Você está na página 1de 64

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

INSTITUTO DE RECURSOS NATURAIS

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

CLAUDIO DUARTE DE MORAES

ARGAMASSA AUTOADENSÁVEL REFORÇADA COM ÓXIDO DE GRAFENO

ITAJUBÁ
2024
Claudio Duarte de Moraes

Argamassa autoadensável reforçada com óxido de grafeno

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Federal de
Itajubá como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Civil.

Orientadora: Profa Dra Valquíria Claret dos Santos

Itajubá - MG
2024
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha esposa


Rosana Maria, incentivadora incondicional
de todos os meus projetos.
AGRADECIMENTO

À Professora Doutora Valquíria Claret dos Santos, pelo entusiasmo com que
conduziu a execução deste trabalho, não medindo esforços para viabilizá-lo.

À Professora Doutora Adinele Gomes Guimarães, pelo pronto atendimento às


inúmeras demandas necessárias à realização deste curso.

À Doutora Maria Auxiliadora de Barros Martins, pelos conhecimentos


transmitidos durante a disciplina preparatória à execução deste artigo e pelas
sugestões na formulação das primeiras experiências com argamassa autoadensável.

Ao Sr Fabiano Nazário Santos, pelo apoio ilimitado no uso dos laboratórios e


dos equipamentos necessários à coleta de dados para esta pesquisa.

Ao Sr Michel Henry pelo apoio na realização de experimentos que foram


cruciais para a compilação de resultados deste trabalho.

À Srta Larissa Tofanello Cardozo, pelo compartilhamento irrestrito dos detalhes


de seu trabalho de Iniciação Científica, a base desta pesquisa, e pela pronta resposta
às questões formuladas sobre o assunto.

Ao Sr João Rafael Greco, pelas valiosas informações sobre a análise


microestrutural da influência do óxido de grafeno em argamassas autoadensáveis.
RESUMO

Este trabalho visou avaliar as consequências da adição de óxido de grafeno


(OG) nas argamassas autoadensáveis (AAA). A linha de pesquisa mantida pela
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) nessa área almeja construir uma base de
conhecimentos em argamassas autoadensáveis para, posteriormente, tratar de
concretos dessa natureza. O óxido de grafeno é um componente relativamente novo
no mercado e, apesar dos custos de produção ainda serem elevados, pelas suas
propriedades tem suscitado o interesse para aplicação em vários setores, incluindo o
da construção civil. Nas argamassas pode melhorar, entre outros aspectos, a
resistência mecânica no estado endurecido. Dos materiais utilizados nesta pesquisa,
o cimento e do metacaulim foram submetidos à granulometria a laser; as areias foram
caracterizadas no que diz respeito à distribuição granulométrica e à determinação de
massa específica; e o OG foi submetido à análise de Difração por Raios-X. A obtenção
de um traço de argamassa com características autoadensáveis demandou uma série
de experimentos intermediários, dos quais puderam ser extraídas informações
relevantes sobre o desempenho das argamassas endurecidas, mormente no que diz
respeito às variações da relação água e cimento. A partir do traço de referência
estabelecido foram feitas argamassas adicionando OG nas proporções de 0,03%,
0,05% e 0,10% da massa de cimento. No estado fresco as argamassas foram
validadas segundo os parâmetros previstos nos ensaios de espalhamento e de
escoamento. Após a cura por 28 dias, os corpos de prova foram submetidos a testes
de resistência a compressão, de resistência a tração por compressão axial e de
módulo de elasticidade dinâmico. Com a adição 0,03% de OG a argamassa diminuiu
sua resistência à compressão axial (-7,2%) e à tração (-2,5%), mas teve aumento no
módulo de elasticidade (+1,1%). Na dosagem com 0,05% de OG houve incremento
em todos os índices de desempenho, com 7% na compressão axial; 2,5% na tração e
4% no módulo de elasticidade. Com o teor de 0,10% de OG observou-se aumento de
5,1% na resistência à compressão; 2,3% no módulo de elasticidade e 20% na
resistência à tração. Os resultados obtidos mostram que a adição de óxido de grafeno,
em determinadas concentrações, é eficiente na melhoria das propriedades finais das
argamassas autoadensáveis.
Palavras-chave: argamassa autoadensável, óxido de grafeno, resistência
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Artigos publicados por ano ........................................................................ 13


Figura 2 - Artigos por área de conhecimento ............................................................ 13
Figura 3 - Artigos publicados por países ................................................................... 14
Figura 4 - Artigos publicados por instituição .............................................................. 14
Figura 5 - Representação esquemática do grafite e do grafeno................................ 18
Figura 6 - Representação do grafeno (à esquerda) e do óxido de grafeno ............... 18
Figura 7 - Óxido de grafeno utilizado na pesquisa .................................................... 28
Figura 8 - Difratômetro do LCE ................................................................................. 29
Figura 9 - Preparação do óxido de grafeno para ensaio de DFR (antes e depois) ... 30
Figura 10 - Método de Gomes, Gettu e Agulló para obtenção de CAA ..................... 31
Figura 11 - Cone de Marsh ....................................................................................... 32
Figura 12 - Mini cone de Kantro ................................................................................ 33
Figura 13 - Ensaio Slump Flow ................................................................................. 36
Figura 14 - Ensaio Funil V ......................................................................................... 36
Figura 15 - Ensaio de Módulo de Elasticidade Dinâmico .......................................... 39
Figura 16 - Ensaio de Compressão Axial .................................................................. 40
Figura 17 - Ensaio de Tração por Compressão Diametral ........................................ 40
Figura 18 - Ensaio de granulometria a laser dos finos .............................................. 42
Figura 19 - Análise granulométrica das areias .......................................................... 43
Figura 20 - Difratograma do óxido de grafeno da NanoView..................................... 44
Figura 21- Difratograma do óxido de grafeno do INPE ............................................. 45
Figura 22 - Segregação de componentes na argamassa.......................................... 47
Figura 23 - Massa específica no estado fresco ......................................................... 54
Figura 24 - Índice de vazios no estado fresco ........................................................... 55
Figura 25 - Teor de ar no estado fresco .................................................................... 56
Figura 26 - Resultados do Ensaio de Compressão Axial .......................................... 56
Figura 27 - Resultado do Ensaio de Módulo de Elasticidade Dinâmico .................... 57
Figura 28 - Resultado do Ensaio de Tração por Compressão Diametral .................. 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade de artigos por combinação de palavras-chave ..................... 12
Tabela 2 - Dosagem dos materiais utilizados por Cardozo ....................................... 35
Tabela 3 - Caracterização dos finos .......................................................................... 42
Tabela 4 - Caracterização das areias........................................................................ 44
Tabela 5 - Comparação entre amostras de óxido de grafeno ................................... 45
Tabela 6 - Traços da dosagem inicial da argamassa autoadensável ........................ 46
Tabela 7 - Preparação da argamassa ....................................................................... 47
Tabela 8 - Ensaio de argamassa no estado fresco ................................................... 48
Tabela 9 - Ensaios na argamassa inicial no estado endurecido................................ 50
Tabela 10 - Traços da argamassa teórica-experimental ........................................... 51
Tabela 11 - Ensaios de estado fresco na argamassa teórico-experimental .............. 52
Tabela 12 - Traços de argamassa com óxido de grafeno ......................................... 53
Tabela 13 - Ensaio em estado fresco de argamassa com óxido de grafeno ............. 53
Tabela 14 – Consolidação dos resultados de ensaios no estado endurecido ........... 59
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 10
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 12
2.1 Revisão Bibliométrica ................................................................................... 12
2.2 Revisão Bibliográfica .................................................................................... 15
2.2.1 Concreto autoadensável .............................................................................. 15
2.2.2 Óxido de grafeno .......................................................................................... 17
2.2.2.1 O óxido de grafeno em composições cimentícias ........................................ 19
3 METODOLOGIA ........................................................................................... 24
3.1 Materiais....................................................................................................... 24
3.1.1 Cimento ........................................................................................................ 24
3.1.2 Superplastificante ......................................................................................... 24
3.1.3 Metacaulim ................................................................................................... 25
3.1.4 Areia e água ................................................................................................. 25
3.1.5 Óxido de grafeno .......................................................................................... 25
3.2 Caracterização dos materiais ....................................................................... 25
3.2.1 Água ............................................................................................................. 25
3.2.2 Areia ............................................................................................................. 26
3.2.3 Cimento ........................................................................................................ 27
3.2.4 Metacaulim ................................................................................................... 28
3.2.5 Óxido de grafeno .......................................................................................... 28
3.3 Dosagem de concretos e argamassas autoadensáveis ............................... 30
3.3.1 O Método de dosagem de Gomes, Gettu e Agulló ....................................... 30
3.3.2 Traços utilizados como referência inicial ...................................................... 34
3.4 Caracterização da argamassa ..................................................................... 35
3.4.1 Caracterização da argamassa no estado fresco .......................................... 35
3.4.2 Caracterização da argamassa no estado endurecido................................... 38
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................... 42
4.1 Caracterização dos materiais ....................................................................... 42
4.1.1 Caracterização dos materiais finos ............................................................... 42
4.1.2 Caracterização do superplastificante ............................................................ 43
4.1.3 Caracterização do agregado miúdo .............................................................. 43
4.1.4 Caracterização do óxido de grafeno ............................................................. 44
4.2 Dosagem inicial ............................................................................................ 46
4.2.1 Traços experimentais da dosagem inicial ..................................................... 46
4.2.2 Ensaios da argamassa inicial no estado fresco ............................................ 48
4.2.3 Ensaios da argamassa inicial no estado endurecido .................................... 49
4.3 Dosagem teórica-experimental .................................................................... 50
4.3.1 Traços experimentais da dosagem teórica-experimental.............................. 51
4.3.2 Ensaios da argamassa teórica-experimental no estado fresco .................... 51
4.4 Dosagem com óxido de grafeno .................................................................. 52
4.4.1 Traços com óxido de grafeno ....................................................................... 52
4.4.2 Ensaios da argamassa com óxido de grafeno no estado fresco .................. 53
4.4.3 Ensaios da argamassa com óxido de grafeno no estado endurecido........... 56
5 CONCLUSÕES............................................................................................. 60
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 61
10

1 INTRODUÇÃO
Os concretos autoadensáveis surgiram nos anos 80, fruto de pesquisas do
Professor Hagime Okamura na Universidade de Tóquio (Japão) visando aumentar a
durabilidade das estruturas ao propiciar uma massa que flui com facilidade nas
fôrmas, passando entre as armaduras e preenchendo os espaços sob efeito do peso
próprio, dispensando equipamentos de vibração e reduzindo a mão-de-obra durante
a concretagem (GOMES; BARROS, 2009).
Além da fluidez, um concreto é considerado autoadensável se também
mantiver a coesão no escoamento entre as armaduras e for resistente à segregação
(TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008).
Introduzido no Brasil nos anos 2000, o concreto autoadensável vem ganhando
espaço na construção civil e há poucos anos foi normatizado pela NBR 15823 em
suas 6 partes (ABNT, 2017b), detalhando como essa tecnologia pode ser utilizada, em
consonância com o dimensionamento das peças estruturais previsto na NBR 6118
(ABNT, 2023).
No que diz respeito ao grafeno, segundo dados do Serviço Geológico do Brasil
(SGB-CPRM) o Brasil possui consideráveis reservas de grafita e é o terceiro maior
fornecedor mundial desse mineral. Em função de sua importância e da disponibilidade
em um determinado país, a grafita pode ser classificada como um mineral estratégico
e/ou crítico, tendo ampla aplicação nos setores aerospacial, de defesa, de energia, de
telecomunicações e de transportes, entre outros (SOUSA; MATOS, 2020).
Obtido a partir da grafita, o grafeno é um nanomaterial relativamente novo no
mercado, tendo sido isolado pela primeira vez em 2004 pelos pesquisadores
Konstantin Novolesov e Andre Geim, na Universidade de Manchester, Inglaterra. Essa
descoberta rendeu aos cientistas o Prêmio Nobel de Física em 2010 (GERSTNER,
2010).
As características físico-químicas do grafeno conferem a ele propriedades
importantes, como alta resistência mecânica e condutividades térmica e elétrica. Isso
tem chamado a atenção de cientistas e da indústria pelas grandes possibilidades de
aplicações.
No Brasil, estão entre os principais centros acadêmicos dedicados às
pesquisas com o grafeno o MackGraphe (São Paulo), o MGgrafeno em Belo
Horizonte, a UCSGRAPHENE (Caxias do Sul, RS) e o CTNano em Belo
11

Horizonte (BELLUCCI; VASQUEZ; CONTI, 2021). Todas essas iniciativas são


recentes, com menos de 10 anos.
Estudos sobre a incorporação do óxido de grafeno em pastas autoadensáveis,
acarretando melhorias em suas propriedades, podem ser observados em trabalhos
no exterior que já completam quase uma década (BABAK et al., 2014), sendo mais
recentes no Brasil, como por exemplo as publicações feitas por integrantes da
Universidade Presbiteriana Mackenzie (CAMALIONTE et al., 2018; SANTOS et al.,
2019). Em bases de dados internacionais foram identificados apenas três títulos de
autores brasileiros, originados no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (DA SILVA et
al., 2021), na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (SILVA et al., 2017) e no
Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (MENDONÇA et al., 2021).
O presente trabalho é realizado na sequência dos “Ensaios de argamassa
autoadensável reforçados com grafeno” (CARDOZO, 2023) e da “Análise
microestrutural do efeito da adição de óxido de grafeno em argamassa
autoadensável” (GRECO, 2023) , conduzidos no âmbito da Universidade Federal de
Itajubá.
Nesta breve introdução é possível concluir que o óxido de grafeno associado
às argamassas autoadensáveis é um tema relativamente inexplorado, oferecendo um
vasto e promissor ramo para aplicações na construção civil.
12

