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quebra-cabeça
Ellen Eduarda Fernandes (Organizadora)
Estela Kaminagakura (Organizadora)
Janete Dias Almeida
Jobe de Lima
Marianne Spalding
Rubens Nisie Tango
Processo diagnóstico:
montando um quebra-cabeça
Coordernação
Ellen Eduarda Fernandes
Doutoranda em Ciências Aplicadas à Saúde Bucal ICT/SJC Unesp
Estela Kaminagakura Tango
Prof. Assoc. da disciplina de Estomatologia ICT/SJC Unesp
Autores
Ellen Eduarda Fernandes
Conselho Editorial
Doutoranda em Ciências Aplicadas à Saúde Bucal ICT/SJC Unesp
Prof. Tit. Sérgio Eduardo de Paiva Gonçalves
Estela Kaminagakura Tango
Profa. Assoc. Luciane Dias de Oliveira
Prof. Assoc. da disciplina de Estomatologia ICT/SJC Unesp
Profa. Assoc. Luana Marotta Reis de Vasconcellos
Janete Dias Almeida
Prof. Tit. da disciplina de Estomatologia ICT/SJC Unesp
Jobe de Lima
São José dos Campos, 2023
Mestrando em Ciência e Tecnologia Aplicada à Odontologia ICT/SJC Unesp
Marianne Spalding
Prof. Assist. Dra. da disciplina de Histologia ICT/SJC Unesp
Rubens Nisie Tango
Prof. Assoc. do Departamento de Materiais Odontológico e Prótese do ICT/SJC Unesp
SUMÁRIO
TÓPICO
Relação Profissional - Paciente
Exame Clínico
1
Anamnese
Exame Físico
Geral
Regional (Extrabucal – Intrabucal)
Autores
“O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita”
Guimarães Rosa
Agradecimentos
O exame clínico possui três pontos cruciais, sendo eles: o estabelecimento de uma boa relação com o paciente, a
formulação de diagnósticos diferenciais e a viabilização de uma tomada de decisão mais acertada. A cooperação do
paciente é essencial para a boa condução do exame clínico, portanto, esclareça a necessidade de cada uma das etapas,
dessa forma, é provável que o paciente se apresente mais receptivo e que haja uma menor probabilidade de recusa por
parte dele quanto à realização das etapas do exame e do futuro tratamento, visto que é um direito do paciente se opor
e um dever do profissional realizar qualquer tipo de intervenção apenas após o consentimento do paciente. Despender
tempo e atenção para realizar o exame clínico é investir na segurança do serviço oferecido pelo profissional.
Esquema 1 - Etapas do exame clínico
É importante ressaltar que todas as consultas realizadas
EXAME CLÍNICO
devem ter o registro das informações feito em um
prontuário, que, por sua vez, precisa apresentar-se
preenchido de forma clara, coerente e cronológica, pois
além da serventia clínica e registro do histórico das
manifestações de doenças do paciente, poderá servir ANAMNESE OU EXAME FÍSICO OU
como prova em eventuais litígios.
EXAME SUBJETIVO EXAME OBJETIVO
Sintoma = toda sensação percebida e relatada pelo paciente e não observada pelo
GERAL REGIONAL
profissional. Exemplos: dor, náuseas, queimação.
Sinal = dado objetivo notado pelo paciente e também observado pelo profissional
durante o exame clínico ou por meio de manobras semiotécnicas. Exemplos: tosse,
edema, presença de lesões fundamentais. EXTRABUCAL INTRABUCAL
B1. Anamnese
A anamnese trata-se de um exame subjetivo em que o paciente fará um exercício de recordar
diversas informações relacionadas às suas histórias de vida, de doenças e familiares, anteriores e
atuais, além de descrever sua percepção quanto aos sintomas e o desdobramento dos sinais da
queixa atual. Todas as informações fornecidas serão coletadas pelo profissional de forma
sistemática, organizada e completa (Esquema 2). O diagnóstico é baseado em uma anamnese
bem realizada.
É na anamnese que se estabelece a primeira ligação interpessoal importante para o cuidado com
o enfermo, sendo o ponto central da relação profissional-paciente. Ela possibilita não apenas o
conhecimento dos problemas clínicos, mas também da personalidade do paciente.
O profissional deve estar ciente de que assim como ele observa e avalia a postura e as
expressões de seu paciente, ele também é avaliado pelo paciente, dessa forma, é essencial uma
postura adequada e preferencialmente, um local propício para a realização da anamnese.
FRASE DE EFEITO
Esquema 2. Sequência a ser seguida para a realização da anamnese.
1 - Identificação do
paciente
7 - Tratamento 3 - História da
médico atual ANAMNESE doença atual
6 - Antecedentes 4 - História
familiares bucodental
5 - História médica
Condição
Justificativa
necessária
A técnica do exame varia dependendo da região a ser examinada. Deve ser realizada de luva e
não demanda pressão excessiva sobre os tecidos, devendo ser realizada de forma que provoque
o mínimo de sensações indesejáveis. Qualquer alteração da normalidade detectada durante a
palpação deve ser anotada, avaliada e o paciente indagado.
