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Processo diagnóstico: montando um

quebra-cabeça
Ellen Eduarda Fernandes (Organizadora)
Estela Kaminagakura (Organizadora)
Janete Dias Almeida
Jobe de Lima
Marianne Spalding
Rubens Nisie Tango
Processo diagnóstico:
montando um quebra-cabeça
Coordernação
Ellen Eduarda Fernandes
Doutoranda em Ciências Aplicadas à Saúde Bucal ICT/SJC Unesp
Estela Kaminagakura Tango
Prof. Assoc. da disciplina de Estomatologia ICT/SJC Unesp

Autores
Ellen Eduarda Fernandes
Conselho Editorial
Doutoranda em Ciências Aplicadas à Saúde Bucal ICT/SJC Unesp
Prof. Tit. Sérgio Eduardo de Paiva Gonçalves
Estela Kaminagakura Tango
Profa. Assoc. Luciane Dias de Oliveira
Prof. Assoc. da disciplina de Estomatologia ICT/SJC Unesp
Profa. Assoc. Luana Marotta Reis de Vasconcellos
Janete Dias Almeida
Prof. Tit. da disciplina de Estomatologia ICT/SJC Unesp
Jobe de Lima
São José dos Campos, 2023
Mestrando em Ciência e Tecnologia Aplicada à Odontologia ICT/SJC Unesp
Marianne Spalding
Prof. Assist. Dra. da disciplina de Histologia ICT/SJC Unesp
Rubens Nisie Tango
Prof. Assoc. do Departamento de Materiais Odontológico e Prótese do ICT/SJC Unesp
SUMÁRIO
TÓPICO
Relação Profissional - Paciente
Exame Clínico
1
Anamnese
Exame Físico
Geral
Regional (Extrabucal – Intrabucal)

TÓPICO Lesões Fundamentais ou Elementares


Mancha / Mácula
2
Placa / Placa Papulosa
Vesícula / Bolha
Úlcera e Ulceração
Pseudomembrana
Pápula / Nódulo
SUMÁRIO
TÓPICO Variações de Normalidade da Cavidade Bucal
Pigmentação Melânica Fisiológica
3
Grânûlos de Fordyce
Leucoedema
Linha Alba
Tórus
Varicosidades Linguais
Língua Geográfica/Glossite Migratória Benigna/Eritema Migratório
Língua Fissurada/Escrotal/Sulcada
Língua Crenada
Língua Pilosa
Língua Saburrosa
Úvula Bífida
SUMÁRIO
TÓPICO Biópsias
Indicações e Contraindicações
4
Seleção da área
Etapas do procedimento cirúrgico
Instrumentais necessários

Tipos de biópsias (Excisional e incisional)


Biópsia por congelação
Câncer de lábio e cavidade bucal
Técnicas Adjuvantes
Autofluorescência
Quimioluminescência
Azul de toluidina
Espectroscopia óptica
Comunicação de más notícias
SUMÁRIO
TÓPICO Exame Citológico
Indicações
5
Vantagens
Desvantagens
Citologia esfoliativa convencional
Citologia esfoliativa de base líquida
Comparação entre as técnicas
Técnica de Cell Block
Punção aspirativa por agulha fina (PAAF)
Apresentação
A construção desta obra começou pequena, tímida e despretensiosa. Observando a
dificuldade que os alunos de Estomatologia tinham em encontrar, em um único lugar, os métodos
empregados para o processo diagnóstico, agrupamos o material coletado durante anos e nos
debruçamos sobre ele para compartilhar nossa experiência de forma simples, objetiva e
contemporânea. Afinal, acompanhar a geração que tem as informações na velocidade da luz foi
uma tarefa desafiadora. Aprendemos muito na elaboração deste e-book e, esperamos vencer as
barreiras do tempo e do espaço para estarmos conectados com você leitor. Colaborar com o
processo ensino-aprendizagem será sempre nossa mola propulsora. E estejam sempre dispostos
a aprender.

Autores

“O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita”
Guimarães Rosa
Agradecimentos

À Larissa S. Leite pelas imagens gentilmente cedidas para o tópico 1.


A todos os pacientes que ilustraram este livro com suas fotos.
Tópico 1:
A. Relação Profissional - Paciente
Considerar a individualidade do ser humano é fundamental para que o profissional
ofereça um serviço de qualidade. O profissional capaz de compreender que cada
paciente adoece a sua maneira, e que este indivíduo carrega consigo crenças,
medos, anseios e níveis de conhecimentos distintos, conseguirá acolher, tratar com
linguagem apropriada e criar laços de confiança e de colaboração essenciais para
um tratamento humanístico.

Desenvolver um bom relacionamento não é tarefa fácil, é necessário empatia e


paciência, mas a criação desse vínculo profissional - paciente proporcionará uma
parceria em prol de um mesmo objetivo: a saúde e o bem-estar de seu paciente.
B. Exame Clínico
O exame clínico é o alicerce para todo o processo diagnóstico e posterior definição do tratamento, sendo, portanto,
necessário que seja sistemático, organizado e completo. É dividido em anamnese (subjetivo - coleta de sintomas*) e em
exame físico (objetivo - coleta de sinais**) (Esquema 1).

O exame clínico possui três pontos cruciais, sendo eles: o estabelecimento de uma boa relação com o paciente, a
formulação de diagnósticos diferenciais e a viabilização de uma tomada de decisão mais acertada. A cooperação do
paciente é essencial para a boa condução do exame clínico, portanto, esclareça a necessidade de cada uma das etapas,
dessa forma, é provável que o paciente se apresente mais receptivo e que haja uma menor probabilidade de recusa por
parte dele quanto à realização das etapas do exame e do futuro tratamento, visto que é um direito do paciente se opor
e um dever do profissional realizar qualquer tipo de intervenção apenas após o consentimento do paciente. Despender
tempo e atenção para realizar o exame clínico é investir na segurança do serviço oferecido pelo profissional.
Esquema 1 - Etapas do exame clínico
É importante ressaltar que todas as consultas realizadas
EXAME CLÍNICO
devem ter o registro das informações feito em um
prontuário, que, por sua vez, precisa apresentar-se
preenchido de forma clara, coerente e cronológica, pois
além da serventia clínica e registro do histórico das
manifestações de doenças do paciente, poderá servir ANAMNESE OU EXAME FÍSICO OU
como prova em eventuais litígios.
EXAME SUBJETIVO EXAME OBJETIVO

Sintoma = toda sensação percebida e relatada pelo paciente e não observada pelo
GERAL REGIONAL
profissional. Exemplos: dor, náuseas, queimação.

Sinal = dado objetivo notado pelo paciente e também observado pelo profissional
durante o exame clínico ou por meio de manobras semiotécnicas. Exemplos: tosse,
edema, presença de lesões fundamentais. EXTRABUCAL INTRABUCAL
B1. Anamnese
A anamnese trata-se de um exame subjetivo em que o paciente fará um exercício de recordar
diversas informações relacionadas às suas histórias de vida, de doenças e familiares, anteriores e
atuais, além de descrever sua percepção quanto aos sintomas e o desdobramento dos sinais da
queixa atual. Todas as informações fornecidas serão coletadas pelo profissional de forma
sistemática, organizada e completa (Esquema 2). O diagnóstico é baseado em uma anamnese
bem realizada.

É na anamnese que se estabelece a primeira ligação interpessoal importante para o cuidado com
o enfermo, sendo o ponto central da relação profissional-paciente. Ela possibilita não apenas o
conhecimento dos problemas clínicos, mas também da personalidade do paciente.

O profissional deve estar ciente de que assim como ele observa e avalia a postura e as
expressões de seu paciente, ele também é avaliado pelo paciente, dessa forma, é essencial uma
postura adequada e preferencialmente, um local propício para a realização da anamnese.

FRASE DE EFEITO
Esquema 2. Sequência a ser seguida para a realização da anamnese.

1 - Identificação do
paciente

8 - Hábitos e vícios 2 - Queixa principal

7 - Tratamento 3 - História da
médico atual ANAMNESE doença atual

6 - Antecedentes 4 - História
familiares bucodental

5 - História médica
Condição
Justificativa
necessária

A iluminação, seja natural ou artificial, é importante para todas as

B2. Exame físico Iluminação


etapas do exame, em especial, no exame intrabucal, sendo a
utilização de espelho clínico uma ferramenta importante para
tornar a incidência de luz melhor.
(Objetivo – coleta de sinais):
O exame físico tem como objetivo a coleta
dos sinais da doença referida pelo paciente. Devido à limitação de acesso visual existente na cavidade bucal, a
Afastamento das
Diferente da anamnese, o exame físico utilização de afastadores e gaze para a manipulação das
estruturas estruturas intrabucais facilita a avaliação do profissional.
produz evidências precisas e passíveis de
confirmação pelo paciente e pelo
profissional observador. Algumas condições
Deve ser feita de forma cuidadosa com gaze ou com suave jato
são necessárias para um exame físico Secagem das de ar para facilitar a visualização do profissional. É necessário
adequado (Tabela 1). estruturas atenção para não alterar o local com a raspagem, o que pode
modificar a avaliação final.
Tabela 1. Cuidados a serem observados
para um exame físico adequado.
Conhecer as características de normalidade da mucosa (cor,
Conhecimento consistência, textura, etc.) e suas variações proporcionará maior
prévio confiança e segurança ao profissional para a definição dos
possíveis diagnósticos em cada situação.

Deixar claro para o paciente as razões pelas quais ele será


Cooperação do
examinado em sua totalidade, e não apenas pelo motivo de sua
paciente queixa principal, poderá torná-lo mais cooperativo.
O uso dos sentidos naturais, a visão, a audição, o tato e o olfato, é a base que
fundamenta a técnica básica do exame físico, por meio de manobras ou recursos
semiotécnicos, tais como:

a) Inspeção: corresponde à análise visual sistemática do paciente, à observação de seus


traços anatômicos, fisiológicos e psíquicos. Para que a realização seja feita de forma
correta, é necessária boa iluminação do ambiente e utilização de itens, como afastador e
gaze, que servirão para afastar, secar, tracionar e movimentar estruturas, facilitando a
avaliação do profissional.
As alterações observadas devem ser descritas minuciosamente, incluindo informações
como: lesão fundamental, localização, dimensão, cor, forma, aspectos da superfície,
inserção e limites.
b) Palpação: trata-se da utilização da sensibilidade tátil no exame das estruturas consideradas
normais e a detecção de anormalidades. Todas as estruturas extrabucais (cabeça e pescoço) e as
intrabucais devem ser palpadas, visto que isso permitirá que uma descrição detalhada quanto à
consistência, forma, limites, infiltração, pulsação, flutuação, sensibilidade ao toque, textura
superficial, mobilidade e temperatura seja executada.

