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Atendimento nas diversas clínicas no contexto hospitalar

ATENDIMENTO NAS DIVERSAS CLÍNICAS


NO CONTEXTO HOSPITALAR

NEFROLOGIA

RINS, DOENÇA RENAL E PACIENTES

A nefrologia consiste no ramo da urologia que estuda a fisiologia e a


doença dos rins, os quais correspondem a um par de órgãos vitais para nossa
sobrevivência.
Nosso trato urinário normalmente é composto por dois rins, um em cada
lado da coluna vertebral que são responsáveis pela eliminação de toxinas do
sangue através de sua filtragem; pela regulação da formação do sangue, dos
ossos e da pressão sanguínea; além, do controle do equilíbrio químico e líquido
do corpo (NEFROLOGIA, 2019).
A doença renal corresponde a uma patologia progressiva e irreversível que
reduz a funcionalidade dos rins, causando no paciente sintomas como irritação
gástrica, perda de peso, diarreia, vômitos e apatia. Esta como toda doença, vai
muito além das questões físicas e pode ser atravessada por questões socias,
econômicas e emocionais.
O seu diagnóstico segue uma classificação que é equivalente a gravidade
da doença, variando de 0 a 5, de menos para mais grave, que considera a existência
de comorbidades e a necessidade de substituição renal por diálise ou transplante,
o que auxilia na definição da conduta terapêutica a ser adotada. É importante
ressaltar que, no quadro desta, mesmo com a opção do transplante, o paciente
está sujeito a um controle medicamentoso durante toda a vida.
O tratamento mais comum aos pacientes com insuficiência renal crônica é a
submissão a programas de hemodiálise (HD) que geralmente são realizados três
vezes na semana com duração média de quatro horas cada. Estes demandam e
envolvem os pacientes em uma nova rotina, a qual além de todo procedimento,
requer uma alimentação controlada.
A dependência da máquina de HD e a sujeição semanal à equipe
multiprofissional pode gerar diferentes sentimentos no paciente. Sendo que, o fato
de ter conhecimento das características do tratamento, os aspectos emocionais
de confiança com a equipe e variáveis econômicas, são fatores que influenciam
na adesão ao tratamento (RESENDE, SANTOS, SOUZA E MARQUES, 2007).

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Conforme a Portaria Nº 389, de 13 de março de 2014, a qual define


os critérios para a organização da linha de cuidado da Pessoa com Doença
Renal Crônica (DRC) e institui incentivo financeiro de custeio destinado
ao cuidado ambulatorial pré-dialítico, o profissional de psicologia é
integrante obrigatório da equipe mínima da Unidade Especializada em
DRC e das Unidades de Assistência de Alta Complexidade que ofertarem
as modalidades de diálise peritoneal ambulatorial contínua (DPAC), diálise
peritoneal automática (DPA) e hemodiálise (HD).

ASPECTOS PSICOLÓGICOS E PAPEL DO PSICÓLOGO

Os pacientes renais começam o seu percurso de tratamento já


cientes da irreversibilidade da patologia e, ao longo deste, se deparam
com inúmeras perdas e lutos que se referem a saúde, alterações na vida
cotidiana, integralidade corporal e finitude.
Diniz e Schor (2006), em suas pesquisas, levantam que a maioria
dos estudos sobre a qualidade de vida em pacientes renais crônicos tem
identificado a depressão como principal fator psíquico presente.
Resende et al. (2007) ressaltam que há distintas formas de lidar com as
adversidades da doença e do tratamento, sendo que apesar do sofrimento
ser muito particular, é possível uma ressignificação da experiência.
E é exatamente esse o papel do psicólogo, auxiliar nesse processo de
enfrentamento e ressignificação da doença, primeiramente identificando
o indivíduo por detrás dos sintomas, observando seus comportamentos
e investigando sua forma de ser e pensar antes e depois do diagnóstico,
seus desejos, projetos de vida e conhecimentos a respeito do que se passa
com ele.