O exame das estruturas moles pode ser realizado por meio de palpação digital, bidigital e digito-
palmar (Figuras 1-3). Esse método possibilita a apreensão e sustentação dos tecidos, bem como
o deslizamento entre os dedos ou entre os dedos e a palma da mão. A palpação bilateral é
aquela em que se utiliza ambas as mãos para examinar estruturas aos pares, dispostas em
ambos os lados do corpo, dessa forma, pode-se comparar a condição em que essas estruturas
similares se encontram, por exemplo, a articulação temporomandibular (ATM).
Nas circunstâncias em que as mãos ou os dedos não
conseguem alcançar determinada estrutura, a palpação
indireta permite que o profissional faça sua avaliação
por meio de instrumentos, como, por exemplo, com a
sonda exploratória.
d) Auscultação: tem como objetivo a detecção de sons normais e anormais, produzidos durante o desempenho das
funções fisiológicas de diferentes estruturas. Em odontologia, o emprego dessa manobra é limitado, entretanto, é
importante para a avaliação da ATM.
A associação entre a palpação, percussão e auscultação é significativa para o diagnóstico de fraturas.
e) Olfação: é a percepção de odores típicos de determinadas doenças e hábitos. Como exemplos, pode-se destacar:
a identificação de um odor de “ninho de rato” em portadores de pênfigo foliáceo, apesar de não apresentarem lesões
bucais; pacientes com diabetes descompensado apresentam um característico hálito cetônico; tumores malignos em
estágio avançado deixam o paciente com hálito putrefato.
O exame físico compreende o exame geral e o exame regional, este último, por sua vez, subdivide-se em: exame
físico regional extrabucal e intrabucal (Esquema 1).
B2.1 Geral:
O exame físico tem seu início na sala de espera do consultório, quando o profissional já deve observar a postura, a
simetria, o andar (deambular) do paciente, sua higiene e feição. Observe também, durante a conversa com o
paciente, a linguagem e a forma como ele fala, se há algum distúrbio psíquico, como é o seu temperamento e como
está o seu bem-estar geral. Ao se deparar com situações de dúvida, consulte outras opiniões e, se necessário,
encaminhe o paciente para ser avaliado por outro profissional especialista na área. Apesar de muitos profissionais de
saúde concentrarem a sua atuação em uma região específica, não deve jamais se esquecer de que o indivíduo a sua
frente é um ser envolto de complexidade e com uma pluralidade de influências biopsicossociais.
Com o paciente na sala do consultório e antes de iniciar o exame físico de fato, minucioso e organizado, é importante
explicar de forma breve o que será realizado e os possíveis desconfortos, na tentativa de minimizar a ansiedade que
alguns pacientes podem sentir nesse momento. Procure manter-se calmo e tente não evidenciar expressões de
desagrado ou condenação, mesmo que se depare com alterações ou tratamentos anteriores insatisfatórios.
Avalie e registre os sinais vitais do paciente, tais como temperatura, pulso, pressão sanguínea e nível de glicemia
(Tabela 2).
Tabela 2. Valores de Referência.
Seios paranasais: clinicamente, os seios maxilares e frontais são passíveis de serem avaliados. A identificação de
sinusopatias, como a sinusite, é importante, pois estas podem ser confundidas com odontalgias.
Para avaliar a presença de hiperestesia dos seios frontais, deve-se posicionar os dedos polegares na região das
sobrancelhas e pressionar para cima, sem que haja compressão dos globos oculares. Pode ser testada, também,
posicionando-se um dedo indicador sobre a mesma área e com o dedo médio oposto, percutindo a ponta (região
ungueal) do dedo indicador.
Para analisar os seios maxilares, pode-se posicionar os dedos polegares abaixo da proeminência anterior do osso
zigomático e pressionar para cima. De igual modo, a percussão deve ser realizada nessa região.
Ao realizar as avaliações de forma bilateral, pergunte ao paciente sobre as diferenças de sensibilidade entre os lados.
Os seios da face também podem ser avaliados por meio de transiluminação com uso do fotopolimerizador. Nessa
manobra deverá ser observada se há ou não a presença de obstrução da passagem de luz. Se houver, há indícios de
possíveis alterações internas no respectivo seio paranasal transiluminado.
Olhos: anomalias oculares, como exoftalmia, alterações na distância interglobular, afastamento palpebral, excesso de
lacrimejamento ou o oposto - a xeroftalmia, diplopia, alteração de coloração e outras, podem ser sinais sugestivos de
que estruturas da face ou mesmo sistêmicas encontram-se alteradas.
Músculos da mastigação e mímicos: esses músculos podem ser palpados por meio de compressão bidigital ou
digital, sendo a palpação bilateral dos músculos pares um meio de comparar alterações de sensibilidade entre eles.
Para avaliar os músculos temporais, deve-se palpar as regiões parietais do crânio. Já os pterigóideos laterais são
avaliados de forma intrabucal, por meio da palpação bilateral da região posterior da maxila, logo acima da
tuberosidade maxilar.
O aumento da sensibilidade dos músculos da mastigação, em especial do masseter, pode indicar bruxismo e/ou
outras parafunções mastigatórias.
Alterações dos músculos mímicos podem estar relacionadas a distúrbios de movimento facial, como fasciculação (na
presença de neuropatias), mioquimia (na presença de algumas doenças hereditárias, por exemplo, além de
ansiedade e outros), repuxamento da face para um dos lados (típico da paralisia de Bell) e espasmo hemifacial
(relacionada à fraqueza muscular).