A técnica do exame varia dependendo da região a ser examinada. Deve ser realizada de luva e
não demanda pressão excessiva sobre os tecidos, devendo ser realizada de forma que provoque
o mínimo de sensações indesejáveis. Qualquer alteração da normalidade detectada durante a
palpação deve ser anotada, avaliada e o paciente indagado.

O exame das estruturas moles pode ser realizado por meio de palpação digital, bidigital e digito-
palmar (Figuras 1-3). Esse método possibilita a apreensão e sustentação dos tecidos, bem como
o deslizamento entre os dedos ou entre os dedos e a palma da mão. A palpação bilateral é
aquela em que se utiliza ambas as mãos para examinar estruturas aos pares, dispostas em
ambos os lados do corpo, dessa forma, pode-se comparar a condição em que essas estruturas
similares se encontram, por exemplo, a articulação temporomandibular (ATM).
Nas circunstâncias em que as mãos ou os dedos não
conseguem alcançar determinada estrutura, a palpação
indireta permite que o profissional faça sua avaliação
por meio de instrumentos, como, por exemplo, com a
sonda exploratória.

Figura 1: Palpação digital. Figura 2: Palpação bidigital. Figura 3: Palpação digito-palmar.


c) Percussão: corresponde à associação entre o contato físico e a
audição, podendo ser realizado por meio do impacto dos dedos ou de
instrumentos sobre a superfície da estrutura em análise (Figura 4). Os
sons e o relato do paciente, após a percussão, devem ser avaliados.

Figura 4: Manobra de percussão.


A manobra da percussão é utilizada, principalmente, no diagnóstico de odontalgias, resultantes de patologias
periodontais e pulpares, bem como em casos de fratura de raízes ou cúspides, a fim de identificar a sua localização.

d) Auscultação: tem como objetivo a detecção de sons normais e anormais, produzidos durante o desempenho das
funções fisiológicas de diferentes estruturas. Em odontologia, o emprego dessa manobra é limitado, entretanto, é
importante para a avaliação da ATM.
A associação entre a palpação, percussão e auscultação é significativa para o diagnóstico de fraturas.

e) Olfação: é a percepção de odores típicos de determinadas doenças e hábitos. Como exemplos, pode-se destacar:
a identificação de um odor de “ninho de rato” em portadores de pênfigo foliáceo, apesar de não apresentarem lesões
bucais; pacientes com diabetes descompensado apresentam um característico hálito cetônico; tumores malignos em
estágio avançado deixam o paciente com hálito putrefato.

O exame físico compreende o exame geral e o exame regional, este último, por sua vez, subdivide-se em: exame
físico regional extrabucal e intrabucal (Esquema 1).
B2.1 Geral:
O exame físico tem seu início na sala de espera do consultório, quando o profissional já deve observar a postura, a
simetria, o andar (deambular) do paciente, sua higiene e feição. Observe também, durante a conversa com o
paciente, a linguagem e a forma como ele fala, se há algum distúrbio psíquico, como é o seu temperamento e como
está o seu bem-estar geral. Ao se deparar com situações de dúvida, consulte outras opiniões e, se necessário,
encaminhe o paciente para ser avaliado por outro profissional especialista na área. Apesar de muitos profissionais de
saúde concentrarem a sua atuação em uma região específica, não deve jamais se esquecer de que o indivíduo a sua
frente é um ser envolto de complexidade e com uma pluralidade de influências biopsicossociais.

Com o paciente na sala do consultório e antes de iniciar o exame físico de fato, minucioso e organizado, é importante
explicar de forma breve o que será realizado e os possíveis desconfortos, na tentativa de minimizar a ansiedade que
alguns pacientes podem sentir nesse momento. Procure manter-se calmo e tente não evidenciar expressões de
desagrado ou condenação, mesmo que se depare com alterações ou tratamentos anteriores insatisfatórios.
Avalie e registre os sinais vitais do paciente, tais como temperatura, pulso, pressão sanguínea e nível de glicemia
(Tabela 2).
Tabela 2. Valores de Referência.

Temperatura Pressão Arterial Frequência Cardíaca Glicose

< 120/80 60 - 100 70 - 99


36,1 - 37,8º C
mmHg batimentos/min mg/dL
É importante registrar outros sinais que podem ser observados, tais
como: peso (perda de peso ou obesidade), alterações na pele e anexos
cutâneos (alterações capilares e nas unhas), além de alterações nas
mãos (como, por exemplo, lesão em alvo relacionada à sífilis) (Figura 5).

Após a realização do exame geral e concluídas as devidas anotações no


prontuário, o cirurgião-dentista prosseguirá com o exame regional.

Figura 5: Lesão em alvo na palma de mão, relacionada à sífilis.


B2.2 Regional:
O exame regional é composto por duas etapas, o extrabucal – onde as estruturas da região de cabeça e do pescoço
serão avaliadas, e o intrabucal – com a avaliação de todas as estruturas que compõem a cavidade bucal, desde os
lábios até a região de orofaringe.

B2.2.1 Extrabucal – Cabeça e Pescoço


Fácies: a face do paciente pode expressar características específicas de algumas condições do estado geral e de
síndromes, indicando possíveis sinais de alguma alteração patológica. Exemplos: síndrome de Down/Trissomia do 21
(T21), hipoparatireoidismo e doença de Graves.

Seios paranasais: clinicamente, os seios maxilares e frontais são passíveis de serem avaliados. A identificação de
sinusopatias, como a sinusite, é importante, pois estas podem ser confundidas com odontalgias.
Para avaliar a presença de hiperestesia dos seios frontais, deve-se posicionar os dedos polegares na região das
sobrancelhas e pressionar para cima, sem que haja compressão dos globos oculares. Pode ser testada, também,
posicionando-se um dedo indicador sobre a mesma área e com o dedo médio oposto, percutindo a ponta (região
ungueal) do dedo indicador.

Para analisar os seios maxilares, pode-se posicionar os dedos polegares abaixo da proeminência anterior do osso
zigomático e pressionar para cima. De igual modo, a percussão deve ser realizada nessa região.
Ao realizar as avaliações de forma bilateral, pergunte ao paciente sobre as diferenças de sensibilidade entre os lados.

Os seios da face também podem ser avaliados por meio de transiluminação com uso do fotopolimerizador. Nessa
manobra deverá ser observada se há ou não a presença de obstrução da passagem de luz. Se houver, há indícios de
possíveis alterações internas no respectivo seio paranasal transiluminado.

Olhos: anomalias oculares, como exoftalmia, alterações na distância interglobular, afastamento palpebral, excesso de
lacrimejamento ou o oposto - a xeroftalmia, diplopia, alteração de coloração e outras, podem ser sinais sugestivos de
que estruturas da face ou mesmo sistêmicas encontram-se alteradas.
Músculos da mastigação e mímicos: esses músculos podem ser palpados por meio de compressão bidigital ou
digital, sendo a palpação bilateral dos músculos pares um meio de comparar alterações de sensibilidade entre eles.

Para avaliar os músculos temporais, deve-se palpar as regiões parietais do crânio. Já os pterigóideos laterais são
avaliados de forma intrabucal, por meio da palpação bilateral da região posterior da maxila, logo acima da
tuberosidade maxilar.

O aumento da sensibilidade dos músculos da mastigação, em especial do masseter, pode indicar bruxismo e/ou
outras parafunções mastigatórias.

Alterações dos músculos mímicos podem estar relacionadas a distúrbios de movimento facial, como fasciculação (na
presença de neuropatias), mioquimia (na presença de algumas doenças hereditárias, por exemplo, além de
ansiedade e outros), repuxamento da face para um dos lados (típico da paralisia de Bell) e espasmo hemifacial
(relacionada à fraqueza muscular).
Articulação temporomandibular: dores na articulação temporomandibular e miofasciais são comuns, e algumas
características relacionadas às disfunções temporomandibulares (DTM) são: dor na articulação, ruídos articulares,
limitação de abertura bucal, cefaleia, dor no ouvido, zumbido, dificuldade para mastigar, desvios durante a abertura
bucal, assimetria facial, dentre outros.

As disfunções temporomandibulares podem ser de origem muscular, articular ou músculo-articular (mista), e


apresentam uma etiologia complexa e multifatorial, que envolve desde questões anatômicas até questões
psicológicas. Dessa forma, uma avaliação bastante criteriosa precisa ser realizada para que o paciente possa receber
tratamento adequado para cada quadro de DTM, além de orientações quanto às mudanças de hábitos prejudiciais,
como, por exemplo, hábitos parafuncionais.

Glândulas salivares: de forma geral, a glândula sublingual não é facilmente palpável em condições normais, e a
glândula submandibular apresenta-se móvel e flácida. Já a glândula parótida apresenta um volume discreto e uma
consistência macia.
A saliva, secretada pelas glândulas salivares, funciona como um lubrificante para as mucosas e contribui com a
mastigação e a deglutição, além de auxiliar na limpeza dos dentes e equilíbrio do pH bucal. Portanto, não apenas as
glândulas salivares maiores precisam ser inspecionadas, mas também o efluente salivar, por meio da secagem da
região de desembocadura de seus respectivos ductos, especialmente a carúncula sublingual e a papila parotídea.

Cadeias linfonodais: por drenarem a linfa da cabeça e do pescoço e serem sítios de metástase de neoplasias
malignas, as alterações quanto à sensibilidade e volume precisam ser identificadas e investigadas. Em condições
normais, geralmente, os linfonodos não são palpáveis, apresentam cerca de 3 a 5 mm de diâmetro, são macios e de
mobilidade variável, a depender de sua aderência aos tecidos subjacentes e da mobilidade da própria pele
sobreposta a ele. O ponto de atenção está em diferenciar as linfadenopatias de natureza inflamatória de uma
metastática. Para isso, observe as particularidades de cada uma dessas na tabela abaixo (Tabela 3).
Tabela 3. Diferenças entre as naturezas das linfadenopatias.

