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SELEÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA

Margarita A. Bernal Wieselberg

Káris Ester Dong Creste

INTRODUÇÃO

A adaptação de dispositivos eletrônicos de amplificação sonora é um recurso fundamental,


parte de um extenso processo de tratamento na reabilitação da pessoa com deficiência
auditiva. Esse processo está constituído por várias etapas, ao longo das quais cabe ao
fonoaudiólogo a tomada de decisão sobre inúmeros aspectos que incluem desde a
compreensão das necessidades auditivas e não auditivas desse candidato, a seleção de
características técnicas e eletroacústicas do dispositivo de amplificação, a realização de
procedimentos e testes que garantam a boa adaptação, o conforto e a compensação das
necessidades da pessoa com deficiência auditiva, dentre outras.

Com o propósito de promover orientações e ações mais uniformizadas na adaptação desses


dispositivos, a Academia Americana de Audiologia1 publicou um conjunto de recomendações
clínicas (Practice Guidelines). Para tanto, foi instituída uma força-tarefa constituída por um
grupo de profissionais audiologistas notáveis que, com base em evidências científicas, teve a
missão de debater, documentar e oferecer condutas com diretrizes de boas práticas. Nelas, o
fonoaudiólogo pode buscar orientação e direcionamento sobre etapas e procedimentos de
forma a facilitar a tomada de decisões e a elaboração de um plano de tratamento a ser
seguido ao longo do processo de reabilitação audiológica. Como resultado, vislumbrava-se
alcançar menor incerteza e variabilidade de resultados, maior adesão ao tratamento e sucesso
na reabilitação audiológica com o dispositivo eletrônico de amplificação sonora. Desde então,
esse documento de recomendações tem sido revisto, aceito e chancelado pela maioria das
sociedades científicas, órgãos reguladores e profissionais no mundo.1-3

As diretrizes de boas práticas na reabilitação audiológica, por meio da adaptação dos


dispositivos eletrônicos de amplificação sonora, sugerem que determinadas etapas sejam
seguidas, cada uma delineada com recomendações, procedimentos e/ou testes específicos.
Tais etapas incluem: a avaliação do candidato; a seleção das características eletroacústicas e
físicas do dispositivo; a verificação física e do desempenho eletroacústico real desses
dispositivos; a validação (ou avaliação dos resultados) do uso da amplificação fora do ambiente
clínico e, por fim, mas não por último, procedimentos de orientação e aconselhamento, que
devem permear todo o processo. (Para maiores informações sobre o assunto, consultar os
Capítulos 34, “Verificação e avaliação de resultados no processo de seleção e adaptação de
dispositivos eletrônicos de amplificação sonora”, e 45, “Reabilitação auditiva em adultos e
idosos”.)

Cabe ainda esclarecer que existem diretrizes de boas práticas voltadas para a população
adulta1 e outra específica para a população pediátrica.4 Este capítulo abordará aquelas
voltadas à pessoa adulta. Os cuidados voltados à reabilitação da população pediátrica serão
abordados em outros capítulos deste mesmo Tratado. (Para maiores informações sobre o
assunto, consultar o Capítulo 44, “Intervenção fonoaudiológica na reabilitação auditiva
infantil”)
Para dar início ao capítulo, fica estabelecido que todo e qualquer indivíduo que manifeste
dificuldades auditivas e/ou de comunicação, independentemente do grau da perda auditiva,
poderá ser considerado um candidato em potencial a um programa de reabilitação audiológica
com adaptação dos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora.

A base da avaliação da audição, a audiometria tonal liminar por via aérea e óssea, nosso
“padrão ouro”, é o exame que propicia informações preliminares quanto à candidatura ao uso
do dispositivo eletrônico de amplificação sonora. No entanto, quando incompleta ou
interpretada de forma isolada, pouco revela sobre outras importantes questões que envolvem
necessidades auditivas, não auditivas e comunicativas, expectativas, prognóstico, problemas
relacionados à distorção dos sons e desconfortos auditivos. (Para maiores informações sobre o
assunto, consultar o Capítulo 8, “Audiometria tonal liminar e de altas frequências”.)

A avaliação audiométrica deve ser vista em sua totalidade, enriquecida com a pesquisa dos
níveis de desconforto para sons de forte intensidade, interpretada conjuntamente com os
resultados da logoaudiometria. A compreensão do conjunto de informações fornecidas pelas
medidas da imitância acústica, sobre as condições do sistema tímpano-ossicular e a
identificação da presença (ou não) de reflexos acústicos é capaz de sinalizar pistas um pouco
mais claras sobre a necessidade de cuidados na compensação da audibilidade que envolvam o
campo dinâmico da audição, assim como possíveis problemas relacionados à distorção ou
desconforto diante de sons de forte intensidade. Mas isso não é tudo. (Para maiores
informações sobre o assunto, consultar os Capítulos 10, “Avaliação logoaudiométrica na rotina
clínica”, e 12, “Medidas de imitância acústica: timpanometria e reflexos acústicos”.)

A entrevista (ou anamnese) realizada com o candidato deve levar em consideração a


importância de estabelecer e dimensionar questões tais como:5

Histórico pregresso audiológico: doenças e cirurgias otológicas, histórico familiar, progressão


da perda auditiva, tempo de privação auditiva, exposição ao ruído ou a medicamentos
ototóxicos, experiência anterior com os dispositivos eletrônicos de amplificação sonora, queixa
de zumbido.

Necessidades auditivas: questão relacionada a grau, tipo, configuração, simetria ou


lateralidade da perda auditiva, limitações em atividades, restrição em participação em
atividades de rotina diária.

Necessidades não auditivas: saúde geral e outras intercorrências clínicas que possam intervir
no sucesso da amplificação, atividades profissionais ou sociais, destreza manual,
comprometimentos motores, visuais e cognitivos, contexto afetivo e social, motivação,
características de personalidade, possibilidades financeiras na aquisição e manutenção do
dispositivo eletrônico de amplificação sonora, necessidade ou não de assistência, de
orientação e aconselhamento ao paciente e/ou familiares envolvidos.

Para fazer um planejamento terapêutico e propor metas, por vezes se fazem necessárias (ou
oportunas) avaliações clínicas adicionais, tais como testes específicos de avaliação da
compreensão de fala,6 de habilidades específicas ou do transtorno do processamento auditivo
central, indícios de declínio cognitivo ou depressão. Podem se fazer igualmente necessários
encaminhamentos para avaliações específicas e/ou diagnósticos com outros profissionais.
O profissional precisa levar em conta atitudes de empatia, o que pressupõe a habilidade de se
colocar no lugar do paciente e, sem julgamento, procurar entender suas dificuldades,
restrições, limitações, expectativas e necessidades em face de sua deficiência auditiva e do
processo de reabilitação audiológica com o uso do dispositivo. A consolidação de sentimentos
de empatia na relação terapeuta-paciente em muito vem se mostrando um facilitador na
adesão ao tratamento.7

A partir das informações colhidas nessa etapa de avaliações, já é possível delinear


necessidades, expectativas e dificuldades específicas, dimensionar o problema, prever
procedimentos e a extensão da reabilitação auditiva, antecipar possibilidades e limitações do
tratamento, planejar seleções técnicas, assim como reunir um arcabouço de informações a
serem abordadas ao longo de todo o processo, com orientações e aconselhamentos
pertinentes que, de forma integrada, em muito irão colaborar na adesão ao tratamento e em
seu sucesso.

Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresentar, sob luz das evidências científicas, os
principais alicerces que envolvem a etapa de seleção das características dos dispositivos de
amplificação sonora.

ASPECTOS TÉCNICOS DE SELEÇÃO

A finalidade dos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora é melhorar a audibilidade do


sinal sonoro, em especial o da fala, promovendo algumas modificações de modo a tentar
compensar a perda da audibilidade causada pela deficiência auditiva, garantindo conforto
físico e sonoro.8 A seleção das características físicas e eletroacústicas desses dispositivos
depende de uma série de aspectos clínicos e técnicos. Pressupõe-se que o fonoaudiólogo
tenha conhecimento sobre as características físicas, eletroacústicas, tipo de amplificação,
funcionalidades dos algoritmos disponíveis, equipamentos auxiliares e conectividade.

Neste capítulo de aspectos técnicos dos dispositivos, serão abordados os componentes físicos
e básicos de funcionamento, características eletroacústicas e do processamento do sinal. A
seleção dos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora propriamente dita demandará do
fonoaudiólogo a tomada de decisões assertivas sobre os aspectos técnicos dos dispositivos,
dentro das questões audiológicas, pessoais e contextuais do candidato ao uso da amplificação.

