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AGAMBEN – O fim do Poema

O fim do poema é um “instituto poético”

A poesia vive na tensão e contrastes entre som e sentido, diz Agamben (p. 142)

“Uma primeira conseqüência dessa situação do poema numa disjunção essencial entre
som e sentido (marcada pela possibilidade do enjambement) é a importância decisiva do
fim do verso. [...] o verso é, em qualquer caso, uma unidade que encontra o seu
principium individuationis somente no fim, que se define só no ponto em que finda.”
(p.143)

Pergunta Agamben: ao fim do poema ele se transforma em prosa? (já que ele se faz pelo
encadilhamento)

Mas penso que o poema não acaba se ele ecoa. O poema é o início, o gatilho. Ele se
transforma em outra coisa que não ele mesmo, mas em um entendimento subjetivo,
porque o fim, se o há, é angústia. Porque o entendimento põe algo no vazio que
supostamente ficaria como que se chama de fim. O fim é a morte. Um poema não
morre. Ele transforma, o outro e a sim mesmo, adquire novas significações, sofre
deslocamentos, a cada leitura.

Porque se pensa que só existe o material (o poema enquanto sua realidade corpórea, o
poema como matéria), mas tem o que fica o que marca e isso é eterno.

O fim do poema é o fim das significações, concretas ou sensíveis. Se um poema não


marca ele nem começou, nem existiu e se dele resultou em nada, isso também é alguma
coisa.

“E o poema é como o catéchon da epístola de Paulo aos Tessalonicenses (lI, 2, 7-8):


algo que freia e retarda o advento do Messias, portanto daquele que, cumprindo o tempo
da poesia e unificando os dois éones, destruiria a máquina poética precipitando-
a no silêncio.” (p. 147)

“A dupla intensidade que anima a língua não se aplaca numa compreensão última, mas
se abisma, por assim dizer, no silêncio numa queda sem fim. Deste modo o poema
desvela o escopo da sua orgulhosa estratégia: que a língua consiga no fim comunicar ela
própria, sem restar não dita naquilo que diz.” (p. 147-148)

Dupla intensidade que anima a língua: som e sentido

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