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conteúdo exclusivo em
www.revistapatio.com.br ANO XVIII Novembro 2014/Janeiro 2015
ISSN 2179-0248 R$ 37,00
capa
Fernando Hernández-Hernández
e Juana María Sancho-Gil
Howard Gardner e Katie Davis
José Armando Valente
ensino fundamental
entrevista
António Nóvoa
PANORAMA
Como os professores
usam as tecnologias
digitais
+
SAIBA UMA INICIATIVA DA PÁTIO PARA SEUS ASSINANTES
INTELIGÊNCIAS INTELIGÊNCIAS
MÚLTIPLAS MÚLTIPLAS:
AO REDOR A TEORIA
DO MUNDO NA PRÁTICA
10%
Fernando Hernández e cols.
16x23 cm // 200p.
Fernando Hernández
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DE: R$ 56,00
DE DESCONTO POR: R$ 39,20 DE: R$ 45,60
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ISBN: 9788573074406
sobre o preço de
catálogo do Grupo A
NASCIDOS NA ERA APRENDIZAGEM
para publicações
+
DIGITAL: ENTENDENDO BASEADA
indicadas no SAIBA A PRIMEIRA GERAÇÃO EM PROJETOS:
DE NATIVOS DIGITAIS EDUCAÇÃO
DIFERENCIADA
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PARA O SÉCULO XXI
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POR: R$ 34,30
ensino fundamental
ISBN: 9788584290017
18 Entrevista
Nada será como antes
António Nóvoa
3 Carta ao leitor
22 enfoque
4 Quadro de Avisos Uma experiência diferente e transformadora
Kieran Egan
48 recreio
25 cotidiano
Aprendizagem além das fronteiras
Rocsana Marino Denis
Maria Nazareth Guedes da Silva
Luiz Antonio Gerardi Junior
32 arte na escola
A arte, o eterno e o efêmero
Alberto Rodrigues dos Santos
36 CONSELHO DE CLASSE
Novas possibilidades para a ciberinfância
Patricia Alejandra Behar
Caroline Bohrer do Amaral
ANO XVIII Nº 71 ago/out 2014
40 panorama
Falha na conexão
Marcos Giesteira
Foto: Anatoliy Babiy/iStock/Thinkstock
44 curriculo vivo
Em um novo tom
Henrique Koifman
PÁTIO
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o recebimento ● Os artigos deverão ser inéditos.
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10 mil caracteres com espaços, para: redacaopatio@grupoa.com.br
Foto: Prykhodov/iStock/Thinkstock
LEITOR
Sem limites
para aprender
sala de aula como um espaço físico Complementando esse olhar, o professor José
A
delimitado e alunos sentados em Armando Valente, da Universidade Estadual de
fila está com os dias contados. Esse Campinas (Unicamp), aborda a aprendizagem ativa
modelo de classe, tendo o quadro e o uso de ações pedagógicas inovadoras, enquanto
e o professor como centro das aten- o canadense Kieran Egan apresenta o programa
ções, não atende mais às demandas Aprendizagem em Profundidade, que leva os alunos
da geração atual e tornou-se ultrapassado a se tornarem experts em algum assunto
diante das evidências sobre a manei- durante seu percurso escolar, desen-
ra como se dá a aprendizagem volvendo várias competências.
e dos recursos pedagógicos Para que se efetivem to-
disponíveis. das as mudanças previstas e
O educador português necessárias, os professores
António Nóvoa, entre- são o fator mais importan-
vistado nesta edição, é te. Como eles estão se
taxativo: para ele, no adequando a essas novas
futuro, não haverá salas demandas, especial-
de aula, nem sequer mente ao uso das tec-
“aulas” no sentido tra- nologias digitais na sala
dicional do termo. Nesse de aula? Esse é o tópico
exercício de antecipação tratado pela reportagem
das tendências para a da seção Panorama.
educação do futuro, Nóvoa Os assuntos aborda-
tem a companhia do criador dos nesta edição não se
da teoria das inteligências encerram por aqui. Você vai
múltiplas, Howard Gardner. Em encontrar muitos outros temas
seu artigo, escrito em coautoria importantes nas páginas a seguir e
com a pesquisadora Katie Davis, Gardner também na internet, no nosso site e nas
discute a aprendizagem da chamada “geração apli- redes sociais. Continue conectado conosco!
cativo”. Nesse mesmo viés, os professores Fernando
Hernández-Hernández e Juana María Sancho-Gil, da
Universidade de Barcelona, destacam o que é preciso
conservar na escola atual e o que deve ser mudado. Adriane Kiperman
Memórias mal-assombradas
de um fantasma canhoto
Texto: Luiz Antonio Aguiar
Ilustrações: Guto Lins
Editora: Saraiva
Formato: 14x21 cm
Páginas: 96
Rimas de lá e de cá
Texto: José Jorge Letria e José Santos
Ilustrações: Yara Kono
Editora: Peirópolis
Formato: 17,5x27,5 cm
Páginas: 44
2014/JAN 2008
2015
NOVEMBRO
VII TROCANDO EM MIÚDOS Mossoró (RN), 26 a 28 de novembro
Intercâmbio Internacional Brazil’s Eduretrear 2014 Organização: UERN
Salvador (BA), 8 a 23 de novembro Informações: http://sinalle.blogspot.com.br
Organização: Avante — Educação e Mobilização Social
Informações: www.avante.org.br/conheca-a-programacao- IV SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO
do-vii-trocando-em-miudos DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Ponta Grossa (PR), 27 a 29 de novembro
XVII ENDIPE — ENCONTRO NACIONAL Organização: PPGECT
DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO Informações: (42) 3235.7018 ou sinect-pg@utfpr.edu.br
Fortaleza (CE), 11 a 14 de novembro www.sinect.com.br/2014/index.php
Organização: UECE
Informações: www.uece.br/eventos/xviiendipe
V ENCONTRO NACIONAL DAS LICENCIATURAS (ENALIC)
IV SIMPÓSIO INTERNACIONAL IV SEMINÁRIO NACIONAL DO PROGRAMA INSTITUCIONAL
DEZEMBRO
Informações: ticeduca2014@ie.ul.pt
ANO XVIII Nº 72 NOV 2014/JAN 2015
e o superaplicativo da vida
Howard Gardner
Katie Davis
ANO XVIII Nº 72 nov 2014/jan 2015
PÁTIO
E
m 1950, com dois colegas mais jovens, o advo- na mão, ativados por um toque do dedo e capazes
gado que se tornou sociólogo David Riesman de realizar um número cada vez maior de tarefas e
publicou A multidão solitária (Riesman, solicitações da vida diária. De fato, em homenagem
Glazer e Denney, 1950). Esse retrato das mu- a Riesman e colaboradores, nós a chamamos de
danças nos valores americanos teve a rara distinção geração orientada aos aplicativos.
de ser tanto um recordista de vendas, na época, Nascidos após 1990, os pertencentes a essa gera-
quanto um clássico da escrita erudita. ção cresceram cercados e imersos pela tecnologia em
Ainda que sem a brevidade do Twitter, um grau sem precedentes: laptops, tablets,
o argumento apresentado no livro smartphones e dispositivos móveis de
pode ser facilmente resumido. todos os tamanhos e formatos.
No século XVIII, os americanos Diferentemente dos chamados
das colônias eram orientados imigrantes digitais, eles não
pela tradição: eles iam bus- têm recordação de uma
car nos que vieram antes, época menos tecnológica;
geralmente da Europa, na verdade, diferente-
modelos para aquilo em A orientação mente de qualquer ge-
que acreditar e como se a aplicativos ração anterior, a maioria
comportar. No século XIX, deles nem sabe como é
afeta todos
Cerca de 60 anos depois, é certamente possível que tudo na vida seja rápido, eficiente, funcional,
distinguir vestígios de estadunidenses orientados à imediatamente disponível sempre que se desejar;
tradição e orientados para o interior. E a influência que lhe diga o que fazer, como fazer, como outros
duradoura do comportamento e dos valores dos se sentem em relação a isso e, ao menos implicita-
pares sublinha a presciência da análise de Riesman: mente, como você deve se sentir a respeito disso e
continuamos nos comparando com os vizinhos e, como você deve se sentir a respeito de si mesmo.
cada vez mais, com os vizinhos de outras culturas. A orientação a aplicativos afeta todos os aspectos
Contudo, na atualidade, o comportamento dos da vida. Nossa identidade, da maneira como é apre-
americanos, especialmente dos jovens, está cada sentada em redes sociais, como o Facebook, deve
vez menos orientado a outros seres humanos, do ser limpa, organizada, fácil de entender e exibida de
passado ou do presente, e cada vez mais a aplica- maneira positiva; não há tempo nem espaço para a
PÁTIO
tivos (apps), artefatos tecnológicos que são levados exploração de identidades alternativas ou complexas.