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CARDIOLOGIA

CORAÇÃO, DOENÇA CARDIOVASCULAR E PACIENTES

A cardiologia consiste no ramo da medicina que se dedica as doenças


do coração e dos vasos sanguíneos.
O coração é um órgão muscular oco localizado sob o esterno e entre
os pulmões, cuja função é bombear todo nosso sangue oxigenado para o
corpo e direcionar o sangue desoxigenado até os pulmões.
As doenças cardiovasculares, são patologias que afetam a
funcionalidade do sistema circulatório e impõem uma série de sintomas,
medicações, restrições (como físicas e alimentares) e acompanhamento
médico.
Na cultura ocidental, a figura do coração traz consigo diversas
conotações relacionadas por exemplo, a este como a sede da vida e das
emoções. Romano (2002) diz que embora novas tecnologias tenham surgido
para tratar de doenças cardíacas, as fantasias e pressupostos individuais a
respeito do órgão não desvanecem.
Essas representações e fantasias individuais em relação ao próprio
coração, ao adoecimento, a internação e a necessidade de tratamento
cirúrgico, podem repercutir na forma como o indivíduo adere o tratamento
e enfrenta a doença.

ASPECTOS PSICOLÓGICOS E PAPEL DO PSICÓLOGO

Muitos estudos apontam que além de fatores como hereditariedade,


por exemplo, o estresse social e alguns traços de personalidade podem
influir especificamente no desenvolvimento de algumas cardiopatias como
o Infarto do Miocárdio.
As pessoas que apresentam uma personalidade do Tipo A (pessoas
que anseiam atingir um número cada vez maior de metas; tem um nível
elevado de auto exigência, de pressa, de urgência; e mostram hostilidade
facilmente) tendem a ser mais propensas a doenças cardiovasculares do
que indivíduos que não exibem estes traços devido a sua forma de vida e
de reação ao estresse.
Essas doenças trazem ameaças à vida do indivíduo e a sua qualidade,
como também à integralidade do corpo. Sendo assim, o diagnóstico da

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doença já compreende um momento importante de intervenção do


profissional de psicologia, visto que, é quando o paciente pode ainda não
se ver espelhado em sua atual realidade podendo manifestar negação
quanto aos aspectos da doença e esperança intensa de cura, a qual muitas
vezes não é possível.
O psicólogo nessa fase pode auxiliar o indivíduo na compreensão,
aceitação e tomada de atitude em relação à doença.
Outro momento importante para intervenção, é o pré- cirúrgico, que
acontece quando outras alternativas foram esgotadas e a cirurgia, que
pode ser concebida como último recurso para a manutenção da vida, é
necessária.
O procedimento da cirurgia demanda uma internação e Romano (2001)
traz que o próprio impacto da internação cirúrgica no doente é assustador.
Perante a isto, o psicólogo deve buscar saber como o paciente elabora
seus conteúdos internos no pré- cirúrgico para se pensar na vivência
posterior a ele.
As reações no pós-operatório são dependentes da forma como as
informações foram conduzidas no pré-cirúrgico, ou seja, dependem também
das expectativas construídas pelo paciente a partir das informações que
lhe foram ofertadas (BARROSO, 1992).
BONDO-SIMÕES et al. (2007) recomendam que a informação dada
ao paciente deve ser minuciosa, completa e honesta, porém simples.
É interessante o profissional de psicologia tentar alcançar com o
indivíduo uma faixa de ansiedade desejável neste momento, para que o
paciente e a família se apropriem das informações sobre a doença e o
tratamento por meio do contato com a equipe.
Após a cirurgia e alta hospitalar, o ideal seria que houvesse um
acompanhamento psicológico do indivíduo, uma vez que a adaptação à
nova condição trará implicações práticas e subjetivas na vida do paciente.
O papel do psicólogo por fim, é o de ampliar o olhar da equipe, co-
construindo, através de suas intervenções, um lugar no psiquismo dessa
equipe que considere a existência de um indivíduo- paciente que pode e
deve falar sobre si, seus anseios e temores.

