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As Cruzadas foram uma série de expedições militares lançadas pelos cristãos europeus
entre os séculos XI e XIII com o objectivo de conquistar a Terra Santa, especialmente
Jerusalém, e também para defenderem o Cristianismo na região. As Cruzadas foram um
fenómeno complexo que envolveu motivos religiosos, políticos, económicos e sociais.
Ao longo de cerca de 200 anos, houve várias Cruzadas, algumas bem-sucedidas e outras
não. Os cruzados estabeleceram estados cristãos na região, como o Reino Latino de
Jerusalém, o Principado de Antioquia, o Condado de Edessa e o Condado de Trípoli. No
entanto, esses estados enfrentaram constantes ameaças dos muçulmanos, além de
conflitos internos e dificuldades logísticas.
Em 1074, apenas três anos após Manziquerta e a tomada de Jerusalém pelos seljúcidas,
Gregório VII começou a planear o lançamento de uma campanha militar para a
libertação da Terra Santa. Vinte anos mais tarde, Urbano II concretizou esse sonho,
organizando o decisivo Concílio de Piacenza e o subsequente Concílio de Clermont, em
Novembro de 1095, o que resultou na mobilização da Europa Ocidental para ir para a
Terra Santa.[7] O imperador bizantino Aleixo I Comneno, preocupado com os contínuos
avanços dos seljúcidas, enviou emissários a estes concílios pedindo ajuda a Urbano II
contra os turcos invasores. Urbano II falou da violência da Europa e da necessidade de
manter a Paz de Deus; de ajudar Bizâncio; dos crimes que estavam a ser cometidos
contra os cristãos no Oriente; e de um novo tipo de guerra, uma peregrinação armada, e
de recompensas no céu, onde a remissão dos pecados era oferecida a quem morresse na
empreitada.[8] A multidão entusiasmada respondeu com gritos de Deus lo volt! (Deus o
quer!).
Pedro, o Eremita
Na busca de recursos financeiros para o longa viagem até a Palestina, estes cruzados
buscaram infiéis ricos mais próximos de suas casas. Assim, começaram a atacar judeus
europeus.[9] As primeiras vítimas foram os judeus da Renânia.[9] Inspirado por Pedro o
Eremita, o conde Emich de Leisengen marcou a própria testa com queimadura em forma
de cruz e liderou um grupo de peregrinos para atacar os judeus da cidade de Spier.
Apesar da oposição do bispo católico da cidade, os peregrinos mataram muitos judeus
que se recusaram a abraçar a fé cristã.[9] O mesmo bando seguiu depois até Worms,
atacou a Judengasse e matou mais de mil judeus. [9] O grupo prosseguiu até Mogúncia,
onde mais 990 judeus foram mortos.[9]
Durante um mês, mais ou menos, tudo o que os cavaleiros turcos fizeram foi observar a
movimentação dos invasores, que se ocupavam apenas de saquear as regiões próximas
do acampamento onde foram alojados. Até que, em agosto de 1096, o bando inquieto
cansou-se de esperar e partiu para a ofensiva.
Quando parte dos europeus resolveu partir em direção às muralhas de Niceia (atual
İznik), cidade dominada pelos muçulmanos, uma primeira patrulha de soldados do
sultão turco Quilije Arslã I foi enviada, sem sucesso, para barrá-los. Animado pela
primeira vitória, o exército do Eremita continuou o ataque a Niceia, tomou uma
fortaleza da região e comemorou se embriagando, sem saber que estava caindo numa
emboscada. O sultão mandou seus cavaleiros cercarem a fortaleza e cortarem os canais
que levavam água aos invasores. Foi só esperar que a sede se encarregasse de aniquilá-
los e derrotá-los, o que levou cerca de uma semana.
Quanto ao restante dos cruzados maltrapilhos, foi ainda mais fácil exterminá-los. Tão
logo os francos tentaram uma ofensiva, marchando lentamente e levantando uma nuvem
de poeira, foram recebidos por um ataque de flechas. A maioria morreu ali mesmo, já
que não dispunha de nenhuma proteção. Os que sobreviveram fugiram em pânico.
O sultão, que havia ouvido histórias temíveis sobre os francos, respirou aliviado. Mal
imaginava ele que aquela era apenas a primeira invasão e que cavaleiros bem mais
preparados ainda estavam por vir.
