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INTRODUÇÃO
Na prática e na literatura médica, o delirium tem sido comumente referido por outros
nomes – o que dificulta avaliações históricas –, como:1
OBJETIVOS
ESQUEMA CONCEITUAL
HISTÓRICO
Apesar das antigas descrições e da evolução dos estudos e da ciência médica em geral,
até um passado relativamente recente, não havia definição bem elaborada, assim
como nomenclatura bem definida de delirium – existiam mais de 25 sinônimos, o que
dificultava não apenas o seu reconhecimento, mas também a sua descrição
epidemiológica. Em 1987, a American Psychiatric Association (APA) publicou a terceira
edição revisada do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-
IIIR) e conceituou delirium como um transtorno fundamental da atenção.
EPIDEMIOLOGIA
UTI em VM 60-80%
UTIsem VM 20-50%
ILPI 1-60%
RVM 37-52%
Abdominal 5-51%
Urológica 4-7%
PROGNÓSTICO
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Quadro 1
Comorbidades Injúrias
Alcoolismo Desidratação
Dor crônica Fratura
História prévia de: Hipoxia
Infecção
doença pulmonar AVE
doença hepática SCA
doença renal Desnutrição
doença cardíaca Doença grave
doença neurológica Cirurgia
doença terminal Choque
Dor não controlada
Retenção de urina ou fezes
Demência Opioides
Depressão Benzodiazepínicos
Abuso ou violência Anti-hipertensivos (betabloqueadores,
Quedas clonidina, diidropiridinas)
História de delirium Anticolinérgicos (anti-histamínicos,
Desnutrição relaxantes musculares)
Polimedicamentos Agonistas dopaminérgicos
Úlceras de pressão Antibióticos (quinolonas, linezolida,
Deficiência sensorial macrolídeos)
Anticonvulsivantes
Estado pré-mórbido Antivertiginosos
Corticosteroides
Bloqueadores H2, antiespasmódicos
Inatividade urinários e gastrintestinais
Status funcional ruim Metoclopramida
Isolamento social Antidepressivos tricíclicos
Hipnóticos, sedativos
AVE: acidente vascular encefálico; SCA: síndrome coronariana aguda.
Fonte: Adaptado de O’Hanlon e colaboradores (2014).7
O delirium representa mais uma alteração funcional do que uma lesão estrutural.
Atualmente, é visto como um caminho final comum a muitos mecanismos patogênicos
diferentes, resultando em disfunção de várias regiões do cérebro e dos sistemas de
neurotransmissores. Seu mecanismo fisiopatológico fundamental ainda não foi
esclarecido.
Revisão sistemática identificou que o risco de delirium parece aumentar com opioides
(odds ratio [OR] 2,5, IC 95% 1,2-5,2), benzodiazepínicos (3,0, 1,3-6,8), diidropiridinas
(2,4, 1,0-5,8) e, possivelmente, anti-histamínicos (1,8, 0,7-4,5). Não parece haver
nenhum risco aumentado com neurolépticos (0,9, 0,6-1,3) ou digoxina (0,5, 0,3-0,9).
Não há consenso quanto a antagonistas H2, antidepressivos tricíclicos,
antiparkinsonianos, esteroides, fármacos anti-inflamatórios não esteroides e
antimuscarínicos.10
A demência é o principal fator de risco para o delirium – dois terços dos casos ocorrem
em pacientes com demência. O deliriumpode alterar o curso de uma demência
subjacente, com agravamento drástico da trajetória de declínio cognitivo, resultando
em progressão mais rápida de perdas funcionais e levando a outros desfechos
negativos, como hospitalização, institucionalização e morte. Assim, deliriume
demência podem representar duas extremidades de um espectro de
comprometimento cognitivo com deliriumcrônico e demência reversível, caindo ao
longo desse continuum.8
DIAGNÓSTICO
A avaliação rotineira dos pacientes idosos para identificação e correção dos fatores de
risco modificáveis, a implementação de medidas preventivas e o diagnóstico precoce
de deliriumsão imprescindíveis, a fim de reduzir a ocorrência, a gravidade e o tempo
da doença ao considerar os desfechos negativos na população geriátrica como, entre
outros:12
aumento da mortalidade;
aumento do tempo de internação
maior tempo de institucionalização e do custo financeiro;
aumento de déficit cognitivo prolongado;
aumento do declínio funcional;
aumento de imobilidade e suas consequências – úlceras de pressão,
tromboembolia venosa, pneumonia, infecção do trato urinário.
O rastreio do delirium deve ser feito por algum instrumento validado para a população
em questão. Todas as pessoas envolvidas na assistência aos idosos, em todos os
âmbitos, devem ser alertadas sobre os riscos da ocorrência da doença, a importância
do diagnóstico precoce e a forma como devem ser aplicados os principais
instrumentos, de modo a padronizar e a aperfeiçoar a assistência.
De acordo com o CAM, é necessária a presença dos dois primeiros itens, além do
terceiro e/ou do quarto, para confirmação do delirium, como mostra a Figura 1.
Exame Descrição
Confusion Assessment Method – É considerado bom método para avaliar a eficácia das
Short(CAM-S) intervenções. Quantifica os sintomas.
Existem evidências, pela história, pelo exame físico, ou pelos achados laboratoriais, de
que o delirium é consequência direta de uma condição médica geral, de intoxicação
por alguma substância, do uso de medicamentos, ou de mais de uma causa.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Desorientação +++ ++ -
Início agudo ++ - -
TRATAMENTO
Os primeiros passos no tratamento do delirium são:
Não existe tratamento medicamentoso aprovado para delirium, exceto nos casos de
abstinência (em que o uso de benzodiazepínicos tem benefícios). Em geral, reserva-se
o uso de antipsicóticos, nas menores doses e por menor tempo possível, para os
pacientes com muitas alterações comportamentais, que gerem riscos a si próprios e à
equipe de saúde e que não obtiveram controle adequado da doença com as medidas
não farmacológicas.
Quadro 5
eventos cardiovasculares;
pneumonia por broncoaspiração;
quedas com fraturas e trauma craniencefálico;
tromboembolia venosa.
Esses aspectos geraram, inclusive, um alerta emitido pelo Food and Drug
Administration (FDA), em 2005, em relação ao uso de antipsicóticos atípicos no
tratamento de transtornos do comportamento em idosos com demência.
MONITORAMENTO
PREVENÇÃO
As principais formas de prevenção do deliriumdizem respeito à identificação dos
principais fatores predisponentes e precipitantes e à introdução de medidas para
minimizá-los, priorizando o manejo não farmacológico. Existem evidências científicas
limitadas para o uso de antipsicóticos na profilaxia do delirium, com tendência à maior
eficácia em pacientes cirúrgicos.
CONCLUSÃO
O delirium é uma condição grave que apresenta importantes impactos a curto e longo prazos.
Muito se evoluiu em relação ao seu diagnóstico, mas a falta de informação sobre a doença ainda é
responsável pelo alto índice de subdiagnóstico.
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Como citar a versão impressa deste documento
Serafim RB, Monteiro G, Saraiva A. Delirium no idoso. In: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia; Kitner D,
Jaluul O, organizadores. PROGER Programa de Atualização em Geriatria e Gerontologia: Ciclo 1. Porto Alegre:
Artmed Panamericana; 2015. p. 59-94. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v.2).