Articulação temporomandibular: dores na articulação temporomandibular e miofasciais são comuns, e algumas
características relacionadas às disfunções temporomandibulares (DTM) são: dor na articulação, ruídos articulares,
limitação de abertura bucal, cefaleia, dor no ouvido, zumbido, dificuldade para mastigar, desvios durante a abertura
bucal, assimetria facial, dentre outros.
Glândulas salivares: de forma geral, a glândula sublingual não é facilmente palpável em condições normais, e a
glândula submandibular apresenta-se móvel e flácida. Já a glândula parótida apresenta um volume discreto e uma
consistência macia.
A saliva, secretada pelas glândulas salivares, funciona como um lubrificante para as mucosas e contribui com a
mastigação e a deglutição, além de auxiliar na limpeza dos dentes e equilíbrio do pH bucal. Portanto, não apenas as
glândulas salivares maiores precisam ser inspecionadas, mas também o efluente salivar, por meio da secagem da
região de desembocadura de seus respectivos ductos, especialmente a carúncula sublingual e a papila parotídea.
Cadeias linfonodais: por drenarem a linfa da cabeça e do pescoço e serem sítios de metástase de neoplasias
malignas, as alterações quanto à sensibilidade e volume precisam ser identificadas e investigadas. Em condições
normais, geralmente, os linfonodos não são palpáveis, apresentam cerca de 3 a 5 mm de diâmetro, são macios e de
mobilidade variável, a depender de sua aderência aos tecidos subjacentes e da mobilidade da própria pele
sobreposta a ele. O ponto de atenção está em diferenciar as linfadenopatias de natureza inflamatória de uma
metastática. Para isso, observe as particularidades de cada uma dessas na tabela abaixo (Tabela 3).
Tabela 3. Diferenças entre as naturezas das linfadenopatias.
Fonte: Adaptado do livro Estomatologia - Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral, 3ª edição, de Sergio Kignel.
Exame Extrabucal na Prática:
O roteiro abaixo é uma sugestão de como proceder com a sequência do exame extrabucal. Antes de iniciar,
certifique-se de que o ambiente oferece boas condições para realização do exame e lembre-se de estar atento às
características como: textura, coloração, tonicidade, hidratação dos tecidos, simetria, abertura bucal e presença ou
não de crepitação da ATM.
1 - Posição do paciente: sentado, com as costas bem encostadas na cadeira, cabeça ereta, olhando para frente
para que todas as estruturas permaneçam em posição anatômica, possibilitando, assim, a verificação do tônus
muscular.
Com a mão de apoio, mantém-se a cabeça ligeiramente inclinada para o lado da região a ser palpada, os dois dedos (indicador e médio) da
outra mão são inseridos no ângulo da mandíbula com certa pressão, palpando até a região anterior (Figuras 7-9). O movimento é repetido do
lado oposto.
Essa região é muito importante, pois em metástase regional do câncer de boca e infecções amigdalianas a região júgulo-digástrica (linfonodo
jugulodigástrico) é a mais frequentemente acometida.
1 - Lábios:
Palpar e observar os lábios inferiores e superiores, analisando a textura, a coloração, a
tonicidade e a hidratação da mucosa (Figuras 20 e 21).
Figura 27: Língua em posição para sua Figura 28: Tracionamento para análise do
avaliação inicial. dorso posterior da língua.
Para a avaliação do dorso lingual, com o paciente com a língua para fora, tracioná-la com a
ajuda de uma gaze, inspecionando os lados esquerdo e direito, até a sua inserção final. Com
o auxílio da espátula de madeira, afastar a mucosa jugal para melhor visualização e análise
das estruturas, especialmente a região da borda posterior da língua (Figuras 28 e 29).
Figura 30: Região de soalho bucal e carúncula Figura 31: Posicionamento da língua para inspeção do
sublingual. soalho da boca e do ventre de língua.
5 - Região orofaríngea e úvula
Peça ao paciente que mantenha a língua dentro da boca e respire pelo nariz. Depois, abaixe a língua com as espátulas (Figura 32) e peça que fale
as vogais “AAAAAAA” e “EEEEEEE” para que seja possível inspecionar a região de orofaringe e também a úvula (Figuras 33 e 34).
Figura 32: Manobra com espátulas de madeira Figura 33: Paciente realizando a pronúncia da Figura 34: Paciente realizando a pronúncia da
para baixar a língua. vogal “AAAAAA”. Observe as estruturas da região vogal “EEEEEE”.
orofaríngea.
6 - Região palatina
Para a correta visualização dessa
região, é necessário reclinar um
pouco a cadeira. Observar a
coloração, a presença das glândulas
salivares menores e as pregas
palatinas, realizando a palpação
destas (Figuras 35 e 36).
Figura 35: Região do palato. Note a transição entre o Figura 36: Análise das pregas palatinas.
palato mole e o palato duro.
.
7 - Outros
Importante também analisar a oclusão e o
alinhamento dental (Figuras 37 e 38). Além
disso, também é importante observar as
regiões cervicais e incisais dos dentes
(Figura 39), que podem indicar hábitos
alimentares e parafuncionais.
