádenas, a hora das preces. (N. do T.)
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- terras muçulmanas. O único caminho seria passar ao redor do continente inteiro da África —
uma viagem inconcebível.
A terra da guerra
Os otomanos se referiam à Europa como “a terra da guerra” — o lugar onde apenas iriam
para lutar. O nome devia-se a várias passagens históricas. Durante cinco séculos antes da
primeira cruzada, os invasores tinham infestado a Europa. Góticos, hunos, ávaros, búlgaros,
magiares, vikings e mouros tinham atacado os reinos cristãos de todos os lados. Sob esses
ataques bárbaros, a civilização de Roma havia desaparecido. A vida urbana tinha sido quase
extinta, e a Europa tornara-se semi-selvagem. A primeira cruzada foi lançada em 1096. Apenas
82 anos antes, Brian Boru tinha esmagado a última grande expedição viking fora de Dublin, e
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o imperador bizantino Basílio aniquilou os nômades em seu último ataque à Ásia central. Os
muçulmanos ainda mantinham a maior parte da Espanha e de Portugal.
Entre as poucas artes que se desenvolveram na Europa durante esse período estavam as
artes militares. Os europeus as praticavam, frequentemente uns contra os outros, quando o
papa Urbano II os incitou contra os muçulmanos. As técnicas desenvolvidas para a guerra na
Europa, porém, não funcionavam nos desertos do oriente próximo.
Apesar de seu fracasso, as cruzadas não foram um desastre total para a Europa. Elas colo-
caram os ocidentais semi-selvagens em contato com o império romano oriental e também
com a civilização das terras islâmicas. O aprendizado em várias áreas teve um rápido cresci-
mento. Universidades foram fundadas e cresceram em número. Antigos filósofos, que estavam
quase esquecidos, voltaram a ser estudados, o que também ocorreu com antigos matemáticos
e engenheiros. A engenhosidade mecânica com que a besta tinha sido construída (que tanto
espantou Anna Comnena) aplicou-se também às artes pacíficas. Os moleiros começaram a
triturar grãos com água ou em moinhos de vento. Os mineiros cavavam profundamente em
busca de carvão, ferro, cobre e metais preciosos. Os pedreiros construífam catedrais góticas
com torres. Fundadores de metal aprenderam a moldar sinos de bronze enormes para essas
catedrais.
A sociedade também começou a mudar. O cavaleiro armado não era mais supremo. Os
lanceiros escoceses derrotaram os cavaleiros ingleses; a infantaria flamenga, os cavaleiros fran-
ceses; e os alabardeiros (arqueiros) suíços, os cavaleiros de Borgonha. Em Crecy, Poitiers e
Agincourt, arqueiros ingleses ceifaram a cavalaria francesa aos milhares. À medida que o poder
da nobreza declinava, o poder dos comerciantes e dos artesãos crescia.
As duas maiores forças do Altântico, Inglaterra e França, se enredaram na guerra dos Cem
Anos. A França ganhou a guerra, mas foi saqueada e levou muito tempo para se recuperar. A
guerra mal tinha terminado quando a Inglaterra mergulhou nas Guerras das Rosas. Assim, Os
poderes menores do Atlântico assumiram a liderança na explosão do oceano. Os espanhóis e
os portugueses descobriram os Açores e as ilhas Canárias.
Essas viagens de descoberta não foram feitas com o objetivo de buscar conhecimentos
para o crescimento dos reinos. Os turcos-otomanos ainda estavam avançando na Europa. Ha-
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via uma lenda de que na Ásia central ou África existia um padre-rei cristão, o Preste João, que
podia ser induzido a atacar os muçulmanos a partir da retaguarda. O Preste João não era puro
mito. Monges cristãos cópticos” da Abissínia (a moderna Etiópia) tinham visitado Portugal, e o
papa enviara mensageiros para ver o grande Cã — alguns de seus súditos eram cristãos. Talvez
navios pudessem achar uma rota marítima para a terra do Preste João. Para os cristãos ibéricos,
que lutavam com os muçulmanos ibéricos, as cruzadas não eram somente guerras que dura-
vam anos. “Aqui estamos sempre em cruzadas”, contou um cavaleiro espanhol a um visitante
inglês.