Características Inflamatório Metastático

Volume Aumentado Aumentado

Consistência Borrachoide Pétrea

Limite Definido Impreciso

Superfície Lisa Rugosa

Fonte: Adaptado do livro Estomatologia - Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral, 3ª edição, de Sergio Kignel.
Exame Extrabucal na Prática:
O roteiro abaixo é uma sugestão de como proceder com a sequência do exame extrabucal. Antes de iniciar,
certifique-se de que o ambiente oferece boas condições para realização do exame e lembre-se de estar atento às
características como: textura, coloração, tonicidade, hidratação dos tecidos, simetria, abertura bucal e presença ou
não de crepitação da ATM.

1 - Posição do paciente: sentado, com as costas bem encostadas na cadeira, cabeça ereta, olhando para frente
para que todas as estruturas permaneçam em posição anatômica, possibilitando, assim, a verificação do tônus
muscular.

2 - Posição do operador: Inicialmente, atrás do paciente.


Após o posicionamento, a palpação pode ser conduzida de cima para baixo, por meio
de uma palpação bigital e bimanual, de forma que seja possível comparar as estruturas
pares. Regiões e estruturas a serem avaliadas:

1ª: Região parotideamassetérica - Estruturas: glândula parótida e músculo


masseter.

De superior para inferior. A palpação de ambos os lados é realizada simultaneamente


(Figura 6).

Figura 6: Palpação da região parotideamassetérica.


2ª: Região submandibular - Estruturas: linfonodos submandibulares.

Com a mão de apoio, mantém-se a cabeça ligeiramente inclinada para o lado da região a ser palpada, os dois dedos (indicador e médio) da
outra mão são inseridos no ângulo da mandíbula com certa pressão, palpando até a região anterior (Figuras 7-9). O movimento é repetido do
lado oposto.

Quando se tratar de linfonodos,


observar se há alteração de
sensibilidade e volume.

Figuras 7, 8 e 9: Palpação da região submandibular.


3ª: Região cervical - Estruturas: glândula tireoide e linfonodos cervicais.

Essa região é muito importante, pois em metástase regional do câncer de boca e infecções amigdalianas a região júgulo-digástrica (linfonodo
jugulodigástrico) é a mais frequentemente acometida.

Pressionar levemente as polpas digitais


(palpação bidigital) sobre a glândula tireoide e
pedir para o paciente deglutir para que a
glândula se desloque superiormente (Figura
10).

Deve-se posicionar a cabeça do paciente para


o lado contralateral que será examinado, e
com a mão apoiamos o queixo do paciente
sem realizar a hiperextensão do músculo
esternocleidomastóideo.

Com a outra mão realizamos a palpação desde


a região mastoidea até a supraclavicular
(Figuras 11 e 12). O procedimento é repetido Figuras 10: Palpação da Figuras 11 e 12: Palpação dos linfonodos cervicais.
no lado oposto. glândula tireoide.
4ª: Região submentoniana - Linfonodos
submentonianos.

Nova posição do operador: Lateralmente ao


paciente.

Essa região apresenta certa resistência devido a


inserção de três músculos, sendo eles: digástrico
(ventre anterior), milo-hióideo e gênio-hióideo.

Com o apoio da mão, manter a cabeça do paciente


flexionada para frente. Deve-se inserir dois dedos na
região submentoniana para palpá-la (Figuras 13 e
14).

Figuras 13 e 14: Palpação da região submentoniana.


5ª: Articulação temporomandibular (ATM)

Nova posição do operador: De frente para o


paciente.

Posicionar os dedos indicador e médio de ambas as


mãos, de forma simultânea, sobre a ATM. Solicitar ao
paciente que realize a abertura bucal e observar a
amplitude dessa abertura, se há ou não a presença
de crepitação e se a excursão dos côndilos está
adequada (Figuras 15 e 16).

Figuras 15 e 16: Palpação da articulação temporomandibular.


Clique aqui para assistir ao vídeo Exame físico na
prática.

Ao final da inspeção extrabucal e antes de iniciar o exame


intrabucal, realizaremos a técnica híbrida: com uma mão na
região intrabucal e a outra na região extrabucal, a palpação
da região submandibular e de soalho de boca será
completamente realizada.

Técnica híbrida: o primeiro passo é trocar a luva da mão


que será utilizada para a inspeção intrabucal.

Com o dedo indicador na região posterior do soalho de


boca, e com 2 dedos da outra mão, faça leve pressão no
ângulo da mandíbula no lado externo (Figuras 17 e 18).
Deve-se realizar pressão também contra as paredes da
mucosa jugal (Figura 19).

Figuras 17 e 18: Palpação técnica híbrida Figura 19: Palpação da região da


A técnica deverá ser realizada em ambos os lados do
da região submandibular e da região de mucosa jugal.
paciente.
soalho de boca.
B2.2.2 Intrabucal
Para início, faz-se necessária a troca da luva usada para a inspeção extrabucal. Após a
troca e o correto posicionamento do operador e paciente, poderemos seguir com o
passo a passo de forma sistemática e com atenção a todos os detalhes.

1 - Lábios:
Palpar e observar os lábios inferiores e superiores, analisando a textura, a coloração, a
tonicidade e a hidratação da mucosa (Figuras 20 e 21).

Figuras 20 e 21: Observação da mucosa e


palpação dos lábios.
2 - Região de fundo de sulco:
Observar o aspecto da gengiva, o
freio labial e os dentes anteriores
(Figuras 22 e 23).

Figuras 22 e 23: Observação da região de fundo de sulco superior e inferior.


3 - Inspeção dos quadrantes
Deve-se sempre ser sistematizada, para que nenhuma região seja esquecida.
Sugerimos que se inicie pela região anterior superior direita (do paciente), siga
pela análise de toda a região superior vestibular, finalizando na região de túber da
maxila.

Depois, seguir da região posterior inferior direita para a anterior. Continuar a


inspeção, da região anterior inferior esquerda para posterior, e depois na região
superior, da região de túber da maxila, finalizando na região anterior (Figura 24).

Figura 24: Esquema demonstrando o padrão de


análise sequencial sugerido.
Importante lembrar que encontraremos estruturas
anatômicas da cavidade bucal, como, por exemplo:

3.1 Papila do ducto parotídeo


Localizada na mucosa jugal, na região correspondente aos
molares superiores. Importante realizar leve pressão pela
região externa para verificar se há fluxo salivar na região.
Analisar os lados direito e esquerdo (Figura 25).
Figura 25: Papila do ducto parotídeo.
3.2 Bridas
São estruturas que funcionam como os freios, que
diminuem o tamanho do fundo de sulco e limitam a
movimentação de lábios e língua, não permitindo a
exposição excessiva da gengiva (Figura 26).

Figura 26: Bridas superiores.


4 - Língua
O exame da língua deve ser realizado solicitando
que o paciente coloque a língua para fora. É
importante nesse momento observar a coloração,
a superfície, as papilas gustativas e suas bordas
(Figura 27).

Figura 27: Língua em posição para sua Figura 28: Tracionamento para análise do
avaliação inicial. dorso posterior da língua.

Para a avaliação do dorso lingual, com o paciente com a língua para fora, tracioná-la com a
ajuda de uma gaze, inspecionando os lados esquerdo e direito, até a sua inserção final. Com
o auxílio da espátula de madeira, afastar a mucosa jugal para melhor visualização e análise
das estruturas, especialmente a região da borda posterior da língua (Figuras 28 e 29).

Figuras 29: Borda lateral posterior da


língua e papila foleácea.
A inspeção do soalho bucal (Figura 30) deve ser realizada pedindo para o paciente tocar com o ápice lingual a
região palatina dos incisivos (Figura 31).

Figura 30: Região de soalho bucal e carúncula Figura 31: Posicionamento da língua para inspeção do
sublingual. soalho da boca e do ventre de língua.
5 - Região orofaríngea e úvula
Peça ao paciente que mantenha a língua dentro da boca e respire pelo nariz. Depois, abaixe a língua com as espátulas (Figura 32) e peça que fale
as vogais “AAAAAAA” e “EEEEEEE” para que seja possível inspecionar a região de orofaringe e também a úvula (Figuras 33 e 34).

Figura 32: Manobra com espátulas de madeira Figura 33: Paciente realizando a pronúncia da Figura 34: Paciente realizando a pronúncia da
para baixar a língua. vogal “AAAAAA”. Observe as estruturas da região vogal “EEEEEE”.
orofaríngea.
6 - Região palatina
Para a correta visualização dessa
região, é necessário reclinar um
pouco a cadeira. Observar a
coloração, a presença das glândulas
salivares menores e as pregas
palatinas, realizando a palpação
destas (Figuras 35 e 36).

Figura 35: Região do palato. Note a transição entre o Figura 36: Análise das pregas palatinas.
palato mole e o palato duro.
.
7 - Outros
Importante também analisar a oclusão e o
alinhamento dental (Figuras 37 e 38). Além
disso, também é importante observar as
regiões cervicais e incisais dos dentes
(Figura 39), que podem indicar hábitos
alimentares e parafuncionais.

Figura 37: Oclusão - a espátula de madeira pode Figura 38: Alinhamento dentário.
auxiliar na avaliação.

Os detalhes possibilitam a realização do correto diagnóstico e do plano de tratamento para


cada paciente.

Figura 39: Região incisal e cervical dos dentes.


C. Manobras semiotécnicas
As manobras semiotécnicas compreendem as diferentes técnicas que podem ser aplicadas para pesquisar os
sinais e sintomas. As técnicas de inspeção, palpação, percussão, auscultação e olfação já foram abordadas
anteriormente, no entanto, pode-se destacar ainda as técnicas de punção, raspagem, vitropressão e
fotografia. Abaixo há uma breve explanação sobre estas manobras:

a) Punção exploratória:
Baseia-se na introdução de uma agulha em cavidade óssea identificada radiograficamente, ou em uma massa
tecidual para retirada de material. O líquido aspirado pode ser sangue, saliva, pus ou conteúdo pastoso.
Quando a punção for negativa, a lesão pode se tratar de um tecido sólido (êmbolo preso) ou de cavidade
vazia (êmbolo solto).
Após a anestesia da área, a agulha deve ser inserida na cavidade para que a aspiração seja realizada. O repetido reposicionamento da ponta da
agulha pode ser necessário para a localização do centro fluido da lesão (Figuras 40-42).