Componentes eletrônicos e físicos

Os dispositivos eletrônicos de amplificação sonora possuem componentes básicos para seu


funcionamento: microfone, amplificador e receptor ou vibrador ósseo. A fonte de energia para
todo o sistema funcionar é a pilha. De maneira simples, o funcionamento do sistema é
realizado pela captação do som pelo microfone (transdutor de entrada), que transforma o
sinal sonoro em sinal elétrico equivalente, que chegará ao amplificador − responsável por
tornar o sinal mais intenso – e na sequência é enviado ao receptor ou vibrador ósseo, no qual
haverá a transdução do sinal elétrico amplificado em sinal sonoro ou vibração, que,
finalmente, é enviado para a membrana timpânica (condução aérea) ou mastoide (condução
óssea) do usuário.8

Microfone

O microfone capta o sinal acústico e o transforma em sinal elétrico equivalente; por assim
fazer, podemos chamá-lo de transdutor (transformação de um tipo de energia em outro) de
entrada. Atualmente, os microfones são de eletreto, possuem resposta em frequência ampla e
plana, pouca sensibilidade a vibrações e variações de temperatura. Contudo, os microfones de
eletreto são sensíveis à umidade, assim como todos os outros componentes dos dispositivos,
por isso é recomendável que se use a prática diária de desumidificadores por sílica ou
elétricos. O funcionamento dos microfones ocorre pela vibração de duas placas (diafragma e
placa paralela fixa) e pela diminuição da distância entre elas, alterando o equilíbrio elétrico
que existia entre ambas e formando uma corrente elétrica correspondente à onda sonora que
foi captada.9,10

Os microfones são, tradicionalmente, classificados quanto à sua direcionalidade em


omnidirecionais e direcionais.11,12 Os microfones omnidirecionais respondem igualmente a
todos os ângulos da fonte sonora. Os microfones direcionais respondem de modos diferentes
de acordo com a direção da fonte sonora. Foram projetados para melhorar a relação sinal-
ruído com base na localização espacial do sinal de interesse em relação aos sinais indesejados;
dessa forma, ainda podem fornecer reconhecimento de fala aprimorado em uma variedade de
ambientes ruidosos quando comparados à amplificação omnidirecional. Para entender a
resposta direcional dos microfones é preciso conhecer sua polaridade, ou seja, sua resposta
em frequência medida para diferentes direções da fonte sonora. A resposta polar dos
microfones omnidirecionais é de 360 graus, pois ele é igualmente sensível aos sinais vindos de
todos os ângulos, compondo um círculo completo a 0 dB em qualquer frequência. De acordo
com sua polaridade, os microfones direcionais fixos podem ter respostas cardioides
(atenuação máxima para incidência de 180 graus, rejeitando completamente os sons vindo de
trás), hipercardioide e supercardioide (atenuação máxima nos ângulos de 120 e 240 graus,
respectivamente, com aumento da sensibilidade do microfone para os sons de 180 graus) ou
bidirecional (atenuação máxima em 90 e 270 graus, ou seja, os sons que vêm das laterais não
são captados).13

Na maioria dos dispositivos com microfones direcionais, existe a opção de selecionar o modo
direcional fixo automático, em que se observa uma mudança de microfone no modo
omnidirecional para direcional, ativada automaticamente quando há ruído de fundo. Alguns
sistemas possuem o microfone direcional adaptativo, que oferece a seleção manual de
diferentes padrões polares, dependendo do ambiente; alguns de tecnologia mais avançada
oferecem o microfone direcional adaptativo automático, em que o aparelho reconhece o
ambiente e ativa o microfone direcional automaticamente, alterando os padrões polares em
resposta ao ambiente de escuta espacialmente dinâmico (p. ex., fonte de ruído em
movimento) e modificando o atraso de tempo interno entre os microfones.14

Amplificador

O amplificador é responsável por intensificar e modificar o estímulo elétrico transduzido pelo


microfone. Os circuitos de amplificação dos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora
podem diferir quanto a seu processamento, a depender de o sistema ser analógico ou
digital.8,9

Os dispositivos eletrônicos de amplificação sonora analógicos fazem a transdução do sinal


acústico em um sinal elétrico equivalente ou análogo. Os amplificadores usados nesse tipo de
sistema podem ser do tipo A, B, D ou H, selecionados de acordo com a perda auditiva e o
consumo de energia. Nos dispositivos digitalmente programáveis, o sinal acústico é convertido
em sinal elétrico análogo, no entanto, a porção digital do circuito (memória) é usada para
programar as características da resposta em frequência e os filtros de compressão. A
programação é toda realizada em uma unidade externa, armazenada e transferida a uma
memória digital contida no sistema. Os digitais, que compõem atualmente a quase totalidade
dos dispositivos disponíveis no mercado, trouxeram uma evolução importante na
miniaturização de seus componentes, menor consumo de pilha, menor ruído interno,
possibilidade de reprodutibilidade, utilização de diversos algoritmos, maior estabilidade e
programabilidade do sinal sonoro. O sistema de amplificação do sinal digital contém um
microfone que capta o som e o transforma em sinal elétrico equivalente, assim como ocorre
nos sistemas analógicos. Esse sinal é digitalizado em um código numérico binário em um
conversor analógico/digital (A/D), processado a partir de regras determinadas em programas
específicos, enviados para um microprocessador que fará uma série de filtragens e
manipulações matemáticas a fim de amplificar o sinal, reconvertido em sinal elétrico em um
conversor digital/analógico. Esse sinal sonoro modificado é enviado ao receptor de saída para
que, então, possa ser liberado ao usuário.15,16

Receptor

O receptor capta o sinal elétrico amplificado e o transforma em sinal acústico, sendo


considerado um transdutor de saída do dispositivo eletrônico de amplificação sonora. Todos os
receptores utilizados nos dispositivos são magnéticos, podendo variar se vão compor os
dispositivos em sua porção interna (intra-aurais e retroauriculares) ou externa (como em
retroauriculares de tubo fino).9

A potência do dispositivo é atribuída ao receptor e afeta diretamente a saída máxima e a


largura de banda dos sons amplificados. Em geral, quanto maior (fisicamente) for o receptor,
maiores serão a saída máxima e sua faixa de adaptação.17

O vibrador ósseo também é um transdutor de saída com a função de transformar o sinal


elétrico amplificado em vibrações, tal como o receptor. Se o vibrador estiver em contato com o
crânio, as vibrações serão transmitidas e percebidas como o som por meio dos mecanismos de
audição por via óssea.8

Pilhas

As pilhas, fonte de energia, são responsáveis pelo funcionamento dos dispositivos eletrônicos
de amplificação sonora. As pilhas utilizadas atualmente, em sua maioria, são as de zinco-ar,
que possuem maior durabilidade, menor custo e seu consumo se inicia após a retirada de um
selo adesivo que recobre a pilha. A tensão das pilhas (entre 1,25-1,5 V) permanece constante
durante toda a sua vida útil, evitando que haja variação da estabilidade ao longo do uso. A
referência dos tamanhos e de cor das pilhas utilizadas hoje em dia são padronizadas
mundialmente: 10 (amarela), 312 (marrom), 13 (laranja) e 675 (azul). Cada dispositivo tem um
tamanho de pilha determinado, e, de maneira geral, quanto menor a pilha, mais rápido será
seu consumo.18

Controles manuais

Os controles manuais nos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora permitem que o


usuário tenha autonomia para ajustar a intensidade de volume, seja para aumentar ou
diminuir, de acordo com sua necessidade em diferentes ambientes acústicos. Hoje, com o
sincronismo dos dispositivos bilaterais, mudanças de programa ou mudanças de volume
realizadas em um dos aparelhos refletirão no outro, para que se mantenham os níveis iguais.
Um ou dois botões podem ser configurados com várias funções.19
Vale ressaltar que ultimamente os controles manuais não se encontram em todo tipo de
dispositivo. Isso acontece por não haver espaço físico em dispositivos muito pequenos e,
também, pela dispensabilidade a partir da incorporação dos sistemas de compressão, que
possuem controle de adaptação automática da intensidade aos estímulos sonoros, mas existe
uma pequena porcentagem de usuários que demonstram preferir ter o controle manual em
seu dispositivo.19

Quando não há a opção diretamente no dispositivo ou o indivíduo não possui destreza manual
para operá-lo, existem sistemas de chaves, controles externos ou sem fio que podem ser
usados como controle remoto ao se conectarem aos dispositivos de amplificação sonora
quando em diferentes situações auditivas. Existe também a possibilidade de recursos
tecnologicamente mais avançados, tais como receber sinais de áudio via Bluetooth® por meio
de smartphones, da televisão, tocadores de MP3 e outros dispositivos.20

DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE AMPLIFICAÇÃO SONORA QUANTO AO LOCAL DE USO

Os dispositivos eletrônicos de amplificação sonora podem ser classificados quanto a seu local
de uso, de acordo com a localização de seu corpo físico e componentes. Atualmente, os
dispositivos retroauriculares e intra-aurais formam os dois grupos, com seus subtipos, que
mais ganharam espaço no mercado devido ao avanço tecnológico.

