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CÁLCULO E AVALIAÇÃO DE RISCOS

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................1

2. ÍNDICES DE RISCO......................................................................................................3

2.1 Índice Dow de Incêndio e Explosão.........................................................................3

2.2 Índice do Custo Social.............................................................................................4

2.3 Taxa Média de Morte...............................................................................................5

2.4 Taxa de Acidente Fatal.............................................................................................6

3. RISCO INDIVIDUAL....................................................................................................7

4. RISCO SOCIAL............................................................................................................12

5. ESTIMATIVAS SIMPLIFICADAS.............................................................................17

6. TOLERABILIDADE DE RISCOS...............................................................................20

7. CONSIDERAÇÕES GERAIS......................................................................................28

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA...............................................................................29

1. INTRODUÇÃO
A idéia revolucionária que define a fronteira entre os tempos modernos e o
passado é o domínio do risco: a noção de que o futuro é mais do que um capricho dos
deuses e de que homens e mulheres não passivos ante a natureza. Até os seres humanos
descobrirem como transpor essa fronteira, o futuro era um espelho do passado ou o
domínio obscuro de oráculos e advinhos que detinham o monopólio sobre o conhecimento
dos eventos previstos (BERNSTEIN(1)).

No mundo moderno, o convívio (“gerenciamento”) com os riscos, está no cotidiano


das pessoas, mesmo que muitas vezes de forma imperceptível ou até “natural” em
atividades simples, como por exemplo, conectar um botijão de gás a um fogão, atravessar
uma rua, fazer um seguro de carro (transferência dos riscos) ou mesmo realizar uma
aplicação financeira na bolsa de valores (gestão do risco econômico).

Na área industrial, a preocupação com os grandes riscos associados a atividades


envolvendo a manipulação de produtos perigosos, ganhou importância, em nível mundial,
a partir das décadas de 70 e 80, após a ocorrência de acidentes como Flixborough (Reino
Unido, 1974), Seveso (Itália, 1976), Cubatão (Brasil, 1984), Cidade do México (México,
1984), Bhopal (Índia, 1984) e Exxon Valdez (Alasca, 1989) entre outras, em função dos
impactos se estenderem em diferentes tipos de danos e perdas de grande porte, ou seja,
perda de vidas humanas, prejuízos econômicos de grande monta e impactos ambientais
significativos.

Assim, a preocupação em aperfeiçoar as questões de segurança em atividades e


indústrias perigosas, contribuiu para a evolução das técnicas e metodologias de análise,
avaliação e gerenciamento dos riscos industriais.

O principal objetivo de um estudo de análise de riscos é avaliar as condições de


segurança para o patrimônio, público e privado, para as pessoas e meio ambiente, de forma
que os riscos associados às instalações, operações e atividades avaliadas, possam ser
controlados, de forma a prevenir acidentes maiores (ampliados); ou seja, um estudo de
risco deve demonstra com um grau de certeza considerado confiável, que a probabilidade
da ocorrência de um desastre e suas respectivas conseqüências, estão devidamente
controladas.
Entre as diversas definições para risco, de modo geral, o mesmo pode ser definido
como sendo a medida de perda econômica, de danos à vida humana e/ou de impactos
ambientais, resultantes da combinação entre a freqüência de ocorrência de um evento
indesejado e a magnitude das perdas ou danos.

Nos estudos de análise de riscos em instalações ou atividades perigosas (indústrias


químicas e petroquímicas, terminais de armazenamento de combustíveis ou produtos
químicos, sistemas de transporte de produtos perigosos, instalações nucleares e plataformas
de exploração e produção de petróleo e gás, entre outras) os riscos podem ser estimados e
expressos de diferentes formas, de acordo com os objetivos a serem alcançados, como por
exemplo:

 Estimativa de perdas decorrentes de determinados acidentes;

 Riscos aos trabalhadores (impactos ocupacionais);

 Riscos às pessoas externas às instalações industriais (público externo);

 Impactos ambientais.

Assim, considerando os aspectos acima mencionados, pode-se dizer que, de forma


geral, os riscos são, normalmente, expressos de três formas:

 índices de risco;

 risco individual;

 risco social.

Nos capítulos que seguem, estão apresentadas considerações sobre essas três
diferentes formas de expressão dos riscos, sendo dada ênfase aos riscos social e individual,
uma vez que esses expressam os danos às pessoas (público e externo) expostas aos
possíveis efeitos decorrentes de eventuais acidentes em instalações ou atividades perigosas,
além de serem amplamente utilizados como formas de gestão dos riscos nessas atividades
e, no Brasil em particular, como pré-requisitos para o licenciamento ambiental.
2. ÍNDICES DE RISCO

Os índices de risco são números que expressam a magnitude dos riscos. Alguns
desses índices são números puros, ou seja, sem unidades específicas e que só tem
representatividade no contexto da metodologia de cálculo, como, por exemplo, o Índice
Dow de Incêndio e Explosão e o Índice do Custo Social Equivalente.

Por outro lado, outros índices de risco são expressos em unidades específicas, de
forma a representar significados físicos reais, como a Taxa Média de Morte (Average Rate
of Death), Taxa de Acidente Fatal (Fatal Accident Rate – FAR) e o Índice Econômico de
Perdas (Economic Loss Index).

2.1 Índice Dow de Incêndio e Explosão

O Índice Dow de Incêndio e Explosão, como o próprio nome expressa, tem por
finalidade estimar o risco relativo a incêndios e explosões, a partir da magnitude provável
desses eventos.