Figura 40: Punção exploratória de ceratocisto Figura 41: Punção exploratória de cisto Figura 42: Punção exploratória de cisto
odontogênico. Cortesia do Prof. Dr. Danyel Perez. odontogênico calcificante. Cortesia da Profa. Dra. odontogênico radicular inflamatório.
Maria Cândida Almeida Lopes.
Com o material coletado realiza-se um esfregaço na
lâmina da seguinte forma: deposite uma gota do
material aspirado sobre uma lâmina de vidro
previamente limpa e identificada e com o auxílio de
outra lâmina, espalhe de forma unidirecional e
uniformemente o material sobre toda a extensão da
primeira (Figura 43). Cuidadosamente, armazene a
lâmina em recipiente adequado contendo formol ou
álcool absoluto para encaminhar ao laboratório.

Figura 43: Etapas do procedimento. A. Depósito do material coletado sobre a lâmina. B.


Posicionamento da segunda lâmina para realização do esfregaço. C. Material sendo
espalhado de modo unidirecional sobre a lâmina. D. Esfregaço pronto para ser fixado.
b) Raspagem:
Deve ser executada com uma espátula
metálica com ponta romba para evitar
traumatismos. Essa manobra é indicada
principalmente em lesões brancas que
aparecem na forma de pseudomembrana para
que seja realizado um diagnóstico de lesão
fúngica como candidose.

Com uma bolinha de algodão, fazer uma


raspagem sobre lesões enegrecidas para
descartar o diagnóstico clínico de melanoma.
Figura 44: A. Lesão angiomatosa. B. Manobra de vitropressão evidenciando isquemia.

c) Vitropressão (ou diascopia):


Realizada em lesões com alteração de cor para verificar se a mancha é de origem vascular. Com uma lâmina de vidro, realiza-se pressão
sobre a lesão para observar se a região isquemia (Figura 44).

d) Fotografia:
Auxilia principalmente durante a proservação das alterações, uma vez que estas podem sofrer mudança no decorrer do tempo e durante o
tratamento.
D. Exames complementares
O profissional deve estar consciente de que um exame clínico realizado de forma correta pode ter a adição de
exames complementares como contribuição para o diagnóstico, sendo inapropriada a realização do inverso. A
execução do exame clínico deve direcionar, de forma seletiva e quando necessário, qual exame complementar
realizar. Isso possibilita que seja despendido menos tempo e dinheiro, além de tornar o processo diagnóstico mais
eficiente.

Os exames complementares devem ser solicitados de forma responsável e podem ser utilizados não apenas para
auxiliar na definição do diagnóstico, como também para prognóstico, além de fornecer meios para acompanhamento
e preservação do paciente.

Os exames complementares mais empregados em odontologia são biópsia, citologia esfoliativa e exames de
imagens, tais como: radiografias periapical, interproximal, oclusal e panorâmica, tomografia computadorizada,
ressonância magnética, ultrassonografia, PET-CT e os exames laboratoriais.
Materiais consultados:

GENOVESE, W. J. Metodologia do Exame Clínico em Odontologia. 2ª edição. São Paulo: Pancast Editorial, 1992.

KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.

MARCUCCI, G.; JÚNIOR O. C. Fundamentos de Odontologia: Estomatologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2020.

TOMMASI, M. H. M. Diagnóstico em Patologia Bucal. 4ª edição. Rio de Janieor: Elsevier, 2013.

SCULLY, C. Medicina Oral e Maxilofacial: bases do diagnóstico e tratamento. 2ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Tópico 2

Lesões Fundamentais
ou Elementares
Colaboração de Larissa Sandy Leite

Lesões elementares ou fundamentais padronizam as características clínicas das


alterações morfológicas que aparecem na cavidade bucal, facilitando seu estudo. O
conhecimento das lesões fundamentais é indispensável para a comunicação entre
os profissionais e na elaboração das hipóteses diagnósticas. Estas são separadas
de acordo com a sua apresentação clínica. Veja a seguir a descrição de cada uma,
bem como exemplos (Esquema 3):
Esquema 3.
Definições, ilustrações e exemplos
de lesões fundamentais.

Figura 45: Tatuagem por amálgama.

Figura 46: Leucoplasia.


Esquema 3.
Definições, ilustrações e exemplos
de lesões fundamentais.

Figura 47: Herpes recorrente.

Figura 48: Carcinoma de células


escamosas.
Esquema 3.
Definições, ilustrações e exemplos
de lesões fundamentais.

Figura 49: Língua geográfica.

Figura 50: Língua fissurada.


Esquema 3.
Definições, ilustrações e exemplos
de lesões fundamentais.

Figura 51: Candidose


pseudomembranosa.
Fonte: Ilustrações adaptadas do
livro Histologia Oral, 9ª edição -
página 262, de Antônio Nanci, por
André Eberle Júnior.

Figura 52: Fibroma


ossificante periférico.
A descrição da lesão fundamental necessita de atenção e precisão aos detalhes por parte do
profissional, e algumas características devem ser descritas em conjunto. Veja a sugestão de um
roteiro a ser seguido para o auxílio de uma descrição completa (Esquema 4):
Esquema 4. Descrição das alterações/lesões.
Esquema 4. Descrição das alterações/lesões.
Materiais consultados:

KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.

MARCUCCI, G.; JÚNIOR O. C. Fundamentos de Odontologia: Estomatologia. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2020.

NANCI, A. Ten Cate Histologia Oral: Desenvolvimento, Estrutura e Função. 9ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

TOMMASI, M. H. M. Diagnóstico em Patologia Bucal. 4ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.


Tópico 3:

Variações de Normalidade da
Cavidade Bucal
Para que o cirurgião-dentista seja capaz de formular suas hipóteses
diagnósticas é imprescindível que possua conhecimento apurado
acerca da anatomia da cavidade bucal e as possíveis variações de
normalidade.
Dominar esses conhecimentos e aplicar as técnicas de exames
intrabucais, avaliando cuidadosamente e sistematicamente cada
estrutura, proporcionará segurança para a prática clínica.

Algumas variações da normalidade serão descritas de forma sucinta


ao longo deste tópico.
PIGMENTAÇÃO MELÂNICA FISIOLÓGICA

É caracterizada pela deposição excessiva de melanina, com etiologia genético-


hereditária. Indivíduos negros apresentam uma maior prevalência, mas também
pode estar presente em indivíduos brancos descendentes de asiáticos,
portugueses, espanhóis, italianos, árabes, libaneses e sírios (Figuras 53-55).
Figura 53: Pigmentação melânica localizada em
gengiva anterior superior e inferior.

Figuras 54 e 55: Pigmentação melânica localizada bilateralmente em mucosa jugal.


- Manobras de Semiotécnicas Aplicadas: inspeção e palpação.

- Características Clínicas: manchas de coloração que variam do castanho ao negro, dispostas de


forma bilateral.

Localização mais frequente: gengiva inserida. Pode acometer a mucosa jugal, o palato, o ventre e o
dorso de língua, além de lábios.

- Características Histopatológicas: aumento da quantidade de melanina nas camadas basal e


parabasal do epitélio escamoso estratificado.

- Tratamento: não é necessário. Em casos cujo aspecto clínico seja duvidoso no que tange ao
diagnóstico, como em língua e mucosa jugal, a biópsia incisional é indicada.
GRÂNULOS DE FORDYCE

São glândulas sebáceas consideradas


ectópicas (coristoma), visto que são
estruturas anexas da pele e não da
mucosa bucal. É uma variação presente
em cerca de 80% da população (Figuras
56 e 57).

Figura 56: Grânulos de Fordyce localizados no Figura 57: Grânulos de Fordyce localizados na
vermelhão do lábio superior. mucosa jugal esquerda.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção e palpação.

- Características Clínicas: pápulas amareladas ou branco-amareladas, dispostas próximas uma


das outras, que podem variar muito em quantidade.

Localização mais comum: vermelhão do lábio e nas mucosas labial e jugal.

- Características Histopatológicas: são semelhantes a glândulas sebáceas situadas na pele, no


entanto, sem a presença de folículos pilosos associados. Podem ser observadas abaixo da
superfície epitelial.

- Tratamento: não é necessário. O diagnóstico é clínico (essa variação apresenta um aspecto


clínico característico), não sendo necessária a realização de biópsia.
LEUCOEDEMA

É uma variação da normalidade com etiologia não estabelecida


(Figura 58), mas que pode estar relacionada a irritações locais,
como traumas, além de apresentar-se como uma alteração mais
comum e mais acentuada em fumantes. Apresenta uma maior
prevalência em indivíduos negros.

Figura 58: Leucoedema localizado


na mucosa jugal esquerda.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção e distensão da
mucosa (Figura 59).

Figura 59: Manobra de distensão. Diminuição do aspecto branco-opalescente.


- Características Clínicas: manchas branco-acinzentadas, que frequentemente apresentam uma
superfície pregueada, com aspecto estriado. As lesões diminuem ou desaparecem quando a
mucosa jugal é distendida (característica importante para o diagnóstico).
Localização: mucosa jugal, bilateralmente, podendo se estender até a mucosa labial.

- Características Histopatológicas: edema intraepitelial (camada espinhosa) com espessura do


epitélio aumentada, além de frequentemente apresentar superfície paraqueratinizada e projeções
epiteliais alongadas.

- Tratamento: não é necessário. O diagnóstico é clínico (essa variação apresenta um aspecto


clínico característico), não sendo necessária a realização de biópsia.
LINHA ALBA

Alteração hiperplásica e/ou hiperqueratótica, resultante de injúrias mecânicas acentuadas, como, por exemplo, fricção
e traumas (Figuras 60 e 61).

Figuras 60 e 61: Linha alba localizado na mucosa jugal. Sua localização está ao nível do plano oclusal.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.

- Características Clínicas: placa branca, disposta como uma linha que pode se apresentar
corrugada, de proeminência variável, comumente bilateral. Localizada na mucosa jugal, na altura
do plano oclusal, geralmente está restrita à área dentada.

- Características Histopatológicas: presença de hiperqueratose revestindo a mucosa oral. Por


vezes, pode-se observar edema intracelular das células epiteliais, além de uma discreta inflamação
crônica no tecido conjuntivo subjacente.