Rota dos líderes da primeira cruzada, por William Shepherd, Atlas Histórico, 1911
As várias versões que nos restam do seu apelo mostram que Urbano relatou também os
infortúnios dos cristãos do oriente, e sublinhou que se até então os cavaleiros do
ocidente habitualmente combatiam entre si perturbando a paz, poderiam agora lutar
contra os verdadeiros inimigos da fé, colocando-se ao serviço de uma boa causa. O
apelo foi feito a todos sem distinção, pobres ou ricos. E foi, de fato, o que sucedeu. Mas
os ricos e pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
Por volta de 1097, um exército de 30 000 homens, dentre eles muitos peregrinos, cruzou
a Ásia Menor, partindo de Constantinopla. A cruzada dos cavaleiros, possuindo
recursos, embora progredindo devagar, fizera um acordo com o imperador bizantino de
lhe devolver os territórios conquistados aos turcos. Liderada por grandes senhores,
levava quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria
desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria.
Godofredo de Bulhão, após longo cerco, conquistou Jerusalém atacando uma guarnição
fraca em 1099. A repressão foi violenta. Segundo o arcebispo Guilherme de Tiro, a
cidade oferecia tal espetáculo, tal carnificina de inimigos, tal derramamento de sangue
que os próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento.
Godofredo de Bulhão ficou só com o título de protector e, à sua morte, Balduíno, seu
irmão, proclamou-se rei. Os cristãos humilharam-se após as duas conquistas
massacrando muito dos residentes, indiferentemente da idade, fé ou sexo. Após a
vitória, era preciso organizar a conquista. Surgiram quatro estados cruzados, conhecidos
coletivamente como Ultramar, do norte para o sul: o Condado de Edessa, o Principado
de Antioquia, o Condado de Trípoli, e o Reino de Jerusalém.
O sucesso da primeira cruzada pelas indisciplinadas tropas foi até certo ponto uma
surpresa e ocorreu porque os cruzados chegaram num momento de desordem naquela
periferia do mundo islâmico. Uma vez conquistado o território ao inimigo, os cruzados,
cujos desentendimentos com os bizantinos começaram ainda durante a campanha, não
mais quiseram devolver as terras aos seus irmãos de fé cristã do Império Bizantino.
O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas alterações: muitas vezes,
em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade
que existia também na Europa). As cidades mercantis italianas tornaram-se
fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e
interceptar os movimentos das esquadras muçulmanas, tornando o Mediterrâneo
novamente um mar navegável pelos ocidentais. Mas rapidamente os muçulmanos iriam
reagir.
De qualquer modo, nos anos seguintes, com a euforia da vitória, mais voluntários
seguiram para o Oriente. Os contingentes seguiam por nacionalidades, continuando
pouco organizados. As motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos
feudos, ou redimir-se das suas faltas, havia também aqueles que "apenas" pretendiam
ganhar batalhas, cobrir-se de glória, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra.
Por volta do ano 1100, uma nova expedição partiu. Chegados a Constantinopla,
levantaram-se discussões com os bizantinos que estavam fartos de ter aqueles vizinhos
incómodos que pilhavam a terra, portavam-se de uma forma muito mais brutal em
guerra, e ficavam com o que conquistavam (para além das diferenças culturais e
religiosas).
Entretanto, os turcos estavam a unificar-se para tentar fazer face a estas ameaça.
Evitando combates directos até ao último momento contra a cavalaria pesada cristã,
usaram tácticas de emboscadas. Em Mersivan, esmagaram um dos exércitos cristãos (o
dos lombardos e francos) que fora abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que
fugiram). Estes foram severamente criticados pela fuga, assim como Aleixo, imperador
bizantino, por não ter dado apoio.
Outro grupo, o exército de Nivernais, também foi destruído de forma similar (com fuga
de líderes incluída). A expedição da Aquitânia portou-se melhor: ao menos os
cavaleiros ficaram a combater e morrer juntamente com o povo. Alguns poucos
conseguiram fugiram para Constantinopla. Três exércitos aniquilados em dois meses,
enquanto que o pequeno exército de Jerusalém (com o membros da Primeira Cruzada)
derrotava um exército egípcio.