Figura 37: Oclusão - a espátula de madeira pode Figura 38: Alinhamento dentário.
auxiliar na avaliação.
a) Punção exploratória:
Baseia-se na introdução de uma agulha em cavidade óssea identificada radiograficamente, ou em uma massa
tecidual para retirada de material. O líquido aspirado pode ser sangue, saliva, pus ou conteúdo pastoso.
Quando a punção for negativa, a lesão pode se tratar de um tecido sólido (êmbolo preso) ou de cavidade
vazia (êmbolo solto).
Após a anestesia da área, a agulha deve ser inserida na cavidade para que a aspiração seja realizada. O repetido reposicionamento da ponta da
agulha pode ser necessário para a localização do centro fluido da lesão (Figuras 40-42).
Figura 40: Punção exploratória de ceratocisto Figura 41: Punção exploratória de cisto Figura 42: Punção exploratória de cisto
odontogênico. Cortesia do Prof. Dr. Danyel Perez. odontogênico calcificante. Cortesia da Profa. Dra. odontogênico radicular inflamatório.
Maria Cândida Almeida Lopes.
Com o material coletado realiza-se um esfregaço na
lâmina da seguinte forma: deposite uma gota do
material aspirado sobre uma lâmina de vidro
previamente limpa e identificada e com o auxílio de
outra lâmina, espalhe de forma unidirecional e
uniformemente o material sobre toda a extensão da
primeira (Figura 43). Cuidadosamente, armazene a
lâmina em recipiente adequado contendo formol ou
álcool absoluto para encaminhar ao laboratório.
d) Fotografia:
Auxilia principalmente durante a proservação das alterações, uma vez que estas podem sofrer mudança no decorrer do tempo e durante o
tratamento.
D. Exames complementares
O profissional deve estar consciente de que um exame clínico realizado de forma correta pode ter a adição de
exames complementares como contribuição para o diagnóstico, sendo inapropriada a realização do inverso. A
execução do exame clínico deve direcionar, de forma seletiva e quando necessário, qual exame complementar
realizar. Isso possibilita que seja despendido menos tempo e dinheiro, além de tornar o processo diagnóstico mais
eficiente.
Os exames complementares devem ser solicitados de forma responsável e podem ser utilizados não apenas para
auxiliar na definição do diagnóstico, como também para prognóstico, além de fornecer meios para acompanhamento
e preservação do paciente.
Os exames complementares mais empregados em odontologia são biópsia, citologia esfoliativa e exames de
imagens, tais como: radiografias periapical, interproximal, oclusal e panorâmica, tomografia computadorizada,
ressonância magnética, ultrassonografia, PET-CT e os exames laboratoriais.
Materiais consultados:
GENOVESE, W. J. Metodologia do Exame Clínico em Odontologia. 2ª edição. São Paulo: Pancast Editorial, 1992.
KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.
MARCUCCI, G.; JÚNIOR O. C. Fundamentos de Odontologia: Estomatologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2020.
SCULLY, C. Medicina Oral e Maxilofacial: bases do diagnóstico e tratamento. 2ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Tópico 2
Lesões Fundamentais
ou Elementares
Colaboração de Larissa Sandy Leite
KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.
MARCUCCI, G.; JÚNIOR O. C. Fundamentos de Odontologia: Estomatologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2020.
NANCI, A. Ten Cate Histologia Oral: Desenvolvimento, Estrutura e Função. 9ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
Variações de Normalidade da
Cavidade Bucal
Para que o cirurgião-dentista seja capaz de formular suas hipóteses
diagnósticas é imprescindível que possua conhecimento apurado
acerca da anatomia da cavidade bucal e as possíveis variações de
normalidade.
Dominar esses conhecimentos e aplicar as técnicas de exames
intrabucais, avaliando cuidadosamente e sistematicamente cada
estrutura, proporcionará segurança para a prática clínica.
Localização mais frequente: gengiva inserida. Pode acometer a mucosa jugal, o palato, o ventre e o
dorso de língua, além de lábios.
- Tratamento: não é necessário. Em casos cujo aspecto clínico seja duvidoso no que tange ao
diagnóstico, como em língua e mucosa jugal, a biópsia incisional é indicada.
GRÂNULOS DE FORDYCE
Figura 56: Grânulos de Fordyce localizados no Figura 57: Grânulos de Fordyce localizados na
vermelhão do lábio superior. mucosa jugal esquerda.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção e palpação.
Alteração hiperplásica e/ou hiperqueratótica, resultante de injúrias mecânicas acentuadas, como, por exemplo, fricção
e traumas (Figuras 60 e 61).
Figuras 60 e 61: Linha alba localizado na mucosa jugal. Sua localização está ao nível do plano oclusal.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.
- Características Clínicas: placa branca, disposta como uma linha que pode se apresentar
corrugada, de proeminência variável, comumente bilateral. Localizada na mucosa jugal, na altura
do plano oclusal, geralmente está restrita à área dentada.
- Características Clínicas: tórus palatino é localizado na linha média do palato duro. O tórus
mandibular é encontrado na face lingual da mandíbula, na região de pré-molares e molares.
Apresentam-se como proeminências ósseas recobertas por mucosa íntegra, mas podem ulcerar-
se devido ao trauma local.