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ONCOLOGIA

CÂNCER E PACIENTES

A oncologia é o ramo da medicina que se dedica aos estudos das


neoplasias (tumores) benignas ou malignas.
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que
possuem em comum o crescimento desordenado (maligno) de células, as
quais, invadem os tecidos e órgãos podendo se espalharem (metástase)
para outras regiões do corpo.
Quando as células se dividem rapidamente, tendem a ser muito
agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores ou
neoplasias malignas. Ademais, existem situações em que as células se
reproduzem de forma benigna. Nestes casos sua divisão é mais controlada
e elas não são capazes de invadir outros tecidos ou órgãos.
As causas do câncer são variadas e incluem a relação de fatores
externos, que correspondem ao meio ambiente, a hábitos e costumes
de vida, e aos fatores internos, que são na maioria geneticamente pré-
determinados. No entanto, parte majoritária dos casos de câncer estão
relacionados ao meio ambiente devido ao grande número de fatores de
risco presentes nele.
Apesar da variedade dos tipos de câncer, observa-se que os tumores
malignos geralmente seguem um curso biológico comum, o qual consiste
no crescimento e invasão local, seguido da invasão dos órgãos e tecidos
vizinhos e por último a disseminação regional e sistêmica.
A classificação da patologia pode ser feita através da avaliação dos
estágios pelo oncologista, os quais variam de I a VI conforme a gravidade
do caso e a partir desta o médico define o prognóstico e tratamento do
paciente.
Segundo Schiller (2000) o tratamento do câncer pode ser feito
através de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula
óssea, podendo em muitos casos, de acordo com a necessidade ocorrer a
combinação de mais de uma modalidade.
De modo geral e dependente ao diagnóstico, após o tratamento, se
não houver mais apresentação de evidências clínicas e laboratoriais da
doença, pode-se dizer que o paciente está curado. Contudo, ainda assim o
mesmo tumor ou outro diferente pode voltar a aparecer.

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PSICO-ONCOLOGIA E PAPEL DO PSICÓLOGO

Segundo Gimenes (1994) a Psico-oncologia começou a surgir como


área de conhecimento quando os profissionais da saúde passaram a
reconhecer que o desenvolvimento do câncer e também o processo de
tratamento sofriam influências de variáveis sociais e psicológicas que
estavam além da circunscrição médico- biológica.
De acordo com Costa Júnior (2001) o principal objetivo da Psico-
oncologia é a identificação dessas variáveis em que a intervenção
psicológica possa auxiliar no enfrentamento da doença, incluindo situações
estressantes, que pacientes, familiares e profissionais são envolvidos.
O psico-oncologista atua promovendo a qualidade de vida de todos
os envolvidos no processo de adoecimento desde a prevenção do câncer, por
meio de campanhas de prevenção e conscientização da população quanto
a hábitos de vida saudáveis e auxílio na identificação e enfrentamento de
situações estressoras, até na cura ou terminalidade do paciente.

O papel do profissional de psicologia junto aos diversos atores:

• Paciente
• Dar suporte emocional no momento do diagnóstico;
• Esclarecer dúvidas sobre a doença e seus tratamentos facilitando
a comunicação médico-paciente;
• Auxiliar no enfrentamento da doença, incentivando uma
participação mais ativa e positiva perante o tratamento;
• Promover adaptação do paciente ao ambiente hospitalar e vice-
versa; e
• Pode trabalhar com psicoterapia individual ou em grupo.

• Família
• Auxiliar deste o momento do diagnóstico até a resolução;
• Preparar a família para lidar com todas as mudanças que a
doença acarreta; e

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• Facilitar a comunicação dos familiares com o paciente e com a


equipe multiprofissional.

• Equipe
• Ajudar a identificar o comportamento dos pacientes, treinando-
os para lidar com situações adversas;
• Trabalhar questões que geram angústia e estresse nos
profissionais; e
• Auxiliar a lidar com a morte e o morrer.