Nossa relação com os outros deve ser facilmente des- Hoje, em nossa sociedade meritocrática, famí-
crita, executada com eficiência, facilmente adotada lias de antecedentes culturais variáveis acreditam
e descartada com igual facilidade; encontros face a que podem garantir que seus filhos tenham essas
face difíceis devem ser evitados ao máximo, assim oportunidades. Assim, esses pais gerenciam — na
como a sondagem profunda de motivações. verdade, muitos deles microgerenciam — os horários
Também fizemos uma descoberta inesperada, e as amizades de seus filhos, tentando, de todas as
que chamamos de “superaplicativo”. Veja este formas possíveis, promover o sucesso que acreditam
depoimento de uma mãe: “Bem, primeiro precisa- que lhes é de direito, para si e para a sua prole. Sua
mos garantir que ele entre na pré-escola certa e grande necessidade de ingressar nas melhores facul-
no melhor grupo de recreação. A escola de ensino dades, estágios e empregos, especialmente em uma
fundamental pode ser um pouco mais tranquila, em- época de tensões econômicas, exacerba uma cultura
bora eu não tenha certeza de qual esporte ele deva de impiedosa competição.
praticar. E ele precisa de algum tempo nos fins de Realizamos mais de uma centena de entrevistas
semana para descontrair e brincar, mas não demais. com adultos que trabalharam com jovens durante
As coisas ficam sérias quando ele se matricula ao menos duas décadas. Nessas entrevistas,
em um colégio interno. Seria melhor se observamos um consenso inesperada-
2
ele tivesse um programa IB , no mente forte: comparados a seus
mínimo três cursos de colocação predecessores, os jovens de hoje
avançada, um acampamento são muito menos propensos a
de verão de matemática, e correr qualquer tipo de risco
é melhor garantirmos que (a menos que sejam expli-
o primo Phillip tenha uma Os jovens começam citamente instruídos para
conversa séria com o res- isso, em cujo caso, evi-
ponsável pelas admissões
a pensar em dentemente, não é mais
da Universidade X (inte-
3
suas vidas um risco). Em qualquer
grante da Ivy League ). tarefa, em qualquer jogo,
Depois de entrar nessa e nas dos outros querem saber exatamen-
universidade, uma equipe
de squash, duas especia-
como uma série te o que se espera deles,
como serão avaliados, o
lizações, um ano fora, um de aplicativos que vem depois e por quê.
estágio de verão em Wall Qualquer noção de “desco-
Street e uma carreira em fi- brir por si mesmo” ou trilhar
nanças. Na verdade, seria bom um caminho inexplorado e ines-
que, antes de ir para Wall Street, perado tornou-se uma raridade.
ele atuasse um período — ainda que Voltando aos aplicativos: os jo-
4
apenas um! — no Teach for America !”. vens hoje não apenas usam um aplicativo
Já ouvimos esse monólogo, ou variantes dele, atrás do outro, como se virassem as páginas de um
inúmeras vezes. Cada ano que passa, nós o ouvimos livro. De um modo ainda mais impressionante, eles
com mais frequência. Também ouvimos as últimas começam a pensar em suas vidas, e nas vidas dos
frases (na primeira pessoa) dos próprios jovens. Co- outros, como uma inevitável série de aplicativos;
meçamos a pensar de onde vem isso e o que significa. a sequência imaginária de etapas apresentada no
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E a resposta, acreditamos, está intimamente ligada início deste artigo. Chamamos isso de “superapli-
ao ubíquo “aplicativo”. cativo da vida”.
Temos de admitir que sempre existiram adultos É claro que, se a vida realmente prosseguisse
cheios de planos, tanto nos Estados Unidos quanto como um aplicativo pré-embalado, não haveria pro-
em outros países. Sem dúvida, um século atrás, blemas. Afinal, é mais fácil seguir um roteiro do que
sabia-se de pais de recém-nascidos que os ma- escrever um novo; evidentemente, porém, nenhuma
triculavam nas escolas secundárias “certas” que, vida pode ser completamente planejada; sempre
por sua vez, praticamente garantiam o ingresso existem acidentes, perdas e retornos inesperados,
na faculdade “certa” e um cargo no escritório de decepções e reorientações. Se você espera que tudo
advocacia ou banco “certo”. Porém, esses caminhos prossiga de maneira inflexível, estará totalmente
eram reservados a indivíduos de origem correta: despreparado para as reviravoltas que fazem parte
PÁTIO
todavia, em vez de seguir um aplicativo cegamente, University of Washington, em Seattle (Estados Unidos).
ela faz com que este libere seu tempo e sua energia
para que ela possa absorver mais do mundo, ter ex-
periências mais ricas (sozinha ou com outras pessoas)
e tratar as opções dos aplicativos como dicas e não
+
como ordens. SAIBA
Gostamos de pensar no caminho tomado por
GARDNER, H.; CHEN, J.; MORAN, S. e cols.
Steve Jobs em sua vida. Com certeza, Jobs admira- Inteligências múltiplas ao redor do mundo.
va os aplicativos e provavelmente tem tanto a ver Porto Alegre: Artmed, 2010.
com sua invenção e proliferação quanto qualquer GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria
pessoa no planeta. Entretanto, com a mesma cer-
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Fernando Hernández-Hernández
Juana María Sancho-Gil
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C
om alguns colegas finlandeses, com os de indagação como forma prioritária de aprendizagem.
quais participamos de um projeto sobre o De novo se faz evidente a colaboração e o intercâmbio
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que a filosofia DIY (Do it yourself) pode entre os estudantes como modo de gerar conhecimen-
oferecer para pensar outra escola e outra to. O papel dos docentes não é o de dizer, explicar a
educação, vimos um vídeo (https://www.youtube. todos da sala, mas sim o de acompanhar e promover
com/watch?v=G_j5f-3TJqM), produzido no projeto processos de indagação e autoria. Agitação, movimen-
UBIKO EU 2013 Inspired Learning. Quem assistir ao to, vida: isso é o que parece refletir tal experiência.
vídeo verá que o espaço escolar que pouco aparece
está relacionado com o que estamos acostumados Transitar entre o dentro e o fora
em nossas escolas. Esses dois exemplos, escolhidos entre outros
No vídeo, os alunos movem-se por ambientes possíveis, demonstram que, em diferentes lugares,
em que são realizadas diversas tarefas; a está sendo levada a sério a ideia de que é
ideia da sala de aula como um conjunto necessário promover espaços de apren-
de cadeiras direcionadas para a dizagem que permitam incorporar
lousa e o professor não existe. os saberes das crianças e dos jo-
A sensação de transparência, vens. Ao mesmo tempo, estão
de que se aprende mediante sendo propiciadas algumas
a indagação e a colabora- condições favoráveis de
Foto: Ximagination/iStock/Thinkstock
ção, também se faz pre- espaços, meios, relações
sente. Os recursos digitais O papel dos docentes pedagógicas que possibi-
são a fonte principal de litem aprender mediante
busca de informação. O é o de acompanhar o desenvolvimento de
docente é quem dá apoio
e ajuda a organizar um
e promover processos projetos de indagação
que deem sentido às in-
processo que tem como de indagação quietações dos apren-
finalidade que as crianças dizes. Além disso, essas
aprendam a dirigir a própria e autoria experiênc ias educativas
aprendizagem. Tudo isso em colocam os estudantes em
uma escola pública, em um contato com modos de apren-
país onde se leva a educação der que rompem os limites das
muito a sério e onde, apesar dos disciplinas e dos livros didáticos.
excelentes resultados do PISA, ques- O que acontece nessas escolas e o que
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dos ambientes, a diversidade de espaços pelos quais nós que é possível administrar de outra maneira as
os estudantes transitam, o papel que os dispositivos relações pedagógicas. A pesquisa também serviu para
eletrônicos têm no momento de possibilitar projetos confirmarmos que eles se envolvem bastante quando
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aprendem a partir da indagação, quando se sentem idade — um grupo de alunos junto a um ou vários
desafiados pelo que aprendem, e que acompanham adultos, foi uma das tecnologias ou um dos dispo-
processos sobre problemáticas que lhes afetam e sitivos mais econômicos e eficazes que os sistemas
sabem que tudo o que fazem é para compartilhar e educacionais geraram. Sabemos que a forma como
fazer em público em diferentes formatos e contextos. se organiza e o que enche a sala pode marcar a di-
Já tínhamos conhecimento de grande parte dis- ferença quanto àquilo que acontece nela. O projeto
so; esse é um pensamento compartilhado com ou- Classroom Portraits 2004-2012, do fotógrafo inglês
tros colegas professores, com os quais nos opomos Julian Germain, membro do grupo Olho da Rua, que
a que tudo permaneça como era há 30 anos, como visitou as salas de aula em diferentes países, ilustra
nos dizia, dias atrás, um professor. No entanto, as variedades e similitudes desse espaço para onde
como somos conscientes de que as escolas de ensino convergem desejos, experiências, tédio e expec-
fundamental e médio têm muitas dificuldades para tativas (http://www.juliangermain.com/projects/
enfrentar, resolvemos nos questionar: o que vale classrooms.php).
a pena conservar e o que é totalmente Em muitos cenários percorridos por
necessário mudar? Germain, a sala de aula é a única
possibilidade que um sujeito
Mudar ou conservar: pode ter para expandir seu co-
that is the question tidiano, para entrar em con-
A escola, como instituição tato com outras histórias.