- Tratamento: não é necessário tratamento, e a regressão da alteração pode ocorrer


espontaneamente. No entanto, o motivo que leva ao desenvolvimento da linha alba deve ser
verificado e o paciente orientado, posto que pode ser consequência de bruxismo.
TÓRUS

Trata-se de protuberâncias ósseas, também


conhecidas como exostoses benignas, de
patogênese multifatorial, com influência
genética. São comuns e se originam a partir da
cortical óssea (Figuras 62-64).
Figuras 62 e 63: Tórus palatino localizado na linha média do palato duro.

Figura 64: Tórus mandibular localizado


bilateralmente na superfície lingual da
mandíbula, na região de caninos, pré-
molares e molares.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção e palpação.

- Características Clínicas: tórus palatino é localizado na linha média do palato duro. O tórus
mandibular é encontrado na face lingual da mandíbula, na região de pré-molares e molares.

Apresentam-se como proeminências ósseas recobertas por mucosa íntegra, mas podem ulcerar-
se devido ao trauma local.
Quando localizados em outros sítios anatômicos, podem ser denominados de exostose óssea.

Podem ser classificados, conforme a sua morfologia, em: plano, alongado, nodular e lobular.
Em radiografia periapical, o tórus mandibular apresenta-se como
uma imagem radiopaca sobreposta às raízes dos dentes, mas
pode ser melhor visualizado em radiografias oclusais (Figura 65).

- Características Histopatológicas: densa massa de osso


cortical lamelar, por vezes, com presença de osso trabecular mais
internamente.

- Tratamento: de modo geral, nenhum tratamento é necessário,


entretanto, a remoção cirúrgica pode ser indicada para a
colocação de próteses e quando a mucosa que o recobre úlcera
de forma recorrente ou quando a presença do tórus prejudicar a
mastigação, deglutição e/ou fonação.

Figura 65: Radiografia oclusal de tórus mandibular


localizado bilateralmente na superfície lingual da mandíbula,
na região de caninos, pré-molares e molares.
VARICOSIDADES LINGUAIS

São dilatações e tortuosidades anormais das veias (Figura 66), que surgem em
decorrência da senilidade, relacionada à diminuição do tônus de tecido
conjuntivo que confere sustentação aos vasos sanguíneos.

- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.

- Características Clínicas: são vasos sanguíneos dilatados de coloração que


varia do vermelho ao purpúreo-azuladas, localizados no ventre da língua,
podendo estender-se até a borda lateral.

- Características Histopatológicas: vaso sanguíneo dilatado.

- Tratamento: não é necessário. O diagnóstico é clínico (essa variação


apresenta um aspecto clínico característico), não sendo necessária a realização
de biópsia. Figura 66: Varicosidades no ventre da língua.
LÍNGUA GEOGRÁFICA/GLOSSITE MIGRATÓRIA BENIGNA/
ERITEMA MIGRATÓRIO

Ocorre na língua (Figura 67) e o paciente tem queixa de


sensibilidade frente à ingestão de alimentos cítricos, quentes ou
condimentados. A etiopatogenia é desconhecida, mas sugere-se
que possa estar relacionada a fatores ambientais, emocionais,
hormonais e genéticos, sendo as mulheres as mais afetadas.

Figura 67: Alterações em dorso e


ápice de língua.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.

- Características Clínicas: presença de diversas áreas demarcadas de eritema, como


consequência da erosão do epitélio, geralmente circundada por margens amarelo-
esbranquiçadas, ligeiramente elevadas (com aspecto recortado ou serpenteado). As lesões podem
surgir de forma rápida e desaparecer em dias ou semanas, e, após isso, ressurgir em uma nova
área.
Localização mais frequente: dorso de língua. Algumas vezes afeta o ventre da língua, e com pouca
frequência pode acometer outras áreas da mucosa bucal (mucosite migratória).

- Características Histopatológicas: erosão epitelial central, ao redor hiperparaqueratose,


acantose, espongiose e alongamento das cristas epiteliais, além de infiltrado inflamatório,
principalmente de linfócitos e neutrófilos no tecido conjuntivo subjacente.

- Tratamento: não é necessário. O diagnóstico é clínico (essa variação apresenta um aspecto


clínico característico), não sendo necessária a realização de biópsia. Deve-se evitar alimentos
ácidos e condimentados.
LÍNGUA FISSURADA/ESCROTAL/SULCADA

São sulcos retilíneos que variam em extensão e forma (Figura 68).


Embora sua causa seja incerta, a hereditariedade, fatores locais e
a idade estão associados ao seu desenvolvimento. Pode estar
relacionada a algumas condições genéticas, como, por exemplo, a
Trissomia do 21.

Figura 68: Língua


fissurada/sulcada, evidenciando a
presença de inúmeros sulcos.
- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.

- Características Clínicas: são numerosos sulcos, dispostos no dorso da língua que podem
variar em profundidade (entre 2 e 6 mm). Geralmente é assintomático, mas pode haver relatos de
queimação e dor.

- Características Histopatológicas: as projeções epiteliais apresentam-se hiperplasiadas, e


pode haver, nas camadas superficiais, a presença de microabscessos. Há perda de queratina das
papilas filiformes, que, por sua vez encontram-se separadas por profundos sulcos. Pode haver
presença de infiltrado inflamatório.

- Tratamento: nenhum é necessário.


LÍNGUA CRENADA

Indentações (demarcações) causadas pela pressão da superfície


oclusal dos dentes sobre as bordas laterais da língua (Figura 69).
Essa alteração pode ser identificada em indivíduos portadores de
macroglossia e dentes ectópicos, mas está relacionada
principalmente a fatores de estresse.

- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.

- Características Clínicas: impressões dos dentes em toda a


borda lateral da língua.

- Tratamento: não há indicação de tratamento. Ao constatar que


há um quadro clínico de estresse, o cirurgião-dentista deve
orientar o paciente a buscar alternativas para controle do estresse
a fim de melhorar sua qualidade de vida e saúde geral. Figura 69: Língua crenada. Demarcações nas bordas laterais da língua.
LÍNGUA PILOSA

Caracterizada pela hiperqueratinização ou diminuição da


descamação das papilas filiformes juntamente com proliferação de
fungos ou bactérias, o que confere à língua um aspecto similar ao
de cabelos. Apesar de ser idiopática, diversos fatores podem
contribuir para o seu desenvolvimento, sendo eles: radioterapia,
uso de antibióticos e corticosteroides, e higiene bucal deficiente
(Figura 70).

Figura 70: Língua pilosa.


- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.

- Características Clínicas: as papilas filiformes pronunciadas apresentam alterações de cor, que


variam entre o amarelo-acastanhado e uma coloração enegrecida, como consequência do
tabagismo, de uma alimentação com pigmentação e da proliferação de bactérias cromogênicas. O
diagnóstico é clínico, devido ao aspecto característico dessa variação.
Localização mais comum: região anterior às papilas circunvaladas. No entanto, pode se estender
para a região anterior e bordas de língua.
De forma geral, é assintomática, mas pode haver relatos de sensações como gosto amargo,
náusea ou mau hálito.

- Características Histopatológicas: presença de papilas filiformes alongadas e com


hiperparaqueratose. Na superfície epitelial, pode-se identificar diversas bactérias.

- Tratamento: higiene bucal adequada associada ao uso de raspadores de língua.


LÍNGUA SABURROSA

No dorso da língua há presença de pseudomembrana branco-amarelada em decorrência do acúmulo de restos de alimentos,


microrganismos e epitélio descamado. Esse acúmulo é favorecido por alterações morfológicas, como a altura das papilas
gustativas que dificultam a higienização (Figura 71).

- Manobra de Semiotécnica Aplicada:


inspeção.

- Características Clínicas: presença de uma


pseudomembrana branco-amarelada no dorso
da língua, composta por resíduos epiteliais,
microbianos (fungos e bactérias) e alimentares. O
paciente pode queixar-se de halitose.

- Tratamento: higiene bucal associada ao uso


de raspadores de língua.

Figura 71: Língua saburrosa.


ÚVULA BÍFIDA

É considerada como um indicador de presença de fenda palatina


submucosa. Sua presença (Figura 72) é consequência de uma má
formação embriológica, em que há fusão incompleta das cristas
palatinas laterais, e pode estar relacionada a algumas condições
genéticas, como, por exemplo, a síndrome de Van der Woude.

- Manobra de Semiotécnica Aplicada: inspeção.

- Características Clínicas: bifurcação da úvula, podendo ser total


ou parcial.

- Tratamento: necessária a investigação da presença de fenda


palatina submucosa, em colaboração com o otorrinolaringologista.
Figura 72: Úvula bífida.
Materiais consultados:

AMORIM, J. A. et al. Analysis of the relationship between halitosis and white tongue. RGO - Revista Gaúcha de Odontologia,
v. 59, n. 1, p. 7–13, 2011.

FERNANDES, R. C. et al. Úvula bifída: importância no diagnóstico da Fenda Palatina Submucosa. Revista Portuguesa de
Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial, v. 55, n. S 1, p. e62–e63, 2014.

KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.

NEVILLE, B. W. et al. Patologia Oral e Maxilofacial. 2ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

NEVILLE, B. W. et al. Atlas de Patologia Oral e Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.

PASSARELLI, D. H. R. C. Atlas de Estomatologia: Casos Clínicos. 1ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.

S
Materiais consultados:

SALES, S. A. G. et al. Incidence of bifid uvula and its relationship to submucous cleft palate and a family history of oral cleft in
the Brazilian population. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 84, n. 6, p. 687–690, 2018.

SANTOS, P. S. DA S. et al. Impact of tongue biofilm removal on mechanically ventilated patients. Revista Brasileira de
Terapia Intensiva, v. 25, n. 1, p. 44–48, 2013.

SCULLY, C. Medicina Oral e Maxilofacial: bases do diagnóstico e tratamento. 2ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

TOMMASI, M. H. M. Diagnóstico em Patologia Bucal. 4ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.