LUTO

Quando falamos de doença, hospitalização e oncologia, é importante


mencionar as fases que envolvem o processo do luto (o qual consiste em
uma reação emocional natural diante de uma perda significativa), pois,
este encontra-se muito presente nestes contextos devido as mudanças
em relação a saúde e as atividades cotidianas, além do contato com a
possibilidade da morte.

Existem dois modelos mais conhecidos e utilizados sobre o luto que são:

• Modelo de Bowlby (Quatro fases)


• Entorpecimento Reação imediata a perda em que há o
choque e negação da realidade.
• Anseio e a busca Com o registro da perda pode haver crises
de desânimo intenso, aflição, raiva e insônia como uma busca
frequente pelo que foi perdido.
• Desorganização e desespero Com a realidade da perda, a
pessoa pode experimentar medo, impotência e solidão.
• Reorganização Momento em que o pesar diminui e
sobressai-se as lembranças agradáveis. A pessoa está disposta
a reinvestir em suas relações.

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• Modelo de Kubler-Ross (Cinco fases)


• Negação e isolamento Pessoa encontra-se em estado de
choque e recusa-se acreditar que algo esteja errado.
• Raiva Enlutado passa por revolta e ressentimento e busca
encontrar um culpado, questionando-se sobre tudo.
• Barganha Pessoa tenta negociar (com figuras que acreditam
ter poder de intervenção sobre a situação) ou adiar seus temores.
• Depressão Pessoa é tomada pelo sentimento de perda e
pela sensação de impotência, podendo apresentar sintomas
clínicos de depressão.
• Aceitação A pessoa passa a ter uma visão mais realista e
aceitar que a morte é algo inevitável e universal.

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PEDIATRIA

CRIANÇAS E ASPECTOS PSICOLÓGICOS

A pediatria consiste em uma especialidade médica que se dedica ao


estudo das crianças e suas doenças.
Muitas vezes estas são consideradas pelas equipes de saúde como
pacientes difíceis de tratar, por não apresentarem ainda tanta capacidade
de simbolização, elaboração e continência como um adulto, o que pode
modificar suas reações gerando atitudes de rebeldia, de abandono, ou
ambas.
Esses sentimentos (medo, sensação de abandono e punição) e
comportamentos da criança devem ser acolhidos e acompanhados pelos
profissionais para que não interfiram no seu quadro clínico. Ademais,
é importante ressaltar que normalmente a doença e a hospitalização
correspondem as primeiras crises com as quais essas crianças se deparam
e estas são particularmente vulneráveis a essas nos primeiros anos de vida,
porque o estresse representa uma modificação do estado usual de saúde
e da rotina ambiental e elas possuem um número limitado de mecanismos
de enfrentamento para lidar com esses eventos estressores.
As reações das crianças a essas crises são influenciadas por sua
idade, experiências prévias, habilidades de enfrentamento, gravidade
do diagnóstico e seu sistema de suporte disponível (WHALEY e WONG,
1999). Sendo que, essas condições podem determinar um maior ou menor
comprometimento com o tratamento.
Se a angústia que acompanha a conscientização do “estar doente”
é muito intensa, o indivíduo (em todas as fases do desenvolvimento) pode
utilizar-se de comportamentos “regressivos”, adotando atitudes do tipo
infantil e deixando de usar suas mais nobres qualidades psíquicas. As
crianças, portanto, podem voltar a manifestar comportamentos os quais já
tinham abandonado.
Na internação de uma criança, esta pode passar por três fases não
lineares que consistem na fase de protesto (reagem de maneira agressiva),
desespero (comportamento mais depressivo) e desligamento (negação)
(WHALEY e WONG, 1999).

