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O paciente
Anestesia
Os acidentes anestésicos recebem ampla cobertura sensacionalista na imprensa.
Como é um procedimento que na fantasia das pessoas não faz parte da cura, não deveria
apresentar riscos. Ouve-se nos consultórios um temor de que durante a cirurgia sejam
retirados órgãos para transplante. É muito difícil saber que será manipulado sem que
possa estar consciente.
Medo da morte
Vivemos a experiência de morrer como se fosse um acontecimento distante,
gerador de angústias e insegurança. No caso de adoecimento logo ligamos a morte a
uma espécie de julgamento de nossa vida pregressa, arrependimento por coisas não
feitas, desejos não cumpridos.
Medo da dor
A dor é uma experiência concomitantemente sensorial e emocional, um
fenômeno psicossomático por excelência. É muito difícil diferenciar a dor da percepção
da dor. Esta experiência subjetiva está sempre relacionada com a história de vida do
paciente.
Podemos afirmar, toda dor sentida é real.
Frente a uma experiência de dor devemos sempre investigar e ampliar a
consciência do sintoma: qual o sentido que o paciente lhe atribui, que causa imagina
para ela, como imagina que possa ser curada, que benefícios secundários contém.
A dor é um campo relativamente novo de estudos científicos. Vamos encontrar a
maior parte das pesquisas da relação do olhar psicológico com o ato cirúrgico
concentradas em algumas áreas aonde costuma ser mais “evidente” o mundo subjetivo,
contribuir com uma alteração na evolução esperada dos pacientes, estudados apenas
com um olhar objetivo e técnico.
Cirurgia cardíaca
A cirurgia cardíaca é um grande evento na vida das pessoas. Vamos interferir no
centro da vida e dos sentimentos. Pode contribuir tanto para preservar a vida quanto
acabar com ela. De modo geral seus resultados são muito bons.
Por tratar-se de um procedimento significativo e complexo, recebe uma ampla
cobertura de mídia. Os cirurgiões cardíacos estão considerados entre os médicos mais
famosos.
Com certeza maior parte da bibliografia sobre o enfoque psicológico na cirurgia
encontra-se nesta área.
O Transplante
Contribuindo com uma grande modificação no tratamento de doenças crônicas,
apresenta-se como uma alternativa para uma melhor qualidade de vida, livrando os
pacientes de tratamento custosos e difíceis.
Contribui com importantes dados para ampliar a compreensão do universo
psicológico que cerca a cirurgia. Necessita da participação de um não doente (o doador)
e receber um órgão de outra pessoa tem importante repercussão no receptor.
No tocante ao doador encontramos estudos sobre os fatores de motivação da
oferta. Descrevem-se vários motivos psicológicos para doação:
Altruísmo
Reparação
Sentimento de culpa
Fuga
Suicídio
Reconquista
Pressão familiar
Ganhos financeiros
Pós-operatório
Podemos dividir em dois momentos: imediato e propriamente dito.
No primeiro momento podemos encontrar um alívio da tensão gerada pela
ansiedade de enfrentar a cirurgia, uma diminuição das defesas armadas acompanhada de
reações naturais e transitórias. O paciente pode apresentar as seguintes reações como:
Letargia, apatia
Depressão reativa
Reações provocadas por uma perda
Agressividade
Reações psicóticas provocadas por toxemias, déficit de oxigenação ou
intoxicação medicamentosa
UTI
A necessidade da UTI em cirurgias de grande porte merece alguns destaques a
parte. Em geral temos UTI de cirurgia e UTI mistas, e sem dúvida a convivência com
pacientes em estado grave interfere no pós-operado. Deve-se atentar que o paciente
encontra-se debilitado e dependente, em estado alterado de consciência, com os
movimentos restringidos, ligado a soro, sonda e monitores.
Nota-se que quando se faz a orientação no pré-operatório, prestando-se
esclarecimentos quanto a UTI e sua rotina, a incidência de problemas é muito menor.
Pode aparecer um aumento da sensibilidade com crises de choro, períodos de
tristeza. É uma fase mais reflexiva; pensar em situações que poderiam ser vivenciadas
de maneira diferente e das coisas que apreciam que gostariam de continuar fazendo.
Sempre devemos estar atentos ao aparecimento de um quadro depressivo.
Geralmente a depressão é reativa.
Para a equipe cirúrgica e para a maioria de nós a agressividade é uma emoção
perturbadora. Dificilmente conseguem entende-la ou considerá-la justificável. Acham
que é acusação de trabalho mal feito. Sempre que aparecer deve-se conversar sobre ela,
encorajar a expressa-la numa entrevista, dizer que já era esperada. A luz ainda é o
melhor remédio.
A escolha do Cirurgião
Geralmente é feita por uma indicação de um amigo de confiança e confirmada
por critérios bastante subjetivos.
O paciente sente-se inseguro quanto à competência, dedicação e seriedade. A
transparência de indecisão e dúvida é tolerada minimamente.
O médico deve ter uma postura paciente e solidária. Deve tomar cuidado com a
armadilha de passar uma imagem onipotente, fantástica, capaz de evitar o sofrimento e
a morte. Muito pior é se o médico passar a acreditar nesta imagem criada.
Conclusão
A psicossomática traz um olhar que pode contribuir para uma humanização do
trabalho cirúrgico, valorizando a escuta dos indesejáveis sintomas afetivos, a
importância da relações afetivas e a presença da transferência.
Uma enorme bibliografia confirma qual a informação aumenta o controle da
ansiedade, fornecendo a impressão que se está numa situação mais controlável.
Lembrar principalmente de apresentar a cirurgia como um tratamento que vai
melhorar o estado atual e não torná-lo “normal” novamente, ressaltar os aspectos
positivos da cirurgia, realizar cuidadosamente uma entrevista prévia que nos fornece as
expectativas que o paciente tem quanto à cirurgia. Nesta entrevista fazer um diagnóstico
psicossomático, conversar sobre a ansiedade, agressividade, reorganizar as vivências
relatadas.
Uma entrevista com familiares pode nos auxiliar a encontrar alguém próximo,
que tem uma representação afetiva significativa para o paciente, e que pode ser um
importante coadjuvante na recuperação
Pode ser interessante organizar grupos de discussão de paciente com a mesma
patologia. Ao ouvir problemas semelhantes, há um alivio saber não ser o único do
mundo com tal problema
A má qualidade da uma relação e sua desagregação agem no corpo e são
péssimas para saúde. O estresse e a forma como o paciente lida com ele trazem
limitações psicológicas no enfrentamento da doença.
Os afetos não fazem mal a saúde.
O melhor procedimento para lidar com a sombra é a luz.
Leituras sugeridas
AIUB, Ana Lucia e cols. Ansiedade em pacientes cardíacos pré-cirurgicos. Ver. Soc.Cardiol. São Paulo. Vol5
n°6 1995
CAZETO, Sidnei Psicossomática e instituição hospitalar. in Psicossoma .Ed. Casa do Psicólogo
DAHLKE, R.A Doença como símbolo São Paulo: Cultrix, 2OOO
ISMAEL, Silvia. Rumos da Psicologia Hospitalar em Cardiologia São Paulo: Papirus 2000,
MELLO FILHO, Júlio Psicossomática Hoje Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.