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Rio Grande, RS, Brasil. empregatícios, a limitação de espaço físico e a burocracia e como facilitadores, foram destacados a presença de protocolos
e comunicação efetiva que juntos podem resultar em uma direção para a construção de um ambiente ético de trabalho, de
modo a ir ao encontro com a meta do serviço, no qual se constitui na humanização da assistência e a segurança do paciente.
ABSTRACT
Objective: Identify the main barriers and facilitators to multi-professional practice to promote an ethical environment in a
traumatology service. Method: this exploratory-descriptive study with a qualitative approach addressed ten professionals from the
multidisciplinary team of a traumatology service at a University Hospital located in southern Brazil. Three doctors, three resident
doctors, two nurses, and two nursing technicians participated in the study. Data were collected from September to October 2019
through a Focus Group and analyzed through Discursive Textual Analysis. Results: Two main categories emerged: barriers and
facilitators to building an ethical environment in a traumatology service. Conclusion and implications for practice: The main
barriers hindering the construction of an ethical workplace environment included the presence of different employment contracts,
restricted physical space, and bureaucracy, while facilitators included existing protocols and effective communication, which have the
potential to promote an ethical workplace environment to fulfill the service’s goals, i.e., the humanization of care and patient safety.
RESUMEN
Objetivo: Identificar las principales barreras y facilitadores del trabajo multiprofesional, con miras a la construcción de un
ambiente ético en un servicio de traumatología. Método: estudio exploratorio-descriptivo con abordaje cualitativo, realizado
con 10 profesionales de un equipo multidisciplinario de una unidad de traumatología en un Hospital Universitario ubicado en el
sur de Brasil. Participaron tres médicos, tres médicos residentes, dos enfermeras y dos técnicos de enfermería. La recolección
de datos se llevó a cabo de septiembre a octubre de 2019, a través del Focus Group, sometidos al Análisis Textual Discursivo.
Resultados: Los datos permitieron la construcción de dos categorías principales: barreras y facilitadores encontrados para
la construcción de un ambiente ético en un servicio de traumatología. Conclusión e implicaciones para la práctica: Las
principales barreras para la construcción de un ambiente de trabajo ético fueron la presencia de diferentes vínculos laborales,
la limitación del espacio físico y la burocracia. Como facilitadores, se destacaron la presencia de protocolos y una comunicación
efectiva, que en conjunto pueden resultar en un rumbo para la construcción de un ambiente de trabajo ético, a fin de cumplir
con el objetivo del servicio, que constituye la humanización del cuidado y la seguridad del paciente.
Autor correspondente
Gabriela do Rosário Paloski.
E-mail: gabipaloski@outlook.com.
Recebido em 26/01/2021.
Aprovado em 01/05/2021.
DOI:https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2021-0005
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Construção de um ambiente ético
Avancini RC, Barlem ELD, Tomaschewski-Barlem JG, Amorim CB, Rocha LP, Paloski GR
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característica comum dos participantes foi trabalhar no mesmo nova compreensão da pesquisa após a desordem das falas que
serviço, o que resultou em dez profissionais. se fez ao longo do processo10.
Os critérios de inclusão consistiram em: atuar como médico, A fim de garantir a credibilidade e validação interna do
ser médico residente, ser técnico de enfermagem ou ser enfermeiro estudo, as transcrições de cada grupo focal foram corrigidas para
da unidade de traumatologia e fazer parte da força de trabalho verificar os participantes, possibilitando a pesquisa, a verificação
há, pelo menos, seis meses. Os critérios de exclusão foram da veracidade dos dados e a confiabilidade dos resultados.
profissionais que não trabalhavam regularmente na unidade, No que diz respeito à confiabilidade, foram feitas anotações e
pois sua inclusão poderia interferir na avaliação do estudo. gravações detalhadas dos grupos de foco, a fim de manter os
Todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento dados organizados e permitir sua recuperação e revisão.