Quando localizados em outros sítios anatômicos, podem ser denominados de exostose óssea.
Podem ser classificados, conforme a sua morfologia, em: plano, alongado, nodular e lobular.
Em radiografia periapical, o tórus mandibular apresenta-se como
uma imagem radiopaca sobreposta às raízes dos dentes, mas
pode ser melhor visualizado em radiografias oclusais (Figura 65).
São dilatações e tortuosidades anormais das veias (Figura 66), que surgem em
decorrência da senilidade, relacionada à diminuição do tônus de tecido
conjuntivo que confere sustentação aos vasos sanguíneos.
- Características Clínicas: são numerosos sulcos, dispostos no dorso da língua que podem
variar em profundidade (entre 2 e 6 mm). Geralmente é assintomático, mas pode haver relatos de
queimação e dor.
AMORIM, J. A. et al. Analysis of the relationship between halitosis and white tongue. RGO - Revista Gaúcha de Odontologia,
v. 59, n. 1, p. 7–13, 2011.
FERNANDES, R. C. et al. Úvula bifída: importância no diagnóstico da Fenda Palatina Submucosa. Revista Portuguesa de
Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial, v. 55, n. S 1, p. e62–e63, 2014.
KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.
NEVILLE, B. W. et al. Patologia Oral e Maxilofacial. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
NEVILLE, B. W. et al. Atlas de Patologia Oral e Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.
PASSARELLI, D. H. R. C. Atlas de Estomatologia: Casos Clínicos. 1ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.
S
Materiais consultados:
SALES, S. A. G. et al. Incidence of bifid uvula and its relationship to submucous cleft palate and a family history of oral cleft in
the Brazilian population. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 84, n. 6, p. 687–690, 2018.
SANTOS, P. S. DA S. et al. Impact of tongue biofilm removal on mechanically ventilated patients. Revista Brasileira de
Terapia Intensiva, v. 25, n. 1, p. 44–48, 2013.
SCULLY, C. Medicina Oral e Maxilofacial: bases do diagnóstico e tratamento. 2ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Biópsia
A biópsia é um exame complementar, cirúrgico, em que toda a lesão ou parte dela é
removida de um tecido vivo para que as características histopatológicas sejam
avaliadas.
Por se tratar de uma ferramenta valiosa, é importante que o cirurgião-dentista tenha
conhecimento de suas indicações, contraindicações e técnicas, bem como seja ágil
em sua realização, pois o profissional tem a responsabilidade de reconhecer
precocemente as alterações patológicas que acometem a cavidade bucal, evitando a
demora no estabelecimento do diagnóstico definitivo, o que pode impactar
negativamente o prognóstico do paciente.
1 - Indicações
Importante: o espécime não pode ser acondicionado em material fixador caso seja realizado um
exame bacteriológico.
Figura 77: Aplicação do corante azul de toluidina. Note a coloração mais evidente na porção mais
central da lesão. Fonte: CHAINANI et al., 2015.
No momento da escolha da área a ser biopsiada, o profissional pode utilizar o corante azul de toluidina como um método auxiliar. O corante
será absorvido pelo núcleo celular, e devido ao fato da intensidade da coloração estar relacionada ao grau de comprometimento da superfície
epitelial, irá corar principalmente as áreas patológicas, deixando as regiões suspeitas com a cor azul (Figura 77). Dessa forma, será possível
observar uma coloração mais branda em lesões benignas. Em casos de carcinomas e displasias epiteliais, a coloração se mostrará mais
evidente. No quadro a seguir há uma descrição da técnica de aplicação do corante (Quadro 1).
Quadro 1. Técnica para utilização do corante azul de toluidina.
Fonte: Adaptado do livro Medicina Oral e Maxilofacial - Bases do Diagnóstico e Tratamento, 2ª edição, de Crispian Scully.
4 - Tipos de biópsias
As biópsias podem ser realizadas por meio de bisturi, punch, curetas ou pinça saca-bocado. As
curetas são empregadas principalmente para lesões intraósseas. A pinça saca-bocado é utilizada
em caso de áreas de difícil acesso e em lesões friáveis, entretanto, sua extremidade cortante pode
causar maceração do tecido. Já o punch, que apresenta uma extremidade ativa oca e com
presença de bisel, é inserido no tecido e, com movimento único de rotação, realiza-se o corte e a
remoção de um cilindro uniforme de tecido. O tecido removido deve ser colocado em solução
fixadora.
Quanto ao volume de material a ser removido, classificamos as biópsias em: excisional ou
incisional. A técnica para a realização de cada uma dessas modalidades será descrita a seguir.
5 - Instrumentais necessários
O cuidado quanto ao preparo dos materiais a serem utilizados durante a realização da biópsia é
importante para que não haja contaminação e para que o espécime seja devidamente
armazenado e fixado, evitando sua degradação para disponibilizar material adequado para a
análise do patologista.
Os instrumentais necessários podem variar (Figura 78), a
depender do acesso cirúrgico, do formato, da localização e da
técnica a ser empregada.
Fonte: Adaptado do livro Estomatologia - Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral, 3ª edição, de Sergio Kignel.