Dispositivos eletrônicos de amplificação sonora retroauriculares

Os dispositivos de amplificação retroauriculares apresentam tamanhos e designs diferentes,


podendo ser adaptados para todos os graus, tipos, configurações de perdas auditivas e faixas
etárias. São utilizados atrás do pavilhão auricular e possuem todos os componentes
acomodados dentro de uma pequena caixa (corpo do aparelho) de onde sai um gancho
acoplado a um tubo plástico com diâmetro interno de 1,93 mm, que é inserido ao molde
auricular.15,17

Nos últimos anos, com o desenvolvimento de inúmeros algoritmos e recursos tecnológicos, o


mercado passou a disponibilizar dispositivos retroauriculares integrados a um tubo fino flexível
que variam entre 0,8-1,2 mm de diâmetro interno, adaptados ao meato acústico externo
(MAE) por meio de moldes auriculares personalizados ou olivas de silicone pré-fabricados. Essa
possibilidade passou a ser comercialmente conhecida como minirretroauricular de tubo fino.
Na evolução tecnológica que seguiu anos depois, ao retirar o receptor de dentro do corpo do
dispositivo e alojá-lo dentro do MAE, permitiu-se diminuir ainda mais seu tamanho físico e
oferecer vantagens acústicas e estéticas, abrindo novas possibilidades na adaptação e
aceitação do dispositivo, então denominado minirretro com receptor no canal.17,21,22

Dispositivos eletrônicos de amplificação sonora intra-aurais

Os dispositivos de amplificação intra-aurais são adaptados na orelha externa. Todos os


componentes encontram-se envoltos por uma caixa personalizada, ou seja, é necessário que
se faça uma pré-moldagem do MAE do indivíduo para confeccionar e montar o dispositivo.
Quando este ocupa a área completa da concha, o dispositivo é chamado de intra-auricular do
tipo concha; no entanto, se o preenchimento for somente parcial, será chamado de meia
concha, e esses modelos permitem maior ganho acústico, maior possibilidade de ventilação e
de controles internos.
Os dispositivos que se localizam dentro do MAE, com sua aparência discreta na concha, são
chamados intracanal; já aqueles que são colocados inteiramente no MAE, ocupando uma
porção mais profunda, são conhecidos como dispositivos eletrônicos de amplificação sonora
microcanal, que apresentam algumas vantagens, como menor distorção, menor
retroalimentação acústica, facilidade de remoção e aceitação estética. Os dispositivos invisíveis
ou peritimpânicos são aqueles posicionados profundamente, com um mínimo contato na
porção cartilaginosa do MAE, mas fazendo contato mais profundamente em sua porção óssea,
produzindo maior ganho nas frequências altas e reduzindo o efeito de oclusão.8

Dispositivos eletrônicos de amplificação sonora por condução óssea

Em situações em que a condução aérea do som amplificado não for possível ou indicada, a
condução óssea pode ser uma alternativa para a condução do som amplificado. Em lugar do
receptor, é acoplado um vibrador ósseo, que precisa ter uma força constante em contato com
a pele para transmitir a energia ao crânio. Com o avanço dos estudos e da tecnologia, os
dispositivos por condução óssea também tiveram sua evolução, como a implantação
transcutânea e percutânea. O sistema transcutâneo possui uma unidade interna implantável,
que se comunica com a parte externa por meio da atração dos ímãs. Esse tipo de sistema
demonstrou menores complicações de infecção de pele e maior capacidade de amplificação.
No sistema percutâneo, é realizada a implantação cirúrgica de um pino de titânio cuja função é
transmitir a vibração do dispositivo diretamente no osso do crânio para se propagar até a
cóclea.23,24 (Para maiores informações sobre o assunto, consultar o Capítulo 38, “Próteses
auditivas cirurgicamente implantáveis”.)

Moldes auriculares

Moldes auriculares são peças individualmente confeccionadas, utilizadas no MAE, com a


função primária de conduzir o som amplificado até alcançar a membrana timpânica. Outras
funções, igualmente importantes, se aplicam a:

Promover a boa retenção do dispositivo (ou do receptor) na orelha do usuário.

Funcionar como elemento de transmissão acústica entre o receptor do dispositivo e a


membrana timpânica.

Garantir uma vedação acústica satisfatória.

Quando pertinente, modificar acusticamente o sinal produzido pelo dispositivo.25

Os moldes auriculares utilizados conjuntamente com os dispositivos retroauriculares podem


ser confeccionados com diferentes materiais:

1. De acrílico: fisicamente de maior rigidez, amplamente utilizado, de maior resistência e


durabilidade. Permite diferentes modificações estéticas e/ou acústicas.

2. De silicone: material poroso de borracha hipoalergênica muito flexível, resistente e


confortável. Se, por um lado, não é ideal para a confecção de modificações acústicas, é
especialmente indicado para dispositivos potentes que necessitem de vedação acústica mais
eficiente e para usuários com necessidades específicas de conforto, tais como bebês, crianças
pequenas e idosos.15

Além da seleção de diferentes materiais, os moldes auriculares podem também ser


confeccionados em diferentes estilos ou características. O molde auricular denominado
invisível é o molde padrão, bastante popular, e pode receber modificações físicas, a depender
das necessidades acústicas e/ou estéticas, atendendo às características de maior a menor
vedação do MAE, conforme descrito a seguir: tipo invisível concha (com ou sem hélix), concha
escavada, meia concha, dupla haste, haste única (ou simples) e canal.15 A conexão entre o
dispositivo e o molde é realizada por meio de um tubo plástico de diâmetro padrão, em geral
de 1,93 mm.17

As caixas ou cápsulas que acomodam os componentes internos dos modelos intra-aurais são
também denominadas, genericamente, moldes. Via de regra, são sempre confeccionadas em
material rígido, tipo acrílico, e passam pelas mesmas etapas de pré-moldagem que os moldes
auriculares destinados aos dispositivos retroauriculares, diferindo, consideravelmente, na
etapa de manufatura e montagem de seus circuitos.15

Ainda é possível prever nessas peças alterações físicas capazes de provocar modificações
acústicas no sinal amplificado:

Ventilação: consiste em uma das modificações mais frequentemente realizadas tanto nos
moldes auriculares de dispositivos retroauriculares como nos intra-aurais. Trata-se da
perfuração de um orifício no molde auricular que corre em paralelo ao canal de condução do
som, podendo variar seu diâmetro entre 1-3 mm, a depender do objetivo a ser alcançado,
desde um simples arejamento do MAE à atenuação da amplificação de frequências baixas,
promovendo a redução da sensação do efeito de oclusão.

Inserção de atenuadores (ou filtro acústico): tem o propósito de atenuar a resposta das
frequências médias e passou a ser utilizado, com mais frequência, não mais no molde, mas no
gancho do dispositivo.

Efeito corneta: tem o propósito de enfatizar a amplificação das frequências altas.15

A popularização dos dispositivos do tipo minirretro com tubo fino e com receptor no canal
trouxe a disponibilização de uma nova categoria de moldes ou acoplamento acústico pré-
fabricado: as olivas ou tulipas. Fabricadas em material flexível plástico, são disponibilizadas em
diferentes tamanhos (p. ex., P, M e G) e em diferentes graus de ventilação e/ou vedação (p.
ex., aberto, fechado, duplo fechado). Adicionalmente, para esse tipo de dispositivo ainda é
possível oferecer a confecção de moldes personalizados − micromoldes − em material acrílico,
com diâmetros de ventilação personalizados, proporcionando variadas combinações e
possibilidades, de modo a atender às necessidades específicas do usuário.17

A seleção dos moldes deve atender às necessidades audiológicas, anatômicas e etárias. Deve-
se garantir uma adaptação técnica satisfatória com conforto, esteticamente aceitável e de fácil
manuseio pelo usuário ou responsável. Moldes auriculares são parte importante no processo
de seleção e adaptação da amplificação. Se essa etapa não for devidamente cumprida, pode
colocar em risco o sucesso da utilização do dispositivo e de todo o processo de reabilitação
audiológica.