Livre e Esclarecido. Ainda, foi utilizada uma triangulação teórica, para que a
No primeiro encontro, foi formulado um questionamento: análise dos dados fosse realizada sob diferentes perspectivas
quais os conflitos éticos vivenciados por médicos e enfermeiros por um profissional da área da medicina e da enfermagem para
em sua prática no serviço de traumatologia? Foi solicitado que interpretar o mesmo conjunto de informações. Para tanto, os
participante descrevesse uma situação problemática vivenciada dados foram divididos entre dois pesquisadores, um médico e
na unidade, junto com a solução adotada. Em seguida, todos uma enfermeira, que os analisaram de forma independente e
leram suas respostas, as quais foram discutidas pelo grupo, compararam os resultados. No que se refere à verificação externa
enquanto as soluções para os problemas apresentados também do estudo, foi realizada uma revisão crítica por uma pesquisadora
foram sugeridas. do grupo de pesquisa que não constava na investigação, para
No segundo encontro, os participantes receberam um validar os resultados obtidos.
diagrama sintetizando todas as situações, e foi solicitado a cada Este estudo baseou-se nas recomendações éticas estabelecidas
participante que listasse três fatores que dificultaram e três fatores pela Resolução 466/12 que orienta pesquisas envolvendo seres
que facilitaram o estabelecimento de um ambiente de trabalho humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em
ético. O grupo também discutiu esses fatores. Pesquisa sob o parecer 175/2019, CAAE: 15723419.3.0000.5324.
No último encontro, a discussão teve como objetivo Os relatos dos participantes são identificados pela letra “P”,
propor caminhos para lidar com os principais problemas éticos seguida do número que correspondeu à ordem de seus relatos
apresentados no primeiro encontro e elencar as principais para preservação de suas identidades.
barreiras e facilitadores. No final, a discussão se concentrou
em uma parceria multidisciplinar para estabelecer um ambiente RESULTADOS
ético na unidade de traumatologia.
As barreiras para a construção de ambientes éticos no
A análise dos dados foi realizada com base na análise trabalho podem ser consideradas como fatores que fragilizam a
textual discursiva, que visa produzir novas compreensões construção de um ambiente ético, como a falta de discussão sobre
sobre fenômenos e discursos, por meio de um processo auto- os problemas éticos existentes na organização. Os facilitadores
organizado de construção da compreensão sobre determinado para a construção de um ambiente ético, por outro lado, podem
fenômeno em três fases sequenciais: unitarização; categorização; ser evidenciados como fatores que auxiliam no alcance de um
e comunicação10. Na etapa de unitarização, foi realizada uma ambiente ético, como o apoio, o incentivo e a discussão da
leitura minuciosa das entrevistas, até que as falas dos participantes instituição com o profissional nas questões éticas4,5.
fossem desconstruídas, visando a elaboração de um sentido A partir da análise dos dados, foram construídas duas
mais amplo e a percepção dos diferentes sentidos obtidos por categorias: barreiras para a construção de um ambiente ético
meio das entrevistas, ou seja, houve uma desorganização dos no serviço multiprofissional de traumatologia e facilitadores para
textos em unidades formadas por ideias comuns que facilitaram a construção de um ambiente ético no serviço multiprofissional
o encontro de um novo entendimento10. de traumatologia, o que resultou em alguns fatores, como pode
Na segunda etapa, a categorização, ocorreu a união das falas ser visto na Tabela 1.
que inicialmente foram desconstruídas e levaram ao agrupamento
de novas frases com significados semelhantes. Essa etapa foi Barreiras à construção de um ambiente ético no
construída através de uma perspectiva indutiva e intuitiva, na serviço multidisciplinar de traumatologia
qual as categorias foram criadas após a leitura do texto, a partir Nessa categoria, foi possível identificar que os profissionais
da comparação e organização de elementos semelhantes e, por reconhecem a existência de barreiras no ambiente de trabalho
fim, através de um conhecimento intenso do tema10. para construção de um ambiente ético. Nesse sentido, destacam
Na terceira etapa, comunicação, buscou-se descrever e como principais barreiras para construção de um ambiente
interpretar os significados comuns do que foi produzido ao longo ético e também para obter o nível desejado de qualidade do
do estudo e tornado compreensível. A partir dessas três etapas serviço e segurança do paciente, a presença de conflitos diante
mencionadas, foi possível chegar a uma quarta e última etapa, o dos diferentes vínculos empregatícios, a falta de protocolos, a
processo auto-organizado, que foi capaz de criar e recriar uma limitação de espaço físico, a burocracia e falta de comunicação.