Por alguns anos, não foram pregadas mais cruzadas, e os territórios cristãos no oriente
tiveram de se aguentar por conta própria. Assumiram como padroeiro São Jorge da
Capadócia, exemplo de cavaleiro cristão, e seu brasão de armas, a cruz vermelha num
escudo branco.
Entretanto ordens de monges cavaleiros foram formadas para lutar pelas terras sagradas
e cuidar dos peregrinos. Os cavaleiros templários e hospitalários eram, em sua maioria,
francos ou seus vassalos. Os cavaleiros teutônicos (Teutonicorum) eram germânicos.
Esses eram os mais organizados, bravos e determinados do que os cruzados, mas nunca
eram suficientes para fazer a região ficar segura. Os reinos cruzados sobreviveram por
um tempo, em parte porque aprenderam a negociar, conciliar e jogar os diferentes
grupos árabes uns contra os outros.
O condado de Edessa caiu em 1144, sob Zengui, governante de Alepo e Moçul. Caíram
mais tarde Antioquia em 1268, Trípoli em 1289 e o último posto dos Cruzados, Acre,
durou até 1291.
Segunda Cruzada (1147-1149)
Em 1145, foi pregada uma nova cruzada por Eugénio III e São Bernardo. A perda do
Condado de Edessa provocou a organização dessa cruzada. Desta vez foram reis que
responderam ao apelo: Luís VII da França e Conrado III do Sacro Império, para nomear
os mais importantes. Curiosamente, os contingentes flamengos e ingleses acabaram por
conquistar Lisboa e voltar para as suas terras na sua maioria, uma vez que eram
concedidas indulgências para quem combatia na Península Ibérica.
O exército de Conrado acabou esmagado pelos turcos num momento de repouso. O que
sobrou juntou-se aos franceses, com o apoio dos templários. Com algumas dificuldades
de transporte, mais uma vez uma parte do exército teve de ser abandonada para trás
(sobretudo os plebeus a pé), e estes tiveram de abrir caminho contra os turcos.
Luís VII e Conrado em Jerusalém, depois de algumas discussões, acabaram por ser
convencidos a atacar Damasco, mas ao fim de poucos dias tiveram que se retirar perante
a ameaça de uma parte dos nobres fazê-lo por conta própria. O resultado desta cruzada
foi miserável (se excetuarmos a conquista de Lisboa), tendo sucesso apenas em azedar
as relações entre os reinos cruzados, os bizantinos e os governantes muçulmanos
amigáveis. Nenhuma nova cruzada foi lançada até a um novo acontecimento: a
conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Os cristãos enfrentavam um
adversário decidido, Saladino.
A Terceira Cruzada, pregada pelo papa Gregório VIII após a tomada de Jerusalém pelo
sultão Saladino em 1187, foi denominada Cruzada dos Reis. É assim denominada pela
participação dos três principais soberanos europeus da época: Filipe Augusto (França),
Frederico Barba-Ruiva (Sacro Império Romano-Germânico) e Ricardo Coração de Leão
(Inglaterra).
Se esse objectivo principal falhara, alguns resultados tinham sido obtidos: Saladino vira
a sua carreira de vitórias iniciais entrar num certo impasse e o território de Ultramar (o
nome que era dado aos reinos cruzados no oriente) sobrevivera.
A Quarta Cruzada foi denominada também de Cruzada Comercial, por ter sido
desviada de seu intuito original pelo doge (duque) Enrico Dandolo, de Veneza, que
levou os cristãos a saquear Zara e Constantinopla, onde foi fundado o Reino Latino de
Constantinopla, fazendo com que o abismo entre as igrejas Ocidental e Oriental se
estabelecesse definitivamente.
O papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198 para conquistar Jerusalém (o
objectivo falhado da Terceira Cruzada), mas os preparativos começariam dois anos
depois. Vários grandes senhores trouxeram exércitos e estipularam um acordo com
Veneza que transportaria essas tropas na sua frota em troca de uma quantia. O problema
é que muitos dos senhores acabaram por não ir, e os que foram não tinham condições
para pagar o valor estipulado (que era fixo).