6.1 Biópsia excisional
Nessa técnica há a completa remoção da lesão com margem de segurança (tecido
normal) em todos os lados (Esquema 6 e Figuras 79 e 80). Consiste na associação
entre o procedimento diagnóstico e a terapia definitiva, restrita às lesões:
clinicamente benignas que apresentarem diâmetro menor que 2 a 2,5 cm,
cirurgicamente acessíveis e lesões ósseas pequenas e bem definidas.
Setas: correspondem ao tecido normal Figura 79: Incisão a ser realizada para Figura 80: Peça removida.
adjacente que pode ser removido, caso a remoção da lesão.
lesão não seja encapsulada.
6.1.1 Técnica
A técnica anestésica por bloqueio é mais indicada, entretanto, quando
esta não for possível, a técnica infiltrativa pode ser aplicada. Nesse caso, a
solução anestésica local deve ser injetada de 3 a 4 milímetros de distância
da lesão, por meio da técnica de 4 pontos – superior, inferior, direita e
esquerda (Figura 81). Figura 81: Técnica de anestesia.
Atenção: soluções anestésicas e marcadores cirúrgicos, como nanquim,
podem causar artefatos e devem ser aplicados longe da amostra do
tecido que será removido. Após a realização da técnica anestésica, é
importante a estabilização do tecido antes da incisão. No caso da biópsia
em lábio, um auxiliar pode segurar firmemente o lábio posicionando os
dedos polegar e indicador em ambos os lados da lesão (Figura 82).
O bisturi é então utilizado para a realização de duas incisões que devem formar
uma elipse na superfície, com convergência em forma de V nas extremidades
opostas. As incisões devem ser, sempre que possível, paralelas ao curso normal de
nervos, vasos sanguíneos e de fibras musculares.
Para o controle de sangramento, é necessário evitar a utilização de dispositivos de
aspiração, pois amostras cirúrgicas pequenas podem ser acidentalmente aspiradas,
Figura 83: Lesão em fundo de sulco com fio de sutura para
sendo assim, é apropriada a utilização de compressas de gaze ou mesmo enrolar a
estabilização, para realização de biópsia excisional.
gaze sobre a ponta de um dispositivo de sucção que seja de baixo volume.
O espécime deve ser removido e imediatamente colocado na solução fixadora. Quando possível, deve-se realizar a sutura interrompida.
Após a conclusão da biópsia, reforçar as orientações e cuidados pós-operatórios para o paciente.
6.2 Biópsia incisional
Compreende a remoção de um fragmento representativo da lesão, o que deve incluir uma quantidade significativa de tecido
anormal associado ao tecido normal adjacente (Esquema 7), para análise microscópica. Para esse procedimento, as indicações
são: lesões extensas e difusas (Figuras 84 A-B), de difícil acesso, doenças cujo tratamento não é cirúrgico (Figuras 84 A-B) e
lesões com suspeita de malignidade (Figuras 85 e 86).
Setas: indicam a porção de tecido Figura 84. Paciente com suspeita clínica de leucoplasia verrucosa proliferativa. Placas brancas em
normal que deve ser removido mucosa jugal esquerda (A) e em rebordo alveolar inferior direito (B).
juntamente com parte da lesão.
Figura 85: Lesão com suspeita de malignidade. Figura 86 Lesão com suspeita de malignidade.
6.2.1 Técnica
De forma geral, a técnica é a mesma utilizada para a biópsia
excisional, com algumas ressalvas, sendo elas:
Em caso de amostras de tecido delgado, é indicada a sua Figura 87: Etapas do procedimento. A. Lesão a ser biopsiada por meio da
distensão com o tecido conjuntivo em contato com um papel técnica incisional. Note a delimitação da área selecionada. B. Remoção parcial
estéril (ex.: invólucro do fio de sutura) para evitar a distorção do da lesão e de uma porção de tecido normal adjacente. C. Posicionamento da
tecido (Figuras 87 A-D) previamente à sua fixação. amostra em papel estéril. D. Todo o conjunto segue para fixação e
acondicionamento da amostra para envio ao laboratório.
7 - Biópsia por congelação
Utilizada principalmente para a avaliação de margens cirúrgicas de lesões malignas. No decorrer do procedimento cirúrgico,
o material coletado é congelado por meio de um criostato, faz-se a microtomia e o material é analisado microscopicamente
na presença do paciente anestesiado no centro cirúrgico. Ao se confirmar que as margens cirúrgicas estão livres, a cirurgia é
finalizada, evitando um novo procedimento cirúrgico.
O exame histopatológico é considerado o padrão-ouro para o diagnóstico de carcinoma de células escamosas oral e
lesões potencialmente malignas. O cirurgião-dentista pode associar técnicas não invasivas para auxiliá-lo a selecionar
áreas a serem biopsiadas, sendo algumas delas: a autofluorescência, a quimioluminescência, a aplicação de azul de
toluidina e a espectroscopia óptica.
8.1 Técnicas adjuvantes
Algumas técnicas adjuvantes utilizadas para auxiliar o diagnóstico precoce do câncer bucal serão exploradas.