pensada para instruir me- É necessário O filme Buda explodiu por
ninos (mais tarde meni- promover espaços vingança (Buda az shar-
nas) e jovens, não apenas mforurikht), da diretora
em algumas matérias es- de aprendizagem iraniana Hana Makhmal-
pecíficas, mas na manei-
ra de ser cidadão, articu-
que permitam baf (2007), poderia ser
um exemplo de como a
lou-se pela primeira vez incorporar os saberes sala de aula, apesar de
com o projeto da Prússia suas limitações, oferece
nos anos de 1750. Desde das crianças à menina protagonista a
então, cumpriu diversas e dos jovens possibilidade de escutar
funções: instruir para ade- histórias que a liberam do
quar as populações (sobretudo destino ao qual estaria presa
homens) ao sistema produtivo; por ser mulher e viver em um
formar cidadãos de acordo com a país em guerra; histórias que lhe
ideologia dominante dos Estados nacio- permitem principalmente sentir-se a
nais; contribuir para a classificação social salvo das ameaças exteriores.
dos indivíduos; impulsionar os valores democráticos; Ao sairmos dessa situação extrema, cabe per-
favorecer a mobilidade social. guntar se tem sentido que o espaço da sala de aula
Enfim, em cada época, em cada país, sob uma tenha sido pensado como o lugar privilegiado para
reforma, educar teve certos fins que vão além se instruir, educar e aprender. É como nos indica-
da aprendizagem de conteúdos disciplinares e de vam os jovens da pesquisa que mencionamos: “As
modos de ser. Nesse sentido, a escola, como dis- coisas importantes você não aprende na escola”.
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positivo de caráter simbólico, foi planejando ou Essa fala leva-nos a perguntar o que deveria per-
utilizando estratégias e tecnologias (simbólicas, manecer e o que deveria mudar para que o lugar
organizativas e artefatuais) que serviram para que dos aprendizes tenha sentido, quando a escola já
hoje, em muitos países, a maioria dos cidadãos te- não constitui, junto com a família e a Igreja, os
nha sido escolarizada. Eles receberam, assim, uma espaços que mais configuram os modos dos sujeitos
educação/instrução que lhes permite ampliar seus de ser e de dar sentido ao mundo.
horizontes e, talvez, escrever sua própria história. O que propomos a seguir é uma hipótese de
Contudo, ao longo desse tempo, a escola, como trabalho, baseada na pesquisa da qual estamos
metáfora privilegiada de promover a educação, falando, que precisa ser debatida e explorada. Para
também recebeu um bom número de críticas. tanto, convidamos um grupo de colegas europeus.
PÁTIO
A sala de aula como espaço fechado, em que Enquanto isso, tomamos coragem para esboçar
é colocado — normalmente segundo o critério da algumas ideias.
12
+
dido, tão querida da psicologia, da pedagogia e
hoje das empresas, que publicam listas e rankings SAIBA
de países e escolas; SANCHO, J.M.; HERNÁNDEZ, F. e cols.
Tecnologias para transformar a educação.
l a expectativa de que os estudantes sejam o que
Porto Alegre: Artmed, 2006.
não são, deixando de culpá-los se não se adaptam
ao que os adultos esperam deles. HERNÁNDEZ, F.
Transgressão e mudança na educação:
Ao tornar públicas essas contribuições, perce- os projetos de trabalho.
bemos que a lista do que precisa ser mudado é mais
PÁTIO
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14
O
aluno deste início de século XXI tem um Essas estratégias não são novas. No entanto, elas
comportamento diferente, especificamente têm sido adaptadas para uso conjunto com as TDIC,
com relação ao uso das tecnologias digitais gerando novas modalidades de ensino, como o apren-
de informação e comunicação (TDIC). Nesse dizado por pares (peer instruction − PI) ou a sala de
sentido, o que as escolas, mesmo as mais conectadas aula invertida (flipped classroom), implantadas tanto
tecnologicamente, têm feito para se adequar a essa na educação básica quanto no ensino superior. A sala
nova realidade? O foco não deve estar na tecnologia, de aula é invertida no sentido de que o conteúdo e as
mas sim no fato de as TDIC terem criado novas pos- instruções são disponibilizados on-line, usando-se as
sibilidades de expressão e comunicação que podem TDIC antes de o aluno frequentar a sala de aula, que
contribuir para o desenvolvimento de novas aborda- agora passa a ser o local para trabalhar os conteúdos
gens pedagógicas. já estudados, realizando atividades práticas, como
Exemplos dessas novas possibilidades são a capaci- resolução de problemas e projetos, discussão em
dade de animar objetos na tela, recurso essencial para grupo, laboratórios, etc.
complementar ou mesmo substituir muitas atividades A inversão ocorre uma vez que, no ensino tradicio-
que foram desenvolvidas para o lápis e o papel; a pos- nal, a sala de aula serve para o professor transmitir
sibilidade de novos letramentos além do alfabético, informação para o aluno, que, após a aula, deve
como o imagético, o sonoro, etc.; a criação de contextos estudar o material abordado e realizar alguma ativi-
educacionais que começam a despontar, os quais vão dade de avaliação para mostrar que esse material foi
além das paredes da sala de aula e dos muros da escola. assimilado. Na abordagem da sala de aula invertida, o
Os caminhos possíveis são inúmeros, mas o aluno estuda antes da aula e a aula torna-se o lugar de
Foto: Fuse/Thinkstock
caminho que interessa consiste na implantação da aprendizagem ativa, onde há perguntas, discussões e
aprendizagem ativa e na criação de ambientes de atividades práticas. O professor trabalha as dificulda-
aprendizagem que promovam a construção de co- des dos alunos, em vez de fazer apresentações sobre
nhecimento e permitam a integração das TDIC nas o conteúdo da disciplina (Educause, 2012).
atividades curriculares. Para tanto, as instituições As regras básicas para inverter a sala de aula,
devem ser repensadas — em particular, a sala de aula. segundo o relatório Flipped Classroom Field Guide
Uma das práticas pedagógicas alternativas é a (2014), são as seguintes:
aprendizagem ativa. Em vez da aprendizagem passi- 1. as atividades em sala de aula envolvem uma quan-
va, bancária (Freire, 1987), baseada na transmissão tidade significativa de questionamento, resolução
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A abordagem da sala de aula invertida não deve não é substituir a aula presencial por vídeos, pois
ser novidade para professores de algumas disciplinas, os alunos reclamam do fato de a aula expositiva ser
nomeadamente no âmbito das ciências humanas. Nes- chata, e essa mesma aula transformada em vídeo
sas disciplinas, em geral, os alunos leem e estudam ficar mais chata ainda!
o material sobre literatura, filosofia, etc., antes da É importante o professor pensar que as TDIC
aula e, em classe, os temas estudados são discutidos. oferecem outros recursos a serem explorados pe-
A dificuldade da inversão ocorre especialmente nas dagogicamente — como animações, simulações e
disciplinas das ciências exatas, nas quais a sala de laboratórios virtuais —, que o aluno pode acessar e
aula é usada para passar o conhecimento já acumu- complementar com as leituras, ou mesmo os vídeos
lado. Assim, a maior parte dos exemplos de inversão mais pontuais a que ele assiste. A proposta é real-
da sala de aula ocorre nessas disciplinas. mente integrar as TDIC às atividades curriculares, tal
Mesmo nas disciplinas das ciências exatas, muitos como proposto por Almeida e Valente (2011).
professores podem usar estratégias de ensino que têm Finalmente, para que o professor saiba o que o
alguma semelhança com a sala de aula invertida. aluno absorveu do estudo realizado on-line, pratica-
Talvez eles não estejam conscientes dessa mente todas as propostas de sala de aula
terminologia ou das concepções aqui invertida sugerem que o estudante
apresentadas. Porém, como men- realize um teste, elaborado na
cionam Bergmann e Sams em própria plataforma on-line, de
seu livro Flip your classroom: modo que possa avaliar sua
reach every student in every aprendizagem. Os resultados
class every day (2012), ba- A sala de aula dessa avaliação, quando
seado no trabalho pioneiro passa a ser o local registrados na plataforma,
sobre a implantação da permitem ao professor
sala de aula invertida em para trabalhar acessá-los e conhecer quais
suas disciplinas do ensino os conteúdos foram os pontos críticos do
médio americano, os pro- material estudado, os quais
fessores podem iniciar com já estudados devem ser retomados em
o básico sobre a inversão da sala de aula.
sala de aula e, à medida que Sobre o planejamento
vão adquirindo experiência, das atividades presenciais em
passam a usar a aprendizagem ba- sala de aula, o mais importante
seada em projetos ou na investigação é que o professor explicite os obje-
e, com isso, vão se reinventando, criando tivos a serem atingidos com sua disciplina
cada vez mais estratégias centradas nos alunos ou e proponha atividades coerentes, que auxiliem os
na aprendizagem, em lugar das aulas expositivas que alunos no processo de construção do conhecimento.