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Tabela 1. Subtemas originados no estudo com base em temas emergentes. Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Temas Subtemas
Conflitos relativos aos diferentes contratos de trabalho
Falta de protocolos
Barreiras para a construção de um ambiente ético Infraestrutura física limitada
Burocracia
Falta de comunicação
Reuniões periódicas
Round multiprofissional
Protocolos
Facilitadores para a construção de um ambiente ético
Programas de treinamento
Educação continuada
Comunicação efetiva
Fonte: dados da pesquisa
Os profissionais trazem a presença de conflitos éticos em e pós-operatórias e pelos exames a serem realizados. Dessa
virtude de diferentes vínculos empregatícios, visto que com a forma, a falta de protocolos assistenciais produz importantes
adesão do Hospital Universitário (HU) à administração e gestão da divergências de conduta entre profissionais do mesmo setor,
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), criou-se comprometendo a segurança do paciente.
um novo vínculo empregatício para admitir funcionários de forma
mais rápida e ligados a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), […] acho que o que gera mais conflitos é essa falta de
diferentemente do anterior já existente, o Regime Jurídico Único protocolos, um vem aqui e diz para sentar, o outro diz que
(RJU). Dessa forma, passaram a trabalhar no mesmo ambiente, não pode sentar, que é deitado, quer dizer cada um diz
funcionários com mesmas funções, porém com remunerações, uma coisa, e como fica a cabeça do paciente? […] (P 5).
carga horária, planos de carreira e benefícios diferentes, o que
acabou gerando conflitos nos setores de trabalho, dificultando
Os profissionais de saúde relatam a falta de espaço físico
o relacionamento e integração entre as equipes.
como uma barreira para a construção de ambientes éticos
multiprofissionais. Ressaltam que espaço físico no HU tornou-se
[…] acho que a principal barreira é atualmente aqui no
um grave problema, sendo a alta demanda de atendimentos um
HU, é a diferença de vínculos empregatícios, de regime
fator determinante para a qualidade do serviço, do atendimento
jurídico, eu acho que isso é um dos maiores problemas
e da segurança do paciente.
pelo menos visivelmente, de problemas éticos, naquele
encontro e o despreparo da gestão que não estabelece
[…] questão de otimizar um pouquinho a questão de
prioridades, acho que de alguma maneira a gente teria que
serviço só, talvez tentar se adequar a nossa realidade,
unificar os vínculos, ou, pelo menos, os direitos e deveres,
de ter uma equidade nas relações profissionais[..].P6. melhorar um pouco a estrutura do hospital, no serviço
em si né, desde o bloco, material do bloco, quantidade
[…] isso aí é confuso, e até a condição, a relação
de cirurgias eletivas, das emergências que, às vezes,
interpessoal, parece que, às vezes, o pessoal do andar,
têm, a quantidade de leitos que nós temos né? Uma
entre turnos, entre nós…está tendo uma coisa assim tipo
quantidade de municípios que a gente acaba […] (P 9).
contrato universidade e contrato EBSERH, a empresa
universidade e a empresa EBSERH. Às vezes, parece que […] então, hoje a gente tem um hospital que é referência
aquilo está em choque, isso aí a gente sente no dia a dia: na em múltiplos lugares né? Tem 14 Preceptores que
parece que nem todos falam a mesma língua […] (P 8). nem se falou, tem o serviço de traumatologia, com alta
complexidade e, então, acho que começa por aí, quer ter
Além disso, os profissionais identificaram a falta de protocolos uma estrutura, se não quer é aquela coisa, tu coloca a
assistenciais como outra característica negativa do serviço. carroça na frente dos bois. Contratou um monte de gente,
Essa ausência é percebida pelos profissionais desde a simples mas esse pessoal vai trabalhar como? A não tem meio, não
prescrição de um medicamento até a mais complexa definição tem estrutura, não tem instrumento. Acho que a maioria
do tratamento final do paciente, passando pelas orientações pré dos conflitos parte é por essa demanda? Que o hospital
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acaba regulando a saúde pública e tendo que resolver, […] porque, às vezes, ah, um, fala que tem que ser de
e na verdade isso é um hospital universitário[…] (P 1). uma forma, o outro já discorda, vai lá, então, o paciente
fica numa só confusão e que credibilidade ele vai ter em
Os profissionais de saúde relatam a burocracia como uma mim, se eu sei que ele tem que fazer isso, isso e isso, a
barreira para a construção de ambientes éticos, ressaltando que senhora tem que sentar, a senhora tem que se posicionar,
a burocracia pode ser a responsável pela dificuldade em se ter pra não ficar, levou tudo aquelas, aquelas instruções,
um serviço ágil, funcionante e resolutivo, e que essa, pode vir que confiança ele vai ter em mim, se o meu colega foi lá
a prejudicar de forma importante a prática da assistência em e disse que ele tá, pode levantar […] (P 9).
saúde, causando um prejuízo ao paciente.