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Revisão Bibliométrica
Visando identificar o interesse da comunidade acadêmica e científica sobre o
tema proposto, por intermédio do Portal de Periódicos da CAPES foi acessada a base
de dados internacional “SCOPUS”. Julgou-se que buscas de artigos contendo as
palavras-chave “concreto (concrete)”, “argamassa (mortar)”, “grafeno (graphene)”,
“força (strenght)” e “autoadensável (self-compacting)” poderiam identificar publicações
relacionadas à pesquisa que se pretendeu desenvolver.
A Tabela 1 lista a quantidade de artigos identificados em acesso realizado em
setembro de 2023 na base SCOPUS relacionados com as palavras-chave
selecionadas.
Tabela 1 - Quantidade de artigos por combinação de palavras-chave
Palavras - chave Artigos
concrete and graphene 426
concrete and graphene and strength 213
self-compacting and concrete and graphene 19
mortar and graphene 271
mortar and graphene and strength 167
self-compacting and mortar and graphene 2
Fonte: base de dados SCOPUS (2023)

A combinação “mortar and graphene and strength”, apresentou um número


considerável de publicações afins ao trabalho que se pretendeu conduzir, totalizando
167 artigos desde 2013 até setembro de 2023. Faz-se oportuno registrar que uma
busca mais específica, incluindo o termo “autoadensável (“self-compacting”) restringe
significativamente o número de publicações, com apenas 2 artigos.
Na Figura 1 observa-se a tendência de crescimento ao longo do tempo de
publicações sobre o assunto contendo a combinação “mortar and graphene and
strength”.
13

Figura 1 - Artigos publicados por ano com as palavras-chave “mortar and graphene and strength”

Fonte: base de dados SCOPUS (2023)

No que concerne às áreas de conhecimento, verifica-se na Figura 2 que as


engenharias (engineering) e as ciências dos materiais (materials science) detêm mais
de 70% do total de artigos, indicando preponderância desses setores no interesse
pelo material e pelas tecnologias de emprego a ele associadas.
Figura 2 - Artigos por área de conhecimento

Fonte: base de dados SCOPUS (2023)


14

Segundo a Figura 3, a China é líder isolada em trabalhos publicados (85),


seguida pelos Estados Unidos (23), Índia (21) e Austrália (19). Os demais países
possuem menos de 10 publicações, incluindo o Brasil, que registra 4 artigos, um pela
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (SILVA et al., 2017), outro pelo Centro de
Tecnologias Estratégicas do Nordeste (MENDONÇA et al., 2021), e um mesmo
trabalho (DA SILVA et al., 2021) por duas instituições: o Instituto Tecnológico de
Aeronáutica e a Universidade São Judas Tadeu.
Figura 3 - Artigos publicados por países

Fonte: base de dados SCOPUS (2023)

Ao analisar a Figura 4, verifica-se que esse tipo de trabalho é hegemônico das


universidades.
Figura 4 - Artigos publicados por instituição

Fonte: base de dados SCOPUS (2023)


15

2.2 Revisão Bibliográfica


2.2.1 Concreto autoadensável
O concreto autoadensável difere do concreto convencional pela técnica
utilizada na aplicação dos insumos constituintes, resultando em um produto com
inúmeras vantagens, uma vez que: não requer o adensamento mecânico ao ser
lançado; reduz a mão-de-obra ao dispensar a vibração e facilitar tanto o espalhamento
quanto o nivelamento do concreto; melhora o acabamento final da superfície; ao
minimizar falhas na concretagem tende a aumentar a vida útil da estrutura; permite
preencher fôrmas complexas, de difícil acesso e com grandes taxas de armaduras;
presta-se à concretagem de peças com seções reduzidas; possibilita o trabalho
noturno de concretagem próxima a escolas e hospitais, por não apresentar o barulho
decorrente do uso de vibradores; contribui para a segurança da obra, ao minimizar o
uso de operários na concretagem; tem um viés ecológico ao admitir o uso de resíduos
industriais em sua composição; e, pode reduzir o custo final da obra ao se computar
todas as vantagens listadas (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008).
Para ser considerado autoadensável, um concreto deve apresentar fluidez,
coesão suficiente para passar intacto através das barras de aço da armadura, e
resistência à segregação (EFNARC, 2005).
A fluidez é a capacidade da mistura preencher todos os espaços dentro da
fôrma. A habilidade passante é caracterizada pela faculdade do concreto escoar entre
a armadura de aço sem que haja obstrução do fluxo. A resistência à segregação é a
aptidão do concreto autoadensável manter-se coeso ao fluir dentro das fôrmas,
passando pelos obstáculos existentes (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008).
Um dos principais fatores que influenciam na qualidade de um concreto
endurecido, seja ele convencional ou autoadensável, é o preenchimento das fôrmas
sem a presença de bolhas de ar ou falhas de concretagem, os comumente chamados
“ninhos” ou “brocas”. Nesse aspecto, o concreto autoadensável não pode depender
de nenhum meio externo para cumprir seu papel, sendo estritamente proibido em seu
manuseio o uso de vibradores de imersão, réguas vibratórias ou qualquer outro meio
de compactação. Ele deve usar apenas seu peso próprio, ou seja, a força da
gravidade, para preencher os espaços das fôrmas (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008).
16

2.2.1.1 Dosagem de concreto autoadensável


Apesar do uso do concreto autoadensável vir crescendo no Brasil, os principais
estudos focam as propriedades mecânicas, a durabilidade e a possibilidade de
aproveitamento de insumos locais em sua confecção. A dosagem, um dos temas mais
relevantes desse tipo de concreto e que influencia diretamente os demais aspectos,
vem recebendo atenção superficial (TUTIKIAN; DAL MOLIN, 2008).
Ao estudar a viabilidade da adição de finos de pedreiras como insumo na
produção de argamassas para concretos autoadensáveis Assunção (2014) faz um
apanhado geral das principais características de alguns procedimentos para
dosagem, dentre eles dos métodos desenvolvidos no Brasil por Repette e Melo
(MELO, 2005) e por Tutikian e Dal Molin (2008). Enfatiza que devido à ausência de
padronização e pelas características dos materiais disponíveis na região, muitos
grupos de pesquisa vêm empregando adaptações desses métodos para obter suas
próprias formulações, tendo o cuidado de observar parâmetros de desempenho das
argamassas citados na literatura. Seu trabalho enquadra-se nessa categoria,
adotando procedimentos para dosagem de concreto autoadensável desenvolvidos
pelo Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Maringá
(Paraná). Para controle das propriedades da argamassa em estado fresco, foram
seguidos parâmetros estabelecidos por Repette e Melo (2005), que seguem como
norma o espalhamento da argamassa no teste de mini slump entre 200 mm e 280
mm, e tempo de escoamento no Funil V entre 5 s e 10 s.
Na pesquisa sobre a viabilidade do uso de fíler calcário em substituição parcial
ao cimento Portland para definir traços de argamassas que servirão de base para
produção de concretos com propriedades autoadensáveis PAULINO et al (2019)
testaram diversas composições de pastas cimentícias em estado fresco, notando que
os melhores aspectos de fluidez e viscosidade foram as produzidas com relação
fíler/materiais secos de 25% e dosagem de aditivo superplastificante de 0,3% em
relação à massa de cimento. As composições feitas usaram, além do cimento tipo CP
II-F-32, fíler calcário dolomítico; um aditivo superplastificante de policarboxilato em
meio aquoso; e dois tipos de areias com granulometrias diferentes, no percentual de
80% da mais grossa. No embasamento teórico da pesquisa, foi registrado que o
Método de Repette e Melo (2005) facilita a execução dos ensaios em laboratório na
formulação da dosagem ideal para os insumos disponíveis por ser dividido em etapas.
17

Segundo artigo apresentado no XIX Encontro Nacional do Ambiente Construído


(DUARTE et al., 2022), apesar da difusão do uso no país das argamassas
autoadensáveis em contrapisos autonivelantes, ainda não existe um método
consagrado para a sua dosagem. Os autores do artigo mapearam mais de 20
metodologias para dosagem das argamassas autonivelantes, verificando a
inexistência de um consenso nos procedimentos adotados, sendo a maioria
adaptações de metodologias usadas na obtenção do concreto autoadensável,
igualmente não padronizadas. O Método Repette e Melo (2005) é citado como
pioneiro no país nas formulações de dosagem de concretos autoadensáveis,
possibilitando adaptações para as argamassas desse tipo. Dentre as semelhanças
encontradas nos procedimentos mapeados estão o uso dos ensaios de Cone de
Marsh, do Mini Slump e do Funil V para análise das propriedades da argamassa
fresca. Ressaltam que apesar da aplicação desses ensaios ser comum entre as
publicações encontradas, os parâmetros utilizados para comparação e interpretação
dos resultados variam conforme o autor. Também constataram a dificuldade em se
obter uma proporção adequada dos materiais, pois isso depende dos insumos locais
utilizados, o que torna o método de dosagem bastante complexo.
No âmbito da Universidade Federal de Itajubá, as pesquisas com pastas
autoadensáveis têm o Método de Gomes, Gettu e Agulló (GOMES, 2003) como
referência, sendo objeto de estudo na disciplina Controle Tecnológico de Concretos
Especiais do Curso de Mestrado em Engenharia Hídrica. Essa metodologia propõe
que a dosagem dos concretos autoadensáveis pode ser obtida a partir das
composições da pasta e do esqueleto granular otimizadas separadamente. A
dosagem final do concreto é determinada a partir de uma pasta que leve a mistura a
apresentar características autoadensáveis, com fluidez e viscosidade adequadas
(SANTOS, 2023).

2.2.2 Óxido de grafeno


O grafeno é um material bidimensional com espessura monoatômica formado
por átomos de carbono ligados entre si. O termo grafeno vem sendo empregado de
forma mais ampla, incluindo produtos constituídos por folhas de grafeno empilhadas
em camadas, de forma organizada, sob a influência das Forças de Van der Waals,
como ilustra a Figura 5.
18

Figura 5 - Representação esquemática do grafite e do grafeno

Fonte: (SABER ATUALIZADO, 2018)


O óxido de grafeno é sintetizado a partir do grafite, sendo um produto
intermediário na obtenção de grafeno em algumas metodologias. Os processos de
obtenção do óxido de grafeno se baseiam no enfraquecimento das forças de Van der
Waals, buscando adicionar grupos funcionais com oxigênio na estrutura, como
hidroxilas (-OH), carboxilas (-COOH) e epóxidos, ilustrados na Figura 6.
Figura 6 - Representação do grafeno (à esquerda) e do óxido de grafeno

Fonte: Alamy (FURIAN, 2021)


Esse arranjo eletroquímico confere ao óxido de grafeno, entre outras
propriedades, alta resistência mecânica, elasticidade e condutividade elétrica,
permitindo se vislumbrar um vasto campo para sua utilização.
No Brasil, a Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo) inaugurou em
2016 o MackGraphe, uma estrutura laboratorial que custou R$ 100 milhões, destinada
ao estudo de grafeno e suas aplicações.
No mesmo ano, o Projeto MGgrafeno foi criado fruto de parceria entre
Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (CODEMG), a Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG) e o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear
(CDTN), visando a instalação de uma planta industrial de grafeno em Belo Horizonte.
Essa planta-piloto é operacional desde 2018 e conta com laboratórios de alta
tecnologia, equipamentos de ponta e mão de obra especializada na produção,
19

caracterização e aplicação do material. Em 2021, o projeto alcançou a marca de 1,25


tonelada de capacidade produtiva anual de grafeno.
Em 2019 foi inaugurada o CT Nano, vinculado à UFMG, com mais de 10
laboratórios dedicados a pesquisas com nanomateriais, entre eles o grafeno. Consta
no rol dos trabalhos em andamento a produção de cimento nano estruturado, a
partir da mistura de nanotubos de carbono aos grãos do cimento, tornando-
o mais resistente e barato.
No mês de julho de 2021 foi inaugurada na Universidade de Caxias do Sul uma
fábrica de produção de grafeno em escala industrial, com capacidade de entregar até
cinco toneladas desse material por ano. Na ocasião ocorreu também a 1ª Feira
Brasileira de Grafeno.
No campo industrial, embora ainda não haja produtos em escala comercial
expressiva (BELLUCCI; VASQUEZ; CONTI, 2021), podem ser identificadas iniciativas
de projetos envolvendo a aplicação de grafeno em várias empresas e startups, como
por exemplo na Gerdau, que lançou em 2021 uma nova empresa sediada em São
Paulo e batizada de Gerdau Graphene. Essa companhia, que tem operação
independente das divisões de negócio de aço, deve prover mais tecnologia para os
setores da construção civil, lubrificantes industriais e automotivos, borracha,
termoplásticos, tintas e sensores incorporando grafeno em sua composição.