costumavam ministrar. Essas atividades podem ser hands on, discussão em
Os aspectos fundamentais da implantação da grupo, resolução de problemas, etc. Em todos esses
sala de aula invertida são a produção de material casos, é fundamental que o aluno receba feedback
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para o aluno trabalhar virtualmente e o planeja- sobre os resultados das ações realizadas. A sala de
mento das atividades a serem realizadas na sala aula presencial assume um papel relevante nessa
de aula presencial. A maior parte das estratégias abordagem pedagógica pelo fato de o professor
implantadas utiliza vídeos que o professor grava a estar participando das atividades que contribuem
partir de aulas presenciais ou softwares como, por para o processo de significação das informações que
exemplo, o Camtasia Studio, que capta qualquer os alunos adquiriram estudando on-line. Por isso, o
informação da tela do computador que o professor feedback é fundamental para corrigir concepções
esteja usando, sua voz e sua imagem através da equivocadas ou mal-elaboradas.
câmera do computador e qualquer anotação feita Algumas atividades em sala de aula podem ser
na tela com a caneta digital. Contudo, é preciso mais estruturadas, como a proposta por Bergmann
PÁTIO
dosar o número e o tamanho dos vídeos. A ideia e Sams (2012), denominada flipped mastery, um
16
+
meio das quais todos embarquem nessa nova proposta. SAIBA PALFREY, J.; GASSER, U. Nascidos na era
É possível que essas iniciativas mais pontuais sejam digital: entendendo a primeira geração de
passíveis de serem implantadas sem que haja uma nativos digitais. Porto Alegre:
Artmed, 2011.
reestruturação educacional e sem que seja montada
BENDER, W. Aprendizagem baseada
a infraestrutura tecnológica e de apoio para a pro- em projetos: educação diferenciada para
dução de material educacional. O envolvimento de
PÁTIO
17
antónio nóvoa
o:
di
vu
lg
çã
a
o/
Re
ito
ria
da U a
nive o
rsi dad e de Lisb
18
De que modo isso aconteceu? É inútil procurar outras soluções. Os professores são a
O quadro-negro é um dispositivo “vazio”. Por defini- peça central de qualquer mudança, mas não podemos
ção, trata-se de uma superfície vazia. É necessário um exigir-lhes tudo e dar-lhes quase nada.
professor, que detém o conhecimento, para que ele se É preciso compreender a importância do novo papel
torne útil do ponto de vista pedagógico. O quadro-negro do professor. Os alunos têm acesso direto, individual, às
é um dispositivo fixo. Ao ser colocado em uma parede, informações que estão na teia (web), porém necessitam
ele define um espaço — a sala de aula. Os prédios es- da mediação do professor para transformá-las em conhe-
colares, o mobiliário escolar e a organização dos alunos cimento e aprendizagem. É preciso colocar em prática
são feitos para uso do quadro-negro. Além disso, é um uma verdadeira revolução na formação de professores.
PÁTIO
19
altamente lucrativo. Devemos denunciar essas práticas, der” é o contrário de “prender”, de que aprender é
sem, contudo, recusar as imensas possibilidades que libertar; é dar a cada um os instrumentos, sobretudo
existem no mundo digital. de conhecimento, que lhe permitam fazer o seu cami-
nho e chegar aonde sozinho nunca chegaria. A segunda
Apesar de usarem os recursos digitais em sua vida é a certeza de que vale mais um produto pedagógico
pessoal, os professores ainda têm resistência para “artesanal”, construído localmente através do trabalho
utilizá-los na sala de aula. Por que isso acontece? conjunto de professores, do que produtos comerciais
Não podemos esquecer que estamos diante de novidades ou tecnológicos, por mais sofisticados que sejam. Nada
extraordinárias e que todos precisamos de um tempo de substitui a experiência concreta desse trabalho de
adaptação. O problema principal é que os professores criação pedagógica.
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+
possam aprender sozinhos ou em grupo, tenham momentos
diferenciados de estudo, possam trabalhar com os seus SAIBA
professores (na turma, em pequenos grupos ou individual- JARAUTA, B.; IMBERNÓN, F. (orgs.). Pensando
mente), tenham acesso a salas com recursos digitais, etc. no futuro da educação: uma nova escola para
o século XXII. Porto Alegre: Penso, 2015.
Tudo isso exige um reforço da colaboração e da cooperação
entre os professores em cada escola. PALLOF, R.; PRATT, K. Lições da sala de aula
Externamente, é necessário desenvolver os princípios virtual: as realidades do ensino on-line.
da “cidade educadora” ou, como eu prefiro dizer, do Porto Alegre: Penso, 2015.
espaço público da educação. Há muitos outros lugares e
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21
● Kieran Egan
V
incent Van Gogh afirmou que, se somos assunto durante a sua educação no ensino funda
mestres em alguma coisa e a compreen mental e médio. Durante as primeiras semanas do
demos bem, temos ao mesmo tempo ano letivo, os alunos comparecem a uma cerimônia
perspicácia e compreensão a respeito de em que recebem o tema sobre o qual se tornarão
muitas coisas. Essa afirmativa constitui a base do experts. Os temas podem incluir maçãs, ferrovias,
programa Aprendizagem em Profundidade (LiD), besouros, sistemas numéricos, cavalos, o sistema
que desenvolvi em 2007 para oferecer aos alunos solar, a roda, e assim por diante. Os pais, irmãos e
oportunidades de se envolverem em aprendizagem amigos são convidados para a cerimônia. No trans
profunda autodirigida enquanto adquirem novos co correr de sua educação, os alunos se envolverão em
nhecimentos sobre determinado assunto. Se nosso atividades de aprendizagem autodirigidas profun
objetivo é reconsiderar a sala de aula para o futuro, das sobre o seu tema — com o tempo desenvolven
podemos considerar novos programas como o LiD, do um nível profundo de conhecimento.
os quais são uma ruptura com as usuais formas roti Os professores ajudam os alunos a explorar
neiras de ensino e aprendizagem cotidianos. seus tópicos durante cerca de uma hora por se
O programa Aprendizagem em Profundidade mana. Contudo, em alguns meses, cada aluno sa
teve início em setembro de 2008, em duas tur berá mais sobre o seu tema do que o professor,
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mas, na província canadense de British Columbia. de modo que o papel do professor é mais o de um
Atualmente em seu sexto ano, mais de 20 mil facilitador. Uma vez por ano, os estudantes fa
crianças por ano estão participando de programas zem uma apresentação sobre o seu tema — e es
Aprendizagem em Profundidade ao redor do mun sas apresentações com frequência são exibições
do — da Austrália ao Japão, do Chile à China, da impressionantes de aprendizagem. As crianças
Inglaterra às Filipinas. costumam aderir ao programa com grande entu
O programa Aprendizagem em Profundidade siasmo, e, em pouco tempo, o programa Aprendi
permite que os alunos tornem-se experts em algum zagem em Profundidade transforma radicalmente
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na internet (www.ierg.net/LiD) e outros recursos nota ou avaliam formalmente o trabalho dos alu
oferecem dicas para explorar qualquer tema em nos completado como parte do programa Apren
uma nova direção. O enfado muito raramente é dendo em Profundidade — algo que talvez con
um problema. tribua para o efeito transformador do programa
Os educadores ficam muito surpresos porque na experiência de aprendizagem dos alunos. Uma
os temas são distribuídos aleatoriamente quando avaliação informal é obviamente útil para que o
os alunos iniciam o programa no jardim de infân professor possa fazer sugestões aos alunos para
cia até a 3ª série. Porém, nossa experiência mos futuras direções a serem exploradas.
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aprendizagem além
das fronteiras
● RoCsana marino denis
● maria nazareth guedes da silva
● luiz antonio gerardi junior
ue professor não sofreu com a pressão propósito de complementar a formação do aluno, estimu
Q
de uma iminente feira de ciências? lar a pesquisa, o trabalho em grupo, o aprender a fazer.
Diante dessa situação, como en Também deve desafiar o estudante com um projeto novo
frentar tal desafio? Não há muito e despertar os talentos que antes lhe eram desconhecidos.
material disponível para nos auxiliar Assim, ao planejar a feira, deparamo-nos com os
e, em geral, aprendemos fazendo. No primeiros desafios: como organizá-la com poucos profes
intuito de contribuir com nossos colegas,
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cias. Trabalhamos com 29 projetos diferentes. Alguns nejamento do projeto antes de sua execução. No pla
se destacaram, como Os sentidos, Armas químicas, nejamento constavam resumo, conteúdo que o grupo
Robótica, Animais abandonados, C.S.I. (solução de desejava transmitir ao público, materiais, montagem
um crime), Vulcanismo, Espelho, espelho meu e e um desenho de como ficaria o estande ou a sala de
Terapia do riso. aula no dia da apresentação. Durante os preparativos,
A professora Rocsana, orientadora do grupo Pilha os alunos fizeram registros em cartazes, banners ou
e eletrólise, iniciou o trabalho indicando a pesquisa painéis para se sentirem mais bem representados. Eles
de assuntos relacionados, como átomo, corrente elaboraram vídeos, maquetes, experimentos, lembran
elétrica, funcionamento da pilha e usos da eletró ças do projeto para o público, fantasias e enfeites.
lise. Posteriormente, nos encontros, discutiu-se o Demos espaço para a criatividade deles.
