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 Índice

1. Definição de delirium

2. Epidemiologia

3. Fatores de Risco

4. Sinais e sintomas

5. Diagnóstico de delirium
6. Manejo do paciente

Definição de delirium

É um transtorno neurocognitivo muito frequentee que causa confusão


mental aguda ou subaguda de curso flutuante e potencialmente reversível¹.
Por definição, deve existir perturbação da atenção ou da consciência,
juntamente com alteração da cognição basal que não pode ser melhor
explicada por nenhum outro transtorno².

Epidemiologia

A população mais acometida são os idosos em pós operatório ou doenças


agudas ou em abstinência de certos fármacos. O transtorno chega a
acometer cerca de 50% dos idosos hospitalizados e é ainda importante
causa de emergência geriátrica por ser causa de altas taxas de mortalidade
e de institucionalização nessa população4. Cerca de 80% dos pacientes
terminais podem apresentar delirium antes de falecer¹. Dessa forma, é
imprescindível que todo médico generalista saiba identificar e manejar esse
quadro rapidamente.

Fatores de Risco

O delirium tem causa multifatorial – genética, iatrogênica, ambiental e


fisiológicas -, mas pode ser desencadeada por fatores isolados². Além disso,
os efeitos dos diversos fatores de risco parecem ser cumulativos, mas
geralmente resolução de um desses fatores é suficiente para o controle do
quadro³. O que você não pode esquecer é que o delirium tem relação direta
com:
Idade avançada – maior fator de risco;
Tempo de internamento – intimamente ligado à imobilidade do paciente;
Déficit cognitivo prévio, como demência;
Desidratação;
Gravidade da doença;
Comorbidades, como perda visual e auditiva, infecção e fratura.

Sinais e sintomas

O delírio envolve diversas funções cognitivas, como descritas abaixo¹:

Estado mental: tipicamente se modifica em horas ou dias apresentando


curso flutuante, fazendo importante diagnóstico diferencial com
demências, mas nessa última a modificação é progressiva ao longo de
meses. Portanto, saber o nível cognitivo prévio do paciente é fundamental.
Orientação: há possibilidade de desorientação no tempo e no espaço e
alucinações.
Pensamento desorganizado: você pode perceber isso pelo discurso
incoerente e fluxo ilógico de idéias.
Memória: o déficit cognitivo pode impactar na formação de memórias.
Comportamento: agressividade, labilidade emocional e alteração do ciclo
sono-vigília são bastante observados.
Alterações psicomotoras: você pode observar tanto agitação quanto
lentificação das atividades, bem como agitação e ansiedade.
Alterações do Sistema Nervoso Autônomo: podendo provocar
taquicardia, hipertensão, febre e tremor, por exemplo.
Atenção: você pode perceber dificuldade do paciente em focar e
sustentar a atenção em diálogos, seguir comandos e até mesmo o
fenômeno de perseverção. Tarefas simples como repetição ou citar os
meses do de trás para frente costumam estar alterados.

Delirium hipoativo
Observar letargia e prostração são comuns nesse quadro, porém ele
costuma passar despercebido e, para piorar, ainda se associa com pior
prognóstico. Pode haver rebaixamento do nível de consciência, apatia e
demais achados de déficit cognitivo.

Delirium hiperativo

Nessa forma, predominam agitação e agressividade, podendo representar


um risco para si mesmo e para aqueles ao seu redor. Outro aspecto
importante é a possibilidade de desorientação, desatenção, confusão e
alucinações. A forma hiperativa raramente passa despercebida.

Pode ocorrer ainda a forma mista, com alternância entre os dois pólos.

Diagnóstico de delirium

Várias condições podem culminar em delirium. A investigação de possíveis


causas passa por uma revisão de todos os sistemas, novos exames
laboratoriais – como hemograma, exames de função renal e hepática,
eletrólitos, gasometria e etc -, revisão de dose e substancias administradas,
e até, se necessário, análise imaginológica.