2.2.2.1 O óxido de grafeno em composições cimentícias


Em que pese o fato de que uma parcela significativa dos trabalhos identificados
nas publicações não serem formalmente relacionados à adição de óxido de grafeno
em argamassas autoadensáveis, merecem atenção as técnicas utilizadas pelos
pesquisadores e os resultados obtidos.
Também convém registrar que as publicações geralmente são de trabalhos
produzidos por grupos de pesquisadores, permitindo inferir que é normal o uso de
conhecimentos interdisciplinares para esse tipo de trabalho que envolve, pelo menos,
as áreas de materiais e de engenharia civil, como apontou a Revisão Bibliométrica
feita.
Um dos mais antigos artigos identificados sobre o tema é a pesquisa conduzida
por integrantes da Faculdade de Engenharia Civil da Univerisade de Teerã (Irã) e da
Indústria Petrolífera Iraniana (BABAK et al., 2014), que avaliou o resultado da adição
de óxido de grafeno nas argamassas cimentícias com teores que variaram de 0,1 a
20

2% (0,1 - 0,3 – 0,5 – 1,0 – 1,5 – 2%) em peso do cimento. O óxido de grafeno foi
sintetizado pela equipe em laboratório via esfoliação coloidal e usou-se um
superplastificante de policarboxilato, na proporção de 0,5% do cimento, para melhorar
a dispersão dos flocos de óxido de grafeno na argamassa. Merece destaque a
observação de que as dosagens experimentais foram feitas em pequenos volumes,
totalizando 650g cada uma, o que permitiu o uso de apenas 8g de óxido de grafeno
nessa pesquisa. A relação água-cimento foi mantida constante em todos os traços, na
proporção de 40%, e a areia utilizada correspondeu a 3 vezes o peso do cimento.
Nos testes de resistência à tração, conduzidos segundo norma norte-
americana após a cura dos corpos de prova, os resultados foram positivos em relação
à argamassa de referência (2,7 MPa) em todos os percentuais de adição de óxido de
grafeno até o valor de 1,5%, quando a resistência atingiu 3,99 MPa, um acréscimo de
48% em relação ao valor sem aditivo. Isso permitiu aos autores concluir sobre a
eficácia do uso de óxido de grafeno nas argamassas cimentícias.
Considerando que o alto custo da produção de grafeno inibe a aplicação em
larga escala desse aditivo nas argamassas utilizadas na construção civil, a pesquisa
de POLVERINO et al. (2022) procurou identificar uma alternativa econômica para
obter industrialmente esse componente, validando-a por intermédio da análise de
desempenho de misturas cimentícias feitas com a adição desse composto. O grafeno
foi processado a partir de grafite em flocos adquirido no mercado, utilizando formas
distintas da técnica de produção em poucas camadas (Few-Layers Graphene - FLG),
com sua dispersão na água por esfoliação. O processo de dispersão do grafeno em
água adotado pelos pesquisadores incluiu o uso de um superplastificante a base de
polímero, visando promover uma melhor integração do grafeno na matriz de cimento.
O material produzido foi utilizado como aditivo em traços de pastas cimentícias
constituídas basicamente por cimento (240g) e água na relação de 50% (120g), sem
areia.
A partir da pasta básica, cinco tipos de amostras foram geradas, sendo uma
apenas com acréscimo de superplastificante na razão de 0,25% do peso cimento; e
mais quatro com adição de óxido de grafeno em porporções variando de 0,05% a 1%
(0,05% - 0,1% - 0,5% e 1%) e 30% de seu peso em superplastificante. É conveniente
registrar que a pequena quantidade de cimento usada nos experimentos permitiu
realizar a pesquisa com cerca de 4g óxido de grafeno, reforçando a evidência das
restrições para obtenção desse insumo.
21

Oito corpos de prova para cada tipo de amostra, moldados em pequenos


discos, foram submetidos à cura em água e em ar saturado e ensaiados a 7 e a 28
dias para verificar a evolução de suas propriedades. Metade dos corpos de prova
foram submetidos a ensaios de resistência à flexão, e a outra metade a ensaios de
compressão. Concluiu-se que a cura em água produz material endurecido com
melhores propriedades do que a cura em ar saturado. Aos 28 dias, o traço com 0,5%
de grafeno apresentou aumentos na resistência à flexão e à compressão de 25% e
65%, respectivamente, em comparação com a amostra de controle. Verificou-se,
ainda, que com 1% de óxido de grafeno na mistura da argamassa, os ganhos de
resistência foram insignificantes, recomendando-se por razões econômicas não usar
essa dosagem. Concluem os pesquisadores que o óxido de grafeno produzido
segundo a metodologia proposta pode viabilizar diversas aplicações de argamassas
cimentícias na construção civil.
Dentre as pesquisas nacionais citadas em nível internacional, o trabalho de
SILVA et al. (2017) relata experimentos de adição de óxido de grafeno multicamadas
em argamassa de cimento Portland comum, na busca por concentração ideal que
propiciasse melhoria nas propriedades mecânicas do concreto endurecido. Utilizou-
se o cimento tipo CP-II-Z-32; areia média (densidade de 3,57 g/cm3 e Módulo de
Finura de 2,4) na razão de 3 vezes o peso do cimento; água na proporção de 40% e
concentrações de óxido de grafeno de 0,015%; 0,021%; 0,027% e 0,033% da massa
do cimento. Foram confeccionados corpos de prova cilíndricos padronizados com
diâmetro de 5 cm, os quais foram submetidos a ensaios de compressão axial e tração
por compressão diametral com 3, 7 e 28 dias de cura.
Segundo os autores, os resultados mais expressivos no ensaio de compressão
axial se deram nas amostras contendo 0,021% de óxido de grafeno, que registraram
aumento de resistência de 95,7% em comparação com a amostra de controle. No
ensaio de tração, as amostram contendo 0,033% de óxido de grafeno registraram
aumento de resistência de 131,6%. O experimento também contou com micrografias
de MEV e imagens metalográficas para melhor caracterizar a morfologia das amostras
e tentar explicar a influência do óxido de grafeno na composição cimentícia.
O trabalho de CAMALIONTE et al. (2018) traz dados interessantes sobre as
propriedades mecânicas de um compósito de cimento com adição de óxido de
grafeno, verificando os mecanismos pelos quais esse aditivo atua a nível
microscópico, nos poros da argamassa, e as consequências dessa interação. Na
22

pesquisa foi utilizado óxido de grafeno sintetizado e caracterizado. Adicionou-se


0,03% de óxido de grafeno à argamassa constituída por cimento; areia média e areia
fina na proporção de 3 vezes o peso do cimento; e, água na relação de 48%. Os
corpos de prova cilíndricos padronizados de 5cm de diâmetro, e prismáticos de
4x4x16cm, foram submetidos aos 7, 14, 21 e 28 dias a ensaios de resistência à
compressão axial; tração por compressão diametral, flexão nos terços do prisma,
absorção de água, índice de consistência e microscopia eletrônica, seguidos de
análise crítica dos resultados. No ensaio de compressão axial, aos 28 dias, a
argamassa com óxido de grafeno registrou 20,1 MPa contra 16,4 MPa do traço de
controle. No ensaio de tração por compressão diametral, a mistura com óxido de
grafeno registrou 3,3 MPa, resultado superior aos 2,8 MPa da argamassa de controle.
O ensaio dos corpos de prova prismáticos para determinação do módulo de ruptura
por flexão nos terços mostrou valor superior na argamassa sem óxido de grafeno, com
10,2 MPa contra 8,1 MPa na argamassa aditivada, contrariando a tendência oposta
dos resultados nos tempos intermediários.
Apesar do desempenho aos 28 dias das argamassas com óxido de grafeno ter
apontado uma tendência de melhora, verificou-se, em quase todos os corpos de
prova, ao longo do tempo de cura, valores incoerentes com o comportamento
esperado de aumento da resistência, levando os autores a desconsiderarem os
resultados dos ensaios na avaliação global do trabalho. Dentre as hipóteses
levantadas para a inconsistência dos resultados de desempenho, sobressai-se o uso
inadequado das areias, pois não foram feitos ensaios de determinação da
granulometria, de impurezas orgânicas ou de umidade, o que pode ter aumentado a
relação água/cimento da argamassa, reduzindo a resistência do material obtido. Por
outro lado, a caracterização do óxido de grafeno sintetizado permitiu constatar que o
produto obtido apresenta as características encontradas na literatura, garantindo que
não houve falhas no processo de síntese que pudessem prejudicar o compósito
cimentício obtido. Verificou-se aumento na hidratação do cimento, associada à
presença do óxido de grafeno e à redução do índice de vazios e da absorção de água,
resultados que podem ser relacionados à redução da porosidade capilar da
argamassa.
Pesquisa realizada por DA SILVA et al. (2021) buscou verificar a adequabilidade
do uso da técnica de Espectroscopia de Impedância de Corrente Alternada (AC
Impedance Spectroscopy) como ferramenta não destrutiva para fornecer informações
23

sobre a evolução da microestrutura das massas cimentícias. Corpos de prova de


argamassa de cimento com adição de óxido de grafeno e de celulose nanofibrilada
foram medidos e analisados com um dispositivo de impedância.
Utilizou-se argamassas de base com relação água/cimento de 30% e de 50%;
areia com Módulo de Finura de 2,67 foi adicionada na proporção de três vezes a
massa do cimento; e um superplastificante na dosagem de 0,5% do cimento. As
argamassas foram aditivadas com óxido de grafeno disperso em água na proporção
de 0,12% da massa do cimento. Relatam como único procedimento adotado antes do
uso da solução de óxido de grafeno, sua agitação em um misturador durante um
minuto antes de ser incorporada à argamassa.
Dentre outros testes realizados, destaca-se o de resistência à compressão em
diferentes tempos de cura a que foram submetidos os corpos de prova cúbicos de
50x50x50mm. Nas argamassas aditivadas com óxido de grafeno confeccionadas com
relação água/cimento de 30% o ensaio de compressão dos corpos de prova resultou
em 56,8 MPa contra 49,2 MPa para a pasta de controle, um aumento de resistência
da ordem de 15,4%. Já para as argamassas com maior quantidade de água (50%),
os valores caíram, respectivamente, para 39,4 MPa e 34,6 MPa, aproximadamente
13,9%. Com esses resultados o autor concluiu que, além da relação água/cimento,
tanto a adição de óxido de grafeno, quanto de celulose nanofibrilada, afetam o valor
da resistência elétrica do arco de alta frequência e influenciam a porosidade da matriz.
A disparidade de percentuais de óxido de grafeno utilizado nas adições de
argamassas experimentais, bem como os resultados conseguidos, permite concluir
que ainda há um longo caminho a ser trilhado nesse tipo de pesquisa antes que essa
técnica possa ser difundida no canteiro de trabalho. Em nível nacional, os percentuais
variaram de 0,015% a 0,12%, sendo razoável utilizar na presente pesquisa valores
dentro desse intervalo.
24

3 METODOLOGIA

3.1 Materiais
Os materiais utilizados na argamassa autoadensável (AAA) a ser ensaiada são
o cimento, a areia, a água, o metacaulim, um superplastificante e o óxido de grafeno,
cujas características estão descritas na sequência.

3.1.1 Cimento
No preparo da argamassa autoadensável objeto desta pesquisa, optou-se pela
utilização do cimento Portland tipo E (CPII-E), produzido pela Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN). Segundo o fabricante, esse tipo de cimento é obtido a partir de
silicatos de cálcio, alumínio e ferro, sulfato de cálcio, filler carbonático, com baixa
adição de escória de alto-forno, o que garante aos produtos resistências iniciais
superiores. São indicados para a construção geral e onde se requeira que as
estruturas tenham um desprendimento de calor moderadamente lento ou que possam
ser atacadas por sulfatos (CSN, 2023). A classe de resistência deles à compressão
varia de 25 a 40 MPa, aos 28 dias de idade, sendo a de 32 MPa selecionada para os
ensaios pretendidos.

3.1.2 Superplastificante
Como aditivo para concreto foi empregado o superplastificante ADI-SUPER
H25, fabricado pela empresa Aditivos para Concreto e Auxiliares para a Construção
Civil - ADITIBRAS. Esse aditivo é formulado a base de polímeros de éteres
carboxílicos modificados, que agem sobre as partículas de cimento apresentando um
altíssimo efeito dispersante, de onde se obtém concretos altamente fluidos com uma
relação água/ligante extremamente baixa, longa manutenção e elevadas resistências
mecânicas iniciais e finais. O produto é recomendado para concretos autoadensáveis,
pré-moldados, protendidos, concreto de alto desempenho, microconcreto, fabricação
de artefatos de cimento, concretagem de peças esbeltas e de difícil acesso ou com
alta densidade de ferragens (ADITIBRAS, 2021).
25

3.1.3 Metacaulim
Esse componente tem a propriedade de conferir maior coesão, menos
exsudação, maior fluidez e menos segregação em concretos autoadensáveis.
Segundo o fabricante, é possível obter aumento em até 40% das resistências
mecânicas à compressão, tração e abrasão do concreto, recomendando utilizar de
5% a 15% em substituição ao cimento da mistura, de acordo com as especificações
de desempenho desejadas para o concreto (METACAULIM, 2023).

3.1.4 Areia e água


Na parcela de argamassa constituída por agregado fino foram usadas areias
lavadas fina e média, extraídas do Rio Sapucaí na região de Itajubá, MG.
Empregou-se a água potável proveniente do sistema de abastecimento público
para a mistura da argamassa.