[…] eu acredito e também concordo com os colegas Facilitadores para construção de ambiente ético
que a burocracia vem primeiro…o paciente foi decaindo no serviço multiprofissional de traumatologia
nessa escala de direcionamento, foi chegando papel, o Nessa categoria, os profissionais de saúde reconhecem
aval de alguém e o paciente foi caindo nessa escala e que existem diversas condições que facilitam o trabalho e a
ficou na pirâmide, o paciente que deveria estar lá em construção de ambientes éticos no serviço de traumatologia,
cima (prioridade), acabou ficando lá embaixo, então, destacando as reuniões periódicas, os rounds multiprofissionais,
presença de protocolos, cursos de capacitação e de educação
tem vários conflitos […] (P 2).
continuada e presença de uma comunicação efetiva como
[…] a questão burocrática na frente da igualdade e práticas fundamentais para a construção de um ambiente ético.
equidade, eles querem tratar os pacientes de forma igual, Os profissionais de saúde relatam a importância das reuniões
e não de forma inclusiva, o certo é que cada um tem periódicas, visto que é nelas que se tem a oportunidade de ouvir
uma necessidade diferente, é, então, assim, a questão argumentos e pontos de vistas diferentes, os quais contribuem
de a gente tem tantos leitos disponíveis e tantos leitos para a qualidade e a humanização da assistência prestada ao
masculinos, sendo que a unidade cirúrgica, às vezes, está paciente. Ainda, trazem que as reuniões deveriam compor a
com bastante leitos disponíveis, tem como remanejar os dinâmica de um serviço, pois possibilitam melhor desempenho
pacientes e eles não querem porque é dois masculinos e da equipe, resultando em uma melhor qualidade do serviço
dois femininos né? Então, às vezes, não se pensa muito prestado ao paciente.
no paciente […] (P 10). Além disso, destacam a pluralidade de profissionais como
fator que favorece a construção de estratégias para criação de
Por fim, a falta de comunicação efetiva, destacada pelos ambientes éticos, devido as diferentes formações pessoais e
participantes, foi indicada como fator impeditivo em relação a profissionais que compõe as equipes multiprofissionais.
construção de ambientes éticos e de um serviço de qualidade.
Dessa forma, os profissionais de saúde identificam a falta de […] não sei de que maneira conseguir isso, mas uma
comunicação em todos os níveis (interpessoal, profissional, sugestão seria que de vez em quando fizesse uma
com a instituição e com o paciente) como responsável por reunião, enfermagem, médico, residente, acadêmicos,
provocar prejuízos para a boa convivência, como também para sei lá, para discutir ou dar casos, para eles participarem,
a prática assistencial, uma vez que a informação é primordial podem dar habilitação nesses setores […] (P 8).
para o entendimento do paciente acerca de seus problemas e […] eu diria que a gente deveria ter uma maior convivência
para o entendimento e tomada de condutas dentro da equipe entre as equipes médicas e enfermagem, e acho que
assistencial. deveriam acontecer reuniões periódicas pra discutir o
O deficit de comunicação é relato pelos profissionais andamento do serviço né? Com uma frequência maior,
de saúde, como o causador de conflitos entre as equipes e os protocolos, que seriam muito interessante como um
multiprofissionais no serviço de traumatologia e também como facilitador do serviço […] (P 6).
um fator que interfere negativamente na qualidade de assistência
prestada e na segurança do paciente. Assim, a falta de tempo, Dentro dessa perspectiva, os profissionais da saúde identificam
a sobrecarga de trabalho e a burocracia são variáveis acusadas os rounds multiprofissionais como ferramentas fundamentais
pelos profissionais de influenciarem na comunicação não efetiva para qualificação do serviço e aproximação da equipe na busca
dentro do serviço. pela segurança do paciente. Os profissionais relatam as falhas
no trabalho em equipe e na comunicação como os principais
[…] os pacientes parecem que, às vezes, não falam a fatores que acarretam em erros médicos, eventos adversos e
mesma linguagem, porque o paciente, eu chego lá, e falo redução da qualidade do cuidado prestado ao paciente.