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27
EDUCAÇÃO INTEGRAL
COM SUCESSO
● Devanir Rodrigues de Oliveira
Colégio Estadual do Criméia Oeste, lo Os(as) professores(as) devem desenvolver pro
O
calizado no bairro do mesmo nome em jetos em conjunto, estimulando os(as) estudantes a
Goiânia (GO), atende alunos do 1º ao pesquisar mais sobre as áreas abrangidas pela matriz
9º ano do ensino fundamental, sendo curricular, bem como aprofundar seus conhecimentos
415 do 1º ao 5º ano e 363 do 6º ao 9º. no campo das artes e da cultura. A ideia é que o ensino,
A instituição compreende que a educa por meio dos projetos educacionais desenvolvidos, pro
ção integral não deve ser somente a ampliação do tempo picie uma educação para vida, uma formação cidadã.
escolar, mas sim um espaço de convivência, troca de Para que fosse possível essa aplicação metodológica,
experiências e aprendizagem, onde o(a) educando(a) organizamos o quadro de ensino da seguinte forma:
possa desenvolver sua formação social, cultural, cogni l Currículo básico e atividades curriculares:
tiva e psicológica. A experiência de educação integral das 7h às 11h25min ocorre a aplicação das disciplinas
teve início no ano de 2005, por acreditarmos na ideia obrigatórias da matriz curricular. Das 13h às 15h, são
do espaço educacional como propiciador de atividades realizadas atividades complementares de pesquisa,
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l Recreio dirigido: os(as) professores(as) das l Projeto Sistema Solar: as professoras de geo
oficinas eletivas desenvolvem projetos de artes e grafia e de ciências trabalham a teoria do Big Bang;
brincadeiras para o período do recreio escolar. a professora de artes aborda as formas e cores do
l Atendimento especializado educacional: sistema solar e a professora de língua portuguesa
a escola dispõe de professores(as) de apoio para 32 trabalha a oralidade dos(as) estudantes, que apre
estudantes portadores de necessidades especiais, sentam uma exposição oral para finalizar o projeto.
contribuindo para a sua inclusão na comunidade l Projeto Egito e a Matemática: reconstrói os cál
escolar e na sociedade. culos matemáticos com base nas figuras geométricas
l Planejamento: cada professor(a) dispõe de oito das pirâmides. A professora de história introduz o con
horas e meia semanais, em sua carga horária, para texto social e econômico do Egito e a de língua inglesa
o planejamento das atividades, individual ou co apresenta o vocabulário egípcio na língua inglesa.
letivamente. Essa atividade é acompanhada pela l Projeto Corozum: trata-se de um coro cênico
coordenação pedagógica. que em 2013 fez o resgate de cantigas populares.
As professoras do 1º ao 5º ano trabalharam a inter
Currículo básico e atividades curriculares pretação do texto poético das cantigas, enquanto a
Nosso colégio estabelece uma íntima relação entre os professora de coral trabalhou ritmo, canto, técnica
conhecimentos científicos e a realidade do(a) estu vocal e memorização das letras e a de dança, as
dante. Propõe trabalhar os conteúdos curriculares da gesticulações e os movimentos.
base nacional comum e da parte diversificada a partir Em 2014, a professora de futsal desenvolveu um
de temas, em coerência com o Currículo Referência projeto sobre a Copa do Mundo no Brasil, abordando os
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do Estado de Goiás. Visa desenvolver com o(a) estu jogos, a história e a importância desse evento, enquan
dante a criatividade, o dinamismo, a participação no to a professora de arte trabalhou com as ilustrações e
contexto social, introduzindo valores éticos, morais as reproduções dos símbolos da Copa.
e de respeito aos direitos humanos. Nesse ambiente,
o(a) educando(a) constrói-se como cidadão, em pleno Oficinas eletivas
uso de seus deveres e direitos. Procura-se desenvolver O(A) estudante é convidado(a) a escolher as oficinas
um espaço que promova a reflexão para a formação que pretende cursar durante o ano letivo. Caso não
cidadã. Estes são alguns exemplos de atividades se adapte à escolha, podem ser feitas alterações no
desenvolvidas. início do processo de ensino. Às 15h, os(as) estudantes
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também desenvolvem projetos educacionais em con da leitura, tênis de mesa, entre outros.
junto com os(as) professores(as) do currículo básico Por ser esta uma escola com mais de 700 estu
e do atendimento especializado educacional voltados dantes, o recreio dirigido é um recurso inovador, que
à formação do(a) estudante na busca pela qualidade mobiliza professores(as) de diversas áreas para o en
social da educação integral. Uma formação de quali tretenimento dos alunos, transformando esse momento
dade, em qualquer área de conhecimento, acontece de descanso em algo prazeroso sem que haja problemas
a partir do fortalecimento do diálogo e da experiência de interação entre eles.
no trato pedagógico e da busca do prazer no ato de Comparado com o recreio usual, o recreio diri
ensinar e aprender. gido cria possibilidades de lazer mais direcionadas
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30
A participação é voluntária,
e os alunos têm liberdade
para transitar
entre as atividades
promovendo a sua interação com os demais. O autor agradece a colaboração da diretora Neuva Pereira e das
Também é oferecido atendimento psicológico e professoras Dalva Vieira, Fabíola Pereira e Letícia Reis.
fonoaudiológico a qualquer estudante do colégio que
necessite de encaminhamento para os profissionais
dessas áreas. A excelência da qualidade no atendi
l Devanir Rodrigues de Oliveira é graduado
mento especializado é uma conquista da escola junto em Educação Artística com Habilitação
à Secretaria de Estado de Educação (SEDUC), que em Artes Cênicas e professor de teatro
disponibilizou os recursos devido ao elevado nível do do Colégio Estadual do Criméia Oeste em Goiânia.
trabalho desenvolvido pela equipe do AEE do colégio. devs.teatro@gmail.com
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31
A
de Taquarituba (SP), onde está loca- coisas do mundo. A proposta foi refletir sobre a eter-
lizada a E.E. José Pires de Carvalho, nidade e a efemeridade, partindo dos monumentos
deu origem ao projeto “Arte e mate- construídos para registrar e homenagear fatos ou
rialidade, que seja eterno enquanto pessoas da história da humanidade. Além de abrir
dure”. Em 22 de setembro de 2013, espaços para as potencialidades criativas dos alunos,
Taquarituba foi atingida por um tornado o projeto permitiu que eles se identificassem com o
que devastou a cidade, destruindo a rodoviária, o patrimônio cultural, criando uma relação afetiva e
parque industrial, o ginásio de esportes e várias casas, compreendendo a democratização do espaço público.
causando a morte de duas pessoas e deixando muitos
feridos. O tornado passou muito perto da E.E. José PERPLEXIDADE
Pires de Carvalho, onde leciono, e vários alunos que Assim que voltamos às aulas, percebi que os alunos
moram nas redondezas foram afetados. estavam perplexos com o estado em que se encontrava
O projeto nasceu da necessidade de se trabalhar a cidade. Havia ferros retorcidos; telhas, chapas de
nas aulas de arte um modo de pensar, materializar e zinco e árvores arrancadas por todos os lados; pes-
catalisar os sentimentos de espanto que ficaram na soas desabrigadas morando em casas de parentes ou
memória das vítimas do tornado. A ideia foi utilizar amigos. Percebi que eles precisavam expor esses sen-
o patrimônio público destruído durante esse episó- timentos de medo, espanto e angústia. Então propus
dio como mecanismo facilitador para possibilitar a que observassem a obra O grito, de Edward Munch,
entrada em vários territórios da arte: materialidade, que estávamos estudando naquele momento, e então
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forma-conteúdo, processos de criação, saberes esté- a relacionassem com o tornado e com o que haviam
ticos e culturais. Segundo Dewey, “toda experiência presenciado naqueles dias.
é resultado da interação entre uma criatura viva e Discutimos sobre as ilustrações, sobre o sentimen-
algum aspecto do mundo em que ela vive” (2010, p. to de medo e pânico perante as forças da natureza e,
122). Assim, o projeto propôs uma experiência esté- em determinado momento, o assunto voltou-se para
tica completa, propiciando uma interação dinâmica a fragilidade do ser humano em tais circunstâncias e a
e ativa entre os alunos do ensino fundamental da perenidade das coisas materiais. Lancei uma reflexão
escola e seu ambiente. para a turma: as coisas materiais que o homem produz
Para tanto, utilizamos os diversos caminhos (casas, prédios, monumentos, etc.) são eternas ou
que a arte proporciona, explorando seus territórios não? O que fica é a memória? A discussão estendeu-se
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32
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33
O MONUMENTO E A INSTALAÇÃO
Reunimos os objetos recolhidos nas ruas pelos alunos
para conversarmos sobre a construção de um monu-
mento. Um deles sugeriu que um ferro em formato de
“V”, lembrando vítima, poderia ser utilizado como base
(suporte). Fitas cortadas de chapas de zinco foram retor-
cidas em torno desse “V”, como se o tornado estivesse
envolvendo as vítimas. As partes da escultura foram
soldadas por um serralheiro, e os alunos acompanharam
o processo. Recebemos autorização — e os parabéns — do
prefeito, que se comprometeu a instalar a escultura em
um parque afetado pelo tornado, que será reformado. por considerarem esse um local seguro. Sugeri que
Com isso, ela se transformará em um monumento. criássemos a instalação dentro de um banheiro desa-
tivado na escola, pois ele resumiria simbolicamente
INSTALAÇÃO as histórias. Os alunos foram incumbidos de gravar
Nas aulas seguintes, voltamos a pensar nas possibilidades os depoimentos das vítimas com seus celulares, que
de criação artística com os outros objetos recolhidos seriam posteriormente projetados na instalação.