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INTERVENÇÕES POSSÍVEIS

É função do psicólogo ajudar a propiciar uma assistência mais


humanizada ao paciente e aos familiares para amenizar a experiência
estressante. Para tal, ele pode contribuir favorecendo certas condições
como a presença dos familiares junto ao doente, o contato com outras
crianças, uma disponibilidade afetiva dos demais trabalhadores de saúde,
informação e atividades recreativas.
É muito importante a participação dos pais antes, durante e após o
procedimento, pois eles são a fonte de segurança para o filho (SABATES,
1999). Cabe ao psicólogo ser um facilitador da participação e relação
destes, avaliar o estado emocional de ambos e minimizar o estresse de
todo o processo.
Ademais, engajar-se em atividades lúdicas coloca as crianças em
ação, retira-as por um período da função usualmente passiva, na qual no
hospital muitas vezes são colocadas, sendo apenas receptoras de um fluxo
constante de procedimentos feitos nelas.
O brincar favorece, além da diversão, a expressão dos sentimentos e
emoções pelos quais a criança passa (PAULA e FOLTRON, 2007).
Mesmo quando a criança escolhe não participar de uma determinada
atividade o profissional de saúde ofereceu a ela uma escolha, talvez dentre
muito poucas escolhas reais que ela precisou fazer naquele dia (WHALEY
e WONG, 1999).
Além de toda importância do brincar, o brinquedo também pode ser
utilizado pela equipe como uma ferramenta terapêutica para aliviar a tensão
e possibilitar à criança uma visão mais ampla do ambiente hospitalar e um
reconhecimento do que lhe ocorre, por meio da brincadeira que imita as
situações hospitalares.

• Intervenções independentes da fase de vida (CANTARELLI, 2009):

• Compreender a dinâmica da doença na vida do indivíduo;


• Auxiliar na compreensão das informações; e
• Busca pela construção com o paciente de condições para melhor
enfrentamento da doença, procedimentos e consequências.

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URGÊNCIA E EMERGÊNCIA

Urgência corresponde a ocorrência imprevista de agravo à saúde


com ou sem risco potencial de vida, cujo indivíduo necessita de assistência
médica imediata, enquanto Emergência é a constatação médica de
condições de agravo à saúde que implique em risco iminente de vida e
sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. A
emergência tem prioridade sobre a urgência, mas esta última, dependendo
das condições pode vir a se tornar uma emergência.
Já o Pronto-atendimento consiste, no conjunto de elementos
destinados a atender as urgências dentro do horário de serviço do
estabelecimento (menor gravidade) e o Pronto-socorro, no local que
funciona durante 24 horas e dispõe de leitos de observação destinado a
prestar assistência a doentes, com ou sem risco de vida que necessitam de
atendimento imediato (SAðDE, 2019).
Devido as distorções referentes ao uso do serviço pelos usuários, é
comum perceber a Emergência se tornando uma porta de entrada da rede,
o que sobrecarrega a Unidade e pode comprometer o exercício pleno da
sua função.
O usuário pode chegar com sua representação das necessidades sob
a forma de situações emergenciais e agudas, mas sempre estará no cenário
como forma de apresentação das necessidades de saúde (MERHY et al.,
2003).
Um bom ponto de partida seria a organização de equipes de
acolhimento nos serviços de urgência (MERHY In: PINHEIRO, MATTOS,
2003). Este possibilitaria a importante construção do vínculo daquele
usuário com o serviço, visto que nesses casos há um frequente contato com
a finitude e com as misérias humanas e sociais.
Ademais, os profissionais ainda se deparam com questões relacionadas
a falta de condições para o atendimento adequado e carência de vagas
para dar continuidade ao trabalho.

PSICOLOGIA NA URGÊNCIA/EMERGÊNCIA

A legislação do Sistema Único de Saúde não prevê a obrigatoriedade


da permanência de um profissional de psicologia exclusivo paras

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essas unidades nos serviços de saúde. Mas, o número de psicólogos vem


aumentando nestes espaços e sua contribuição é interessante tanto para
os usuários como para a equipe.
Diante desta última, o psicólogo pode, por exemplo, proporcionar a ela
um olhar e uma escuta qualificados perante a forma como seus integrantes
lidam com questões de dor e sofrimento que são presenciadas diariamente
e favorecer a relação equipe/equipe e equipe/ usuário.