Foi criado um novo acordo então: os cruzados conquistariam Zara, uma cidade
veneziana na Dalmácia que se revoltara, em troca de um adiamento do pagamento.
Entretanto chegaram notícias do Império Bizantino. O imperador Isaac II Ângelo fora
derrubado pelo seu irmão Aleixo III Ângelo e fora cegado. O filho de Isaac II, de nome
Aleixo IV Ângelo, conseguira fugir e apelara aos cruzados para o ajudarem: em troca de
o colocarem no trono prometia-lhes dinheiro e os recursos do império para a conquista
de Jerusalém. Ainda hoje os historiadores discutem se as coisas se passaram assim ou se
foi uma justificação para o que se iria suceder.
Os cruzados aceitaram imediatamente uma vez que isso parecia resolver os seus
problemas. Partiram em 1202. O papa considerou que se atacassem território cristão
(nomeadamente Zara) ficariam excomungados. A cidade foi conquistada e depois de
deixarem passar o inverno atacaram Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador
Aleixo III acabou por fugir com o tesouro da cidade.
Com novos impostos a ser lançados para pagar as promessas feitas aos cruzados,
rapidamente a população ficou à beira da revolta. Aleixo V Ducas, um parente afastado
fez um golpe matando Aleixo IV e colocando novamente na prisão Isaac II que fora
libertado pelos cruzados e governara com o filho.
Geralmente é aceito pela maioria dos estudiosos que o catarismo surgiu em meados de
1143, quando surgiram os primeiros relatos de um grupo defendendo crenças similares
em Colônia (Alemanha) pela clérigo Eberwin de Steinfeld,[nota 1] o catarismo acreditava
no dualismo, professando a existência de um deus do Bem e outro do Mal, Cristo seria o
deus do bem enviado para salvar as almas humanas, após a morte as almas boas iriam
para o céu, enquanto as más iriam praticar metempsicose.[10] Os cátaros eram
especialmente numerosos em Occitânia (sul da atual França),[11] e sua liderança era
protegida por nobres poderosos,[12] e também por alguns bispos, que se ressentiam da
autoridade papal em suas dioceses. Em 1178, Henri de Marcy, legado do papa,
qualificou as populações de implantação cátara com a alcunha em latim de sedes
Satanae, sedes de Satã.[13]
50 mil crianças teriam sido colocadas em navios, saindo do porto de Marselha (França)
rumo a Jerusalém. O resultado foi um desastre, pois a maioria das crianças morreu no
caminho, de fome ou de frio. As que sobreviveram foram vendidas como escravas pelos
turcos no Norte da África. Alguns chegaram somente até a Itália, outros se dispersaram,
e houve aqueles que foram sequestrados e escravizados pelos muçulmanos.
Também pregada por Inocêncio III, partiu em 1217 e foi liderada por André II, rei da
Hungria, e por Leopoldo VI, duque da Áustria. Decidiu-se que para se conquistar
Jerusalém era necessário conquistar o Egito primeiro, uma vez que este controlava esse
território.
Desembarcados em São João D'Acre, decidiram atacar Damieta, cidade que servia de
acesso ao Cairo, a capital. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso
aguardaram reforços e se colocaram a caminho. Depois de alguns combates, e quando
tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia permitiram aos cruzados
ocupar o campo inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma
enorme quantia se os cristãos retirassem; o cardeal Pelágio, que se tornara num dos
chefes da expedição, acabou por convencer os restantes a recusar.
Foi liderada pelo imperador do Sacro Império Frederico II de Hohenstauffen, que tinha
sido excomungado pelo papa. Ele partiu com um exército que foi diminuindo com as
deserções, e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão.
Aproveitando-se das discórdias entre os muçulmanos, Frederico II conseguiu, por
intermédio da diplomacia, um tratado com o sultão aiúbida Camil que lhe concedia a
posse de Jerusalém, Belém e Nazaré por dez anos. Mas a derrota dos cristãos em Gaza
fê-los perder os Santos Lugares em 1244.
Foi liderada pelo rei da França Luís IX, posteriormente canonizado como São Luís. Ele
desembarcou diretamente no Egito e, depois de alguns combates, conquistou Damieta.