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pelos alunos. Era chegado o momento de adentrar em Como a ideia do projeto era trabalhar a mate-
outro território: a instalação. Portanto, nas aulas expo- rialidade e suas possibilidades, produzirmos nossas
sitivas, utilizei vídeos para detalhar o conceito. próprias tintas, assim como Nuno Ramos. Inicialmente,
Nossa inspiração foi o artista contemporâneo apresentei a têmpera, e fizemos vários experimentos
Nuno Ramos, cuja obra é caracterizada pelo acúmulo com pigmentos naturais e industrializados. Em segui-
de materiais. Apresentei diversos vídeos e documen- da, pintamos alguns objetos para a instalação e os
tários e refletimos sobre suas obras. Que espaços amarramos, com o auxílio de arame, em um painel de
poderíamos utilizar para narrar as histórias das ví- papelão. Com pincéis, espátulas e as próprias mãos,
timas do tornado? Um aluno comentou que muitas usando outra tinta preparada por nós, os estudantes
pessoas se esconderam nos banheiros de suas casas criaram um painel para colocar no fundo do banheiro.
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Inauguramos a instalação e, nos finais de semana, A experiência provou que é possível desenvolver
durante o programa Escola da Família, registramos as ações que viabilizem o diálogo e a participação con-
visitas em um livro de presença e colhemos tanto os junta de todos os envolvidos, promovendo os três
depoimentos dos visitantes quanto suas impressões eixos de um aprendizado significativo: contextuali-
sobre a obra. zação, produção e apreciação.
Após a finalização do projeto, conversamos sobre as
produções realizadas. Os alunos registraram nas fichas
suas conclusões finais. O que mudou ou poderia ser
mudado? Também voltamos à questão inicial: o monu-
mento é eterno ou não? As impressões foram bastante REFERÊNCIAS
satisfatórias, pois percebi que houve uma modificação CLARO, A.M. (dir.). Monumentos de Franz Weissmann. SescTv,
no modo de ver as aulas de arte em todos nós. São Paulo, 2001. DVD 23 (23 min). Material educativo para
professor-propositor. DVDteca Arte na Escola.
DEWEY, J. Arte como experiência. São Paulo: Martins Editora
Conclusão Livraria, 2010.
O projeto proporcionou o estudo da matéria fazendo RABELLO, M.E. (dir.). Arte e materialidade. Rede SescSenac de
conexões com a construção do objeto de arte. Percebi Televisão, São Paulo, 2000. DVD 7 (23 min). Material educativo
que, quando os alunos experimentam e vivenciam a para professor-propositor. DVDteca Arte na Escola.
arte, saem do lugar comum para pensar como cidadãos ____. Nuno Ramos: arte sem limites. SescTv, São Paulo, 2000. DVD
que fazem parte de uma sociedade, pois, a partir do 23 (23 min). Material educativo para professor-propositor.
DVDteca Arte na Escola.
momento em que atribuíram significado aos objetos que
SECRETARIA Estadual de Educação. Currículo do Estado de São
o tornado jogou pela cidade, eles certamente saíram Paulo — Arte. São Paulo, 2008.
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35
Novas possibilidades
para a ciberinfância
Atualmente, a maioria das crianças utiliza artefatos tecnológicos (Amaral, 2010). Diante das
celulares, notebooks, tablets e computa- necessidades desse tipo de infância e das apren-
dores com acesso à internet. Portanto, dizagens potenciais a partir dos artefatos, o pro-
não se podem mais negligenciar os aparelhos e as fessor precisa entender mais sobre o contexto em
competências dos estudantes. Os professores dos que nascem e vivem as crianças, participar de
anos iniciais do ensino fundamental devem aproxi- suas culturas e, com isso, repensar suas práticas
mar-se da ciberinfância, conhecer e analisar arte- pedagógicas e, muitas vezes, (re)inventá-las.
fatos tecnológicos e pensar sobre o planejamento A prática pedagógica com artefatos tecnoló-
pedagógico de práticas ativas e dinâmicas a partir gicos requer procedimentos indispensáveis à ação
dos saberes sobre/com as tecnologias. do professor. Conforme Zabala (1998), a prática
O conceito de ciberinfância refere-se às crian- deve ser reflexiva, prevendo planejamento e ava-
ças que lidam com as tecnologias desde muito liação, pois o que acontece nas aulas, a própria
cedo, e essa infância é apenas uma entre tantas intervenção pedagógica, precisa de uma análise
outras que constituem a nossa sociedade. O que que leve em conta as intenções, as previsões e a
avaliação dos resultados. Ao planejar, é preciso
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Ilustração: iStockphoto.com/bubaone
Os artefatos, como a internet, na medida em que de sua época. As possibilidades de gestão de cria-
educam e produzem subjetividades, também são ção, publicação e compartilhamento de informa-
considerados pedagógicos. Isso significa que não é ções na web tornam os usuários sujeitos ativos:
apenas a escola e a família que educam as crian- autores, produtores de imagens e vídeos, atores,
ças, mas também outros meios. comentaristas. A escola precisa incorporar essas
O estudo de Amaral (2010) procurou conhecer novas configurações às suas aulas, já que a fala,
os entendimentos de professores da educação in- a troca, a colaboração, a cooperação podem ser
fantil e dos anos iniciais do ensino fundamental so- produzidas em ambientes nos quais os estudantes
bre a ciberinfância e como estes planejam práticas encontram-se no ciberespaço.
pedagógicas com artefatos tecnológicos. Em um Esses recursos podem ser direcionados para
curso de extensão realizado com docentes, abor- os objetivos educacionais. Uma possibilidade para
dou-se o tema da infância atual, sendo possível esses encontros são os ambientes virtuais de
ver o entusiasmo que demonstraram ao descrever aprendizagem, que, graças às suas diferentes fun-
atitudes de seus alunos relacionadas à tecnologia. cionalidades, permitem a criação e o comparti-
A ideia do enfrentamento de um período de lhamento de materiais. Neles podem ser postados
mudança, que transforma o conceito de infância arquivos, vídeos e imagens, trocadas mensagens
e influencia as experiências vividas pelas crian- por meio de debates, comentários, postagens,
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ças, é compartilhada entre os professores. Por além de organizados aulas e conteúdos. Como se
outro lado, eles comentam, um tanto incomoda- restringem a grupos fechados de professores e
dos, o fato de as crianças encontrarem a infor- alunos de escolas, os ambientes virtuais de apren-
mação pronta na internet e então a copiarem; de dizagem são considerados seguros para serem uti-
fazerem “tudo” ao mesmo tempo; de utilizarem lizados na prática pedagógica com as crianças.
demais a internet e não saberem desfrutar de um Um deles é o Planeta ROODA 2.0, um ambiente
livro impresso. Diante disso, foi possível conhe- de aprendizagem on-line que tem como finalidade
cer um pouco do que tomam como dificuldades principal possibilitar o trabalho coletivo, interdis-
para a presença dos artefatos tecnológicos no ciplinar e de autoria na internet com alunos e pro-
contexto escolar. fessores da educação infantil e dos anos iniciais do
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37
38
+
te e rever o modo como são usados e integrados
os artefatos tecnológicos às práticas pedagógi- SAIBA
cas para construir uma sala de aula para a gera-
BEHAR, P. (org.). Competências em educação
ção que pensa e vive a ciberinfância plenamen- a distância. Porto Alegre: Penso, 2013.
te. O futuro dessa geração? Ainda não se sabe, BEHAR, P. e cols. Modelos pedagógicos em
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mas, com certeza, não é a escola do presente. educação a distância. Porto Alegre: Artmed, 2009.
39
Falha na conexão
Insegurança, falta de capacitação, deficiência
nos equipamentos e no acesso à internet nas escolas
ainda impedem que a maioria dos educadores utilize
plenamente as tecnologias digitais como recurso pedagógico
M
esmo com uma relativa intimidade com pinas (Unicamp) e da Université Aix-Marseille, na Fran-
programas de edição de texto, planilhas ça, mostrou que, dos 253 professores de ensino médio
eletrônicas e navegação na internet, o de escolas da rede pública entrevistados, 85% não se
professor de matemática Adilson Roveran, sentiam plenamente confiantes em utilizar o computa-
que leciona no ensino fundamental II da rede pública dor e seus recursos como ferramenta pedagógica. Para
estadual de São Paulo, não esconde que ainda tem li- a pesquisadora, a insegurança pode ser explicada pelo
mitações para lidar com algumas tecnologias digitais. fato de muitos não terem preparo pedagógico suficien-
“Mesmo com dificuldades em dominar recursos mais te para usar tais recursos, nem apoio técnico que lhes
recentes, como tablets, tento enfrentá-los seguindo a permita ter auxílio imediato no caso de algum proble-
máxima ‘se tiver medo, vá adiante com medo mesmo’”, ma. Ainda faltam incentivos por parte da direção e dos
conta. Foi assim que ele já superou muitos receios e colegas. Com isso, os professores sentem-se ainda me-
hoje prepara todas as suas avaliações no Word, utiliza a nos confiantes para integrar os recursos às suas aulas e
planilha Excel para fazer cálculos de tabelas ou mostrar pouco motivados a investir tempo preparando uma ati-
aplicações de gráficos e faz apresentações em Power vidade diferenciada que envolva o uso da tecnologia.