A aplicação do método, desenvolvido pela Dow Química, se dá por meio do


preenchimento de um formulário, com o objetivo de se determinar o valor do Índice de
Incêndio e Explosão. Para tanto, a aplicação se desenvolve nas seguintes etapas:

a. Dividir a planta em estudo em unidades, para cada uma das quais se determinará
o seu respectivo Índice de Incêndio e Explosão;

b. Determinar o Fator de Material (FM) de cada uma das unidades; esse fator
estabelece uma medida para a intensidade da energia associada uma determinada
substância quando liberada no meio ambiente;

c. Avaliar os Fatores de Perigos F1 e F2, que representam, respectivamente, os


perigos gerais dos processos (reações exotérmicas ou endotérmicas, transporte
dos produtos, acessos inadequados, etc) e os perigos específicos dos processos
(inflamabilidade ou toxicidade do produto, operações realizadas com produtos
inflamáveis, etc);
d. Calcular o Fator de Risco F3, que é obtido a partir do produto dos fatores F1 e
F2 e o Fator de Dano para cada uma das unidades estabelecidas na primeira
etapa (a); esse Fator de Dano é uma função do Fator de Risco (F3) e do Fator de
Material (FM) e é obtido a partir de um gráfico constante do manual do método;

e. Determinar os Índices de Incêndio e Explosão (IIE), calculado a partir do


produto do Fator de Material (FM) e do Fator de Risco (F3) para cada unidade
estudada;

f. Determinar a Área de Exposição em cada uma das unidades, que é função do


Índice de Incêndio e Explosão (IIE) e é obtido também a partir de gráfico
presente no manual do método;

g. Calcular o Dano Máximo Provável à Propriedade (DMPP), considerando fatores


de bonificação (salva-guardas e sistemas de proteção como sistemas automáticos
de bloqueio, isolamento de áreas, plano de emergência, sistemas de proteção
contra incêndio, detectores de vazamentos, etc).

2.2 Índice do Custo Social Equivalente

O Índice do Custo Social Equivalente (Equivalent Social Cost) é um índice que


expressa uma taxa média de mortes decorrentes de acidentes, considerando aspectos
relacionados com a percepção natural da sociedade de que ocorrências com múltiplas
fatalidades são muito mais sérias que incidentes com um pequeno número de vítimas.

Esse índice pode ser estimado a partir da seguinte equação:

Onde:

 fi = freqüência de ocorrência do evento i;

 Ni = número de vítimas decorrentes do evento i;

 p = fator de aversão ao risco (p > 1).


Para instalações nucleares Okrent (1981) sugeriu um fator de aversão de 1,2; esse
pequeno valor para esse fator impõe uma penalidade pequena para ocorrências com
múltiplas fatalidades, como é o caso dos acidentes nucleares; por outro lado, para a
indústria química, the Netherlands Goverment (1985) propôs um valor de 2 para o mesmo
fator p.

2.3 Taxa Média de Morte

A Taxa Média de Morte (Average Rate of Death - ROD) representa a medida do


risco para uma determinada sociedade (risco social) e pode ser calculada da seguinte
forma:

Onde:

 fi = freqüência de ocorrência do evento i;

 Ni = número de vítimas decorrentes do evento i;

Vale ressaltar que caso o fator p de aversão ao risco constante da equação de


cálculo do Custo Social Equivalente for igual a 1, esse índice passa a ser idêntico a ROD
(Taxa Média de Morte).

A diferença entre a taxa média de morte e o custo social equivalente pode ser
ilustrada por meio do seguinte exemplo:

Considere dois acidentes, um causando uma fatalidade a cada dez anos (Evento 1) e
outro, podendo gerar cem mortes a cada mil anos (Evento 2); assim, tem-se:

 Taxa Média de Morte:

- Evento 1: 1 fatalidade/10 anos = 0,1 fatalidades/ano;

- Evento 2: 100 fatalidades/1000 anos = 0,1 fatalidades/ano.


 Custo Social Equivalente:

- Evento 1: 10-1.12 = 0,1;

- Evento 2: 10-3.(100)2 = 10.

Pode-se observar que, com base no Custo Social Equivalente, a segunda ocorrência
é considerada de maior risco, em relação à primeira, uma vez que esse índice considera a
severidade dos efeitos associados aos acidentes (número de vítimas) e a aversão da
população aos riscos associados a essas ocorrências.

2.4 Taxa de Acidente Fatal

A Taxa de Acidente Fatal (Fatal Accident Rate – FAR) é um índice relacionado


com a estimativa de riscos de fatalidades dos trabalhadores; representa a estimativa do
número de fatalidades por 108 horas de exposição, que corresponde a aproximadamente a
vida útil de trabalho de 1000 trabalhadores. Esse índice é diretamente proporcional ao risco
individual médio, diferindo somente no período de tempo considerado, que é de um ano no
risco individual médio, sendo que na FAR esse período deve ser multiplicado por 1,14.10 4
(108/24.365).

A definição da FAR se aplica a uma pessoa que permanece fixa num determinado
local onde o seu risco individual é constante ao longo do tempo, como é o caso de um
trabalhador que exerce uma determinada função em sua atividade que o exponha
permanentemente a esse tipo risco, daí a razão da FAR ter sido desenvolvida como um
índice para a avaliação dos riscos aos trabalhadores.

Caso a pessoa exposta se movimente na região de risco (zona sujeita aos impactos
decorrentes dos efeitos físicos do acidente), a FAR deverá ser calculada com base na média
das FARs, estimadas para cada um dos pontos onde a pessoa permaneça por um período de
tempo específico.