CARACTERÍSTICAS ELETROACÚSTICAS

As principais características eletroacústicas na seleção dos dispositivos eletrônicos de


amplificação sonora são o ganho acústico, a saída máxima e a resposta em frequências. A
mensuração dessas características pode ser realizada por meio de dispositivos padronizados,
tais como os acopladores. Constituídos originalmente por uma peça de metal e uma cavidade
cilíndrica com volume interno de 2 mL, foram desenvolvidos com o propósito de simular o
volume médio existente na orelha externa após a inserção do molde auricular.26 A
fundamentação básica utilizada na mensuração dessas características parte do princípio de
que, com seus controles posicionados no máximo, um sinal acústico é aplicado ao microfone
do instrumento. Na sequência, este é devidamente amplificado e/ou modificado,
encaminhado ao receptor e, ao passar pelo dispositivo (p. ex., acoplador 2 mL), é devidamente
analisado para que sejam disponibilizadas suas informações acústicas em forma numérica ou
em um gráfico descritivo.8

Importante ressaltar que, ainda que largamente utilizados na clínica e na indústria como
método confiável de comparação, fornecem valores médios aproximados, mas que não
refletem com precisão o desempenho de um dispositivo eletrônico de amplificação sonora de
uma orelha humana com suas variadas características. Outros métodos de medição, tais como
o simulador de ouvido, são igualmente utilizados na medição das características
eletroacústicas, no entanto, importante estar atento aos diferentes objetivos específicos de
cada procedimento ou equipamento, em especial se o propósito for o de comparação entre os
dispositivos.8

Ganho acústico

O ganho acústico do dispositivo eletrônico de amplificação sonora é a diferença, em decibéis,


entre o nível de entrada e o nível de saída em uma frequência em particular. Na seleção do
dispositivo, o ganho está relacionado com o grau de perda auditiva do usuário. Quanto maior a
perda auditiva, maior deverá ser o ganho acústico do dispositivo, por isso está intimamente
ligada ao tipo de amplificador e às regulagens que foram realizadas. O principal objetivo é
garantir que os sons ambientais, em especial os de fala, sejam audíveis sem serem
excessivamente intensos ou desconfortáveis.8

O ganho pode ser modificado pelo controle de volume, pelo controle de ganho, pelo sistema
de compressão ou expansão ou até mesmo pelo molde auricular, o que influenciará na
resposta divergente com os dados das fichas técnicas estabelecidas em condições ideais de
laboratório.8

Saída máxima

A saída máxima é o maior nível de pressão sonora que o dispositivo eletrônico de amplificação
sonora é capaz de produzir, sendo sua medida em decibel nível de pressão sonora (dB NPS).
Está diretamente relacionada à saturação do sistema, ao controle do nível de desconforto
auditivo imposto pela sensação de intensidade e à redução do campo dinâmico da audição do
indivíduo. Dessa maneira, a saída máxima deve sempre ser verificada e ajustada de forma que
seu nível de intensidade seja sempre inferior ao de desconforto medido (ou estimado).

O controle da saída máxima no sistema pode ocorrer pelo corte de picos, recurso que remove
instantaneamente os picos das ondas sonoras que ultrapassam a intensidade máxima
delimitada pelo dispositivo. Esse tipo de controle pode gerar distorção no sinal sonoro, não
reproduzindo com fidelidade a informação amplificada. Foram extensamente utilizados em
sistemas de amplificação linear ou por usuários com perdas auditivas severa e profunda.9
Outro recurso acústico desenvolvido para controlar o sinal de saída máxima amplificado,
amplamente utilizado no presente, consiste no sistema de limitação por compressão. Esse
sistema foi desenvolvido para agir em face de sons de forte intensidade, a partir de um nível
preestabelecido, largamente utilizado no controle da saída máxima, tanto nas amplificações do
tipo linear como não linear. O sistema de limitação por compressão se mostra bastante
eficiente, pois oferece uma distorção do som mais controlada do que aquela imposta pelo
sistema de corte de picos.9

As fichas técnicas fornecem valores de saída máxima dos dispositivos eletrônicos de


amplificação sonora, no entanto, é necessário ressaltar que são mensurados por meio de
acopladores de 2 mL, enquanto a adaptação individual pode apresentar respostas variadas
devido às características anatômicas e de impedância timpânica pessoais.8

Resposta de frequências

A resposta de frequências em um dispositivo de amplificação está relacionada às diferenças de


ganho entre as frequências, isto é, à amplificação nas diferentes frequências processadas. A
resposta de frequências de um dispositivo tem relação direta com a configuração audiométrica
de cada indivíduo, pois o objetivo é tentar compensar a perda auditiva em função da
frequência. Assim, haverá maior flexibilidade de amplificação no ajuste de frequências altas e
baixas no dispositivo, e a qualidade do som pode ser ajustada com as preferências individuais
do usuário.8

Por meio de gráficos em que o eixo x representa as diferentes frequências e o eixo y, valores
de ganho acústico, é possível observar a resposta em cada frequência. É interessante perceber
que há uma relação direta e indissociável entre a resposta em frequência e o ganho. As fichas
técnicas de cada dispositivo eletrônico de amplificação sonora expressam os limites mínimos e
máximos de cada frequência, permitindo que se tenha uma visão básica das características
eletroacústicas.8

SELEÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E ELETROACÚSTICAS DOS DISPOSITIVOS DE


AMPLIFICAÇÃO

O objetivo da etapa de seleção das características da amplificação é o de escolher, de forma


criteriosa, o dispositivo de amplificação mais adequado, tomando por base avaliações
audiológicas completas, aliadas a história, expectativas, possibilidades e necessidades
auditivas e não auditivas do candidato à amplificação. São inúmeros os aspectos que devem
ser considerados.

No início deste capítulo, foi possível contextualizar e conceituar teoricamente as características


físicas e eletroacústicas principais dos dispositivos de amplificação. Esse suporte se propõe a
preparar o profissional para a tomada de inúmeras decisões essenciais que buscam uma
amplificação satisfatória, tais como a decisão sobre características físicas e eletroacústicas, de
acordo com as necessidades individuais. Outros aspectos decisórios são igualmente
importantes, tais como: amplificação uni ou bilateral, tipo de dispositivo, pertinência de
controles manuais, métodos prescritivos, forma de processamento de sinal, algoritmos, entre
muitos outros.

Vale a pena ressaltar que a tecnologia dos sistemas de amplificação passou por um
desenvolvimento impressionante nas últimas décadas. A pesquisa MarkeTrak IX27 mostrou,
finalmente, um aumento na satisfação dos usuários dos dispositivos de amplificação, com
relação à qualidade sonora, com o funcionamento do dispositivo em ambientes adversos, a
diminuição do ruído de fundo, a melhora na localização do som e a eficácia do gerenciamento
de microfonia. Como resultado, foi possível observar maior adesão ao uso contínuo dos
dispositivos, demandando que as escolhas do profissional responsável pela reabilitação
audiológica sejam cada vez mais assertivas e criteriosas.27
Amplificação uni ou bilateral

A amplificação bilateral tem suas vantagens sob a adaptação unilateral. Sabe-se que a audição
binaural é a mais natural, e a somação da audição das duas orelhas é essencial para detectar e
localizar a fonte sonora, eliminando o efeito sombra da cabeça. Dessa forma, a protetização
bilateral proporciona maior amplificação, melhor localização sonora, melhor discriminação no
ruído, além de evitar o fenômeno da privação auditiva, em que há diminuição dos índices de
reconhecimento de fala naquela orelha não protetizada e que deixa de receber estimulação
sonora adequada.28,29

No entanto, a decisão pela amplificação unilateral pode ser necessária em casos em que se
manifeste a interferência binaural, fenômeno no qual a amplificação gerada por um lado da
prótese parece interferir negativamente no outro ou no resultado e o paciente manifesta
melhor discriminação de fala, desempenho comunicativo e conforto utilizando apenas um
dispositivo.30,31 A opção pela adaptação unilateral também poderá ser necessária em casos
de perdas auditivas muito assimétricas ou com alguma contraindicação médica, audiológica ou
pessoal. Nesses casos, é possível que se tenha que decidir por qual orelha se dará a
protetização, levando em consideração a maior área dinâmica de audição, o melhor
reconhecimento de fala no silêncio e no ruído e/ou a preferência do paciente.9

Seleção do tipo de dispositivo

Na seleção quanto ao tipo de dispositivo de amplificação, devem ser levados em consideração


inúmeros aspectos, tais como o grau, a simetria e a configuração audiométrica, a área
dinâmica da audição, a idade do indivíduo, particularidades anatômicas do MAE tais como
tamanho e formato, a presença ou não de outros comprometimentos, a destreza manual, o
estilo de vida, a experiência anterior com amplificação, aspectos profissionais, necessidades
comunicativas, estéticas, a preferência pessoal, entre outros.5

Os dispositivos eletrônicos de amplificação sonora disponíveis no mercado se apresentam,


basicamente, em dois estilos: retroauriculares e intra-aurais. Nesses grupos, há os subtipos,
sendo muitos os fatores que devem ser considerados quando selecionamos um modelo
específico para que seja mais adequado para cada caso.