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Point para aulas que sejam beneficiadas pela exposição O professor Luciano Meira, da Universidade Federal
de slides. Também se mantém conectado com seus alu- de Pernambuco (UFPE), entende que parte considerável
nos pelo Facebook para publicar curiosidades, piadas e do suposto receio dos professores com as tecnologias
fatos matemáticos. digitais resulta de uma inadequação dessas ferramen-
Roveran é um exemplo de superação; porém, para tas, elas próprias desenvolvidas sem foco específico
muitos professores, incorporar tecnologias digitais ao co- na cultura da escola e das práticas didáticas mais fa-
tidiano pedagógico continua sendo um grande desafio, miliares aos docentes. Sócio de uma empresa que de-
seja na tentativa de usar novos dispositivos em ativida- senvolve plataformas educacionais lúdicas, ele afirma
des educativas, seja na integração de mídias digitais e que a tradição de desenvolvimento de ambientes di-
redes sociais ao processo de ensino e aprendizagem. gitais na forma de softwares, jogos e aplicativos para
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Um estudo realizado entre 2009 e 2011 pela pes- educação não envolve, de modo geral, uma articulação
quisadora Cacilda Alvarenga, da Universidade de Cam- sofisticada entre designers, engenheiros e educadores.
40
s
dare
a
Val
G.
“O resultado são artefatos bastante pobres, muitas
do
al
vezes excessivamente pedagógicos e pouco atraentes
in
eg
para as crianças, os jovens e seus professores”, aponta. :R
to
Fo
em si, como internet e redes sociais, ainda há pouca vidade, inclusive num modelo que não isole os usuários
aplicação dos recursos digitais às formas como o aluno em laboratórios de informática, que são peças anacrô-
aprende e constrói conhecimento. “A atuação em sala nicas”, afirma Luciano Meira.
fica, muitas vezes, na experimentação”, destaca. Para driblar a falta de recursos, Cacilda Alvarenga
O professor Silvio Henrique Fiscarelli, do Depar- sugere trabalhar com mais de dois alunos por computa-
tamento de Didática da Universidade Estadual Paulis- dor e revezar grupos para ir ao laboratório ou usar os
ta Júlio de Mesquita Filho (Unesp), lembra que o uso equipamentos. Outra dica é fazer o download de deter-
de tecnologia na escola vem sendo discutido desde minados conteúdos para o trabalho off-line, solicitando
a década de 1990, embora os progressos efetivos te- atividades possíveis de serem realizadas com esses con-
nham sido pequenos em quase duas décadas. Segun- teúdos nos casos em que ainda não é possível utilizar a
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do ele, pesquisas realizadas na universidade indicam internet, um recurso importante, mas não pré-requisito
que grande parte dessa estagnação deve-se a dois para usar a tecnologia como aliada ao ensino.
41
s
ve dar uma resposta incoerente e perder a credibilidade
te
Es
tica e física se comparado à apresentação dos conteúdos exemplo, é possível fazer uso das ferramentas audiovi-
de maneira expositiva na escola. A pesquisa foi desenvol- suais, explorar animações, objetos de aprendizagens e
vida durante dois anos e avaliou o desempenho de 400 jogos educativos, gravar as criações dos alunos durante
estudantes de oito turmas de 2º e 3º anos de um colégio o desenvolvimento e a exploração, criar podcast e livros
estadual em Araraquara, no interior de São Paulo. falados. Com os alunos do fundamental I, ela observa
A educadora Ana Paula Costa Souza, que hoje tra- que é extremamente importante desenvolver pesquisas
balha como coordenadora pedagógica no Colégio Anglo orientadas e roteiro de estudo; por isso, recomenda usar
Cassiano Ricardo, em São José dos Campos (SP), é uma WebQuest e WebGincana (pesquisas na internet orien-
incentivadora do uso das tecnologias. Até dois anos atrás, tadas de maneira divertida e lúdica), desenvolver ati-
ela era professora de informática para alunos do 1º ao 5º vidades utilizando planilhas, editor de texto e apresen-
ano e ensinava-os a pesquisar, explorar, criar e utilizar os tações. No fundamental II, a dica é explorar os recursos
recursos em função da aprendizagem. Agora o seu papel digitais on-line. “Podemos nos beneficiar da computação
PÁTIO
no colégio é tentar inserir a tecnologia no planejamento na nuvem, pois há inúmeros aplicativos disponíveis gra-
dos professores da educação infantil e do ensino funda- tuitamente”, recomenda.
42
nga
de cursos de formação para
are
o uso didático das tecnologias
Alv
na
Se
Aula no celular
de
k
an
r
:F
to
Fo
Perca o medo
Na opinião da pesquisadora Cacilda Alvarenga, é im- vel para que o professor possa capacitar-se”, aponta.
portante que os docentes participem de cursos de “Existem cursos livres e gratuitos sobre o tema”.
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formação para o uso didático de tecnologias, tendo Fernanda Tardin, criadora do blog Utilizando as Mídias
interesse em aprender sobre novas estratégias de ensi- na Educação, também recomenda os recursos disponibili-
no que envolvam o uso de recursos tecnológicos. Além zados por sites e blogs, além da a troca de informações
disso, devem buscar conteúdos e recursos de modo in- com colegas. “Quando se posiciona como um aprendiz in-
dependente, considerando o conteúdo a ensinar e os teressado, sempre em busca de novas descobertas, o cami-
objetivos pedagógicos. nho se torna muito mais fácil para o profissional”, destaca.
Para José Francisco Vinci de Moraes, coordenador Ana Paula Costa Souza, coordenadora pedagógica
do Ambiente Virtual de Aprendizagem da Escola Supe- no Colégio Anglo Cassiano Ricardo, em São José dos
rior de Propaganda e Marketing (ESPM), o maior obs- Campos (SP), comprovou a importância do intercâmbio
táculo ao uso de tecnologias digitais pelos professores com educadores depois de ter criado o blog minhacaixa-
pode ser a falta de motivação, competência, planos de magica.blogspot.com. “Minha prática pedagógica apri-
carreiras, incentivo e projetos por parte das institui- morou-se, pois passei a ter contato com inúmeros pro-
PÁTIO
ções de ensino. “A própria internet é uma fonte incrí- fessores inovadores e conteúdos diferenciados”, conta.
43
V
● Reportagem // Henrique Koifman
Em um novo tom
Um parecer e um projeto de resolução
do Conselho Nacional de Educação indicam
o caminho para cumprir a obrigatoriedade
do ensino de música nas escolas.
Será que estamos prontos para
seguir essa nova partitura?
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o dia 4 de dezembro de 2013, a Câmara de de elaboração das novas definições, estas trazem um
Educação Básica (CEB) do Conselho Nacional grande estímulo e um desafio de igual tamanho. “Essa
de Educação (CNE) aprovou por unanimidade característica do trabalho colaborativo e em rede é um
um parecer e um projeto de resolução que grande mérito do documento, mas também representa
definem as diretrizes para a operacionalização do um grande desafio”, afirma. Segundo ele, a dificuldade
ensino de música na educação básica nas escolas bra- está em promover a integração necessária para que
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sileiras. Essas definições têm como objetivo orientar todos os órgãos e instituições relacionados à educação
a aplicação da Lei nº 11.769/2008, que estabelece a básica atuem de maneira coesa, fazendo com que, a
obrigatoriedade do ensino de música, algo que já es- partir das políticas públicas educacionais definidas
tava definido — embora de forma menos explícita — na para o Brasil, os conselhos, as secretarias e as escolas
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 e que depende trabalhem integradamente para atingir esse objetivo
tanto da vontade política quanto do comprometimento comum proposto pelas Diretrizes.
das equipes nas esferas federal, estadual e municipal Queiroz explica que o projeto de resolução atri-
de educação para sair do papel e chegar a todas as bui a cada escola incluir o ensino de música em seu
escolas brasileiras. projeto pedagógico como parte do conteúdo curricu-
Para Luis Ricardo Silva Queiroz, professor da UFPB lar obrigatório. “Essa é uma demanda que apareceu
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e presidente da Associação Brasileira de Educação com destaque nas audiências públicas realizadas pelo
Musical (ABEM), entidade que participou do processo CNE: que o ensino e as atividades musicais sejam
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de aula”. Luis Ricardo Queiroz explica que, ao alargar as
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fronteiras do ensino de música, é dada aos professores
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a possibilidade de estabelecer parcerias em projetos e sa
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diversos, como, por exemplo, com mestres e músicos : Pa
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das comunidades. “Mediado por um docente formado
para esse fim, o ensino de música poderá transcender
os limites da escola, inserindo-se na vida cotidiana de tamente possível. “Os professores estão interessados,
alunos, professores, gestores e comunidade escolar em estão em salas de aula com o desejo de aprender e
geral”, explica. trabalhar com música, mas não sabem onde fazê-lo”,
O professor ressalta ainda a definição no projeto afirma Iveta, autora da tese Música na escola: desafios
da responsabilidade das instituições para comporem e perspectivas na formação contínua de educadores da
quadros de profissionais de educação com professores rede pública. “Esse, portanto, não é um problema do
licenciados em música: “Isso, porém, não exclui a par- professor, mas do sistema, de como se olha a questão”,
ticipação legítima e relevante de mestres, músicos e alerta. “Muitas vezes, vemos projetos de gestão que
outros profissionais relacionados à área”. contemplam somente o investimento no professor que
está na sala de aula, e isso é um grande erro. Quando
FALTA DE PROFESSORES pensamos em um sistema público, municipal ou esta-
A presença dos especialistas com licenciatura em músi- dual, temos de pensar também na direção, na super-
ca em todas as escolas não deverá acontecer antes de visão, que são muito importantes nessa articulação”,
alguns anos, ainda que as instituições se esforcem para esclarece a professora.