Kletz (1992) estimou a FAR para diversos tipos de atividades no Reino Unido,
conforme apresentado na Tabela 1. O índice é normalmente comparado com riscos
derivados de exposições gerais do público.
Tabela 1 – FAR para Diferentes Atividades
(*)

FAR (No fatalidades/108 h de exposição)


Atividade
1974 a 1978 1987 a 1990
Pesca submarina 140,00 42,00
Plataformas offshore de óleo e gás 82,00 62,00
Minas de carvão 10,50 7,30
Ferrovias 9,00 4,80
Construção 7,50 5,00
Indústria química 4,30 1,20
Indústria automobilística 0,75 0,60
Indústria têxtil 0,25 0,05
(2)
(*) Lees, 1996 .

2.5 Índice Econômico de Perdas

O Índice Econômico de Perdas (Economic Loss Index) mede as possíveis perdas


financeiras em função da ocorrência de acidentes.

Esse índice é também muito utilizado para a avaliação do custo-benefício quando


da definição e implantação de medidas para a redução de riscos em instalações ou
atividades onde os riscos sejam elevados; da mesma forma, servem de base para o
gerenciamento de riscos, por meio de seguros, ou seja, como subsídios para a definição de
auto-seguro ou transferências dos riscos.

3. RISCO INDIVIDUAL

O Risco Individual é definido como o risco para uma pessoa, presente na


vizinhança de um perigo, considerando a natureza do dano para o indivíduo, a
probabilidade de ocorrer o determinado dano e o período de tempo em que o mesmo pode
acontecer.

Os danos às pessoas podem ser expressos de diversas formas, embora a maneira


mais comum de expressá-los seja em termos de danos irreversíveis ou fatalidades, uma vez
que há uma maior facilidade de obtenção de dados sobre estes tipos de impactos nas
pessoas.
Uma forma comum de apresentação do risco individual é por meio dos contornos
de risco individual (curvas de iso-risco), que são curvas que representam distribuição do
risco em diferentes regiões nas circunvizinhanças da instalação avaliada; portanto, o
contorno de um determinado nível de risco individual representa a freqüência esperada de
um evento indesejado ocorrer, causando um determinado tipo de dano num ponto
específico.

A Figura 1 apresenta o risco individual expresso por meio de contornos de risco


(curvas de iso-risco) plotados nas zonas de efeito dos acidentes gerados pela indústria
analisada.

Figura 1 – Curvas de Iso-Risco

O risco individual é função da distância da fonte geradora dos efeitos físicos; as


curvas de iso-risco procuram representar a distribuição espacial do risco; logo, o tipo de
plotagem em duas dimensões (risco x distância), como apresentado na Figura 1, é uma
simplificação dos contornos do risco.

Uma outra forma também bastante usual para a apresentação dos níveis de risco
individual, principalmente em empreendimentos lineares, como oleodutos e gasodutos, é o
gráfico de perfil de risco, conforme apresentado na Figura 2, onde se pode observar os
diferentes valores de risco, em função da distância a partir do eixo central do duto.
1,0E-02

1,0E-03
Risco Individual (ano )
-1

1,0E-04

1,0E-05

1,0E-06

1,0E-07
-120 -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100 120

Distância (m)

Figura 2 – Perfil de Risco Individual

Uma terceira forma de apresentação do Risco Individual, similar ao perfil de risco,


é o gráfico de risco em função da distância numa determinada direção, em relação à fonte
geradora do acidente, conforme mostra a Figura 3.

1,0E-04
Risco Individual (ano )
-1

1,0E-05

1,0E-06

1,0E-07
0 100 200 300 400 500

Distância da Planta na Direção NE (m)

Figura 3 – Gráfico de Risco Individual


O risco individual, num determinado ponto da vizinhança de uma fonte de perigo, é
calculado a partir da somatória das contribuições de todos os efeitos que alcançam esse
ponto. Assim, o risco individual total, num determinado ponto, pode ser calculado pela
somatória de todos os riscos individuais nesse ponto, conforme apresentado na equação
que segue:

Onde:

RIx,y = risco individual total de fatalidade no ponto x,y (freqüência de fatalidade


por ano);
RIx,y,i = risco de fatalidade no ponto x,y devido ao evento i (freqüência de
fatalidade por ano);
n = número total de eventos cujos efeitos físicos (conseqüências) afetam o
ponto x,y.

Para o cálculo dos riscos individuais nos pontos de interesse e para cada um dos
cenários acidentais, cujos efeitos físicos atinjam esses pontos, com o objetivo de se realizar
a somatória do risco individual total nesses pontos, conforme apresentado na equação
anterior, utiliza-se a equação abaixo:

Onde:

RIx,y,i = risco de fatalidade no ponto x,y devido ao evento i;


(freqüência de fatalidade por ano)
fi = freqüência anual de ocorrência do evento i no ponto x,y;
pfi = probabilidade que o evento i resulte em fatalidade no ponto x,y, de
acordo com os efeitos que atingem esse ponto.

A freqüência de ocorrência do evento i, no ponto x,y (fi) , diz respeito ao efeito


físico associado a um determinado cenário acidental, como, por exemplo, um jato de fogo,
que atinge o ponto x,y com um determinado nível de radiação térmica, normalmente
determinada a partir do desenvolvimento de árvores de eventos.

Por outro lado, a probabilidade do efeito gerado pelo evento i, nesse ponto x,y
resultar em fatalidade (pfi) é determinada pelo nível do efeito físico que atinge esse ponto;
por exemplo, para um nível de radiação térmica de 37,5 kW/m 2, no ponto x,y,
considerando um tempo de exposição de 20 segundos, esse valor será de 0,5, isto é,
probabilidade de fatalidade de 50 %.