Tópico 4:

Biópsia
A biópsia é um exame complementar, cirúrgico, em que toda a lesão ou parte dela é
removida de um tecido vivo para que as características histopatológicas sejam
avaliadas.
Por se tratar de uma ferramenta valiosa, é importante que o cirurgião-dentista tenha
conhecimento de suas indicações, contraindicações e técnicas, bem como seja ágil
em sua realização, pois o profissional tem a responsabilidade de reconhecer
precocemente as alterações patológicas que acometem a cavidade bucal, evitando a
demora no estabelecimento do diagnóstico definitivo, o que pode impactar
negativamente o prognóstico do paciente.
1 - Indicações

As situações em que a biópsia deve ser indicada incluem:


Lesões cujas características clínicas e imaginológicas não
permitem elaboração do diagnóstico;

Lesões leucoplásicas (brancas) (Figura 73);

Lesões eritroplásicas (vermelhas) que surgem sem causa


aparente (Figura 74);
Figura 73: Lesão leucoplásica. Figura 74: Lesão eritroplásica.

Lesões com suspeita de malignidade (Figura 75);

Lesões que não reagem a tratamentos após 10-14 dias,


bem como aquelas que não reagem à remoção de possível
fator irritativo local.

Importante: o espécime não pode ser acondicionado em material fixador caso seja realizado um
exame bacteriológico.

Figura 75: Lesão com suspeita de


malignidade: Carcinoma de células
escamosas.
2 - Contraindicações

As situações em que a biópsia é contraindicada são:


Diagnóstico estabelecido clínica ou radiograficamente;

Em caso de alterações sistêmicas, como: doenças


hematológicas, diabetes descompensado, pacientes
imunodeprimidos, dentre outros, é necessária avaliação prévia;

Lesões angiomatosas (Figura 76).

Figura 76: Lesão angiomatosa.


3 - Seleção da área a ser biopsiada
A depender da técnica aplicada, a área
de eleição em casos de remoção parcial
deve ser a área que apresenta maior
representatividade da lesão. Em lesões
com suspeita de malignidade, as regiões
avermelhadas da mucosa podem
apresentar alterações mais significativas
quando comparadas com as regiões de
áreas brancas.

Figura 77: Aplicação do corante azul de toluidina. Note a coloração mais evidente na porção mais
central da lesão. Fonte: CHAINANI et al., 2015.

No momento da escolha da área a ser biopsiada, o profissional pode utilizar o corante azul de toluidina como um método auxiliar. O corante
será absorvido pelo núcleo celular, e devido ao fato da intensidade da coloração estar relacionada ao grau de comprometimento da superfície
epitelial, irá corar principalmente as áreas patológicas, deixando as regiões suspeitas com a cor azul (Figura 77). Dessa forma, será possível
observar uma coloração mais branda em lesões benignas. Em casos de carcinomas e displasias epiteliais, a coloração se mostrará mais
evidente. No quadro a seguir há uma descrição da técnica de aplicação do corante (Quadro 1).
Quadro 1. Técnica para utilização do corante azul de toluidina.

O paciente deverá realizar diversos bochechos, na seguinte sequência:

1º passo: solução de ácido acético a 1%, por 20 segundos;


2º passo: água, por 20 segundos;
3º passo: solução aquosa de azul de toluidina a 1%, por 60 segundos;
4º passo: solução de ácido acético a 1%, por 20 segundos;
5º passo: água, por 20 segundos.

Fonte: Adaptado do livro Medicina Oral e Maxilofacial - Bases do Diagnóstico e Tratamento, 2ª edição, de Crispian Scully.
4 - Tipos de biópsias
As biópsias podem ser realizadas por meio de bisturi, punch, curetas ou pinça saca-bocado. As
curetas são empregadas principalmente para lesões intraósseas. A pinça saca-bocado é utilizada
em caso de áreas de difícil acesso e em lesões friáveis, entretanto, sua extremidade cortante pode
causar maceração do tecido. Já o punch, que apresenta uma extremidade ativa oca e com
presença de bisel, é inserido no tecido e, com movimento único de rotação, realiza-se o corte e a
remoção de um cilindro uniforme de tecido. O tecido removido deve ser colocado em solução
fixadora.
Quanto ao volume de material a ser removido, classificamos as biópsias em: excisional ou
incisional. A técnica para a realização de cada uma dessas modalidades será descrita a seguir.

5 - Instrumentais necessários
O cuidado quanto ao preparo dos materiais a serem utilizados durante a realização da biópsia é
importante para que não haja contaminação e para que o espécime seja devidamente
armazenado e fixado, evitando sua degradação para disponibilizar material adequado para a
análise do patologista.
Os instrumentais necessários podem variar (Figura 78), a
depender do acesso cirúrgico, do formato, da localização e da
técnica a ser empregada.

Abaixo segue uma lista para orientação:


Lâminas de bisturi (15, 15C e 11, geralmente);
Cabo de bisturi número 3;
Curetas;
Pinça saca-bocado;
Seringa Carpule;
Tesoura com pontas pontiaguda e romba;
Pinça hemostática;
Pinças Addison reta e dente de rato;
Pinça Allis;
Porta agulhas.
Figura 78: Instrumentais e materiais necessários para o procedimento.
Demais materiais importantes: anestésico, agulha, fio de sutura agulhado, campo cirúrgico e
compressa de gaze estéreis, além de frasco de biópsia com formol a 10%, em uma quantidade
correspondente a 10x o volume do espécime. Note que o formol é comercializado a 37%, dessa
forma, é necessário diluí-lo em água destilada para obter a concentração de 10%.
O frasco que acondicionará o material deverá estar devidamente etiquetado com: nome e data de
nascimento do paciente, data da biópsia, tipo de biópsia e local onde foi realizada.

Lembre-se: no requerimento para o patologista é fundamental fornecer as informações do


paciente, como: sexo, endereço, profissão, história médica, resumo do caso clínico (tempo de
evolução, sintomatologia, diagnósticos e tratamentos prévios), descrição do aspecto clínico da
lesão (tipo de lesão fundamental, tamanho, coloração, consistência, limites/bordas, se a lesão é
única ou não), se há ou não suspeita de malignidade, hipóteses de diagnóstico, hábitos como
consumo de álcool, tabaco e substâncias ilícitas, relação da lesão com restaurações,
principalmente amálgama, assim como dados de biópsias anteriormente realizadas, além de
compartilhar exames de imagens e fotografias.
6 - Etapas do procedimento cirúrgico
Um ponto importante a se destacar quanto à técnica cirúrgica é que o cirurgião-dentista
deve ser capaz de, independentemente do método aplicado, prover uma amostra
representativa adequada, que corresponde à representatividade do material colhido e à
correta manipulação e fixação, para a análise e interpretação do patologista, além de buscar
reduzir o desconforto pós-operatório para o paciente.
As etapas para a realização do procedimento cirúrgico, após o consentimento declarado do
paciente, estão no Esquema 5:
Esquema 5. Etapas do
procedimento
cirúrgico.

Fonte: Adaptado do livro Estomatologia - Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral, 3ª edição, de Sergio Kignel.
6.1 Biópsia excisional
Nessa técnica há a completa remoção da lesão com margem de segurança (tecido
normal) em todos os lados (Esquema 6 e Figuras 79 e 80). Consiste na associação
entre o procedimento diagnóstico e a terapia definitiva, restrita às lesões:
clinicamente benignas que apresentarem diâmetro menor que 2 a 2,5 cm,
cirurgicamente acessíveis e lesões ósseas pequenas e bem definidas.

Esquema 6. Biópsia excisional.

Setas: correspondem ao tecido normal Figura 79: Incisão a ser realizada para Figura 80: Peça removida.
adjacente que pode ser removido, caso a remoção da lesão.
lesão não seja encapsulada.
6.1.1 Técnica
A técnica anestésica por bloqueio é mais indicada, entretanto, quando
esta não for possível, a técnica infiltrativa pode ser aplicada. Nesse caso, a
solução anestésica local deve ser injetada de 3 a 4 milímetros de distância
da lesão, por meio da técnica de 4 pontos – superior, inferior, direita e
esquerda (Figura 81). Figura 81: Técnica de anestesia.
Atenção: soluções anestésicas e marcadores cirúrgicos, como nanquim,
podem causar artefatos e devem ser aplicados longe da amostra do
tecido que será removido. Após a realização da técnica anestésica, é
importante a estabilização do tecido antes da incisão. No caso da biópsia
em lábio, um auxiliar pode segurar firmemente o lábio posicionando os
dedos polegar e indicador em ambos os lados da lesão (Figura 82).

Figura 82: Apreensão de lábio inferior.


Lesões em tecidos não aderidos, como soalho de boca, palato mole ou língua,
podem ser estabilizadas por meio de suturas de retração (Figura 83) posicionadas
na periferia da lesão em associação com o uso de uma pinça hemostática. Durante
a apreensão do tecido, deve-se ter cuidado para não esmagá-lo, evitando causar
distorções microscópicas. É indicado pinçar apenas no tecido adjacente
clinicamente normal e por meio de pinças delicadas.

O bisturi é então utilizado para a realização de duas incisões que devem formar
uma elipse na superfície, com convergência em forma de V nas extremidades
opostas. As incisões devem ser, sempre que possível, paralelas ao curso normal de
nervos, vasos sanguíneos e de fibras musculares.
Para o controle de sangramento, é necessário evitar a utilização de dispositivos de
aspiração, pois amostras cirúrgicas pequenas podem ser acidentalmente aspiradas,
Figura 83: Lesão em fundo de sulco com fio de sutura para
sendo assim, é apropriada a utilização de compressas de gaze ou mesmo enrolar a
estabilização, para realização de biópsia excisional.
gaze sobre a ponta de um dispositivo de sucção que seja de baixo volume.

O espécime deve ser removido e imediatamente colocado na solução fixadora. Quando possível, deve-se realizar a sutura interrompida.
Após a conclusão da biópsia, reforçar as orientações e cuidados pós-operatórios para o paciente.
6.2 Biópsia incisional

Compreende a remoção de um fragmento representativo da lesão, o que deve incluir uma quantidade significativa de tecido
anormal associado ao tecido normal adjacente (Esquema 7), para análise microscópica. Para esse procedimento, as indicações
são: lesões extensas e difusas (Figuras 84 A-B), de difícil acesso, doenças cujo tratamento não é cirúrgico (Figuras 84 A-B) e
lesões com suspeita de malignidade (Figuras 85 e 86).

Esquema 7. Biópsia incisional.

