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A Carta Constitutiva

Por Ir∴ Apr∴ Bruno Andrade Dortas


A∴R∴L∴S∴ Nova Esperança XVII, N° 4244 – Itaperuna-RJ
07/06/2022 da E∴ V∴

Introdução
Escrever sobre a Carta Constitutiva na Maçonaria trata-se de um grande desafio, afinal, como
discorrer sobre um único documento, presente em todas as Lojas Maçônicas, mostrando sua
magnitude e significância, sem parecer um chato burocrata?
Para dificultar ainda mais, muito pouco – ou quase nada – foi escrito especificamente sobre ela, o
que nos leva a poucos resultados nas pesquisas de fontes e culmina na necessidade de se explorar
materiais e artigos relacionados, em busca de uma linha ou duas que toquem, mesmo en passant,
nesse assunto.
Nesta peça de arquitetura farei um apanhado de tudo que pude encontrar relacionado à Carta
Constitutiva, mas não sem antes revisitar o significado de três palavras muito importantes, que
guiarão nosso raciocínio ao longo dessa leitura.
Uma pitada de etimologia
A primeira palavra é “Constituição”, substantivo feminino que significa “o ato, processo ou efeito de
constituir”. Como termo jurídico, em qualquer país democrático do mundo, se trata do “conjunto
das leis fundamentais que regem a vida de uma nação, ... traçando limites entre os poderes e
declarando os direitos e as garantias individuais”, ou seja, é a lei máxima à qual todas as leis devem
ajustar-se. Por extensão, também pode ser entendida como o “conjunto de preceitos e regras que
regem uma instituição”, se aproximando da etimologia das palavras “Regulamento”, “Estatuto” e
“Regimento”.
Se ao falar de constituição falamos primariamente do ato de constituir, também devemos analisar
o verbo “Constituir”. Seu significado como verbo transitivo direto é “estabelecer, organizar, formar”,
mas seu uso fica ainda mais interessante quando adicionamos o predicativo, dando o significado de
“dar poderes a (alguém) para exercer mandato, cargo, função etc.”.
Já a palavra “Constitutiva” é um adjetivo ligado diretamente a tudo aquilo “que constitui, que
compõe” algo. Também pode ser vista como “a base, o cerne de”, e como “relativo a ou próprio de
constituição”.