Novamente o sultão ofereceu Jerusalém e novamente foi recusado. Em Almançora,
depois de quase terem vencido, os cruzados são derrotados pela imprudência do irmão
do rei, Roberto de Artois. Depois de uma retirada desastrosa, o exército rendeu-se. Luís
IX caiu prisioneiro e os cristãos tiveram de pagar um pesado resgate pela sua libertação.
Somente a resistência da rainha francesa em Damieta permitiu que se conseguisse
negociar com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e conseguiu salvar o território
de Ultramar (indiretamente, as invasões mongóis deram o seu contributo).
Cruzada (1270)
O Oriente Médio vivia uma época de anarquia entre as ordens religiosas que deveriam
defendê-lo, bem como entre comerciantes genoveses e venezianos.
O rei francês Luís IX retomou então o espírito das cruzadas e lançou novo
empreendimento armado, a Oitava Cruzada, em 1270, embora sem grande percussão na
Europa. Os objetivos eram agora diferentes dos projetos anteriores: geograficamente, o
teatro de operações não era o Levante mas antes Túnis, e o propósito, mais que militar,
era a conversão do emir da mesma cidade norte-africana.
Luís IX partiu inicialmente para o Egito, que estava sendo devastado pelo sultão
Baibars. Dirigiu-se depois para Túnis, na esperança de converter o emir da cidade e o
sultão ao cristianismo. O sultão Maomé recebeu-o de armas nas mãos. A expedição de
São Luís redundou como quase todas as outras expedições, numa tragédia. Não
chegaram sequer a ter oportunidade de combater: mal desembarcaram as forças
francesas em Túnis, logo foram acometidas por uma peste que assolava a região,
ceifando inúmeras vidas entre os cristãos, nomeadamente São Luís e um dos seus filhos.
O outro filho do rei, Filipe, o Audaz, ainda em 1270, firmou um tratado de paz com o
sultão e voltou à Europa. Chegou a Paris em maio de 1271 e foi coroado rei, em Reims,
em agosto do mesmo ano.
Origens
Ordens militares
Envolvimento feminino
Até que o requisito fosse abolido por Inocêncio III, os homens casados precisavam obter
o consentimento de suas esposas antes de tomar a cruz, o que nem sempre era fácil.
Observadores muçulmanos e bizantinos viam com desdém as muitas mulheres que se
juntaram às peregrinações armadas, incluindo mulheres combatentes. Os cronistas
ocidentais indicaram que as cruzadas eram esposas, comerciantes, servas e profissionais
do sexo. Tentativas foram feitas para controlar o comportamento das mulheres nas
ordenanças de 1147 e 1190. As mulheres aristocráticas tiveram um impacto
significativo: Ida de Formbach-Ratelnberg liderou sua própria força em 1101; Leonor
da Aquitânia conduziu sua própria estratégia política; e Margarida da Provença
negociou o resgate de seu marido Luís IX com uma mulher adversária — a sultana
egípcia Shajar al-Durr. Misoginia significava que havia desaprovação masculina;
cronistas falam de imoralidade e Jerônimo de Praga culpou o fracasso da Segunda
Cruzada à presença de mulheres. Mesmo que elas frequentemente promovessem
cruzadas, os pregadores as classificavam como obstruindo o recrutamento, apesar de
suas doações, legados e resgates de votos. As esposas dos cruzados compartilhavam
suas indulgências plenárias.[20][21]
Legado
A jiade
No início do século XII, o mundo muçulmano tinha praticamente esquecido a jiade, a
guerra religiosa travada contra os inimigos do Islão. A explosiva expansão da sua
religião durante o século VIII tinha-se reduzido às memórias de grandeza dessa época.
Após a queda de Jerusalém, muitos proeminentes líderes religiosos, como o qadi Abu
Sa’ ad al-Harawi, tentaram convencer o califa abássida a preparar a Jihad contra os
firanjes (de francos, que era como os muçulmanos se referiam aos europeus). No
entanto, somente perto de duas décadas depois é que o sultão turco designou um
proeminente militar, um atabegue chamado Zengui, para resolver o problema firanje.