Para se protegerem, havia fileiras de armas ao longo da lateral das embarcações; e não três
ou quatro somente viradas para a frente, como as de uma galera. Havia dois, às vezes três,
passadiços de armas, com espécies de casulos de canhões com portas que podiam ser fecha-
das em alto-mar.
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“Os habitantes deste país são marrons”, escreveu um marinheiro conhecido como Velho
Álvaro, que acompanhou Bartolomeu Dias na primeira expedição portuguesa em redor do
cabo, ao qual denominaram cabo das Tormentas, até a Índia. “Tudo o que eles comem são
carnes de focas, baleias, gazelas e raízes de ervas. Vestem-se com peles e usam panos sobre
suas partes íntimas.”
Mas a costa oriental da África provou ser completamente diferente da costa ocidental, pois
os portugueses não viram nenhum membro empobrecido de tribo que morasse em cabanas
de capim. Eles encontravam cidades portuárias, com cais de pedra e edifícios de vários anda-
res, nos quais havia pessoas de muitas raças: negros, índios, persas e árabes. A maioria dos
habitantes dos portos descendia de uma mistura de raças. Quase todos eram muçulmanos,
com exceção de alguns hindus. Eles nunca tinham visto os cristãos. A princípio, pensavam que
os portugueses brancos eram turcos ou árabes.
Bartolomeu havia lutado com os emires de Moçambique e Mombassa, mas fez do emir de
Malindi um aliado. Então, ele cruzou o oceano Índico e desembarcou em Calicute, onde os
comerciantes muçulmanos induziram seu governante hindu a se voltar contra os portugueses.
Dias teve sorte de escapar e velejar de volta para Portugal.
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-A conquista do mar
Em 1505, o rei de Portugal e seus conselheiros decidiram consolidar todos os seus empre-
endimentos nas “Índias”. Manoel designou Francisco de Almeida como vice-rei e lhe deu o
comando da maior frota de Portugal já enviada a uma expedição.
A frota de Almeida tinha chegado em Cochim. Sabendo que havia uma concentração de
navios muçulmanos em Diu, enviou seu filho, Lourenço, com alguns navios leves para inves-
tigar a área. A frota turco-egípcia apanhou Lourenço e o matou. Os turcos esfolaram seu corpo,
encheram-no com palha e o enviaram ao sultão em Constantinopla. Antes que Almeida pudes-
se concentrar suas forças, os muçulmanos velejaram de volta para a Arábia.
Dois anos depois, Husain retornou ainda com mais embarcações. A grande maioria era
formada de galeras, com três canhões montados na proa sobre o grande bico de bronze usado
como aríete. Havia 200 navios, milhares de remadores e 1.500 soldados para subir a bordo da
embarcação inimiga. Além de espadas e lanças, eles levavam arcos ou mosquetes. Tinham
garatéias de ferro para cercar navios e potes de fogo para serem lançados em seus tombadi-
lhos. Husain acabaria com os “francos” de uma vez por todas.
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e suas frágeis embarcações foram abatidas em grupo”. Ao anoitecer, a capitânia muçulmana
tinha sido afundada, junto com a maioria das outras galeras. Os egípcios e turcos sobreviventes
correram de seus navios encalhados e fugiram para a cidade.
Um marinheiro genovês, Cristóvão Colombo, inspirado pelo feito de Vasco da Gama, que
atingiu o Cabo da Boa Esperança, tentou vender seus planos de velejar para o oeste a fim de
atingir o oriente. Os portugueses disseram que seu plano baseava-se em cálculos errados. (O
que era real.) Mas os espanhóis compraram a idéia. Colombo velejou em 1492, logo depois
que os espanhóis expulsaram os últimos muçulmanos da Espanha.
Quando o século XV começou, o Islã parecia quase pronto para dominar o mundo. Porém,
essa possibilidade afundou no oceano Índico, perto de Diu.