A Carta Constitutiva
Segundo o M∴ M∴ Alfério Di Giaimo Neto, nos primórdios, uma Loja Maçônica era formada por si
só, sem nenhuma cerimônia, normalmente auxiliada por outra da vizinhança, se um número
suficiente de Irmãos decidisse formar uma delas.
Isso mudou em 1722, quando a recém-formada Grande Loja da Inglaterra determinou que cada nova
Loja de lá deveria ter uma patente, empenhando-se para obter a permissão e certificação
necessárias, em forma de carta, da Grande Loja.
Uma vez conquistada a carta, esta nova loja ficava unida à Grande Loja da Inglaterra, como uma
filial, se comprometendo a trabalhar de acordo com seu sistema e se manter dentro dos antigos
LANDMARKS (obrigações, usos, costumes e tradições) maçônicos, sendo considerada então justa,
perfeita e regular.
Considerando esse aspecto histórico, a Carta Constitutiva está ligada diretamente ao significado das
três palavras que vimos anteriormente. Ela é o documento que representa a constituição de uma
Loja Maçônica, sendo outorgada pela sua Potência Maçônica correspondente após o cumprimento
de todos os requisitos necessários para que ela funcione regularmente.
Os requisitos
O Grande Oriente do Brasil (GOB), Potência Maçônica da qual a A∴R∴L∴S∴ Nova Esperança XVII é
federada, se trata de “uma federação indissolúvel dos Grandes Orientes dos Estados e do Distrito
Federal, das Lojas Maçônicas Simbólicas e dos Triângulos”. Podemos imaginá-la como se fosse a já
citada Grande Loja da Inglaterra do nosso país.
Em sua constituição (de 2009, revista e atualizada, com última atualização em 2016), no Art. 14,
consta que “os maçons se agremiam em oficinas de trabalho denominadas Lojas, quando
constituídas por sete ou mais Mestres Maçons regulares em pleno gozo de seus direitos maçônicos”.
Diz também, em seu primeiro parágrafo que “Em Município onde já exista Loja federada ao Grande
Oriente do Brasil, só poderá ser constituída outra com um mínimo de vinte e um Mestres Maçons
regulares em pleno gozo de seus direitos maçônicos”.
A Lei N°. 0099/2008, que institui o Regulamento Geral da Federação (RGF), em seu Título II, Capítulo
I, elenca os demais elementos para a autorização de funcionamento de uma Loja Maçônica, sendo
eles a cópia de sua ata de fundação, exemplares do Quadro de Obreiros, desenho do timbre e do
estandarte da loja, bem como a comprovação de quitação de todas as contribuições legalmente
exigidas.
Uma loja pode funcionar sem sua Carta Constitutiva?
Após a apresentação de todos os requisitos e subsequente protocolização de requerimento, o
Grande Oriente Estadual ou Delegacia expede imediatamente a autorização para o funcionamento
provisório da Loja. Logo após isso, a cópia do ato que autorizou o funcionamento provisório deve
ser juntada a uma declaração firmada pela administração interina da loja, se comprometendo em
se refinar regularmente, resultando em um novo requerimento ao Grande Oriente do Brasil: o de
Solicitação de Carta Constitutiva.
Entre o período de concessão de sua autorização de funcionamento provisório e a efetiva outorga
da Carta Constitutiva pelo GOB, não há qualquer artigo ou dispositivo na Constituição do GOB e no
RGF que impeça o funcionamento da referida Loja, ou seja, ela poderá funcionar provisoriamente,
ainda que não tenha recebido a sua Carta Constitutiva.
Sua posição no templo
Após o seu recebimento, além dos tramites maçônicos necessários posteriormente, fica uma dúvida
muito comum: qual o local da Carta Constitutiva em uma Loja Maçônica?
Segundo o Ir∴ Pedro Juk, Secretário Geral de Orientação Ritualística do GOB, atualmente não existe
um lugar oficializado para o seu posicionamento, inclusive podendo ela não ser exibida dentro da
Loja, uma vez que o Estandarte da Loja, em linhas gerais, já seria suficiente para definir a Corporação
Maçônica ali reunida.
No entanto, existe o costume de se expor a Carta Constitutiva encostada na frente do Altar, à direita
de quem olha do ocidente para o oriente, facilitando a identificação – no caso de uma corporação –
de quantas oficinas se reúnem ali, em dias distintos, para os seus respectivos trabalhos.
O que ela diz?
O conteúdo de uma Carta Constitutiva outorgada pelo GOB é bem simples e direto. Uso como
exemplo a de nossa Loja, que diz, ipsis litteris, o seguinte:
“O Grande Oriente do Brasil faz saber a todos quantos esta virem que a Loja Maçônica NOVA
ESPERANÇA XVII, fundada em 03 de Dezembro de 2012, no Oriente de Itaperuna-RJ conforme
consta no Processo n. 0050/2013, fica regularizada e a ele filiada, nos termos do Ato n° 17230
de 31 de Janeiro de 2013, concedendo-lhe a presente Carta Constitutiva, para que possa
trabalhar nos graus simbólicos do Rito Escocês Antigo e Aceito.
Para que goze dos direitos de Loja Regular, está registrada no Cadastro Geral de Lojas, no
Poder Central, com o Título Distintivo de Augusta e Respeitável Loja Simbólica NOVA
ESPERANÇA XVII n° 4244.
Dado e traçado no Poder Central em Brasília, Distrito Federal, aos 04 dias do mês de Fevereiro
do ano de 2013, da E∴ V∴.”
Em versões mais recentes, a Carta Constitutiva também conta com informações sobre a
periodicidade dos trabalhos da loja e de seus mandatos administrativos.

Conclusão
Levando em consideração o significado das palavras “Constituição”, “Constituir” e “Constitutiva”,
pudemos perceber ao longo desta peça que a Carta Constitutiva é um documento que atesta que
uma Loja Maçônica cumpriu com todos os requisitos de sua Potência Maçônica, se comprometeu
em obedecer às leis máximas da maçonaria (landmarks), teve estabelecido o seu poder em exercer
sua função e que então compõe a base dessa grande potência.
Ela também define aspectos importantes para o funcionamento da loja, tais quais a periodicidade
das reuniões, os tempos de mandatos administrativos e o rito adotado pela loja, constituindo a ela
– em seguida – o Título Distintivo de Augusta e Respeitável Loja Simbólica.
Tomando emprestadas as palavras do Ir∴ Alfério Neto, a Carta Constitutiva pode ser encarada ao
mesmo tempo como a certificação de nascimento e o alvará de funcionamento de uma Loja
Maçônica, comprovando a regularidade de seu funcionamento. Sem ela uma loja pode funcionar
provisoriamente, mas nunca perenemente, de uma forma justa, perfeita e regular.

Fontes
GOB – “Constituição do Grande Oriente do Brasil”, 2009, Última Atualização em 27/09/2016;

GOB – “REGULAMENTO GERAL DA FEDERAÇÃO - LEI N. 0099, DE 9 DE DEZEMBRO DE 2008”;

JUK, Pedro – “CARTA CONSTITUTIVA”, disponível em: http://iblanchier3.blogspot.com/2019/06/carta-constitutiva.html;

NETO, Alfério – “CARTA CONSTITUTIVA”, disponível em: https://focoartereal.blogspot.com/2011/12/carta-constitutiva.html.

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