Os intra-aurais (intra-auriculares, intracanais e microcanais) podem ser adaptados a diferentes


graus de perda auditiva, sendo possível atender até mesmo a perdas auditivas de grau severo.
São esteticamente bem-aceitos, fáceis de serem inseridos e retirados da orelha e, se
necessário, podem até ser utilizados ao dormir. Alguns fatores devem ser considerados nesse
tipo de dispositivo, tais como a destreza manual do usuário no manuseio, na realização da
manutenção, as possíveis contraindicações médicas quanto à oclusão do MAE e o
favorecimento ao efeito de oclusão.32

Os retroauriculares são bastante versáteis, podem ser selecionados para perdas auditivas de
grau leve a profundo, são apresentados em modelos de diversos tamanhos, oferecem maior
facilidade de manuseio, utilizam pilhas de tamanho e durabilidade maiores e muitas
possibilidades de controles e componentes. Esteticamente, podem oferecer, a princípio, uma
desvantagem.32

Na evolução tecnológica dos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora, os aparelhos


intra-aurais eram a escolha primária por parte dos usuários dos dispositivos, mas, atualmente,
os dispositivos minirretroauriculares, em especial o modelo de tubo fino com receptor no
canal, tornaram-se os mais selecionados e comercializados, somando quase 80% do mercado
nos EUA.33 A miniaturização dos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora e o avanço da
tecnologia em qualidade eletrônica contribuíram, em grande parte, para a aceitação estética
no uso da amplificação em adultos com perda auditiva por serem discretos, leves, muito
pequenos, sem deixar, no entanto, de incorporar inovações tecnológicas.

Outra razão para que esses dispositivos tenham se tornado uma alternativa recorrente para as
perdas auditivas, em geral, de configuração descendente (acentuada ou em rampa) com
preservação em baixas frequências é seu apelo estético e o fato de serem uma excelente
opção na utilização do recurso de adaptação aberta, capaz de reduzir ou eliminar o indesejado
efeito de oclusão. Quando o efeito de oclusão se manifesta, o indivíduo que possui audição
próxima ao normal em frequências baixas pode se queixar de autofonia e de desconforto aos
sons produzidos durante a mastigação, a deglutição e a fala, amplificados pela condução
óssea.9,34,35

Em perdas auditivas mais severas, que necessitam de dispositivos com maior ganho acústico
em altas e baixas frequências, recomenda-se a utilização adicional, de moldes oclusivos para
que não ocorra a microfonia. Se a opção for por modelos do tipo receptor no canal, o receptor
poderá ser encapsulado, de maior potência, conjugado com a utilização de olivas fechadas ou
moldes personalizados que promovem maior vedação acústica.

Métodos prescritivos de ganho e saída

Os métodos ou regras de prescrição foram desenvolvidos como alternativa às estratégias de


seleção comparativa propostas.36 Mas foi a partir da década de 1970 que os métodos
prescritivos ganharam força, especialmente a partir de 1990, com o desenvolvimento de
importantes recursos tecnológicos que imprimiram nos dispositivos eletrônicos de
amplificação sonora maior complexidade e sofisticação.

Os métodos prescritivos buscam, a partir de diferentes pressupostos teóricos, proporcionar a


melhor combinação de audibilidade, conforto e inteligibilidade de fala a determinado perfil
audiométrico. Para seleção inicial, deve-se levar em conta os limiares, o tipo de perda auditiva
e a resposta em frequências relacionadas à configuração audiométrica. O objetivo é fornecer
uma meta de ganho e saída a ser atingida para melhor desempenho e uso efetivo do
dispositivo.

Esses métodos foram desenvolvidos, primeiramente, para o dispositivo eletrônico de


amplificação sonora de amplificação linear, que fornece ganho constante para todos os sinais
até chegar ao limite de saturação (saída máxima) ou por corte de picos. Assim, um único valor
de ganho era aplicado para a maioria dos sinais de entrada. Alguns exemplos dessas regras:
meio ganho,37 National Acoustic Laboratories (NAL),38 método de Berger,39 Prescription of
gain/output (Pogo) I,40 1/3 do ganho,41 NAL-revisada,42 Pogo II / fórmula de saída máxima43
e NAL-RP.44

Historicamente, em vista do avanço de pesquisas e de melhor compreensão sobre os


mecanismos fisiológicos das perdas auditivas sensorioneurais, o interesse pelos dispositivos
com amplificação não linear aumentou significativamente. A amplificação não linear pode ser
definida como a possibilidade de oferecer um ganho variável a depender das diferentes
intensidades dos sons de entrada, sejam eles fracos, médios ou intensos, bem como a relação
entre eles, em diversas regiões de frequência. Dentre as regras prescritivas mais utilizadas e
validadas na atualidade, podem ser citadas a NAL-NL2,45 e a Desired Sensation Level (DSL)
v5.46 Ainda que esses dois métodos prescritivos gerem diferentes alvos prescritos, parecem
atender às expectativas e necessidades auditivas dos usuários de amplificação.47

A regra prescritiva NAL, desenvolvida no National Acoustic Laboratories – Austrália,


atualmente na versão mais recente, NAL-NL2,45 defende como pressuposto que a
inteligibilidade de fala seja maximizada para qualquer nível de entrada, com maior prescrição
de ganho nas frequências baixas e altas e menor nas frequências médias. Leva em
consideração dados dos usuários do dispositivo de amplificação com relação ao sexo, na
medida em que pressupõe que indivíduos do sexo feminino utilizam menos ganho geral do
que usuários do sexo masculino; variação de ganho em relação a usuários experientes e novos
usuários; atribui versões ligeiramente diferentes para línguas tonais e não tonais; adultos
recebem menor prescrição de ganho geral do que as crianças e, por fim, usuários com perda
auditiva severa/profunda recebem razões de compressão mais baixas do que o previsto
quando a compressão rápida é utilizada.45,48

A regra DSL, desenvolvida na University of Ontario – Canadá, está na versão mais recente, DSL
v5.46,49 Tem como premissa básica evitar o desconforto durante o uso da amplificação,
deixando a sensação de intensidade mais próxima do normal e acomodando as diferentes
necessidades auditivas nos ambientes de escuta silenciosa e com a presença de ruído.

Até recentemente, a DSL se apresentava como forte indicação na prescrição pediátrica, pois,
entre outras, leva em consideração as variações de tamanho da orelha de bebês e crianças e
de necessidades acústicas para percepção de fala. Em contrapartida, a prescrição para adultos
e idosos tinha a forte tendência de ser realizada por meio da NAL-NL2. No presente, após
algumas atualizações, foi possível observar que ambas as fórmulas prescritivas parecem
convergir para uma diminuição significativa de suas diferenças nas prescrições de ganho e
saída.50-52

Por fim, as fórmulas denominadas “proprietárias” atribuídas àquelas desenvolvidas pelos


próprios fabricantes para a programação de seus dispositivos e disponibilizadas em seus
respectivos softwares chama a atenção pela ausência de comprovação e validação e pela
grande variabilidade de resultados, quando comparadas aos métodos validados.53

Existe um consenso inquestionável de que a utilização das regras prescritivas validadas fornece
uma base sólida para um ajuste básico a ser utilizado como ponto de partida para o ajuste fino
individual.47,54 No entanto, observa-se que a disponibilização dessas mesmas regras pelos
softwares dos fabricantes (“regras prescritivas genéricas”) pode, inesperadamente,
proporcionar respostas de frequência muito diferentes para uma mesma fórmula de
prescrição.54,55 Portanto, a utilização de medidas in situ se faz imprescindível e indispensável
na verificação das características eletroacústicas almejadas.54,56,57 (Para maiores
informações sobre as medidas de verificação com a utilização de mensuração in situ, consultar
o Capítulo 34, “Verificação e avaliação de resultados no processo de seleção e adaptação de
dispositivos eletrônicos de amplificação sonora”.)

Tipos de processamento do sinal

O sistema auditivo em seu funcionamento normal conta com a atuação das células ciliadas
externas, importantes compressores naturais. Quando em contato com sons de forte
intensidade, acionam um sistema especializado que entra em ação em um modo de proteção,
controlando a amplificação na transmissão do sinal sonoro, e, em contraposição, incrementam
e facilitam a transmissão dos sons de fraca intensidade. Quando existe uma lesão das células
ciliadas externas e internas da cóclea, essa importante função perde a eficácia, provocando
uma alteração da sensação de intensidade.58

Pessoas com perda auditiva sensorioneural frequentemente apresentam redução da área


dinâmica da audição. Situada entre os níveis mínimos de audibilidade e os de máxima
tolerabilidade para sons de forte intensidade, sua redução está diretamente relacionada à
possível presença do fenômeno do recrutamento.