No cálculo da probabilidade pfi, deve-se ainda considerar outros fatores que


influenciam na probabilidade de fatalidade, como por exemplo, a probabilidade do vento
incidir na direção do ponto x,y, fatores de proteção e presença de fontes de ignição, entre
outros pertinentes, de acordo com o cenário acidental em estudo.

A forma mais usual de apresentação do Risco Individual, principalmente em plantas


industriais, é por meio da apresentação das curvas de iso-risco plotadas no entorno da
instalação em estudo, calculando-se o risco em diferentes pontos de interesse, da forma
como acima apresentado. Para tanto, adota-se o seguinte procedimento:

 A área de interesse situada na circunvizinhança das instalações é definida com


base nos maiores alcances registrados nas simulações das conseqüências (efeitos
físicos) dos cenários de acidentes;

 Nessa área de interesse define-se uma “grade” de pontos, onde serão calculados
os riscos individuais;

 Assim, calcula-se a freqüência esperada para cada uma das seqüências de


acidentes (cenários), multiplicando a freqüência de ocorrência da hipótese
acidental pelas probabilidades associadas a uma determinada condição em que o
acidente venha a ocorrer (condições meteorológicas, fontes de ignição,
probabilidade de fatalidade, etc);

 Obtém-se então um valor de “f” (freqüência esperada de ocorrência) para cada


cenário acidental e um valor de “p” (probabilidade condicional de ocorrência de
fatalidade) em cada ponto da “grade”;

 O risco individual em cada ponto é então determinado por meio do produto


“f x p”; como “f” função da hipótese acidental e das condições fenomenológicas,
e “p” é função do tipo de acidente e do local considerado (ponti da “grade”),
fazendo-se a somatória dos produtos “f x p” na célula, sobre todos cenários de
acidentes para uma determinada hipótese acidental, obtém-se o risco individual,
na célula, associado à hipótese em questão. Esse mesmo procedimento é seguido
para todos os pontos da “grade” na área de interesse;

 Com esses valores do risco individual em cada célula, é feita uma interpolação
bidimensional para a determinação dos pontos onde se encontram níveis de risco
individual de interesse, normalmente de 10-9/ano a 10-4/ano; unindo-se esses
pontos de mesmo nível de risco individual foram obtidos os contornos (curvas) de
iso-risco.

4. RISCO SOCIAL

O Risco Social é a relação entre a freqüência e o número de pessoas expostas a um


nível de dano específico de uma determinada população, em função da ocorrência de
perigos específicos (IChemE, 1992).

Com base na definição acima, pode-se observar que o risco social refere-se ao risco
para um determinado número ou agrupamento de pessoas expostas aos danos decorrentes
de um ou mais acidentes.

Originalmente, o risco social foi desenvolvido, na década de 60, pela UK Atomic


Energy Authority (UKAEA), quando foi desenvolvida uma curva específica, como proposta
de um critério baseado na freqüência “aceitável” de vazamentos do Iodo-131; essa curva
foi denominada “Farmer Curve” e está apresentada na Figura 4.
Figura 4 – Farmer Curve, 1967

Nos anos 70, após o acidente de Flixborough (1974), o Advisory Committee on


Major Hazards, do Reino Unido, sugeriu o seguinte critério para o risco social: “... o risco
social de uma planta industrial deve ser mais improvável de ocorrer que uma vez em
10.000 anos (10-4/ano)... (ACMH, 1976)”.

Nos anos 70 e 80 muitos outros avanços foram obtidos, em relação aos critérios
relacionados com a análise e avaliação de riscos, em instalações industriais, em especial
com relação ao desenvolvimento e aplicação de técnicas e metodologias para as Avaliações
Quantitativas de Riscos (AQRs), merecendo destaque os estudos de Canvey (Canvey
Reports, HSE, 1978 & 1981) e o COVO Study (Blokker et al, 1980), este último
contemplando um estudo de análise e avaliação de riscos, bastante detalhado, nas
instalações perigosas de Rotterdam.

Os resultados dos cálculos para a estimativa do risco social são, freqüentemente,


apresentados sob a forma de gráficos, normalmente do tipo “log-log”, onde no eixo das
abscissas são representadas as conseqüências e no eixo das ordenadas as freqüências de
ocorrência dos acidentes.

Esses gráficos são conhecidos como do tipo f-N, uma vez que, normalmente, no
eixo das abscissas as conseqüências são representadas pelo número de vítimas fatais (N),
sendo as freqüências dos acidentes, em geral, expressas em eventos por ano.
Para melhor ilustrar a representação do risco social, por meio de gráficos f-N, está
apresentado, na seqüência, um exemplo hipotético, onde se supõe que os dados
apresentados na Tabela 2, que segue, representam, os resultados obtidos numa Avaliação
Quantitativa de Riscos (AQR).

Tabela 2 – Exemplo de Resultados de AQR

Cenário Acidental No de Fatalidades (N) Freqüência (/ano)


1 12 4,8E-03
2 123 6,2E-06
3 34 7,8E-03
4 33 9,1E-04
5 29 6,3E-03
6 16 7,0E-04
7 67 8,0E-05
8 9 4,0E-03
9 52 1,2E-06
10 3 3,4E-04

Ordenando a tabela por número crescente de vítimas, tem-se:

Tabela 3 – Exemplo de Resultados de AQR (Ordenados por N)

Cenário Acidental No de Fatalidades (N) Freqüência (/ano)


10 3 3,4E-04
8 9 4,0E-03
1 12 4,8E-03
6 16 7,0E-04
5 29 6,3E-03
4 33 9,1E-04
3 34 7,8E-03
9 52 1,2E-06
7 67 8,0E-05
2 123 6,2E-06
Os resultados da AQR, conforme apresentados na Tabela 3, podem ser plotados
num gráfico, conforme mostra a Figura 5.