ampliar a oferta de cursos de licenciatura, inclusive para Segundo ela, na prática, as alterações na legislação
bacharéis, e ofereçam cursos de segunda licenciatura servem para desfazer o que fora estabelecido durante
em música para professores e demais profissionais da o período militar, com a Lei nº 5.692/1971, que reunia
educação básica. “Neste momento, não temos pro- em educação artística os conteúdos antes contempla-
fessores com licenciatura em música suficientes para dos nas disciplinas de música, desenho, artes visuais,
atender sequer a 1% do alunado brasileiro — e essa é teatro, etc. “Tal media trouxe uma falta de qualidade”,
uma estatística do MEC”, afirma o maestro e professor pondera Iveta.
Ricardo Prado, criador do Programa Repertórios para Ela revela que o perfil atual de seus alunos de licen-
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educação musical nas escolas. Ele tem esperança de ciatura em música é diferente do de quem está em um
que a própria existência da Lei nº 11.769/2008 seja, curso de um instrumento, como violino ou piano, com
ao longo do tempo, uma indutora de novas gerações foco mais específico. “Eles costumam ter um leque mais
de professores com licenciatura em música. “Abre-se aberto, porque terão de trabalhar com tudo isso”, ob-
um mercado de trabalho até para o jovem, o estudante serva. “Costumo dizer para os estudantes que nós somos
que nem pensava em seguir a carreira musical, pois não ‘clínicos gerais’: tudo o que aprendem na universidade
tinha perspectiva de poder viver de música”, observa. será para ajudá-los na formação desse ‘geral’, do qual
“A carreira pode vir a se tornar mais atraente”. irão precisar nas escolas para poder abarcar essa varie-
Para a professora Iveta Maria Borges Ávila Fernandes, dade de vertentes e possibilidades que existem”.
da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Esse leque de possibilidades será especialmente
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Filho (Unesp), implementar o ensino de música nas importante mais tarde, nas escolas de ensino funda-
escolas representa um enorme desafio, porém é perfei- mental, onde há uma grande diferença entre o trabalho
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SAMBA-ENREDO NO CURRÍCULO
Embora não fosse exigido formalmente, o ensino de
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música não foi suprimdo nem perdeu sua importância Co
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em algumas escolas. Um exemplo disso é a carioca rce
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Sá Pereira, que trabalha com crianças da educação Fot
infantil e do ensino fundamental. “Na Sá Pereira, existe
a real valorização da música e da arte como um todo, LIBERDADE DE ESCOLA
tão importantes e tão formadoras quanto a matemática A pluralidade e a variedade de estilos são um dos pontos-
ou o português”, diz Manoela Marinho Rego, professora -chave do Programa Repertórios, criado e implementado
do Primeiro Segmento da escola. pelo maestro e professor Ricardo Prado, inicialmente
Licenciada em Música, Manoela cursa o mestrado em escolas do SESI no Rio de Janeiro e, mais tarde,
em Educação Musical na UNIRIO e tem em seu currículo em parte da rede pública municipal carioca. O projeto
a participação em projetos com crianças e jovens em começou a nascer em 2007, a convite do SESI nacional,
comunidades carentes do Rio de Janeiro. Ela explica devido à experiência do maestro em diferentes formas
que, na Sá Pereira, além de uma ótima estrutura, com de ensinar música — entre outras, como diretor da tra-
espaço adequado e instrumentos, as escolhas curricu- dicional Escola Villa-Lobos no Rio de Janeiro.
lares são voltadas para que essa importância da música Para desenhar a sua proposta, ele partiu de duas
seja percebida. “As disciplinas acabam conversando premissas. A primeira é de que o ensino da música tem
todas entre si, o que não engessa o trabalho”, conta. de ser “ônibus”, tem de ser para todos, não só para
“Abordamos a música valorizando muito o fazer musical. alguns que têm maior facilidade ou estão particular-
Os desdobramentos teóricos vêm a partir da prática”, mente interessados. A segunda é de que o ensino de
relata a professora. música deve ser barato e, também por esse motivo, não
Um exemplo da abordagem e da prática musical pode, ao menos neste momento, ter como exigência
na escola é o Bloco da Sá Pereira, que congrega toda a professores com licenciatura em música.
comunidade escolar e inclusive a vizinhança do bairro Ricardo Prado afirma que, com o seu programa, pre-
do Humaitá, onde se situa a instituição e por cujas ruas tende que os alunos entendam que a música prescinde de
o grupo desfila como parte do calendário carnavales- filiação ou fidelidade. “É possível ouvir a cada momento
co oficial da cidade. A escola fez da folia um evento do dia o que você escolher. E, quanto mais variedades
didático muito bem-aproveitado. Hoje, ele já é uma conhecer, mais escolhas você terá, trocando de música
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tradição na instituição, marcando a abertura do projeto como troca de roupas”, exemplifica. “Pretendemos levar
que será trabalhado ao longo do ano. “O samba-enredo para os alunos mais oportunidades para que ouçam uma
do bloco aborda o tema que será desenvolvido nas salas maior variedade de música. A cultura que queremos pro-
de aula”, conta Manoela. mover é a da escolha”, define. Ele destaca que a música
O canto coral — que costuma ser associado por não é um bem universal. “Nem todo mundo quer música.
muitos a uma prática conservadora de ensino — também Embora seja uma linguagem, ela não é apreciada por todos
é utilizado na Sá Pereira. Embora mantenha algumas da mesma maneira. Então, é preciso mobilizar e atrair o
de suas principais características, como a de exercitar aluno”, salienta o maestro.
o trabalho coletivo das crianças, ali o coro procura A forma escolhida para fazer essa atração é a litera-
permitir que seus participantes contribuam com suas tura, através da saga de um personagem, que se chama
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peculiaridades pessoais, tanto musicais quanto pessoais, Léo, em uma série de livros que são levados às salas de
funcionando como um canal para a diversidade. aula. Os alunos acompanham as experiências que ele
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As escolas são aconselhadas e incentivadas a manter u ivo
salas de música com instrumentos, embora isso não arq
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seja considerado obrigatório. “Como uma resultante
do processo, propomos um festival de talentos, não
somente os musicais”, conta Ricardo Prado. O evento passando por bairros e favelas em todas as regiões do
é produzido pelos próprios alunos, com o auxílio dos estado, incluindo escolas dentro de fábricas, em cursos
professores e das equipes escolares, com todos os alunos diurnos, noturnos e de madrugada. Em 2011, após dois
que queiram participar. anos de aplicação, o SESI fez um estudo e concluiu que
Em 2010, o SESI contratou o Programa Repertórios o grau de satisfação com o programa entre alunos,
para fazer um piloto em todas as suas escolas no Rio de professores, familiares e equipes pedagógicas era de
Janeiro, com aproximadamente 11 mil alunos, do 6º ano 97,4%. “Há muito talento e desejo musical no Brasil. Dê
até o ensino médio e à educação de jovens e adultos um incentivo pequeno, ligeiro, e logo vai aparecer uma
(EJA), com perfis diferentes e distribuídos em locais porção de gente querendo aprender a tocar melhor, a
que iam da Zona Sul carioca até a Baixada Fluminense, aprender mais”, destaca o maestro. l
atribuem a uma iniciativa de Villa-Lobos, já constava ças “melhores usos da língua pátria” e afirmava ainda
em uma legislação que ordenava sua aplicação, e o que cantar ajudaria a respirar melhor; portanto, as
que o ele fez foi instituir um meio de se cumprir a lei. crianças que cantassem nas aulas desenvolveriam uma
Para Ricardo Prado, as legislações que tratam da espécie de defesa natural contra um dos maiores dra-
educação traduzem o entendimento que a sociedade mas da saúde pública daquela época — a tuberculose.
daquele momento tem em relação ao país, a seus Prado aponta que, já em meados da década de
desejos e intenções. “As sociedades ainda em for- 1930, textos publicados por Villa-Lobos demonstra-
mação, como a nossa, atribuem à escola as funções vam sua preocupação com questões como a razão
civilizatórias ou, quando não delegam essa função, de se fazer música nas nossas escolas, que melodias
acabam compartilhando-a com a escola”, afirma. Ele do repertório nacional as crianças deveriam cantar,
exemplifica com a legislação anterior a Villa-Lobos, como escolher esse repertório e com quais professo-
a qual determinava que o canto orfeônico tinha três res isso seria trabalhado nas instituições.
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