bom dia, então, conto qual é o plano pra aquela manhã,
só que cada um de vocês, dos residentes parece que [...] a questão da presença do médico no andar é essencial,
falam uma linguagem […] (P 3). a gente teria que ter mais esse convívio com o médico,
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ter disponibilidade médica né? Acho que o round que como a falta de tempo, as diferentes faixas etárias e peculiaridades
ele fazia essas terapias, fez por um tempo no round por de cada indivíduo que compõem a equipe.
semana e a enfermeira participava, acho que era de
suma importância, a gente se preparava pra esse round, […] Então, não é assim, então acho que teriam que
a gente tinha que ter as informações que são básicas, conversar mais entre ele e todos saberem daquele
necessárias para o serviço, porque que a gente sabia paciente, porque no fim de semana vai ser outro que vai
que ia ter um round, que ia tinha os dados ali, e a gente ficar, e aquele tem que saber de todos, numa emergência
opinava […] (P 8). eu vou chamar o que está de plantão […] (P 4).
[...] integrar mais essa multiprofissionalidade, porque nós […] a falta de comunicação, acho que a maioria das
temos um serviço isso aí, nós temos acadêmicos, temos coisas, sendo frio na conversa, a maioria das coisas a
pós-graduandos, nós temos médicos e enfermeiros, e os gente resolve conversando né? Hoje é difícil conversar,
graduandos de enfermagem, e eles não estão circulando tirar uma conclusão de algum assunto(P7).
e não estão interagindo […] (P 2).
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um ambiente ético de trabalho, ficou evidente em diversas vista, frequentemente, como um fator negativo, que prejudica e
falas o quanto esse fato interfere no trabalho, na organização atrasa os processos que poderiam ser executados rapidamente.
da instituição, nas relações interpessoais e profissionais e É apontada como sinônimo de desorganização, lentidão, atraso
principalmente no cuidado ao paciente. Os protocolos podem ser e, por fim, de prejuízo ao trabalho21. Os participantes do estudo
considerados uma importante ferramenta na gestão hospitalar, trazem a burocracia como um motivo para a geração de conflitos
visto que promovem a padronização de condutas e auxiliam na no ambiente de trabalho, na qual resulta em um enorme prejuízo
uniformização de tratamentos e diagnósticos, organizando e à assistência ao paciente, ficando em último plano.
facilitando as decisões14. Contudo, os participantes reconhecem que a humanização
Esses protocolos quando bem utilizados junto com outras da assistência e a segurança do paciente devem estar em
estratégias, apresenta ganhos quantitativos e qualitativos primeiro lugar e que apesar de todas as dificuldades e barreiras
na eficácia da atenção a saúde, ampliando a segurança do encontradas para a criação de ambientes éticos, existem
paciente e diminuindo o risco de erros e eventos adversos14. caminhos e facilitadores desse processo. Assim, dentre esses
Nesse sentido, a adoção dos protocolos para o cuidado é facilitadores a inclusão de reuniões clínicas do serviço foi um
fundamental, pois fornece suporte para organizar e gerenciar o dos principais tópicos trazidos pelos participantes, em função
trabalho na assistência, através da padronização de condutas, da sua extrema importância não só para a funcionalidade do
incorporando-as à prática assistencial a partir dos recursos trabalho, mas também para inclusão de todos os envolvidos
disponíveis. Além disso, garantem a excelência dos serviços nas discussões e decisões.