Tendo recebido o domínio das terras à volta de Moçul e Alepo, Zengui começou uma
campanha contra os firanjes em 1132 com a ajuda do seu lugar-tenente Sauar. Em cinco
anos, conseguiu reduzir o número dos castelos importantes ao longo da fronteira do
Condado de Edessa e derrotou o exército firanje em batalha. Em 1144, capturou a
cidade de Edessa e neutralizou de forma efectiva o primeiro domínio estabelecido pelos
Cruzados.
Zengui foi o primeiro líder muçulmano a enfrentar os firanjes e que não só sobreviveu,
como triunfou. Ele provou que os firanjes podiam ser bloqueados. Os líderes de Bagdá
aprovaram os sucessos de Zengui, e cedo um grande número de títulos precediam o seu
nome: O Emir, o General, o Grande, o Justo, o Ajudante de Deus, o Triunfante, o
Único, o Pilar da Religião, a Pedra de Base do Islão, …Honra de Reis, Apoiante de
Sultões … o Sol dos Merecedores, … Protector do Príncipe dos Fiéis. Zengui gostou
tanto da enchente de elogios, que insistiu que os seus arautos e escrivães utilizassem
todos os títulos na sua correspondência.
Embora Zengui fosse um grande herói militar, ele foi simplesmente muito implacável e
cruel nas suas campanhas contra Damasco para motivar os muçulmanos para uma
guerra religiosa. Uma noite do ano 1146, encontrando-se ele alcoolizado, ao ter
presenciado a um erro do seu eunuco particular, Lulu (pérola), e prometeu mandá-lo
executar por incompetência. Mais tarde, enquanto Zengui dormia, Lulu pegou na adaga
do seu dono e apunhalou-o repetidamente e fugiu, coberto pela escuridão da noite.
Em 1147, entra na barra do Douro, vinda de Dartmouth, uma frota de 200 velas,
transportando cruzados de várias nações: alemães, flamengos, normandos e ingleses
num total de 13 000 homens. Aproveitando este fato, Afonso I escreveu ao bispo do
Porto D. Pedro, pedindo-lhe que persuadisse os cruzados a ajudarem-no na empresa,
prometendo-lhes o saque da cidade. No dia seguinte desembarcaram os cruzados em
Lisboa, que tiveram as últimas negociações com D. Afonso, firmando o pacto. Depois
da tomada da cidade, muitos cruzados ficaram por lá. Um capitão de cruzados, Jourdan,
foi senhor e parece que o primeiro povoador da Lourinhã. Ao francês Allardo foi doada
Vila Verde dos Francos, no distrito de Lisboa e concelho de Alenquer (perto da Serra do
Montejunto).
Alguns anos depois, em 1152, partiu de Bergen uma esquadra de peregrinos do Norte da
Europa, comandados por Rognvaldo III, rei das Órcades, com 15 navios e 2 000
homens. No inverno do ano seguinte, esta esquadra estava nas costas de Galiza onde
pilhou algumas povoações. No verão de 1154 desce a costa portuguesa e ajuda o
monarca na conquista de Alcácer do Sal. A empresa era rendosa, pois a cidade era o
mais importante porto do Sado, cercada de pinhais, cujas madeiras eram utilizadas na
construção de navios. A empresa falhou e o mesmo se deu anos mais tarde desta vez
com a ajuda da frota do conde da Flandres composta de franceses e flamengos, e partiu
para a Síria em 1157, aportando à barra do Tejo.
Em 1189, D. Sancho I entra em negociações com outra esquadra, que acabou por entrar
na baía de Lagos e ocuparam o Castelo de Albur (Alvor), um dos mais fortes da região.
Meses depois entra no Tejo outra frota alemã que tocara em Dartmouth recebendo
muitos peregrinos e que ajudou a conquistar Silves. Capital de província, populosa,
grande centro de comércio e de cultura, a cidade estava bem fortificada. A notícia destas
vitórias chegou ao Norte de África e a resposta não se fez esperar.
Os mouros põem cerco a Silves, que não conseguiram tomar, partindo o califa em
direcção a Santarém, tomando Torres Novas no caminho e pondo o cerco a Tomar.
Perante esta situação, D. Sancho I pediu auxílio aos cruzados vassalos de Ricardo
Coração de Leão, que se tinham reunido no Tejo, e foram ter a Santarém, que não
chegou a ser atacada por causa da peste que vitimou a maior parte dos mouros.