8.1.1 Autofluorescência
A autofluorescência consiste em uma técnica de excitação de fluorocromos naturais localizados no epitélio e no
estroma, por meio da irradiação de comprimentos de onda que variam entre 375 e 440 nanômetros, associada à
filtragem adequada da luz, para que a luz absorvida seja reemitida e analisada. A mucosa normal, após ser
irradiada, emitirá uma luz autofluorescente verde-pálida visualizada por meio de um filtro seletivo, já o tecido
alterado causará diminuição da visualização fluorescente, aparecendo como uma área escurecida. A alteração da
fluorescência se dá pelas alterações bioquímicas, metabólicas e estruturais que alteram a concentração dos
fluorocromos naturais e, consequentemente, aumentam o espalhamento e/ou a absorção da luz.
O dispositivo portátil VELscope ™ (Visually Enhanced Lesion Scope; LED Dental, White Rock, BC, Canadá) tem sido
utilizado para execução dessa técnica.
8.1.2 Quimioluminescência
A quimioluminescência está relacionada à análise da luz emitida resultante de uma reação química.
Para tanto, o paciente realizará um bochecho com solução de ácido acético a 1% por 1 minuto, para
que a camada superficial de glicoproteína seja removida e haja desidratação celular. Dessa forma, há
uma maior penetração da luz, o que possibilita um aumento da visibilidade dos núcleos celulares. A
incidência da luz quimioluminescente azul/branca difusa, com comprimento de onda entre 490 a 510
nanômetros, fará com que o tecido normal absorva a luz e pareça azul, em contrapartida, o tecido
alterado refletirá uma luz mais branca com margens mais nítidas e claras, devido à alteração da
relação núcleo/citoplasma ser maior em células anormais.
O dispositivo ViziLite® (VL - Zila Pharmaceuticals, Phoenix, AZ) é utilizado para aplicação dessa técnica.
Há ainda o sistema ViziLite ® Plus que associa o corante azul de toluidina, com o intuito de melhorar a
especificidade da técnica.
8.1.3 Azul de toluidina
O azul de toluidina pode ser aplicado isoladamente para auxiliar na escolha da área para a realização da biópsia.
Esse corante catiônico metacromático cora o ácido desoxirribonucleico, além de ter a possibilidade de ficar retido
nos espaços intercelulares do epitélio displásico, apresentando-se clinicamente na coloração azul royal, e isso
ocorre devido ao fato de células neoplásicas apresentarem maior quantidade de DNA e RNA e canais intercelulares
mais largos, quando comparadas com células epiteliais sem alteração. A descrição de sua técnica está disponível no
Quadro 1.
(A) Preparo prévio para a reunião: é essencial que haja o preparo emocional do profissional
associado à revisão das informações clínicas importantes. A programação de tempo adequado para a
conversa e estar consciente da forma como se pretende falar, além de frases e palavras que devem
ser evitadas também são pontos relevantes neste tópico;
(D) Gerenciamento de reações do paciente e de sua família: evite discutir ou criticar outros
profissionais; avalie e responda as reações emocionais que o paciente e seus familiares possam
expressar em cada reunião, e procure ser empático;
(E) Estímulo e validação de emoções: utilize recursos interdisciplinares e ofereça, de forma realista,
esperança conforme os objetivos do paciente. Além disso, investigue o significado da notícia para o
paciente.
O protocolo SPIKES (S − Setting; P − Perception; I − Invitation; K − Knowledge; E − Empathy; S − Summarize and
strategize) possibilita a coleta de dados do paciente para que a transmissão da notícia seja feita de forma clara,
conforme os desejos e as necessidades dele. Dessa forma, tem como objetivo diminuir o impacto emocional e o
isolamento que a má notícia acarreta, ademais, visa estabelecer uma maior cooperação para o tratamento. Abaixo
há a descrição de cada etapa do protocolo:
(S) Configuração: consiste no preparo do ambiente, de forma que se assegure que haverá um tempo adequado e
um local privado para a conversa. Peça ao paciente que convide pessoas que sejam importantes para ele para
acompanhá-lo;,
Revise as anotações da forma e como pretende expor as informações ao paciente; esteja atento à linguagem
corporal e transmita a informação com todos sentados;
(P) Percepção: conheça a percepção que o paciente possui sobre sua doença;
(I) Convite: é importante descobrir a quantidade e o nível de detalhe que o paciente gostaria de receber;
(K) Conhecimento: comunique de forma simples e clara a má notícia, evitando termos técnicos, e utilize pausas
para se assegurar de que há compreensão daquilo que está sendo transmitido;
(E) Empatia: dê espaço para que o paciente exteriorize suas emoções e seja solidário a ele;
(S) Resumir e criar estratégias: faça um resumo da reunião, verifique a real compreensão do paciente e
estabeleça um plano para o futuro.
É fundamental ressaltar que apesar da existência destes protocolos, não existe apenas uma forma que seja
aplicável a todas as situações, visto que cada paciente possui suas particularidades e responderá de distintas
maneiras.
O bem-estar espiritual, que engloba a paz, o significado e a fé, reflete na qualidade de vida do enfermo e em sua
postura no enfrentamento da doença, em seus distintos graus. A religião e/ou espiritualidade podem auxiliar no
controle do estresse desencadeado por eventos negativos, além de contribuir para um melhor funcionamento do
sistema imunológico. Pacientes que possuem alta espiritualidade apresentam maior probabilidade de desenvolver
suas capacidades e potencialidades, sendo capazes de trabalhar com seus sentimentos e cuidados próprios, em
contrapartida, os que apresentam menor espiritualidade estão mais propensos ao desenvolvimento de depressão,
autonegligência, menor aceitação de seus sentimentos e enfrentamento ineficaz.