1,0E-02

1,0E-03
Freqüência (ano )
-1

1,0E-04

1,0E-05

1,0E-06

1,0E-07
1 10 100 1000

Número de Fatalidades (N)

Figura 5 – Exemplo de Gráfico f-N

Embora o gráfico esteja correto, observa-se que a forma de apresentação não


permite que seja feita uma interpretação adequada do risco social; assim, normalmente são
utilizadas outras formas de plotagem dos resultados, dos estudos quantitativos de análise
de riscos.

Assim, de forma a facilitar a interpretação dos resultados, utiliza-se normalmente a


apresentação do risco social, traçando-se as chamadas curvas F-N, onde o número de
pessoas afetadas por todos os efeitos físicos decorrentes dos diferentes cenários acidentais,
considerados na análise, deve se determinado, resultando assim numa lista com as
freqüências e o número total de vítimas. Esta informação deve ser inserida na forma de
freqüências acumuladas, calculadas de acordo com a expressão que segue.

para todos os danos causados pelo evento i para os quais Ni  N

Onde:

FN = freqüência de ocorrência de todos os danos, afetando N ou mais pessoas;


Fi = freqüência de ocorrência de todos os danos causados pelo evento i;
Ni = número de pessoas afetadas pelo evento i.
O cálculo do número de pessoas afetadas pelas conseqüências (efeitos físicos) de
um determinado evento (cenário acidental) é realizado pela seguinte equação:

Onde:

Ni = número de vítimas fatais decorrentes do evento i;


Px,y = número de pessoas existentes no ponto x,y;
pfi = probabilidade do evento i resultar em fatalidade no ponto x,y, de acordo
com os efeitos decorrentes desse evento nesse ponto.

Com base nas considerações acima, os dados apresentados no exemplo anterior


podem ser classificados em ordem decrescente em relação às fatalidades, com as
respectivas freqüências acumuladas, conforme apresentado na Tabela 4.

Tabela 4 – Exemplo de Resultados de AQR (Dados para Curva F-N)

No de Fatalidades (N) Freqüência Acumulada (/ano)


123 6,2E-06
67 8,6E-05
52 8,7E-05
34 7,9E-03
33 8,8E-03
29 1,5E-02
16 1,6E-02
12 2,1E-02
9 2,5E-02
3 2,5E-02

Com base nos dados da Tabela 4 pode-se gerar a curva F-N, conforme apresentado
na Figura 6, que segue.
Freqüência de N ou mais Fatalidades
1,0E-02

1,0E-03

1,0E-04

1,0E-05
(/ano)

1,0E-06

1,0E-07

1,0E-08

1,0E-09
1 10 100 1000 10000
Número de Fatalidades

Figura 6 – Curva F-N

5. ESTIMATIVAS SIMPLIFICADAS

O cálculo dos riscos em estudos de análise de riscos de unidades industriais


complexas pode representar a necessidade de cálculos bastante complexos, se
considerarmos os diferentes tipos de dados a serem manipulados, como por exemplo:

 Número de hipóteses e respectivos cenários acidentais;

 Diferentes velocidades e direções de ventos;

 Número de fontes de ignição;

 Número de pontos para cálculo do Risco Individual;

 Número de pessoas expostas a cada um dos diferentes cenários acidentais.

Assim, a estimativa dos riscos pode requerer um número de cálculos expressivos,


devendo-se ainda considerar a complexidade de relacionamento entre esses dados, em
particular para a interpolação dos níveis de Risco Individual calculados em diferentes
pontos, na área de interesse, para a obtenção das curvas ou contornos de iso-risco.

Dessa forma, dependendo do tipo de estudo e dos objetivos a serem alcançados,


simplificações nos cálculos podem ser realizadas, no entanto, deve-se estar atento quanto
ao emprego dessas simplificações, uma vez que as mesmas normalmente tendem a ser
conservativas, razão pela qual os resultados obtidos devem ser avaliados com cautela.

Por exemplo, de acordo com o Manual de Orientação para a Elaboração de


Estudos de Análise de Riscos(4), da CETESB, uma forma simplificada para a estimativa do
Risco Social pode ser realizada estimando-se, para cada tipologia acidental, o número
provável de vítimas fatais, de acordo com as probabilidades de fatalidades associadas aos
efeitos físicos e em função das pessoas expostas em oito direções de vento, considerando-
se em cada uma destas direções duas velocidades médias de vento, correspondentes aos
períodos diurno e noturno.

A estimativa do número de vítimas fatais poderá ser realizada, considerando-se


probabilidades médias de morte, conforme segue:

 aplicar a probabilidade de 75% para as pessoas expostas entre a fonte do


vazamento e a curva de probabilidade de fatalidade de 50%;

 aplicar a probabilidade de 25% para as pessoas expostas entre as curvas com


probabilidades de fatalidade de 50% e 1%.

Tal procedimento está apresentado, esquematicamente, na Figura 7, que segue.