Setas: indicam a porção de tecido Figura 84. Paciente com suspeita clínica de leucoplasia verrucosa proliferativa. Placas brancas em
normal que deve ser removido mucosa jugal esquerda (A) e em rebordo alveolar inferior direito (B).
juntamente com parte da lesão.
Figura 85: Lesão com suspeita de malignidade. Figura 86 Lesão com suspeita de malignidade.
6.2.1 Técnica
De forma geral, a técnica é a mesma utilizada para a biópsia
excisional, com algumas ressalvas, sendo elas:

A profundidade da amostra deve possibilitar coleta de material


suficiente para análise adequada. Dê preferência a amostras de
tecidos profundos a largos e rasos.

Para lesões malignas ou com suspeita de malignidade, remover 5


milímetros de tecido normal adjacente à área de eleição.
Quando a biópsia incisional de uma úlcera precisar ser realizada,
é essencial que a amostra inclua 3 áreas distintas, sendo elas: o
tecido clinicamente normal, a área da cratera da úlcera e uma
porção da lesão intacta (que ainda não tenha ulcerado).

Em caso de amostras de tecido delgado, é indicada a sua Figura 87: Etapas do procedimento. A. Lesão a ser biopsiada por meio da
distensão com o tecido conjuntivo em contato com um papel técnica incisional. Note a delimitação da área selecionada. B. Remoção parcial
estéril (ex.: invólucro do fio de sutura) para evitar a distorção do da lesão e de uma porção de tecido normal adjacente. C. Posicionamento da
tecido (Figuras 87 A-D) previamente à sua fixação. amostra em papel estéril. D. Todo o conjunto segue para fixação e
acondicionamento da amostra para envio ao laboratório.
7 - Biópsia por congelação
Utilizada principalmente para a avaliação de margens cirúrgicas de lesões malignas. No decorrer do procedimento cirúrgico,
o material coletado é congelado por meio de um criostato, faz-se a microtomia e o material é analisado microscopicamente
na presença do paciente anestesiado no centro cirúrgico. Ao se confirmar que as margens cirúrgicas estão livres, a cirurgia é
finalizada, evitando um novo procedimento cirúrgico.

8 - Câncer de lábio e cavidade bucal


Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), no ano de 2018 foram registrados 6.455 óbitos por câncer de lábio e
cavidade bucal, com maior incidência em homens na faixa etária dos 60 e 79 anos, o que representou 50% das mortes por
câncer de cabeça e pescoço, com exceção da glândula tireoide. E estima-se que surgirão 15.190 novos casos de câncer de
lábio e cavidade bucal em cada ano do triênio de 2020 a 2022.
Devido à importante magnitude que essa doença tem no Brasil, é primordial a identificação precoce das lesões
malignas, bem como o monitoramento das lesões com potencial de malignidade, para que o paciente seja prontamente
tratado e para que em casos de câncer haja prognóstico favorável à qualidade de vida do paciente. O estadiamento da
doença é classificado por meio da associação entre as letras T, N e M que correspondem a: T de tumor (para avaliação
do tamanho do tumor primário em centímetros), N de nódulos (presença ou ausência de envolvimento de linfonodos
regionais) e M de metástase (presença ou ausência de metástase à distância). Os números (de 0 a 4) são utilizados para
indicar o grau de acometimento de cada uma das letras T, N e M.

O exame histopatológico é considerado o padrão-ouro para o diagnóstico de carcinoma de células escamosas oral e
lesões potencialmente malignas. O cirurgião-dentista pode associar técnicas não invasivas para auxiliá-lo a selecionar
áreas a serem biopsiadas, sendo algumas delas: a autofluorescência, a quimioluminescência, a aplicação de azul de
toluidina e a espectroscopia óptica.
8.1 Técnicas adjuvantes
Algumas técnicas adjuvantes utilizadas para auxiliar o diagnóstico precoce do câncer bucal serão exploradas.

8.1.1 Autofluorescência
A autofluorescência consiste em uma técnica de excitação de fluorocromos naturais localizados no epitélio e no
estroma, por meio da irradiação de comprimentos de onda que variam entre 375 e 440 nanômetros, associada à
filtragem adequada da luz, para que a luz absorvida seja reemitida e analisada. A mucosa normal, após ser
irradiada, emitirá uma luz autofluorescente verde-pálida visualizada por meio de um filtro seletivo, já o tecido
alterado causará diminuição da visualização fluorescente, aparecendo como uma área escurecida. A alteração da
fluorescência se dá pelas alterações bioquímicas, metabólicas e estruturais que alteram a concentração dos
fluorocromos naturais e, consequentemente, aumentam o espalhamento e/ou a absorção da luz.
O dispositivo portátil VELscope ™ (Visually Enhanced Lesion Scope; LED Dental, White Rock, BC, Canadá) tem sido
utilizado para execução dessa técnica.
8.1.2 Quimioluminescência
A quimioluminescência está relacionada à análise da luz emitida resultante de uma reação química.
Para tanto, o paciente realizará um bochecho com solução de ácido acético a 1% por 1 minuto, para
que a camada superficial de glicoproteína seja removida e haja desidratação celular. Dessa forma, há
uma maior penetração da luz, o que possibilita um aumento da visibilidade dos núcleos celulares. A
incidência da luz quimioluminescente azul/branca difusa, com comprimento de onda entre 490 a 510
nanômetros, fará com que o tecido normal absorva a luz e pareça azul, em contrapartida, o tecido
alterado refletirá uma luz mais branca com margens mais nítidas e claras, devido à alteração da
relação núcleo/citoplasma ser maior em células anormais.

O dispositivo ViziLite® (VL - Zila Pharmaceuticals, Phoenix, AZ) é utilizado para aplicação dessa técnica.
Há ainda o sistema ViziLite ® Plus que associa o corante azul de toluidina, com o intuito de melhorar a
especificidade da técnica.
8.1.3 Azul de toluidina
O azul de toluidina pode ser aplicado isoladamente para auxiliar na escolha da área para a realização da biópsia.
Esse corante catiônico metacromático cora o ácido desoxirribonucleico, além de ter a possibilidade de ficar retido
nos espaços intercelulares do epitélio displásico, apresentando-se clinicamente na coloração azul royal, e isso
ocorre devido ao fato de células neoplásicas apresentarem maior quantidade de DNA e RNA e canais intercelulares
mais largos, quando comparadas com células epiteliais sem alteração. A descrição de sua técnica está disponível no
Quadro 1.

8.1.4 Espectroscopia óptica


Valores espectroscópicos podem revelar a presença de alterações bioquímicas e arquitetônicas nos tecidos ligadas
à carcinogênese, como: aumento da espessura epitelial, do tamanho nuclear e da relação de proporcionalidade
entre núcleo e citoplasma; alterações nas concentrações de fluoróforos naturais, hemoglobina e oxigenação, além
de alterações na vascularização. A espectroscopia óptica compreende as técnicas de espectroscopia de
fluorescência, de espalhamento elástico ou difuso e espectroscopia Raman.
8.2 Comunicação de más notícias
A expressão "más notícias" representa informações que causam alterações negativas nas perspectivas presentes e
futuras de um indivíduo. A comunicação de más notícias é uma tarefa complexa, exigindo habilidades verbais e não
verbais, sendo capaz de gerar desconforto tanto para o profissional quanto para o paciente. A forma como um
profissional da saúde dá a notícia de um diagnóstico de câncer, por exemplo, tem grande impacto no paciente e em
seus familiares, influenciando sua compreensão, seus estados emocionais e psicológicos, bem como sua adesão ao
tratamento e a satisfação com a conduta médica.
Com o intuito de auxiliar nesse processo, algumas diretrizes foram criadas, tais como os protocolos ABCDE e o
SPIKES.
Os aspectos fundamentais destacados no protocolo ABCDE (A − Advance preparation; B − Build a
therapeutic environment/relationship; C − Communicate well; D − Deal with patient and family
reactions; E − Encourage and validate emotions) para a comunicação com pacientes com câncer
compreende:

(A) Preparo prévio para a reunião: é essencial que haja o preparo emocional do profissional
associado à revisão das informações clínicas importantes. A programação de tempo adequado para a
conversa e estar consciente da forma como se pretende falar, além de frases e palavras que devem
ser evitadas também são pontos relevantes neste tópico;

(B) Construção de um relacionamento e ambiente terapêutico: ofereça um ambiente calmo e


privado para o encontro com o paciente, este, por sua vez, deve estar acompanhado por familiares ou
outras pessoas de apoio. É importante que o profissional se apresente a todos e que de início avise o
paciente de que as notícias não são boas. Caso julgue apropriado, o profissional poderá tocar o
paciente e se disponibilizar para consultas de acompanhamento;
(C) Comunicação adequada: seja sincero, mas compassivo, evitando muitos termos técnicos que
dificultem o entendimento; respeite o silêncio e as lágrimas e prossiga a conversa no ritmo do
paciente; esteja seguro quanto ao nível de compreensão do paciente, por meio da conferência do que
o paciente descreve e retome questões fundamentais nos encontros subsequentes. Por fim, ao
término da reunião, faça um resumo e um plano de acompanhamento;

(D) Gerenciamento de reações do paciente e de sua família: evite discutir ou criticar outros
profissionais; avalie e responda as reações emocionais que o paciente e seus familiares possam
expressar em cada reunião, e procure ser empático;

(E) Estímulo e validação de emoções: utilize recursos interdisciplinares e ofereça, de forma realista,
esperança conforme os objetivos do paciente. Além disso, investigue o significado da notícia para o
paciente.
O protocolo SPIKES (S − Setting; P − Perception; I − Invitation; K − Knowledge; E − Empathy; S − Summarize and
strategize) possibilita a coleta de dados do paciente para que a transmissão da notícia seja feita de forma clara,
conforme os desejos e as necessidades dele. Dessa forma, tem como objetivo diminuir o impacto emocional e o
isolamento que a má notícia acarreta, ademais, visa estabelecer uma maior cooperação para o tratamento. Abaixo
há a descrição de cada etapa do protocolo:

(S) Configuração: consiste no preparo do ambiente, de forma que se assegure que haverá um tempo adequado e
um local privado para a conversa. Peça ao paciente que convide pessoas que sejam importantes para ele para
acompanhá-lo;,

Revise as anotações da forma e como pretende expor as informações ao paciente; esteja atento à linguagem
corporal e transmita a informação com todos sentados;

(P) Percepção: conheça a percepção que o paciente possui sobre sua doença;
(I) Convite: é importante descobrir a quantidade e o nível de detalhe que o paciente gostaria de receber;

(K) Conhecimento: comunique de forma simples e clara a má notícia, evitando termos técnicos, e utilize pausas
para se assegurar de que há compreensão daquilo que está sendo transmitido;

(E) Empatia: dê espaço para que o paciente exteriorize suas emoções e seja solidário a ele;

(S) Resumir e criar estratégias: faça um resumo da reunião, verifique a real compreensão do paciente e
estabeleça um plano para o futuro.
É fundamental ressaltar que apesar da existência destes protocolos, não existe apenas uma forma que seja
aplicável a todas as situações, visto que cada paciente possui suas particularidades e responderá de distintas
maneiras.