de saúde e a segurança do paciente e profissionais de saúde15. Para alguns autores, a reunião, além de ser um espaço
Dentro dessa perspectiva, a falta de comunicação foi para elaboração de condutas que traduzam uma assistência
apontada pelos participantes como uma das dificuldades de qualidade sob a perspectiva da interdisciplinaridade, é
encontradas na construção de um ambiente ético. A comunicação também um momento onde favorece entre outros aspectos, o
envolve relações interpessoais e, frequentemente, podem fortalecimento das relações interpessoais22. Na reunião é um
ocorrer problemas, dificuldades e restrições, de maneira que a espaço democrático, isento de julgamentos preconceituosos
mensagem enviada não é decodificada corretamente. Na área e de valorização do desempenho dos membros da equipe,
de saúde, o processo de comunicação é vital para a atuação sendo um importante dispositivo para a estrutura, organização
dos profissionais de saúde, pois essa facilita a interação entre e estabelecimento de diretrizes e tomada de decisões23. Logo,
a equipe, e auxilia no enfrentamento de conflitos interpessoais deve ser um momento onde todos são igualmente tratados,
e grupais16,17. Ademais, uma comunicação eficaz promove uma independentemente da formação e categoria profissional que
assistência de qualidade e segura, permitindo às equipes transmitir apresentam, sentindo-se responsáveis e motivados para o
e receber informações de forma clara e correta,18 contribuindo sucesso do trabalho.
também para a segurança do paciente. Alguns autores descrevem que a prática de reuniões deve,
Não menos importante do que muitas atitudes na assistência, no mínimo, seguir quatro critérios: a periodicidade, o propósito,
a limitação ou falta de espaço físico é um grave problema na a delegação de responsabilidades e o acompanhamento.
maioria dos hospitais públicos, devido à grande demanda de Com relação à periodicidade, ressalta-se que essas não devem
atendimento e a dificuldade de expansão dos hospitais, pela ser realizadas somente com o intuito de cobrar o desempenho de
falta de verbas e/ou impedimentos estruturais e legais. Essa falta normas e rotinas da unidade, mas devem auxiliar na identificação
de área física adequada gera o incremento dos conflitos diários dos problemas, provocar discussões de possíveis sugestões,
entre os envolvidos na assistência, desde a desorganização objetivando chegar a soluções mais concretas24.
gerada pela ausência de espaço até a ausência de leito para Nessa mesma perspectiva, a formação e execução de um
assistir o paciente15-19. A falta de conforto nas instalações round multiprofissional é um mecanismo que deve ser implantado
físicas, falta de climatização, desorganização e falta de higiene com o intuito de solidificar as mudanças, unir as equipes e
acabam por afetar o ânimo do trabalhador e, por consequência, proporcionar maior qualidade e segurança na assistência
prejudica sua produção, e todas essas situações se encontram prestada ao paciente. Logo, o trabalho em equipe multiprofissional
na necessidade e obrigatoriedade de atender alta demanda com consiste em uma modalidade de trabalho coletivo, configurada
área física limitada19. na relação recíproca entre as múltiplas intervenções e técnicas,
Além disso, com as significativas mudanças ocorridas na sendo uma importante ferramenta para a efetividade da atenção
assistência à saúde, as instituições de saúde passaram a adotar integral ao paciente. Em vista disso, o trabalho com a equipe
metas antes não desejadas como, por exemplo, o aumento da multiprofissional, tornou-se um dos principais pressupostos do
lucratividade, o que provoca, direta e indiretamente, mudanças Sistema Único de Saúde (SUS) e principalmente das gestões
na estrutura geral de um hospital. As instituições de saúde, no dos hospitais universitários unificadas pela administração
ambiente de competitividade cada vez maior, assumem contornos EBSERH15,25.
empresariais, necessitando, em tal contexto, de uma gestão Um estudo australiano mostra que embora os rounds
profissional, nesse sentido, a burocracia, surge como parte do tenham sido originalmente concebidos como um meio de educar
processo, não sendo, muitas vezes, percebida20. A burocracia é estudantes de medicina, hoje sua utilização almeja apoiar a
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prática clínica. Além disso, destaca que nos rounds o processo instituição, como a falta de adequação de área física, excesso de
de comunicação entre a equipe multiprofissional tem como foco demanda de pacientes para um número reduzido de profissionais
central o paciente, sendo as prioridades dos cuidados definidas com a presença de burocracia desordenada, falta de protocolos
em conjunto26. Assim, o round multiprofissional torna-se o pilar e falta de comunicação efetiva entre os membros da equipe.
de todas as outras mudanças necessárias dentro da instituição, Ressalta-se que existem barreiras que dependem da postura e
pois além de trazer benefícios administrativos e técnicos ao comprometimento do profissional com sua atividade, e também
paciente, acaba por construir um ambiente mais ético e saudável da sua vontade de adquirir conhecimento.