O sistema de amplificação deve ser ajustado ao tipo, grau e configuração da perda auditiva de
forma a propiciar a compensação da audibilidade perdida sem provocar qualquer desconforto
perante sons de forte intensidade. Esse delicado equilíbrio por vezes se mostra difícil de ser
alcançado, em especial quando o indivíduo que faz uso de recursos de amplificação apresenta
perda auditiva do tipo sensorioneural, redução da área dinâmica da audição e recrutamento.

Na tentativa de contornar o problema gerado pelo não funcionamento das células ciliadas
externas, a tecnologia propiciou o desenvolvimento de sistemas eletroacústicos, denominados
compressão. O termo “compressão” pode ser definido como a possibilidade funcional de o
sistema eletrônico manipular o ganho do sinal sonoro de maneira seletiva. Esses sistemas de
processamento do sinal foram desenvolvidos com o propósito de oferecer maior adequação e
conforto auditivo ao usuário de amplificação.59

Os sistemas de compressão diferem quanto ao tipo, modo e momento de atuação, no tempo


de acionamento e desativação, quanto à quantidade de ganho que será proporcionada ou
controlada e a suas características intrínsecas de controle, que falam a respeito de suas
características estáticas (limiar, razão e área de compressão) e dinâmicas (tempo de ataque e
de recuperação).

Dentre os sistemas mais conhecidos e utilizados, pode-se citar:

Compressão de saída: muito utilizada no controle da amplificação de sons de forte


intensidade. Possui características de limiar e razão de compressão altas com tempos de
ataque e recuperação curtos. Indicada frequentemente em casos de área dinâmica reduzida,
perdas auditivas condutivas, sensorioneural de grau severo a profundo e como controle
adicional de outros sistemas de compressão.

Compressão de entrada: controlada pelo nível de intensidade captada pelo circuito, antes da
atuação do amplificador. Possui características de limiar e razão de compressão mais baixos,
com tempo de ataque e recuperação variáveis, podendo ser mais lentos e curtos.
Extensamente indicada para indivíduos com perdas auditivas do tipo mista e sensorioneurais
de graus leve a moderadamente severo.60

O desenvolvimento da tecnologia digital propiciou o aperfeiçoamento de um sistema de


compressão de entrada largamente utilizado, denominado “compressão da área dinâmica
ampla”, mais conhecido como Wide Dynamic Range Compression (WDRC). Seu objetivo é
adaptar os sons amplificados à área dinâmica reduzida do indivíduo com perda de audição,
respeitando suas necessidades de audibilidade e suas limitações de desconforto em face dos
sons de forte intensidade. Dessa forma, o sistema promove maior amplificação para sons de
fraca intensidade e menor amplificação para os sons de forte intensidade, gerando
manipulação inteligente e seletiva ao variar o ganho disponível a depender da intensidade do
sinal captado pelo microfone na entrada do dispositivo. Acredita-se que esse controle
automático de ganho melhore o desempenho do usuário em termos de audibilidade, conforto
e reconhecimento de fala.61,62

Cabe ainda esclarecer que, quanto ao modo de amplificação do sinal de fala, os dispositivos de
amplificação são, tecnicamente, classificados como lineares ou não lineares.

Na amplificação linear, toda e qualquer intensidade de sinal sonoro de entrada é amplificado


com um valor constante de ganho. Pode ser descrita como tendo uma razão de 1:1 dB, na qual
cada variação de 1 dB NPS (nível de pressão sonora) do sinal de entrada corresponde a uma
variação de exatamente 1 dB NPS do sinal de saída, até o limite de saturação ou saída máxima
do sistema. Nesse tipo de amplificação podem ser utilizados sistemas de compressão de saída,
tipo Automatic Gain Control (AGC-O), como forma de limitação e controle da saída máxima. A
amplificação linear pode beneficiar indivíduos com perdas auditivas condutivas, perdas
sensorioneurais mais severas ou perdas auditivas pouco ou não recrutantes.63

A amplificação não linear tem como característica a variação do ganho, a depender do nível do
sinal captado pelo microfone e que entra no sistema. Normalmente o ganho é maior para sons
menos intensos e menor para sons mais intensos, resultando em uma variação menor de NPS
de saída em comparação ao de entrada. Nesse tipo de amplificação são utilizados sistemas de
compressão de entrada, tipo AGC-I, mais frequentemente o tipo WDRC. Igualmente, ao se
fazer necessária a limitação dos níveis máximos de saída, podem ser utilizados conjuntamente
os recursos de compressão por limitação de saída (AGC-O) ou, menos frequentemente, o
recurso de corte de picos. A amplificação não linear pode beneficiar indivíduos com diferentes
graus de perda auditiva, com perdas sensorioneurais de leve a moderadamente severas.63

Algoritmos de processamento digital do sinal

Na década de 1990, houve uma grande ruptura tecnológica com a introdução no mercado dos
primeiros sistemas do dispositivo eletrônico de amplificação sonora totalmente digitais,
proporcionando melhora significativa na qualidade do som amplificado. As vantagens da
tecnologia digital sobre a analógica foram, por meio de inúmeras pesquisas clínicas,
progressiva e inquestionavelmente se materializando ao longo dos anos.64

A tecnologia digital do processamento do sinal vai além da simples capacidade de amplificar o


sinal sonoro com eficiência.

A possibilidade de ajustar seus parâmetros com base em algoritmos programados em sua


memória expandiu suas possibilidades, precisão e flexibilidade. Um algoritmo é, na prática,
uma fórmula matemática desenvolvida especificamente para determinado fim e que controla
as operações no computador, que, nesse caso, é o dispositivo eletrônico de amplificação
sonora. Nele, os algoritmos controlam e determinam inúmeros ajustes nas características de
amplificação. Esses ajustes podem ser constantes (ou fixos), ativos ou adaptativos a depender
da necessidade (ou estímulo), estando sua disponibilidade e eficiência sujeitas ao grau de
tecnologia e/ou à capacidade do processador do dispositivo.64

De modo geral, a maioria dos dispositivos digitais disponíveis no mercado apresenta um


conjunto similar de possibilidades de algoritmos de processamento do sinal, podendo, muitas
vezes, por razões comerciais, apresentar diferentes nomes para uma mesma funcionalidade.
Inversamente, a mesma funcionalidade pode ter diferentes formas de atuação ou eficiência, a
depender da qualidade da solução matemática proposta pelo desenvolvedor, do nível da
tecnologia ou da capacidade de seu processador.
Dessa forma, a seguir serão abordados alguns dos principais algoritmos de processamento do
sinal presentes, atualmente, na maioria dos dispositivos, sem que haja a pretensão de ser
específico, extenso ou completo.

Múltiplas memórias

A perspectiva de um dispositivo eletrônico de amplificação sonora ter mais do que uma


memória abre a possibilidade de o sistema disponibilizar diferentes programas acústicos para
acomodar os diversos ambientes sonoros. É preciso levar em consideração que diferentes
ambientes acústicos trazem, intrinsecamente, propriedades acústicas muito distintas entre si.
Considere que um usuário receba em seu dispositivo uma programação eletroacústica básica
que seja aceitável na maioria das situações ou ambientes acústicos. É sensato pensar que esse
mesmo usuário irá vivenciar, em sua rotina diária, ambientes e situações de grande variedade
em termos de propriedades acústicas gerais. Dessa forma, pode ser de grande valia que o
mesmo dispositivo eletrônico de amplificação sonora tenha a possibilidade de acomodar
diferentes ajustes eletroacústicos, que leve em consideração especificidades de determinados
ambientes sonoros, proporcionando ao usuário uma audição personalizada para cada uma
dessas situações.9

A depender da tecnologia e sofisticação do processador digital do sinal, alguns dispositivos


oferecem a possibilidade de programação de quatro ou mais ambientes ou situações acústicas
diferentes (p. ex., fala no silêncio, fala no ruído, conforto no ruído, música, restaurante,
telefone, entre outras). A estratégia para a mudança de um programa para outro também
pode variar muito de acordo com a tecnologia ou as necessidades do usuário: mudança
manual realizada pelo próprio usuário em um botão ou chave seletora localizada no corpo do
dispositivo, por meio de um controle remoto externo. Atualmente, os mais modernos
possibilitam essa mudança por meio de aplicativos no celular. Por fim, a mudança também
pode ocorrer de modo inteligente e automático, sem que o usuário precise interagir, de
acordo com a detecção de um sensor do próprio dispositivo.