O Manual Diagnósico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) define


cinco critérios diagnósticos (Tabela 1) e a classificação dos subtipos, que
variam entre:

Delirium por intoxicação por substância;


Delirium induzido por medicamento, como efeito colateral mesmo quando
tomado conforme prescrição;
Delirium devido a outra condição médica, como por exemplo pneumonia e
encefalopatia herpética;
Delirium devido a múltiplas etiologias, quando há evidências na anamnese,
no exame físico ou em achados laboratoriais de que o delirium tem mais de
uma etiologia, comoefeito colateral de medicamento e pneumonia ao
mesmo tempo.

O DSM-5 ainda instrui a especificar se o quadro é agudo ou persistente e o


nível de atividade psicomotora.

A Redução da atenção e da consciência.


Instalação em um período breve de tempo, com alteração da atenção e da consciência basais oscilando quanto à gravidade ao longo
B
de um dia.
Perturbação adicional na cognição, como déficit de memória, desorientação e linguagem, capacidade visuoespacial ou percepção
C
alteradas.
D As perturbações dos Critérios A e C não são melhores explicadas por outro transtorno neurocognitivo preexistente.
Evidência a partir da anamnese, do exame físico ou de achados laboratoriais de que a perturbação é uma consequência fisiológica
E direta de alguma condição médica, intoxicação ou abstinência de substância, de exposição a uma toxina ou de que ela se deva a
múltiplas etiologias.

Tabela 1: Critérios Diagnósticos do Delirium. Manual Diagnósico e


Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 2014.

Manejo do paciente

O passo inicial, se não o mais importante, é prevenir. A prevenção primária


se qualifica enquanto melhor estratégia para evitar sua ocorrência. Visto
que os fatores de risco já estão bem descritos, cabe agora você fazer
intervenções.

Anamnese e exame físico são etapas indispensáveis em qualquer


atendimento médico, contudo a falha na execução dessas etapas leva o
delirium a ser uma condição ainda muito sudiagnosticada, visto que seu
diagnóstico é clínico e dependente de minucias que devem ser pesquisadas
detalhadamente. Se o seu paciente preencher os critérios para delirium, o
próximo passo é identificar fatores predisponentes e precipitantes, manejo
dos sintomas e oferecer suporte e prevenção de complicações.

Já está bem documentada a efetividade de medidas como terapia


ocupacional, fisioterapia, técnicas de reorientação, redução de ruídos,
adequar horário de medicações noturnas e procedimentos, higiene do
sono, iluminação especial, uso de aparelho auditivo quando indicado, evitar
equipamentos que diminuem mobilidade sempre que possível (sondagem
vesical, por exemplo), uso somente quando estritamente necessário de
fármacos psicoativos e reconhecimento dos sinais precoces de
desidratação e sua correção, além de outras possíveis atividades e medidas
cabíveis. Um estudo demonstrou que, ao lançar mão dessas e outras
medidas, é possível reduzir em até 40% no risco de delirium em pacientes
hospitalizados9.

Figura 1: Manejo de Delirium. Produção própria, 2020.

Nos casos em que essas medidas não farmacológicas falham, ou há risco de


acidentes para o paciente, acompanhantes ou equipe de saúde, você pode
lançar mão do tratamento farmacológico.

Benzodiazepínicos: não deve ser indicado, exceto quando de etiologia


alcoólica10.
Haloperidol: é o tratamento mais recomendado e utilizandp, geralmente
na dose de 0,5 a 2 mg via oral ou intramuscular, 2 vezes por dia ¹¹, mas a
dose pode ser aumentada a depender da intensidade dos sintomas e da
resposta ao fármaco. Em idosos, sugerem-se doses menores, de 0,25 a 0,5
mg.
Clorpromazina: Na falta de haloperidol, a clorpromazina pode também ser
usada, como segunda escolha, com bons efeitos.

Liga Baiana de Psiquiatria – LIBAP

Intagram: @libap.unifacs

Autora: Evelyn de Brito Nogueira

Orientador: Saulo Leal Merelles

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