3.1.5 Óxido de grafeno


O óxido de grafeno utilizado nas pesquisas realizadas por Cardozo (2023) e
Greco (2023) foi obtido junto ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Não
tendo sido possível conseguir na mesma fonte amostras para o presente trabalho, foi
necessário identificar no mercado fornecedores desse insumo, com a qualidade
requerida e a preços acessíveis. Verificou-se que a empresa NanoView
Nanotecnologia, sediada em Belo Horizonte e fundada em 2021 como spin off do
Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno da Universidade Federal de Minas
Gerais (CTNano/UFM), tinha condições de suprir esse produto.

3.2 Caracterização dos materiais


3.2.1 Água
A água potável que atende os parâmetros de consumo estabelecidos pelo
Ministério da Saúde pode ser utilizada na preparação de argamassas sem a
necessidade de ensaios, como prevê a NBR 15900 (ABNT, 2009b).
26

3.2.2 Areia
A fim de minimizar as variáveis a serem controladas nesta pesquisa, em todas
as misturas utilizou-se areia seca em estufa. Com isso, alguns parâmetros
relacionados aos agregados miúdos, como por exemplo, o coeficiente de inchamento
e teor de umidade, não necessitaram ser determinados.
Dentre os ensaios para caracterização das areias, utilizou-se neste trabalho o
da determinação da composição granulométrica, seguindo a norma NBR 17054
(ABNT, 2022a). O agregado miúdo a ser ensaiado é seco em estufa por 24 horas e,
depois de voltar à temperatura ambiente, é pesada uma amostra para o ensaio. Essa
amostra é colocada na parte superior de um conjunto de peneiras com aberturas
especificadas, montadas da maior para a menor malha e apoiadas sobre um fundo
para coleta do material mais fino. Nesta pesquisa usou-se peneiras com malhas de
4,75mm; 2,36mm; 1,18mm; 600 µm; 300 µm e 150 µm. O conjunto é submetido à

agitação mecânica por tempo pré-determinado, findo o qual se tem o agregado


separado nas diferentes peneiras utilizadas. A areia contida em cada peneira é pesada
individualmente, permitindo calcular o percentual da massa total retido em cada
peneira. O módulo de finura (MF) da areia ensaiada, obtido pela soma dos percentuais
de agregado retido em cada peneira utilizada, dividido por cem, permite de acordo
com a a norma ABNT NBR 7211 (ABNT, 2022b) situá-la entre os limites da Zona
Utilizável Superior (2,9 < MF < 3,5), da Zona de Utilização Ótima (2,2 < MF < 2,9) e
da Zona Utilizável Inferior (1,55 < MF < 2,2).
Para determinação da massa específica da areia foi utilizada a NBR NM 52
(ABNT, 2009a), a qual prevê que a amostra com peso de 500 g deve ser seca em
estufa antes do ensaio. O conjunto do picnômetro, cujo frasco tem capacidade de 500
cm3, é pesado vazio e, depois, cheio de água, cuja temperatura deve ser monitorada
para permitir correção de sua densidade. Em seguida a areia seca é colocada no
frasco e o conjunto do picnômetro é montado. Pelo tubo de acesso ao conjunto,
paulatinamente adiciona-se água e agita-se lentamente o equipamento para eliminar
as bolhas de ar. Isso é repetido até o nível da água atingir a marcação de volume do
frasco. O conjunto é então pesado. A densidade da areia é obtida pela correlação
entre os resultados das pesagens efetuadas e os volumes conhecidos.
No estabelecimento da massa unitária da areia utilizou-se a NBR NM 45 (ABNT,
2006). Após pesar o recipiente a ser usado no ensaio, o mesmo deve ser preenchido
27

com areia até transbordar, evitando a segregação dos grãos que compõem a amostra.
A camada superficial do agregado deve ser nivelada e o conjunto pesado. A massa
unitária é obtida da relação entre o peso líquido da areia, excluída a tara do recipiente
utilizado, e o volume desse recipiente.

3.2.3 Cimento
Para a confecção do traço da argamassa é preciso conhecer a massa
específica e a granulometria do cimento a ser utilizado para que a mesma apresente
características típicas de uma autoadensável. De acordo com a norma NBR 16605
(ABNT, 2017a), para a realização do ensaio de massa específica a amostra de cimento
deve ser ensaiada como recebida. Caso existam corpos estranhos, é preciso
submetê-la a uma peneira # 150mm. Inicialmente deve-se encher o frasco com o
líquido não reagente com o cimento (usou-se o querosene) até uma marca entre 0 e
1cm³, usando funil de haste longa; e secar o colo do frasco volumétrico na parte acima
do nível do líquido com papel absorvente. O frasco deve ser colocado em banho de
água em uma temperatura ambiente por aproximadamente 30 minutos e feita a
primeira leitura. Após essa etapa deve ser colocada uma massa conhecida de cimento
suficiente para que tenha um deslocamento do líquido entre os intervalos 18 cm3 e 24
cm3 da escala do Le Chantelier, sendo sugeridos cerca de 60 g de cimento. Para
colocar a amostra de cimento dentro do frasco, deve ser usado um funil de haste curta,
fazendo isso em pequenas proporções e atentando para que não ocorra aderência de
cimento nas paredes internas do frasco. É importante que o frasco seja inclinado e
rotacionado suavemente a fim de garantir toda a saída de ar. Cessada a observância
de bolhas no líquido, o frasco é novamente colocado em banho de água por 30
minutos e após este tempo é feita novamente a leitura. A massa específica do cimento
é calculada pela divisão da massa de material utilizada no ensaio pela diferença das
alturas observadas nas duas leituras realizadas na escala do frasco de Chantelier. O
resultado deve ser a média de pelo menos dois ensaios em cujas massas específicas
obtidas que não difiram entre si por mais que 0,01 g/cm³.
Na caracterização física das partículas sólidas do cimento é utilizado o ensaio
de granulometria a laser. O ensaio não apresenta uma norma regente e é executado
por meio do granulômetro, que analisa a distribuição do tamanho das partículas da
amostra em pó por difração a laser. Pelo método via úmida, é posta uma massa de 5
mg do material disperso em líquido, o qual não é reagente com o cimento
28

(normalmente o álcool propílico), e um feixe de laser direcionado para partículas em


fluxo é difratado em vários ângulos, em função do tamanho de cada partícula. O
padrão de difração é detectado e interpretado pelo software do equipamento que
calcula o tamanho das partículas.

3.2.4 Metacaulim
Na verificação da adequação do metacaulim como substituto parcial do
cimento, também é realizada a caracterização física das partículas sólidas desse
insumo por granulometria a laser, nos mesmos moldes do descrito acima para o
cimento.

3.2.5 Óxido de grafeno


A maioria das informações sobre o óxido de grafeno obtido da NanoView para
este trabalho advêm de dados disponibilizados pela empresa em sua Ficha Técnica
de Nanomaterial (NANOVIEW, 2022). Trata-se de uma solução aquosa, produzida
pelo método de Hummers e Hoffman, apresentando entre 1 e 10 camadas, cada uma
com dimensão lateral da ordem de 5 𝞵m. Foram adquiridos 500 ml de solução na
concentração de 0,5% em peso por volume, como ilustra a Figura 7, o que resultou
em 2,5 g de óxido de grafeno disponível para os experimentos de caracterização e
uso nos traços cimentícios.
Figura 7 - Óxido de grafeno utilizado na pesquisa

Fonte: Autoria própria (2023)

Distintivamente dos trabalhos de Cardozo (2023) e de Greco (2023), que além


de analisarem o resultado de desempenho da argamassa autoadensável ante a
29

aplicação do óxido de grafeno, também se ativeram à caracterização do insumo em si


e às observações da interação intermolecular dele na pasta endurecida, esta pesquisa
não contou com essa segunda linha de estudos.
A única comparação feita com o óxido de grafeno usado por Cardozo (2023) e
Greco (2023) deu-se por intermédio de ensaio por Difração por Raio-X (DFR),
realizado no Laboratório de Caracterização Estrutural (LCE) da UNIFEI. Utilizou-se
para isso um difratômetro modelo X’Pert PRO, fabricado pela PANnalytical (Figura 8),
operando com o ângulo 2θ entre 10o e 80º e tempo de contagem de 1s. O comprimento
de onda (λ) de radiação monocromática da fonte de cobre tipo Cu K-Alfa1 é de

1,5406 Å.
Figura 8 - Difratômetro do LCE

Fonte: Greco (2023)

A distância interplanar (d) entre as nanofolhas de óxido de grafeno pode ser


obtida por intermédio da Equação 1, que descreve a Lei de Bragg (GOMES, 2014).
𝑛. 𝜆 = 2 . 𝑑. sin Ѳ (1)

Sendo:
- n: número de ondas do feixe de raio X aplicado à amostra, neste caso uma;
- λ: comprimento de onda da fonte utilizada pelo difratômetro (nm);

- d: distância interplanar entre camadas de material ensaiado (nm);


- : ângulo de difração onde ocorre a interferência construtiva (o).
30

Uma amostra de 40 ml do óxido de grafeno diluído em solução aquosa foi


colocada em uma placa de Petri e seca em estufa a 75º C durante 24 horas antes do
ensaio de DFR, como mostra a Figura 9.
Figura 9 - Preparação do óxido de grafeno para ensaio de DFR (antes e depois)

Fonte: Autoria própria (2023)

3.3 Dosagem de concretos e argamassas autoadensáveis


Esta pesquisa manteve por referência o método de dosagem proposto por
Gomes, Gettu e Agulló (GOMES, 2003), seguindo a linha de trabalhos anteriores
conduzidos na UNIFEI, como o de Werdine (2020) para concretos autoadensáveis e
o de Cardozo (2023) para argamassas autoadensáveis.

3.3.1 O Método de dosagem de Gomes, Gettu e Agulló


O método, ilustrado na Figura 10, é executado em três etapas e parte da
premissa de que a argamassa com características autoadensável pode ser obtida por
otimização da composição da pasta base e do esqueleto granular separadamente. Na
primeira etapa, a pasta otimizada é obtida a partir de experimentos que conduzam a
uma dosagem ideal entre o cimento (c) e as suas relações com a água (a/c), o filler
mineral (f/c) e o superplastificante (sp/c) utilizados. A segunda fase consiste na
determinação/otimização do esqueleto granular, com a proporção ideal de agregados
que promova menor volume de vazios. Finalmente, a terceira etapa refere-se à
mistura da pasta e do esqueleto granular obtidos nas fases anteriores, visando a
obtenção do volume de argamassa ideal para satisfazer as condições de resistência
e autoadensamento que devem estar presentes em uma mistura dessa natureza.
31

Figura 10 - Método de Gomes, Gettu e Agulló para obtenção de CAA

Fonte: Adaptado de Werdine (2020)

3.3.1.1 Composição da Pasta


A pasta composição da pasta é determinada quantidade de cimento (c) e dos
percentuais dos demais componentes em relação a ele: água (a/c); superplastificante
(sp/c); pozolanas (sf/c) no caso de uso de sílica ativa ou sílica fume, e filler (f/c).
Escolhe-se uma relação água/cimento em função da resistência desejada para
o concreto. A seguir, em função do tipo de pozolana utilizada em substituição ao
cimento define-se seu teor, com base nas indicações do fabricante, sendo usual variar
de 5 a 15% da quantidade do cimento.
Com as quantidades de cimento e água fixados, o processo de otimização é
iniciado estabelecendo-se uma relação inicial do filler (f/c) e de superplastificante
(sp/c), observando o comportamento da pasta obtida quanto à fluidez. O volume de
pasta ensaiado (Vp) nessa fase do processo é dado pela Equação 2.
𝐶 𝑃𝑎 𝑃𝑓 𝑃𝑠𝑓 𝑃𝑠𝑝𝑙 𝑃𝑎𝑠𝑝
𝑉𝑝 = + + + + − (2)
𝜌𝑐 𝜌𝑎 𝜌𝑓 𝜌𝑠𝑓 𝜌𝑠𝑝 𝜌𝑎

Onde:
𝑉 : volume de pasta (cm3);
32

𝐶: peso do cimento utilizado (g)


𝜌 : massa específica de cada componente na mistura (g/cm3);
𝑃 : peso de cada componente na mistura (g)

O processo de otimização da pasta é feito por meio de ensaios utilizando o


Cone de Marsh, ilustrado na Figura 11. O ensaio consiste em introduzir 1 litro de pasta
no dispositivo e medir o tempo decorrido para que 500 ml dela escoe pela abertura
inferior do cone. O tempo de fluxo representa o inverso da fluidez da pasta ensaiada.
Figura 11 - Cone de Marsh

Fonte: Werdine (2020)


Mantida a relação de filler (f/c) inicial, são feitos novos ensaios com diferentes
percentagens de superplastificante (sp/c), de forma a se obter uma curva de
desempenho onde se possa identificar o ponto de saturação desse componente.
Nesse ponto, um incremento da dosagem de superplastificante não provoca nenhuma
melhora significativa na fluidez da pasta.
O processo é repetido para novas percentagens de filler na pasta,
determinando-se para cada uma delas a dosagem de superplastificante que leva ao
ponto de saturação.
As pastas com diferentes relações de filler (f/c) e de superplastificante (sp/c)
acrescido até o ponto de saturação são ensaiadas quanto à habilidade de
espalhamento da pasta, por intermédio do ensaio do Cone de Kantro, um molde
tronco-cônico mostrado na Figura 12, que reproduz em miniatura o ensaio de
abatimento do concreto (Slump Test).
33

Figura 12 - Mini cone de Kantro

Fonte: Werdine (2020)


Nesse ensaio, mede-se o tempo que a pasta leva para atingir um diâmetro de
11,5 cm, denominado T115; e o diâmetro de espraiamento final da mesma pela média
aritmética de duas medidas perpendiculares entre si. A relação filler/cimento ótima da
pasta é aquela que apresenta um diâmetro de extensão final no Mini-cone de Kantro
de 18 ± 1 cm, e um tempo T115 no intervalo de 2 a 3,5 segundos.
Os ensaios de Cone de Marsh e de Kantro possibilitam determinar as relações
de filler (f/c) e de superplastificante (sp/c) que geram pastas com alta fluidez e sem
segregação de materiais.