O bem-estar espiritual, que engloba a paz, o significado e a fé, reflete na qualidade de vida do enfermo e em sua
postura no enfrentamento da doença, em seus distintos graus. A religião e/ou espiritualidade podem auxiliar no
controle do estresse desencadeado por eventos negativos, além de contribuir para um melhor funcionamento do
sistema imunológico. Pacientes que possuem alta espiritualidade apresentam maior probabilidade de desenvolver
suas capacidades e potencialidades, sendo capazes de trabalhar com seus sentimentos e cuidados próprios, em
contrapartida, os que apresentam menor espiritualidade estão mais propensos ao desenvolvimento de depressão,
autonegligência, menor aceitação de seus sentimentos e enfrentamento ineficaz.

Frente à importância que os aspectos intrapsíquicos possuem quanto ao impacto na qualidade de vida e
enfrentamento, o profissional deve orientar o seu paciente a trabalhar essa área e temas relacionados, como a
espiritualidade, a fim de que o paciente possa concentrar-se na esperança e mitigar o desespero, podendo sugerir
intervenções terapêuticas para auxiliá-lo nessa busca.
Materiais consultados:

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talk about it? Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology and Oral Radiology, v. 129, n. 4, p.
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BLANCKENBURG, P. VON et al. Assessing patients´ preferences for breaking Bad News according
to the SPIKES-Protocol: the MABBAN scale. Patient Education and Counseling, v. 103, n. 8, p.
1623–1629, 2020.

CHAINANI-WU, N. et al. Toluidine blue aids in detection of dysplasia and carcinoma in suspicious
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GIOVANNACCI, I. et al. Non-invasive visual tools for diagnosis of oral cancer and dysplasia: A
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HULETT, J. M. et al. Associations between religious and spiritual variables and neuroimmune activity
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KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro:
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MARCUCCI, G.; JÚNIOR O. C. Fundamentos de Odontologia: Estomatologia. 3ª edição. Rio de


Janeiro: Guanabara Koogan, 2020.
PATAIT, M. R. et al. Diagnostician’s confirmatory tool - oral biopsy. Global Journal of Medicine and Public Health, v. 1,
n. 3, p. 24–28, 2012.

RASHID, A.; WARNAKULASURIYA, S. The use of light-based (optical) detection systems as adjuncts in the detection of oral
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WHITFORD, H. S.; OLVER, I. N. The multidimensionality of spiritual wellbeing: Peace, meaning, and faith and their
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A.C. CAMARGO CANCER CENTER. Boca. Disponível em: https://www.accamargo.org.br/sobre-o-cancer/tipos-de-


cancer/boca. Acesso em: 05 jul. 2022.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Atenção Especializada à Saúde, Instituto Nacional de Câncer José
Alencar Gomes da Silva Coordenação de Prevenção e Vigilância Divisão de Detecção Precoce e Apoio a
Organização de Rede. Relatório sobre o cenário assistencial e epidemiológico do câncer de lábio e
cavidade oral no Brasil, v. 2, n. 1. Rio de Janeiro: INCA, 2020.

Disponível em:
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document/relatorio_cancer_de_boca_2020_0.pd
f. Acesso em: 05 jul. 2022.
Tópico 5:

Exame citológico
Os dois mais conhecidos métodos da citopatologia são: a citologia esfoliativa convencional e a citologia
esfoliativa de base líquida.

O exame complementar de citologia esfoliativa consiste na análise morfológica e morfométrica de


células que descamam devido à renovação fisiológica (processo de esfoliação e renovação celular) do
epitélio da mucosa.

Vale ressaltar que a citologia esfoliativa não deve ser aplicada como substituta à biópsia, mas como
método diagnóstico coadjuvante. Esse procedimento apresenta um papel significativo na triagem de
lesões múltiplas ou extensas, indicando o local mais indicado para a realização da biópsia, por
exemplo.
1 - Indicações:
Infecções virais (Figura 88);

Infecções fúngicas (Figura 89);

Doenças autoimunes (Figura 90);


Figura 88: Herpes simples intrabucal -
Para o diagnóstico de lesões ulceradas ulceração em palato.
persistentes;

Proservação, para controle da evolução de


determinadas doenças;

Para controle de áreas que foram submetidas à


radioterapia;

Material para biologia molecular.


Figura 89: Paracoccidioidomicose - Figura 90: Penfigoide. Úlceras em mucosa
ulceração com aspecto moriforme. jugal.
Profa. Dra. Janete Dias Almeida.
2 - Vantagens:
Técnica minimamente invasiva, o que contribui para uma maior colaboração do paciente;

É uma técnica rápida e de fácil execução;

Não necessita de anestesia local;

Apresenta baixo custo e processo laboratorial simplificado;

Pode ser repetidamente realizada sem oferecer riscos ao paciente;

Pode ser utilizada como exame de triagem de câncer de boca e outras patologias em grandes populações;

Apresenta menor risco de hemorragias e infecções em indivíduos imunossuprimidos.


3 - Desvantagens:
Evidencia apenas lesões superficiais;

Não fornece a arquitetura dos tecidos;

Limitações no diagnóstico preciso, pois além de não fornecer informações estruturais do tecido, também não
demonstra sua relação com os tecidos normais adjacentes;

Possibilidade de resultados falso-negativos (necessidade de patologistas afeitos à técnica);

Ocorrência de muitos resultados inconclusivos ou com material inadequado ou insuficiente (relacionado à falta
de padronização da técnica ou falta de treinamento por parte do profissional).
4 - Citologia esfoliativa convencional
O cuidado com a coleta, o esfregaço e a fixação são fundamentais para garantir um material de qualidade para análise do patologista.

4.1 Técnica
A coleta do material é feita por meio da raspagem da superfície da lesão com uma espátula de metal ou escova (Figura 91). Cuidado: o excesso de
saliva sobre a lesão, durante a coleta, pode causar sobreposição de células no esfregaço. Na sequência, um esfregaço unidirecional deve ser
realizado sobre a lâmina de vidro limpa e identificada com as iniciais do paciente (Figura 92) e, logo após, ser fixado com álcool 95º ou com uma
solução álcool/éter 1:1. A lâmina deve ser acondicionada em um recipiente adequado para ser encaminhada para o laboratório (Figura 93).

Figura 91: Remoção das células com Figura 92: Esfregaço unidirecional Figura 93: Fixação e acondicionamento da
escova. sobre a lâmina de vidro. lâmina para transporte.
5 - Citologia esfoliativa de base líquida
Também conhecida como citologia em monocamada ou citologia de camada fina, a citologia esfoliativa de base
líquida trata-se de uma adaptação da citologia esfoliativa tradicional, em que o cirurgião-dentista não realiza as
etapas do esfregaço e da fixação, sendo responsável apenas por realizar a coleta da amostra.

5.1 Técnica
A coleta é realizada por meio de uma escova cônica de cerdas macias, que será mergulhada em um tubo contendo
um líquido à base de metanol, para preservar o material coletado, e fechado hermeticamente. Na fase laboratorial,
o líquido será submetido a um processo de centrifugação e, na sequência, passará por um filtro, e o material ali
retido será colocado em contato com as lâminas. Materiais residuais, tais como hemácias, debris e muco não são
retidos no filtro, restando apenas as células epiteliais para avaliação. A lâmina passa pelo processo de coloração
para posterior análise microscópica.
6 - Comparação entre as técnicas
Quando comparamos as técnicas, a citologia esfoliativa de base líquida se mostra superior à técnica convencional,
visto que reduz a possibilidade de ocorrência de problemas, como artefatos e distorções, baixa representatividade
celular no esfregaço e má distribuição celular com aglomerados celulares, relacionados à má realização do
esfregaço e do processo de fixação. No entanto, a técnica de base líquida requer um tempo maior para a
preparação da lâmina, disposição e transporte de meio líquido, além de um custo maior em equipamentos e
manutenção.
7 - Técnica de Cell Block
Cell Block corresponde à técnica de coleta e processamento de coágulos sanguíneos, sedimentos ou fragmentos de
tecido visíveis macroscopicamente de amostras citológicas que são incluídas em blocos de parafina para serem
posteriormente cortadas e coradas por meio de métodos utilizados em histopatologia, como a hematoxilina-eosina.

Essa técnica confere uma maior sensibilidade na identificação de componentes celulares em pequenas amostras
celulares, oferecendo vantagens como execução simples, rápida e de baixo custo. Confere melhor aproveitamento
de materiais puncionados que seriam descartados, auxiliando no diagnóstico diferencial.

A técnica de Cell block pode ser utilizada ainda para técnicas de imuno-histoquímica e moleculares, tais como
reação em cadeia da polimerase (PCR), detecção de mutações, dentre outras.

8 - Punção aspirativa por agulha fina (PAAF)


Essa técnica é realizada por meio da aspiração por agulha fina, com o intuito de remover uma quantidade de células
de uma lesão profunda. As indicações para as regiões de cabeça e pescoço incluem: massas cervicais, glândulas
salivares maiores, linfonodos aumentados e glândula tireoide.
Materiais consultados:

KIGNEL, S. Estomatologia: Bases do Diagnóstico para o Clínico Geral. 3ª edição. Rio de Janeiro: Santos, 2020.

KROGERUS, L. Cell Block in Cytological Diagnostics: Review of Preparatory Techniques. Acta Cytologica, v. 62, n. 4, p. 1–7, 2018.

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Traumatologia Buco-maxilo-facial, v. 11, n. 2, p. 55–62, 2011.

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