de trabalho. Além disso, também foram identificados vários facilitadores
A falta de comunicação e integração entre os profissionais da para a construção de um ambiente saudável e eficiente, sendo
equipe de saúde pode causar prejuízos ao paciente, uma vez que todos acessíveis e possíveis de serem aplicados na prática
pode gerar inconsistências na conduta, comprometendo o processo profissional, como as reuniões clínicas e rounds multidisciplinares
assistencial e, consequentemente, ocasionando erros médicos27. que aumentariam a convivência e a relação entre as equipes,
Nessa perspectiva, colaborar com a segurança do paciente e para confecção de protocolos, adequação de estrutura física à
a construção de um ambiente ético, a comunicação é apontada demanda, presença de cursos de capacitação e de educação
pelos profissionais de saúde como fator fundamental, pois é a continuada, melhorar e incentivar a comunicação efetiva em
partir dela que se desenvolvem os processos organizacionais25. todos os níveis de atenção. As relações existentes entre a
Assim, a comunicação é uma ferramenta que auxilia na prestação equipe multiprofissional, podem propiciar, frequentemente, o (re)
de uma assistência integral e humanizada ao paciente, e deve
delineamento e a (re)definição de papéis, de modo a alcançar
estar presente em todos os níveis de atenção à saúde, como
a adaptação da equipe as demandas específicas e locais para
forma de garantir um atendimento seguro22.
execução com excelência da atividade, e assim, construindo um
Junto com rodadas multidisciplinares e comunicação
ambiente ético, seguro e humanizado para o paciente.
eficaz, outros fatores são essenciais para uma prática segura,
Logo, problematizar a realidade do trabalho num contexto
incluindo o estabelecimento de protocolos precisos para orientar
conflitante é uma forma de desencadear novos saberes e novas
a prática de prestação de cuidados e implementação. Mesmo
práticas, transformando a realidade a partir das iniciativas
que algumas pessoas considerem os protocolos burocráticos ou
individuais e coletivas. Por fim, sugere-se que, baseado nos
um instrumento que prejudica a autonomia dos trabalhadores14,
dados do presente estudo, haja uma aproximação entre gestão
os participantes deste estudo sugerem que o uso de protocolos
e assistência, e que as intervenções sejam iniciadas através da
é uma forma de diminuir os conflitos dentro do setor.
melhora da comunicação, por meio das reuniões de serviço e
Os protocolos têm como objetivo padronizar ações, orientar
rounds multiprofissionais, bem como elaboração de protocolos
a prática, organizar o processo de trabalho, auxiliar na tomada
de decisões e corrigir erros. Portanto, os protocolos permitem claros para que, primeiramente, reforcem a segurança do
que todos os trabalhadores ofereçam cuidados padronizados paciente e a humanização do atendimento com atitudes simples
aos pacientes com base em técnicas e princípios científicos, e comprovadamente eficazes.
melhorando a probabilidade de sucesso em cada procedimento, As limitações deste estudo incluem o fato de ter sido
promovendo um cuidado seguro e promovendo um clima ético realizado com profissionais de saúde de um único serviço de
e saudável entre a equipe28. traumatologia de um Hospital Universitário, o que impede a
Ter equipes multidisciplinares competentes e oferecer generalização dos resultados. A razão é que os trabalhadores
infraestrutura e um ambiente de excelência é vital para a podem vivenciar conflitos éticos quando suas crenças ou
promoção da saúde. Nesse sentido, a gestão da qualidade valores são diferentes daqueles relativos às decisões clínicas ou
deve ser vista como uma prioridade, principalmente no que se organizacionais estabelecidas em seus locais de trabalho6, de
refere aos aspectos gerenciais e de qualificação, o que promove modo que as causas dos conflitos podem variar entre equipes e
a melhoria da qualidade da assistência a curto e longo prazo. ambientes de trabalho. Portanto, mais estudos são necessários
Assim, programas de treinamento e educação continuada são para abordar outras profissões e contextos dentro da área da
essenciais para promover melhorias e promover mudanças saúde, porque os estudos raramente abordam os fatores que
que não teriam sentido sem a competência da equipe e o impedem ou facilitam o trabalho multidisciplinar destinado a
conhecimento agregado22. estabelecer locais de trabalho éticos.
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Construção de um ambiente ético
Avancini RC, Barlem ELD, Tomaschewski-Barlem JG, Amorim CB, Rocha LP, Paloski GR
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