3.3.1.2 Definição do Esqueleto Granular


O esqueleto granular é a composição de agregados graúdos e miúdos que
constituem o concreto, ou seja, a relação areia/brita a ser utilizada. Para os concretos
autoadensáveis, deve se buscar uma mistura de agregados com o menor teor de
vazios possível, o que pode levar a um teor de pasta mínimo, baixa porosidade e
retração na argamassa, conferindo viscosidade e fluidez ao material obtido.
A composição do esqueleto granular é obtida experimentalmente. O processo
consiste determinar a densidade aparente de várias combinações de misturas de
agregados previamente caracterizados, colocados em um recipiente sem
compactação. A partir dos dados dos agregados, das densidades e dos pesos de cada
componente, determina-se o peso unitário e o volume de vazios de cada mistura
ensaiada. Escolhe-se para o esqueleto granular a mistura areia/brita com a maior
densidade e menor teor de vazios (GOMES; BARROS, 2009).
34

3.3.1.3 Definição do traço


A partir da pasta escolhida e do esqueleto granular selecionado, a massa do
cimento é determinada pela Equação 3 (GOMES; BARROS, 2009).
𝑉𝑝
𝐶=
𝑠𝑝 100 𝑠𝑝 100
(3)
1 𝑎/𝑐 𝑓/𝑐 𝑠𝑓/𝑐 𝑐 .(𝑇 ) 𝑐 .[ 𝑇 − 1]
𝜌𝑐 + 𝜌𝑎 + 𝜌𝑓 + 𝜌𝑠𝑓 + 𝜌𝑠𝑝 − 𝜌𝑎
Onde:
𝐶: peso do cimento utilizado (kg);
𝑉 : volume de pasta estabelecido previamente (m3);
𝜌 : massa específica de cada componente na mistura (kg/m3);
𝑃 : peso de cada componente na mistura (kg)
𝑇 : teor de sólido no superplastificante (%)

Estabelecidas a composição da pasta e a relação de agregados, para definir a


composição do concreto é preciso estabelecer o conteúdo da pasta por volume. Para
isso, ensaios são desempenhados na argamassa por meio da variação do volume de
pasta a fim de determinar as propriedades necessárias que satisfaçam os requisitos
exigidos de um concreto autoadensável. Esses requisitos são observados nos ensaios
que constatem a capacidade de preenchimento (Conde de Abrahams e Funil-V), a
capacidade de passagem entre armaduras (Caixa-L) e ausência de segregação do
concreto (Tubo-U).

3.3.2 Traços utilizados como referência inicial


O trabalho de Cardozo (2023), tomado como ponto de partida para esta
pesquisa, baseou-se em estudos anteriores feitos no âmbito da UNIFEI. Foi utilizado
como referência um traço desenvolvido segundo a metodologia de Gomes, Gettu e
Agulló (GOMES, 2003) com a mistura de cimento e metacaulim a uma areia média,
na proporção aproximada de 1:1,75. As quantidades de água (500 g) e de
superplastificante (22,74 g) foram mantidas constantes em todos os experimentos
realizados. O óxido de grafeno (OG) obtido por doação do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), em quantidade limitada aos ensaios que se pretendia
fazer, permitiu confeccionar argamassas com aditivação de 0,05% e 1,5% desse
35

material. A Tabela 2 detalha os insumos utilizados em cada dosagem feita naquele


trabalho.
Tabela 2 - Dosagem dos materiais utilizados por Cardozo
mistura cimento (g) OG (g) metacaulim (g) areia (g)
0% 1203,00 0,00 60,07 2219,82
0,05% 1232,37 0,63 59,44 2339,82
0,15% 1201,11 1,89 58,18 2219,82
Fonte: Cardozo (2023)
Para a presente pesquisa, além da mudança de fornecedor do óxido de
grafeno, a aquisição de um novo lote de areia, com características granulométricas
distintas da utilizada por Cardozo (2023), permitiu antever que poderia haver influência
desses parâmetros na formulação da argamassa autoadensável.

3.4 Caracterização da argamassa


As argamassas estudadas foram ensaiadas logo após o preparo, ainda no
estado fresco; e depois do período de cura por 28 dias imersas em água, no estado
endurecido. Os corpos de prova utilizados neste trabalho foram moldados em cilindros
metálicos com diâmetro de 5 cm e altura de 10 cm (dimensões nominais).

3.4.1 Caracterização da argamassa no estado fresco


No estado fresco as argamassas foram submetidas aos ensaios de Slump flow
Test e do Funil V, ambos descritos por Gomes e Barros (2009); e de massa específica
baseado na NBR 9833 (ABNT, 2008).

3.4.1.1 Ensaio Slump Flow Test


Esse ensaio destina-se a medir a consistência do concreto em estado fresco,
verificando sua trabalhabilidade e fluidez.
Para a execução do ensaio é necessário um cone metálico, com diâmetros
superior e inferior iguais a 70 e 10 mm respectivamente, e altura de 60 mm. A
argamassa é colocada no cone até completar o volume, sem que sejam realizados
golpes para adensamento. A seguir o cone é levantado perpendicularmente à placa
base de modo que permita que a mistura flua sobre ela, como mostra a Figura 13.
Após o espalhamento da argamassa, mede-se o diâmetro em duas direções
perpendiculares entre si (GOMES, BARROS, 2009).
36

Figura 13 - Ensaio Slump Flow

Fonte: Autoria própria (2023)

3.4.1.2 Ensaio do Funil V


O ensaio do Funil V é utilizado para se determinar a fluidez e verificar a
presença de segregação. O teste consiste em medir o tempo em que uma amostra de
argamassa necessita para fluir totalmente através da abertura do funil. Para ser
realizado é preciso de um funil em forma de V com dimensões padronizadas, um
recipiente e um cronômetro. O dispositivo é posicionado verticalmente em uma
superfície plana e regular, com a sua abertura nivelada horizontalmente. Um recipiente
é colocado abaixo do orifício fechado do funil de modo que retenha a argamassa
passante, como ilustra a Figura 14. Então o funil é preenchido por completo com a
mistura cimentícia, sem aplicar nenhuma compactação ou adensamento. Espera-se
15 segundo para abrir a porta de saída do funil. Nesse momento o cronômetro é
disparado e desligado quando for possível visualizar pela parte superior o orifício de
passagem inferior completamente desobstruído (GOMES, BARROS, 2009).
Figura 14 - Ensaio Funil V

Fonte: Werdine (2021)


37

3.4.1.3 Ensaio de massa específica da argamassa


Haja vista não ter sido identificada norma específica para argamassas
autoadensáveis, utilizaram-se os conceitos descritos na NBR 9833 (ABNT, 2008) para
se determinar a massa específica, o índice de vazios e o teor de ar aprisionado na
pasta em estado fresco.
Ressalta-se que, além das dimensões diferentes dos corpos de prova previstos
na NBR 9833 (ABNT, 2008), também não houve o adensamento da argamassa, uma
vez que tratar-se de uma pasta com características autoadensável.
Inicialmente, pesa-se um cilindro de moldagem do corpo de prova, que possui
diâmetro de 5 cm e altura de 10 cm (dimensões nominais). Na sequência, após o
preparo da argamassa autoadensável, esse cilindro é enchido até a borda com a pasta
e pesado novamente para se determinar a massa da argamassa nele contida.
A massa específica, o rendimento, o índice de ar e o teor de ar da argamassa
no estado fresco podem ser calculados pelas Equações 4, 5, 6, 7 e 8 respectivamente.

𝑚
𝜌𝑎𝑝 = (4)
𝑉
.
𝑚𝑐 𝑚𝑓 𝑚𝑠𝑝 𝑚𝑎 𝑚𝑎𝑔 (5)
𝑉𝑡 = + + + +
𝜌𝑐 𝜌𝑓 𝜌𝑠𝑓 𝜌𝑎 𝜌𝑎𝑔

(𝑚𝑐 + 𝑚𝑓 + 𝑚𝑠𝑝 + 𝑚𝑎 + 𝑚𝑎𝑔)


𝑅= (6)
𝜌𝑎𝑝

𝑅
𝐼𝑎 = (7)
𝑉𝑡

1
𝐴= 1− . 100 (8)
𝐼𝑎

Sendo:
- 𝜌𝑎𝑝: massa específica aparente da argamassa (g/ cm³);
- m: massa de argamassa (g);
- V: volume do cilindro (cm³);
- R: rendimento (cm³);
- mc, 𝜌c: massa e massa específica de cimento da mistura (g);
- mf, 𝜌f: massa e massa específica de filler da mistura (g);
38

- ma, 𝜌a: massa e massa específica de agregado miúdo da mistura (g);


- msp, 𝜌sp: massa e massa específica de superplastificante na mistura (g)
- mag, 𝜌ag; massa e massa específica de água adicionada à mistura (g);
- Ia: índice de ar presente na mistura (%);
- Vt: volume total dos componentes da mistura (cm³);
- A: teor de ar da argamassa (%).

3.4.2 Caracterização da argamassa no estado endurecido


Após o tempo de cura de 28 dias imersos em água, os corpos de provas foram
submetidos a ensaios Módulo de Elasticidade Dinâmico, de Compressão Axial e de
Flexão por Compressão Axial, sendo os dois últimos de caráter destrutivo.

3.4.2.1 Ensaio de Módulo de Elasticidade Dinâmico


Esse ensaio, normatizado pela NBR 8522, Parte 2 (ABNT, 2021) fornece
informações a respeito da deformação elástica e da resistência da argamassa quando
submetida a uma tensão, sem precisar romper o corpo de prova. Por essa
característica, esse ensaio precede os demais. A técnica consiste em apoiar o corpo
de prova, previamente mensurado e pesado, nas linhas nodais do modo de vibração
flexional e aplicar uma excitação por impacto, captando a resposta acústica e
processando a mesma para a identificação da frequência de ressonância, e assim
calcular o módulo de elasticidade dinâmico. O cálculo correlaciona o módulo com a
geometria, as dimensões, a massa, o coeficiente de Poisson e a frequência de
ressonância. O ensaio foi realizado utilizando equipamento da empresa ATCP
Engenharia Física, uma divisão do SONELASTIC. O dispositivo de ensaio, ilustrado
na Figura 15 é composto pelo suporte ajustável para barras e cilindros SA-BC
acoplado a um computador industrial com o software ATCP SONELASTIC 6.0. Os
sons resultantes de aplicação da haste de ensaios no corpo de prova são captados
pelos microfones do computador e tratado pelo software, gerando relatório de
desempenho da argamassa endurecida.
39

Figura 15 - Ensaio de Módulo de Elasticidade Dinâmico

Fonte: Autoria própria (2023)

3.4.2.2 Ensaio de Compressão Axial


Para se obter a resistência da argamassa em estado endurecido à compressão
axial foi realizado o ensaio regido pela norma NBR 5739 (ABNT, 2018), utilizando uma
máquina universal para ensaios mecânicos, marca TIME testing machines, modelo
WAW-1000C. Preliminarmente, após a retirada da cura úmida, os corpos de prova
foram retificados nas extremidades a fim de reparar imperfeições e nivelar a base para
a execução do ensaio.
Em seguida, foram mensurados o diâmetro e altura de cada corpo de prova.
Os valores encontrados são inseridos no software da máquina de testes. O corpo de
prova é centralizado no prato inferior da máquina de ensaio, usando como referência
as marcações circulares concêntricas ali existentes. Finalizada essa etapa, o ensaio
se dá com a aplicação de um carregamento contínuo e uniforme até que se verifique
a ruptura do corpo de prova, momento em que é registrada a força necessária para
que isso ocorra. A resistência a compressão é calculada com base na força máxima
alcançada no ensaio e a área da seção reta do corpo de prova. A Figura 16 ilustra o
ensaio.
40

Figura 16 - Ensaio de Compressão Axial

Fonte: Autoria própria (2023)

3.4.2.3 Ensaio de Tração por Compressão Diametral


Este ensaio, conduzido segundo a NBR 7222 (ABNT, 2011), é similar ao Ensaio
de Compressão Axial no que diz respeito ao preparo da amostra e ao equipamento
utilizado, uma máquina universal para ensaios mecânicos.
Os corpos de prova retificados e mensurados são posicionados
horizontalmente na máquina universal, com uma tira de madeira na face superior e
outra na face inferior, visando manter a estabilidade da amostra durante o ensaio,
como mostra a Figura 17. Após o posicionamento do corpo de prova e das tiras, o
êmbolo de teste da máquina é ajustado até que seja obtida uma compressão capaz
de manter o posicionamento do corpo de prova. Por fim, a carga é aplicada
continuamente, até a ruptura.
Figura 17 - Ensaio de Tração por Compressão Diametral

Fonte: Autoria própria (2023)


41

A resistência à tração por compressão diametral é obtida por uma relação entre
a força de ruptura e as dimensões do corpo de prova, como mostra a Equação 9.
2∙𝐹
𝑓 , = (9)
𝜋∙𝑑∙𝑙

Onde:
𝑓 , : resistência à tração por compressão diametral (MPa);
𝐹: força máxima obtida no ensaio (N);
𝑑: diâmetro do corpo de prova (mm);
𝑙: comprimento do corpo de prova (mm).
42

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização dos materiais


4.1.1 Caracterização dos materiais finos
Esta pesquisa utilizou o mesmo tipo de cimento e de metacaulim do trabalho
feito por Cardozo (2023), adotando-se para cálculos os parâmetros encontrados nos
ensaios conduzidos à época.
Os resultados dos testes de massa específica feitos por Cardozo (2023) estão
listados na Tabela 3.
Tabela 3 - Caracterização dos finos
Material Massa específica (g/cm3)
cimento CP II F 32 2,99
metacaullim 2,56
Fonte: Cardozo (2023)

A caraterização dos finos pelo método de granulometria a laser, cujo resultado


consta da Figura 18, levou Cardozo (2023) e considerar viável substituir uma parcela
do cimento pelo metacaulim nas dosagens de argamassa que estudou. Esse
entendimento foi mantido nesta pesquisa.