Região 1 Região 2
Aplicar Aplicar
probabilidade probabilidade
0,75 0,25
Fonte do Vazamento
Curva de 50% de Curva de 1% de
probabilidade de probabilidade de
fatalidade fatalidade

Figura 7 – Forma Simplificada da CETESB para Estimativa do Número de Vítimas


de um Cenário Acidental para Cálculo do Risco Social
Considerando o anteriormente exposto, o número de vítimas fatais para cada um
dos eventos finais poderá ser estimado, conforme segue:

Nik = Nek1 . 0,75 + Nek2 . 0,25

Onde:

Nik = número de fatalidades resultante do evento final i;

Nek1 = número de pessoas presentes e expostas no quadrante k até a distância


delimitada pela curva correspondente à probabilidade de fatalidade de
50%;

Nek2 = número de pessoas presentes e expostas no quadrante k até a distância


delimitada pela curva correspondente à probabilidade de fatalidade de 1%.

Para o caso de flashfire, o número de pessoas expostas é o correspondente a 100%


do número das pessoas presentes sobre a nuvem de vapor, até o limite da curva
correspondente ao Limite Inferior de Inflamabilidade (LII); assim tem-se:

Nik = Nek

Onde:

Nik = número de fatalidades resultante do evento final i;

Nek = número de pessoas presentes no quadrante k até a distância delimitada pela


curva correspondente ao LII.

Para cada um dos eventos considerados deve ser estimada a freqüência final de
ocorrência, considerando as probabilidades correspondentes, como por exemplo incidência
do vento no quadrante, probabilidade de ignição e fator de proteção, entre outras; assim,
tomando como o exemplo a liberação de uma substância inflamável, a freqüência de
ocorrência do evento final i poderá ser calculada da seguinte forma:

Fi = f i . p p . p k . p i

Onde:
Fi = freqüência de ocorrência do evento final i;

fi = freqüência de ocorrência do evento i;

pp = probabilidade correspondente ao fator de proteção;

pk = probabilidade do vento soprar no quadrante k;

pi = probabilidade de ignição.

O número de pessoas afetadas por todos os eventos finais deve ser determinado,
resultando numa lista do número de fatalidades, com as respectivas frequências de
ocorrência. Esses dados devem então ser trabalhados em termos de frequência acumulada,
possibilitando, assim, a construção da curva F-N seja construída; assim, tem-se:

FN =  Fi para todos os efeitos decorrentes do evento final i para os


quais Ni  N

Onde:

FN = freqüência de ocorrência de todos os efeitos dos eventos finais que afetam N


ou mais pessoas;

Fi = freqüência de ocorrência de todos os efeitos causados pelo evento final i;

Ni = número de pessoas afetadas pelos efeitos decorrentes do evento final i.

6. TOLERABILIDADE DE RISCOS

Conforme comentado anteriormente, o primeiro critério relacionado com o risco


social foi desenvolvido nos anos 60 pela UKAEA para instalações nucleares, quando da
elaboração da Farmer Curve, relativa a eventuais vazamentos do Iodo-131, a qual se
baseou nas seguintes premissas:

 Acidentes que resultassem em vazamentos da ordem de 1000 Curies não


deveriam ter uma freqüência de ocorrência superior a 1 em 1000 anos por reator;
 Para grandes acidentes, a freqüência de ocorrência deveria ser reduzida mais
rapidamente que a severidade;

 As freqüências de “pequenos” acidentes não deveriam exceder


1,0 x 10-2/reator.ano.

Posteriormente, nos anos 70 e 80, principalmente em função da ocorrência de


alguns desastres de grande relevância as Avaliações Quantitativas de Riscos (AQRs)
passaram a ser amplamente utilizadas na indústria.

No entanto, o estabelecimento de critérios impondo limites para riscos considerados


“aceitáveis” ou toleráveis é um tema bastante polêmico em todo o mundo, uma vez que
depende de julgamentos, muitas vezes, subjetivos e pessoais, envolvendo temas
complexos, como por exemplo, a percepção de riscos, que varia consideravelmente de uma
pessoa para outra.

O Advsory Committee on Major Hazards (ACMH) há alguns anos vem estudando


critérios voltados para a tolerabilidade de riscos impostos à população. Na terceira edição
de relatório sobre esse tema, publicado em 1984, o trabalho menciona que o critério
estabelecido considera os seguintes princípios:

 o risco de um perigo maior, para um trabalhador ou para um indivíduo do


público, não deve ser significativo, quando comparado com outros riscos aos
quais a pessoa é exposta em sua vida diária;

 o risco decorrente de qualquer perigo maior deve, tanto quanto razoavelmente


praticável, ser reduzido;

 onde houver o risco de um perigo maior, o desenvolvimento de um perigo


adicional não deve ser significativo para o risco existente;

 se o possível dano decorrente de um acidente é alto, o risco de que o acidente


ocorra deve ser o menor possível.

Critérios comparativos de riscos individuais são bastante utilizados, considerando


atividades rotineiras da vida cotidiana dos cidadãos. Kletz e Gibson (1976) realizaram
diversos estudos no Reino Unido, comparando os riscos para os trabalhadores em plantas
de processos industriais com outros riscos, voluntários e involuntários, conforme
apresentado nas Tabelas 5 e 6.

Tabela 5 – Risco Individual para Atividades Voluntárias


(*)

Atividade Risco Individual (ano-1)


Fumar (20 cigarros/dia) 5,0 x 10-3
Tomar pílula 2,0 x 10-5
Jogar futebol 4,0 x 10-5
Dirigir automóvel 1,7 x 10-6
(*) Lees(2).