A colaboração do profissional de psicologia pode:

• Diminuir a reincidência de procura inadequada ao serviço, identificando


os casos crônicos e dando correto encaminhamento;
• Liberar a equipe para outros cuidados e ajudá-la na avaliação das
necessidades de cada caso;
• Manter o entrosamento com os recursos da comunidade pertinentes;
• Permitir identificar corretamente o problema e fazer uma contra
referência eficaz;
• Sensibilizar a equipe para aspectos psicossociais;
• Facilitar ao paciente maior participação durante todo o processo
possibilitando a melhora dos mecanismos de adaptação e enfrentamento;
• Capacitar os familiares para também participarem; e
• Aliviar o estresse de todos os envolvidos;

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UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

As Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) se destinam “a receber


pacientes em estado grave, com possibilidade de recuperação, exigindo
permanentemente assistência médica e de enfermagem, além da utilização
eventual de equipamento especializado” (PROAHSA, 1978, apud ROMANO,
1999).

Motivos mais comuns de admissão nas UTIs (SILVA e ANDREOLI, 2005):

• Insuficiência respiratória;
• Instabilidade hemodinâmica;
• Rebaixamento do nível de consciência e outros quadros neurológicos;
• Distúrbios eletrolíticos;
• Grandes queimados;
• Politraumas;
• Sepses; e
• Pós-operatórios.

A presença obrigatória do psicólogo nessas unidades foi reconhecida


em 2005 pela Portaria Ministral Nº 1071.

ASPECTOS PSICOLÓGICOS

O ambiente e a internação na UTI podem ocasionar ao indivíduo uma


perda de sua identidade por este se afastar das suas atividades rotineiras,
da família (tempo de visita menor) e não utilizar suas próprias roupas e
pertences mais.
Neste espaço, o paciente também enfrenta restrição ao leito com
constante manipulação do seu corpo, exposição a ruídos e odores,
monotonia sensorial e decorrente a tudo isso uma possível privação de
sono.

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Ademais, algumas desordens psicológicas (principalmente o delirium)


podem ser desencadeadas nesse local e os principais motivos correspondem
ao impacto emocional da doença ou complicações, transtornos psiquiátricos
prévios, efeitos colaterais de medicações e fatores ambientais.
Há a chamada Síndrome da UTI, que consiste em um estado
confusional, reversível, secundário a esta internação que se desenvolve
entre o 3º e o 7º dia de admissão na unidade. Sua incidência é de 12 a
38%, mais frequente em pacientes cirúrgicos e seus sintomas desaparecem
ou diminuem em 48 horas após a alta. Compreende um quadro percebido
através da observação do profissional por ainda ser pouco referido e
estudado.

A experiência clínica sugere que a intervenção precoce interfere


positivamente no prognóstico, a qual pode se basear em:

• Manobras para a redução do barulho;


• Presença de janelas com vista para o exterior;
• Relógios e calendários visíveis;
• Garantias de sono regular;
• Ciclo dia/noite; e
• Informações cuidadosas e afetuosas.

É importante ressaltar que os atendimentos realizados pelo psicólogo


devem ter começo, meio e fim, visto que, o paciente pode não estar ali
no dia seguinte. Além do mais, o profissional de psicologia deve buscar
a humanização do ambiente, o falar do indivíduo, colocar-se no lugar
deste tanto físico como emocional, ser o seu porta voz, criar condições de
comunicação entre os envolvidos, identificar o membro da família que tem
melhores recursos para receber as informações da equipe e verificar se esta
última está desorganizada e necessita de colaboração para se organizar.

Objetivos e alcances dos atendimentos (SILVA e ANDREOLI, 2005):

• Observação psicológica;
• Avaliação psicológica;

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• Orientação psicológica;
• Orientação para procedimentos/alta;
• Psicoterapia breve; e
• Manejo de situação- intervenção com a equipe.

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