Figura 18 - Ensaio de granulometria a laser dos finos

Fonte: Cardozo (2023)


43

4.1.2 Caracterização do superplastificante


O único parâmetro desse insumo utilizado neste trabalho, sua massa específica
de 1,055 g/cm3, foi obtido das informações do fabricante (ADITIBRAS, 2021).

4.1.3 Caracterização do agregado miúdo


No que concerne à areia, o material utilizado por Cardozo (2023) havia se
esgotado, dispondo o laboratório de areias oriundas de outros fornecedores para este
trabalho. Isso demandou na necessidade de se proceder à caracterização desses
novos lotes de areias.
Para evitar a introdução de correções no teor de água das argamassas,
advindas da umidade existente na areia, esses agregados são caracterizados secos
em estufa à temperatura de 105º C, por um período de 24 horas.
As curvas granulométricas apresentadas na Figura 19 mostram que apesar das
areias média e fina disponíveis possuírem granulometria dentro dos limites da Zona
Utilizável, a areia empregada por Cardozo (2023) tinha características mais próxima
à Zona Ótima (ABNT, 2022b).
Figura 19 - Análise granulométrica das areias

Fonte: Autor (2023)

Observa-se na Tabela 4 a comparação entre os Módulos de Finura (MF) e as


massas específicas das areias ensaiadas, constando-se que a areia média utilizada
44

neste trabalho se aproxima das areias grossas (MF > 2,9), de acordo com a NBR 7211
(ABNT, 2022b).
Tabela 4 - Caracterização das areias
Areia Módulo de Finura (MF) Massa específica (g/cm3)
Média - Cardozo (2023) 2,63 2,58
Média - novo lote 2,73 2,54
Fina - novo lote 2,16 2,45
Fonte: Autor (2023)

4.1.4 Caracterização do óxido de grafeno


O óxido de grafeno utilizado neste trabalho foi submetido ao ensaio de Difração
por Raio-X no Laboratório de Caracterização Estrutural (LCE) da UNIFEI. Por
orientação do LCE, a amostra foi seca em estufa a 75oC por 24 horas.
Verifica-se na Figura 20 que a amostra gerou um pico de magnitude 46.000 no
ângulo de difração 2θ de 2,3º. Haja vista que o comprimento de onda (λ) de radiação

monocromática da fonte de cobre tipo Cu K-Alfa1 do equipamento é de 1,5406 Å, pela


Lei de Bragg é possível estimar que a distância entre as lâminas de óxido de grafeno
da amostra ensaiada é de 3,84 nm (38,4 Å).
Figura 20 - Difratograma do óxido de grafeno da NanoView

Fonte: LCE UNIFEI (2023)

O óxido de grafeno utilizado os trabalhos de Cardozo (2023) e de Greco (2023),


era proveniente do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Duas amostras daquele
material também foram caracterizadas pelo Difratômetro do LCE e os resultados dos
dois ensaios analisados por Greco (2023). Uma das amostras foi seca em estufa a
45

60oC por 48 horas e outra, ao ar livre por 72 horas. Para efeito de comparação com
esta pesquisa, o resultado da amostra de óxido de grafeno do INPE seca em estufa é
mostrado na Figura 21.
Figura 21- Difratograma do óxido de grafeno do INPE

Fonte: LCE UNIFEI (2023)

Essa amostra gerou no difratômetro um pico proeminente de magnitude 46.000


no ângulo de difração 2θ de 9,22º. De acordo com a Lei de Bragg, a distância
interlamelar do óxido de grafeno contido nessa amostra é de 0,96nm (9,6 Å).
A Tabela 5 sintetiza a comparação dos resultados das amostras dos dois tipos
de óxido de grafeno ensaiados pelo LCE.

Tabela 5 - Comparação entre amostras de óxido de grafeno


Amostra pico 2θ d (nm)
Literatura (GRECO, 2023) 0,82 a 1,36
INPE – seca ao ar livre 72h 46.000 9,36o 0,94
INPE – seca em estufa 60oC/48h 46.000 9,22o 0,96
NanoView – seca em estufa 75oC/24h 46.000 2,30o 3,84
Fonte: Autoria própria (2023)
Segundo Greco (2023), o óxido grafeno advindo do INPE possui distância
interlamelar dentro do intervalo previsto pela literatura. Isso não se observou no óxido
de grafeno fornecido pela empresa NanoView. Não foi possível determinar se a
disparidade de resultados entre as duas amostras teve relação com as condições de
preparo para o ensaio de Difração por Raio-X.
46

4.2 Dosagem inicial


Os experimentos iniciais deste trabalho tentaram reproduzir uma argamassa
autoadensável com o desempenho similar àquela utilizada por Cardozo (2023) em
seu traço de controle. Esse traço, que não incluía o óxido de grafeno em sua
composição, contava em relação ao cimento com areia média na proporção 1:1,76;
metacaulim na percentagem de 5% do cimento; superplastificante a 1,8% dos finos; e
relação água/cimento de 0,40%.
Para avaliar o desempenho da argamassa de controle que se almejava, foram
feitos ensaios em estado fresco do material produzido em cada tentativa. Nos traços
que se mostraram mais promissores foram moldados corpos de prova para cura em
água no prazo de 28 dias e execução de ensaios no estado endurecido.

4.2.1 Traços experimentais da dosagem inicial


Foram realizados 12 (doze) experimentos, todos usando a areia média do novo
lote disponível, com 1203 g de cimento e 60,07 g de metacaulim, tentado reproduzir
os resultados alcançados por Cardozo (2023) em seu traço de referência. Mantidas
as massas de cimento e de metacaulim, variaram-se teores de areia, do
superplastificante e de água, como mostra a Tabela 6.
Tabela 6 - Traços da dosagem inicial da argamassa autoadensável
Experimento Areia média (g) SP (g) Água (g) relação a/c
exp 1 2219,82 22,74 500,00 0,40
exp 2 2219,82 22,74 470,00 0,37
exp 3 2219,82 22,74 416,81 0,35
exp 4 2219,82 22,74 416,81 0,33
exp 5 2219,82 18,75 416,81 0,33
exp 6a) a 6g) 2219,82 22,74 387,92 a 454,70 0,33 a 0,36
exp 7 2219,82 22,74 442,07 0,35
exp 8 2219,82 22,74 429,44 0,34
exp 9 a) 2219,82 25,26 429,24 0,34
exp 9 b) 2219,82 25,26 435,76 0,345
exp 10 2147,22 22,74 435,76 0,345
exp 11 2185,40 22,74 435,76 0,345
exp 12 2219,82 22,74 435,76 0,345
Fonte: Autoria própria (2023)
47

Nos experimentos no 1 e no 2, a argamassa mostrou-se muito fluida e


apresentou uma camada na parte superior dos corpos de prova, indicando
segregação de componentes, como visto na Figura 22.
Figura 22 - Segregação de componentes na argamassa

Fonte: Autoria própria (2023)


Essa não conformidade pôde ser atribuída à uma baixa homogeneização dos
insumos na preparação da argamassa.
Verificou-se que no trabalho “Uso de materiais impermeabilizantes nem
compósitos cimentícios” (SILVA, 2023) o ajuste de procedimentos na preparação da
mistura se mostrou adequado ao que se almejava para o desempenho da argamassa.
Esses procedimentos, descritos na Tabela 7, foram adaptados para uso neste trabalho
fazendo com que a segregação de insumos não ocorresse mais.
Tabela 7 - Preparação da argamassa
Tempo (s) Procedimentos
- homogeneizar manualmente os insumos secos
- adicionar 70% água e mexer manualmente
- ir mexendo ao adicionar o restante da água e o superplastificante
120 bater a mistura na velocidade 1 (baixa) da argamassadeira
180 bater a mistura na velocidade 2 (alta) da argamassadeira
120 deixar a mistura em repouso
60 bater a mistura na velocidade 2 (alta) da argamassadeira
Fonte: Silva (2023), adaptado.
48

Tendo em vista a fluidez observada na argamassa, o parâmetro principal de


ajuste nos experimentos subsequentes aos iniciais (experimentos no 1 e no 2) foi a
relação água/cimento que de 0,40% foi sendo minimizada até o valor de 0,33%
(experimentos no 4, no 5 e no 6 a) ) e acabou se fixando em 0,345% (experimentos no
9 b), no 10 a no 12). O superplastificante foi alterado para menor (18,95 g) no
experimento no 5 e para maior (25,26 g) nos experimentos no 9 a) e 9 b). Por fim, nos
experimentos no 10 e 11 alterou-se a quantidade de areia para menor da que vinha
sendo usado.
Na sequência podem ser observados os resultados dessas alterações na
tentativa de reproduzir o desempenho do traço de referência utilizado como base para
o trabalho de Cardozo (2023).

4.2.2 Ensaios da argamassa inicial no estado fresco


A Tabela 8 mostra o resultado do desempenho das argamassas frescas nos
diferentes experimentos realizados.
Tabela 8 - Ensaio de argamassa no estado fresco
Experimento Mini Funil V (s) Espalhamento (mm)
Literatura (MELO, 2005) 3 a 10 220 a 280
Cardozo (2023) 8,36 276,7
exp 1 6,00 305
exp 2 10,50 278
exp 3 10,60 285
exp 4 16,50 280
Exp 5 35,00 268
exp 6a) a 6g) 12,90 265
exp 7 10,20 290
exp 8 11,60 290
exp 9 a) 13,00 não medido
exp 9 b) 10,38 287,5
exp 10 10,03 295
exp 11 11,66 293
exp 12 11,40 295
Fonte: Autoria própria (2023)
49

O superplastificante por exemplo, teve sua proporção diminuída de 1,8% em


relação ao cimento para 1,5% no experimento no 5, o que resultou em um tempo de
escoamento da argamassa no funil V muito maior que o observado no experimento no
4, desaconselhando a prosseguir no ajuste com essa medida. No outro sentido, a
percentagem de superplastificante foi aumentada de 1,8% em relação ao cimento para
2% no experimento no 9 a), resultando em tempo de escoamento da argamassa maior
que o admitido na literatura (10s). A adição de mais água nesse mesmo traço,
registrado com experimento 9 b), fez com que o tempo de escoamento da argamassa
baixasse para valor mais próximo do limite admitido, o que aconteceu também com o
teste de espalhamento (280mm).
Nos experimentos no 10 e no 11 houve uma pequena diminuição da quantidade
de areia, o que resultou em valores de espalhamento bem maiores que os observados
até então, aconselhando a não prosseguir com essa linha de ajustes.
Por fim, o experimento no 12 utilizou areia úmida ao invés de areia seca como
nos anteriores. A umidade da areia foi avaliada pelo método de secagem em estufa
como sendo de 4,47% e o teor de água foi equalizado na quantidade a ser adicionada
no preparo da argamassa. Os resultados de desempenho foram idênticos ao
experimento no 11, indicando ser indiferente usar a areia seca ou úmida, desde que
sejam tomados cuidados na dosagem para a apropriação da água retira na areia.
A Tabela 8 mostra que todos os experimentos conduzidos não lograram êxito
em atingir os parâmetros especificados para as argamassas frescas ditas
autoadensáveis.
Não se identificou outra causa provável para o insucesso que não fosse a
utilização de uma areia com características diferentes daquela empregada por
Cardozo (2023).