Controle de microfonia (retroalimentação acústica ou feedback)

A microfonia pode ser definida como uma condição indesejada na qual uma parte do sinal
sonoro já amplificado, por diferentes razões, escapa e, sendo novamente captada pelo
microfone, é novamente amplificada em um movimento contínuo de retroalimentação até o
ponto no qual se torna um sinal oscilatório sonoro, na forma de apito agudo, dominante no
estágio da saída.65 No entanto, ressalta-se que o estágio anterior a esse também é importante
do ponto de vista da qualidade do som. Nele, os componentes de microfonia, ainda que não
fortes o suficiente para induzir oscilação sustentada (suboscilatórios), podem igualmente
afetar a resposta de frequência do dispositivo eletrônico de amplificação sonora.66

Nos sistemas analógicos, o controle da microfonia era realizado simplesmente com uma
redução fixa da amplificação (ou ganho), de forma ampla ou específica nas frequências altas
(geralmente entre 2.500-3.000 Hz). A redução do ganho nessas frequências proporciona uma
desvantagem, na medida que pode comprometer importantes informações do sinal de fala.65

Nos sistemas com processamento digital do sinal, algoritmos de gerenciamento da microfonia


são introduzidos e acionados por meio de técnicas sofisticadas que, muitas vezes, evitam a
necessidade de redução de ganho enquanto reduzem o sinal de microfonia.
Existem vários tipos diferentes de algoritmos de redução de microfonia, e dois dos mais
populares são a filtragem por entalhe (notch filtering) e o cancelamento (ou inversão) de fase.
No primeiro, um sistema de monitoramento constante, ao detectar oscilações (e
instabilidades) em determinada região de frequência, aciona um filtro de banda estreita com a
finalidade de atenuar o ganho na região crítica onde foi detectada a microfonia. A segunda
estratégia parte da premissa de que, ao detectar a microfonia, um filtro seja capaz de
identificar e gerar um sinal de mesma frequência, fase e magnitude que, adicionado ao
sistema de maneira inversa, provoque seu cancelamento na saída do dispositivo eletrônico de
amplificação sonora.67

Esses algoritmos contribuíram não somente para evitar o desencadeamento de microfonia.


Possibilitaram a utilização efetiva do ganho disponível, o uso mais seguro de diâmetros
maiores de ventilação nos casos de efeito de oclusão, maior flexibilidade em face da
necessidade de reposição por redução na vedação perfeita de moldes ou cápsulas e, por fim,
contribuíram grandemente para a popularização e a maior eficiência dos dispositivos de
adaptação aberta.67

Expansão

Na presença de audibilidade normal nas frequências graves ou em ambientes muito


silenciosos, adicionados à utilização de compressão tipo WDRC, a amplificação de sons de fraca
intensidade, tais como o ruído interno do dispositivo e os ruídos ambientais, pode se tornar
indesejavelmente audível. Nesse contexto, a expansão é utilizada ao se propor a controlar a
amplificação dos sons de entrada de fraca intensidade.68

Rebaixamento de frequências

Sua funcionalidade básica, em uma situação em que o usuário tem audição muito
comprometida nas frequências altas, propõe-se a rebaixar os componentes de altas
frequências do sinal sonoro para uma região de frequências mais baixas (ou menos agudas), na
qual a pessoa tenha melhor área residual de audição. Duas das formas mais comuns de
funcionamento implicam mudança ou transposição de frequências, na qual os componentes
de alta frequência do sinal sonoro são remanejados para uma região de frequências mais
baixas, ou compressão de frequência, na qual uma faixa de frequências mais altas é, de forma
conjunta e proporcional, comprimida de maneira a ser alocada em uma região de audibilidade
de frequências mais baixas.69

Múltiplos canais e bandas

Duas importantes propriedades dos dispositivos eletrônicos de amplificação sonora dizem


respeito a “canais” e “bandas”, que são, por sua vez, conceitos dos mais confundidos e
incompreendidos pelos profissionais. Segundo Chung,70 um “canal” pode ser definido como
uma faixa de frequências específicas na qual atua a maioria dos recursos de processamento de
sinal, tais como a compressão, a expansão, a redução de ruído digital, a supressão de
microfonia e a direcionalidade. Uma “banda”, segundo o mesmo autor, refere-se a um feixe de
frequências utilizado para manipular, essencialmente, a quantidade de ganho invariante que
opera, de forma independente, dentro de cada um dos canais. A depender do sistema e da
tecnologia, determinado canal pode conter várias bandas de frequências. Alguns dispositivos
podem ter o mesmo número de canais e bandas. Por vezes, a distinção equivocada entre
canais e bandas se justifica na falta de um termo melhor para descrever a complexidade dos
algoritmos de processamento de sinal implementados nas diferentes tecnologias dos
dispositivos.70

No entanto, a questão central aqui reside na compreensão da possibilidade do dispositivo


eletrônico de amplificação sonora estar: (1) limitado a processar (ou ajustar) o sinal sonoro e
todas as suas complexidades como um bloco único (monocanal) ou (2) ter a possibilidade de
processar (ou ajustar) o sinal sonoro desmembrado em faixas (ou blocos) de sistemas
independentes em suas diferentes regiões de frequência (multicanal).64

Em um sistema monocanal, as regulagens de todas as características de amplificação, tais


como ganho, saída máxima e compressão, são realizadas em toda a sua extensão de
frequências de forma única, não sendo possíveis alterações específicas ou personalizadas para,
por exemplo, os sons de frequências baixas, médias e/ou altas.64

Em um sistema multicanal, o sinal sonoro pode ser desmembrado em inúmeras faixas de


frequência diferentes, de forma que características eletroacústicas tais como ganho, saída
máxima, compressão e outros algoritmos possam ser ajustadas de maneira independente e
personalizada, segundo as necessidades acústicas e de configuração da perda auditiva.64

Comunicação entre dispositivos e outros sistemas

A tecnologia de intercomunicação bilateral sem fio parte da possibilidade de os dispositivos de


amplificação das orelhas esquerda e direita colaborarem um com o outro na troca de
informações e na tomada de decisões. Além de apoiar a audição binaural natural, tais
algoritmos possuem grande potencial para melhorar a inteligibilidade da fala na presença de
ruído.71

Pode ser vista sob dois diferentes cenários: (1) de sincronização e (2) de streaming de áudio.
Na sincronização podem ser observados três níveis diferentes de tecnologia. No nível mais
básico, os controles de volume entre os instrumentos direito e esquerdo são simplesmente
combinados. No nível seguinte, recursos de processamento de sinal, como redução de ruído e
direcionalidade, são sincronizados entre os dois lados, contribuindo para uma experiência de
som mais equilibrada para o usuário. No nível mais alto, as configurações de compressão, de
redução de ruído e de direcionalidade nos instrumentos direito e esquerdo são otimizadas,
combinadas e/ou sincronizadas de modo constante ao longo do tempo, com o objetivo de
melhorar a resolução e a fidelidade espacial.72 O streaming de áudio se baseia na
conectividade entre o dispositivo eletrônico de amplificação sonora e os diferentes sistemas
de áudio (tais como música, TV ou telefone), de forma a direcionar o sinal sonoro para um,
outro ou ambos os dispositivos.

Entrada alternativa

Para que haja melhor aproveitamento sonoro do usuário, existem situações em que a entrada
de áudio não é captada pelo microfone, e sim por uma bobina de indução eletromagnética,
entrada direta de áudio e/ou modulação digital.