Frente à importância que os aspectos intrapsíquicos possuem quanto ao impacto na qualidade de vida e
enfrentamento, o profissional deve orientar o seu paciente a trabalhar essa área e temas relacionados, como a
espiritualidade, a fim de que o paciente possa concentrar-se na esperança e mitigar o desespero, podendo sugerir
intervenções terapêuticas para auxiliá-lo nessa busca.
Materiais consultados:
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KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro:
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Disponível em:
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f. Acesso em: 05 jul. 2022.
Tópico 5:
Exame citológico
Os dois mais conhecidos métodos da citopatologia são: a citologia esfoliativa convencional e a citologia
esfoliativa de base líquida.
Vale ressaltar que a citologia esfoliativa não deve ser aplicada como substituta à biópsia, mas como
método diagnóstico coadjuvante. Esse procedimento apresenta um papel significativo na triagem de
lesões múltiplas ou extensas, indicando o local mais indicado para a realização da biópsia, por
exemplo.
1 - Indicações:
Infecções virais (Figura 88);
Pode ser utilizada como exame de triagem de câncer de boca e outras patologias em grandes populações;
Limitações no diagnóstico preciso, pois além de não fornecer informações estruturais do tecido, também não
demonstra sua relação com os tecidos normais adjacentes;
Ocorrência de muitos resultados inconclusivos ou com material inadequado ou insuficiente (relacionado à falta
de padronização da técnica ou falta de treinamento por parte do profissional).
4 - Citologia esfoliativa convencional
O cuidado com a coleta, o esfregaço e a fixação são fundamentais para garantir um material de qualidade para análise do patologista.
4.1 Técnica
A coleta do material é feita por meio da raspagem da superfície da lesão com uma espátula de metal ou escova (Figura 91). Cuidado: o excesso de
saliva sobre a lesão, durante a coleta, pode causar sobreposição de células no esfregaço. Na sequência, um esfregaço unidirecional deve ser
realizado sobre a lâmina de vidro limpa e identificada com as iniciais do paciente (Figura 92) e, logo após, ser fixado com álcool 95º ou com uma
solução álcool/éter 1:1. A lâmina deve ser acondicionada em um recipiente adequado para ser encaminhada para o laboratório (Figura 93).
Figura 91: Remoção das células com Figura 92: Esfregaço unidirecional Figura 93: Fixação e acondicionamento da
escova. sobre a lâmina de vidro. lâmina para transporte.
5 - Citologia esfoliativa de base líquida
Também conhecida como citologia em monocamada ou citologia de camada fina, a citologia esfoliativa de base
líquida trata-se de uma adaptação da citologia esfoliativa tradicional, em que o cirurgião-dentista não realiza as
etapas do esfregaço e da fixação, sendo responsável apenas por realizar a coleta da amostra.
5.1 Técnica
A coleta é realizada por meio de uma escova cônica de cerdas macias, que será mergulhada em um tubo contendo
um líquido à base de metanol, para preservar o material coletado, e fechado hermeticamente. Na fase laboratorial,
o líquido será submetido a um processo de centrifugação e, na sequência, passará por um filtro, e o material ali
retido será colocado em contato com as lâminas. Materiais residuais, tais como hemácias, debris e muco não são
retidos no filtro, restando apenas as células epiteliais para avaliação. A lâmina passa pelo processo de coloração
para posterior análise microscópica.
6 - Comparação entre as técnicas
Quando comparamos as técnicas, a citologia esfoliativa de base líquida se mostra superior à técnica convencional,
visto que reduz a possibilidade de ocorrência de problemas, como artefatos e distorções, baixa representatividade
celular no esfregaço e má distribuição celular com aglomerados celulares, relacionados à má realização do
esfregaço e do processo de fixação. No entanto, a técnica de base líquida requer um tempo maior para a
preparação da lâmina, disposição e transporte de meio líquido, além de um custo maior em equipamentos e
manutenção.
7 - Técnica de Cell Block
Cell Block corresponde à técnica de coleta e processamento de coágulos sanguíneos, sedimentos ou fragmentos de
tecido visíveis macroscopicamente de amostras citológicas que são incluídas em blocos de parafina para serem
posteriormente cortadas e coradas por meio de métodos utilizados em histopatologia, como a hematoxilina-eosina.
Essa técnica confere uma maior sensibilidade na identificação de componentes celulares em pequenas amostras
celulares, oferecendo vantagens como execução simples, rápida e de baixo custo. Confere melhor aproveitamento
de materiais puncionados que seriam descartados, auxiliando no diagnóstico diferencial.
A técnica de Cell block pode ser utilizada ainda para técnicas de imuno-histoquímica e moleculares, tais como
reação em cadeia da polimerase (PCR), detecção de mutações, dentre outras.
KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.
KROGERUS, L. Cell Block in Cytological Diagnostics: Review of Preparatory Techniques. Acta Cytologica, v. 62, n. 4, p. 1–7, 2018.
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