4.2.3 Ensaios da argamassa inicial no estado endurecido


Mesmo sem ter conseguido reproduzir argamassa com características no
estado fresco aceitáveis para as ditas autoadensáveis, foram moldados corpos de
prova com diâmetro de 5 cm e altura de 10 cm nos experimentos no 4, no 5, no 7 e no
9 b), a fim de serem submetidos, após a cura de 28 dias em água, aos ensaios de
compressão descritos na NBR 5739 (ABNT, 2018) e de determinação do módulo de
elasticidade previstos na NBR 8522-Parte 2 (ABNT, 2021). Esses tipos de ensaios
foram conduzidos por Cardozo (2023), que recomendou serem executados em
50

trabalhos dessa natureza, também os ensaios da determinação da resistência à tração


por compressão diametral de corpos de prova cilíndricos (ABNT, 2011).
A Tabela 9 registra os resultados obtidos nos ensaios realizados,
comparativamente aos dados obtidos por Cardozo (2023).
Tabela 9 - Ensaios na argamassa inicial no estado endurecido
Ensaio Compressão Mód. Elast. Dinâmico Tração por compressão
Cardozo (2023) 38,80 MPa 30,80 GPa não realizado
exp 4 55,40 MPa 35,43 GPa 4,33 MPa
exp 5 42,53 MPa 34,19 GPa 5,05 MPa
exp 7 55,05 MPa 37,87 GPa 3,81 MPa
exp 9 b) 53,41 MPa 37,15 GPa 3,51 MPa
Fonte: Autoria própria (2023)
Nos experimentos no 4, 7 e 9b) houve aumento significativo (mais de 40%) em
relação aos resultados do ensaio de compressão obtidos por Cardozo (2023), o que
é coerente com a diminuição da relação água cimento. Isso já não foi observado no
experimento no 5, que teve o percentual de superplastificante reduzido de 1,8% para
1,5%.

4.3 Dosagem teórica-experimental


Haja vista não ter se obtido êxito em reproduzir a pasta utilizada no trabalho de
Cardozo (2023), foi necessário partir para a formulação de uma nova argamassa
autoadensável.
Analisando as causas prováveis para esse insucesso inicial à luz do Método de
Gomes, Gettu e Agulló (2003), o problema poderia estar tanto na definição da pasta,
quanto do esqueleto granular, etapas que antecedem à definição da argamassa
propriamente dita. Observou-se que a pasta utilizada por Cardozo (2023) estava muito
rica em cimento usando a relação de 1:1,76 do agregado miúdo.
Em função da mudança das características da areia disponível, mais grossa
que a anterior, o esqueleto granular adotado poderia não estar respondendo
adequadamente no preenchimento do índice de vazios da argamassa.
As equações apresentadas no Método de Gomes, Gettu e Agulló (2003) foram
inseridas em planilhas eletrônicas, o que auxiliou a simular a dosagem de
componentes em misturas de argamassas com características autoadensáveis.
51

Ainda sem utilizar o óxido de grafeno em sua composição, na nova argamassa


a proporção de areia no traço foi alterada, passando de 1:1,76 do cimento para 1:2,51.
O percentual de metacaulim subiu de 5% para 10% do cimento, e o de
superplastificante foi reduzido de 1,8% para 0,3%. A relação água-cimento foi adotada
inicialmente como 0,40.
Em cada experimento foram feitos ensaios de controle da argamassa no estado
fresco por intermédio de teste do Funil V e do cone de espalhamento (mini slump).

4.3.1 Traços experimentais da dosagem teórica-experimental


Ante o comportamento ainda insatisfatório da argamassa em estado fresco,
observado nas dosagens iniciais (experimentos no 13 a), 13 b), 13 c), 13 d) e 14), foi
cogitada a mistura de uma areia fina à areia grossa que estava sendo utilizada,
alterando o esqueleto granular da composição. Isso foi feito nos experimentos no 15,
16 a) e 16 b) e, aliado a alguns ajustes na quantidade de cimento e de metacaulim
(mc), bem como nos teores de superplastificante (sp) e de água, obteve-se o resultado
almejado para a argamassa autoadensável. A Tabela 10 consolida os experimentos
realizados nessa fase do trabalho.
Tabela 10 - Traços da argamassa teórica-experimental (em gramas)
Exp. cimento mc areia média + fina sp água a/c
exp 13 a) 1065,48 106,55 2959,97 + 0,00 35,65 450,98 0,38
exp 13 b) 1065,48 106,55 2959,97 + 0,00 35,65 490,98 0,42
exp 13 c) 1065,48 106,55 2959,97 + 0,00 35,65 500,98 0,43
exp 13 d) 1065,48 106,55 2959,97 + 0,00 35,65 510,98 0,44
exp 14 1032,86 103,29 2959,97 + 0,00 34,43 516,72 0,45
exp 15 1032,86 103,29 1418,59 + 1432,68 34,43 516,72 0,45
exp 16 a) 1031,25 103,13 1418,59 + 1432,68 38,67 504,14 0,44
exp 16 b) 1031,25 103,13 1418,59 + 1432,68 38,67 544,14 0,48
Fonte: Autoria própria (2023)

4.3.2 Ensaios da argamassa teórica-experimental no estado fresco


A Tabela 11 mostra o resultado do desempenho da argamassa teórico-
experimental nos diferentes experimentos realizados.
52

Tabela 11 - Ensaios de estado fresco na argamassa teórico-experimental


Experimento Mini Funil V (s) Espalhamento (mm)
Literatura (MELO, 2005) 3 a 10 220 a 280
exp 13a) não observado não observado
exp 13b) 26,28 não observado
exp 13c) 19,24 200
exp 13d) 16,30 220
exp 14 12,00 232,5
exp 15 14,00 242,5
exp 16a) 16,28 -
exp 16b) 7,00 265
Fonte: Autoria própria (2023)
É possível observar que os ajustes feitos foram levando à convergência dos
parâmetros de tempos de escoamento da pasta no Funil V e do diâmetro de
espalhamento aos valores recomendados pela literatura para as argamassas
autoadensáveis. O experimento no 16b) foi adotado como traço de controle para a
continuidade dos trabalhos.

4.4 Dosagem com óxido de grafeno


A partir da obtenção do traço de controle (0% de OG), foram feitos três traços
de argamassa com a incorporação de óxido de grafeno (OG)em sua composição.
Haja vista que Cardozo (2023) utilizou percentuais de 0,05% e de 0,15% de
óxido de grafeno em suas pastas, não obtendo resultados significativos no maior
percentual, optou-se por utilizar neste trabalho 0,03%, 0,05% e de 0,10% desse
componente em relação ao cimento. Em cada dosagem, o óxido de grafeno somado
ao metacaulim manteve-se como sendo 10% da massa do cimento.

4.4.1 Traços com óxido de grafeno


Em suas conclusões, o trabalho de Cardozo aponta que o uso de óxido de
grafeno na proporção de 0,15% da massa do cimento teve resultados muito aquém
do esperado, recomendando usar teores abaixo disso, o que foi seguido neste
trabalho. Em todos os traços foram usadas as 1031,25 g de cimento, as 38,67 g de
superplastificante e a composição de areia média e fina (1418,59 + 1432,65 g) fixadas
para o traço de referência. A incorporação do óxido de grafeno, nas proporções de
53

0,03%, 0,05% e 0,10% da massa do cimento se deu por substituição de uma parcela
da massa de metacaulim. No quesito água, foi levada em conta em cada dosagem a
quantidade desse insumo presente na solução aquosa de óxido de grafeno.
Tabela 12 - Traços de argamassa com óxido de grafeno
mistura. cimento (g) metacaulim + OG(g) água (g) água/cimento
0,00% OG 1031,21 103,13 + 0,00 544,14 0,48
0,03% OG 1031,21 102,82 + 0,31 544,14 0,48
0,05% OG 1031,21 129,61 + 0,52 544,14 0,47
0,10% OG 1031,21 102,10 + 1,03 544,14 0,48
Fonte: Autoria própria (2023)
Há de se registrar que no traço com 0,05% de óxido de grafeno houve um
equívoco na pesagem do metacaulim, fazendo com que 27g a mais desse
componente fosse incorporada na argamassa. De 10% da massa do cimento, o
percentual de metacaulim e óxido de grafeno subiu para 12,6%, reduzindo a relação
água-cimento de 0,505 para 0,494.
No dia 16 de agosto de 2023 foi estabelecido o traço de referência e nos dias
17 e 18 daquele mês foram feitas as três argamassas com adição de óxido de grafeno.
No total, foram moldados oito corpos de prova em cada dosagem, totalizando 32
amostras.

4.4.2 Ensaios da argamassa com óxido de grafeno no estado fresco


A Tabela 13 mostra o resultado do desempenho da argamassa com óxido de
grafeno em diferentes proporções.
Tabela 13 - Ensaio em estado fresco de argamassa com óxido de grafeno
Experimento Mini Funil V (s) Espalhamento (mm)
Literatura (MELO, 2005) 3 a 10 220 a 280
0,00% OG 7,00 265
0,03% OG 7,90 255
0,05% OG 9,65 257
0,10% OG 10,01 265
Fonte: Autoria própria (2023)
Como mencionado anteriormente, a quantidade a mais do que a prevista de
metacaulim no traço com 0,05% de óxido de grafeno pode ter contribuído para que o
tempo de escoamento da argamassa no teste do Funil V registrasse valor elevado, se
54

comparado à mistura com 0,03% desse insumo. No teste de espalhamento esse


comportamento não foi observado.
Verifica-se que os parâmetros de tempo de escoamento e de espalhamento
ficaram dentro dos limites da literatura para as argamassas autoadensáveis.
Determinou-se, também no estado fresco a massa específica, o índice de
vazios e o teor de ar em três amostras de cada uma das dosagens ensaiadas,
somando 12 amostras, com os resultados comentados na sequência.
Na Figura 23 observa-se que, na comparação com o traço de referência, a
massa específica das argamassas no estado fresco variou para menor em todos os
traços, sem chegar, no entanto, a 2% no menor valor, com a adição de 0,10% de óxido
de grafeno. Nesse ensaio, apesar de registrar desvio-padrão de 21,92 na dosagem
de 0,10% de óxido de grafeno, no geral o coeficiente de variação não atingiu 1%,
indicando comportamento muito homogêneo das amostras.
Figura 23 - Massa específica no estado fresco

Fonte: Autoria própria (2023)


55

Verifica-se na Figura 24 que o índice de vazios no estado fresco das amostras


com adição de óxido de grafeno aumentou em relação ao traço de referência. O
coeficiente de variação desses ensaios não chegou a 1%, indicando uma grande
homogeneidade das amostras.

Figura 24 - Índice de vazios no estado fresco

Fonte: Autoria própria (2023)

Em termos absolutos, um teor de até 4 % de ar aprisionado nas argamassas e


concretos autoadensáveis é normal, não resultando no comprometimento das
propriedades de resistência no estado endurecido (METHA, 2008, apud SARTORI,
2021, p. 76).
Os cálculos relacionados ao teor de ar aprisionado em cada amostra do estado
fresco Figura 25, indicam o crescimento desse fator com o aumento da dosagem de
óxido de grafeno, na comparação com a amostra de referência. O valor de 7.55% na
amostra com 0,10% de óxido de grafeno pode explicar por que a resistência no estado
endurecido não atingiu um valor mais elevado. O coeficiente de variação dos ensaios
variou de: 60% na amostra de referência; 11% na amostra com 0,03% de óxido de
grafeno; 25% na amostra com 0,05% e 12,7% na amostra com 0,10% de óxido de
grafeno. Esses números indicam uma alta dispersão na amostra de referência, uma
dispersão média na amostra com 0,05% de óxido de grafeno e baixa dispersão nas
demais amostras.
56

Figura 25 - Teor de ar no estado fresco

Fonte: Autoria própria (2023)

4.4.3 Ensaios da argamassa com óxido de grafeno no estado endurecido


Após período de 28 dias de cura úmida, os corpos de prova foram submetidos
aos Ensaios de Compressão Axial, de Módulo de Elasticidade Dinâmico e de Tração
por Compressão Axial, cujos resultados são comentados na sequência da Figura 26,
Figura 27 e Figura 28.
Figura 26 - Resultados do Ensaio de Compressão Axial

Fonte: Autoria própria (2023)


No que diz respeito ao teste de Compressão Axial, foram ensaiados quatro
corpos de prova em cada dosagem de argamassa autoadensável, totalizando
57

dezesseis amostras. Na Figura 26 estão registradas as médias da tensão de ruptura


em cada ensaio, atreladas ao desvio-padrão das amostras. Na dosagem de
referência, sem óxido de grafeno, o desvio-padrão observado foi de 3,04 e nas demais
dosagens oscilou entre 1,04 a 1,22 indicando um comportamento homogêneo em
quase todos os traços utilizados, com um coeficiente de variação (razão entre o
desvio-padrão e a média amostral) menor que 15%, indicando uma baixa dispersão.
Observou-se que os traços com adição de 0,05% e de 0,10% de óxido de
grafeno apresentaram resistência à compressão superior ao traço de referência.
Porém, no traço com 0,03% de óxido de grafeno houve uma diminuição dessa
propriedade.
Figura 27 - Resultado do Ensaio de Módulo de Elasticidade Dinâmico

Fonte: Autoria própria (2023)

Três amostras de cada dosagem de argamassa endurecida foram submetidas


ao Teste de Módulo de Elasticidade Dinâmico, totalizando doze amostras. Como esse
ensaio é não destrutivo, ele foi conduzido anteriormente ao Ensaio de Tração por
Compressão Diametral, que usou as mesmas amostras.
Na Figura 27 estão registradas as médias dos módulos de elasticidade obtidos
em cada ensaio, com o desvio-padrão de cada uma delas. Na dosagem de referência,
sem óxido de grafeno, o desvio-padrão observado foi de 0,38. Esse índice subiu para
0,92 e 0,97 nos teores de 0,03% e 0,05% alcançando 1,35 na amostra com 0,10% de
óxido de grafeno. O coeficiente de variação não ultrapassou 1%, indicando uma alta
homogeneidade das amostras nesse ensaio.
58

No geral, o Módulo de Elasticidade Dinâmico foi afetado positivamente,


embora em percentual inexpressivo, em todos os traços com adição de óxido de
grafeno.