Tabela 6 – Risco Individual para Atividades Involuntárias(*)

Atividade Risco Individual (ano-1)


Leucemia 8,0 x 10-5
Explosão de um vaso pressurizado (EUA) 5,0 x 10-6
Transporte de substâncias químicas 2,0 x 10-6
Raio (UK) 1,0 x 10-7
Enchentes por barragens (Holanda) 1,0 x 10-7
Vazamento de uma planta nuclear a 1 km (UK) 1,0 x 10-7
Meteóros 6,0 x 10-11
(*) Lees(2).

Alguns países, principalmente europeus, têm, ao longo dos últimos anos


estabelecido critérios de “aceitabilidade” (tolerabilidade) de riscos, dentre os quais pode-se
destacar a Holanda, Reino Unido e Noruega, entre outros.

Na Alemanha as regulamentações priorizam as normas relativas aos projetos, ou


seja, as avaliações de segurança contemplam a análise dos projetos em relação padrões
técnicos e regulamentações relevantes, de forma que as instalações possam atingir “o
estado da arte tecnológica em segurança”.

A Suécia, a exemplo da Alemanha, também considera o “estado da arte tecnológica


em segurança” em suas regulamentações. Novas instalações devem contemplar os padrões
e normas técnicas de segurança, não utilizando critérios de aceitabilidade de riscos em suas
avaliações. Contudo, os estudos de análise de riscos podem, dependendo da situação, servir
de subsídios, para a tomada de decisões, em conjunto com os critérios sociais, econômicos
ou políticos.

Na França, a análise dos riscos associados a instalações perigosas concentra-se nas


avaliações de conseqüências, em relação ao cenário que contemple o “pior caso” (“worst
case scenario”); portanto, o enfoque quantitativo associado à estimativa dos riscos
(estudos probabilísticos), não é relevante, contudo os estudos dos cenários mais
significativos têm por objetivo avaliar alternativas para a prevenção dos acidentes e
preparação para a resposta a emergências relevantes.

O Risk Management Program (RMP), da Agência Ambiental dos Estados Unidos


(USEPA) possui o mesmo enfoque que a forma de gestão dos riscos na França, ou seja,
estuda-se o “pior cenário” por meio da aplicação de modelos para a simulação das
possíveis conseqüências, elaborando-se então uma série de ações preventivas (programas
de gestão dos riscos) e um plano de emergência compatível com os possíveis impactos
esperados.

Canadá, Holanda, Reino Unido e Hong Kong são exemplos de países que
estabeleceram regulamentações com critérios quantitativos para a “aceitabilidade”
(tolerabilidade) de riscos associados a instalações perigosas.

No Canadá foi estabelecido um fórum denominado Partnerships Toward Safer


Communities para a promoção e avaliação dos níveis de segurança para o público,
segurança industrial e proteção ambiental. A iniciativa de criação desse fórum foi do Major
Industrial Accidents Council of Canadá (MIACC), que é formado representantes dos
governos e das comunidades, associações das indústrias, universidades e órgãos de
emergência.

No Canadá, tanto os estudos qualitativos de análise de riscos como as Avaliações


Quantitativas de Riscos (AQRs) são utilizados para a análise de instalações perigosas,
sendo que o principal foco das autoridades nas avaliações, para aprovação das instalações,
concentra-se tanto no projeto e nos equipamentos, como nos aspectos relacionados com o
gerenciamento de segurança.
No Reino Unido, o Health & Safe Executive (HSE) estabeleceu um critério para o
planejamento de uso e ocupação de solo na vizinhança de plantas industriais (Risk Criteria
for Land-use Planning in the Vicinity of Major Industrial Hazards, 1989). Esse critério
divide as áreas existentes ao redor de plantas industriais perigosas em três regiões,
combinando essa divisão com os tipos de empreendimentos existentes, de forma a
subsidiar o uso do solo nessas regiões.

Os limites dos níveis de risco individual considerados para a definição dessas zonas
são os seguintes:

 Zona I: riscos acima de 10-5 ano-1;

 Zona II: riscos situados entre 10-6 ano-1 e 10-5 ano-1;

 Zona III: riscos situados entre 3,1x10-7 ano-1 e 10-6 ano-1.

A Tabela 7 apresenta a matriz para auxiliar a tomada de decisão quanto ao uso do


solo nessas regiões.

Tabela 7 – Matriz de Tomada de Decisão para Planejamento de Uso do Solo

Empreendimento Zona I Zona II Zona III


Normalmente
Habitação Inaceitável Talvez
aceitável
Comércio e indústria Aceitável Aceitável Aceitável
Comércio e lazer Talvez Talvez Aceitável
Empreendimentos
Inaceitável Inaceitável Talvez
muito vulneráveis
Fonte: HSE, 1989(3).

Com relação ao uso de critérios para a tomada de decisão, utilizando-se a estimativa


de risco social, normalmente são utilizadas curvas F-N para o estabelecimento dos valores
limites para a “aceitabilidade” e “inaceitabilidade” dos riscos, sendo que os riscos situados
entre esses valores limites devem ser reduzidos. Essa redução de riscos normalmente está
associada ao chamado princípio ALARP (As Low as Reasonably Praticable).

O governo holandês(3) fixou um critério de aceitabilidade de riscos associado a uma


curva F-N nos anos 80. Em 1996 essa curva foi resivada, tendo sido retirada a Região
ALARP, conforme mostra a Figura 8.

Essa curva, plotada em escala logarítimica, da freqüência acumulada de acidentes


que possam causar N ou mais fatalidades versus N (número de fatalidades) considera que
um acréscimo no número de mortes pela multiplicação de um fator N, somente é aceitável
se a probabilidade desse evento ocorrer for N2 menor para os dois níveis fixados.