A bobina de indução eletromagnética ou bobina telefônica faz a captação do campo


eletromagnético externo e o converte em sinal elétrico equivalente, que pode ser processado
normalmente pelo dispositivo eletrônico de amplificação sonora. A principal vantagem desse
tipo de transmissão sem fio é o fato de ele ser universal entre os fabricantes. Essa tecnologia é
econômica e normalmente permite a conectividade entre o locutor e o ouvinte sem quaisquer
componentes adicionais, porém pode haver interferência de sinal em salas adjacentes e
variação na intensidade do sinal devido aos movimentos da cabeça.73

A entrada direta de áudio, como em sistemas FM, permite que o sinal do microfone do locutor
seja transmitido por meio de uma frequência portadora para um receptor usado pelo ouvinte,
conectados ao dispositivo eletrônico de amplificação sonora com uma sapata de áudio. A voz
do locutor é captada por um microfone e usada para modular as frequências da onda
portadora em um padrão que corresponde ao sinal original, por isso o receptor FM deve ser
sintonizado no mesmo canal do transmissor. A melhora do reconhecimento de fala no ruído
com esse sistema tem grande recomendação para o uso em ambientes educacionais.73

Com o avanço tecnológico, foi possível observar a facilitação da comunicação por meio de
alguns acessórios, tais como nos microfones remotos. Esses dispositivos funcionam por
sistemas de conectividade sem fio proprietários e operam na banda de frequência 2,4 GHz,
funcionando apenas dentro da linha de produtos de um mesmo fabricante. Sistemas de
conectividade sem fio via Bluetooth® podem ser utilizados em telefones celulares
(smartphones) e, por meio de aplicativos, possibilitam o controle, além do volume e de
programas acústicos, da integração de funcionalidades adicionais, tais como streaming de
áudio direto, chamadas telefônicas, música, localização geográfica, monitoramento de
atividade física e programação remota por um provedor.74

As tecnologias emergentes trazem novos benefícios e potenciais para a área de reabilitação


auditiva, portanto é fundamental que os profissionais estejam afinados com protocolos
disponíveis para que estes sejam oferecidos ao usuário de maneira eficiente, econômica e
eficaz. (Para maiores informações sobre o assunto, consultar o Capítulo 36, “Boas práticas na
adaptação dos sistemas de microfone remoto”.)

Microfones direcionais

Há muito tempo já se sabe que os microfones direcionais proporcionam a tão almejada


melhoria de inteligibilidade da fala em situações de ruído. Para tanto, com a ajuda do
processamento digital do sinal, vêm sendo amplamente utilizados sob diferentes estratégias,
como recursos na melhora da relação sinal/ruído no dispositivo eletrônico de amplificação
sonora.75

Se, no passado, os profissionais precisavam optar entre modelos com ou sem microfone
direcional, o passo seguinte foi permitir ao paciente selecionar, em seu próprio dispositivo
eletrônico de amplificação sonora, a conveniência de acionar ou não esse recurso, a depender
do benefício vivenciado em determinada situação comunicativa e/ou ambiental. Na sequência,
a tecnologia ofereceu a possibilidade de microfones direcionais automatizados que, a partir de
algoritmos e sensores na identificação da direcionalidade do som ou nível de ruído, eram
capazes de selecionar e acionar de modo automático esse importante modo de
funcionamento. Mais recentemente, a indústria apresentou a possibilidade de os microfones
direcionais incorporados ao dispositivo funcionarem de modo adaptativo, isto é, de serem
sensíveis ao ambiente, mudando suas características de feixes (ou resposta polar) de forma
automática e adaptativa a depender da direcionalidade do estímulo sonoro principal (fala) ou
em face do aumento do nível de ruído. Por fim, a incorporação desse recurso à tecnologia de
intercomunicação bilateral sem fio entre os dispositivos eletrônicos de amplificação sonora
proporcionou a possibilidade de os múltiplos microfones serem acionados de maneira
sincronizada, combinada ou alternada a depender das informações ambientais detectadas,
permitindo uma direcionalidade mais aperfeiçoada e eficiente.72
Redutores de ruído

Não seria um grande exagero afirmar que a maior parte das queixas da pessoa com deficiência
auditiva que faz uso do dispositivo eletrônico de amplificação sonora está relacionada à
compreensão da fala em ambientes ruidosos.

A possibilidade de desenvolver um algoritmo eficaz na melhora da inteligibilidade de fala em


ambientes ruidosos tem sido um grande, senão o maior, desafio da indústria de todos os
tempos. A pretensão da maioria dos algoritmos de redução de ruído consiste em reduzir a
intensidade do sinal de ruído competitivo, sem comprometer o sinal de fala. O desafio
principal de tal sistema, portanto, tem sido o de melhorar a inteligibilidade da fala, aumentar o
conforto auditivo e a qualidade do som amplificado em ambientes ruidosos.76

Existem diferentes princípios teóricos que embasam esses algoritmos. A detecção de


modulação é uma das abordagens utilizadas. Partindo da premissa de ser possível, em algumas
situações e na presença de múltiplos canais, diferenciar os padrões temporais da fala (que
apresentam características de maior modulação) daqueles do ruído (que possui menor
modulação), o sistema procura reduzir o ganho no(s) canal(is) específico(s) onde é identificada
menor modulação (em geral nas baixas frequências), portanto com predominância de ruído.
Inversamente, procura preservar o ganho nos canais onde é detectada maior modulação e,
portanto, maior probabilidade de o sinal de fala estar presente. No entanto, do ponto de vista
funcional, torna-se uma tarefa impraticável para o processador filtrar (ou priorizar) o sinal
principal de fala, quando o ruído competitivo é, na verdade, o de outras pessoas falando.9
Igualmente, quanto mais flutuante é o ruído do ambiente, ou quanto mais fontes simultâneas
existem, maior a dificuldade de atuação do processador ou filtro.

Inúmeras pesquisas77-80 ainda buscam evidências científicas que esclareçam a real extensão e
benefício desses algoritmos de redução de ruído na melhora da relação sinal/ruído. Em se
tratando de estratégias que busquem de forma específica e efetiva essa melhora, a utilização
de múltiplos microfones com direcionalidade controlada80 e/ou de equipamentos de FM tem
trazido maior consenso nas pesquisas.

Houben et al.78 esclarecem que, se, infelizmente, a literatura internacional não traz evidências
claras e diretas desses algoritmos sobre a melhora da inteligibilidade de fala em ambientes
ruidosos, outros estudos apontam satisfatoriamente que, além de contar com a aprovação dos
usuários, os algoritmos redutores de ruído possibilitam uma experiência de escuta mais
relaxada e promovem uma redução importante no esforço e fadiga auditiva, o que, por si só, já
garante um grande benefício na experiência auditiva do usuário.76,77

É possível que, em um futuro breve, novas tecnologias de algoritmos mais sofisticados de


redução de ruído, associados aos múltiplos canais de microfones direcionais, compressão de
frequência e sincronização bilateral, apontem para maiores evidências no impasse dessa tão
almejada melhoria da relação sinal/ruído.81

Por fim, cabe aqui destacar essa importante atribuição na etapa de seleção dos recursos
eletroacústicos, que reside na escolha dos algoritmos que serão necessários, desejados ou
acionados, a depender das necessidades do paciente ou das possibilidades tecnológicas do
dispositivo. Atualmente, a maioria dos dispositivos já sai da linha de produção com uma série
de algoritmos muito úteis ao seu funcionamento. Outros são encontrados somente em
modelos mais sofisticados. Ocasionalmente, o mesmo algoritmo é apresentado ao mercado
com diferentes nomes comerciais, às vezes o mesmo nome apresenta sua funcionalidade por
meio de diferentes estratégias operacionais. É imprescindível entender a diversidade de
possibilidades nesse universo de estratégias algorítmicas, conhecer cada uma de suas
funcionalidades, seu custo, benefícios e, a depender das necessidades do paciente, fazer as
devidas escolhas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reabilitação audiológica é um processo que precisa estar profundamente atrelado às


diretrizes de boas práticas. As recomendações sugerem procedimentos essenciais para tornar
a tomada de decisões mais adequada, controlada e bem-sucedida na seleção e adaptação dos
dispositivos eletrônicos de amplificação sonora. A partir de experiência clínica, de técnicas, da
busca incessante de atualização e de conhecimentos baseados em evidências, com
sensibilidade e empatia, é possível entender o universo de necessidades que poderão garantir
à pessoa com deficiência auditiva que busca auxílio procedimentos clínicos competentes e
responsáveis que levem a uma melhor qualidade de vida.

Nessa via de duas mãos, o paciente deve entender e compartilhar a responsabilidade de ser
parceiro na busca da superação das dificuldades de comunicação.

Este capítulo teve como objetivo ampliar o conhecimento básico necessário para que o
profissional responsável pela adaptação de dispositivo eletrônico de amplificação sonora faça
suas escolhas de maneira conscienciosa.

Nosso comprometimento é gigantesco, seja sob o ponto de vista humano ou técnico. É bem
verdade que a tecnologia joga a nosso favor na melhoria contínua dos recursos e
automatismos eletrônicos. No entanto, nossa responsabilidade clínica não é menor quando o
software, por exemplo, ao programar automaticamente determinado dispositivo, apresenta
sugestões (ou decisões) na seleção dos inúmeros recursos disponíveis. É preciso estar ciente
das decisões por ele selecionadas, acionadas ou não, e endossar (ou não) essas escolhas. A
seleção, a decisão e a responsabilidade final serão sempre do profissional no comando. Os
profissionais de saúde auditiva têm a responsabilidade de discernir e diferenciar a ciência do
marketing em seus esforços para aplicar princípios baseados em evidências em suas decisões
clínicas.

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