Figura 28 - Resultado do Ensaio de Tração por Compressão Diametral

Fonte: Autoria própria (2023)


No que diz respeito ao Ensaio de Tração por Compressão Diametral, foram
ensaiadas quatro amostras em cada dosagem e argamassa, totalizando dezesseis
amostras no total.
As médias das tensões de resistência à tração estão representadas na Figura
28, com os respectivos desvios-padrão em cada dosagem de argamassa. O maior
desvio-padrão (0,66) foi observado na amostra com 0,10% de óxido de grafeno e o
menor (0,11) na amostra com 0,05% de óxido de grafeno. Na amostra com 0,10% de
óxido de grafeno o coeficiente de variação chegou a 19%, indicando uma média
dispersão nesse percentual de mistura. Nos demais ensaios essa dispersão foi baixa
(menor que 15%). Assim como no Ensaio de Compressão Axial, os resultados do
Teste de Tração por Compressão Diametral também registraram uma diminuição da
resistência no traço com adição de 0,03% de óxido de grafeno. Nos traços com 0,05%
e 0,10% de óxido de grafeno também houve aumento da resistência da argamassa
após o período de cura.
59

Visando facilitar a interpretação global dos resultados obtidos, a Tabela 14


reúne, para fins de comparação, todos os índices atingidos nos ensaios feitos no
estado endurecido.
Tabela 14 – Consolidação dos resultados de ensaios no estado endurecido
Ensaio 0% OG 0,03% OG 0,05% OG 0,10% OG
Compressão Axial (MPa) 33,36 30,96 36,01 35,05
Módulo Elasticidade Dinâmico (GPa) 27,22 27,52 28,20 27,85
Tração por Compressão Axial (MPa) 2,81 2,74 2,88 3,37
Fonte: Autoria própria (2023)

Tomando por base o traço de referência (0% OG), com a adição 0,03% de
óxido de grafeno a argamassa autoadensável diminuiu sua resistência à compressão
axial (-7,2%) e à tração (-2,5%), porém houve pequeno aumento do módulo de
elasticidade (+1,1%).
A dosagem com 0,05% de óxido de grafeno mostrou incremento de todos os
índices de desempenho, com 7% na compressão axial; 2,5% na tração e 4% no
módulo de elasticidade. Há de se registrar que o desempenho da argamassa nessa
dosagem de óxido de grafeno pode ter sido afetado pela adição de metacaulim na
mistura além do teor previsto.
Na dosagem de 0,10% de óxido de grafeno também houve aumento em todos
os parâmetros de resistência analisados para a argamassa: 5,1% na resistência à
compressão; 2,3% no módulo de elasticidade e 20% na resistência à tração.
60

5 CONCLUSÕES
Fruto das sugestões contidas nos trabalhos de Cardozo (2023) e de Greco
(2023), foi possível a adoção nesta pesquisa de procedimentos que levaram a
resultados mais aderentes ao previsto na literatura sobre o tema. Não se obteve, no
entanto, desempenho das argamassas endurecidas nos níveis esperados.
A influência dos insumos locais, principalmente das características
granulométricas das areias média e fina, mostrou-se muito mais desafiador no
processo de obtenção de um traço de argamassa com características autoadensáveis
do que a formulação das pastas com óxido de grafeno em si. Definir o traço de
referência foi, indubitavelmente, a fase desta pesquisa que mais consumiu recursos
humanos, materiais e de laboratório. O entendimento do Método de Gomes, Gettu e
Agulló e a possibilidade de simular, nas equações nele preconizadas, o efeito de
alterações em percentuais de insumos foi fundamental para definir o traço de
referência.
No que diz respeito ao óxido de grafeno, a busca por um fornecedor que possa
suprir esse insumo na qualidade desejada e a preços razoáveis é essencial para
garantir a repetibilidade de resultados em outros trabalhos que se pretendam fazer
nessa área. A única caracterização levada a cabo com a amostra recebida do
fabricante, o ensaio de Difração por Raio-X, indicou uma distância entre as lamelas
de óxido de grafeno elevada, se comparada ao produto usado por Cardozo (2023)
mas essa pode não ser a causa efetiva do baixo desempenho do produto incorporado
às argamassas.
O teor 0,10% de óxido de grafeno em relação ao traço de referência foi o
percentual com melhor desempenho no incremento de resistência da argamassa
endurecida, sugerindo ser mantido em trabalhos futuros.
61

REFERÊNCIAS

ABNT. NBR NM 45: Agregados - Determinação da massa unitária e do volume


de vazios. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.

ABNT. NBR 9833: Concreto fresco - Determinação da massa específica, do


rendimento e do teor de ar pelo método gravimétrico. . Rio de Janeiro: ABNT,
2008.

ABNT. ABNT NM52: Agregado miúdo - Determinação da massa específica e


massa específica aparente. 2a. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2009a.

ABNT. NBR 15900: Água para amassamento do concreto. Parte 1: Requisitos.


Rio de Janeiro: ABNT, 2009b.

ABNT. NBR 7222: Concreto e argamassa — Determinação da resistência à


tração por compressão diametral de corpos de prova cilíndricos. Rio de
Janeiro: ABNT, 2011.

ABNT. NBR 16605: Cimento Portland e outros materiais em pó – Determinação


da massa específica. Rio de Janeiro: ABNT, 2017a.

ABNT. NBR 15823: Concreto Autoadensável - Parte 1: Classificação, controle e


recebimento no estado fresco. Rio de Janeiro: ABNT, 2017b.

ABNT. NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de corpos de prova


cilíndricos. 3a. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.

ABNT. NBR 8522-Parte 2: Concreto endurecido - Determinação dos módulos de


elasticidade e de deformação - Parte 2: Módulo de elasticidade dinâmico pelo
método das frequências naturais de vibração. Rio de Janeiro: ABNT, 2021.

ABNT. ABNT NBR 17054. Agregados - Determinação da composição


granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2022a.

ABNT. NBR 7211: Agregados para concreto - requisitos. Rio de Janeiro: ABNT,
2022b.

ABNT. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto. Rio de Janeiro: ABNT, 2023.

ADITIBRAS. ADI-SUPER H25. Disponível em: <https://aditibras.com.br/wp-


content/uploads/2021/01/FT-ADI-SUPER-REV02.pdf>. Acesso em: 3 set. 2023.

ASSUNÇÃO, M. E. P. Estudo de argamassa com finos de pedreira para a


produção de concreto autoadensável. Mestrado em Engenharia Urbana—
Maringá, Paraná: Universidade Estadual de Maringá, out. 2014.

BABAK, F. et al. Preparation and mechanical properties of graphene oxide: cement


nanocomposites. TheScientificWorldJournal, v. 2014, p. 276323, 2014.
62

BELLUCCI, F.; VASQUEZ, H.; CONTI, J. Panorama Tecnológico Grafeno -


Contexto Brasileiro e sua Demanda por Financiamento. Rio de Janeiro: [s.n.].

CAMALIONTE, A. G. et al. Compósito de cimento e óxido de grafeno: avaliação das


propriedades mecânicas. Revista Mackenzie de Engenharia e Computação, p.
47–66, 12 nov. 2018.

CARDOZO, L. T. Ensaios de argamassa autoadensável reforçada com grafeno.


Relatório final de Iniciação Científica—Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, 15
jul. 2023.

CSN. Cimentos. Disponível em:


<https://www.csn.com.br/%20homepage/cimentos/>. Acesso em: 3 set. 2023.

DA SILVA, G. F. et al. AC impedance spectroscopy (AC-IS) analysis to characterize


the effect of nanomaterials in cement-based mortars. Construction and Building
Materials, v. 269, p. 121260, fev. 2021.

DUARTE, L. K. et al. Levantamento dos métodos de dosagem de argamassas


autoadensáveis no Brasil. Porto Alegre: ANTAC, 7 nov. 2022.

EFNARC. The european guidelines for self-compacting concrete: specification,


production and use. Farhan, UK: [s.n.].

FURIAN, P. H. Grafeno (G), óxido de grafeno (GO) y óxido de grafeno reducido


(RGO), fórmulas y estructuras químicas. Nanomateriales, hechos de grafito. .
Disponível em: <https://www.alamy.es/grafeno-g-oxido-de-grafeno-go-y-oxido-de-
grafeno-reducido-rgo-formulas-y-estructuras-quimicas-nanomateriales-hechos-de-
grafito-image452395917.html>. Acesso em: 12 fev. 2024.

GERSTNER, E. Nobel Prize 2010: Andre Geim &amp; Konstantin Novoselov. Nature
Physics, v. 6, n. 11, p. 836–836, 5 nov. 2010.

GOMES, M. L. M. Síntese e caracterização de óxido de grafeno e/ou grafeno


pelo método de oxidação química da grafite visando suas aplicações como
materiais nanoestruturados em capacitores eletroquímicos. Relatório de
Iniciação Científica—São Paulo: Universidade Federal de São Paulo, jun. 2014.

GOMES, P.; BARROS, A. Método de dosagem de concreto autoadensável. 1a.


ed. São Paulo: Pini, 2009.

GOMES, P. C. C. ; G. R. ; A. L. Uma nova metodologia para obtenção de concretos


auto-adensáveis de alta resistência com aditivos minerais. V Simpósio EPUSP
sobre Estruturas de Concreto, p. 1–14, 7 jun. 2003.

GRECO, J. R. Análise microestrutural do efeito da adição de óxido de grafeno


em argamassa autoadensável. Relatório final de Iniciação Científica—Itajubá:
Universidade Federal de Itajubá, dez. 2023.

MELO, K. A. Contribuição à dosagem de concreto auto-adensável com adição


de fíler calcário. Tese de Mestrado—Florianópolis: Universidade Federal de Santa
Catarina, 2005.
63

MENDONÇA, V. M. et al. Effects of the addition of graphene on the compressive


strength of geopolymeric mortar developed from k-feldspar mining waste. REM -
International Engineering Journal, v. 74, n. 3, p. 345–352, set. 2021.

METACAULIM. Metacaulim HP ULTRA. Disponível em:


<https://www.metacaulim.com.br/impermeabilizantes-metacaulim-hp-ultra.html>.
Acesso em: 3 set. 2023.

NANOVIEW. Óxido de grafeno. Disponível em:


<https://nanoviewnanotecnologia.com/produto/suspensao-aquosa-de-oxido-de-
grafeno/>. Acesso em: 4 set. 2023.

PAULINO, R. S.; MARTINS, B. T. Procedimento para dosagem da argamassa


autoadensável com fíler de calcário. Revista de Engenharia e Tecnologia, v. 11, n.
4, p. 258–266, 2019.

POLVERINO, S. et al. Few-Layers Graphene-Based Cement Mortars: Production


Process and Mechanical Properties. Sustainability, v. 14, n. 2, p. 784, 11 jan. 2022.

SABER ATUALIZADO. Cientistas descobrem pontos de inconsistência na Teoria


der van der Waals. Disponível em:
<https://www.saberatualizadonews.com/2018/02/cientistas-descobrem-pontos-
de.html>. Acesso em: 12 fev. 2024.

SANTOS, C. W. et al. Incorporação de óxido de grafeno em argamassa:


avaliação de desempenho mecânico e acústico. São Paulo: [s.n.]. Disponível em:
<https://adelpha-api.mackenzie.br/server/api/core/bitstreams/25540174-9c7e-46e5-
aab2-d0c3759fa943/content>. Acesso em: 5 set. 2023.

SANTOS, V. C. Controle Tecnológico de Concretos Especiais - Dosagem de


Concretos.Curso de Mestrado em Engenharia Hídrica. 2023. . Itajubá:
Universidade Federal de Itajubá, maio 2023.

SARTORI, M. R.; SANTOS, W. D. S.; ESTEVES, J. S. Análise da variação do ar


aprisionado no concreto usinado com aplicação de diferentes proporções de
agregado miúdo. estudo de caso: areia natural e areia artificial. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, v. 15, n. 5, p. 73–104, maio 2021.

SILVA, A. P. T. Uso de Materiais Impermeabilizantes em Compósitos


Cimentícios. Trabalho Final de Graduação—Itajubá: Universidade Federal de
Itajubá, 28 jun. 2023.

SILVA, R. A. E et al. Enhanced properties of cement mortars with multilayer graphene


nanoparticles. Construction and Building Materials, v. 149, p. 378–385, set. 2017.

SOUSA, M. J. DE; MATOS, D. R. Projeto Avaliação do Potencial da Grafita no


Brasil: Fase 1. São Paulo: [s.n.]. Disponível em:
<https://rigeo.sgb.gov.br/handle/doc/21910>. Acesso em: 5 set. 2023.

TUTIKIAN, B. F.; DAL MOLIN, D. C. Concreto Auto-Adensável. 1a. ed. São Paulo:
Pini, 2008.
64

WERDINE, D. Análise estatística das propriedades do concreto


autoadensável misturado com resíduo de borracha de pneus. Tese de
Doutorado—Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, 2020.

Você também pode gostar