Figura 8 – Critério de Risco Social da Holanda – 1996

Em 1988, o governo de Hong Kong fixou um critério para a tolerabilidade do risco


social para instalações industriais, baseado na curva F-N(3) apresentada na Figura 9.
Figura 9 – Critério de Risco Social de Hong Kong – 1988

Essa curva foi revista em 1993(3), quando foi incorporada a Região ALARP sendo
mantido no entanto o número máximo de vítimas considerado aceitável (Figura 10).

Figura 10 – Critério de Risco Social de Hong Kong – 1993

No Brasil, a Agência Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) estabeleceu,


em 2001, no documento denominado Manual de Orientação para a Elaboração de
Estudos de Análise de Riscos(4) critérios de tolerabilidade de riscos, tanto para Risco Social,
como para Risco Individual que norteiam a avaliação de estudos de análise de riscos de
instalações e atividades perigosas, no âmbito do processo de licenciamento ambiental.

A Curva F-N da Figura 11, que segue, apresenta o critério de tolerabilidade para o
Risco Social da CETESB.
1,0E-02
Freqüência de N ou mais
Fatalidades (/ano) 1,0E-03

1,0E-04 INTOLERÁVEL

1,0E-05

1,0E-06
ALARP
1,0E-07

1,0E-08 NEGLIGENCIÁVEL

1,0E-09
1 10 100 1000 10000

Número de Fatalidades (N)

Figura 11 – Critério de Risco Social da CETESB – 2001

Segundo a CETESB(4), os riscos situados na região entre as curvas limites dos


riscos intoleráveis e negligenciáveis, denominada ALARP (As Low As Reasonably
Praticable), embora situados abaixo da região de intolerabilidade, devem ser reduzidos
tanto quanto praticável.

Para o risco individual foram estabelecidos os seguintes limites:

 Risco máximo tolerável: 1 x 10-5 ano-1;

 Risco negligenciável: < 1 x 10-6 ano-1.

Para a aprovação de uma instalação perigosa na CETESB, deverão ser atendidos os


critérios de risco social e individual conjuntamente, ou seja, a curva de risco social e o
risco individual deverão estar situados na região negligenciável ou na região ALARP.

Entretanto, nos casos em que o risco social for considerado atendido mas o risco
individual for maior que o risco máximo tolerável, a CETESB, após avaliação específica,
poderá considerar o empreendimento aprovado, uma vez que o enfoque principal na
avaliação dos riscos está voltado aos impactos decorrentes de acidentes maiores, afetando
portanto agrupamentos de pessoas, sendo portanto o risco social o índice prioritário nesta
avaliação.
Nos estudos de análise de riscos em dutos, os riscos deverão ser avaliados somente
a partir do risco individual, de acordo com os seguintes critérios:

 Risco máximo tolerável: 1 x 10-4 ano-1;

 Risco negligenciável: < 1 x 10-5 ano-1.

O conceito da região denominada ALARP (As Low As Reasonably Praticable)


também se aplica na avaliação do risco individual; assim, os valores de riscos situados na
região entre os limites tolerável e negligenciável, também deverão ser reduzidos tanto
quanto praticável.

7. CONSIDERAÇÕES GERAIS

A avaliação dos riscos impostos a uma determinada comunidade por uma instalação
industrial depende de uma série de variáveis, muitas vezes pouco conhecidas, e cujo
resultado normalmente apresenta um nível razoável de incerteza. Esse fato decorre
principalmente em função das dificuldades para a determinação, com exatidão, de todos os
riscos de uma instalação, dada a escassez de dados disponíveis para a realização desses
estudos.

Além dos riscos às pessoas, numa avaliação criteriosa de uma determinada


instalação ou atividade perigosa, devem também ser considerados outros tipos de impactos,
causados por eventuais acidentes maiores, como por exemplo, danos ambientais
decorrentes de efeitos agudos que redundem em episódios críticos de poluição do solo, do
ar e da água, e de impactos à fauna e à flora.

A avaliação de riscos deve sempre ser realizada de forma criteriosa, levando em


conta, entre outros, os seguintes aspectos:

 valores sociais, éticos, econômicos e ambientais;

 capacidade de percepção dos riscos, cosnsiderando os seguintes aspectos:

 voluntariedade;

 benefícios;
 possibilidade de reconhecer e compreender os riscos;

 controle individual e capacidade de proteção.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

(1) BERNSTEIN, Peter L. Desafio aos Deuses: A Fascinante História do Risco.


Editora Campus Ltda., 8a Ed., Rio de Janeiro, 1997.

(2) LEES, Frank P. Loss Prevention in the Process Industries. 2nd Ed. Vol. 1,
Butterworth Heinemann, London, 1996.

(3) BALL, David J. & FLOYD, Peter J. Societal Risks, Final Report. HSE, UK,
1998.

(4) CETESB. Manual de Orientação para a Elaboração de Estudos de Análise de


Riscos. São Paulo, 2001.

(5) AIChE/CCPS. Guidelines for Chemical Process Quantitative Risk Analysis. 2nd,
New York, 2000.

(6) OKSTAD, E. & HOKSTAD, P. Risk Assessment and Use of Risk Acceptance
Criteria for the Regulation of Dangerous Substances. Noruega, 2001.

(7) MALDER, G. V. Deterministic and Probabilistic Aproaches in Risk Analysis:


The Walloon Region’s Hybrid Approach. Bélgica, 2000.

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